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René Pollesch - Cidade Roubada PDF
René Pollesch - Cidade Roubada PDF
CIDADE ROUBADA1
SEGUNDO SPACELAB
All rights whatsoever in this play and the translation are strictly
reserved and application for permission for any use whatsoever, including
performance rights, must be made in advance, prior to any such proposed
use, to theater@rowohlt.de Rowohlt Theater Verlag, Hamburgerstr. 17,
21465 Reinbek, Germany. No performance may be given unless a licence has
first been obtained.
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(N.T) O título original Stadt als Beute traduzido ao pé da letra seria Cidade como despojo ( ou caça, presa,
pilhagem, vítima, etc.). Sugeri Cidade despida por considerar que de alguma forma ele se enquadra nesse
conceito. Mas é apenas uma sugestão. Ao longo do texto a palavra Beute aparece inúmeras vezes e eu a
traduzi ora por despojo, ora por presa, ora por caça
A: Astrid Meyerfeld, B: Bernard Schütz, F: Fabian Hinrichs, P: Phillipp Hochmair
B: Isso, exato, Angela Davis. Especule com o seu corpo, porque essa é a única
empresa que arca com os seus riscos.
B: Favelas desconcentradas.
A: É, sou tão DESCONCENTRADA! Angela Davis não vive mais aqui! Porque aqui
não é mais vinculado ao lugar.
F: Ou putas negras?
A: Não faço idéia do que é isso aqui, esse despojo em que vivo. Que BURACO É
ESSE EM QUE VIVO! ESSE AQUI! Aí está essa cidade, e ela é o despojo, e de
repente o marketing local é transmitido a organismos humanos.
P: MERDA!
A: Eu só quero falar dos homens dos filmes pornôs! Não quero falar dos homens
em “crise”, que estão nas áreas altamente tecnológicas em que trabalham, um
tipo de medalha de valentia. Quero falar dos homens nos pornôs e coisas assim.
Quero só falar dos homens como prostitutas. Assim como isso aqui!
F: A cidade é despojo.
B: Eu vou passear e aí percebo que essa estação de merda lá fora ainda não foi
ativada como imóvel. E de repente o novo uso de aterros excedentes da cidade e
sua ativação como imóveis é aplicado nos organismos humanos. EM MIM! OU
EM VOCÊ! Essa puta aqui está desenvolvendo um perfil empreendedor. Como
esse empreendimento de prestação de serviços ali fora. E aí você regula sua vida
precária e vive por exemplo ilegalmente nesse município e como bordel sem
registro. E A MERDA! Você vive nesse gás só como bordel sem registro. Aí essa
tecnologia líquida de poder em você é CAÇA, você ativa marketing em você e
libera poderosas áreas de venda. Aí tem lugares, e esses são regulados de
maneira restritiva, sendo acessíveis ou não para você. ESSE LUGAR AQUI por
exemplo! Ou esse lugar lá fora. Essa CIDADE NÃO É ACESSÍVEL PARA
QUALQUER UM. O seu passeio é regulado por mercados desregulados. Você só
anda lá fora PELA ADMINISTRAÇÃO DA CIDADE! E de qualquer jeito você só
passeia pela administração. Seu passeio é ADMINISTRAÇÃO! Você anda pela
cidade e o seu passeio é regulado pelo consumo, café com leite e design de
arquitetura que você pode ver ou DISCUTIR.
P: Angela Davis de alguma maneira não está domiciliada, e nessa cidade aqui
está se levando uma guerra contra as drogas ou contra os SEM-DOMICÍLIO!
B: Mas essa merda aqui não é Manhattan e eu não sou americano. TAÍ UMA
COISA QUE EU NÃO SOU! Talvez eu seja um índio ou Angela Davis ou
Winnetou. Mas americano, não!
B: BOSTA!
F: Não. NÃO! Aqui não tem negros morando nessa casa inteligente.
B: MERDA!
B: Mas a Sony também não tem domicílio aqui. A Sony tem domicílio na Índia ou
no Afeganistão ou na Líbia. Esse edifício da Sony NA VERDADE NEM ESTÁ DE
PÉ!
F: Esse banco é a divindade mental viajante que desce para o mundo do tempo e
espaço.
A: É isso mesmo. Como um dos arquitetos. Ele também era de Chicago. Ele tinha
estuprado várias mulheres e essas experiências influenciaram a estrutura da
Piazza.
