Você está na página 1de 14

EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA

No material anterior, examinamos os principais pontos da Execução no processo civil.


Entretanto, no que tange ao procedimento da execução contra a Fazenda Pública, há alguns
pontos que merecem maior aprofundamento. Relembrando que Fazenda Pública é o nome
dado às pessoas jurídicas de direito público interno (art. 41, CC) quando estão em juízo.

No que concerne ao procedimento da execução, destaca-se que ele é determinado de


acordo com a natureza do título executivo, se judicial ou extrajudicial, ou ainda pelas
peculiaridades acerca da natureza da obrigação ou da pessoa do executado. É justamente este
último critério, da pessoa do devedor, que fundamenta a existência da chamada execução
contra a Fazenda Pública, que nada mais é que um procedimento especial de execução.

Pois bem. Como sabido, os bens que integram o patrimônio público possuem
características próprias, tendo em vista que são empregados na satisfação do interesse
público. Segundo a doutrina, essas características conferem uma proteção especial aos bens
públicos para que não haja a interrupção das atividades administrativas. São basicamente
quatro características:

1- impenhorabilidade: bens públicos não podem ser penhorados

2- imprescritibilidade: bens públicos são insuscetíveis de aquisição pela prescrição


aquisitiva (usucapião)

3- alienabilidade condicionada: bens públicos só podem ser alienados na forma da lei

4- não-onerabilidade: bens públicos não podem ser dados em garantia, onerados com
direitos reais de garantia

São essas características dos bens públicos que reclamam a existência de um


procedimento próprio para a execução contra a Fazenda Pública, afinal, o juiz, diferentemente
do que ocorre com as demais pessoas, não poderá penhorar os bens públicos.

Não obstante, como já foi dito, um dos critérios para determinar a natureza do
procedimento de execução é a natureza da obrigação. Portanto, apenas para a obrigação de
pagar quantia é que a execução contra a Fazenda Pública segue o rito especial, pois os bens
públicos são impenhoráveis. Quanto às obrigações de fazer e não-fazer, o rito aplicado à
Fazenda é o procedimento comum para essas modalidades de obrigação.

Repetindo: o rito especial de execução contra a Fazenda Pública apenas se justifica na


obrigação de pagar quantia. Nos demais casos, a execução é a mesma para todas as pessoas,
pois não há neles a necessidade da constrição judicial de bens, salvo se houver a conversão da
obrigação em perdas e danos.

Veja o quadro sinótico abaixo:


FAZENDA PÚBLICA
OBRIGAÇÃO DE FAZER OU NÃO FAZER OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA
- aplica-se o rito comum, o mesmo para todas - aplica-se o rito especial, ante a
as pessoas; impenhorabilidade dos bens públicos;

Título executivo judicial: art. 138 - sistema de precatórios/RPV


Título executivo extrajudicial: art. 814
Título executivo judicial: art. 534
Neste sentido, confira-se julgado de maio de Título executivo extrajudicial: art. 910
2017 do STF, segundo o qual o “regime de
precatórios não se aplica à execução
provisória de obrigação de fazer contra
Fazenda Pública”. (RE 573872)

Por isso, vamos nos ocupar no presente estudo apenas das peculiaridades da execução
de obrigação de pagar quantia pela Fazenda Pública. Vamos, assim, estudar primeiro o sistema
constitucional de precatórios para, depois, analisar os ritos processuais da execução contra a
Fazenda.

SISTEMA CONSTITUCIONAL DE PRECATÓRIOS

Levando em consideração todas as peculiaridades que já vimos, em especial a


impenhorabilidade dos bens públicos, a Constituição de 1988 criou em seu art. 100 o sistema
de precatórios para o pagamento de obrigações pecuniárias devidas pela Fazenda Pública em
virtude de sentença judicial. Ou seja, as condenações judiciais da Fazenda Pública devem ser
executadas conforme o sistema de precatórios.
Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e
Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica
de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de
casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este
fim.

Exemplo: condenação em ação de desapropriação, em ação de responsabilidade civil, em ação


de repetição de indébito tributário etc devem ser pagas pela sistemática do precatório.

Precatório é, por assim dizer, o procedimento estabelecido na Constituição pelo qual a


Fazenda paga os seus débitos oriundos de condenações judiciais. A doutrina e jurisprudência
afirmam que ele efetiva os princípios constitucionais da isonomia e da impessoalidade, na
medida em que se impõe para todos e é regido por critérios objetivos previamente
estabelecidos na Constituição.

Uma vez condenada judicialmente, não pode a Fazenda Pública cumprir


voluntariamente a obrigação de pagar quantia. Ela deverá, em regra, se sujeitar ao regime do
precatório.

IMPORTANTE: note que o sistema de precatórios é a regra, mas há uma exceção estabelecida
na própria Constituição: a chamada requisição de pequeno valor, que será estudada mais
adiante.

