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DIREITO INTERNACIONAL

Fontes: Mecanismos de Criação de Normas Jurídicas


Internacionais – Outras Fontes; Meios Auxiliares para a
Determinação de Normas Jurídicas-Internacionais e …
José Pina Delgado
Prof. Graduado de Teoria do Direito & Direito Púb
Actos Normativos de Organizações
Internacionais
• Introdução:
• Para além do costume e do tratado, a prática internacional também tem
demonstrado que outras categorias podem ser aceites como fontes do DI,
como é o caso dos ANOI.
• Isso pode ser verificado ainda que os ANOI não sejam mencionados no rol
do art. 38, ETIJ, vez que pode ser derivado da prática dos Estados e outros
participantes da ordem internacional.
• A questão que se coloca aqui e que eventualmente impõe alguma dúvida
sobre os ANOI é o facto de que são atos produzidos e previstos ao abrigo
de outra fonte do DI, o tratado. Assim sendo, são actos que estão em geral
previstos nos tratados constitutivos das OIs (ONU, UA, CEDEAO, etc.).
• Contudo, este facto não retira a possibilidade de considerar os ANOI como
fontes do DI. Mesmo no Direito Interno, esse fenómeno pode ocorrer, as
leis ordinárias não deixam de ser leis pelo facto de derivarem da
Constituição. Assim sendo, os ANOI também podem expressar normas
jurídicas, mesmo que aprovadas ao abrigo de um tratado constitutivo.
• Mas nesses casos, a análise deve ser feita caso a caso.
• Noção de ANOI:
• Devem ser medidas adoptadas por órgãos de OIs que
produzem efeitos normativos, sejam eles directos, ou
indirectos.
• Elementos:
• Previsão em instrumento constitutivo ou decorrente da
prática dos Membros da OI (legalidade);
• Normatividade;
• Tipos: actos com efeitos normativos; actos normativos no
sentido estrito
Exemplos:
• Decisão do Conselho de Segurança da ONU – Base normativa – Art. 25 – “os membros das Nações
Unidas concordam em aceitar e aplicar as decisões do CS, de acordo com a presente Carta”
• Conselho de Segurança: É um órgão político das Nações Unidas com competências específicas em
matéria de paz e segurança internacionais.
• Condições de Validade: a) existência de qualquer ameaça à paz, ruptura da paz ou acto de agressão
(art. 39); b) Proporcionalidade
• Forma: Resolução do CS
• Efeitos: Vinculação de todos os Estados-Membros da ONU (extensão para Estados Não-Membros)
• OBS: Notar que uma recomendação do CS, mesmo que amparada no Cap. VII não tem efeitos
normativos, o mesmo ocorrendo com as da AG (Cap. IV). Cabe-lhe, no essencial, determinar a
existência de ameaças à paz, ruptura da paz ou actos de agressão e decidir pela aplicação das
medidas do artigo 41 (medidas não coercivas) e do artigo 42 (medidas coercivas), além de medidas
cautelares.
• OBS: O facto é que, como se pode observar da análise, ao Conselho de Segurança se atribuiu uma
margem de discricionariedade para fazer as determinações e tomar as decisões cabíveis. Fazendo-
o, e se utilizar para tanto o Capítulo VII da Carta, onde estão esses artigos supramencionados, as
decisões do Conselho de Segurança são vinculativas para todos os membros das Nações Unidas,
independentemente da existência de outras obrigações convencionais (Art. 103), e até aqui, ainda
que controversamente, a não membros das Nações Unidas.
• Exemplos Resoluções do CS:
– Questão: pode-se questionar que as decisões do CS assemelham-se mais a
atos individuais e concretos, e que as normas jurídicas devem ser gerais e
abstratas. Contudo, essa crítica não procede porque também parece ser
duvidoso que os tratados não tenham carácter individual e concreto.
– Há tanto aqueles com caráter individual e concreto e os que tem caráter mais
geral e abstrato: Quando o Conselho de Segurança aprova sanções
económicas ou um embargo de armas em relação a um Estado, todos os seus
membros deverão cumpri-lo; quando institui tribunais penais internacionais e
aprovou estatutos que obrigam toda a comunidade a prestar cooperação
judiciária é um acto normativo e mais claramente são-nos as Resoluções que,
como a 1373, obrigam os Estados a assumir determinadas obrigações no
campo do combate ao terrorismo, transpondo determinadas cláusulas de
convenções internacionais de combate ao terrorismo.
• B) Resoluções da Assembleia Geral da ONU:
– Trata-se de órgão constituído por todos os membros das NU (art. 9,
CNU)
– Não aprova actos vinculativos, com raras excepções. Na realidade,
apesar das competências genéricas que goza em relação a
praticamente qualquer matéria de interesse internacional, a
Assembleia somente pode fazer recomendações.
– A única exceção a isso tem a ver com o poder em matéria financeira
da Assembleia Geral de aprovar o orçamento da organização e
estabelecer as quotas dos membros. Daí que, diretamente, e, em
geral, muito dificilmente se pode considerar uma resolução da
Assembleia Geral como verdadeira fonte do direito.
Actos Normativos de Organizações Regionais
• Com fulcro particular na UE em que, dentro do âmbito das suas
competências, certos órgãos possuem um verdadeiros poderes
legislativos, e aprovam atos com força de lei como os regulamento e as
directivas comunitárias, experiências paralelas se tem desenvolvido nas
organizações regionais ou sub-regionais africanas de que CV faz parte.
• União Africana- Comunidade Económica Africana (integrada ao sistema
da UA) - A Conferência pode adoptar Decisões (consenso ou maioria de
2/3 para a harmonização da política económica, científica, técnica, cultural
e social) e o Conselho de Ministros (art. 13) que pode adoptar
regulamentos nesta matéria, os quais se tornam vinculativos desde que
confirmados pela Conferência ou sejam aprovados mediante delegação da
mesma.
• CEDEAO: tem o mesmo regime da anterior, no entanto dependente da
aprovação de um protocolo suplementar para definir as matérias de
competência da Comunidade. Norma transitória ainda em vigor para
alguns Estados: decisão por consenso. Protocolo ainda não está em vigor.
Novo artigo 9º, prevendo a possibilidade de aprovação de Atos
Suplementares, Regulamentos, Diretivas Regras, Recomendações e
Opiniões. Cabo Verde faz parte da CEDEAO, mas não se vinculou ao
protocolo adicional que inseriu estas figuras normativas.

