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065 Benny Manpin - Colarinho Branco PDF
065 Benny Manpin - Colarinho Branco PDF
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Sem segredos, continua o mistério
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Quem espera nunca alcança
As luzes se acenderam.
Uma série de disparos derrubou o não identificado
companheiro de Antônio Benedito. A chance para que
Virgílio se atirasse ao chão e escapasse em direção à porta.
Benedito começou a gritar ameaças para o inspetor.
Vítor emudeceu completamente desnorteado com o que
acontecera nos últimos minutos. Primeiro a portaria
mergulhara em completa escuridão e agora, com a
claridade, o companheiro de Benedito era baleado e Virgílio
conseguia escapar...
Sou eu, inspetor, Raimundo, Detetive Raimundo.
João Vítor sentiu que as coisas haviam evoluído sem o
seu conhecimento.
Ora, que diabos você está fazendo aqui, Raimundo?
A senhora Virgínia chamou-me pelo telefone. Estou
com mais detetives. Eles estão avisados quanto ao sobrinho
da mulher. Fique tranqüilo.
Então, Virgínia Durval… Que mulher surpreendente!
Você ouviu isso, Benedito? Vai bancar o herói?
perguntou o inspetor.
Não houve resposta, o bandido percebeu que se resistisse
não ia durar muito. Afinal cumprira com suas obrigações
para o mandante. Ele conseguiria alguma proteção.
Então. Benedito? Não tenho muito tempo!
Você ganhou. inspetor.
Jogue sua arma para cá ordenou João Vítor.
O ruído do ferro no mármore avisou o detetive
Raimundo que podia avançar.
Leve esse sujeito para a superintendência. Tenho que
ficar por aqui, Raimundo.
Qual é a acusação, inspetor? perguntou o detetive.
Suspeita de homicídio respondeu Vítor procurando
com os olhos Virginia Durval.
O quê? gritou Benedito. Eu não matei ninguém, que
papo é esse?
Depois conversamos disse o inspetor.
Eu não matei ninguém! Inspetor!
Vamos embora, vagabundo resmungou Raimundo
algemando-o.
Vítor deu uma volta na portaria e não encontrou
Virgínia. Quando se virou para sair ao encontro de Virgílio,
dois enfermeiros passaram por ele em direção ao porteiro
gravemente ferido.
A senhora Durval, vocês a viram?
Uma morena de vestido claro?
Isso.
Está lá fora, senhor.
Virgílio e a tia estavam abraçados. O rapaz visivelmente
transtornado virou o rosto quando o cadáver do
companheiro de Benedito veio carregado pelos detetives até
a ambulância. Virginia mantinha uma calma absoluta e
sorriu para Vítor quando ele se aproximou, o olhar
carregado.
Surpreendente, Virgínia. Você tem sangue frio, heim?
Muito pelo contrário, Vítor. Virgílio é o único parente
que me resta de uma família que poderia ter acabado há
poucos minutos.
Você está bem, rapaz?
Sim, senhor respondeu balbuciando Virgílio.
Precisamos conversar.
Eu sei. Tem que ser agora?
Vamos tomar um chá, inspetor interveio a mulher.
Chá? Agora?
É claro respondeu puxando o sobrinho em direção ao
edifício.
A Vítor só restou a possibilidade de segui-los
obedientemente.
***
Podemos conversar, senhora Durval? perguntou
Vítor formalmente.
Virginia acabara de servir o chá. O sobrinho começou a
narrar o que acontecera.
O agente Campos chamou-me pelo telefone. Não me
lembro a que horas. O segurança poderá lhe dar tudo exato,
ele toma nota de tudo. Pois bem, Campos entregou-me um
filme com número de ordem, como de praxe, e como era
bem tarde presumi que fosse algo importante. Fiz as cópias
depois de ter revelado o filme, é claro. Entreguei a ele por
volta de duas horas. me lembro porque dei uma olhada no
relógio do laboratório. Até aí, nada de estranho ou diferente
da rotina. Entreguei o serviço e voltei para o laboratório.
Poucos minutos depois Campos me procurou pessoalmente,
o que me deixou surpreso. Não dei importância ao fato
inicialmente, mas quando o agente me pediu que
reproduzisse o negativo, fiquei realmente curioso, se é que
posso chamar de curiosidade o que senti a partir daquele
momento.