A: Ele tinha estuprado uma empregada, rodou um filme pornô com ela sem
câmara e voltou ao local de trabalho por um buraco de verme da teoria
Superstring ou hiperlink. Não havia espaço maior que ele tivesse que atravessar
ou cruzar e ele queria um espaço, queria criar um para Daimler, assim veio a
idéia da Piazza.
A: É, mas isso para mim não vai dar. Esse espaço público foi abandonado ou
rifado por causa da criminalidade, da Sony e Daimler. Acontece que eu morro de
MEDO! Perdi a confiança na capacidade do Estado de lidar com os problemas e
com esses CRIMINOSOS DA SONY E DAIMLER!
B: Esse Estado em que vivo simplesmente não sabe LIDAR com os criminosos!
F: Não. NÃO!
Clip
P: Você vive nessa casa tecnológica que a gente chama de inteligente ou casa
inteligente.
B: É, fico lá.
A: Essa casa tecno sem maçaneta onde tudo se abre e se fecha e se encomenda
e se compra por si...
A: É, EXATO! E você anda por essa casa e tudo se abre e se fecha e essa casa
coloca discos que de alguma maneira combinam muito bem com seu estilo de
vida...
A: Geladeira Electrolux!
B: A puta entra pela entrada de serviço análoga, depois de ter encontrado ela na
favela digital dela.
P: É, EXATO!
P: É, eu SEI!
P: CALA A BOCA!
A: Todos que entram por essa entrada dos fundos interativa eu trato como puta!
A: Aí têm todos esses puteiros não registrados na sua casa, e eles atendem em
domicílio.
P: É, eu SEI!
F: E essa merda!
P: Marketing no local.
A: Ali estão todos aqueles aterros excedentes nesse município e mobilizam a sua
subjetividade.
P: Esse empreendimento que toda hora é semeado em mim me sugere que devo
mobilizar a minha subjetividade. Eu sempre ouço anunciar dentro de mim para
onde devo ir, que tenho de cuidar da minha bagagem e mobilizar a minha
subjetividade, mas que MERDA!
P: Eu não sei o que sou ou que tipo de empreendimento é esse. ESTE AQUI!
P: E você vende seu corpo aqui nessa fábrica sem corpo. Você vende MERDA
AQUI NESSA FÁBRICA SEM CORPO!
B: Nesse município.
B: Basta você dizer: ESTOU NUM HUMOR DE MERDA e aí a casa toca o Richard
Claydermann inteiro. E aí meu humor simplesmente MELHORA! Simplesmente
melhora com a música de merda.
Clip
A: Voce vive nessa casa inteligente e ali tem móveis e coisas pensantes.
P: Essa casa inteligente pensa que é uma casa, mas aqui a gente só vive as
condições do mundo das mercadorias.
B: Uma das coisas mais inteligentes da casa é o aparelho de leitura ID. Ele lê um
cartão que está programado para qualquer pessoa possível na casa. E quando ele
ou ela introduz seu cartão, o computador sabe quem está em casa e configura a
casa segundo as necessidades da pessoa.
A: Mas aí tem aquele puteiro sem registro deitado na sua cama e faz o serviço de
casa.
A: Seu imóvel.
F: Tem putas e traficantes deitados na sua cama e a sua casa quer expulsá-los.
ESSA AQUI!
F: Merda!
B: Essa casa expulsa todos os convidados que você paga para lhe fazer
companhia.
B: Você leva uma vida de foda excluída, seu despojo de merda! Vocé é despojo
como a cidade!
P: É, eu sou despojo!
P: Você é despojo.
F: Luta de casas.
P: A cidade se comercializa com ofertas individuais feitas sob medida para você.
A: Para isso me falta uma disposição não-normativa. Afinal, aqui existem aqueles
softwares da Panasonic ou Microsoft. Custou uma fortuna, e eu não quero que
apanhe um vírus qualquer só porque aqui tem alguém que NÃO SE SENTE
COMPROMETIDO eticamente com a lei ou com o software! Essa casa aqui é uma
casa inteligente, E AQUI NINGUÉM VIVE NA CLANDESTINIDADE!
A: ... em casa pela plumbífera tecnologia do poder. Nessa confusão aqui. Aí não
tem só responsabilidade própria...
