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MORFOLOGIA URBANA E PAISAGEM DA CIDADE DE BANDEIRANTES

A forma da cidade contemporânea e, porque não, do território em que ela está inserida carrega
consigo diversas características adquiridas recorrentes de processos urbanísticos orgânicos e de
cunho político-administrativo.
Por mais que mutável, de modo natural e artificial, a paisagem que identificamos na cidade de
Bandeirantes-PR é caracterizada por um processo de evolução urbana não planejado, resultado da
congruência entre o progresso das linhas férreas, que dinamizavam a economia e integravam os
territórios, e, segundo Frank e Yamaki (2018), o desenvolvimento das invernadas (figura 01), que são
áreas de localização estratégica que contavam com relevo predominantemente plano entre picos mais
altos (facilitando plantio e criação de gado), solo fértil e suporte hidrográfico. Esses locais supriam a
necessidade da existência de núcleos de apoio, paradas para viagens e eram de grande importância
para o abastecimento das novas cidades do Norte do paraná (como, por exemplo, Londrina) que se
encontravam em expansão.
Até meados de 1920 a região ainda era dominada pelas invernadas (FRANK e YAMAKI, 2018) e não
possuía quaisquer expectativas de instituições de futuros municípios; apenas em 1929 houve a criação
do Distrito de Invernada. Porém, apoiada à implantação das linhas férreas que passavam pela área -
particularidade conquistada devido a um acordo entre Eurípedes de Mesquita Filho, sobrinho de
Juvenal Mesquita, proprietário dos terrenos próximos à estação - e pela construção da estação
ferroviária, ocorre a valorização das terras que margeavam a antiga Estrada de Ferro Noroeste do
Paraná (posteriormente São Paulo - Paraná) e, assim, o até então Distrito de Invernada passa a ser
denominado Bandeirantes (figura 02).
Desse modo, tem-se início um processo de urbanização acelerado em prol do êxito da estação e, de
certa maneira, abstruso, já que a organização urbana não se estabelece de forma clara, linear ou
organizada. Elementos urbanos começam a se consolidar em 1930 e finalmente o até então
Interventor Federal do Paraná concede o título de município para o povoado, em 1932 (FRANK, 2014).
Fatores naturais condicionaram a expansão urbana de Bandeirantes, que em grande parte de sua
extensão não ultrapassa os limites do Ribeirão das Antas, localizado a oeste da cidade. A original
estação ferroviária de Bandeirantes (hoje Museu Maria Calil Zambon)(figura 03) também norteou a
dinâmica de crescimento do município, principalmente em seus anos gloriosos, indicando a
centralidade da cidade (figura 04), a articulação entre os componentes urbanos e, também,
estimulando a integração interurbana.
É lamentável observar o esquecimento em que se encontra a linha férrea no município (figura 05).
Embora os moradores desfrutem de um edifício restaurado e com novo uso definido, é notório o
esquecimento e, até mesmo, o desinteresse em relação a um modal transformador de exímio valor
histórico. Devido a perda da função original das estações conseguimos observar a transformação da
paisagem de diversas cidades do Norte do Paraná e, atualmente, os vestígios da era ferroviária estão
desaparecendo, acarretando vazios urbanos periculosos e descaracterizados.
Figura 01 – Atual configuração no bairro Invernada. Ainda conseguimos identificar a diferença de relevo e,
também, áreas agricolas. Fonte: Acervo pessoal.

Figura 02 – Praça localizada na entrada da cidade pelo bairro da Invernada. Fonte: Acervo pessoal.
Figura 03 – Antiga estação ferroviária, hoje Museu Maria Calil Zambon. Fonte: Acervo pessoal.

Figura 04 – Visualização da torre da Catedral a partir da estação. Indicação de centralidade. Fonte: Acervo
pessoal.
Figura 05 – Atual situação da linha férrea e trilhos e os vazios urbanos gerados. Fonte: Acervo pessoal.
Referências bibliográficas:

FRANK, B. J. R.; YAMAKI, H. T. Invernada como paisagem vernacular. Revista Geografar, Curitiba, v.13,
n.2, p.253-267, 2018.

IBGE, 2010. Disponível em: < https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pr/bandeirantes/historico > Acesso


em: 08 de setembro de 2020.

FRANK, B. J. R. Paisagem vernacular revelada: a invernada em Bandeirantes-PR. 2014. 97 f.


Dissertação (Programa de pós-graduação em geografia) - Universidade Estadual de Londrina,
Londrina, 2014.

VENÁ, V. S. A (des)construção da paisagem nos itinerários Maringá - Londrina: Ferrovia, BR 376 e


BR 369. 2007. 134 f. Dissertação (Programa de pós-graduação em geografia) - Universidade Estadual
de Londrina, Londrina, 2007.

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