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1 Programa de Saúde do Abstract The authors evaluate the work process and its effect on workers’ health in a cement
Trabalhador, Secretaria
factory in the State of Rio de Janeiro. The interactive methodology consisted of different ap-
de Estado de Saúde.
Rua México 128, 4 o andar, proaches to assessing the workplace through the incorporation of various institutions working
Rio de Janeiro, RJ in the field of Workers’ Health, professionals from different backgrounds, and the trade union,
20031-142, Brasil.
2 Centro de Estudos da Saúde
valorizing the workers’ experience and actively contributing to the surveillance process under
do Trabalhador e Ecologia the Unified National Health System (SUS). Levels of particulate matter and noise were mea-
Humana, Escola Nacional sured. The mean level of free crystalline silica in the particulate matter was 2%, resulting in a
de Saúde Pública,
tolerance limit as specified under Brazilian legislation (NR-15), or 2.0mg/m3. The concentration
Fundação Oswaldo Cruz.
Rua Leopoldo Bulhões 1480, of particles both in samples collected in the workers’ respiratory zone and in area samples varied
Rio de Janeiro, RJ from 3.59 to 52.44mg/m3. Noise varied from 83dB to 110dB. The majority of the values were high-
21040-210, Brasil.
3 Secretaria Municipal de er than the maximum limits set by Brazilian legislation. These results, together with the opin-
Saúde de Volta Redonda. ions expressed by the workers themselves, showed an unhealthy workplace and work process,
Rua 566 31, Volta Redonda, RJ placing the workers’ health at risk.
27091-390, Brasil.
4 Departamento de Key words Ocupational Health; Particles; Cement Industry; Occupational Noise
Físico-Química, Instituto
de Química, Universidade Resumo A avaliação do processo de trabalho sobre a saúde de trabalhadores de uma fábrica de
Federal do Rio de Janeiro.
Centro de Tecnologia, cimento, localizada no Estado do Rio de Janeiro, é relatada. A metodologia interativa utilizada,
Bloco A, sala 408, constou de distintas formas de avaliação do ambiente de trabalho através da incorporação de
Cidade Universitária,
várias instituições, com atribuição na área de Saúde do Trabalhador, de técnicos de diversas for-
Rio de Janeiro, RJ
21949-900, Brasil. mações, do sindicato e da valorização da experiência do trabalhador, contribuindo ativamente
no processo de vigilância do SUS. Os níveis de material particulado e de ruído foram medidos. O
porcentual médio de sílica livre cristalina encontrado no material particulado, foi de 2%, o que
resultou em um limite de tolerância, determinado como especificado na Legislação Brasileira
(NR-15), de 2,0mg/m 3 . A concentração de partículas, tanto em amostras coletadas em nível da
zona respiratória dos trabalhadores, quanto às amostras de área, variou de 3,59 a 52,44mg/m3, o
nível de ruído situou-se entre 83dB e 110dB. A maioria dos valores encontrados superam o valor
limite estabelecido pela Legislação Brasileira. Esses resultados, somados ao registro do olhar dos
trabalhadores, revelaram um ambiente e processo de trabalho insalubre, colocando em risco a
saúde dos operários.
Palavras-chave Saúde Ocupacional; Material Particulado; Indústria do Cimento; Ruído Ocu-
pacional
Figura 1
Diagrama esquemático do processo de produção de cimento utilizado em Volta Redonda, Rio de Janeiro.
v
matérias-primas v Carregamento ensacado
sa estudada das demais indústrias típicas deste de carregamento dos caminhões transportado-
setor. res. Essa operação é executada por dois traba-
As matérias primas são transportadas atra- lhadores, sendo um responsável pelo controle
vés de uma ponte rolante, dos galpões de de- das mesas transportadoras e o outro pelo ajus-
pósito até o local onde é feita a moagem. Esta te dos sacos nas carrocerias. O operador ajusta
ponte é dotada de comandos elétricos e opera- o saco de cimento apoiando-o com a coxa e
da por quatro operários, que trabalham em deixando-o tombar pela ação da gravidade,
turnos diferenciados de seis horas diárias. De- formando assim, pilhas nos caminhões. Alcan-
vido à sua condição precária, os trabalhadores ça-se uma média diária de carregamento de
que a operam ficam expostos constantemente, 120 a 130 caminhões com 300 a 500 sacos de ci-
a vários fatores de risco à saúde, tais como por mento cada.
exemplo, a alta concentração de partículas em
suspensão (poeiras) devido à falta de isola-
mento da cabine de operação; falta de equipa- Avaliação ambiental
mentos de proteção, segurança e comunicação.
Além disso, este trabalho é monótono e solitá- De acordo com os resultados obtidos pela aná-
rio. Do total de trabalhadores entrevistados, lise por difração de raios-X, o porcentual mé-
20% considerou ser este um dos locais de tra- dio de sílica livre cristalina (SiO 2) encontrado
balho mais perigosos em toda a fábrica. nas amostras coletadas, foi de 2%. Para este ti-
A pesagem e a mistura dos componentes po de exposição, não é adotado um valor fixo
são feitas nas balanças dosadoras. Em seguida, para o limite de tolerância (LT), pois este va-
essa mistura é transportada para os moinhos lor depende do porcentual de SiO 2 presente
de cimento, que são moinhos de bolas rotati- no material particulado. Conforme estabele-
vos, que funcionam em circuito fechado e com cido na Norma Regulamentadora 15, anexo 12
granulometria controlada por um separador. do Ministério do Trabalho do Brasil, o valor de
Os silos de cimento são os depósitos do pro- LT pode ser calculado empregando-se a Equa-
duto final da moagem, antes do ensacamento. ção 1.
