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Resolução CMN (Bacen) nº 3.

533
(DOU de 06/02/08)

Estabelece procedimentos para classificação, registro contábil e divulgação de operações de venda ou de


transferência de ativos financeiros.
O BANCO CENTRAL DO BRASIL, na forma do art. 9º da Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964, torna público que o
CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL, em sessão realizada em 31 de janeiro de 2008, com base no art. 4º, incisos XI e
XII, da citada lei, resolveu:

Art. 1º As instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil devem
baixar um ativo financeiro quando:

I - os direitos contratuais ao fluxo de caixa do ativo financeiro expiram; ou

II - a venda ou transferência do ativo financeiro se qualifica para a baixa nos termos desta resolução.

Art. 2º As instituições referidas no art. 1º devem classificar a venda ou a transferência de ativos financeiros, para fins
de registro contábil, nas seguintes categorias:

I - operações com transferência substancial dos riscos e benefícios;

II - operações com retenção substancial dos riscos e benefícios;

III - operações sem transferência nem retenção substancial dos riscos e benefícios.

§ 1º Na categoria operações com transferência substancial dos riscos e benefícios devem ser classificadas as operações
em que o vendedor ou cedente transfere substancialmente todos os riscos e benefícios de propriedade do ativo
financeiro objeto da operação, tais como:

I - venda incondicional de ativo financeiro;

II - venda de ativo financeiro em conjunto com opção de recompra pelo valor justo desse ativo no momento da
recompra;

III - venda de ativo financeiro em conjunto com opção de compra ou de venda cujo exercício seja improvável de
ocorrer.

§ 2º Na categoria operações com retenção substancial dos riscos e benefícios devem ser classificadas as operações em
que o vendedor ou cedente retém substancialmente todos os riscos e benefícios de propriedade do ativo financeiro
objeto da operação, tais como:

I - venda de ativo financeiro em conjunto com compromisso de recompra do mesmo ativo a preço fixo ou o preço de
venda adicionado de quaisquer rendimentos;

II - contratos de empréstimo de títulos e valores mobiliários;

III - venda de ativo financeiro em conjunto com swap de taxa de retorno total que transfira a exposição ao risco de
mercado de volta ao vendedor ou cedente;

IV - venda de ativo financeiro em conjunto com opção de compra ou de venda cujo exercício seja provável de
ocorrer;

V - venda de recebíveis para os quais o vendedor ou o cedente garanta por qualquer forma compensar o comprador
ou o cessionário pelas perdas de crédito que venham a ocorrer, ou cuja venda tenha ocorrido em conjunto com a
aquisição de cotas subordinadas do Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) comprador, observado o
disposto no art. 3º

§ 3º Na categoria operações sem transferência nem retenção substancial dos riscos e benefícios devem ser
classificadas as operações em que o vendedor ou cedente não transfere nem retém substancialmente todos os riscos e
benefícios de propriedade do ativo financeiro objeto da operação.

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Art. 3º A avaliação quanto à transferência ou retenção dos riscos e benefícios de propriedade dos ativos financeiros
é de responsabilidade da instituição e deve ser efetuada com base em critérios consistentes e passíveis de verificação,
utilizando-se como metodologia, preferencialmente, a comparação da exposição da instituição, antes e depois da
venda ou da transferência, relativamente à variação no valor presente do fluxo de caixa esperado associado ao ativo
financeiro descontado pela taxa de juros de mercado apropriada, observado que:

I - a instituição vendedora ou cedente transfere substancialmente todos os riscos e benefícios quando sua exposição à
variação no valor presente do fluxo de caixa futuro esperado é reduzida significativamente;

II - a instituição vendedora ou cedente retém substancialmente todos os riscos e benefícios quando sua exposição à
variação no valor presente do fluxo de caixa futuro esperado não é alterada significativamente.

§ 1º A avaliação definida no caput não é necessária nos casos em que a transferência ou retenção dos riscos e
benefícios de propriedade do ativo financeiro seja evidente.

§ 2º Presume-se que os riscos e benefícios do ativo financeiro foram retidos pelo vendedor ou cedente quando o
valor da garantia prestada, por qualquer forma, para compensação de perdas de crédito, for superior à perda
provável ou ainda quando o valor das cotas subordinadas de FIDC adquiridas for superior à perda provável.

