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Pois bem. Como sabido, os bens que integram o patrimônio público possuem
características próprias, tendo em vista que são empregados na satisfação do interesse
público. Segundo a doutrina, essas características conferem uma proteção especial aos bens
públicos para que não haja a interrupção das atividades administrativas. São basicamente
quatro características:
4- não-onerabilidade: bens públicos não podem ser dados em garantia, onerados com
direitos reais de garantia
Não obstante, como já foi dito, um dos critérios para determinar a natureza do
procedimento de execução é a natureza da obrigação. Portanto, apenas para a obrigação de
pagar quantia é que a execução contra a Fazenda Pública segue o rito especial, pois os bens
públicos são impenhoráveis. Quanto às obrigações de fazer e não-fazer, o rito aplicado à
Fazenda é o procedimento comum para essas modalidades de obrigação.
Por isso, vamos nos ocupar no presente estudo apenas das peculiaridades da execução
de obrigação de pagar quantia pela Fazenda Pública. Vamos, assim, estudar primeiro o sistema
constitucional de precatórios para, depois, analisar os ritos processuais da execução contra a
Fazenda.
IMPORTANTE: note que o sistema de precatórios é a regra, mas há uma exceção estabelecida
na própria Constituição: a chamada requisição de pequeno valor, que será estudada mais
adiante.
Mas atenção: é importante lembrar também que o STF já fez o raciocínio inverso, qual
seja, aplicar o sistema de precatórios para pessoa jurídica de direito privado. Trata-se do caso
da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - EBCT, empresa pública prestadora de serviço
público em regime de monopólio/não-concorrencial. Veja-se a decisão no RE 220.906-
“À empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, pessoa jurídica equiparada à
Fazenda Pública, é aplicável o privilégio da impenhorabilidade de seus bens, rendas
e serviços. Recepção do art. 12 do DL 509/1969 e não incidência da restrição contida
no art. 173, § 1º, da CF, que submete a empresa pública, a sociedade de economia
mista e outras entidades que explorem atividade econômica ao regime próprio das
empresas privadas, inclusive quanto às obrigações trabalhistas e tributárias.
Empresa pública que não exerce atividade econômica e presta serviço público da
competência da União Federal e por ela mantido. Execução. Observância ao regime
de precatório, sob pena de vulneração do disposto no art. 100 da CF” (RE 220.906-
DF, rel. min. Maurício Corrêa)
Exceção 1: Conselho Profissional não se sujeita a precatório, pois possui orçamento próprio (STF, RE
938.837-SP – Informativo 861)
Exceção 2: a OAB, apesar de ser um conselho profissional, não se sujeita ao regime de precatórios,
além do fundamento acima, pelo fato de que, para o STF, ela é uma entidade sui generis (ADI 1707-DF).
Exceção 3: Empresa Pública prestadora de serviço público deve observar o regime de precatórios,
mesmo sendo pessoa jurídica de direito privado (RE 220.906-DF). O mesmo vale para as sociedades de
economia mista, desde que sejam prestadoras de serviço público próprio do Estado e de natureza não
concorrencial (ADPF 387).
O procedimento do precatório é simples: com a condenação judicial da Fazenda, o
Presidente do Tribunal respectivo (TJ ou TRF) expede a ordem de precatório ao Poder
Executivo, que deverá incluí-lo no orçamento financeiro para efetivar o pagamento.
IMPORTANTE: o §7º do art. 100 estabelece que o Presidente do Tribunal competente que, por
ato comissivo ou omissivo, retardar ou tentar frustrar a liquidação regular de precatórios
incorrerá em crime de responsabilidade e responderá, também, perante o Conselho Nacional
de Justiça.
Na Lei Orçamentária Anual de cada ente consta uma dotação para pagamento de
precatórios, onde há uma lista com cada um dos créditos organizados segundo a ordem
constitucional de pagamento.
IMPORTANTE: durante esse período que a Constituição confere à Fazenda Pública para o
pagamento do precatório, não haverá a incidência de juros de mora, pois não há mora.
Explica-se: se a Constituição estabelece que o precatório deverá ser pago até o exercício
financeiro seguinte, caso o pagamento seja feito neste prazo, não haverá mora e, por
conseguinte, os juros moratórios. Nesse sentido, o STF editou a Súmula Vinculante nº 17:
Débitos de natureza alimentícia, segundo o art. 100, §1º, são aqueles que
decorrem de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas
complementações, benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por
invalidez, fundadas em responsabilidade civil.
Oportuno esclarecer que é vedado o fracionamento de precatórios, ou seja, não se pode pegar
um valor e dividir em vários precatórios.
