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Divers@ Revista Eletrônica Interdisciplinar,

Matinhos, v. 11, n. 2, p. 61-72, jul./dez. 2018


ISSN 1983-8921

CONSTRUÇÃO DE INDICADORES PARA AVALIAÇÃO DO PROGRAMA MUNICIPAL


DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE SÃO CARLOS, SP

CONSTRUCTION OF INDICATORS FOR EVALUATION OF THE ENVIRONMENTAL EDUCATION


PROGRAM OF SÃO CARLOS, SP
Valéria Ghisloti Iared1
Mayla Valenti2
Mariangela Spadoto3
Haydée Torres de Oliveira4

Resumo
Muitos princípios considerados como importantes para a elaboração de indicadores de sustentabilidade
também são princípios da educação ambiental. Contudo, a literatura aponta poucos trabalhos que
desenvolveram indicadores para avaliar políticas públicas em educação ambiental no Brasil. O objetivo
desse artigo é descrever o processo construção de indicadores para o Programa Municipal de Educação
Ambiental de São Carlos (ProMEA), SP e apresentar o conjunto de indicadores elaborados. Realizamos
duas oficinas para a elaboração dos indicadores de forma coletiva, tendo participado professoras/es da
rede municipal, servidoras/es e estudantes das universidades do município e funcionárias/os da
prefeitura municipal. Nas oficinas, fizemos um primeiro levantamento de possíveis indicadores a partir
de um modelo de dimensões construídos com base nas diretrizes do ProMEA. Além disso, discutimos
os públicos contemplados pelos indicadores elencados e as fontes e formas de coleta de dados. A partir
dessa discussão, algumas adaptações ao sistema de indicadores foram sugeridas, resultando em 34
indicadores, cada um relacionado aos públicos atendido e à sua fonte de coleta de dados. Consideramos
que esse processo foi extremamente válido porque se configurou como um processo educativo ao
discutir e analisar um documento municipal e o exercício desenvolvido no presente artigo pode
subsidiar outras experiências semelhantes já que a elaboração de indicadores para avaliação de projetos
e programas de sustentabilidade é desafiadora.

Palavras-chave:políticas públicas; sustentabilidade; metodologias participativas.

Abstract
Many principles considered important for the elaboration of sustainability indicators are also
principles of environmental education. However, the literature points to few studies that developed
indicators to assess public policies in environmental education in Brazil. The objective of this article is
to describe the process of construction of indicators for the Municipal Environmental Education
Program of São Carlos (ProMEA), SP and present the set of indicators elaborated. We carried out two

Dossiê Temático: Recebido em 11/06/2018


1
Professora Adjunta do Departamento de Biodiversidade da Universidade Federal do Paraná. Graduada em Ciências
Biológicas- Bacharelado e Licenciatura. Atua com a linha de pesquisa em educação ambiental. Programa de Pós-Graduação
em Educação/UFPR. e-mail: valiared@yahoo.com.br(autor correspondente)
2
Educadora e pesquisadora com mestrado e doutorado pelo PPGERN/UFSCar.Fubá Educação Ambiental e Criatividade. e-
mail:mayla@fubaea.com.br
3
Professora de Ciências na Prefeitura Municipal de São Pedro e Pesquisadora independente na área de Ecotoxicologia e
Química ambiental. Prefeitura Municipal de São Pedro/Secretaria da Educação. e-mail:mariangelaspadoto@yahoo.com.br
4
Professora Senior (Titular aposentada) do Departamento de Ciências Ambientais – Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
– Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Coordenadorado LEA - Laboratório de Educação Ambiental. Pesquisadora
ligada ao GEPEA – Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Ambiental (criado em 1998), vinculada a Programas de Pós-
graduação da UFSCar e da USP. Departamento de Ciências Ambientais – Centro de Ciências Biológicas e da Saúde –
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). e-mail:haydee.ufscar@gmail.com
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workshops for the elaboration of the indicators in a collective way, with teachers from the municipal
schools, employees and students from the municipal universities and the municipal government staff. In
the workshops, we made a first survey of possible indicators based on a model of dimensions extracted
from ProMEA guidelines. Furthermore, we discussed the audiences covered by the indicators listed and
the sources and techniques of data collection. Based on this discussion, some adaptations to the
indicators system were suggested, resulting in 34 indicators, each related to the public covered and to
its source of data collection. We believe that this process was extremely valid because it was configured
as an educational process when discussing and analyzing a municipal document and the exercise
developed in the present article might subsidize other similar experiences since the elaboration of
indicators for evaluation of projects and sustainability programs is challenging.

Keywords:public policies; sustainability; participatory methodologies.