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Atos Jurídicos Unilaterais
• Fundamento: Decorre da voluntariedade do DI e do princípio da
autonomia da vontade. Assim sendo, o estado é livre para se obrigar do
modo como lhe aprouver (p 2).
• Noção: Medidas que um Estado ou uma OIs adota através de qualquer
forma com o objetivo de se vincular a uma obrigação internacional sem o
concurso de outras entidades internacionais.
• Elementos: ato autónomo. Não recobre os atos unilaterais não-autónomos,
aqueles que não conseguem por si só criar obrigações, requerendo
conjugação com outras condutas e estando enquadrados por um mecanismo
determinado de produção de normas (atos ou omissões no processo
costumeiro; proposta de tratado; reserva; denúncia/retirada, etc.)
• Natureza: conduta de auto-vinculação.
• Modalidades Principais: reconhecimento, renúncia; promessa.
• OBS: Apresentação das principais orientações aparece no Texto dos
Princípios Directores Aplicáveis às Declarações Unilaterais dos Estados
Capazes de criar Obrigações Jurídicas aprovado pela Comissão de Direito
Internacional, documento aprovado pela Comissão de Direito Internacional.

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• Condições de Validade: Pressuposto subjectivo: intenção de criar obrigação (1)-
manifestação livre de vontade: meio das quais se manifesta vontade de obrigar-se
poderão criar obrigações. A forma é livre: “oralmente ou por escrito” (princípio 5)
• Requisitos: Publicidade (1): “Declarações feitas publicamente por meio das quais se
manifesta vontade de obrigar-se poderão criar obrigações jurídicas quando, presentes
as condições para que isso ocorra, o carácter obrigatório de tais declarações se funda
na boa fé”
• Formulação por autoridade com capacidade para vincular o Estado (representantes
naturais do Estado ou OI = tratados) (4): “Uma declaração unilateral obriga
internacionalmente o Estado somente se emana de autoridade que tenha competência
para fazer produzir tais efeitos. Em razão das suas funções, os chefes de Estado, os
chefes de Governo e os ministros das relações exteriores são competentes para
formular tais declarações. Outras pessoas que representam o Estado em esferas
determinadas poderão ser autorizadas para o obrigar através das suas declarações
nas matérias que correspondam à sua esfera de competência”.
• Clareza e especificidade (7).: “As declarações unilaterais contêm obrigações para o
Estado que a formulou somente se for enunciada em termos claros e específicos. No
caso de dúvida sobre quanto ao alcance das obrigações resultantes de uma declaração
dessa índole, tais obrigações deverão ser interpretadas restritivamente”.