Clip
A: Eu só amo a puta que você é, e nada além disso. Nada em você eu amo tanto
quanto a comunicação mobilizada e criativa sobre a sua vida mentida para a
empresa que é você, vida que você nem possui, porque você não vive, mas só
vende o seu corpo... você nem sabe viver. Mas eu amo essa CRIATIVIDADE NA
SUA INVENÇÃO DA VIDA, PORQUE ELA NÃO EXISTE! Aí só tem speed e essa
vida, que você comunica estimulado pela empresa que você é. Não tem mais vida
autônoma aí, tem é essa merda, que o seu empreendimento estimula a
comunicar.
P: Sim, me chame de puta quando só estou tentando viver uma vida qualquer.
Você também não quer ter a sensação de só ficar deitado por aí nesse DESPOJO
com alguém que só sabe foder e que só faz isso. Você quer que eu tenha uma
VIDA ou uma BOSTA dessas! Ou uma profissão ou coisa assim, então eu vou
dizer a você, eu seria escultor ou paisagista ou quem sabe vou querer abrir uma
butique em Wuppertal, sei lá o que, é o que EU CONTO A VOCÊ! ESSA MERDA!
B: Aqui a gente comunica gás e essa agradável conversa comercial não consegue
resolver de modo algum por que eu AMO VOCÊ TANTO ASSIM! SUA PORCA
IMUNDA!
A: E agora não vai enumerar de novo todo as posições do sujeito cidadão, seu
empreendimento pós-fordístico! Essas profissões de merda que você sempre fica
falando e que você pretensamente tem, que nem existem. Essa vida imaginária!
A: CALA A BOCA!
B: Traficante.
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Domain Name System (DNS)
F: Você fica zanzando pela casa inteligente e esse não é seu corpo, é um
empreendimento.
B: E todos aqui não amam o seu corpo, só a empresa de merda que é você!
P: É sim, EU SEI!
A: E você vende isso aqui, seu grande amor, e aí você ainda pode falar o quanto
quiser que este não é seu grande amor, VOCÊ AMA ESSA MERDA AÍ.
B: Estou vendo isso na empresa que é você, quando você joga essa puta aí para
fora da cama, quando exijo de você os meus direitos, de você DESPOJO! Que eu
quero ser fodido de uma vez, mas mesmo assim continua sendo seu grande amor
-- você trata ele tão mal como a mim. Não, pior ainda. Você trata o que você ama
pior do que a mim, SEU PEDAÇO DE MERDA!
P: Tá, está bem, para você ver o quanto eu sinto, do ponto de vista estritamente
do marketing. Eu vendo a você o que eu amo, essa merda aqui.
P: Eu já fui atrás da autotecnologia, que você é, e qual é a técnica com que você
organiza as mudanças sociais... mas... agora perdi a curiosidade no meio de todo
esse gás das empresas aqui. Perdi toda curiosidade por sua TECNOLOGIA!
B: Talvez eu nem possa mais olhar para os displays sociais, que não se vendem!
F: Eu quero amar o despojo, seu pedaço de merda. É isso que eu quero, eu quero
seu olhar comprável e seus braços compráveis, se não consigo sentir nada, seu
pedaço de merda. E se, de repente, você coloca esse braço em volta de mim,
porque estou comprando mais, também aquilo que você ama, aquilo que você me
vendeu hoje aqui, você me vendeu o que você ama, essa BICHINHA!
A: Talvez eu ame tudo o que dá para comprar, você, o seu amor e o despojo aqui
ao meu redor. Talvez eu ame a economia simbólica e os símbolos que geram
valores ao meu redor. Talvez EU AME ISSO! E aí isso aqui é uma economia de
símbolos, do amor simbólico. Mas de alguma maneira é MELHOR DO QUE
NADA!
A: Então vou estourar sua conta de e-mail. Não, eu não vou fazer isso. Eu prefiro
NÃO SABER COMO VOCÊ VIVE! Não, não quero. MERDA, ME FALA VAI! Não,
prefiro consumir o que você me vende.
Clip
F: Mas a gente não trepa aqui sem envolvimento vital e por isso...
P: MERDA!
F: Entradas para ópera, que regulam o seu passeio pela administração da cidade!