1 Introdução (corporações, cidades, ecossistemas, entre outras).


A autora classifica nove pontos de alavancagem em
Políticas públicas são compromissos públicos
ordem crescente de influência sobre um sistema:
que garantem o bem-estar social, sendo que o
Estado passa de fiscalizador para proponente de 1) parâmetros, constantes, números, taxas;
uma dinâmica participativa e articulada de 2) regulação do feedback negativo;
programas e iniciativas (BUCCI, 2006). 3) condução do feedback positivo;
Documentos oficiais e políticas públicas em 4) fluxos de materiais e nós de intersecção;
educação ambiental podem possibilitar a orientação 5) fluxos de informação;
de uma prática educativa por estabelecerem 6) regras do sistema (castigos, incentivos,
princípios, diretrizes e objetivos respaldados pelo restrições);
poder público (SORRENTINO, TRAJBER; 7) distribuição do poder sobre as regras do
FERRARO JUNIOR, 2005). Para as/os autoras/es, sistema;
a implementação de políticas públicas em educação 8) metas do sistema;
ambiental reflete a possibilidade do Estado em 9) mudança de paradigma do sistema.
responder às demandas sociais que surgem
Dessa forma, o ponto de alavancagem que mais
decorrentes dos problemas ambientais locais.
influencia o sistema e de mais difícil realização é a
No entanto, é necessário verificar o quanto mudança de paradigma (MEADOWS, 1999).
dessas políticas públicas estão efetivamente sendo Incorporar novas formas de ser e pensar é um dos
colocadas em prática. Valenti et al. (2012) realizou desafios da educação ambiental. A educação
uma pesquisa analisando a prática educativa em ambiental crítica envolve um processo educativo
unidades de conservação em relação ao uso do que procura desvelar e desconstruir os paradigmas
Programa Nacional de Educação Ambiental como da sociedade hegemônica e contribuir para a
documento de referência. O estudo conclui que a construção de novos valores buscando a
referência ao documento oficial é importante como transformação da sociedade atual (CARVALHO,
base teórica e política, mas não é suficiente para 2004; GUIMARÃES, 2006). Acreditamos que
garantir a efetividade da educação ambiental na apenas a educação não dará conta de resolver os
prática das unidades de conservação. Nesse sentido, problemas do mundo, mas também sabemos que
a elaboração de indicadores deve contribuir para sem ela, não será possível mudar (FREIRE, 2005).
analisar as transformações fomentadas pelas Para Freire (2005), uma das possibilidades da
políticas públicas em educação ambiental. educação é o fomento de processos democráticos e
nessa perspectiva, oportunizar o envolvimento de
A elaboração de indicadores de sustentabilidade
todas e todos nas tomadas de decisões da sociedade.
deve considerar diversos aspectos da realidade.
Segundo Meadows (1999), pontos de alavancagem Segundo os documentos da Organização para a
de um sistema são locais onde pequenas mudanças Cooperação e Desenvolvimento Económico
trazem grandes reflexos em sistemas complexos (OCDE, 1994), indicadores fazem parte de um ciclo

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político e contribuem para a formulação, 5) foco prático;


implementação e avaliação de políticas. Outros 6) abertura e transparência;
autores, como Gallopin (1997) e Esteban, Benayas 7) comunicação efetiva;
e Gutiérres (2000), também destacam que a 8) ampla participação;
construção de indicadores deve estar intimamente 9) avaliação constante;
associada aos tomadores de decisão para que haja 10) capacidade institucional.
mudanças efetivas:
Para Guimarães e Feichas (2009), o
Destaforma,os indicadores tornam-se estabelecimento de indicadores de sustentabilidade
referência que podem funcionar como um
exige a agregação de múltiplas dimensões numa
sinal de alarme, que alerta o gestor ou o
político se o plano de desenvolvimento mesma medida. Pautados nesse critério, os autores
empreendido está obtendo os resultados analisaram cinco propostas de indicadores: Índice
esperados ou, pelo contrário, vão em direção de Desenvolvimento Humano (IDH), o Índice de
oposta ao desejado (ESTEBAN;
BENAYAS; GUTIÉRRES, 2000, p. 62, Bem-estar Econômico Sustentável (IBES),
tradução nossa). atualmente Índice de Progresso Genuíno (IPG), a
Pegada Ecológica, os Indicadores de
Os indicadores são variáveis que agregam ou
Desenvolvimento Sustentável (IDS) do Instituto
simplificam os dados importantes, tornam visíveis
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e a
ou perceptíveis os fenômenos de interesse e, ainda,
Matriz Territorial de Sustentabilidade
quantificam, medem e comunicam as informações
(CEPAL/ILPES) para identificar seus aspectos
relevantes (GALLOPIN, 1997). Hardi e Zdan
relevantes e limitações. A partir disso, elencaram
(1997) descrevem como foi o processo que
cinco desafios para implementá-los: hegemonia da
culminou em um documento para avaliação do
dimensão econômica para medir o
desenvolvimento sustentável. Em 1996, em
desenvolvimento; baixa comparabilidade que cada
Bellagio (Itália), o Instituto Internacional para o
proposta analisada proporciona, pouca intersecção
Desenvolvimento Sustentável (International
todas as dimensões da sustentabilidade, falta de
Institute for Sustainable Development – IISD)
operacionalização para propor tomadas de decisão e
reuniu na Fundação Educacional e Centro de
mudança de paradigma e baixa participação da
Conferências Rockfeller especialistas,
comunidade na sua definição. Em relação ao último
pesquisadores e praticantes de mensuração do
desafio:
mundo todo com o objetivo de sintetizar a
percepção geral sobre os principais aspectos Bossel (1999) destaca que a ampla
participação é de extrema relevância para
relacionados com a avaliação da sustentabilidade. construção de indicadores de uma região,
Nesse encontro foram descritos dez princípios que cidade, sistema, seguindo o oitavo princípio
orientam a avaliação do progresso rumo ao do encontro de Bellagio. Tanto Bossel
desenvolvimento sustentável. Os Princípios de (1999) como Hardi e Zdan (1997), utilizam
o caso de Seatlle (Washington) como
Bellagio são orientações para a avaliação de todo o exemplo para defender que quando
processo de elaboração de indicadores, desde o indicadores são construídos por vários
projeto, a escolha e sua interpretação, até a setores sociais (governamentais, não
governamentais, cidadãos, universidades,
comunicação dos resultados. Os princípios são
empresas), a possibilidade de sucesso é
inter-relacionados e devem ser aplicados de forma grande. Os indicadores para
conjunta. desenvolvimento sustentável em Seatlle
foram elaborados em Workshops
Segundo Hardi e Zdan (1997), este encontro não consecutivos, nos quais convites eram feitos
procurou discutir indicadores, mas sim debater à toda população: Um processo participativo
para a seleção de indicadores não é uma
questões de base, ou seja, princípios que iriam idéia nova. Mais e mais comunidades estão
orientar a construção desses indicadores. São eles: usando-o. É uma necessidade de definir um
conjunto de indicadores que podem fornecer
1) guia de visões e metas; uma imagem completa de uma situação-
2) perspectiva holística; problema ou a viabilidade de um sistema.
3) elementos essenciais; Na busca por um conjunto de Indicadores de
Desenvolvimento Sustentável é possível
4) escopo adequado; congregar cidadãos, administradores,