De acordo com a opinião de 11% dos trabalha-
dores entrevistados, estes silos são os locais 8,0
LT (mg/m3) = (Equação 1)
que mais oferecem riscos à integridade física %SiO2 + 2
dos operários, devido à altura dos mesmos.
O ensacamento é feito por três ensacadei- Desse modo, com base na Legislação Brasi-
ras rotativas com capacidade variando de 1.600 leira, o valor de 2,0 mg/m3 foi adotado como li-
a 1.800 sacos/hora. O cimento é transportado mite de tolerância para a exposição ocupacio-
dos silos através de um sistema mecânico, até nal à poeira mineral respirável, contendo 2%
as ensacadeiras, onde é injetado nos sacos por de sílica livre cristalina.
meio de bicos. Os sacos de papel são colocados De acordo com a metodologia de cálculo
manualmente nos bicos das ensacadeiras por adotada pela JISHA, a concentração média de
um operador, posicionado em frente ao equi- poeira, contendo 2% de sílica livre cristalina
pamento. Essa tarefa é realizada em sistema de permitida em um ambiente de trabalho fecha-
revezamento por dois operadores, em períodos do, seria de 2,01 mg/m3.
de uma hora. Os resultados das avaliações individuais são
Depois de ensacado, o cimento é transpor- mostrados na Tabela 1.
tado por esteiras rolantes até as mesas móveis Todos os valores encontrados nestas amos-
transportadoras, onde é realizada a operação tragens pessoais, foram superiores àquele re-
comendado como limite de tolerância pela le- Além da poeira abundante, sobressai a qual-
gislação brasileira (2,0mg/m3). quer observador, o intenso nível de ruído em vá-
A média geométrica dos valores obtidos rios pontos da fábrica. As medições realizadas
nos trabalhadores ECC1 a ECC3 (ensacamento durante este trabalho são mostradas na Tabela 3.
fechado), foi de 21,63mg/m 3 com um desvio Pode-se observar que o nível de ruído, ou
padrão de 3,83. A exposição medida no assis- supera o limite permitido pela Legislação Bra-
tente de ensacamento foi inferior à dos ensa- sileira, 85dB, ou se situa em valores muito pró-
cadores, devido à sua maior mobilidade. ximos deste limite.
No caso de ensacamento aberto (amostras
ECC4 e ECC5), a média geométrica foi de 10,76
mg/m3 e o desvio padrão de 1,12mg/m3. Avaliação técnica
Mesmo a amostragem realizada no carrega-
dor, embora menos exposto à poeira, apresen- Os resultados das avaliações técnicas (inspe-
tou valor da concentração de material particu- ções) realizadas nesta fábrica, demonstram
lado de 3,59mg/m 3, ainda superior ao limite que a empresa possui um parque tecnológico
recomendado pela legislação. obsoleto e poluidor, com altos níveis de conta-
Os valores das concentrações de material minação individual que se reflete em casos de
particulado encontrado em três setores, são pneumoconioses, dermatites de contato e irri-
apresentados na Tabela 2. tações diversas das vias aéreas superiores, al-
A média geométrica dos valores das concen- tos índices de incidentes críticos e acidentes
trações encontradas no setor de ensacamento leves, ainda que subnotificados. O serviço mé-
fechado, é de 4,81mg/m3 (σ = 1,90), enquanto dico não atende à demanda dos exames e a in-
que no setor de ensacamento aberto, este valor
foi de 1,9mg/m 3 (σ = 6,42). Essa grande varia-
ção observada na concentração de sílica neste
ambiente, é devida ao fato de se tratar de uma Tabela 1
área coberta mas aberta lateralmente.
Utilizando a metodologia proposta pela Resultados da avaliação individual de trabalhadores expostos à poeira, por função,
JISHA, para classificação dos locais de traba- de ensacamento em uma empresa de cimento. Volta Redonda, Rio de Janeiro.
lho, os ambientes monitorados são classifica-
dos como classe III, o que significa dizer que Amostra* Função Horário inicial Concentração de
são ambientes com elevado grau de contami- e final (horas) partículas (mg/m3)
nação.
ECC1 Ensacador 12:22-16:23 41,87
Os níveis de emissão, observados durante a
ECC2 Ensacador 12:20-16:24 52,44
operação de carregamento, variaram de 0,24 a
ECC3** Assistente 12:22-16:26 04,61
10,85mg/m3. A grande variação verificada po-
ECC4 Ensacador 13:00-16:37 09,95
de ser explicada pela influência da direção do
ECC5 Ensacador 13:00-16:38 11,63
vento no ponto amostrado, uma vez que o ca-
ECC6*** Carregador 13:00-16:15 03,59
minhão de transporte fica estacionado em uma
área aberta. Esses valores mostram que o nível * Setor de Ensacamento, amostra por Ensacador de Cimento e Carregador (ECC).
** Controla o painel e a reposição de embalagens vazias.
de exposição ainda é elevado, mesmo em se *** Carrega o caminhão com sacos de cimento cheios.
tratando de área externa, não coberta.
Tabela 2
Resultados da avaliação ambiental da concentração de poeira, nos setores de ensacamento fechado e aberto
e no carregamento de caminhão de uma fábrica de cimento. Volta Redonda, Rio de Janeiro.
Setor Tempo (minutos) Número de Valores extremos Concentração Desvio padrão (σ)
pontos avaliados da leitura (cpm) de particulados
(mg/m3)
Tabela 5
Freqüência percentual das queixas de saúde mais freqüentes por trabalhadores, segundo setores
específicos de uma fábrica de cimento. Volta Redonda, Rio de Janeiro.
Carregamento 50 50 50 50 – –
Ensacamento 60 30 75 75 30 50
Operador de moinho 50 70 20 35 – 50
Manutenção 40 20 25 20 12 20
Referências