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Dicas práticas sobre meditação

Nesta fase chegámos a um ponto em que tendencialmente me comporto um


pouco como acontecia antes de iniciar o curso, isto é, durante o processo de
meditação a minha mente vagueia, os pensamentos não param, o que significa que
ainda tenho muita dificuldade em "domesticar" a minha mente. Sei que devo
considerar isto apenas como sendo a minha experiência e não má meditação, mas
ao que parece, funciono melhor com as meditações guiadas das sessões anteriores
em que basicamente existe algo para nos focalizarmos. Pelo menos, a sensação
que tenho é que foram mais eficazes.

É perfeitamente normal. Neste momento estamos como que a tirar as "rodinhas da bicicleta"
por isso é  normal que  estranhe  ao início.  Essa sensação  faz parte do processo. Com o
tempo verá que não é preciso domesticar a mente, mas simplesmente não lhe prestar
atenção. Imaginar que é como uma televisão ligada mas para a qual decidimos
simplesmente não olhar. Isto porque sempre que damos atenção a um pensamento estamos
a dar-lhe força e realidade. Se simplesmente o ignorarmos ele acaba por se desvanecer.

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Nas dicas práticas da semana 6, a certa altura sugere que não se ultrapassem os
45/60 minutos de meditação. Qual é o inconveniente? É que, apesar de não ter
chegado tão longe, já estive cerca de 45 minutos e, na verdade, quando consigo ter
tempo para tal, apetece-me estar mais tempo em meditação.

Na prática não há problema nenhum de maior. Aqui a questão prende-se com bom senso e
com não ficarmos "viciados" nesta prática (ou em qualquer outra). Da mesma forma que não
é saudável alguém estar 8 horas num ginásio, o mesmo se aplica à meditação (tirando nos
casos dos retiros - e mesmo nesses normalmente não se medita mais que uma hora seguida
sem parar). Há que ter em mente que a meditação é algo que fazemos para depois
voltarmos para o mundo mais "afinados", mais centrados, não algo que fazemos para
fugirmos ou nos afastarmos do mundo. Da mesma forma que uma pessoa que levanta
pesos depois consegue mais facilmente carregar uma botija de gás sem se magoar, também
quem pratica meditação consegue mais facilmente ter uma conversa difícil com alguém sem
se magoar a ele ao outro. :) Se, todavia, por vezes sentir um apelo para meditar mais tempo
também não tem problema algum. Poderá até mesmo experimentar um retiro, que
recomendo vivamente como forma de aprofundar a prática.

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Esta semana a dada altura dei por mim a não pensar em nada (???) e logo depois
de tomada esta consciência voltei aos pensamentos anteriores.

Quando colocamos a nossa experiência em palavras por vezes torna-se algo estranho mas
de facto é possível estarmos presente à nossa mente sem pensamentos, o que nos leva à
conclusão de que somos MUITO maiores do que os "filmes" que nos "passam" na cabeça.
Sugerimos que leia o “Ecos & Brisas” #7, com a metáfora da mente e do céu azul.

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Será que 20 minutos diários de meditação chegam para alcançar este patamar de
bem-estar ou devemos mesmo tentar adoptar mais tempo de meditação para que
possamos ter resultados? 20 minutos por dia vão fazer assim tanta diferença?

Sim, fazem. E as neurociências já têm vários estudos que o mostram. Os resultados são
subtis e, mais uma vez, é um processo, não um destino a que se chegue um dia e já está.
De qualquer forma, poderá sempre ir aumentando o tempo consoante lhe seja confortável e
tenha disponibilidade. Pessoalmente  comecei com 15-20 minutos por dia e agora medito
entre 60 a 90 minutos por dia, todos os dias. Diria, no entanto, que mais importante que o
tempo é a consistência, o fazer todos os dias nem que sejam 5 minutos, para não perder o
hábito.

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Como encontrar esse ponto mais interior de nós, onde nos seguimos seguros?

Esse é um ponto muito pessoal e pessoas diferentes poderão encontrá-lo em sítios


diferentes. Muitas pessoas sentem-se muito confortáveis na zona do coração, simplesmente
repousando a sua a atenção nessa zona. No entanto, isso deve ser feito de uma forma sem
esforço, totalmente relaxada, pois a intenção da prática desta semana é NÃO FAZER NADA,
simplesmente observar, simplesmente SER.

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No dia a dia tenho pensamentos/emoções que sinto não serem meus ou se são ou
não verdadeiros. É normal? Porquê? E o faço com cada um?

Acontecem coisas muito interessantes quando nos começamos a tornar conscientes do


nosso mundo mental. Mais do que uma resposta deixo várias questões para investigação:

- Será que os pensamentos e emoções são nossos? 



- De onde vêm? Para onde vão? 

- Quem sou eu, que os observa ir e vir?


Sugiro simplesmente observar isso com muita curiosidade e abertura, sem apego,
permitindo que tudo seja como é. O que importa é quem os observa, quem os testemunha,
quem decide o que fazer com eles.

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Gostaria posteriormente de assistir aos videos disponibilizados. A senha deles
serão modificada no término do programa? Não posso baixá-los para meu
computador para sempre que quiser assisti-los?

Os vídeos irão ficar disponíveis e manter a senha/password (no limite irá actualizar o ano, ex.
ZBHD2016 em vez de ZBHD2015). De momento não é possível fazer o download mas para
as pessoas que realizem o programa até ao final e preencham as escalas pode ser que
exista uma surpresa. ;)

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Muitas vezes quase adormeço durante a prática, é normal? Estou geralmente muito
cansado quando faço pois durante a semana só consigo fazer à noite, pois me
levanto muito cedo para ir trabalhar.

