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Perdidos no Espaço no FSM 2003


Prêmio Interferências Urbanas
Arte efêmera no cenário de Santa
Teresa
Julio Castro e Roberta Alencastro
Artista plástico
juliocastrodz9@brfree.com.br

O Prêmio Interferências Urbanas é um projeto de arte pública e efêmera com quatro


edições realizadas no Rio de Janeiro. Com formato de um concurso aberto a artistas
brasileiros ou residentes, na forma de um edital, subsidia propostas para o espaço
público no bairro de Santa Teresa. Para se falar da história desse projeto é
necessário que se aborde uma conjuntura de ações independentes realizadas por
artistas deste bairro do Rio a partir de 1996. Nesse período, os moradores de Santa
Teresa passavam por momentos de grande tensão provocada por conflitos entre
traficantes de drogas e a polícia. O eco dessa situação permaneceu provocando
medo e insegurança nas pessoas impedindo-as de visitarem o bairro. Alguns
moradores passaram então a organizar grupos de discussão para tentar reverter essa
situação quando Clara Arthaud, uma artista do bairro, sugeriu a realização de um
evento em que os artistas abrissem os ateliês para visitação pública. A mensagem
era dupla - abríamos nossas portas para mostrar que não estávamos sitiados ou
apavorados e restabelecíamos um atributo importante de Santa Teresa - a grande
ocupação por artistas. Com o nome Arte de Portas Abertas o evento nos mostrou o
acerto da proposta, atraindo inicialmente centenas de visitantes e espaço positivo na
mídia, resgatando a auto-estima do morador, o carinho pelo bairro e sendo o pontapé
inicial do seu processo de revitalização.

O custo inicial dessa produção foi muito pequeno


pois contávamos com o trabalho voluntário formado
pelas comissões de organização compostas pelos
artistas e moradores integrantes da Organização
Não Governamental Vivasanta que deu suporte
operacional à idéia nas primeiras edições. O papel
dessa ONG foi de fundamental importância pois
possibilitou a construção de uma rede de
comunicação e trabalho entre artistas, moradores,
Instituições e comerciantes preocupados em
transformar essa realidade. Inicialmente a idéia
consistiu na criação de um roteiro com execução de
um mapa impresso com os pontos de visitação
sinalizados e em cada atelier uma bandeira com o
número correspondente ao mapa. Realizaram-se
assim algumas edições contando cada vez com a
adesão de novos artistas.

O que no início era uma ação que envolvia muitas


pessoas nas decisões, passou gradualmente a se
definir como uma equipe de coordenação menor e
mais objetiva. A busca de recursos para melhoria
da produção e para a implantação de novos projetos dentro do projeto tornou-se uma
necessidade; a iniciativa privada foi o caminho que buscamos e a contrapartida que
oferecemos tem sido a veiculação de logomarcas em nossos mapas e mais
recentemente, catálogos. Até então não fizemos uso de lei de incentivo e apenas em
uma edição a Prefeitura do Rio de Janeiro nos patrocinou com uma pequena cota.
Empresas como Br Distribuidora, Furnas Centrais Elétricas e Transurb Transporte
Coletivo têm encabeçado a lista de nossos parceiros.

O sucesso de público estabeleceu o Arte de Portas Abertas no calendário cultural


carioca o que nos possibilitou projetá-lo num âmbito mais abrangente. Entre as várias
ações citamos a viabilização de investimento com restauro e exposição de obras
históricas de Paulo Roberto Leal, artista já falecido, que possui um núcleo que
resguarda sua obra; a homenagem à fotógrafa Regina Alvarez, cuja obra relevante na
área da fotografia experimental, foi também restaurada e exposta; no plano de ensino
e formação, começamos em 1998 o Projeto Jovens Aprendizes que passa
conhecimento prático e teórico em artes plásticas a adolescentes selecionados por
aptidão e interesse nas escolas públicas do bairro, inserindo-os nos ateliês do
circuito. Sempre a cada edição também realizamos debate em torno de temas de
interesse da comunidade artística nos Centros Culturais de Santa Teresa.

O Prêmio Interferências Urbanas surgiu nesse contexto fruto de uma idéia de duas
pessoas envolvidas na produção do Arte de Portas Abertas: um artista - Julio Castro -
e uma produtora - Roberta Alencastro - que foi de criar um concurso aberto aos
artistas para propostas de arte pública em Santa Teresa durante a realização do Arte
de Portas Abertas. Negociamos a liberação do espaço público com a sub-prefeitura
do bairro e criamos um edital no qual nos compremetemos a custear com verba de
execução até 10 projetos selecionados por uma comissão por nós convidada de
artistas e críticos atuantes no circuito das Artes Plásticas Contemporâneas.

A presença de público estimado em 35 mil pessoas circulando em Santa Teresa num


fim de semana foi um fator inegavelmente importante quando idealizamos esse
projeto. Antes de sua realização algumas manifestações espontâneas de artistas
mostrando trabalhos nas ruas do bairro ocorreram, porém o que nós propositores do
Prêmio Interferências Urbanas sentimos seria a falta, nesses trabalhos, de uma
ligação com o fluxo da rua, com o cotidiano das pessoas. Propostas que não fossem
apenas o deslocamento de obras do interior dos ateliers para o espaço urbano.
Com o Prêmio Interferências Urbanas criou-se mecanismos de fomento e apoio ao
artista e sua produção levando em conta suas reais necessidades, o investimento na
produção emergente e à discussão do lugar da Arte. Esse projeto vem de uma
necessidade do próprio bairro de se refazer aliado a uma situação da Arte
Contemporânea em interferir e ocupar o espaço da cidade.

Pretendemos dar continuidade ao projeto que se realiza anualmente no final do mês


de junho com uma expectativa já criada entre artistas e público. Atualmente estamos
nos propondo reavaliar seu direcionamento no sentido da seleção das propostas
procurando reatualizar as questões da ocupação do espaço público.

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