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Seminário 1

O modelo clássico é apenas um caso particular da Teoria Geral


apresentada por Keynes.” Discuta

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Curso Avançado de Economia Para Técnicos Superiores

Macroeconomia
2020

Aula 3: Curva de Phillips e a Taxa de Desemprego Natural

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© 2020 Alexandre Ernesto
Conteúdo

- Curva de Phillips original e emendas iniciais


- Expectativa da inflação e a curva de Phillips por Friedman e Phelps
- Má especificação
- Trade-off temporário
- Dinâmica da inflação
- Implicações de política
- Formação de expectativas
- Expectativas adaptativas versus racionais

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Original curva de Phillips e emendas iniciais
A.W. Phillips (1958) analisou a relação entre a taxa de desemprego e a inflação salarial (taxa de
variação dos salários nominais) entre 1861 e 1957 no Reino Unido:

Período 1861-1913:

  0.9  9.638u 1.394

A linha ajustada parecia explicar muito bem os dados para o período 1948-1957:
B

A justificativa para essa relação negativa é


simplesmente excesso de explicação da procura

Essas descobertas foram interpretadas por alguns economistas como evidência de


uma relação negativa estável entre a inflação dos salários e o desemprego. 4
Original curva de Phillips e emendas iniciais
Samuelson e Sollow (1960) usaram a relação entre salários e preços para reestimar as curvas de
Phillips em termos de inflação de preços e desemprego para os EUA:

P
É a isso que nos referimos hoje quando usamos o termo
“Curva de Phillips”:

 Relação negativa entre inflação e desemprego.

Paradoxalmente, refere-se à versão modificada da


curva de Phillips estimada por Samuelson e Sollow.

Essa relação ficou muito popular entre os policy makers:


1. Parece apresentar-lhes um menu de opções de política ou trade-off entre inflação e
desemprego:

• Ponto A: Estabilidade de preços e desemprego alto.


• Point B: Baixo desemprego e inflação alta.
•Ou qualquer combinação entre.

2. A curva de Phillips fornece uma explicação para o fracasso do governo em alcançar baixo
desemprego e inflação baixa ao mesmo tempo: Os policy makers não podem deixar de
negociar. 5
Expectativa da inflação e a curva de Phillips, especificação incorrecta

Friedman (1968) e Phelps (1967,1968) de forma independente contestaram a alegação de que a


relação descrita pela curva de Phillips denotava um trade-off estável ou permanente entre inflação e
desemprego.

Vamos nos concentrar na formulação de Friedman, que foi baseada no comportamento do mercado de
trabalho.

Friedman argumenta que curva de Phillips foi mal especificada:

• Embora trabalhadores em empresas negociem salários nominais, é o salário real que é


importante para as decisões de oferta e procura de trabalho.
• Além disso, como a negociação salarial ocorre no início do período, as reivindicações do salário
nominal dos trabalhadores levarão em conta sua expectativa de preço.

Assim, Friedman argumentou que a curva de Phillips precisava ser corrigida para incluir as
expectativas de inflação P e :

Curva de Phillips:   f (u)


“Curva de Phillios Aumentada
Extensão de Friedman:   f (u )  P e da Expectativa” de Friedman

P  f (u )  P e Em termos de inflação de preços


𝑒 6
Onde, 𝑤= inflação dos salários, 𝑃= inflação de preços, 𝑃 = expectativa de inflação de preços, u= desemprego
Expectativa da inflação e a curva de Phillips, especificação incorrecta

Friedman observa que a introdução de expectativas implica que, em vez de uma curva de
Phillips única, há uma família de curvas de Phillips, uma para cada nível de expectativas:

P e  P3
P P e  P2 Curva de Phillios Aumentada da
P e  P1 Expectativa” de Friedman :
P  f (u )  P e

U, Desemprego

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Expectativa da inflação e a curva de Phillips, trade-off temporário
Friedman argumenta que adicionada as expectativas, o trade-off descrito pela curva de Phillips é
apenas temporário:

P • Suponha que a economia está em A onde 𝑃 = 0, e


que está nesse ponto, há algum tempo, de modo
que a inflação esperada é zero: 𝑃𝑒 = 0

B • O governo pode querer explorar o trade-off


P1 denotado por esta curva de Phillips por ∆𝑀, para
reduzir o desemprego para 𝑈1 e tolerar 𝑃1 > 0

A
P  0 U
U1
P e  0
Friedman argumenta: Como os preços vão subir mais
• ΔM=> Δ procura de produção da empresas => ΔPreços rápido do que os salários, os
=> Δnecessidade de trabalho=> Δsalário nominal salários reais vão cair => a procura
de trabalho das empresas cresce.
• Ao mesmo tempo, Δsalário nominal darão a impressão de que os salários reais estão crescendo.
Porque eles têm a expectativa de 𝑃𝑒 = 0: “Ilusão de dinheiro”. Os trabalhadores fornecerão a mão-
de-obra necessária para se mudar para 𝑈1 .

Assim, o governo terá sucesso em mover a economia para o 𝑈1 , embora isso seja apenas um sucesso
de curta duração ou temporário. 8
Expectativa da inflação e a curva de Phillips, trade-off temporário

Por quê temporário? Porque os trabalhadores


começarão a perceber que seus salários reais Em outras palavras, eles corrigirão suas
realmente caíram expectativas para um mundo de 𝑃1 > 0, e
exigirão salários nominais mais altos para
restaurar o salário real inicial.

• A medidada que os salários reais


aumentam => a procura de trabalho das
P
empresas cai até que os salários reais
iniciais sejam restaurados, o que irá repor
a economia no mesmo nível de
desemprego.

B C • Mas porque as expectativas de inflação


P1
agora são mais altas B->C.