Sobre o sono, é normal, sim. Talvez faça a uma hora do dia em que esteja cansado, como
refere, pelo que uma opção é procurar fazer a outra hora; outra opção é experimentar com
os olhos ligeiramente abertos, de forma a entrar luz para o cérebro, o que ajuda estar mais
desperto.

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Como fica a questão de planejamento a longo prazo, ter planos para o futuro,
sendo mindful, estando no momento presente? Esses planos são o que mais me
despertam estados de ansiedade e pensamentos negativos, mas de alguma forma
eles precisam ser feitos, não? Como funciona essa equação?

Fazer planos para o futuro não tem nada de mal, pelo contrário. É muito bom usarmos a
nossa mente no presente para desenharmos que futuro queremos atingir. O problema é
quando ficamos reféns desses planos, reféns da mente. Isso já não é útil. Nesse sentido a
minha sugestão é que faça o plano para o futuro com a maior presença possível e que
depois viva o presente até lá chegar. ;)

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Encontro-me neste momento quase 2 semanas atrasadas relativamente ao
programa (consegui 3 dias seguidos da semana 6). Optei por fazer a meditação as
6:30h por perceber que funciona melhor comigo, no entanto nestas últimas
semanas e devido ao trabalho e cansaço acumulado essa meia-hora a mais de
sono faz-me diferença, e basicamente voltei aos 5 minutos iniciais. Mesmo durante
o dia, noto que não me tenho lembrado da prática informal e esta hora só quero é
dormir. Vou retomar o ritmo previsto o mais breve possível e espero que até lá estes
imprevistos não venham a ter alterações significativas nos resultados finais.
Alguma sugestão?

Por vezes é difícil encontrarmos tempo e disposição para fazer as práticas. Ao fim e ao cabo,
andámos dezenas de ano sem meditar e não é de um dia para o outro que os hábitos se
criam. A minha sugestão é que seja gentil consigo própria e que vá fazendo pequenas
práticas (nem que seja um minuto), pois há uma diferença inimaginável entre zero prática e
qualquer prática, por pequena que seja. Procure a outras horas, a meio do dia (ex. no wc),
etc.

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(adaptado de perguntas e respostas trocadas ao longo da última semana)

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Sinto que fico de vez em quando um pouco entorpecido/a. É normal?

Por vezes pode acontecer um torpor não só físico mas também mental. Isso pode resultar
como um subproduto da concentração profunda. À medida que o relaxamento se
aprofunda, os músculos libertam-se e a transmissão nos nervos altera-se. Isto produz um
sentimento de calma e leveza no corpo. No entanto, à medida que continua, o sentimento
agradável intensifica-se e distrai a atenção da prática. Começamos realmente a apreciar
esse estado e o mindfulness desvanece. A atenção torna-se estilhaçada, saltando entre
vagas nuvens de bem-estar. O resultado é um estado pouco mindful, como um torpor de
êxtase. A cura, claro, é o mindfulness. Observe atentamente esses fenómenos e eles
dissipar-se-ão. Quando os sentimentos de bem-estar emergirem aceite-os. Não precisa de
os evitar. Mas não se deixe ficar envolvido neles. Eles são sensações físicas e devem ser
tratados como tal. Observe os sentimentos como sentimentos. Observe o entorpecimento
como entorpecimento. Observe-os a emergir e veja-os passar. Não se deixe envolver.

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Sinto que me esforço demasiado na meditação. O que fazer?

Os meditadores avançados são geralmente pessoas muito joviais. Possuem um  valioso
tesouro humano: o sentido de humor. Podem rir das suas próprias falhas humanas, podem
ter sentido de humor perante desastres pessoais, etc.

As pessoas que começam a meditar são normalmente muito sérias. Riem pouco. 

É importante aprender a libertar-se na sua sessão, de relaxar na sua meditação e aprender a


ir com o fluxo do que quer que emerja. Não pode fazer isso se estiver muito tenso/a, levando
o processo muito a sério. Os novos meditadores estão normalmente sedentos por
resultados. Estão cheios de expectativas enormes e inflacionadas. Saltam para o processo e
esperam resultados incríveis de forma imediata. Ficam tensos. Este estado de tensão é a
antítese do mindfulness. Ao atingirem pouco faz com que pensem que esta meditação não é
tão excitante como queriam. Põem-na de lado. 

Mas apenas aprendemos meditação ao meditar. Apenas aprendemos o que é e para onde
nos leva através da experiência directa por si só. Um  principiante não sabe para onde se
dirige porque desenvolveu pouco sentido de onde a prática o dirige.  A expectativa do
iniciante é inerentemente irrealista e pouco informada. Como um novato à meditação, ele
deve esperar todas as coisas erradas. Tentar demasiado leva a rigidez e infelicidade, à culpa
e à auto-condenação. Quando estamos a tentar muito duramente, o nosso esforço torna-se
mecânico e isso derrota o mindfulness antes sequer de começar.

Deixe cair todas essas expectativas e esforço. Simplesmente medite com um esforço
centrado e equilibrado. Aprecie a meditação e não se carregue com suor e lutas.
Simplesmente seja mindful. A meditação em si irá tomar conta do futuro.

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(adaptado de Mindfulness in Plain English Ven. Henepola Gunaratana)

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