Busca-se com isso impedir que o credor fracione o valor para receber mais rápido, por meio de
várias requisições de pequeno valor (RPV). Exemplo: o particular tem um crédito de 100 mil
reais, mas pede para expedir 5 RPV de 20 mil reais para, com isso, se esquivar do sistema de
precatórios.
Art. 100 [...] § 20. Caso haja precatório com valor superior a 15% (quinze
por cento) do montante dos precatórios apresentados nos termos do § 5º
deste artigo, 15% (quinze por cento) do valor deste precatório serão pagos
até o final do exercício seguinte e o restante em parcelas iguais nos cinco
exercícios subsequentes, acrescidas de juros de mora e correção monetária,
ou mediante acordos diretos, perante Juízos Auxiliares de Conciliação de
Precatórios, com redução máxima de 40% (quarenta por cento) do valor do
crédito atualizado, desde que em relação ao crédito não penda recurso ou
defesa judicial e que sejam observados os requisitos definidos na
regulamentação editada pelo ente federado.
# E se em uma ação judicial o juiz condenar a Fazenda a pagar 10 mil reais de indenização
mais honorários advocatícios, haverá um único precatório ou o advogado receberá
separadamente, já que os honorários possuem natureza alimentar?
R: Lembre-se, em primeiro lugar, que o art. 85, §3º, do NCPC estabelece a forma pela qual a
Fazenda Pública paga os honorários advocatícios quando sucumbente. Visto isso, vamos à
resposta: tanto o STF quanto o STJ entendem que o advogado poderá recebeber
separadamente, inclusive por meio da requisição de pequeno valor, quando possível. Assim,
segundo a jurisprudência dos Tribunais Superiores, é possível o fracionamento de precatório
para pagamento de honorários advocatícios. Nesse sentido, o STF editou a Súmula Vinculante
nº 47:
Súmula Vinculante nº 47 “Os honorários advocatícios incluídos na condenação ou
destacados do montante principal devido ao credor consubstanciam verba de
natureza alimentar cuja satisfação ocorrerá com a expedição de precatório ou
requisição de pequeno valor, observada ordem especial restrita aos créditos dessa
natureza”.
Cumpre ressaltar, ainda, que por constituir considerável parcela das despesas públicas,
o sistema de precatórios tem sido alvo de diversas emendas constitucionais que, em sua
grande maioria, buscam dilatar os prazos e tornar mais dificultoso o seu pagamento. Exemplo
disso é a EC 62/09 que, não por outro motivo, foi apelidada de “PEC do calote”.
Visto isso, agora iremos tratar da exceção ao sistema de precatórios que é a chamada
requisição de pequeno valor, consagrada no art. 100, §3º:
Art. 100 [..] § 3º O disposto no caput deste artigo relativamente à expedição de
precatórios não se aplica aos pagamentos de obrigações definidas em leis como de
pequeno valor que as Fazendas referidas devam fazer em virtude de sentença
judicial transitada em julgado.
Ressalte-se que cada ente poderá editar lei fixando o valor das condenações a serem
pagas por meio da requisição de pequeno valor.
Basicamente, na RPV, o juiz, após o transito em julgado da sentença condenatória,
expede RPV para que a Fazenda efetue o pagamento no prazo legal. A Lei 12.153/09, que criou
os juizados fazendários, estabelece um prazo de 60 dias para o cumprimento da requisição:
Art. 13. Tratando-se de obrigação de pagar quantia certa, após o trânsito em
julgado da decisão, o pagamento será efetuado:
Quanto ao valor da requisição, o art. 87 dos ADCT estabelece uma regra de transição
aplicável enquanto não forem editadas as leis próprias dos entes federativos:
Art. 87. Para efeito do que dispõem o § 3º do art. 100 da Constituição Federal e o art.
78 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias serão considerados de
pequeno valor, até que se dê a publicação oficial das respectivas leis definidoras
pelos entes da Federação, observado o disposto no § 4º do art. 100 da Constituição
Federal, os débitos ou obrigações consignados em precatório judiciário, que tenham
valor igual ou inferior a: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 37, de 2002)
1- o credor pode renunciar ao valor excedente ao limite fixado em lei para receber pelo na
forma da requisição de pequeno valor;
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
Importante ressaltar que a Fazenda é intimada para impugnar, e não para pagar, pois
ela está sujeita ao sistema de precatórios, previsto na Constituição. Em razão disso, a lei
afastou expressamente a multa prevista no art. 523, §1º, para a Fazenda, a qual se aplica
quando o executado não paga voluntariamente quando intimado do cumprimento de
sentença:
Art. 534 [...] § 2o A multa prevista no § 1o do art. 523 não se aplica à Fazenda Pública.
