Você está na página 1de 5

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL

TÓPICOS ESPECIAIS EM SERVIÇO SOCIAL

GENERO E SEXUALIDADE

Docente: Marco José Duarte

Discente: Iolanda Lara de Oliveira Mendes Matrícula: 201419069

Texto: “Gênero”, para um dicionário marxista: a política sexual de


uma palavra, de Donna Haraway.

 A Autora

Donna Haraway nasceu em 6 de setembro de 1944, no Colorado, é uma


bióloga, filósofa, escritora e professora emérita estadunidense, no
Departamento de História da consciência, na Universidade da Califórnia. É
autora de diversos livros e artigos que trazem questões fundamentais para os
dias de hoje, como o feminismo.
 Resenha

Haraway (2004) traz inicialmente em sua discussão que recebera um


convite para a elaboração de uma “palavra-chave’’ para um novo dicionário
marxista. Segundo a autora, a necessidade da criação desse verbete
acompanha uma crítica em relação a algumas palavras em trabalhos de
referência, uma vez que as mulheres não aparecem onde deveriam. Haraway
(2004) salienta que um dos entraves para a tradução destes conceitos
perpassa pelas especificidades linguísticas e históricas que elas carregam. A
língua inglesa distingue sexo e gênero, o que não ocorre na língua alemã por
exemplo que os define como Geschlecht. Neste sentido, convida à reflexão de
que sua própria percepção acerca de sexo e gênero são marcadas por sua
raça, geração, gênero, classe e educação trazendo a problemática de uma
definição genérica.
A autora apresenta que em um primeiro momento pensou em
acompanhar o sistema de gênero e sexo os estudos feministas socialistas e
marxistas influenciados por Gayle Rubin. Entretanto, foi orientada a delinear a
palavra chave no tocante à obra de Marx e Engels e constatou que aqueles
que adotaram os trabalhos de Rubin partiram de variados interesses
acadêmicos e políticos que raramente integraram analiticamente raça,
sexo/gênero e classe. A autora ressalta que atualmente emerge a necessidade
de uma teoria que fuja dos binarismos. Sob essa perspectiva Haraway (2004)
aponta que trabalhará sua ideia e suas reconstruções a partir dos escritos das
feministas norte-americanas.
No tópico de definição da palavra-chave Haraway (2004) propõe que
gênero tem em seu significado nas diferentes línguas sentidos como gerar,
raça ou tipo, copular, espécie ou classe, categorias literárias e gramaticais.
Especificamente palavras modernas como Gender e Geschlecht são atribuídas
a conceitos relacionados a sexo e sexualidade. A autora ressalta que a
compreensão de gênero é central para as construções dos sistemas de
diferença, uma vez que sexo e gênero constituem o processo político do termo,
sob interferência de fundamentos médicos e literários, atualmente
questionados pelo movimento feminista. Haraway (2004) discute que os
debates raciais e sexuais mostram as opressões coloniais, racistas e sexuais
que perpassam a inscrição dos corpos e seus discursos. A autora demarca que
a própria história das palavras são obstáculos desta discussão nas teorias
marxistas.
No tópico “História – Articulação do problema nos escritos de Marx e
Engels” a autora aponta que em uma perspectiva crítica, o conceito de gênero
se estrutura no contexto dos movimentos feministas do pós-guerra ainda que
Marx Engels e seus herdeiros tenham oferecido recursos para as teorizações
acerca deste conceito. Sob essa premissa, os significados de gênero nascem
da discussão de Simone de Beauvoir e das condições sociais do pós-guerra,
buscando questionar a naturalização da diferença sexual, em qual âmbito for e
assim transformar estes sistemas históricos onde “homens” e “mulheres” são
socialmente determinados e posicionados hierarquicamente.
Haraway (2004) apresenta que abordagens marxistas tradicionais não
levaram a um conceito político de gênero, pois explicaram o lugar de
subordinação ocupado pelas mulheres foram minados pela divisão sexual do
trabalho, apoiado em uma heterossexualidade inquestionável e pela relação