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• Limites: Normas de jus cogens (P. 8): “É nula toda declaração unilateral que
esteja em oposição com uma norma imperativa de direito internacional geral”
• Cessação de Produção de Efeitos: de acordo com a intenção da entidade
que o produz e da protecção de direitos e interesses legítimos de terceiros
beneficiados (um ou vários), adotando-se o princípio da não-arbitrariedade
da revogação) P 10) .
“Uma declaração unilateral que criou obrigações jurídicas para o Estado que fez a
declaração não pode ser revogada arbitrariamente. Para determinar se uma
revogação seria arbitrária, há que se levar em conta: i. Todos os termos da declaração
que se refiram especificamente à revogação; ii. A medida em que os sujeitos a quem se
destina o cumprimento das obrigações se tenham baseado nelas; iii. A medida em que
produziu um alteração fundamental das circunstâncias”

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Meios Auxiliares de Identificação de Normas Jurídicas
Internacionais
Doutrina: Obra científica produzida por abalizados especialistas (conceito
material) em DI. Evidentemente não cria normas jurídicas, por melhor que seja ou
auxilia materialmente à sua elaboração ou alternativamente ajuda à
identificação das que já existem. Já foi fonte do DI em tempos (período medieval
e moderno, com figuras como Grócio; Pufendorf ou Vattel a fazerem direito).
Apesar de haver uma invocação forte que ainda há de autoridades académicas
gerais (Brownlie; Shaw; Dupuy, etc.) não se o faz como direito e sem um certo
risco.
Jurisprudência: Podia dar a entender que seria mais relevante no DI do que é
num sistema como o cabo-verdiano pela aproximação que aparenta com
a common law. Porém, não. Os Estados não conferem poderes normativos aos
juízes, medida natural em razão da sua prudência habitual nas RIs. A única
ressalva feita pelo é a res judicata, a ele limitam-se os efeitos. Ainda assim, para
evitar o forum shopping resultante da proliferação de órgãos judiciários
internacionais, o princípio começou a ser adotado mais generalizamente no que
toca admissibilidade de ações internacionais as decisões reiteradas de órgãos
judiciais (judiciários e quase-judiciários) internacional.
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Os Princípios Gerais de Direito e a Equidade
a) Princípios gerais de Direito: não são fontes formais (já que estas são
mecanismos de criação); na realidade, são o resultado desses
mecanismos, a própria norma, e como tais criadas por tratado, costumes,
actos normativos de Ois ou actos jurídicos unilaterais). Por exemplo, o
da pacta sunt servanda),
-Não seriam verdadeiras fontes nem mesmo se considerarmos que é
abarcado pelo conceito princípios de justiça (uma visão mais jusnaturalista)
ou decorrentes da universalização de princípios de direito interno.
a) Equidade (Equitas): Aplicação da justiça ao caso concreto (v. conceito de
Aristóteles) – Autorização conferida a um órgão judiciário para decidir
contra ou para além do direito normalmente aplicável; sempre possível,
por considera-se que há criação de regra especial (voluntariedade),
desde que não seja contrária a norma imperativa de DI ou lese direitos e
interesses legítimos de terceiros. legitimidade: próprios Estados
litigantes; limites: normas com estatuto de jus cogens.

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Estatuto do chamado soft law
• É um direito impropriamente chamado por não ser vinculativo
formalmente, mas poder ser apelativo do ponto de vista político ou moral.
• Por exemplo, as resoluções da AG da ONU ou outras desta índole não são
consideradas normas jurídicas internacionais, ainda que possam exercer
uma influência notável em razão da sua aceitação pelos Estados
(especialmente em certas matérias, por exemplo a definição de boas
práticas ligadas ao Direito Internacional de Protecção da Pessoa Humana
ou do Direito Internacional do Meio Ambiente); a partir dali pode dar
origem a tratados (Convenção das Nações Unidas sobre Direitos das
Crianças a partir da Declaração das Nações Unidas sobre Direitos das
Crianças) ou resultar em normas/regime costumeiros.

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