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NO 10 • ANO 6 • FEVEREIRO DE 2019

Roraima Amapá

Avaliação da transparência das informações ambientais na Amazônia


Pará
Amazonas ANA PAULA VALDIONES E ALICE THUAULT Maranhão

Nível federal
FIGURA 1.Acre
ÍNDICES DE TRANSPARÊNCIA ATIVA E PASSIVA
Rondônia LEGAL
PARA OS ESTADOS DA AMAZÔNIA
E ÓRGÃOS FEDERAIS Tocantins
88% 75%

0-20%
Mato
23% Grosso
33% 15% 0%
Transparência Passiva
Transparência Ativa

21-40% Roraima Amapá

41-60%

61-80%

81-100%
48% 55%
39% 83%
6% 78%
Amazonas Pará
Maranhão

15% Acre Roraima Amapá


Em 2018, 47% Rondônia 17% 42%

o índice médio de 6% 100% Tocantins


transparência ativa 56% 33%
0-20%
na Amazônia Legal foi apenas 28%. Mato Grosso
Transparência Passiva
Transparência Ativa

21-40%
O índice de transparência
Amazonas passiva Pará Maranhão
ficou em 53%. 41-60%
61-80%
Acre
DESTAQUES 81-100% 53% dos pedidos de informação realizados são
1. A transparência das informações ambientais é respondidos satisfatoriamente e dentro do prazo.
Rondônia Tocantins
fundamental para combater as práticas ilegais que 5. Ações como a abertura de bases de dados de órgãos
ameaçam a Amazônia brasileira. federais e Portais de Transparência Ambiental de
2. até
A disponibilização de informações chaves à sociedade agências estaduais contribuíram para a melhoria da
Mato Grosso
10% de 51 a 60%
potencializa a participação social e permite o transparência entre os anos de 2016 e 2018 e devem
controle
de das atividades públicas
11 a 20% e privadas.
de 61 a 70% ser replicadas.
Roraima Amapá
3. de
Contudo, na Amazônia as agendas de relevância
21 a 30% 6. O diálogo e a cooperação entre os órgãos
de 71 a 80%
ambiental têm um índice geral de transparência ativa ambientais e os usuários de informações
de 31
de apenas
a 40%28%. de 81 a 90% é necessário para priorizar dados a serem
4. de
As solicitações disponibilizados, melhorar a qualidade das
41 a 50% de informação aos órgãos estaduais e
de 91 a 100%
federais também não têm o retorno esperado. Apenas informações e ampliar seu uso.

Amazonas Pará Maranhão

Acre

Rondônia Tocantins
FEVEREIRO 2019

Introdução

A
transparência das informações ambientais é essencial para alcançar uma boa go-
vernança dos recursos naturais e combater as práticas ilegais que ameaçam a ma-
nutenção das florestas brasileiras. Na esfera pública, ela permite a comunicação
e colaboração entre os órgãos do executivo que autorizam e monitoram as atividades
produtivas e proporciona aos órgãos de controle e fiscalização uma maior agilidade no
cruzamento de informações. Além disso, a transparência é condição para o controle so-
cial das políticas ambientais e garante não só a integridade da gestão pública, mas tam-
informações ambientais na Amazônia

bém reafirma o caráter democrático e participativo dos espaços decisórios governamen-


Avaliação da transparência das

tais. O livre acesso às informações ambientais também é fundamental para a atividade


privada pois viabiliza o controle da cadeia, do financiador e fornecedor primário até o
consumidor final, assegurando a regularidade ambiental dos produtos comercializados.

No Brasil, a transparência é garantida por um extenso arcabouço legal que vai desde a
Política Nacional de Meio Ambiente (Lei n° 6.938/1981) e o estabelecimento da Lei de
Acesso à Informação (LAI) em 2011 até atos regulamentários, como decretos, portarias
e instruções normativas. Esses instrumentos legais proporcionam ao cidadão o direito
de acesso a qualquer documento ou informação produzidos ou custodiados pelo Esta-
do, desde que não estejam protegidos por sigilo.

