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A obra de Eladio Dieste – Análise estrutural sob a ótica da

Parametria

The work of Eladio Dieste - Structural analysis from the perspective of


Parametria

Matheus Pereira Santos, Felipe Corres Melachos.


Universidade Anhembi Morumbi - UAM
Departamento de Arquitetura e Urbanismo - Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo
(matheuspereiraarq@gmail.com, fcmelachos@anhembimorumbi.edu.br).

Resumo. O presente artigo de Iniciação Científica, intitulado A obra de Eladio Dieste –


Análise estrutural sob a ótica da Parametria visa investigar a obra do engenheiro
uruguaio Eladio Dieste (1917-2000), cuja produção teve maior força na segunda
metade do século XX, na capital de seu país de origem, Montevidéu e municípios
adjacentes, além de países da América Latina, inclusive, no Brasil. A exploração deste
cria-se pela necessidade de expandir as pesquisas acadêmicas referentes à obra de
Dieste que teve tamanho reconhecimento mundial em 2005, quando o Massachussets
Institute of Technology (MIT) instituiu sua obra ao título de reconhecimento por meio
dos escritos de Stanford (2004).
Palavras-chave: Eladio Dieste, Cerâmica armada, Parametria.
Abstract. Structural analysis from Parametria aims to investigate the work of the
Uruguayan engineer Eladio Dieste (1917-2000), whose production had greater force in
the second half of the XX century, in the capital of his native country, Montevideo and
adjacent counties, as well as countries Of Latin America, including Brazil. The
exploration of this is created by the need to expand the academic research concerning
Dieste's work that had such great worldwide recognition in 2005, when the
Massachusetts Institute of Technology (MIT) instituted his work to the title of
recognition through the writings of Stanford (2004).
Keywords: Eladio Dieste, Armed ceramics, Parametry.

Iniciação - Revista de Iniciação Científica, Tecnológica e Artística


Edição Temática em Comunicação, Arquitetura e Design
Vol. 7 nº 2 – Março de 2019, São Paulo: Centro Universitário Senac ISSN 2179-474X
Portal da revista: http://www1.sp.senac.br/hotsites/blogs/revistainiciacao/
E-mail: revistaic@sp.senac.br
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Internacional
1. Introdução
Eladio Dieste (Artigas, 1917 – Montevidéu, 2000) – (figura 1) – foi um importante
engenheiro uruguaio que ao longo de sua trajetória profissional desenvolveu uma
técnica estrutural autoral, batizada por ele de “cerâmica armada”, construindo silos,
armazéns, depósitos, tanques e, sobretudo, igrejas, cuja maior concentração acontece
na capital uruguaia, Montevidéu e municípios adjacentes.
Como engenheiro, estudou a forma do edifício desde o ponto de vista técnico-
estrutural (DIESTE, 1998), buscando eficiência aos esforços dentro dos padrões
normativos, que em grande proporção, é verificado na maioria dos casos de obras
atreladas aos profissionais da engenharia; como também a estudou sobre o olhar do
arquiteto, possibilitando verificar em seu trabalho certo distanciamento aos fixos
padrões que regem o trabalho estrutural, concebendo certa aproximação da
inventividade construtiva (FITZ, 2015).

Figura 1. Eladio Dieste aos 17 anos. Fonte: JIMÉNEZ TORRECILLAS, 1996, p.291.

No desenvolvimento de sua carreira, Dieste encontrou no uso de tijolos cerâmicos, a


essência para a resolução estrutural e plástica requerida. Como veremos
posteriormente, o material produzido em barro cozido era ideal à resistência dos
esforços de compressão e pouco exigente em mão-de-obra, que junto ao aço, garantia
resistência à flexão e fácil manipulação (LINO, 2008). Assim, através de materialidade
simples e de fácil produção, o engenheiro solucionou as questões estruturais e
plásticas requeridas em sua ideologia e venceu uma série de outros problemas –
estrutural, formal, econômico, social e ambiental.
Sua eficiência construtiva, atrelada a um vasto panorama disciplinar, subentende-se
como meio de reinvenção ao material simples – o tijolo – que por aflorar o desejo pela
busca de quebra ao tradicionalismo no engenheiro, iluminou técnica e plástica de
modo único. Por apresentar pequenas medidas, quando atrelado a um conjunto de
componentes, acabou por gerar superfícies leves esteticamente e fisicamente, e por
união, permitiu desenhos fluídos, praticamente moldados ao espaço. Porém, mais do
que seu notável trabalho estrutural, é importante destacar o que o levou a tal feito: o
questionamento à produção arquitetônica latino-americana moderna (LINO, 2008).
Dieste foi bastante crítico á difusão da Arquitetura Moderna nos diferentes trópicos
globais (LINO, 2008) e para ele a diferença regional não poderia ser adotada à
unificação dos sistemas construtivos. Diante disso, um dos pontos questionados condiz

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acerca da situação climática, pois, a arquitetura brutalista advinda originalmente dos
países europeus em movimento pós-guerra, apropria-se do uso de materialidades
lógicas às circunstâncias de origem, como o concreto e o vidro, porém, quando
introduzidas nos países latino-americanos apresentaram problemas de adaptabilidade,
justamente pelas situações de predominância solar e chuvas na maior parte do ano.
Vale dizer que apesar de reunido um amplo e abundante trabalho projetual na
segunda metade do século XX, além de uma produção escrita relativamente intensa
no território uruguaio, ainda há certa escassez bibliográfica acerca de sua obra.
Contudo, sua ideologia e obras construídas merecem destaque e notoriedade no
campo da engenharia e arquitetura, de modo plural, entre o trabalho estrutural,
socioeconômico e logístico (DIESTE, 1998).
Desta forma, a partir dos poucos escritos deixados por Dieste e arquivos
documentados, podemos acompanhar tal posicionamento do engenheiro em relação à
situação da arquitetura moderna na América Latina. Em uma de suas visitas à
Colômbia, criticou o modo de produção predominante local e exaltou a produção com
materiais típicos regionais de baixo custo, que traziam maior e melhor qualidade
espacial:

Muitos anos atrás, eu tinha que ir ver um grupo escolar em Natagaima,


não muito longe de Bogotá, com altitudes mais baixas, com clima
severamente tropical. Nele havia dois tipos de construção: uma de
paredes de tijolo, estrutura metálica e cobertura de fibrocimento,
baixa qualidade e muito desconfortável, e outra feita com uma técnica
indígena, circular, sem paredes com pilares de bambu (cana de bambu
de grande diâmetro e resistência) em que se apoia em uma cobertura
de troncos e também com bambu, que suporta uma cobertura de
várias camadas de folhas de palmeira. Esta segunda construção, como
contraste, era extremamente confortável e adaptada ao clima, e havia
sido feita a um custo que me surpreendeu por tão baixo (porque os
materiais não têm quase nada de custo a aqueles que fizeram e vivem
de forma diferente) [...]. (DIESTE, p.42, tradução nossa).

Além das discussões acerca da materialidade e técnicas construtivas importadas da


arquitetura moderna, originalmente de países europeus, empregadas na maior parte
das obras do continente americano, o engenheiro também questionou o formalismo
plástico dos edifícios.
Uma das críticas apontadas diz respeito à inserção do Movimento Moderno na região
latino-americana e como esta lida com as questões estruturais, mencionando os
primeiros estudos de Le Corbusier para a casa Dominó (Maison Dom-Ino), onde há a
segregação estrutural, possibilitando independência entre estrutura, vedação e
cobertura, e consequentemente, havendo flexibilidade espacial. Contudo, para ele, o
resultado plástico do edifício apresentava rigidez, restringindo-se aos paralelepípedos
e formas ligadas aos princípios da geometria euclidiana. Em uma de suas observações,
pontua:

A arquitetura que chamamos de Moderna surgiu em países em


desenvolvimento social, cultural e, sobretudo, industrial,
completamente distinto dos nossos. Suas respostas aos problemas
dessas sociedades me parecem quase sempre incompletas;
geralmente são mais apropriadas desde o ponto de vista tecnológico,

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mais adequado para eles, nem sempre para os outros. (TORRECILAS,
1996, p.218, tradução nossa).

Percorrendo um caminho completamente distinto na produção momentânea, trouxe


luz a um novo ideal, onde a qualidade arquitetônica não se restringia apenas a
estética do edifício, mas na vivencia do espaço, economia material e plástica arrojada,
quebrando qualquer preceito condizente que edifícios econômicos deveriam restringir-
se formalmente. Sintetizando, podemos dizer que Dieste une a inovação junto à
tradição para resolução de problemáticas (sociais e estruturais), como percebemos em
algumas de suas citações:

Se tivesse que sintetizar o que tem conduzido nossa busca, diria que é
o valor resistente da superfície como tal, o que supõe uma mudança
que teve a construção nos últimos tempos, o que tende a buscar a
resistência da nervura, da viga e do arco.

Nossos métodos construtivos têm muito a ver com os tradicionais,


impomos o material, fazendo-os sem copiá-los. Esta é a maneira de
ser fiel a discussão profunda da verdadeira tradição, fonte sempre do
revolucionário, nisso e em tudo. (TORRECILAS, 1996, p.218. Tradução
nossa).

Para Eladio, também condiz dizer que o espaço deve ser vivenciado de maneira única
e percebe-se que sentimentos e sensações distintas buscam ser despertadas em suas
concepções arquitetônicas, como afirma:

A felicidade intensa que sinto nas viagens a cidades da Europa e em


sítios insuspeitos e pouco conhecidos, como por exemplo, a parte
velha do Panamá, se deve porque esse espaço, tão barato, tem sido
tratado com sabedoria e tão humanamente.

[...] Como toda arte, a arquitetura nos ajuda a contemplar. A vida vai
gastando nossa capacidade de surpresa e a surpresa é o princípio de
uma visão verdadeira do mundo. (TORRECILAS, 1996, p.218. Tradução
nossa).

A abordagem de técnicas locais, portanto, trouxe melhores situações à construção, por


apresentar potencialidades como, baixo custo material, fácil produção e não
distanciamento à tradição. Diferentemente disso, a importação de outras
materialidades, principalmente no que diz respeito à aplicação de materiais e técnicas
construtivas vindas da Europa no período moderno ao contexto latino-americano,
acaba por resultar em dificuldades de adaptação climática e problemas de execução.
Analisando sua filosofia conceitual junto ao entendimento da crítica de arquitetura
Marina Waisman, nota-se claramente que há conceitos como o humanismo e
racionalismo analítico presentes em sua obra. Também há o toque “transcultural”,
englobando a transposição dos critérios arquitetônicos e urbanos juntos no contexto
latino-americano.