Ele esperou? perguntou Vítor.
Não, senhor. Disse que estava muito cansado. Queria
que eu levasse o negativo reproduzido à sua casa de manhã,
ou seja, assim que largasse o trabalho. E foi o que fiz.
Depois disso começou essa loucura. Passei na casa de
Campos por volta das seis e meia, bati na porta diversas
vezes, dei a volta pelo terreno e continuei insistindo. Devia
ter ido embora, mas não fui. Insisti até resolver virar a
maçaneta da porta da frente, e a danada se abriu para minha
infelicidade, O senhor Campos tinha sido baleado e o tapete
estava todo cheio de sangue. Fiquei apavorado, como
continuo apavorado. Não entendi absolutamente nada.
Pensei em voltar imediatamente para o departamento e
devolver o negativo que estava em meu poder.
Por que não voltou e desapareceu?
Mas eu voltei.
Você voltou? perguntou Vítor surpreendido.
Voltei, inspetor. Fui direto para o laboratório. Lá pelas
sete entrei no setor e me dirigi para o laboratório. Não havia
segurança e fiquei mais nervoso ainda. Deve ter sido a troca
de guardas, não sei. Tavares, o chefe do laboratório, não
chegara ainda, bem. Ele não estava lá. Podia ter ido a outra
sala do departamento de fotografia. aquilo é enorme. Pois
bem, quando entrei no arquivo, o agente Gonçalves revirava
freneticamente as ordens de serviço e os respectivos
negativos. Levei um susto incrível e resolvi voltar. Não é
permitido a ninguém fora do departamento mexer nos
arquivos. Tem que haver requisição, o senhor sabe essas
coisas. O senhor Gonçalves não percebeu minha presença,
mas quando dei meia-volta, apavorado e sem conseguir
pensar direito, esbarrei num cinzeiro perto da porta. Foi o
suficiente para que me visse e chamasse por mim.
Inicialmente com a voz calma, depois, como me afastei
rapidamente, com a voz, irritada ordenou que voltasse.
O que você não fez! emendou o inspetor.
Exatamente. Pensei que iam me segurar na portaria e
nada aconteceu. A partir desse momento procurei sumir do
mapa. Acho que isso e tudo.
Então Gonçalves está metido nisso. Quem diria
exclamou o inspetor. O mosaico começa a ficar
compreensível.
O senhor acha que Gonçalves assassinou Campos?
perguntou Virgílio.
Eu não acho nada. Alguém o viu no departamento
fotográfico?
Não. Entrei e saí em pouco tempo. Ninguém me viu.
Eu disse, o segurança não estava. Campos não disse nada
além de pedir que reproduzisse os negativos? insistiu
Vítor.
Não. Acho que não, quer dizer, desculpou-se por estar
me incomodando outra vez. Essas coisas.
Pense bem, Virgílio continuou Vítor mudando o tom
de voz e recebendo um olhar de repreensão de Virginia
Durval. O inspetor ficou sem graça e pediu educadamente
que fizesse um esforço.
Ele me falou de um negócio sobre segurança da
investigação. E... Ah! Agora me lembro, disse que aquela
investigação era... Ele disse que era muito confidencial e
depois brincou afirmando que nem Sherlock Holmes seria
mais esperto que ele naquele caso. Alguma coisa assim.
Tive a sensação, inspetor, de que apenas Campos sabia o
que fazia. Não sei, foi uma sensação estranha. Só fui dar
importância a isso depois da morte e quando comecei a
pensar sobre tudo no motel em que me escondi.
Como Benedito o pegou?
Resolvi voltar para casa. E antes passei no quarto do
porteiro. Ao sair de lá com o senhor Pereira, o porteiro, os
dois sujeitos me agarraram.
E as reproduções, Virgílio?
Deixei no motel. No buraco do bidê. No banheiro.
Devem estar lá.
Está bem. Se você se lembrar de mais alguma coisa
telefone para o meu celular – Vítor esticou o cartão para o
rapaz. Certo?
O senhor vai pegar as reproduções?
Exato. E tenho que apertar nosso amigo Benedito.
Acha que já estou em segurança? perguntou Virgílio.