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empresários e especialistas em um processo projeto, enfoque multidisciplinar) enquanto que o


participativo que fortalece o planejamento
orientador para a sustentabilidade e tomada
terceiro descreve a estratégia educacional do
de decisão (BOSSEL, 1999, p. 54-55, projeto do ponto de vista afetivo, isto é, indicando
tradução nossa). as interações entre os sujeitos do projeto, entre
Logo, para o autor, apenas a informação alunas/os, professoras/es, família, comunidade e
científica pura produzida com a construção e autoridades.
implementação de indicadores ambientais, em Já Esteban, Benayas e Gutiérres (2000), adotou
geral, não é suficientemente eficaz para promover o modelo de pressão-estado-resposta na construção
mudança em processos de tomada de decisão a de indicadores de educação ambiental. Os autores
curto prazo, em indivíduos ou gestores, seja por optaram por esse modelo por estruturar de maneira
conveniências políticas ou por interesses pessoais. simples a relação causal entre economia e meio
Nesses casos, as satisfações e interesses imediatos ambiente. Para tanto, construíram três dimensões
pesam mais que fatos científicos. Porém, quando a de análise: 1) indicadores de meios e recursos (o
construção de indicadores é feita com base em quanto está se investindo em educação ambiental,
ideais de sustentabilidade mais alinhados aos atores por exemplo, investimento financeiro, número de
sociais envolvidos com dados basais criteriosos e as centros de educação ambiental, número de teses e
equipes de trabalho formadas por usuários de ramos dissertações publicadas); 2) indicadores de
diversificados da sociedade, a possibilidade de comportamento pró-ambientais (ações negativas e
sucesso da construção e monitoramento é maior. positivas, como porcentagem de superfícies
Outro ponto que busca garantir a significância dos incendiadas, porcentagem de recicláveis que estão
indicadores é a consulta aos usuários durante o sendo coletados, número de associadas/os em
processo de escolha e elaboração: os indicadores organizações não governamentais ambientalistas);
serão mais efetivos quanto mais próximos aos 3) indicadores de atitudes e motivações ambientais
valores do público e então complementados por (predisposição ao cuidado do meio ambiente, como
medidas e ações públicas a longo prazo, com porcentagem de pessoas que procuram cursos,
decisões a elas vinculadas de forma a promover a porcentagem de pessoas que reivindicam uma
sustentabilidade, sendo dessa forma possível uma educação ambiental mais eficiente).
busca por reverter o quadro de destruição ambiental
Enquanto Krob et al. (2009), elaborou um
e insustentabilidade que ameaça a todos nós
conjunto de indicadores e verificadores para
(DAHL, 2012).
monitorar um projeto implementado por uma ONG
É interessante notar que vários princípios que realiza ações no Litoral Norte do Rio Grande
citados como importantes para a elaboração de do Sul, a preocupação de Luz e Tonso (2015)
indicadores de sustentabilidade também são residiu em avaliar se as iniciativas em educação
princípios da educação ambiental, como: ambiental eram, de fato, baseadas na perspectiva
perspectiva holística e sistêmica, participação de crítica. No primeiro trabalho, o autor e as autoras
todos os setores da sociedade, diálogo e optaram por construir seis dimensões para avaliar o
comunicação efetivos, entre outros. Esse fato pode projeto de educação ambiental (comportamento das
mostrar que apesar de serem campos distintos, eles crianças, engajamento das/os professoras/es,
estão intimamente relacionados. Contudo, são significação do tema meio ambiente na escola,
poucos os trabalhos que abordam elaboração de produção simbólica das crianças, reflexão
indicadores para a educação ambiental. ambiental na família, impacto no meio ambiente),
Segundo Mayer (1989) para se avaliar qualquer sendo que cada indicador é composto por um
projeto de educação ambiental no contexto escolar conjunto de verificadores. No segundo, os autores
são necessários três grupos de indicadores de realizaram uma revisão bibliográfica e entrevistas
qualidade. O grupo considerado como mais com pesquisadores da área com o intuito de elencar
importante baseia-se na mudança de valores, sete indicadores e parâmetros que poderiam
atitudes, hábitos e crenças das/os alunos. O segundo subsidiar a análise de práticas em educação
grupo relata a estratégia educacional do projeto sob ambiental.
o ponto de vista cognitivo (relevância local do