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Nesse panorama, enfatizou sua produção acerca dos temas que criou durante seus
debates, opondo o desenvolvimento da cerâmica armada como caminho alternativo à
arquitetura latino-americana e não como resposta, como afirma:

O homem tem, por sorte, a generosidade de andar por caminhos em


que sente uma sólida congruência íntima. Em matéria estrutural
geralmente procedemos como se o campo de procedimento estivesse
completamente definido e bastasse aprofundar-se no já conhecido.
Isto é falso no campo da técnica e seguramente em todos os demais.
O tempo que se gasta em refletir com a clareza livre dos problemas
que nos põe a realidade é demasiadamente menor que o empregado
em seguir estudando o que já estudado por outros. Se apresentar um
caminho interessante, devemos nos aventurar por ele com tamanha
confiança; isso é o que fizeram os criadores das técnicas que tanto
admiramos. (TORRECILAS, 1996, p.218, tradução nossa).

2. Objetivos
O objetivo de pesquisa deste trabalho é investigar e estudar a obra institucional de
Eladio Dieste, com um enfoque no sistema estrutural de tijolos cerâmicos utilizado em
sua obra na segunda metade do século XX.
A análise estrutural de sua obra, como já mencionado, se dá pela proeminência dos
grandes vãos e cascas em sua produção desta tipologia, de modo a potencializar o
entendimento da relação entre forma e estrutura presentes em sua concepção
estrutural, assim como entendimento ao caminho de forças e esforços intrínsecos ao
partido formal.
Assim sendo, o objetivo de análise da obra de Dieste elencada para este estudo será a
Modelagem Paramétrica (MP) e Fabricação Digital (FD). Isto é, em um primeiro
momento, propõe-se a seleção de estudos de caso elencados na obra de Dieste e
pertencentes ao recorte. Posteriormente, a ideia seria através dos softwares digitais
paramétricos (Rhinoceros e Grasshopper), realizar a produção física e digital de
modelos com o auxílio de cortadora a laser, fresas CNC (Comando Numérico
Computadorizado) e impressora 3D. Contudo, vale ressaltar, que isso apenas seria
concretizado caso houvesse recursos financeiros disponíveis. Contanto, inicialmente,
garante-se a proposta (ideia) para tal processo de pesquisa alinhado à obra de Dieste.
Além disso, o desenvolvimento da presente pesquisa científica permitirá a construção
de um acervo de materiais como referencia à futuros estudos. A intenção é investigar
um novo modelo de produção arquitetônica, que integra a simulação digital ao
desenvolvimento de formas complexas, com atenção ao desenho paramétrico como
solução de projeto.

3. Materiais e métodos
Para o desenvolvimento desta, a metodologia adotada consiste no levantamento
bibliográfico inicial, aplicado no sentido de ampliar o referencial reunido durante a
elaboração do mesmo e ampliação do repertório acerca da obra do engenheiro e
arquiteto uruguaio Eladio Dieste na América Latina e propriedades técnicas que regem
o representável trabalho estrutural produzido.
Vale destacar que o trabalho também visa contribuir para o desenvolvimento da linha
de pesquisa do docente orientador deste, Felipe Corres Melachos, colaborando às

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áreas estruturais, para este que possui anos de docência e explorações acadêmicas na
cadeira de Sistemas Estruturais, junto à aplicação dos conceitos extraídos deste
referencial em estudos de caso (SERRA, 2006) pertinentes para a investigação do
objeto de pesquisa.
Desta forma, o cunho projetual da temática da pesquisa terá como auxílio a
colaboração profissional, por parte do orientador deste projeto de pesquisa, em
escritórios paulistas e norte-americanos com grande produção de sistemas estruturais
amparados pela Modelagem Paramétrica (MP) e Fabricação Digital (FD), de modo que
será proposta a utilização da MP e FD na análise estrutural da obra de Dieste dentro
dos recortes pré-estabelecidos anteriormente e executado caso haja patrocínio
financeiro condizente a tal produção.
Em linhas gerais, a etapa inicial de trabalho contou com a seleção bibliográfica,
buscando reunir maior número de material possível pertinente a contribuição do
desenvolvimento e concretização desta pesquisa, que perdurará até os instantes finais
da etapa de desenvolvimento do artigo. A seleção a priori contribuiu assim, para o
desenvolvimento fundamental de base à escrita da pesquisa e, consequentemente, do
artigo junto ao pré-estabelecimento das conceituações primordiais, estabelecendo o
estado da arte da temática de estudos.
Depois de estudados os fatores introdutórios da obra institucional de Dieste, como sua
formação familiar, contribuições familiares à sua ideologia, formação acadêmica,
situação profissional como docente e contribuinte a outros escritórios de engenharia, a
participação junto a arquitetos e entendimento do estado de espírito que aliou
estrutura e conceituação social, formação do escritório Dieste-Montañez S.A. até seu
desenvolvimento tipológico estrutural, decidiu-se selecionar os estudos de caso
pertinentes ao recorte já mencionado.
A exploração serve para estudar sua obra, focando-se no sistema estrutural
investigado, batizado por ele como “cerâmica armada”.
Como já mencionado, a ideia central é propor estudos das obras de Dieste junto aos
sistemas de desenvolvimento paramétrico, através de Modelagem Paramétrica (MP) e
Fabricação Digital (FD), em função da necessidade de explorações passíveis de
análises da relação forma-estrutura, no que diz respeito à compreensão analítica nos
padrões básicos arquitetônicos que regem as representações gráficas (plantas, cortes
e elevações), e assim como nos modelos arquitetônicos de renomados escritórios
contemporâneos, tal análise faz-se necessária para melhores e viáveis estudos às
obras em questão. Ainda é válido pontuar que, a propriedade dinâmica investigativa
adquirida através da MP auxilia no desenvolvimento de protótipos através da FD que
facilitam a compreensão das formas geradas. O manuseio do modelo físico melhora no
entendimento tectônico e das relações espaciais (VEIGA, 2015), ajudando o arquiteto
concretizar seu pensamento arquitetônico (SASS; OXMAN, 2006).
Em arquitetura, a FD refere-se aos processos de produção da forma controlados
computacionalmente, e baseados em modelos geométricos digitais (FLÓRIO, 2009).
Entre os resultados dos projetos desenvolvidos pela MP e executados por meio da FD,
vale destacar os trabalhos de arquitetos como Zaha Hadid, Patrick Schumaker, Mark
Burry, Greg Lynn e os engenheiros do Arup and Partners (FLÓRIO, 2009).
Portanto, enfatiza-se que estudar a obra de Eladio Dieste junto à Modelagem
Paramétrica e Fabricação Digital, não condiz apenas à importância da difusão da
arquitetura paramétrica no território nacional, mas, auxilia na busca pela
compreensão do caráter estrutural tão desafiador à época da construção e estabilidade
do estado após décadas de sua construção, quebrando paradigmas atrelados á relação
entre forma e estrutura.