Após analisar a impugnação, caso o juiz venha a rejeitá-la ou mesmo caso não haja
impugnação, o cumprimento de sentença prosseguirá com a expedição do precatório pelo
Presidente do Tribunal respectivo, para inclusão no orçamento. A partir daí, o rito é aquele
previsto para os precatórios.
No caso de impugnação parcial pela Fazenda (Ex: excesso de execução), a parte não
questionada será desde logo objeto de cumprimento. Uma vez que haja o trânsito em julgado
da impugnação, haverá a expedição de precatório ou RPV.
Honorários Advocatícios nas Execuções contra a Fazenda:
No processo COLETIVO, importante destacar a Súmula 345 do STJ:
A lógica é que nessas execuções individuais é preciso que cada indivíduo lesado
demonstre a existência do direito, bem como a sua extensão. Assim, a pessoa não vai
meramente promover uma execução, devendo antes liquidar o valor que lhe é devido.
De acordo com alguns autores (Dinamarco), essa liquidação é chamada de “complexa”,
pois é preciso que o lesado demonstre não apenas a extensão do seu direito, mas também a
sua existência. É praticamente uma ação de conhecimento.
Lei nº 9494/97. Art. 1º-D. Não serão devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas
execuções não embargadas.
ATENÇÃO! Na chamada “execução invertida”, ainda que se trate de RPV, NÃO haverá
condenação da fazenda pública ao pagamento de honorários! O julgado é recente (junho de
2015) e foi tratado no Informativo 563 do STJ.
Sobre o tema, importante mencionar ainda o art. art. 85, §7º do CPC/15:
o
§ 7 Não serão devidos honorários no cumprimento de sentença contra a Fazenda
Pública que enseje expedição de precatório, desde que não tenha sido impugnada.
Atente-se ainda para o §3º do mesmo artigo, que traz um escalonamento dos valores de
honorários nas causas em que a fazenda pública for parte, havendo uma divisão em 5 faixas:
o
§ 3 Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos honorários
o
observará os critérios estabelecidos nos incisos I a IV do § 2 e os seguintes
percentuais:
I - mínimo de dez e máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação ou do
proveito econômico obtido até 200 (duzentos) salários-mínimos;
II - mínimo de oito e máximo de dez por cento sobre o valor da condenação ou do
proveito econômico obtido acima de 200 (duzentos) salários-mínimos até 2.000 (dois
mil) salários-mínimos;
III - mínimo de cinco e máximo de oito por cento sobre o valor da condenação ou do
proveito econômico obtido acima de 2.000 (dois mil) salários-mínimos até 20.000
(vinte mil) salários-mínimos;
IV - mínimo de três e máximo de cinco por cento sobre o valor da condenação ou do
proveito econômico obtido acima de 20.000 (vinte mil) salários-mínimos até 100.000
(cem mil) salários-mínimos;
V - mínimo de um e máximo de três por cento sobre o valor da condenação ou do
proveito econômico obtido acima de 100.000 (cem mil) salários-mínimos.
Perceba que não vale mais a regra da apreciação equitativa pelo juiz (que era prevista
no CPC/73), havendo agora patamares objetivos para a aferição dos honorários a serem
fixados contra a fazenda pública.
A apreciação equitativa só poderá ser utilizada pelo juiz quando for inestimável ou
irrisório o proveito econômico, bem como quando o valor da causa for muito baixo (art. 85,
§8º).
OBSERVAÇÕES:
O procedimento para essa execução está previsto de forma sucinta no art. 910 e
seguintes do NCPC. Oportuno destacar que, diferentemente do cumprimento de sentença, a
execução de título extrajudicial ocorre em processo autônomo de execução, e não como
simples fase procedimental nos próprios autos.
IMPORTANTE: há exceção: a sentença arbitral é um título judicial (art. 515, VII) executado em
processo autônomo, cujo rito segue o de cumprimento de sentença (art. 515, parágrafo único).
O mesmo vale para sentenças ou decisões estrangeiras.
Diz o art. 910 que, uma vez proposta a execução, a Fazenda será citada para,
querendo, opor embargos à execução, no prazo de 30 dias.
Art. 910. Na execução fundada em título extrajudicial, a Fazenda Pública será citada
para opor embargos em 30 (trinta) dias.
Nos embargos, a Fazenda Pública poderá “alegar qualquer matéria que lhe seria lícito
deduzir como defesa no processo de conhecimento”. Essas matérias constam no art. 337 do
NCPC.