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Apesar desses trabalhos abordarem a elaboração município – o Bate Papo da Sala Verde. Esse
de indicadores para a educação ambiental, nenhum espaço ocorreu no âmbito do projeto São Carlos
deles têm seu foco na avaliação de políticas CRIA Sala Verde, que foi fruto de uma parceria
públicas. No Brasil, as políticas públicas em entre Prefeitura Municipal, a ONG Associação para
educação ambiental são relativamente recentes. A Proteção Ambiental de São Carlos, Universidade
Política Nacional de Educação Ambiental entrou Federal de São Carlos e Centro de Divulgação
em vigor em 1999 (BRASIL, 1999), mas seu Científica e Cultural da Universidade de São
decreto de regulamentação foi oficializado apenas Pauloii.
em 2002 (BRASIL, 2002). A partir de então, alguns
Nesse contexto, realizamos duas oficinas com
estados e municípios iniciaram seu processo de
participantes do Bate Papo da Sala Verde nos dias
construção de políticas públicas, com base na lei
19 de maio e 16 de junho de 2011. Para ampliar a
nacional.
participação, enviamos convites virtuais para todas
No município de São Carlos (SP), esse processo as listas de discussão relacionadas à educação
iniciou em 2004, por inciativa da Rede Municipal ambiental e meio ambiente do município que temos
de Educação Ambiental, que elaborou o Programa acesso. Além disso, fizemos um convite
Municipal de Educação Ambiental – ProMEA direcionado a professoras/es da rede municipal que
(SÃO CARLOS, 2008b) e, posteriormente, a já participavam de iniciativas em educação
Política Municipal de Educação Ambiental – ambiental.
PMEA (SÃO CARLOS, 2008a). Em 2011, iniciou-
Na primeira oficina participaram 21 pessoas,
se o processo de construção de indicadores para
entre essas, professoras/es da rede municipal de
avaliação do ProMEA. O objetivo desse artigo é
ensino, participantes de ONGs, funcionárias da
descrever e o processo de construção de indicadores
Prefeitura Municipal de São Carlos (com cargos de
para o Programa Municipal de Educação Ambiental
tomadoras/es de decisão), estudantes e
de São Carlos, SP e apresentar o conjunto de
professoras/es universitárias/os. Apesar de todas/os
indicadores elaborados. Dessa forma, esperamos
as/os participantes já terem contato com a área da
contribuir para a aproximação dos campos de
educação ambiental, estas tinham pouco
estudo de indicadores de sustentabilidade e da
conhecimento sobre indicadores de
educação ambiental e ainda incentivar a elaboração
sustentabilidade. Por isso, iniciamos o encontro
de indicadores para políticas públicas em educação
abordando alguns aspectos sobre essa área de
ambiental em outros locais e instituições e em
estudo.
diferentes escalas.
Posteriormente, apresentamos um modelo
previamente organizado como base para a
elaboração dos indicadores de educação ambiental
2 Desenvolvimento
do município. Esse modelo é composto por seis
O processo de construção de indicadores para o dimensões que sintetizam as diretrizes do Programa
Programa Municipal de São Carlos surgiu a partir Municipal de Educação Ambiental de São Carlos:
de uma demanda do município em avaliar projetos 1) transversalidade, inter e transdisciplinaridade; 2)
realizados a partir dessa política pública. Para participação, diálogo e colaboração; 3)
atender a essa demanda, organizamos oficinas em comunicação e divulgação das ações de educação
parceria com o Projeto São Carlos CRIA a Sala ambiental; 4) sustentação das ações de educação
Verde e a Rede Municipal de Educação Ambiental ambiental; 5) descentralização e 6) integração entre
de São Carlosi. grupos. Para cada dimensão, oferecemos alguns
exemplos de indicadores. O próximo passo foi a
Em consonância com o oitavo princípio de
divisão das participantes em três grupos. Cada
Bellagio (HARDI; ZDAN, 1997), nos preocupamos
grupo ficou responsável por elaborar indicadores
em construir indicadores de forma participativa.
para duas dimensões. Em cada grupo, estava
Para tanto, escolhemos um espaço no qual se
presente uma mediadora para auxiliar o processo.
realizam encontros mensais de duas horas, com
interessadas/os em educação ambiental no

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Para orientar as participantes, também encaminhamos os resultados obtidos ao grupo de


apresentamos os critérios para construção de bons discussão virtual, com orientações e solicitando
indicadores sugeridos por Gallopin (1997): contribuições.
indicadores com valores mensuráveis; com base
dados disponíveis ou facilmente obtidos; coleta e
processamento de dados transparente e
3 Resultados e discussão
padronizada; baixo custo em todas as etapas do
processo; facilidade de acesso a meios de A primeira oficina para a construção de
comunicação para divulgação dos indicadores; indicadores de avaliação para o Programa
participação e apoio público no processo de Municipal de Educação Ambiental (ProMEA) foi
construção e na utilização dos indicadores; marcada por uma participação ativa das pessoas
aceitação pelos tomadores de decisão. Ainda presentes, mas também por uma certa dificuldade
mostramos um exemplo em que esses critérios são em elaborar os indicadores pela falta de
organizados na forma de uma guia metodológica familiaridade dos participantes com o tema. A
para a construção de indicadores ambientais e de construção dos indicadores funcionou como uma
sustentabilidade desenvolvido por Quiroga primeira chuva de ideias, sendo elencados 29
Martínez (2009). indicadores para as dimensões do modelo que
propusemos. A partir da análise dos indicadores
Ao final do encontro, recolhemos as
propostos, notamos que haviam vários públicos
contribuições de cada grupo e conversamos sobre
previstos pelo ProMEA que não estavam sendo
os encaminhamentos para a oficina seguinte.
contemplados. Além disso, percebemos que as
Realizamos, então, a sistematização dos indicadores
fontes de dados de alguns indicadores não estavam
elencados pelos três grupos. Duas preocupações
prontamente disponíveis, o que exigiria um
surgiram após a sistematização da primeira oficina
investimento financeiro e um espaço de tempo
e foram trabalhadas na oficina seguinte: quais
considerável (meses) para obtê-los. Por isso,
públicos elencados no ProMEA os indicadores
levamos essa discussão para a segunda oficina. A
estavam contemplando? Qual a fonte de dados dos
partir dessa discussão, algumas adaptações ao
indicadores sugeridos? Como afirmam Bossel
sistema de indicadores foram sugeridas, resultando
(1999), Gallopin (1997) e Quiroga Martínez (2009),
em 34 indicadores, cada um relacionado aos
no início do processo, os recursos são escassos e é
públicos atendidos e à sua fonte de coleta de dados
importante trabalhar com indicadores que já
(Quadro 1). Para as dimensões divulgação e
estejam disponíveis.
comunicação das ações e sustentação das ações, o
Na segunda oficina, participaram 19 pessoas, tempo permitiu apenas a sugestão de indicadores e
divididas em três grupos de atividades. O primeiro dos públicos contemplados, não havendo
grupo ficou responsável por analisar os públicos possibilidade de levantar possíveis fontes e coleta
contemplados ou não pelos indicadores construídos de dados. Mesmo assim, optou-se por manter o
no primeiro encontro, com base nos participantes indicador no Quadro 1, já que podem inspirar e
potenciais listados no ProMEA. O segundo grupo subsidiar outros trabalhos com o mesmo objetivo.
analisou a viabilidade dos indicadores construídos
Muitos documentos produzidos na área de
no primeiro encontro, indicando as fontes e formas
indicadores (GALLOPIN, 1997; HARDI; ZDAN,
de coleta de dados para cada indicador. O terceiro
1997, entre outros) recomendam o mesmo marco
grupo propôs indicadores para a dimensão da
conceitual que oriente toda discussão na construção
sustentação das ações de educação ambiental, já
e monitoramento dos indicadores. Segundo os
que essa dimensão não havia sido trabalhada na
princípios de Bellagio, a perspectiva dos
primeira oficina. Esse grupo também analisou os
participantes da equipe participante deve ser a
públicos contemplados pelos indicadores propostos.
mesma e isso deve ser trabalhado na primeira etapa
Todos os grupos poderiam sugerir alterações,
do processo (HARDI; ZDAN, 1997). No
inclusões ou exclusões dos indicadores propostos
desenvolvimento do nosso trabalho, essa
na primeira oficina a partir de sua análise. Após
perspectiva não foi dialogada explicitamente por
cada oficina, sistematizamos as informações e
tomarmos como uma base um documento (o