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4. Desenvolvimento

Forma, estrutura e vedação

Sobre a relação da tríade Forma-Estrutura-Vedação, a partir de escrito de Yopanan


Rebello, faz-se introdução à tal relação. Primeiramente, é considerável dizer que o
“aluno deve ser capacitado quanto à forma, à função e à tecnologia da construção”,
entendendo o “comportamento estrutural, entre outros para ser um arquiteto”
(REBELLO, 2003, p.10), e com base nestes escritos toma força os estudos estruturais
nessa pesquisa.
Sobre a obra de Dieste, uma das estonteantes características de seu trabalho é sua
inventividade da forma a partir do entendimento estrutural da construção utilizando
tijolos.
Para o engenheiro, projeto, estrutura e canteiro de obra devem ser fundidos e
transformar-se em algo homogêneo. Seu aprofundamento em todas as etapas do
projeto faz com que a qualidade formal e técnica nasçam em conjunto e muitas vezes
os desenhos não são suficientes para entender o projeto como o todo.
Em um de seus discursos, o engenheiro-arquiteto exemplifica a relação entre projeto,
desenhos e obra:

Até hoje, os arquitetos se movem com mais facilidade manipulando e


compondo desenhos; Escolhem os como superfície para limitar o
espaço de forma natural, embora nem sempre seja o mais adequado.
Temos visto edifícios onde a solução do teto, por exemplo, é colocado
estruturalmente para não sair do plano. Tem influência no fato de que
um edifício deste tipo é mais fácil de expressar graficamente. Lembro-
me que ao perguntar a um amigo sobre o trabalho de Gaudí, ele
respondeu que não lhe interessava nada: "isto não tem nada a ver
com a gente", disse ele, e como um argumento final acrescentou: "Eu
não saberia como desenhar um edifício de Gaudí e como faríamos hoje
um trabalho sem plantas, fachadas e cortes". Isto é algo a se pensar
muito; Este amigo não se interessava em Gaudí como um artista, mas
isso é um exemplo de uma mentalidade tática: o pensamento na mídia
gráfica que precisamos para construir, dando-lhes uma importância
desproporcionada; O essencial é a obra, não os planos, e se estes não
nos ajudam a expressar o que nós consideramos válidos por razões
sérias, não devemos abandoná-lo. (DIESTE, 1998, p.44, tradução do
autor).

Suas obras dificilmente poderiam ser desenhadas a princípio, desde os desenhos


básicos (plantas, cortes e elevações) até os detalhamentos executivos para produção.
Desse modo, há uma de suas conceituações expressa – A homogeneidade entre obra e
canteiro.
A importância do pensamento estrutural que culmina no objeto construído é então,
tida pela relação forma-estrutura-canteiro, e junto a tal pensamento, deduz-se que
“não se pode conceber uma forma sem se conceber automaticamente uma estrutura e
vice-versa” (REBELLO, 2003, p. 26).

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Eladio defende a estrutura como resposta à forma e afirma seu pensamento de
maneira inseparável. Segundo ele, “o construtivo será sempre inseparável da
arquitetura: é como seus ossos e sua carne”.
A separação entre a forma e estrutura é chamada por ele de “Cenografia”:

Porque é cenografia e não é arquitetura ou é um tipo muito especial de


arquitetura. Há grandes obras em que se sente esta fraqueza; Não são
construídas: tem algo de cenografia. [...] Para que a arquitetura seja
de fato construída, os materiais não devem ser usados em um
profundo respeito á sua essência. E consequentemente as suas
possibilidades. (Ibidem, p.46, tradução do autor).

O vínculo entre arquitetura e o canteiro de obra parecem diretos, mas, em muitos


casos, não é. Há a segregação entre os processos, no que diz respeito ao desenho,
estrutura, cálculo e construção, onde, possivelmente, há confronto entre as
informações desenvolvidas e a execução do mesmo. Normalmente, estudo preliminar,
anteprojeto, e projeto executivo são pensados separadamente ou de maneira
supérflua em relação às técnicas construtivas, mas, para ele, todas as etapas do
desenvolvimento do projeto e o canteiro deveriam fundir-se, tendo o canteiro de obras
como um laboratório de experimentações.
Entre seus pensamentos, o arquiteto criticou profundamente a produção arquitetônica
latino-americana em relação às técnicas construtivas usuais e materialidade, pois,
esta relação deve caminhar junto ao entendimento geográfico, climático e social. Para
ele, o primeiro questionamento básico sobre a produção parte da relação entre clima x
materialidade, na indagação ao uso do vidro e materiais considerados tecnológicos no
momento, em países com altos índices de insolação na maior parte do ano e chuvas
abundantes. Também criticou o modo como os materiais locais, com baixo custo de
produção eram negligenciados, como forma de rejeição a própria história local por
parte dos arquitetos.