econômica de propriedade como base de opressão das mulheres no
casamento.
Seguindo, temos a autora apresentando diversas obras de Marx e
Engels, inicialmente, em sua obra ‘’A Ideologia Alemã’’, é abordada a questão
da divisão sexual do trabalho, da divisão do trabalho no ato sexual – relação
heterossexual –, nos Manuscritos Econômicos Filosóficos (1844), Marx aborda
à relação entre homens e mulheres como “relações mais naturais entre seres
humanos”. Esta presunção perdura em sua outra obra, O Capital, neste existe
a sua inépcia de historicizar o trabalho das mulheres é incoerente. Em seus
trabalhos posteriores, o autor coloca a família numa posição central na história,
como o lugar no qual as divisões sociais emergem.
No tópico subsequente, ‘’ Problemas atuais – O paradigma da identidade
de gênero’’, Haraway (2004) apresenta as reformulações de Gênero, ela fala
que a construção de sentidos de sexo e gênero nas ciências da vida
normalizadoras, liberais, terapêutico-intervencionistas, empiricistas e
funcionalistas, especialmente nos Estados Unidos, abarcando profissões como
a psicologia, psicanálise, medicina, biologia e sociologia. Gênero foi
estoicamente designado como uma problemática individualista, dentro da
“incitação ao discurso”, à sexualidade era considerada uma característica da
sociedade burguesa, dominada por homens e racistas. Os conceitos de
“identidade de gênero” foram produzidos a partir de vários componentes, como
uma leitura instintualista de Freud; o foco na psicopatologia e somatologia
sexual.
Já no tópico ‘’ O sistema sexo-gênero’’, os problemas na década de 90
do século passado acerca do paradigma de identidade de gênero, temos outra
tendência da teoria e da política feminista, o sistema sexo-gênero, a partir de
apropriações feministas de Marx e Freud, pelo viés de Lacan e de Lévi-Strauss,
feitas por Gayle Rubin, na qual examinava o posicionamento das mulheres, a
“domesticação das mulheres”. A autora define ainda o sistema sexo-gênero
como sendo um sistema de relações sociais que transformava a sexualidade
biológica em produtos da atividade humana e tendo então como finalidade a
satisfação das necessidades sexuais específicas daí historicamente
resultantes. Para Rubin, os homens tinham direitos sobre as mulheres que elas
mesmas não possuíam sobre si, e sendo assim, para garantir a sua
sobrevivência material, como homens e mulheres não poderiam realizar o
trabalho um do outro, e para satisfazer as estruturas de desejo no sistema de
sexo-gênero no qual homens trocam mulheres, a heterossexualidade é
obrigatória. A heterossexualidade obrigatória é, portanto, ponto central na
opressão das mulheres, ‘’se o sistema de propriedade sexual fosse
reorganizado de tal modo que os homens não tivessem direitos absolutos
sobre as mulheres (se não houvesse troca de mulheres), e se não houvesse
gênero, todo o drama edipiano se tornaria uma relíquia. ’’
Concluindo, o que temos é a afirmação de Haraway de ser incumbência
das feministas contemporâneas descobrirem um lugar para esse sujeito social
diferente, que não se fixa em identidade pré-moldada. O proposito então é
favorecer para uma brecha na noção de qualquer sujeito como patrão. Não se
trata de acolher um comportamento de teorias não feministas da morte do
sujeito, pois no momento de emergência de falantes marcados por
raça/sexo/colonização essa atitude por vezes parece um regresso e uma nova
agência para a repressão de outros não apropriados. Por isso, em que pese
"gênero" ter sido erguido inicialmente como uma categoria para a descrição do
que significava "mulher", partindo da tese de Simone de Beauvoir de que não
se nasce mulher, a luta atual frente aos agentes, às memórias e aos termos
dessa tarefa é o ponto central da política feminista de sexo-gênero. Devem ser
historicizadas, portanto, as categorias de sexo, corpo, biologia, raça e natureza,
de modo a implodir, dentre outras generalizações, o perverso binômio em que
a natureza é imaginada e representada como cultura e o sexo como gênero.

Você também pode gostar