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Construção de indicadores… 67

ProMEA) que já fora amplamente visto e revisto e é monitoramento dos indicadores. Segundo a autora,
referência de educação ambiental no município. essa equipe deve ter pessoas de formação e
Além disso, o ProMEA se inspira nos mesmos experiência profissional complementares. No
princípios do Tratado de Educação Ambiental para processo que promovemos houve uma
Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global predominância de professoras/es participando das
(RIO DE JANEIRO, 1992) que é base para as/os oficinas, o que explica o fato dos indicadores
educadoras/es ambientais brasileiros. construídos serem mais direcionados ao ambiente
escolar, não contemplando outros públicos em
Contudo, notamos que as pessoas presentes nas
potenciais previstos pelo ProMEA. Além de não
oficinas tiveram dificuldade para pensar a educação
ampliarmos a diversidade de participantes das
ambiental em âmbito municipal ou como um tema
oficinas, apesar da divulgação realizada, houve
transversal em todos os setores da sociedade,
significativa rotatividade entre as duas oficinas
fazendo suas reflexões apenas a partir de seu
promovidas, o que dificultou a continuidade do
próprio cotidiano. Nesse sentido, Quiroga Martinez
processo.
(2009) ressalta a importância de uma equipe
interinstitucional tanto na construção como no

QUADRO 1 - RESULTADO DA PRIMEIRA ETAPA DE CONSTRUÇÃO DE INDICADORES PARA AVALIAÇÃO DO PROGRAMA


MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE SÃO CARLOS, SP. OFICINAS REALIZADAS EM MAIO E JUNHO/2011
Continua
Dimensão Indicador Públicos listados no Fontes e coleta de dados
ProMEA contemplados
pelos indicadores
Número e nome de disciplinas Professoras/es e estudantes A coleta de dados deverá ser feita por uma pessoa ou um
que abordam a temática de todos os níveis de ensino grupo com formação em EA e acostumado com o
Obs: separar o indicador por cotidiano escolar; lembrar que nem sempre
níveis de ensino, considerar pesquisadoras/es são aceitos nas escolas; realizar um
eixos temáticos para a educação feedback para a escola; coleta de dados levaria um tempo
infantil considerável (semanas ou meses)
Avaliações em âmbito nacional, Professoras/es e estudantes Verificar as provas (acesso fácil, já disponível); um grupo
estadual e municipal que de todos os níveis de ensino; de pessoas seria melhor para discutir
TRANSVERSALIDADE, INTER E TRANSDISCIPLINARIDADE

consideram a EA tomadoras/es de decisão de


entidades públicas e privadas
(políticas/os, executivas/os
ou dirigentes)
Livros didáticos adotados no Professoras/es e estudantes Alguns dados sobre livros estaduais já estão disponíveis
município que abordam o tema de todos os níveis de ensino; (pesquisa de TCC); a coleta de dados deverá ser feita por
ambiental tomadoras/es de decisão de uma pessoa ou um grupo com formação em educação
Obs: - lembrar que nem toda a entidades públicas e privadas ambiental e acostumado com o cotidiano escolar; lembrar
rede municipal adota o mesmo (políticas/os, executivas/os que nem sempre pesquisadoras/es são aceitos nas escolas;
livro didático e o mesmo serve ou dirigentes) realizar um feedback para a escola; coleta de dados
para a rede particular; considerar levaria um tempo considerável (semanas ou meses)
referências curriculares para o
público infantil
Secretarias/ Coordenadorias de Tomadoras/es de decisão de Acesso fácil, já disponível
São Carlos que têm um setor entidades públicas e privadas
responsável pela EA (políticas/os, executivas/os
ou dirigentes)
Iniciativas de EA realizadas em Todos os públicos, A coleta de dados deverá ser feita por uma pessoa ou um
cada segmento social (igrejas, dependendo de quem grupo com formação em EA; lembrar que nem sempre
escolas, indústria, poder público, participa das ações pesquisadores são aceitos nas instituições; realizar um
ONG, universidades, entre feedback para a instituição; coleta de dados levaria um
outras) tempo considerável (semanas ou meses); custo elevado;
grupo que realizará o mapeamento pode ser dividido por
setor, ou seja, uma pessoa responsável por igreja, outra
por escola da rede municipal, outra por universidade, etc.;
existem pesquisas já disponíveis de outros anos?
Número de projetos escolares Professoras/es e estudantes A coleta de dados deverá ser feita por uma pessoa ou um
que envolvem a comunidade de todos os níveis de ensino; grupo com formação em EA e acostumado com o
população em geral cotidiano escolar; lembrar que nem sempre
pesquisadoras/es são aceitos nas escolas; realizar um
feedback para a escola; coleta de dados levaria um tempo
considerável (semanas ou meses)