§ 3º A avaliação definida no caput não pode ser divergente entre as instituições referidas no art. 1º que sejam
contraparte em uma mesma operação.

Art. 4º Para o registro contábil da venda ou da transferência de ativos financeiros classificada na categoria operações
com transferência substancial dos riscos e benefícios, devem ser observados os seguintes procedimentos:

I - pela instituição vendedora ou cedente:

a) o ativo financeiro objeto de venda ou de transferência deve ser baixado do título contábil utilizado para registro
da operação original;

b) o resultado positivo ou negativo apurado na negociação deve ser apropriado ao resultado do período de forma
segregada;

II - pela instituição compradora ou cessionária, o ativo financeiro adquirido deve ser registrado pelo valor pago, em
conformidade com a natureza da operação original, mantidos controles analíticos extracontábeis sobre o valor
original contratado da operação.

Parágrafo único. No caso de venda ou de transferência de título ou valor mobiliário classificado pelo vendedor ou
cedente na categoria títulos disponíveis para venda, deve ser observado o disposto no art. 2º, § 2º, da Circular nº
3.068, de 8 de novembro de 2001.

Art. 5º Para o registro contábil da venda ou da transferência de ativos financeiros classificada na categoria operações
com retenção substancial dos riscos e benefícios, devem ser observados os seguintes procedimentos:

I - pela instituição vendedora ou cedente:

a) o ativo financeiro objeto da venda ou da transferência deve permanecer, na sua totalidade, registrado no ativo;

b) os valores recebidos na operação devem ser registrados no ativo tendo como contrapartida passivo referente à
obrigação assumida;

c) as receitas e as despesas devem ser apropriadas de forma segregada ao resultado do período pelo prazo
remanescente da operação, no mínimo mensalmente;

II - pela instituição compradora ou cessionária:

a) os valores pagos na operação devem ser registrados no ativo como direito a receber da instituição cedente;

b) as receitas devem ser apropriadas ao resultado do período, pelo prazo remanescente da operação, no mínimo
mensalmente.

Art. 6º Para o registro contábil da venda ou da transferência de ativos financeiros classificada na categoria operações

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sem transferência nem retenção substancial dos riscos e benefícios, com transferência de controle do ativo financeiro
objeto da negociação, devem ser observados os procedimentos definidos no art. 4º e, adicionalmente, reconhecidos
separadamente como ativo ou passivo quaisquer novos direitos ou obrigações advindos da venda ou da
transferência.

Art. 7º Para o registro contábil da venda ou da transferência de ativos financeiros classificada na categoria operações
sem transferência nem retenção substancial dos riscos e benefícios, com retenção do controle do ativo financeiro
objeto da negociação, devem ser observados os seguintes procedimentos:

I - pela instituição vendedora ou cedente:

a) o ativo permanece registrado na proporção do seu envolvimento continuado, que é o valor pelo qual a instituição
continua exposta às variações no valor do ativo transferido;

b) o passivo referente à obrigação assumida na operação deve ser reconhecido;

c) o resultado positivo ou negativo apurado na negociação, referente à parcela cujos riscos e benefícios foram
transferidos, deve ser apropriado proporcionalmente ao resultado do período de forma segregada;

d) as receitas e despesas devem ser apropriadas de forma segregada ao resultado do período, pelo prazo
remanescente da operação, no mínimo mensalmente;

II - pela instituição compradora ou cessionária:

a) os valores pagos na operação devem ser registrados da seguinte forma:

1. a proporção correspondente ao ativo financeiro, para o qual o comprador ou cessionário adquire os riscos e
benefícios, deve ser registrada no ativo em conformidade com a natureza da operação original;

2. a proporção correspondente ao ativo financeiro, para o qual o comprador ou cessionário não adquire os riscos e
benefícios, deve ser registrada no ativo como direito a receber da instituição cedente;

b) as receitas devem ser apropriadas ao resultado do período, pelo prazo remanescente da operação, no mínimo
mensalmente.

Parágrafo único. Para efeito do disposto no inciso I, alínea "a", quando o envolvimento continuado adquirir a forma
de garantia, de qualquer natureza, esse valor deverá ser o menor entre o valor do próprio ativo financeiro e o valor
garantido.

Art. 8º O ativo financeiro vendido ou transferido e o respectivo passivo gerado na operação, quando houver, bem
como a receita e a despesa decorrentes, devem ser registrados de forma segregada, vedada a compensação de ativos
e passivos, bem como de receitas e despesas.