Vou deixar um detetive neste andar. Um rapaz bem
discreto, Virginia sorriu Vítor.
Imagino que não seja o King Kong, inspetor replicou
a tia de Virgílio.
Você verá, Virginia.
9
Quem sabe, sabe
“Pensar, jamais!”
Essa era a ordem de idéias que o secretário do senador
Portela enfiara na cabeça. Desde a esclarecedora conversa
com o político, o rapaz descobrira que, no seu caso, o
melhor a fazer era cumprir ordens e pronto. Sentia-se mais
seguro e sossegado dessa maneira.
Está tudo certo, Jaime? perguntou o político.
Sim, senhor. Todo o dinheiro já foi depositado no
Banco Nacional de Bogotá. Já dei um fim àqueles
documentos, senador.
Perfeito. Alguma novidade?
Chegou essa carta em mãos para o senhor.
Deixe ver.
Um belo envelope azul-claro com o nome de Eduardo
Torres surgiu perante os olhos do político. Henrique Portela
procurou manter a serenidade. Afinal, não tinha o que
temer.
“Caro Henrique:
Devido a fatos inesperados e desagradáveis, comunico-
lhe, com pesar, que não poderei apoiá-lo em sua campanha
de reeleição. O que não significa deva desistir. Acredito
que possa procurar novos incentivadores de sua brilhante
carreira política. Você diverge de nossa orientação atual.
Não se preocupe, isso é natural das mudanças na política.
Soube que teve alguns problemas com a Receita Federal.
Pessoalmente posso assegurar-lhe de que não se preocupe.
Os negativos que o comprometeriam estão em meu poder, e,
caso tudo siga o curso normal, jamais serão utilizados. Não
vejo necessidade de que reponha quaisquer quantias em
Bogotá. Você sabe que não precisa nos temer. Isso tudo é
uma questão de princípios. Desejo-lhe boa sorte. E não
hesite em recorrer a mim.
Cordialmente,
Eduardo
***
O inspetor João Vítor escondeu-se num hotel durante o
dia inteiro em que soube da morte de Gonçalves. Vítor
queria dormir. Dormir muito e descansar. Esquecer por
muitas horas aquele círculo fatal.
Na manhã do dia seguinte foi ao encontro do delegado
Pontes.
Júlio Pontes recebeu-o com certa alegria inusitada.
Onde você se meteu?
Fui dormir, senhor.
O que é isso? Abandonou o caso Campos?
O senhor está brincando comigo?
Vá em frente, Vítor.
Gostaria que o senhor não transferisse os documentos
que lhe entreguei para a Receita Federal. Se o fizer, será
realmente o fim da investigação. Ainda tenho uns últimos
cartuchos e quero usá-los.
Hum... Enquanto for necessário, a pasta que me
entregou não sairá deste gabinete. Fique tranqüilo.
Vítor deixou a sala do diretor da FP e foi direto ao
encontro de Rodolfo.
Sumido inspetor! Eis que surge... sorriu o colega.
É um prazer conhecê-lo pessoalmente, Rodolfo.
Raimundo me contou da prisão que efetuaram. Era o
tal sujeito do apartamento?
É sobre isso que quero lhe falar. Você me disse que o
local está nas mãos de um Juiz da Fazenda Pública. Sabe
quem é?
Espere um momento. Em que dia lhe dei essa
informação?
Foi dois ou três dias atrás. Acho que três dias.
Três! Está aqui. Inspetor Vítor... Vejamos.
Tim tirou o bloco de anotações e esperou pacientemente.
Juiz Torrente, inspetor. É esse o homem.
Muito bem. Quero saber se esse juiz tem alguma
relação profissional ou de amizade com Estevão Dourado e
Eduardo Torres. Você consegue isso para mim?
Altas esferas, inspetor comentou Rodolfo. Está
querendo ser promovido?
E mais possível que me rebaixem resmungou Vítor.
Certo. Vou ver o que posso arranjar.
***
Agora, Benedito!
Vítor voltou para sua sala e mandou chamar o suspeito
mandado do falecido Gonçalves.
Qual não foi a surpresa do inspetor ao ser informado de
que Benetti já estava na penitenciária estadual desde a
manhã anterior.
Quem fez isso? perguntou irritado Vítor.