Divers@, Matinhos, v. 11, n. 2, p. 61-72, jul./dez. 2018


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ISSN 1983-8921

Continuando

Indicador Públicos listados no Fontes e coleta de dados


Dimensão ProMEA contemplados
pelos indicadores
Número de espaços onde Depende de quem participa Integrar essa coleta com o mapeamento de iniciativas por
sociedade e poder público ou é chamado para o diálogo setor; identificar nas listas de e-mails (CESCAR, REA),
possam dialogar sobre a embora seja uma opção menos ampla, mas já disponível e
temática barata
Perspectiva de EA adotada: em Depende de quem participa Integrar essa coleta com o mapeamento de iniciativas por
que concepções de educação dos projetos setor; identificar nas listas de e-mails (CESCAR, REA),
PARTICIPAÇÃO, DIÁLOGO E COLABORAÇÃO

ambiental e metodologias são embora seja uma opção menos ampla, mas já disponível e
pautadas os projetos barata
desenvolvidos
Número de escolas que Professoras/es e estudantes Na rede municipal os dados estão disponíveis com pessoa
apresentaram mudança de de todos os níveis de ensino; responsável pelos projetos de EA nas escolas; na rede
postura: analisar economia de População em geral; estadual consultar diretoria de ensino; sem informações
água, luz, separação de lixo, servidoras/es e funcionários e para a rede particular
óleo, número de projetos em demais representantes de
educação ambiental entidades públicas e privadas
Obs: indicador agregado
Número de famílias que dão Professoras/es e estudantes Solicitar às/aos professoras/es, coordenadoras/es
depoimentos espontâneos de todos os níveis de ensino; pedagógicos e diretoras/es para anotarem o número de
sobre projetos de EA população em geral depoimentos por período
desenvolvidos nas escolas
Número de parceiros/ Depende dos parceiros Integrar essa coleta com o mapeamento de iniciativas por
segmentos em projetos de EA setor; identificar nas listas de e-mails (CESCAR, REA),
embora seja uma opção menos ampla, mas já disponível e
barata
Número de participantes da Apenas quem tem acesso à Fonte de dados já disponível.
lista de e-mails da Rede de internet e conhece a lista Olhar no grupo de emails do Yahoo
Educação Ambiental
Número de participantes que Depende de quem são as/os Dados qualitativos, não disponíveis mas de fácil acesso e
efetivamente contribuem para participantes baixo custo. Poderia ser calculado a freqüência de
as discussões/ ações da Rede mensagens enviadas por cada participante em um mês.
de Educação Ambiental Uma pessoa da REA poderia se responsabilizar por isso.
Número de dissertações e teses Professoras/es e estudantes Disponível no IBICT; levantar na lista de e-mails do
em EA defendidas por ano de todos os níveis de ensino Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Ambiental da
Universidade Federal de São Carlos; acesso fácil, já
disponível
Número de cursos de Professoras/es e estudantes Identificar nas listas de e-mails (Rede de Educação
especialização em EA de todos os níveis de ensino; Ambiental, Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação
oferecidos por ano tomadoras/es de decisão de Ambiental da Universidade Federal de São Carlos,
entidades públicas e privadas Coletivo Educador de São Carlos, Araraquara,
(políticas/os, executivas/os Jaboticabal e Região)
ou dirigentes)
Número de pessoas formadas Professoras/es e estudantes A coleta dos dados pode parecer fácil em um primeiro
FORMAÇÃO

em cursos de especialização de todos os níveis de ensino momento, mas existem pessoas fazendo cursos à
em EA por ano distância, o que poderia dificultar a coleta
Existência de processos Empresas do município Integrar essa coleta com o mapeamento de iniciativas por
formativos em EA com setor
funcionários de empresas
Número de disciplinas de EA Professoras/es e estudantes Dados disponíveis e de fácil acesso para quem está dentro
oferecidas em cursos de de todos os níveis de ensino da universidade
graduação e pós-graduação,
número de pessoas que
cursaram as disciplinas
Número de cursos de extensão Depende de quem participa Integrar essa coleta com o mapeamento de iniciativas por
e capacitação oferecidos por dos cursos setor; identificar nas listas de e-mails (CESCAR, REA),
ano para redes de ensino e para embora seja uma opção menos ampla, mas já disponível e
a comunidade em geral, barata; perguntar na Secretaria Municipal de Educação e
número de pessoas formadas na Diretoria de Ensino, embora seja uma opção menos
nesses cursos ampla, mas de fácil acesso e baixo custo

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Construção de indicadores… 69

Termina
Quais são os parceiros que Depende de quem participa Integrar essa coleta com o mapeamento de iniciativas por
frequentemente desenvolvem das atividades setor.
projetos de EA (escola-ong, Obs: Esse indicador possibilita saber com quem contar, o
DESCENTRALIZAÇÃO, INTEGRAÇÃO ENTRE GRUPOS

escola-empresa, escola- que se relaciona com sustentação das ações.