O uso da cerâmica como ressignificação cultural latino-americana

Sobre a matéria prima, o uso do tijolo cerâmico como principal material e o


aprofundamento técnico da cerâmica armada traduzida em estrutura, vedações
horizontais e verticais foi responsável por novas possibilidades plásticas em seu
trabalho.
Inicialmente, associou a matéria prima à cultura local uruguaia, mas, posteriormente
percebeu que o material traduzia com excelência a cultura latino-americana, junto á
facilidade produtiva e baixo custo nestes países, ressignificando-o culturalmente.
Vale destacar que o trabalho pode ser percebido como meio de parametria analógica,
uma vez que a forma complexa é livre de preceitos ligado, obrigatoriamente, à
geometria euclidiana traduzida aos desenhos. Tal homogeneidade dos elementos
construtivos resultantes pela forma também pode ser notada como um movimento
inicial das atuais arquiteturas produzidas por arquitetos contemporâneos que utilizam
a parametrização nos estudos e desenvolvimento (técnico e prático) de estruturas,
desassociando os elementos construtivos em diferentes superfícies e volumes,
traduzindo-os de forma única. Essa dissociação possibilita novos modelos de

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superfícies e independência estrutural propiciando flexibilidade de interiores, já que as
paredes internas não possuem função estrutural, possibilitando a troca, ou
substituição por painéis.
Normalmente, no movimento moderno, quando a estrutura externa se torna forte o
suficiente e possibilita planta interna livre, há como resposta, paralelepípedos
herméticos como forma. Eladio decidiu romper este ideal e abusar das superfícies
como potencializadoras de volumetrias inusitadas e formas flexíveis. Após quarenta
anos de trabalho e o aperfeiçoamento da técnica, relatou sua experiência entre projeto
e canteiro, afirmando:

Pouco a pouco estou especificando com o intuito de chegar ao pleno


domínio das técnicas que uso hoje, um processo que suponho
imaginar, mas pensar e construir equipes que os tornam
economicamente viáveis e desenvolvam os métodos de cálculo, que
nascem naturalmente imaginando, mas que partem, em geral, dos
caminhos que seguem as teorias no uso, que eram, além disso, as que
haviam ensinado. (Ibidem, p.48, tradução do autor).

Até a construção da Igreja de Atlántida, em 1960 (Figura 2), Eladio trabalhou junto a
outros profissionais da engenharia e arquitetura, em nichos voltados ao cálculo e
concepção estrutural, como autônomo em um primeiro momento e posteriormente,
em equipes multidisciplinares, no setor privado e público.

Figura 2. Tomada Frontal da Igreja Cristo Obrero, em Atlântida. Fonte: MELACHOS, Felipe. 2016.

Arquitetos e pesquisadores da obra do engenheiro atrelam em seus trabalhos e


documentos produzidos, a relação entre o desenvolvimento da cerâmica armada por
Dieste ao primeiro projeto utilizando a técnica por Antonio Bonet, em que o
engenheiro trabalhou como consultor estrutural. A obra em questão, a Casa Berlingieri
(figura 3), na região de Punta Ballena, no sul uruguaio, o arquiteto responsável
convidou Dieste à ser consultor e projetista estrutural, tornando pontapé inicial a sua
busca incessante por desenvolver novos e inovadores métodos junto a técnica.

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Figura 3. Casa Berlingieri, projeto do arquiteto Antonio Bonet. Disponível em:
<https://relatosurbanos2013radiodelmar.wordpress.com/2013/10/21/relatos-urbanos-
practicas-de-espacio-1610-paisajes-del-exilio-homenaje-a-antoni-bonet-castellana/>. Acesso
em 16 Jul 2016.

Em um de seus discursos, o engenheiro comentou como foi chamado a desenvolver o


projeto estrutural da casa e como a destrinchou como linha para futuros projetos:

A coisa começou assim: Bonet me chamou para calcular a estrutura de


uma das casas que havia projetado em Punta Ballena. Neste momento,
a casa de Bonet realmente sugeria não realizar de concreto as
abóbodas, mas fazê-las de tijolos. Recordo-me que Bonet me disse:
“mas não faremos de tijolos porque resultará em algo muito pesado”,
porque ele havia pensado em colocar os tijolos no sentido dos 12 cm.
Eu lhe disse “uma casca de tijolos” e ele me respondeu: “você acredita
que é possível fazer?”. Eu lhe disse: “Bem, deixe-me pensar”. Eu
pensei e, evidentemente, havia uma quantidade muito grande de
dúvidas, mas estava seguro que se poderia fazer. Então a fizemos. O
empreiteiro não queria construí-la. Depois não queria colocar-se
debaixo. Depois não queria subir na estrutura (...). E ao ver as cintas
de tijolo contra os bosques realmente percebi que havia encontrado
algo que valesse a pena seguir; era a ponta de uma linha.
(GUTIERREZ, 1996)

A linha de raciocínio do engenheiro recém-formado acabava por despertar uma nova


racionalidade, a utilização de tijolos cerâmicos como superfícies a vedações
horizontais e verticais. É fato que o sistema foi sem dúvida alguma, com maior força,
pesquisada e discutida por Dieste, dentro daquele trabalho inicial e que o levou a uma
sucessão de outros com o mesmo pensamento, mas tentando inová-lo
constantemente.
O jovem profissional que buscava algo novo com inquietude acabava por descobrir o
caminho que seguiria pelo resto de sua vida profissional, a abordagem da cerâmica
armada como caminho a soluções estruturais com âmbito social, econômico e
quebrando paradigmas formais. Decidiu também utilizar barras de aço pré-
tensionadas como complemento estrutural a ajudar no descarregamento de esforços;
fôrmas móveis de madeira como reuso a fim de economia e viabilidade técnico-
construtiva.
Na obra de Bonet, Dieste que a utilizou como laboratório e testou a nova técnica,
verificou sucesso construtivo e viabilidade, passando apropriar-se da técnica como
sistema predominante em suas obras e testando-a de maneira irreverente a cada
uma.