# Quem está sujeito ao sistema de precatórios?


R: já vimos: a Fazenda Pública, seja ela federal, estadual, distrital ou municipal. Mas por que a
pergunta? Porque o Supremo Tribunal Federal decidiu, muito recentemente, no RE 938.837-SP
(Informativo 861- 2017), que os Conselhos Profissionais, embora pessoas jurídicas de direito
público, não se submetem ao regime de precatórios, pois eles têm autonomia financeira e seus
recursos são oriundos das anuidades que eles cobram (cuja natureza é de taxa):
“1. O Plenário reconheceu que os conselhos de fiscalização profissional são
autarquias especiais — pessoas jurídicas de direito público, que se submetem à
fiscalização do Tribunal de Contas da União (TCU) e ao sistema de concurso público
para a seleção de pessoal. Além disso, esses órgãos são dotados de poder de polícia
e poder arrecadador. Entretanto, eles não participam do orçamento público, não
recebem aporte do Poder Central nem se confundem com a Fazenda Pública. 2.
Segundo o Colegiado, o sistema de precatório foi concebido para assegurar a
igualdade entre os credores, com impessoalidade e observância de ordem
cronológica, sem favorecimentos. Outra finalidade do sistema de precatório é
permitir que as entidades estatais possam programar os seus orçamentos para a
realização de despesas. Portanto, o precatório está diretamente associado à
programação orçamentária dos entes públicos. 3. A Corte ressaltou que os
conselhos de fiscalização profissional têm autonomia financeira e orçamentária.
Portanto, sua dívida é autônoma em relação ao Poder Público. Desse modo, inserir
esse pagamento no sistema de precatório transferiria para a União a condição de
devedora do conselho de fiscalização. 4. Reputou que, se não é possível considerar
esses conselhos como Fazenda Pública, tampouco seria possível incluí-los no
regime do art. 100 da Constituição Federal” (RE 938837/SP, rel. orig. Min. Edson
Fachin, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgamento em 19.4.2017).

Mas atenção: é importante lembrar também que o STF já fez o raciocínio inverso, qual
seja, aplicar o sistema de precatórios para pessoa jurídica de direito privado. Trata-se do caso
da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - EBCT, empresa pública prestadora de serviço
público em regime de monopólio/não-concorrencial. Veja-se a decisão no RE 220.906-
“À empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, pessoa jurídica equiparada à
Fazenda Pública, é aplicável o privilégio da impenhorabilidade de seus bens, rendas
e serviços. Recepção do art. 12 do DL 509/1969 e não incidência da restrição contida
no art. 173, § 1º, da CF, que submete a empresa pública, a sociedade de economia
mista e outras entidades que explorem atividade econômica ao regime próprio das
empresas privadas, inclusive quanto às obrigações trabalhistas e tributárias.
Empresa pública que não exerce atividade econômica e presta serviço público da
competência da União Federal e por ela mantido. Execução. Observância ao regime
de precatório, sob pena de vulneração do disposto no art. 100 da CF” (RE 220.906-
DF, rel. min. Maurício Corrêa)

PESSOAS SUJEITAS AO REGIME DE PRECATÓRIOS

Regra: Fazenda Pública (= pessoa jurídica de direito público)

Exceção 1: Conselho Profissional não se sujeita a precatório, pois possui orçamento próprio (STF, RE
938.837-SP – Informativo 861)

Exceção 2: a OAB, apesar de ser um conselho profissional, não se sujeita ao regime de precatórios,
além do fundamento acima, pelo fato de que, para o STF, ela é uma entidade sui generis (ADI 1707-DF).

Exceção 3: Empresa Pública prestadora de serviço público deve observar o regime de precatórios,
mesmo sendo pessoa jurídica de direito privado (RE 220.906-DF). O mesmo vale para as sociedades de
economia mista, desde que sejam prestadoras de serviço público próprio do Estado e de natureza não
concorrencial (ADPF 387).
O procedimento do precatório é simples: com a condenação judicial da Fazenda, o
Presidente do Tribunal respectivo (TJ ou TRF) expede a ordem de precatório ao Poder
Executivo, que deverá incluí-lo no orçamento financeiro para efetivar o pagamento.

IMPORTANTE: o §7º do art. 100 estabelece que o Presidente do Tribunal competente que, por
ato comissivo ou omissivo, retardar ou tentar frustrar a liquidação regular de precatórios
incorrerá em crime de responsabilidade e responderá, também, perante o Conselho Nacional
de Justiça.

Presidente do TJ  expede precatório para o Poder Executivo  para inclusão no orçamento

Na Lei Orçamentária Anual de cada ente consta uma dotação para pagamento de
precatórios, onde há uma lista com cada um dos créditos organizados segundo a ordem
constitucional de pagamento.