B: Nessa ópera da heroína só tem árias em que ficam se picando. A ária mais
longa dura nove minutos, e é só picada. E depois tem uma de três minutos que
também é pura picada.
A: Merda! AAAHHH!
A: Mas essa ópera de heroína foi levada de carroça para a periferia do despojo da
cidade.
P: E depois...
B: Mas ali não tem. Os problemas da ópera ou problemas das óperas de heroína
são trabalhados com uma política de segurança interna. E aí não tem árias de
picada e essas coisas.
B: Nessa ópera da heroína tem árias que são só de picada. E durante a abertura
as pessoas da orquestra ficam se picando. Nessa ópera só se picam. MALDITA
MERDA! Todos se picam debaixo do nariz do regente. Também tem uma ária de
B: Não, não é não. Eles trepam, se picam debaixo do nariz do regente. De algum
jeito a coisa tem alguma ordem. Eles não se picam segundo a teoria do caos. Tem
alguma coisa a ver com ordem.
P: Tinha polícia?
P: Não, no público.
B: Não, nem no público nem entre os cantores. É uma ópera de heroína. Não dos
“home”.
P: Mas onde tem fumo, tem polícia. Onde tem eu, tem polícia.
B: NÃO AQUI!
B: O quê?
B: Não tem nada para ouvir. Só tem árias que se pode assistir.
B: É o quê?
F: Cinema.
B: Heroína. HEROÍNA!
B: Viciados! VICIADOS!
P: E do lado B?
B: Não tem essa ópera em disco. Você pode tocar sem as agulhas.
P: Tá, tá, você foi numa ópera da heroína. O que você esperava?
B: Certamente não eram PICADAS por três horas e meia! AO MENOS ISSO
NÃO!!!! Não era isso que eu QUERIA VER!
B: Eu pensei que fossem cantar. Que estivessem nas posições subjetivas civis e
cantassem. As árias. E eu pensei que as árias estivessem sentadas em posições
e perspectivas de ordem e segurança e que cantassem lá do alto. Eu queria ouvir
música. Ou a polícia. Não sei mais O QUE EXATAMENTE!
B: É, tá certo, eles poderiam ter feito isso. Mas eles não estavam interessados.
Não estavam nem um pouco interessados em cantar enquanto se picavam..
P: Mas tem cantores de ópera que estão interessados. Eles se picam e cantam.
B: É, tá certo, mas talvez eles cantem Verdi ou fulano ou Meyerbeer, mas NÃO SE
PICAM EM NENHUMA ÓPERA DE HEROÍNA!
B: Não, NÃO!
B: SE PICOU!
F: O quê?
A: Que coisa?
B; HEROÍNA!
F: Just do it!
Clip
P: Eu me explico alguma coisa, mas eu não fico mais muito mobilizado com isso.
Ao menos eu não sinto isso como MOBILIZAÇÃO!
B: Aqui todos inventam um trabalho para si antes até de inventar uma vida.
A: Just do it!
F: AMOR IDIOTA!
P: E eu bem que gostaria de saber ainda como é estar apaixonado por você!
Como há três minutos atrás. Eu bem que gostaria de saber ainda, seu
EMPREENDIMENTO DE MERDA!
F: Eu vejo a sua bela boca ali na cama e você, e a outra puta que é o seu grande
amor...
F: E eu falei que é para você me foder e estou vendo que você está se lembrando
do dia que largou o seu grande amor e me fez sinal de que agora ia rolar a
trepada. SEU SAQUE DE MERDA! EU AMO VOCÊ. VOCÊ AGE COMO NUM
EMPREENDIMENTO DE TANTO AMOR POR MIM!
A: SEU FÚTIL.
P: E eles ficam surfando por aí! A sua esfera social, essa casa tecnológica sem
maçanetas é tematizada a partir da perspectiva do controle e da interação com o
sua empresa prestadora de serviço.
A: E o seu display social ou SUA BELA FUÇA, EU NÃO SEI MAIS EXATAMENTE
O QUE É!, é só uma empresa interativa de prestação de serviços.
F: Traficante de merda!
A: Eles não contaram com o fato de serem rodados pornôs aqui nesse lar
descocainado.
P: E que você tem de segurar em algum lugar quando trepa! Em alguma alça ou
na VIDA!
A: E toda hora essa casa ou esse software fica bichado com um vírus por causa
das nossas atividades diárias não convencionais.