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Com panorama geral, durante os trabalhos de Eladio Dieste junto a outros arquitetos,
engenheiros e escritórios que trabalhou, adquiriu aprofundamento das técnicas tão
investigadas por ele no meio acadêmico, o que propiciou grande bagagem cultural e
de conhecimentos e ao fundar sua empresa com Montañez, em 1954, passa a receber
uma crescente projetual, possibilitando testar a técnica de diferentes formas possíveis,
junto a novas tipologias (abóboda autoportante, abóboda gaussiana – de dupla
curvatura, paredes curvas e lajes plissadas, torres e tanques de água).

Paredes curvas e lajes plissadas

Contudo, apesar da obra de Dieste ser característica pela construção de grandes


abóbodas gaussianas – de dupla curvatura, e autoportantes, aplicadas às coberturas
de galpões, celeiros, hangar e ginásios, também é destacável seu célebre trabalho
acerca de paredes curvas e lajes plissadas, aplicada em capelas. Portanto, neste artigo
de Iniciação Científica, há enfoque acerca desta tipologia, permitindo vislumbrar
conhecimento específico destas, uma vez que apresenta mais e melhores
possibilidades da aplicação entre a relação forma-estrutura, tão trabalhada pelo
engenheiro.
Dentro de seu trabalho, é notável sua investigação acerca da geometria estrutural
como resposta à quebra de paradigmas da forma. Também valendo pontuar que o
desenho da estrutura partia do pressuposto econômico à matéria-prima e eficiência da
edificação, como no caso da iluminação e ventilação, por exemplo, mas, também,
durante o processo de canteiro de obra, buscando regrar o método construtivo e
economizar na produção, como é o caso das fôrmas utilizadas para moldar suas
armações. Sua destacável logística e profundo conhecimento acerca do processo
construtivo intensificou seu trabalho através de aplausível qualidade técnica, espacial,
construtiva e principalmente, racional.
O clássico exemplo da aplicação desta tipologia pelo engenheiro é a estonteante Igreja
do Cristo Obrero, construída em 1960, na cidade de Atlântida, pertencente ao
Departamento de Canelones, no Uruguai.
O célebre projeto na obra de Eladio é considerado uma de suas mais representativas
obras. Porém, outros importantes exemplos da aplicação construtiva desta técnica
são: a Igreja e Casa Paroquial Nossa senhora de Lourdes (1968), Igreja de São Pedro
(1971), Albergue Ayui (1976), o Centro Comercial de Montevidéu (1985), Conjunto
paroquial San Juan D’Ávila (1996), Paroquia de Nossa Senhora do Rosário (1996) e o
caminho dos Estudantes (1996). O conceito adotado para o desenvolvimento desta
tipologia de parede foi claramente expressado por Dieste, como afirma:

Com o mesmo método com o qual se consegue a conicidade dos


tanques pode construir-se qualquer tipo de parede cuja superfície seja
regrada.

O procedimento é sempre o mesmo: replanejar o nível do solo e a uma


altura razoável, prolongar as geratrizes como antes. Se a parede se faz
com dois muros médios de tijolos ou mesmo espelhados,
suficientemente separados, não é necessário andaime e pode em
seguida construir-se paredes muito altas a um custo muito baixo.
(JIMÉNEZ TORRECILLAS, 1996, p.147. (Tradução nossa)

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As paredes de superfície regrada têm como clara compreensão limitar o espaço físico,
porém, mas do que isso é responsável por confrontar as superfícies de modo singular,
apresentando geometria que se serpenteia ao verticalizar-se. Ou seja, a geratriz
horizontal pousada no chão não apresenta o mesmo desenho na geratriz situada no
ponto mais alto da superfície, uma vez que este possui variações espaciais e ao chegar
neste último, conforma geratriz senoidal.
Na construção, há dupla camada de tijolos cerâmicos com leve separação por alguns
centímetros, espaçamento que é preenchido com armação em aço (do ponto de base à
ondulação no topo) e concreto, posteriormente, recebendo uma leve camada de
argamassa, progredindo a horizontalidade espacial da superfície.
Dentro da inventividade do engenheiro aplicada às soluções desta tipologia, há a
criação de uma família destas superfícies, após combinações regradas.
No caso da Igreja Cristo Obrero (Figura 4), na base há geratriz reta e no nível máximo
elevado, há senóide horizontal centralizada (ROMAN, 2012) – (Figura 5).

Figura 4. Fachada da Igreja Cristo Obrero. Fonte: Acervo do fotógrafo Leonardo Finotti.
Disponível em <http://www.leonardofinotti.com/projects/cristo-obrero-church/image/49509-
110513-020d>. Acesso em 15 Ago 2016.

Figura 5. Parede regrada com geratriz reta na base e senoide horizontal centralizada no topo.
Fonte: ROMÁN, 2012, p.79.