A
P  0 U, desemprego
U1
P e  P1

P e  0 9
Expectativa da inflação e a curva de Phillips, trade-off temporário

Se as autoridades repetirem ΔM em uma tentativa de reduzir o desemprego novamente ao custo de


tolerar 𝑃2 :

• O mesmo processo de ilusão de dinheiro


ocorreria, permitindo que a economia
saísse C->D.

• Note que o aumento da inflação foi maior


agora.
P
• Mais uma vez, os trabalhadores
perceberiam que seu salário real não
aumentou, corrigindo suas expectativas:

• Exigir salários nominais mais elevados


D E para restaurar seus salários reais iniciais:
P2 D->E.

P1 B C

A
P  0 U, desemprego
U1 P e  P2
P e  P1
P e  0 10
Expectativa da inflação e a curva de Phillips, trade-off temporário

Friedman argumenta que se as autoridades ΔM várias vezes, irão constatar que:

1. Há sempre um trade-off temporário entre inflação e desemprego; não há uma compensação


permanente, ou seja, os ganhos de emprego têm vida curta.

2. O trade-off temporário não vem da inflação em si, mas sim da inflação imprevista:

P  f (u )  P e

3. Existe uma curva de Phillips de longo prazo, no nível de desemprego onde a inflação é totalmente
antecipada:

P  P e

4. Se a inflaçao for perfeitamente prevista =>   P


 , deixando o salário real e o desemprego
inalterados.

5. Portanto, o nível de desemprego consistente com a curva de Phillips de longo prazo pode ser
considerado como equilíbrio de desemprego de longo prazo ou Taxa natural de desemprego.
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Expectativa da inflação e a curva de Phillips, dinâmicas da inflação

P LRPC

Ao contrário, se o desemprego
  0
P   0
P fosse mantido acima da taxa
natural de desemprego.

P  0 U
UN

O governo pode reduzir o


desemprego abaixo da taxa
natural de desemprego, embora A taxa natural de desemprego é o
ao custo de uma inflação mais único nível de desemprego em que
alta e em aceleração. a inflação permaneceria constante.

A curva de Phillips pode então ser totalmente especificada como:

P   (u  uN )  P e onde α<0

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Expectativa da inflação e a curva de Phillips, implicações de políticas

• Política macroeconómica ou políticas de gestão da procura (ΔM, ΔG) só podem gerar ganhos
temporários de emprego e deixarão a economia operando com taxas de inflação mais altas, pelo
que, devem ser evitadas.

• A taxa natural de desemprego actua como uma âncora.

• A política monetária não pode afectar o desemprego, mas pode afectar a inflação,
portanto, deve ser usada para controlar a inflação.

• Friedman argumenta que a única forma para reduzir o desemprego é reduzindo a taxa
natural de desemprego.

Como? Limitação das leis trabalhistas, alteração das leis dos salários mínimos, redução do
papel dos sindicatos, etc.

Friedman defende que reformas do mercado de trabalho ajudam a reduzir a taxa de


desemprego natural e, por sua vez reduzem o desemprego sem aumento da inflação.

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Formação de expectativas, Adaptativas versus racionais
A ênfase nas expectativas levou à questão de como as expectativas (de inflação) são formadas?
Friedman, inicialmente, assumiu que as expectativas são baseadas em experiências passadas =>
expectativas adaptativas. Pode ser formalizada:

tE(𝑃t+1)=t-1E(𝑃t)+𝛼[𝑃t-t-1E(𝑃t)] tE(𝑃t+1) é a expectativa no período t sobre a


onde inflação (𝑃) in período t+1
t-1E(𝑃t) expectativa de inflação passada
𝑃t actual taxa de inflação
Expectativa de Correcção de erros 𝛼 , é um coeficiente como 0 < 𝛼 ≤ 1 que captura
inflação de hoje Expectativa de anteriores o impacto de erros passados nas
inflação passada expectativas de hoje.

Sob expectativas adaptativas, as pessoas aprendem com seus erros. Ou seja, estão sempre olhando
para trás, por exemplo, não levam em consideração as mudanças na política. Esse tipo de expectativas
foi criticado por Robert Lucas, que argumenta que os agentes fazem expectativas racionais:

Ωt informações disponíveis até o período t


t E(𝑃t+1) = tE(𝑃t+1|Ωt) = 𝑃t+1 + εt+1 onde E( 𝑃 t+1|Ωt) denota expectativa t dado o conjunto de
informações disponíveis.
εt é um erro aleatório E(εt+1)=0 and cov(εt+1,Ωt)=0.
tE(𝑃 t+1) e 𝑃 t+1 como descrito acima

Em media, agentes farão as expectativas correctamente (lembre que E(εt)=0), ou seja, pode haver
erros, mas nenhum erro sistemático.
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Formação de expectativas, Adaptativas versus racionais

 Por que a formação de expectativas é importante?

 Dê exemplos de políticas de desinflação, ou seja, políticas


para reduzir a taxa de inflação em Angola.

 Como seriam estas políticas em contexto de expectativas


adaptativas e expectativas racionais?

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Bibliografia:

• B. Snowdon, H.R. Vane (2005), Modern Macroeconomics: Its Origins,


Development and Current State. Sections 4.3.

• B. Hillier (1991) The Macroeconomic Debate. Chapter 6

• FRIEDMAN, M. 1968. The Role of Monetary Policy. American Economic


Review, 58, 1-17.

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Copyright Alexandre Ernesto 2020.

Estes slides foram preparados para serem exclusivamente


apresentados na formação avançada em Macroeconomia para os
Técnicos Superiores do Ministério da Economia e Planeamento.

Podem ser carregados e/ou utilizados sem referenciar o autor do


material

Todo o material inserido nestes slides foram elaborados com base no


material bibliográfico apresentado.

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