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Centro de Educação à Distância – Anhanguera

REFLEXÕES SOBRE A RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA NO


COTIDIANO DA SALA DE AULA,

Rio Grande
2020
REFLEXÕES SOBRE A RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA NO
COTIDIANO DA SALA DE AULA.

Produção textual individual- curso de


Pedagogia, apresentado à Anhanguera, como
requisito parcial para o aproveitamento das
disciplinas Educação Formal e Não Formal,
História da Educação, Teorias e práticas do
currículo, Sociologia da educação, Avaliação
na educação, Didática, Práticas Pedagógicas:
Gestão da Sala de Aula e Ed - Comunicação
Oral e Escrita.
Professores: Natalia Gomes dos Santos
Vilze Vidotte Costa
Mariana Passos Dias
Elias Barreiros
Mari Clair Moro Nascimento
Tatiane Mota Santos Jardim
Tutor a Distância: Silvana Maria Batista

Rio Grande
2020
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................4

2. DESENVOLVIMENTO.............................................................................................5
2.1 Conceituando as tendências pedagógicas ..................................................5
2.2 Analisando a situação geradora ..................................................................7
2.3 A atuação enquanto docente ....................................................................8

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................9

4. REFERÊNCIAS..................................................................................................... 10
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1. INTRODUÇÃO

Ninguém começa a ser educador numa certa terça-feira às quatro da tarde.


Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador.
A gente se faz educador, a gente se forma, como educador,
permanentemente, na prática e na reflexão sobre a prática.
(Freire, 1991,p. 58)

“A gente se faz educador” e fazer-se é imensurável, perde-se a noção de


quando e onde começa a carreira docente, ser professor é processo, trajetória,
prática permanente de reflexão e busca. Observamos a prática pedagógica por
anos, enquanto alunos do ensino regular e agora, enquanto futuros professores.
Este trabalho surge a partir de uma situação geradora de aprendizagem
apresentada como base. Na qual se tem dois alunos do curso de pedagogia
expondo a observação do cotidiano da sala. Ao analisar essa situação problema é
possível visualizar duas formas diferentes de atuação dos professores regentes,
tanto no ponto de vista professor/aluno quanto professor/aluno observador. Uma das
professoras, nomeada Lourdes na situação problema, apresentou uma metodologia
de cunho tradicional, pautada em aulas expositivas, onde o professor detêm o
conteúdo e o expõe. Enquanto a professora Melissa, demonstra um conhecimento
de metodologias atuais, no qual o aluno te seu papel de autor da aprendizagem.
Frente às concepções expostas, tem-se o objetivo de discutir questões
referentes às tendências pedagógicas, concepções de aprendizagem e de avaliação
que permeiam o dia-a-dia dessas duas professoras.
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2. DESENVOLVIMENTO

2.1 Conceituando as tendências pedagógicas, suas concepções de


aprendizagem e avaliação

Frente à situação de aprendizagem apresentada algumas questões se


tornam pertinentes quanto aos caminhos e métodos que são utilizados por parte dos
professores. Durante os anos a prática docente vem sendo influenciada por
diferentes ideias pedagógicas (Saviani, 2013), refletindo fatores políticos, históricos,
filosóficos, culturais e até religiosos de determinada época, porém com seu cunho
atemporal, pois alguns modelos e concepções mais antigos ainda sobrevivem em
meio a outros mais modernos. Libâneo (2020, p.1) corrobora ao dizer que
A prática escolar assim, tem atrás de si condicionantes sociopolíticos que
configuram diferentes concepções de homem e de sociedade e, consequentemente,
diferentes pressupostos sobre o papel da escola, aprendizagem, relações professor-
aluno, técnicas pedagógicas etc. Fica claro que o modo como os professores
realizam sou trabalho, selecionam e organizam o conteúdo das matérias, ou
escolhem técnicas de ensino e avaliação tem a ver com pressupostos teórico-
metodológicos, explícita ou implicitamente.

No Brasil, alguns autores como Libâneo e Saviani abordam em seus


escritos as tendências pedagógicas. Elas são divididas em duas grandes divisões e
cada uma com subdivisões: as Liberais e as progressistas.
As Tendências Pedagógicas Liberais surgem sob a influência das
ideias da Revolução Francesa (1789), sendo influenciadas pelo liberalismo no
mundo ocidental e do sistema capitalista. Para os liberais, a educação e os
conteúdos ganham peso em detrimento da experiência vivida pelos educando. As
tendências liberais são a Liberal Tradicional, a Liberal Renovada e a Liberal
Tecnicista .
A Tendência Liberal Tradicional está no Brasil desde a época dos
jesuítas. Seu principal objetivo é preparar os alunos para assumir papéis na
sociedade, a educação é centrada no professor, sendo ele uma figura incontestável,
único detentor do saber. São traços típicos dessa tendência: o professor vigia os
alunos e ensina e corrige a matéria, as aulas são expositivas, seguem uma
sequência fixa, baseada na repetição e na memorização. O aluno não é visto como
um ser crítico, ele tem que concordar sem questionar. A avaliação é resultado do
produto do trabalho
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A tendência liberal renovada fundamenta-se no liberal democrático,