No segundo caso, na Igreja de São Juan de Ávila (Figura 6), “a geratriz reta encontra-
se elevada do nível do chão, o que gera duas geratrizes senoidais, uma na base do
muro, ao nível do chão, e outra ao nível do teto” (ROMAN, 2012, P.79) – (Figura 7). A
ideia foi executar a geratriz de modo que estivesse intermediária à superfície, na cota

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dos olhos do observador, gerando um campo de visão direcionado ao altar (ROMAN,
2012).

Figura 6. Fachada traseira da Igreja São Juan de Ávila. Disponível em


<https://sobrearquitecturas.wordpress.com/2016/03/30/eladio-dieste-en-
sobrearquitecturas/>. Acesso em 15 Ago 2016.

Figura 7. Parede regrada com geratriz reta horizontal e geração de duas geratrizes em senóide,
na base e no topo. Fonte: ROMÁN, 2012, p.79.

No terceiro caso, o objeto é o Centro comercial de Montevidéu (Figura 8), “apresenta


esquema de trabalho das paredes regradas mais complexo, no qual temos uma
geratriz reta ao nível do solo e no extremo superior da parede. A geratriz senoidal à
meia altura é deslocada lateralmente em relação ao eixo” (ROMÁN, 2012, p.81) –
(Figura 9).

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Figura 8. Centro comercial de Montevidéu. No primeiro plano, Eladio Dieste em visita à obra.
Disponível em <http://armandolveira.blogspot.com.br/2011/11/lineas-deresistencia-su-
alumno-y.html>. Acesso em 15 Ago 2016.

Figura 9. Parede regrada com geratriz reta na base e noto e geratriz senoidal no nível
intermediário. Fonte: ROMÁN, 2012, p.81.

Nos dois primeiros casos, as vigas posicionadas horizontalmente são ondulantes, isso
é, seguem o desenho estrutural, já que paredes e lajes se fundem formando uma
única superfície. As paredes recebem os esforços das abóbodas de dupla curvatura
onduladas que cobrem a ala interna, acompanhando seus vales e cristas
geometricamente. Já a viga de coração recebe os empuxos horizontais da cobertura,
levando-os ao aço, que agem da mesma forma como nas abóbodas de dupla
curvatura, cruzando e lingando-se espacialmente no espaçamento entre a dupla
camada de tijolos.
Os tijolos cerâmicos utilizados para o assentamento destas superfícies são maciços e
industrializados por sua equipe, dispondo de resistência às cargas de peso da forma e
uniformidade quanto à dimensão dos componentes e coloração.
Sobre a relação entre a Obra institucional de Eladio Dieste e a Parametria, podemos
compreendê-la de modo ligado indiretamente, contudo, primordialmente, direto. Isto
é, se analisarmos cada uma das obras separadamente, podemos perceber que há
certo afastamento aos rígidos padrões de forma que normalmente seguem os edifícios
produzidos nessa época.
Assim, um dos pontos chaves de seu trabalho é justamente o fato do desenho do
edifício não expressar-se apenas nos desenhos bases bidimensionais (planta, corte e
elevação), mas, fogem de tal formalismo, e atualmente, somente são passíveis de
compreensão por meio de amostragens tridimensionais. Claro, que na época de sua
construção, por falta de recursos computacionais, o engenheiro realizava cada uma de
suas obras diretamente no canteiro, aproximando a inventividade da produção,
juntamente com projeto e propriedades técnico-estruturais.
Se compararmos as edificações de Dieste com obras produzidas por arquitetos
contemporâneos que utilizam dos recursos e softwares de modelagem paramétrica
(MP) no processo projetual e da fabricação digital (FD) para vislumbramento e estudos
de massa e estruturas, percebemos nitidamente como há aproximação entre os
requisitos projetuais das edificações paramétricas – dissociação entre os elementos
gráficos e construção; necessidade de padrões tridimensionais para total

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entendimento do edifício; quebra de formalismo plástico; elementos construtivos
(paredes, piso e cobertura) operando em um só corpo; manipulações; etc.
Outra qualidade que podemos dizer é quanto ao uso de tijolos que por apresentarem
pequenos corpos operando na solução final do todo, poderiam ser exemplificados e
analisados parametricamente como um conjunto de algoritmos que conformam a
superfície total, no caso, paredes ou cobertura, e que após passar por rápidas
simulações e manipulações, por meio de mudanças no padrão destes ou medidas,
poderiam gerar uma série de novos modelos formais, constituindo uma família a partir
de rápidas manipulações, viabilizando estudos estruturais dos edifícios.