Essa ordem de pagamento dos precatórios leva em consideração dois critérios: o


momento de apresentação do precatório pelo Presidente do Tribunal e a natureza do crédito:

1- momento de apresentação do precatório: nos termos do caput do art. 100 e do seu


§5º da Constituição, “é obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de direito
público, de verba necessária ao pagamento de seus débitos, oriundos de sentenças
transitadas em julgado, constantes de precatórios judiciários apresentados até 1º de
julho, fazendo-se o pagamento até o final do exercício seguinte, quando terão seus
valores atualizados monetariamente”. Ou seja, de acordo com o momento de
apresentação do precatório, tem-se o seguinte

 Precatório apresentado até 1º de julho deve ser pago até o final do


exercício financeiro seguinte.

Exemplo: se o Presidente apresentar o precatório até 1º/7/2017, o


ente deverá pagá-lo até 31/12/2018 (final do exercício financeiro
seguinte)

 Precatório apresentado após 1º de julho deve ser pago até o final do


exercício financeiro posterior ao subsequente.

Exemplo: se o Presidente apresentar o precatório dia 15/10/2017, o


ente deverá pagá-lo até 31/12/2019 (final do outro exercício
financeiro)

IMPORTANTE: durante esse período que a Constituição confere à Fazenda Pública para o
pagamento do precatório, não haverá a incidência de juros de mora, pois não há mora.
Explica-se: se a Constituição estabelece que o precatório deverá ser pago até o exercício
financeiro seguinte, caso o pagamento seja feito neste prazo, não haverá mora e, por
conseguinte, os juros moratórios. Nesse sentido, o STF editou a Súmula Vinculante nº 17:

Súmula Vinculante 17 “Durante o período previsto no parágrafo 1º do


artigo 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios
que nele sejam pagos” (leia-se §5º)
2- natureza da obrigação: a Constituição, com base em determinados critérios, estabeleceu
débitos preferenciais, os quais não obedecem a ordem cronológica normal. Esses débitos
constam do art. 100, §2º, da CF, recentemente alterado pela EC 94/2016, e devem ser
organizados de acordo com os seguintes critérios:

2.1- Débitos de natureza alimentícia de pessoas com idade igual ou superior a


60 anos, portadores de doença grave ou pessoas com deficiência, na forma da
lei.

Débitos de natureza alimentícia, segundo o art. 100, §1º, são aqueles que
decorrem de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas
complementações, benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por
invalidez, fundadas em responsabilidade civil.

Apesar da preferência conferida a tais débitos, a Constituição estabeleceu um


limite de valor para eles no próprio §2º do art. 100, admitindo-se,
excepcionalmente nesse caso, o fracionamento do precatório. Esse valor será o
triplo do valor das requisições de pequeno valor, os quais são definidos por lei.

2.2- Débitos de natureza alimentícia das pessoas não incluídas na primeira


hipótese

2.3- Débitos comuns (não-alimentícios): seguem a ordem cronológica

Oportuno esclarecer que é vedado o fracionamento de precatórios, ou seja, não se pode pegar
um valor e dividir em vários precatórios.

Art. 100 [...] § 8º É vedada a expedição de precatórios complementares ou


suplementares de valor pago, bem como o fracionamento, repartição ou
quebra do valor da execução para fins de enquadramento de parcela do total
ao que dispõe o § 3º deste artigo

Busca-se com isso impedir que o credor fracione o valor para receber mais rápido, por meio de
várias requisições de pequeno valor (RPV). Exemplo: o particular tem um crédito de 100 mil
reais, mas pede para expedir 5 RPV de 20 mil reais para, com isso, se esquivar do sistema de
precatórios.

IMPORTANTE: a EC 94/2016 estabeleceu um caso excepcional não só de fracionamento, como


também de parcelamento do valor do precatório, na seguinte hipótese:

Art. 100 [...] § 20. Caso haja precatório com valor superior a 15% (quinze
por cento) do montante dos precatórios apresentados nos termos do § 5º
deste artigo, 15% (quinze por cento) do valor deste precatório serão pagos
até o final do exercício seguinte e o restante em parcelas iguais nos cinco
exercícios subsequentes, acrescidas de juros de mora e correção monetária,
ou mediante acordos diretos, perante Juízos Auxiliares de Conciliação de
Precatórios, com redução máxima de 40% (quarenta por cento) do valor do
crédito atualizado, desde que em relação ao crédito não penda recurso ou
defesa judicial e que sejam observados os requisitos definidos na
regulamentação editada pelo ente federado.
# E se em uma ação judicial o juiz condenar a Fazenda a pagar 10 mil reais de indenização
mais honorários advocatícios, haverá um único precatório ou o advogado receberá
separadamente, já que os honorários possuem natureza alimentar?
R: Lembre-se, em primeiro lugar, que o art. 85, §3º, do NCPC estabelece a forma pela qual a
Fazenda Pública paga os honorários advocatícios quando sucumbente. Visto isso, vamos à
resposta: tanto o STF quanto o STJ entendem que o advogado poderá recebeber
separadamente, inclusive por meio da requisição de pequeno valor, quando possível. Assim,
segundo a jurisprudência dos Tribunais Superiores, é possível o fracionamento de precatório
para pagamento de honorários advocatícios. Nesse sentido, o STF editou a Súmula Vinculante
nº 47:
Súmula Vinculante nº 47 “Os honorários advocatícios incluídos na condenação ou
destacados do montante principal devido ao credor consubstanciam verba de
natureza alimentar cuja satisfação ocorrerá com a expedição de precatório ou
requisição de pequeno valor, observada ordem especial restrita aos créditos dessa
natureza”.