defendendo a escola pública para todos, renovando a educação brasileira. A
tendência liberal renovada manifesta-se por várias versões: a renovada progressista
ou pragmática, tendo com representantes Jonh Dewey e Anísio Teixeira; a renovada
não-diretiva, baseada em Carl Rogers; a culturalistas; a piagetiana; a
montessoriana; todas com base nos fundamentos da Escola Nova. Defende-se em
geral a formação do individuo de forma livre, ativa e social. O professor e o conteúdo
não são a base do processo, a aprendizagem é focada no interesse do aluno
através da experimentação e da construção do conhecimento. No processo
avaliativo, o qualitativo sobrepõe o quantitativo, o processo é muito mais relevante
do que o resultado.
A tendência liberal tecnicista se destaca no final dos anos 60, sob o regime
militar, inspira-se no behaviorismo. Tinha por objetivo produzir indivíduos
competentes para o mundo de trabalho. O professor é o técnico e responsável pela
eficácia do ensino e o aluno, por sua vez, é o treinado através do aprender-fazendo,
copiar e repetir. O conhecimento é baseado na ciência e a avaliação utiliza vários
instrumentos mas pouco fundamentada, apenas as informações trazidas nos livros
didáticos tinham validade.
Abordando as tendências progressistas, elas surgem na França, no final da
década de 60, já no Brasil elas coincidem com o início da abertura política. A
escola, nesse período é reprodutora da classe dominante. Libâneo (2020) divide a
Pedagogia Progressista em três tendências: A Pedagogia Progressista Libertadora,
A Pedagogia Progressista Libertária e A Pedagogia Progressista Crítico-Social dos
Conteúdos.
A pedagogia progressista libertadora surge a partir da mobilização dos
educadores na busca de uma educação crítica, surgem os movimentos da educação
popular, e o nome do educador Paulo Freire. A atividade escolar centra-se em
discussões de temas políticos e sociais. O professor coordena as atividades, atua
juntamente com os alunos, que são os sujeitos do próprio conhecimento. A
metodologia é participativa, os conteúdos são trabalhados a partir de temas
geradores. A auto avaliação toma voz nessa tendência.
A tendência progressista libertária surge om a abertura da democrática, a
escola deve atender a todos os cidadãos, com respeito as diferenças. A escola
deve buscar a transformação do aluno que deverá ser capaz de refletir sobre sua
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realidade, sobre a opressão e suas causas. O professor tem um papel de monitoria,


o conhecimento reflete sobre questões culturais, os conteúdos são colocados para o
aluno, mas não são exigidos, eles são resultantes das necessidades do grupo. A
auto avaliação também é utilizada, mas sem caráter punitivo.
Por fim, a tendência progressista crítico social dos conteúdos ou histórico-
crítica surge com o objetivo de ser contrária a pedagogia libertadora e dar valor ao
saber científico. A função da escola é assegurar o conhecimento sistematizado,
prioriza o domínio dos conteúdos científicos, a prática de métodos de estudo, a
construção de habilidades e raciocínio científico, preparando o aluno para a
participação ativa na sociedade. Os alunos devem obter o domínio dos
conhecimentos, das habilidades e capacidades para interpretar suas experiências de
vida e defender seus interesses de classe, tornar-se um sujeito no mundo e situado
como ser social, ativo. O professor é autoridade competente que direciona o
processo ensino-aprendizagem, com função mediadora.

2.2 Analisando a situação geradora

Frente ao exposto anteriormente, a situação geradora de aprendizagem


apresentada nos faz refletir sobre as tendências seguidas por cada uma das
professoras, suas concepções de avaliação e aprendizagem.
Primeiramente tem-se a professora Lourdes, engajada numa tendência
tradicional, onde o professor é centro e o detentor do conhecimento. Não há a troca
entre as experiências dos alunos. A memorização e a repetição são o principal
método. A aprendizagem acontece a partir do que é explicado pelo professor, sem
questionamentos e sem diálogo, o conteúdo é tomado como verdade sendo
inquestionável, a avaliação possui apenas duas respostas – certo ou errado.
Já a professora Melissa enquadra-se numa tendência progressista, há o
incentivo da participação dos alunos em grupos, o diálogo é a base e há o uso
materiais lúdicos propiciando que os alunos sejam sujeitos da construção da
aprendizagem. Há a preocupação com a aprendizagem de forma efetiva através da
troca, o professor tem um papel de mediador/facilitador. O processo é mais
importante do que o resultado, o aluno é avaliado pela sua trajetória, o qualitativo
prevalece ao quantitativo.
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2.3 Atuação enquanto docente