Clip
B: Eu quero ver na minha casa a minha posição na economia global e por isso é
que eu tenho de consumir todos esses símbolos. Esse aqui. E você e você!
F: CALA A BOCA!
A: Está certo, e por quê, POR QUÊ? Não fique aí olhando a minha casa!
P: Fico sim. Mudaram tantos artistas para cá e aí a gente achou que alguma coisa
DEVE TER!
A: Não, NÃO!
B: Onde é que os yuppies COMEM? Nesse parque hype? Onde é que eles vão
comer aqui? Afinal, os laptops têm de comer!
P: Yuppies precisam comer alguma coisa e a comida tem de ter boa aparência.
A: A comida aqui tem cara de merda. Eu não quero que os yuppies comam aqui.
Eles ficam forçando a indústria da aventura aqui em casa, esses PORCOS
FODIDOS!
A: Mas eu não quero que alguma coisa seja consumida aqui. MINHA CASA NÃO
É UMA AVENTURA!
P: Nessa cidade simplesmente não se produz mais nada e o fator consumo e lazer
EM CASA tem efeito de entretenimento adicional. E de alguma maneira isso é
importante para as esperanças eufóricas da administração da cidade, no que diz
respeito à cobrança adicional de impostos.
A: Pára de ficar jogando esses fogos de artifício por aí. Pára com as bombinhas!
Eu não entendi a última palavra. Parecia administração da cidade.
A: É, bem, por mim ela pode viver essa aventura, essa gangue de yuppies, que
divide a cidade entre si, mas AQUI em casa não! Meu deus! Agora todas essas
pessoas que nem são daqui vivem e comem aqui...minha casa fica nesse
quarteirão DE MERDA!, não é uma concorrência de outdoors para todos esses
parques temáticos da cidade! É claro que me refiro à concorrência indoor,
MERDA, minha casa não é outdoor, ela é dentro. Minha casa é aqui DENTRO! –
isso foi um equívoco, porque toda hora se fala em casa sem fronteiras!!! – E isso
você não ASSISTE!
A: É bem, mas não para VOCÊ! MERDA! Toda essa merda que está jogada por
aqui, isso é a minha vida particular! Isso já significou alguma coisa. Todas essas
mentiras e segredos entre as pessoas. Nào, todas AS MENTIRAS ENTRE DUAS
PESSOAS! ISSO JÁ SIGNIFICOU ALGUMA COISA UM DIA! TODAS AS
MENTIRAS! TINHA UMA COISA, NÃO?A VERDADE NA VERDADE NUNCA
A: Não me ameace com perseguição! Eu não caio fora. É confortável mas não tô
fora.
P: Cai sim.
P: Some sim.
A: Cala a boca!
Clip
B: Estávamos no cinema.
P: CALA A BOCA!
B: O quê?
F: Se você quiser em 180, custa dez, MAS O QUE É QUE EU FICO FALANDO O
DIA INTEIRO! EU NÃO AGÜENTO!
P: SUJEITO DA COMUNICAÇÃO!
B: O único problema dos artistas dessa indústria pornográfica é que todos saem
em debandada do cinema, enquanto o produto ou a obra de arte ainda está sendo
exibida. E parece que Burt Reynolds sente a maior saudade de todos sentados
depois de “terem vindo”, porque o filme é tão emocionante e artístico. Mas quem é
que ainda quer que essa merda seja artística? Ainda bem que nesse “boogie
nights” eles nunca conseguem, e isso faz com que o filme seja tão incomum e
uma MENTIRA! Mas o Deutsche Bank e esses aí querem que a merda também
seja artística, e DE ALGUMA FORMA eles até que conseguem isso! Mas Burt
Reynolds não consegue transformar seu filme pornô em arte. Mas isso é tão legal
que no filme eles ficam falando um com o outro de maneira tão pouco artística.
Mas eles também não podem ir ao banco e dizer: “Eu sou o pedaço de carne mais
tesudo desse continente e eu quero um crédito”. Eles simplesmente não
conseguem.
B: Cada um fode o próprio cérebro aqui nessa casa, nesse lugar, e é isso; mas
meu sonho é fazer um filme que seja artístico, emocionante, honesto, e um pornô.