Se o valor dos honorários advocatícios estiver dentro do limite para requisição de


pequeno valor, ele não se submeterá ao regime de precatórios, cabendo a expedição de RPV.
Se, por outro lado, o valor for superior, deverá observar o sistema de precatórios, mas,
diferentemente do débito principal, ele não se sujeitará à ordem cronológica comum, pois é
um débito preferencial, de natureza alimentícia.

Cumpre ressaltar, ainda, que por constituir considerável parcela das despesas públicas,
o sistema de precatórios tem sido alvo de diversas emendas constitucionais que, em sua
grande maioria, buscam dilatar os prazos e tornar mais dificultoso o seu pagamento. Exemplo
disso é a EC 62/09 que, não por outro motivo, foi apelidada de “PEC do calote”.

Essa emenda criou a possibilidade de compensação entre o crédito do exequente e


eventuais débitos dele perante a Fazenda. Dito de outra forma, a emenda incluiu os §§9º e 10
que permitiam que a Fazenda compensasse o precatório com outros eventuais débitos do
exequente. Exemplo o exequente tem um crédito de 5 mil reais contra o Município oriundo de
sentença condenatória, mas é devedor de 6 mil reais de IPTU. Pela emenda, o Município
poderia compensar esses valores.
§ 9º No momento da expedição dos precatórios, independentemente de
regulamentação, deles deverá ser abatido, a título de compensação, valor
correspondente aos débitos líquidos e certos, inscritos ou não em dívida ativa e
constituídos contra o credor original pela Fazenda Pública devedora, incluídas
parcelas vincendas de parcelamentos, ressalvados aqueles cuja execução esteja
suspensa em virtude de contestação administrativa ou judicial. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 62, de 2009).

§ 10. Antes da expedição dos precatórios, o Tribunal solicitará à Fazenda Pública


devedora, para resposta em até 30 (trinta) dias, sob pena de perda do direito de
abatimento, informação sobre os débitos que preencham as condições
estabelecidas no § 9º, para os fins nele previstos.

No entanto, o STF entendeu que essa compensação obrigatória é inconstitucional, pois


confere à Fazenda um privilégio que viola o devido processo legal, a isonomia e o
contraditório, uma vez que o particular nada poderia fazer para impedir a compensação, bem
como não teria a seu favor semelhante prerrogativa.

Na mesma oportunidade, a Corte entendeu que a expressão “índice oficial de


remuneração básica da caderneta de poupança”, prevista no §12 do art. 100 é
inconstitucional, pois tais índices não correspondem à inflação, gerando portanto uma redução
do valor da indenização, na medida em que os precatórios demoram anos para serem pagos.
Art. 100 [...] § 12. A partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a
atualização de valores de requisitórios, após sua expedição, até o efetivo pagamento,
independentemente de sua natureza, será feita pelo índice oficial de remuneração
básica da caderneta de poupança, e, para fins de compensação da mora, incidirão
juros simples no mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de
poupança, ficando excluída a incidência de juros compensatórios.

Ainda no tocante ao §12 do art. 100, o STF declarou a inconstitucionalidade da


expressão “independentemente de sua natureza” aplicável aos juros de mora, pois no tocante
aos créditos de natureza tributária, a Corte já tinha o entendimento de que a correção deveria
ser pautada no mesmo incide usado pelo Fisco para corrigir os créditos tributários. Ou seja, em
matéria tributária, o incide de correção deve ser o mesmo para o Fisco e o contribuinte (no
âmbito federal, a SELIC).

Por fim, o STF também declarou a inconstitucionalidade do §15 do art 100 da CF e do


art. 97 do ADCT, que estabeleciam um “regime especial para pagamento de crédito de
precatórios de Estados, Distrito Federal e Municípios, dispondo sobre vinculações à receita
corrente líquida e forma e prazo de liquidação”. Esse regime, na verdade, conferia à Fazenda
Pública um prazo maior para pagamento dos precatórios, sendo este o motivo pelo qual a EC
62/09 foi chamada de “PEC do calote”.
Art. 100 [...] § 15. Sem prejuízo do disposto neste artigo, lei complementar a esta
Constituição Federal poderá estabelecer regime especial para pagamento de crédito
de precatórios de Estados, Distrito Federal e Municípios, dispondo sobre vinculações
à receita corrente líquida e forma e prazo de liquidação.