Apesar do arcabouço legal existente, alguns estudos indicam a baixa implementação da


LAI em Estados da Amazônia1 e a insuficiente disponibilização de informações ambientais
no âmbito estadual e federal2. Esses resultados retratam, por exemplo, a dificuldade em se
acompanhar metas governamentais, como o compromisso de eliminar o desmatamento
ilegal assumido pelo Brasil em 2015, uma vez que os dados das autorizações de desmata-
mento ainda não são devidamente sistematizados e disponibilizados por todos os órgãos
ambientais responsáveis3. A disponibilização parcial de bases de dados como o Cadastro
Ambiental Rural e as Guias de Transito Animal impactam negativamente o desempenho dos
2 órgãos competentes e impossibilitam qualquer checagem mais detalhada quanto à regu-
laridade ambiental da cadeia da pecuária e possíveis ilícitos ambientais praticados. Assim,
os levantamentos sobre transparência de informações pelos órgãos de meio ambiente e
fundiários são fundamentais para visualizar os progressos necessários e auxiliar os Estados,
União e sociedade como um todo na resolução dos desafios para uma maior transparência.

Apresentamos a seguir a metodologia e os resultados da avaliação da transparência


das informações ambientais na Amazônia Legal, conduzida pelo Instituto Centro de Vida
(ICV) desde 2014. Destacamos um diagnóstico das definições legais para as informações
ambientais e fundiárias selecionadas, a avaliação das práticas de transparência passiva
(disponibilização a partir de pedidos específicos) e ativa (disponibilização online), além
de recomendações específicas para a melhoria da disponibilização das informações.

1. Borges, E. B. P. Transparência da governança florestal na Amazônia: uma análise de cumprimento da lei de acesso à
informação nos Estados. 2015.
2. Valdiones, A.; Thuaut, A. Transparência das informações ambientais na Amazônia Legal. Disponível em: https://www.icv.
org.br/wp-content/uploads/2017/04/transpar%C3%AAncia-ambiental-na-Amaz%C3%B4nia.pdf
3. https://www.oeco.org.br/blogs/salada-verde/governo-quer-diferenciar-desmatamento-legal-do-ilegal/.
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Metodologia

O
s três passos metodológicos adotados (Figura 2) visam construir uma aborda-
gem replicável centrada nas necessidades dos usuários. Essa metodologia permi-
te medir a transparência passiva e ativa e indicar necessidades de melhoria para
os gestores públicos responsáveis. A primeira etapa teve como objetivo identificar listas
de informações-chave a serem disponibilizadas. Essas listas foram desenvolvidas levan-
do em consideração as necessidades de cinco tipos de usuários de informação relevan-
tes para o controle ambiental (sociedade civil, órgãos do executivo, órgãos de controle,

informações ambientais na Amazônia


financiadores e setor privado) em seis agendas ambientais prioritárias para a Amazônia.

Avaliação da transparência das


Em seguida, 41 informações-chave foram validadas por 211 usuários em uma pesquisa
online realizada entre agosto e outubro de 20144.

A partir das informações validadas na pesquisa realizada em 2014, levantamos, entre


abril e novembro de 2018, a legislação existente e a disponibilização dessas informa-
ções pelos órgãos de meio ambiente e institutos de terras dos nove estados da Amazô-
nia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e
Tocantins) e pelos órgãos federais atuantes nos mesmos estados. Para isso, foi feita uma
análise dos websites de 35 órgãos estaduais e de 12 órgãos federais. Na sequência,
foram protocoladas 101 solicitações via sistemas eletrônicos de informação ao cidadão.

A última etapa do estudo consistiu em uma consolidação de índices de transparência


ativa e passiva para retratar a situação das práticas de disponibilização das informações

FIGURA 2 . FLUXOGRAMA DA AVALIAÇÃO DA TRANSPARÊNCIA

Etapa realizada em 2014 Etapas realizadas entre abril e novembro de 2018

3
© KEVIN AUGUSTINE LO / THE

© PHAM THI DIEU LINH / THE


NOUN PROJECT

NOUN PROJECT

1 2 3
Identificação das Levantamento Consolidação de índices
informações necessárias das práticas de transparência
Identificação de agendas Análise da legislação Disponibilização
prioritárias de controle Passiva
Teste dos canais de pedidos
ambiental
de informação Disponibilização Ativa
Mapeamento dos usuários • por estados
Análise da informação
de informações • por agenda
disponibilizada on-line
Validação com usuários das
informações necessárias ao
controle ambiental

4. O resultado detalhado da pesquisa online está disponível no http://www.icv.org.br/site/2014/11/17/


transparencia-dasinformacoes-ambientais-na-amazonia-episodio-1/
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por estado e por agenda. O índice de transparência passiva corresponde ao percentual


de pedidos de informações atendidos dentro do prazo estabelecido por lei em relação
aos pedidos de informação protocolados.