5. Conclusão
O artigo e pesquisa que se propôs a investigar e estudar a obra institucional do
engenheiro e arquiteto uruguaio Eladio Dieste (1917-2000), focando-se no sistema
estrutural investigado e batizado por ele como “cerâmica armada”, que no
desenvolvimento de sua carreira, encontrou no uso de tijolos cerâmicos, a essência
para a resolução estrutural requerida, uma vez que o material produzido em barro
cozido era ideal à resistência dos esforços de compressão e pouco exigente em mão-
de-obra, que junto ao aço, garantia resistência à flexão e fácil manipulação, constatou
que este também quebrou paradigmas estilísticos, por contrapor-se aos preceitos da
arquitetura moderna, advinda originalmente da Europa, criticando sua aplicação nos
países latino-americanos, por insuficiência na adaptabilidade ao clima e condições
regionais, ocasionando uma série de outras problemáticas, como elevado custo de
obra, falta de racionalização no uso das fôrmas à produção do concreto armado e
principalmente, por negligenciar as técnicas culturais de produção local.
Assim, através da simples materialidade e de fácil produção, solucionou questões
estruturais e plásticas requeridas em sua ideologia, vencendo uma série de outros
problemas – estrutural, formal, econômico, social e ambiental – cuja maior
concentração encontra-se na capital uruguaia, Montevidéu, municípios adjacentes e
em parcela, no território brasileiro, nos estados do Rio grande do Sul e Rio de Janeiro.
Nesse sentido, a produção de Dieste, se vista de um panorama multidisciplinar,
estabelece a quebra de paradigmas, não só pelo uso reinventado do tijolo, mas pela
logística encontrada, transcendendo as técnicas construtivas tradicionais e modo de
produção eficiente, que acabou por competir com os sistemas industrializados de
maneira consideravelmente viável.
Como mencionado no trabalho, a investigação estrutural de sua obra se dá em
proeminência de grandes vãos e finas cascas com materialidade simples, através de
quatro tipologias desenvolvidas durante sua carreira (1.abóbodas autoportantes;
2.abóbodas de dupla curvatura – ou gaussianas; 3.paredes curvas e lajes plissadas; e
4.torres de televisão e reservatórios d’água), estabelecendo a quebra das
condicionantes tradicionais destas técnicas estruturais, buscando incessantemente
atrelar suas obras à laboratórios de testagens e pesquisas, permitindo o
desenvolvimento aplausível do ponto de vista técnico construtivo, plástico e racional
das mesmas.
Neste trabalho cientifico, em especial, optou-se por focar na tipologia “3” – Paredes
curvas e lajes plissadas – com recorte ao território uruguaio, em três projetos
contendo variantes da tipologia escolhida: Igreja do Cristo Obrero em Atlântida
(1952), Igreja e casa paroquial Nossa Senhora de Lourdes em Montevidéu (1968) e
Montevidéu Shopping Center (1984), potencializando o entendimento intrínseco da
relação forma-estrutura, junto aos esforços predominantes. Dessa forma, durante o
processo de desenvolvimento deste, verificou-se que a tipologia escolhida como nicho
de estudo a da obra de Dieste, foi factível, indo de encontro ás variações provocada

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pela incessante investigação do engenheiro por sua trilha projetual. Essas variantes,
além de célebre qualidade plástica e estrutural, também nortearam a segunda
temática deste estudo, a relação entre a arquitetura e parametria.
O vislumbramento específico dessa também viabilizou conexões entre as superfícies
construídas e a Arquitetura Paramétrica, dessa forma, é possível compreender que
cada um dos tijolos empregados nas superfícies podem ser vistos como algoritmos
independentes e o conjunto das partes constitui o todo, no qual o percebemos como
elemento de superfície final. Esse último pode ser modificado por meio de parâmetros,
caso haja variações entre as medidas ou quantidades dos tijolos constituintes, que
antes eram fixas.
Também percebe-se que as obras desenvolvidas e produzidas por Eladio Dieste tem a
qualidade expressa na dissociação dos elementos construtivos, pois, para ele,
estrutura, cobertura e canteiro devem representar uma única instância. Nesse sentido,
a forma nasce a partir do desenvolvimento estrutural, onde a resolução da estrutura
gera um trabalho formal surpreendente.
Portanto, se os elementos construtivos se tornam singulares à forma, os elementos
espaciais (piso, paredes e teto) também se dissociam ao modo que o desenho do
edifício torna-se a priori, impossível de decodificação.
No panorama geral, seu trabalho pode ser percebido como um processo de
parametrização analógica, por alguns fatores: 1. A solução “Forma x Estrutura” torna-
se indissociável; 2. Os elementos espaciais (parede, piso e teto) também se fundem
pela materialidade; 3. O desenho do edifício nem sempre é possível de expressar-se
graficamente, por transcender os limites da geometria euclidiana; 4. A forma nasce da
estrutura, porém, à medida que a estrutura vai se estabilizando, a forma vai
expressando-se de surpresas espaciais; 5. As superfícies que geram a volumetria
fundem a ideia ao desenvolvimento e a possibilidade da construção nasce do
entendimento material; 6. Em toda sua Obra, houve a criação de inúmeras famílias de
elementos arquitetônicos, principalmente, entre empenas e coberturas (abóbodas).
Os pontos aqui citados simbolizam alguns dos preceitos usados e abordados por
arquitetos contemporâneos que utilizam a Parametrização no desenvolvimento de
suas obras, como forma de compatibilização entre Forma e Estrutura. O trabalho de
Eladio Dieste possui as mesmas características, e há cerca de 60 anos atrás, de
maneira artesanal e analógica.
Atualmente, os meios de modelagem paramétrica e fabricação digital auxiliam na
viabilização técnica, estrutural e executiva da Forma criada. Se na década de 1950, o
arquiteto tivesse os recursos e softwares de modelagem paramétrica disponíveis,
conseguiria simular digitalmente seus projetos e avaliar a eficiência técnica,
estrutural, formal, energética e espacial.
Desta forma, pretendo na finalização deste, simular os projetos selecionados, junto
aos softwares de Modelagem Paramétrica (MP), em especial, Rhinoceros e
Grasshopper e posteriormente, viabilizá-los por meio de Fabricação Digital (FD) aos
estudos de caso pré-estabelecidos, permitindo compreender os esforços
predominantes e reações destes junto ao desenho do edifício, apresenta algumas
dificuldades de execução até o presente momento, no que diz respeito á aplicação por
parte aos softwares e quesitos financeiros para FD, contanto, os estudos prosseguirão
em direção a proposta inicial.

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