Nesse regime, os credores poderiam oferecer descontos, renunciando a parte do


crédito, para receber com mais celeridade. Para o STF, o regime, de forma geral, violou
diversos princípios constitucionais e o próprio Estado de Direito, como o devido processo legal,
a inafastabilidade da tutela jurisdicional, a razoável duração do processo, a isonomia, a
impessoalidade e a moralidade administrativa.

Visto isso, agora iremos tratar da exceção ao sistema de precatórios que é a chamada
requisição de pequeno valor, consagrada no art. 100, §3º:
Art. 100 [..] § 3º O disposto no caput deste artigo relativamente à expedição de
precatórios não se aplica aos pagamentos de obrigações definidas em leis como de
pequeno valor que as Fazendas referidas devam fazer em virtude de sentença
judicial transitada em julgado.

De acordo com a redação do referido parágrafo, as condenações definidas em lei como


de pequeno valor não se submetem ao sistema de precatórios. Para elas, existem um
procedimento simplificado chamado de “requisição de pequeno valor” (RPV).

A requisição de pequeno valor, portanto, é um procedimento simplificado para


recebimento dos créditos de pequeno valor decorrentes de sentença judicial condenatória
transitada em julgado.

Ressalte-se que cada ente poderá editar lei fixando o valor das condenações a serem
pagas por meio da requisição de pequeno valor.
Basicamente, na RPV, o juiz, após o transito em julgado da sentença condenatória,
expede RPV para que a Fazenda efetue o pagamento no prazo legal. A Lei 12.153/09, que criou
os juizados fazendários, estabelece um prazo de 60 dias para o cumprimento da requisição:
Art. 13. Tratando-se de obrigação de pagar quantia certa, após o trânsito em
julgado da decisão, o pagamento será efetuado:

I – no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, contado da entrega da requisição do juiz


à autoridade citada para a causa, independentemente de precatório, na hipótese do
§ 3o do art. 100 da Constituição Federal;

Quanto ao valor da requisição, o art. 87 dos ADCT estabelece uma regra de transição
aplicável enquanto não forem editadas as leis próprias dos entes federativos:
Art. 87. Para efeito do que dispõem o § 3º do art. 100 da Constituição Federal e o art.
78 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias serão considerados de
pequeno valor, até que se dê a publicação oficial das respectivas leis definidoras
pelos entes da Federação, observado o disposto no § 4º do art. 100 da Constituição
Federal, os débitos ou obrigações consignados em precatório judiciário, que tenham
valor igual ou inferior a: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 37, de 2002)

I - quarenta salários-mínimos, perante a Fazenda dos Estados e do Distrito Federal;


(Incluído pela Emenda Constitucional nº 37, de 2002)

II - trinta salários-mínimos, perante a Fazenda dos Municípios. (Incluído pela


Emenda Constitucional nº 37, de 2002)

Parágrafo único. Se o valor da execução ultrapassar o estabelecido neste artigo, o


pagamento far-se-á, sempre, por meio de precatório, sendo facultada à parte
exeqüente a renúncia ao crédito do valor excedente, para que possa optar pelo
pagamento do saldo sem o precatório, da forma prevista no § 3º do art. 100.

Da leitura do dispositivo, convém destacar o seguinte:

1- o credor pode renunciar ao valor excedente ao limite fixado em lei para receber pelo na
forma da requisição de pequeno valor;

2- no âmbito da União, o valor da RPV é de até 60 salários-mínimos.

Essas são as principais considerações acerca do sistema constitucional de precatórios. Vamos


ao estudo do rito da execução contra a Fazenda Pública.

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

O cumprimento de sentença que fixe a obrigação de pagar quantia pela Fazenda


Pública está disciplinada no art. 534 e seguintes do NCPC. Nele, a execução do título judicial
ocorre nos próprios autos, em uma fase própria denominada de “fase de cumprimento de
sentença”.

Em regra, o procedimento é simples: o credor apresenta um demonstrativo


discriminado e atualizado do crédito e a Fazenda é intimada para, querendo, apresentar
impugnação no prazo de 30 dias.
Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu representante judicial,
por carga, remessa ou meio eletrônico, para, querendo, no prazo de 30 (trinta) dias e
nos próprios autos, impugnar a execução, podendo arguir.

A impugnação é uma modalidade de defesa apresentada nos próprios autos,


diferentemente dos embargos, que constituem uma ação autônoma. Trata-se de uma simples
petição na qual o ente público poderá alegar as matérias apontadas no art. 535:
Art. 535 [...]
I - falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à
revelia;
II - ilegitimidade de parte;
III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;
IV - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;
V - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;
VI - qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento,
novação, compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes ao
trânsito em julgado da sentença.