A: É, faz aí, mas sem mim. Eu não quero que a foda ainda por cima fique
EMOCIONANTE! E ARTÍSTICA, então, muito menos ainda. Essa merda, essa
dureza social aqui... AGORA SÉRIO! Não quero que seja EMOCIONANTE! Não
vou fazer aqui a porra do trabalho a prestação de serviço escravo enquanto você
se ocupa COM ARTE, seu pedaço de merda. Não quero a merda ARTÍSTICA! E
é, está certo, mas como é que eu vou para casa depois de rodar esse filme pornô?
As vias de trânsito até a minha casa na periferia são muito precárias e além do
que estão inacabadas.
A: Mas o seu corpo é um aterro excedente e será agora ativado como estrela
pornô.
P: É, eu SEI!
F: Mas são só filmes pornôs, mamãe; vou atuar nos filmes pornôs, não naquela
merda da televisão e essa coisa; eu vou foder de verdade.
A: Sei. Bom, então se você quer virar fodedor eu concordo. Então tá.
F: Imagina só, mamãe, e eu ainda ganhando dinheiro fodendo, e coisa desse tipo.
P: Tá, está bem meu filho, eu espero que você saiba fazer isso bem e que sejam
filmes heterossexuais.
B: Agora falando sério: VOCÊ NÃO PODE CONSTRUIR TODO O SEU FUTURO
EM CIMA DISSO!
F: Claro que são filmes heterossexuais, e eu lá vou me deixar foder? Isso não é
FUTURO! Ser fodido. Deixar foder a gente. É claro que sou eu quem fodo. Eu
ganho dinheiro fazendo a coisa que mais sei e que mais gosto de fazer.
A: Tá regulando bem?
Clip
P: Essa foda aqui é DUREZA SOCIAL! Tá certo, vai ser num pornô e a merda
será filmada. Mas eu nem consigo mais distinguir: é o Deustche Bank que está me
fodendo ou um apresentador pornô qualquer nessa coisa aqui! E eu não quero
essa merda ARTÍSTICA! Mas mesmo assim essa foda É DUREZA SOCIAL! Estou
vendo isso e ... espera aí... onde é que estão as maçanetas para eu me segurar!
Essa casa sem maçanetas, eu nem posso me segurar quando “sou penetrado”.
B: É, bem, você é fodido pelo Deutsche Bank, e isso com certeza é um filme
pornô, mas você NÃO É FODIDO NO DEUTSCHE BANK! Só virtualmente! Porque
essa merda de banco circula globalmente pelo mundo!
A: É que o banco quer ser um banco artístico. Isso é tão NORMAL! Mas eu quero
o banco, e como me fode não artisticamente! Não quero olhar para arte plástica
enquanto sou comida pelo Deutsche Bank.
B: É, está sim.
A: Eu não sei, eu levei uma bolada de golfe na cabeça ou no olho nessa ópera.
Esses porcos ricos ficavam jogando golfe na ópera, enquanto cantavam lá na
frente. E aí fiquei cega e histérica. E ninguém escutava o que cantavam lá na
frente. SÓ FICAVAM JOGAND GOLFE!
A: NÃO ME DIGA!
A: Eu não conseguia ver nada mas é óbvio que eu gritei o tempo todo. Me orientei
assim. Eu gritava e sabia onde estava.
A: Sim Gritei.
P: Por quê?
P: É O QUE EU FAÇO!
B: Talvez fosse num lugar aberto. Talvez fosse um lugar assim. E só parecia ser o
som de ópera.
A: NÃO, EU ESTAVA NUMA ÓPERA. Não era uma praça. ERA A ÓPERA!
F: Estavam chapados?
A: Não, era a partitura que era muito rápida ou o regente estava em speed. Ou
coisa parecida.
P: Você entendeu?
A: Quem?
P: A ópera.
A: Pois é.
A: Não, eu sou uma cantora de ópera. NÃO SOU UM AVIÃO. Sou cantora de
ópera. Estava acabada dos nervos e com medo de voar ou com crise nervosa.
NÃO SEI MAIS EXATAMENTE O QUÊ.
F: Qual ópera?
F: Quem cantou?
A: O Papa.
A: Não?! Carambacarambaaaramba
P: O que foi?
Clip
P:QUEM MAIS?
A: Minha vidinha ou empresa, com qual dos produtores de FODA aqui eu quero
compartilhar?
Clip