Art. 9º A operação de venda ou de transferência de ativos financeiros, cuja cobrança permaneça sob a
responsabilidade do vendedor ou cedente, deve ser registrada como cobrança simples por conta de terceiros.

Parágrafo único. Eventuais benefícios e obrigações decorrentes do contrato de cobrança devem ser registrados como
ativos e passivos pelo valor justo.

Art. 10. Para o registro contábil dos ativos financeiros oferecidos em garantia de operações de venda ou de
transferência, devem ser observados os seguintes procedimentos:

I - pela instituição vendedora ou cedente:

a) reclassificar o ativo de forma separada de outros ativos financeiros de mesma natureza, caso a instituição
compradora ou cessionária tenha o direito contratual de vendê-lo ou de oferecê-lo como garantia em uma outra
operação;

b) baixar o ativo financeiro, caso se torne inadimplente na operação para a qual ofereceu o ativo financeiro como
garantia e não tenha mais o direito de exigir a sua devolução;

II - pela instituição compradora ou cessionária:

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a) reconhecer o passivo, pelo valor justo, referente à obrigação de devolver o ativo financeiro recebido como
garantia à instituição vendedora ou cedente, caso o tenha vendido;

b) reconhecer o ativo financeiro pelo valor justo ou baixar a obrigação citada na alínea "a", conforme o caso, se a
instituição vendedora ou cedente se tornar inadimplente na operação para a qual ofereceu o ativo financeiro em
garantia e não tenha mais o direito de exigir a sua devolução.

Parágrafo único. Exceto na situação citada no inciso II, alínea "b", a instituição vendedora ou cedente deve continuar
reconhecendo o ativo financeiro oferecido em garantia e a instituição compradora ou cessionária não deve
reconhecê-lo como seu ativo.

Art. 11. Devem ser divulgadas, quando relevantes, informações em notas explicativas às demonstrações contábeis
contendo, no mínimo, os seguintes aspectos relativos a cada categoria de classificação:

I - operações com transferência substancial dos riscos e benefícios e operações sem transferência nem retenção
substancial dos riscos e benefícios, para as quais o controle foi transferido: o resultado positivo ou negativo apurado
na negociação, segregado por natureza de ativo financeiro;

II - operações com retenção substancial dos riscos e benefícios:

a) a descrição da natureza dos riscos e os benefícios aos quais a instituição continua exposta, por categoria de ativo
financeiro;

b) o valor contábil do ativo financeiro e da obrigação assumida, por categoria de ativo financeiro;

III - operações sem transferência nem retenção substancial dos riscos e benefícios, para as quais o controle foi retido:

a) a descrição da natureza dos riscos e benefícios aos quais a instituição continua exposta, por categoria de ativo
financeiro;

b) o valor total do ativo financeiro, o valor que a instituição continua a reconhecer do ativo financeiro e o valor
contábil da obrigação assumida, por categoria de ativo financeiro.

Art. 12. As disposições previstas nesta resolução:

I - aplicam-se também às operações de venda ou de transferência de parcela de ativo financeiro ou de grupo de


ativos financeiros similares;

II - somente devem ser aplicadas à parcela de ativo financeiro se o objeto da venda ou transferência for parte
especificamente identificada do fluxo de caixa do ativo financeiro ou proporção do fluxo de caixa do ativo
financeiro;

III - devem ser aplicadas sobre o ativo financeiro na sua totalidade, nos demais casos.

Art. 13. As instituições referidas no art. 1º devem manter à disposição do Banco Central do Brasil, pelo prazo mínimo
de cinco anos, ou por prazo superior em decorrência de legislação específica ou de determinação expressa, os
documentos que evidenciem de forma clara e objetiva os critérios para classificação e registro contábil das operações
de venda ou de transferência de ativos financeiros.

Art. 14. Verificada impropriedade ou inconsistência nos processos de classificação e de registro contábil da operação
de venda ou de transferência de ativos financeiros, o Banco Central do Brasil poderá determinar sua reclassificação,
registro ou baixa, com o conseqüente reconhecimento dos efeitos nas demonstrações contábeis.

Art. 15. Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação, produzindo efeitos a partir de 1º de janeiro de
2009.
HENRIQUE DE CAMPOS MEIRELLES
Presidente

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