Importante ressaltar que a Fazenda é intimada para impugnar, e não para pagar, pois
ela está sujeita ao sistema de precatórios, previsto na Constituição. Em razão disso, a lei
afastou expressamente a multa prevista no art. 523, §1º, para a Fazenda, a qual se aplica
quando o executado não paga voluntariamente quando intimado do cumprimento de
sentença:

Art. 534 [...] § 2o A multa prevista no § 1o do art. 523 não se aplica à Fazenda Pública.

Após analisar a impugnação, caso o juiz venha a rejeitá-la ou mesmo caso não haja
impugnação, o cumprimento de sentença prosseguirá com a expedição do precatório pelo
Presidente do Tribunal respectivo, para inclusão no orçamento. A partir daí, o rito é aquele
previsto para os precatórios.

Se a fazenda impugna a execução, haverá efeito suspensivo?


Sim, e isso independerá do preenchimento dos requisitos do CPC (fumus boni iuris e periculum
in mora) e independerá de garantia do juízo. Trata-se de uma exigência decorrente do art. 100,
§5º da CF, que fala na necessidade de inclusão no orçamento de verba para pagamento
relativo à sentença transitada em julgado. Nesse sentido, temos os §3º e 4º do art. 535 do
NCPC.

§ 3o Não impugnada a execução ou rejeitadas as arguições da executada:

I - expedir-se-á, por intermédio do presidente do tribunal competente, precatório em


favor do exequente, observando-se o disposto na Constituição Federal;
II - por ordem do juiz, dirigida à autoridade na pessoa de quem o ente público foi
citado para o processo, o pagamento de obrigação de pequeno valor será realizado
no prazo de 2 (dois) meses contado da entrega da requisição, mediante depósito na
agência de banco oficial mais próxima da residência do exequente.

§ 4o Tratando-se de impugnação parcial, a parte não questionada pela executada


será, desde logo, objeto de cumprimento.

No caso de impugnação parcial pela Fazenda (Ex: excesso de execução), a parte não
questionada será desde logo objeto de cumprimento. Uma vez que haja o trânsito em julgado
da impugnação, haverá a expedição de precatório ou RPV.
Honorários Advocatícios nas Execuções contra a Fazenda:
No processo COLETIVO, importante destacar a Súmula 345 do STJ:

Súmula 345 do STJ: nas execuções individuais de sentença coletiva, INCIDEM


honorários, ainda que não embargadas.

A lógica é que nessas execuções individuais é preciso que cada indivíduo lesado
demonstre a existência do direito, bem como a sua extensão. Assim, a pessoa não vai
meramente promover uma execução, devendo antes liquidar o valor que lhe é devido.
De acordo com alguns autores (Dinamarco), essa liquidação é chamada de “complexa”,
pois é preciso que o lesado demonstre não apenas a extensão do seu direito, mas também a
sua existência. É praticamente uma ação de conhecimento.

Já nas execuções INDIVIDUAIS, o tema é mais complexo. Inicialmente, destaque-se que


o artigo 1º-D da Lei 9494 de 1997 isenta a Fazenda do pagamento de honorários quando ela
não embargar a execução:

Lei nº 9494/97. Art. 1º-D. Não serão devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas
execuções não embargadas.

No entanto, o STF decidiu que esse dispositivo só se aplica às execuções superiores a


60 salários mínimos, porque apenas essas são regidas pela sistemática dos precatórios. Assim,
excluiu-se a incidência da norma para as execuções de pequeno valor, sujeitas ao pagamento
através de RPV, caso em que não haverá a referida isenção. Desse modo, nas execuções de
pequeno valor, havendo ou não embargos pela fazenda, deverá ser fixada a verba referente
aos honorários advocatícios.

PROCESSUAL CIVIL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CABIMENTO. EXECUÇÃO DE


TÍTULO JUDICIAL CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. RENÚNCIA A VALOR EXCEDENTE A 40
SALÁRIOS MÍNIMOS. REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR.
1. A Seção de Direito Público do STJ, no julgamento dos EREsp 676.719/SC, firmou a
orientação de que, nas execuções de título judicial contra a Fazenda Pública
ajuizadas após a vigência da Medida Provisória 2.180-35/2001 e não embargadas,
os honorários advocatícios serão devidos na hipótese de se tratar de débitos de
pequeno valor.
2. Vencida a Fazenda Pública, a fixação dos honorários advocatícios é estabelecida de
acordo com o art. 20, § 4º, do CPC, de forma equitativa pelo juiz, sem a imposição de
observância aos limites previstos no § 3º do mesmo dispositivo legal.
3. Agravo Regimental não provido.” (Acórdão da 2ª Turma do STJ, AgRg no REsp
1.275.875/RS, rel. Min. Herman Benjamin, j. 7/2/2012, DJe de 13/4/2012)

OBS: Ainda que a execução se submeta à sistemática do precatório, é possível ao autor


renunciar ao valor excedente, a fim de receber por meio de Requisição de Pequeno Valor -
RPV. Nessa situação, não haverá condenação em honorários, conforme recente entendimento
do STJ, veiculado no Informativo 537.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS EM EXECUÇÃO POR