Foram ordens do Juiz Ricardo Trevos da Execuções
Criminais.
O inspetor Branco que lhe passara a notícia ficou
assustado com a reação de João Vítor. O inspetor deu um
soco na mesa com tal força que derrubou a lâmpada
fluorescente. E começou a xingar toda a superintendência.
Esse sujeito não podia sair daqui! De maneira alguma!
Mas ele está na penitenciária, Vítor. E se você ir lá e...
Até logo. Branco. Se Rodolfo telefonar, diga que não
demoro.
O inspetor Vítor sabia perfeitamente o que poderia
acontecer com Benedito na prisão. Uma noite era mais do
que suficiente para acabarem com sua última tábua de
salvação de chegar até Torres ou fosse quem fosse...
Ele demorou mais de uma hora para chegar até a prisão
estadual e apesar do distintivo quase teve que ficar na porta.
Finalmente o diretor resolveu recebê-lo. E foi mais outra
hora de espera.
Me desculpe, inspetor disse o homem.
Estamos atolados de serviço. Sinto muito, O que
deseja?
Preciso interrogar Antônio Benedito. Esse é o
problema. Ele estava na superintendência da PF e foi
removido por ordem judicial. Como pode acontecer uma
coisa dessas. São mais de onze horas da manhã! Estou
querendo falar com ele há quase duas horas. Afinal,
ninguém entende que estou a serviço?
Quanto à ordem do juiz não tenho o que declarar. Mas
peço desculpas pela demora.
Está bem. Agora preciso falar com Benedito!
Certo. Vá para o terceiro andar e espere na 12. E a sala
de interrogação. Precisa de ajuda para apertá-lo?
Não. Até logo.
Benedito demorou tanto a aparecer que o inspetor
resolveu ligar para Rodolfo e saber dele as novidades.
Pode ir tomando nota, inspetor. Tenho muita coisa
para o senhor. Sabe aquele apartamento? Pois bem, vai a
leilão judicial semana que vem. Ordem do Juiz Torrente.
A leilão? Então posso desistir de saber quem utilizava
o maldito apartamento.
Bem, que vai ser difícil, isso pode ter certeza.
E as outras novidades, são desse tipo?
Não sei. Depende do que o senhor quer saber. O Juiz
Torrente é amigo íntimo de Estevão Dourado. E mais:
Eduardo Torres é casado com a sobrinha do juiz. Tomou
nota? Agora, não consegui nada sobre Estevão e Torres.
Não sei se os dois se conhecem. Mas o juiz é uma amizade
comum entre os dois. O senhor sabe, inspetor, nesse meio
todos se conhecem de ouvir falar. Bem, é isso.
Transfira para o diretor, Rodolfo pediu Vítor.
O inspetor repetiu as informações de Rodolfo e
continuou:
Você está vendo? As coisas estão nesse pé!
E Benedito, inspetor? Aperte o homem! Você precisa
desse sujeito.
Estou na prisão estadual. Um juiz da execução
criminal o mandou para cá. Não agüento mais ficar
esperando. Ë quase meio-dia e não chego ao Benedito.
Deixe que eu falo com o diretor. Isso é um absurdo!
Agora não adianta mais. O que tinha que ser feito já
foi feito. Gostaria de saber sua opinião sobre as informações
de Rodolfo. O que diz?
Sem Benedito? Nada feito, não lhe darei o meu apoio.
Com Benedito? Vá em frente!
Sim, senhor.
Assim que o inspetor Vítor desligou seu telefone celular,
um homem da penitenciária veio avisá-lo de que o diretor
queria vê-lo.
Mas, e o Benedito?
Não sei, inspetor. Essas são as minhas ordens.
Hum... resmungou furioso Vítor.
O diretor foi direto ao assunto.
Uma coisa terrível, inspetor. Vou abrir um inquérito
imediatamente!
Já sei. Benedito simplesmente desapareceu, fugiu.
Imagino que esteja na Suíça fazendo esportes de inverno.
Não brinque, inspetor. Benedito foi encontrado
esfaqueado em sua cela, há quinze minutos atrás. Quer ver o
corpo?
Espero que o senhor tire bom proveito desse inquérito.
Bom-dia!
O senhor está tratando com um superior. Controle-se.
Sabe quantos presidiários são assassinados nas prisões por
ano?