prefeitura)?
Locais onde são realizadas as Depende de quem participa Integrar essa coleta com o mapeamento de iniciativas por
atividades de educação das atividades setor ou identificar nas listas de e-mails (CESCAR,
ambiental EA REA), embora seja uma opção menos ampla, mas já
disponível e barata.
Localização no município das Depende de quem participa Integrar essa coleta com o mapeamento de iniciativas por
instituições que promovem das atividades setor ou identificar nas listas de e-mails (CESCAR,
atividades de educação REA), embora seja uma opção menos ampla, mas já
ambiental disponível e barata.
Número de sites, blogs, rádio, Depende de quem tem acesso Identificar nas listas (REA, GEPEA, CESCAR), opção
emissoras de televisão, jornais aos meios de comunicação menos ampla, mas de fácil acesso e baixo custo
que abordam temáticas (grupos em condições de
ambientais locais vulnerabilidade ambiental
podem não ter acesso);
população em geral
Número de publicações em Depende de quem tem acesso Identificar nas listas (REA, GEPEA, CESCAR), opção
educação ambiental (trabalhos às publicações (grupos em menos ampla, mas de fácil acesso e baixo custo
não acadêmicos) por ano condições de vulnerabilidade
ambiental podem não ter
acesso); população em geral
Número de eventos de Depende de quem participa Identificar nas listas (REA, GEPEA, CESCAR), opção
dimensão municipal realizados dos eventos menos ampla, mas de fácil acesso e baixo custo
por ano
Número de mensagens que Apenas quem tem acesso às Identificar nas próprias listas
COMUNICAÇÃO DAS AÇÕES

divulgam ações ambientais em listas


listas de e-mails (Rede
DIVULGAÇÃO E

Municipal de Educação
Ambiental e outas)
Investimentos em EA no Todos os públicos, mesmo Não trabalhado nas oficinas
município que indiretamente
Número de funcionários Todos os públicos, mesmo Não trabalhado nas oficinas
concursados trabalhando com que indiretamente
EA
Número de espaços educadores Depende de quem frequenta Não trabalhado nas oficinas
no município os espaços educadores
Número de visitantes/atendidos Depende de quem frequenta Não trabalhado nas oficinas
SUSTENTAÇÃO DAS AÇÕES DE EDUCAÇÃO

(tipo de público) atendido os espaços educadores


nesses espaços
Número de espaços públicos Todos os públicos, mesmo Não trabalhado nas oficinas
(áreas verdes) no município que indiretamente
Porcentagem de moradores que Todos os públicos, mesmo Não trabalhado nas oficinas
participam de programas que indiretamente; os
AMBIENTAL

ambientais (coleta seletiva, programas devem ser feitos


plantio de mudas) com todos os moradores da
cidade
Número de indústrias que Funcionários, estudantes, Não trabalhado nas oficinas
desenvolvem atividades na filhos de funcionários e
área ambiental comunidade do entorno da
indústria
Obs: público não indicado no
ProMEA explicitamente
Porcentagem de empresas/ Empresas e indústrias Não trabalhado nas oficinas
indústrias com certificação
ambiental

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70 Iared et al.
Considerando que os indicadores devem com as discussões das/os autoras/es apontadas/os,
contribuir para a tomada de decisão (DAHL, 2012; consideramos esse indicador como agregado e de
HODGE; HARDY; BELL, 1999), um aspecto chave fácil informação e comunicação sobre a situação
é a viabilidade de implantação desses indicadores. A escolar e a mudança de postura ambiental.
reflexão que realizamos sobre esse tema na segunda
Nesse trabalho, promovemos e analisamos um
oficina permitiu que as/os participantes
exercício de construção de indicadores para o
compreendessem melhor o objetivo da elaboração
Programa Municipal de Educação Ambiental do
dos indicadores para o ProMEA. Isto também
Município de São Carlos, SP. Consideramos que
contribuiu para o mapeamento das fontes de dados
esse processo foi extremamente válido tanto para
disponíveis e possíveis parcerias para a coleta de
impulsionar o uso de indicadores para avaliação das
novos dados como descrito no Quadro 1. Sobre esse
políticas públicas em educação ambiental no
assunto, Quiroga Martínez (2009) lembra que os
município como para a formação das pessoas que
desafios para o monitoramento dos indicadores
participaram das oficinas. Contudo, também
ambientais são grandes e diversos nos países da
identificamos alguns desafios a serem superados em
América Latina. Um desses desafios é o
processos semelhantes.
investimento financeiro para a formação de uma
equipe técnica capaz de coletar e monitorar esses O primeiro levantamento de indicadores que
dados. Por outro lado, o município de São Carlos realizamos foi equivalente a uma lista de desejos,
tem a potencialidade de um trabalho composta por um conjunto de idéias e vontades
interinstitucional articulado e consistente. das/os participantes, que tentaram abarcar a
Universidades, ONGs e poder público municipal, complexidade da questão, conforme aponta Quiroga
estadual e federal podem contribuir de diferentes Martínez (2009). Para complementar esta etapa,
maneiras na construção dos indicadores, obtenção e seria interessante selecionar indicadores mais
monitoramento desses dados. Nesta perspectiva, representativos para cada setor envolvido com
Quiroga Martínez (2009) salienta a importância de educação ambiental no município. Como afirmam
trabalhos interinstitucionais que sejam colaborativos algumas/ns autoras/es (BOSSEL, 1999;
e inclusivos. A autora diz que a complexidade e a GALLOPIN, 1997; QUIROGA MARTÍNEZ, 2009),
transversalidade dos processos ambientais exigem a produção e monitoramente dos indicadores
uma nova forma de organização institucional. envolvem um custo. Portanto, os indicadores devem
ser elaborados para que respondam prontamente a
Outro aspecto que deve ser considerado no
demanda de quem irá usá-los. Além disso, é
processo de elaboração de indicadores é a
necessário que os dados sejam comparáveis ao longo
comunicação e divulgação efetiva sobre o que está
do tempo ou entre diferentes territórios. Assim, é
acontecendo em um determinado contexto
recomendável que as variáveis dos indicadores
(BOSSEL, 1999; GALLOPIN, 1997), no caso, na
sejam elencadas e que um parâmetro avaliativo a
educação ambiental no município de São Carlos. Por
elas seja atribuído para que os dados possam ser
isso, costumam-se utilizar indicadores agregados
caracterizados qualitativamente (QUIROGA
que trazem uma informação mais simples e de fácil
MARTÍNEZ, 2009), etapa não alcançada nesse
interpretação, como por exemplo, a pegada
trabalho.
ecológica (BOSSEL, 1999). Os indicadores
agregados são uma estratégia fundamental para a
comunicação com o público em geral, meios de
comunicação e para atividades educativas. Na 4 Considerações Finais
primeira oficina, na dimensão de participação, O conceito de desenvolvimento sustentável
diálogo e colaboração, as participantes elaboraram evoluiu a partir de uma visão vaga para um aspecto
um indicador que sinaliza a mudança de postura da integrante da tomada de decisão nos setores público
escola (Quadro 1). Para tanto, o grupo sugeriu que e privado e, conjuntamente, passou-se a considerar
esse indicador abarcaria o consumo da água, de com mais frequencia os diversos elementos da boa
energia, a destinação do lixo e do óleo, relacionando governança e de tomada de decisão para alcançar
esses dados com o número de projetos de educação objetivos a longo prazo, a coerência das políticas,
ambiental desenvolvidos na escola. Concordando