QUANTIA CERTA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C
DO CPC E RES. 8/2008 DO STJ).
A Fazenda Pública executada não pode ser condenada a pagar honorário
advocatícios nas execuções por quantia certa não embargadas em que o exequente
renuncia parte de seu crédito para viabilizar o recebimento do remanescente por
requisição de pequeno valor (RPV). À luz do princípio da causalidade, uma vez que se
revelava inicialmente impositiva a observância do art. 730 CPC, segundo a
sistemática de pagamento de precatórios, a Fazenda Pública não deu causa à
instauração do rito executivo. Não tendo sido opostos embargos à execução, tem
plena aplicação o art. 1°-D da Lei 9.494⁄1997 ("Não serão devidos honorários
advocatícios pela Fazenda Pública nas execuções não embargadas"), nos moldes da
interpretação conforme a Constituição estabelecida pelo STF (RE 420.816-PR). Na
hipótese de execução não embargada, inicialmente ajuizada sob a sistemática dos
precatórios, caso o exequente posteriormente renuncie ao excedente do valor
previsto no art. 87 do ADCT para pagamento por RPV, o STF considera não serem
devidos os honorários. REsp 1.406.296-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
26/2/2014 (Informativo nº 537).

ATENÇÃO! Na chamada “execução invertida”, ainda que se trate de RPV, NÃO haverá
condenação da fazenda pública ao pagamento de honorários! O julgado é recente (junho de
2015) e foi tratado no Informativo 563 do STJ.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DESCABIMENTO DE FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS


ADVOCATÍCIOS EM EXECUÇÃO INVERTIDA.
Não cabe a condenação da Fazenda Pública em honorários advocatícios no caso em
que o credor simplesmente anui com os cálculos apresentados em "execução
invertida", ainda que se trate de hipótese de pagamento mediante Requisição de
Pequeno Valor (RPV). É certo que o STJ possui entendimento de ser cabível a fixação
de verba honorária nas execuções contra a Fazenda Pública, ainda que não
embargadas, quando o pagamento da obrigação for feito mediante RPV. Entretanto,
a jurisprudência ressalvou que, nos casos de "execução invertida", a apresentação
espontânea dos cálculos após o trânsito em julgado do processo de conhecimento, na
fase de liquidação, com o reconhecimento da dívida, afasta a condenação em
honorários advocatícios. Precedentes citados: AgRg no AREsp 641.596-RS, Segunda
Turma, DJe 23/3/2015; e AgRg nos EDcl no AREsp 527.295-RS, Primeira Turma, DJe
13/4/2015. AgRg no AREsp 630.235-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em
19/5/2015, DJe 5/6/2015.

A execução invertida é aquela em que a fazenda pública apresenta espontaneamente os


cálculos após o trânsito em julgado do processo de conhecimento, reconhecendo
expressamente a dívida de pequeno valor e se dispondo a pagar.

Em suma, temos que:

Sobre o tema, importante mencionar ainda o art. art. 85, §7º do CPC/15:
o
§ 7 Não serão devidos honorários no cumprimento de sentença contra a Fazenda
Pública que enseje expedição de precatório, desde que não tenha sido impugnada.
Atente-se ainda para o §3º do mesmo artigo, que traz um escalonamento dos valores de
honorários nas causas em que a fazenda pública for parte, havendo uma divisão em 5 faixas:
o
§ 3 Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos honorários
o
observará os critérios estabelecidos nos incisos I a IV do § 2 e os seguintes
percentuais:
I - mínimo de dez e máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação ou do
proveito econômico obtido até 200 (duzentos) salários-mínimos;
II - mínimo de oito e máximo de dez por cento sobre o valor da condenação ou do
proveito econômico obtido acima de 200 (duzentos) salários-mínimos até 2.000 (dois
mil) salários-mínimos;
III - mínimo de cinco e máximo de oito por cento sobre o valor da condenação ou do
proveito econômico obtido acima de 2.000 (dois mil) salários-mínimos até 20.000
(vinte mil) salários-mínimos;
IV - mínimo de três e máximo de cinco por cento sobre o valor da condenação ou do
proveito econômico obtido acima de 20.000 (vinte mil) salários-mínimos até 100.000
(cem mil) salários-mínimos;
V - mínimo de um e máximo de três por cento sobre o valor da condenação ou do
proveito econômico obtido acima de 100.000 (cem mil) salários-mínimos.

Valor da condenação ou do proveito Percentual dos Honorários:


econômico:
Até 200 SMs 10 a 20%
200 a 2.000 SMs 8 a 10%
2.000 a 20.000 SMs 5 a 8%
20.000 a 100.000 SMs 3 a 5%
Acima de 100.000 SMs 1 a 3%

Perceba que não vale mais a regra da apreciação equitativa pelo juiz (que era prevista
no CPC/73), havendo agora patamares objetivos para a aferição dos honorários a serem
fixados contra a fazenda pública.