O inspetor da PF virou as costas sem dar atenção ao
homem que continuou vomitando estatísticas. Bateu a porta
com tal violência que os guardas da segurança vieram
correndo com a arma em punho.
Vítor passou por eles e resmungou:
Acho que o diretor está passando mal.
Na verdade, quem se encontrava prestes a entrar num
acesso incontrolável de raiva era João Vítor.
Sem Benedito, nada feito. Sem Benedito... Essa é
demais.
***
Os documentos foram devolvidos à Receita Federal.
Estevão Dourado recebeu um relatório do próprio Júlio
Pontes. O que o diretor da PF disse a Dourado não chegou
aos ouvidos do inspetor. . Aliás, Vítor não queria nem de
longe saber de nada que se referisse a Miguel Campos e
companhia.
O tempo foi passando. Uma semana, duas, três e um mês
depois, numa sossegada noite de inverno, o inspetor
deparou com uma deslumbrante página de jornal...
Primeiro, numa bela fotografia apareciam, em frente do
Senado, importantes figuras do mundo político e financeiro.
O eminente lobista Eduardo Torres anunciava sorrindo seu
apoio à candidatura de Estevão Dourado ao Senado Federal.
Dourado concorreria por um partido de oposição pelo
estado de São Paulo. No meio dos dois, sorrindo, o
simpático Juiz Torrente.
Segundo, numa pequena nota, o senador Portela
preparava-se para viajar ao Amazonas, onde iria tratar de
assuntos referentes a um projeto de reflorestamento. Portela,
segundo o jornal, pensava em abandonar a política
temporariamente e se dedicar aos negócios.
O inspetor Vítor engoliu em seco e jogou o jornal em
cima do sofá.
Imediatamente a elegante senhora Durval lhe veio à
lembrança.
Resolveu visitá-la.
***
Inspetor Vítor! Que surpresa agradável! E então,
chegou ao fim de seu caso?
O caso não precisou de mim para chegar ao fim.
Que pessimismo, Vítor! Não deve duvidar de sua
capacidade como brilhante inspetor que é. E não desanime.
Afinal, todos acabamos sendo usados. Eu não lhe disse que
estavam chupando seu cérebro?
Foi por isso que vim até aqui. Precisava conversar com
alguém. Estou me sentindo terrivelmente só nesta droga de
cidade. E lhe mostrar um negócio disse Vítor referindo-se
a uma notícia de jornal. O inspetor havia guardado um
recorte do que lera.
Entre, Vítor.
E o Virgílio, como vai?
Resolveu ir para São Paulo. Vai tentar a fotografia por
lá. Acho melhor para ele.
E... São Paulo é São Paulo, certo?
E o senhor?
Eu? Bem... continuo trabalhando. Talvez pensando em
voltar para Belo Horizonte. Acho que não consegui adaptar-
me a Brasília.
Esta cidade é muito difícil. Você tem razão. Aliás...
O telefone tocou e a elegante senhora Durval foi atender.
Vítor procurou pelos recortes no bolso do paletó.
Mas... Hoje à noite? Quem? Ah! Não me diga. Está
bem, eu aceito.
O inspetor devolveu os recortes ao paletó e esperou.
Vítor. sinto muito. Tenho que sair. O que você queria
me mostrar?
Ah! Não é nada. Posso vê-la amanhã?
Você me desculpe ter que sair assim de repente. Sabe
o que é? O Juiz Torrente me convidou para jantar, um velho
amigo. Mas amanhã espero você, está bem assim?
Juiz quem?
Aldo Torrente. Você o conhece?
Não. Não conheço esse juiz.
O inspetor levantou-se e fez um enorme esforço para
controlar-se. Seu sorriso saiu com uma lágrima talvez.
Peço desculpas, Vítor. Sinceramente.
João Vítor despediu-se da mulher e no corredor todo o
frio de Brasília pareceu querer arrebentar as janelas e varrer
a cidade.
Boa-noite, inspetor Vítor disse Virgínia Durval
enquanto ele ia se afastando lentamente em direção ao
elevador.
Boa-noite resmungou com uma voz inaudível o
inspetor.
A seguir: O ALBATROS NEGRO
Um navio cargueiro usado para o transporte de
entorpecentes