Ao experienciar a docência é preciso conhecer o percurso das tendências


pedagógicas, compreender o que é aprendizagem e as concepções de educação. É
preciso reconhecer que as práticas educacionais são contestadas e moldadas pela
história, as escolas não são espaços neutros e o ensino tem cunho político.
Decisões sobre o currículo, práticas disciplinares e avaliativas, seleção de livros
didáticos entre outras questões que permeiam o fazer docente necessitam de
embasamento, pois assim como a escola, não somos neutros. Mais que isso,
precisamos compreender em que espaço estamos atuando, uma escola
montessoriana, por exemplo, exige do docente concepções e metodologia
especificas.
A prática escolar não comporta somente a sala de aula, mas sim toda a
instituição escola – a unidade física e seus membros. Um espaço, o qual nos
convida a pensar, Arroyo afirma que “olhar os mestres é o melhor caminho para
entender a escola e o movimento de renovação pedagógica” (2013, p.12), pois
“quanto mais nos aproximamos do cotidiano escolar mais nos convencemos de que
ainda a escola gira em torno dos professores, de seu ofício, de sua qualificação e
profissionalismo. São eles e elas que a fazem e reinventam.” (Ibidem, p.19)
O processo de aprendizagem um grande emaranhado de estratégias, e deve
ser enriquecido pela experiências da vida cotidiana; a aprendizagem informal pode
ser aprofundada adicionando perguntas e conhecimentos da sala de aula. Essas
experiências conectadas, aliadas ao dialogo e a argumentação despertam mais
interesse e motivação para aprender. Nenhum aluno chega à escola sem uma
história, sem experiências. É preciso partir do centro de interesse do aluno e então
construir as competências e habilidades propostas.
Quanto a avaliação, ela não pode ter o caráter punitivo, o aluno deve ser
incentivado a ser sujeito do seu aprendizado. O objetivo da avaliação é tornar os
alunos aptos e confiantes para continuar aprendendo ao longo da vida.
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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compreender a prática docente enquanto constituidora do modo de ser


professor implica ampliar o olhar para o entendimento dos mecanismos presentes no
espaço de sala de aula que convidam o professor a constituir-se desta ou daquela
forma. “A prática pode reforçar velhas concepções, mas pode também questioná-las
e, dependendo da natureza das práticas, podem formar novos sujeitos, novos
profissionais” (ARROYO, 2013, p. 145).
O futuro professor se constitui antes de sua atuação, através da observação
da realidade. Sabemos quais práticas queremos abolir ou inserir na nossa prática,
precisamos sempre fazer a ponte entre a teoria e a prática, mais do que avaliar os
alunos é preciso refletir e avaliar a própria prática. Através da situação geradora é
possível visualizar que situações simples do cotidiano escolar estão carregadas de
teoria e influência.
É preciso acompanhar as mudanças pedagógicas e refletir para que
possamos atender e atuar de forma melhor e eficaz e eficiente. A formação docente
tem grande impacto dentro desse processo de mudanças, assim o estágio curricular
ganha peso no processo de aprendizagem.
Conclui-se esse trabalho a partir da frase de Freire (1996, p.77) a qual diz que
“toda prática educativa demanda a existência de sujeitos, um, que ensinando,
aprende, outro, que aprendendo ensina”. Enfim, dotado dos saberes específicos nos
constituiremos enquanto docentes no espaço da prática com o(s) outro(s).
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4. REFERÊNCIAS

ARROYO, M. G. Ofício de mestre: imagens e autoimagens. 14. Ed. Petrópolis:


Vozes, 2013.

BRUNO, Ana. Educação formal, não formal e informal: da trilogia aos cruzamentos,
dos hibridismos a outros contributos. Disponível em:
<http://mediacoes.ese.ips.pt/index.php/mediacoesonline/article/view/68/pdf_28>.
Acesso em 15 de março 2020.

FREIRE, P. A Educação na Cidade. São Paulo: Cortez, 1991.

______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 13. ed.


Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996

LIBANEO, Jose Carlo. Tendências Pedagógicas na Prática Escolar. Disponível em:


<https://praxistecnologica.files.wordpress.com/2014/08/tendencias_pedagogicas_liba
neo.pdf.> Acesso em 15 março de 2020.

SAVIANI, Dermeval. História das ideias pedagógicas no Brasil. 4. Ed. Campinas, SP,
2013.

TENREIRO, Maria Odete; BRANDALISE, Mary Angela. Avaliação da aprendizagem


e currículo: algumas reflexões. Disponível em:
https://www.revistas.uepg.br/index.php/olhardeprofessor/article/view/661/484.
Acesso em 15 de março de 2020.

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