A apreciação equitativa só poderá ser utilizada pelo juiz quando for inestimável ou
irrisório o proveito econômico, bem como quando o valor da causa for muito baixo (art. 85,
§8º).

OBSERVAÇÕES:

 Não havendo condenação principal ou não sendo possível mensurar o proveito


econômico obtido, a condenação em honorários dar-se-á sobre o valor atualizado
da causa; (veja que o primeiro critério aqui não é o valor da causa, mas sim o da
condenação!)
 Não sendo líquida a sentença, a definição do percentual somente ocorrerá
quando liquidado o julgado.
 Deve ser usado como valor do salário-mínimo aquele vigente quando prolatada a
sentença ou que estiver em vigor na data da decisão de liquidação, caso a
sentença tenha sido ilíquida.
 Tais patamares aplicam-se independentemente de qual seja o conteúdo da
decisão, inclusive aos casos de improcedência ou de sentença sem resolução de
mérito.
Juros de Mora:
Vimos anteriormente que, por meio da Súmula Vinculante 17, o STF entendeu que não
incidem juros de mora no prazo constitucional concedido para pagamento do precatório.
No entanto, recentemente o STF entendeu que incidem juros de mora no período
compreendido entre o início da execução, com a apresentação da planilha de cálculos, e a
expedição do precatório ou da requisição de pequeno valor. A decisão foi proferida no RE
579.431-RS (Informativo 861- 2017) no seguintes termos:

“Incidem os juros da mora no período compreendido entre a data da realização dos


cálculos e a da requisição ou do precatório. O Colegiado afirmou que o regime
previsto no art. 100 da Constituição Federal (CF) consubstancia sistema de liquidação
de débito, que não se confunde com moratória. A requisição não opera como se
fosse pagamento nem faz desaparecer a responsabilidade do devedor. Assim,
enquanto persistir o quadro de inadimplemento do Estado, devem incidir os juros da
mora. Portanto, desde a citação — termo inicial firmado no título executivo — até a
efetiva liquidação da Requisição de Pequeno Valor (RPV), os juros moratórios devem
ser computados, a compreender o período entre a data da elaboração dos cálculos e
a da requisição. Segundo o Colegiado, a Súmula Vinculante 17 não se aplica ao caso,
pois não cuida do período de 18 meses referido no art. 100, § 5º, da CF, mas sim do
lapso temporal compreendido entre a elaboração dos cálculos e a RPV. A Corte
enfatizou que o sistema de precatório, a abranger as RPVs, não pode ser confundido
com moratória, razão pela qual os juros da mora devem incidir até o pagamento do
débito. Comprovada a mora da Fazenda até o efetivo pagamento do requisitório,
não há fundamento para afastar a incidência dos juros moratórios durante o lapso
temporal anterior à expedição da RPV” (RE 579.431/RS, rel. Min. Marco Aurélio)

O raciocínio do STF aplica-se tanto às requisições de pequeno valor quanto aos


precatórios. Assim, apresentada a planilha pelo credor inicia-se a incidência dos juros de mora,
a qual cessa com a expedição do precatório ou o pagamento do RPV.

EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL

A execução de título extrajudicial contra a Fazenda Pública é mais incomum, pois, de


regra, a Fazenda não se obriga mediante títulos executivos extrajudiciais.

O procedimento para essa execução está previsto de forma sucinta no art. 910 e
seguintes do NCPC. Oportuno destacar que, diferentemente do cumprimento de sentença, a
execução de título extrajudicial ocorre em processo autônomo de execução, e não como
simples fase procedimental nos próprios autos.

IMPORTANTE: há exceção: a sentença arbitral é um título judicial (art. 515, VII) executado em
processo autônomo, cujo rito segue o de cumprimento de sentença (art. 515, parágrafo único).
O mesmo vale para sentenças ou decisões estrangeiras.

Diz o art. 910 que, uma vez proposta a execução, a Fazenda será citada para,
querendo, opor embargos à execução, no prazo de 30 dias.
Art. 910. Na execução fundada em título extrajudicial, a Fazenda Pública será citada
para opor embargos em 30 (trinta) dias.

Os embargos são uma espécie de ação autônoma de conhecimento, que é distribuída


por dependência e apensada aos autos da ação princial, consoante dispõe o art. 914, §1º do
NCPC.
Art. 914 [...] § 1o Os embargos à execução serão distribuídos por dependência,
autuados em apartado e instruídos com cópias das peças processuais relevantes,
que poderão ser declaradas autênticas pelo próprio advogado, sob sua
responsabilidade pessoal.

Nos embargos, a Fazenda Pública poderá “alegar qualquer matéria que lhe seria lícito
deduzir como defesa no processo de conhecimento”. Essas matérias constam no art. 337 do
NCPC.

Você também pode gostar