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Construção de indicadores… 71
abertura, transparência e participação, eficácia e DAHL, A.L. Achievements and gaps in indicators
responsabilidade (PINTÉR et al, 2012). for sustainability.Ecological Indicators, v. 17, p.14-
19, 2012.
Ao utilizarmos os indicadores como ferramentas de
ESTEBAN, G.; BENAYAS, J.; GUTIÉRRES, J. La
orientação, podemos retratar importantes dimensões utilización de indicadores de desarrollo de La
do ambiente e da sociedade de modo a permitir uma educación ambiental como instrumentos para La
melhor planejamento e monitoramento. Dessa evaluación de políticas de educación ambiental.
forma, ao reunir esforços para produzir indicadores Tópicos em Educación Ambiental, v. 2, n.4, p. 61-
de sustentabilidade que poderão ser instrumentos 67, 2000.
eficazes para promoção de mudanças de paradigmas FREIRE, P. A educação na cidade. 6. ed. São
e comportamentos individuais e de grupo na direção Paulo: Cortez, 2005.
de uma sociedade mais sustentável pode se GALLOPIN, G. C. Indicators and their use:
configurar como um momento educativo para Information for decision-making. In Sustainability
refletir sobre os desafios do enfrentamento indicators: Report of the project on indicators of
ambiental. sustainable development. John Wiley & Sons Ltd.,
New York, 1997.
Esse trabalho além de chamar a atenção para o
GUIMARÃES, M. Educação Ambiental. Duque de
processo de construção de indicadores e elencar as
Caxias: UNIGRANRIO Editora, 2000.
dificuldades que a temática encerra, pode ser ColeçãoTemasemMeioAmbiente, v. I.
utilizado como subsídio ou ponto de partida para
uma equipe que tenha disponibilidade em continuar GUIMARÃES, R.P.; FEICHAS, S.A.Q. Desafios na
construção de indicadores de sustentabilidade.
o processo no município de São Carlos. Além disso,
Ambiente & Sociedade, v. XII, n. 2, p. 307-323,
pode incentivar e auxiliar na orientação de outras 2009.
experiências de construção de indicadores para
HARDI, P.; ZDAN, T. Assessing sustainable
políticas públicas em educação ambiental.
development: principles in practice. Winnipeg:
IISD, 1997.
HODGE, R.A.; HARDI, P.; BELL, D.V.J. Seeing
Referências change through the lens of sustainability.
Background paper for the Workshop “Beyond
BOSSEL, H. Indicators for Sustainable
Delusion: Science and Policy Dialogue on
Development: Theory, Method, Applications. A
Designing Effective Indicators of Sustainable
report to the Balaton Group. IISD (International
Development”. The International Institute for
Institute for Sustainable Development, Institut
Sustainable Development, Costa Rica, 1999.
International du Développement Durable), 1999.
KROB, A.J.D.; BOHRER, P.V.; ZANK, S.; WITT,
BRASIL. Decreto nº 4.281, de 25 de junho de
J.R.; VIERO, R.C. O monitoramento de resultados
2002.Regulamenta a Lei nº 9.795, de 27 de abril de
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1999, que institui a Política Nacional de Educação
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ambiental, institui a Política Nacional de Educação
Encontro de Pesquisa em Educação Ambiental,
Ambiental e dá outras providências. Disponível em
2015, Rio de Janeiro. Anais VIII EPEA, 2015.
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http://www.eclac.org/publicaciones/xml/1/37231/LC
de conservação: políticas públicas e a prática
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RIO DE JANEIRO. Tratado de Educação 267-288, 2012.
Ambiental para Sociedades Sustentáveis e

i
Lançada em 1996, a Rede de Educação Ambiental de São
Carlos (REA-São Carlos) objetiva fortalecer a atuação em
EA, seja na divulgação do trabalho em rede ou na
proposição de um Programa Municipal de EA,
contribuindo no estabelecimento de políticas públicas
referentes à temática ambiental. Participam da REA- São
Carlos diversos segmentos da sociedade: universidades,
prefeitura, ONGs, cidadãs e cidadãos São Carlenses./
ii
O Projeto intitulado São Carlos CRIA Sala Verde foi
inaugurado em 2005 e além do acervo de materiais como
livros, jogos, CDs-rooms alocado na Biblioteca Pública
Municipal “Amadeu Amaral”, o projeto visa formação em
EA. Uma das atividades realizadas dentro do âmbito desse
projeto era o Bate – Papo na Sala Verde que ocorriam
todas as terceiras quintas feiras do mês na Biblioteca
Pública Municipal “Amadeu Amaral” com duração de
duas horas.

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