Já o índice de transparência ativa é o produto entre o percentual de informações dis-


ponibilizadas de forma rotineira e a qualidade da disponibilização das informações. O
primeiro percentual é calculado a partir das listas de informações validadas pelos usuá-
rios, enquanto o segundo é fruto de uma avaliação da periodicidade de atualização, do
detalhamento e do formato de disponibilização.
informações ambientais na Amazônia
Avaliação da transparência das

TABELA 1. CÁLCULO DOS ÍNDICES DE TRANSPARÊNCIA PASSIVA E ATIVA

ÍNDICE DE ÍNDICE DE
TRANSPARÊNCIA PASSIVA TRANSPARÊNCIA ATIVA
Disponibilização ativa das Qualidade da disponibilização
Percentual de pedidos informações X das informações
de informação Percentual de informações
Percentual de informações bem
atendidos / disponibilizadas / informações
disponibilizadas/ informações
protocolados necessárias para o controle
disponibilizadas
ambiental

Resultados
LEVANTAMENTO DA LEGISLAÇÃO SOBRE TRANSPARÊNCIA PASSIVA E ATIVA
NOS NOVE ESTADOS AVALIADOS

A análise da legislação relacionada à transparência ambiental nos nove estados permi-


tiu averiguar que a Lei de Acesso à Informação (LAI) já foi regulamentada em todos os
Estados da Amazônia. Também verificamos que se aplicam, nesses nove Estados, 28
4 normas federais e 41 normas estaduais que trazem pontos sobre a disponibilização de
uma ou mais informações validadas pelos usuários.

A Figura 3 ilustra o resultado desse levantamento, evidenciando que as 41 informações


validadas pelos usuários estão sujeitas à disponibilização via pedidos de informação,
uma vez que nenhuma está expressamente denominada como sigilosa na sua integrali-
dade. O levantamento mostra também que 28 dessas 41 informações estão claramente
denominadas quando se trata de obrigação de disponibilização ativa. Da mesma forma,
a legislação detalha apenas em 18 casos qual deve ser o formato de disponibilização,
em 16 casos a periodicidade de disponibilização, e em 15 casos o detalhamento neces-
sário. Apenas em 9 informações todos esses aspectos estão especificados em regula-
mentações federais ou estaduais.

A ausência de definições na legislação sobre a disponibilização de informações dei-


xa para o gestor a responsabilidade de escolher qual informação, qual tipo de dis-
ponibilização (ativa ou passiva) e com qual nível de qualidade a informação será
disponibilizada. Para não gerar incertezas, é necessário que os órgãos estaduais e
federais estabeleçam regulamentações (decretos, instruções normativas ou porta-
rias) que citem, especificamente, as informações a serem disponibilizadas e descre-
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FIGURA 3 . LEVANTAMENTO DAS DEFINIÇÕES LEGAIS REFERENTES À
DISPONIBILIZAÇÃO DAS INFORMAÇÕES AMBIENTAIS E FUNDIÁRIAS PESQUISADAS

0 1 2 3 4 5

Obrigação de CAR
disponibilizar LAR/LAU AP*
a informação via pedido
de informação Autorização de Desmatamento
Obrigação expressa Autex/PMF
de publicar
Guia Florestal/DOF
a informação
Monitoramento da Exploração Florestal

informações ambientais na Amazônia


Definições sobre
atualização Desmatamento PA, MT, PA* PA*

Avaliação da transparência das


MA*
Definições sobre Degradação
detalhamento
Autos de infração
Definições sobre
formato TAC/TC
* Definições legais Monitoramento de TAC/TC AM*
complementares
neste estado PRADA PA*

Embargos
Multas
Julgamentos
Programas e projetos de regularização fundiária
Requerimentos de regularização fundiária
Situação dos processos de regularização fundiária
Imóveis rurais titulados pelo Estado
Alienação de terras públicas do Estado
Assentamentos federais e estaduais
Terras devolutas e terras arrecadadas e matriculadas
Conflitos pela posse da terra
Unidades de Conservação Estaduais 5
Termo de Referência para a elaboração do Estudo de Impactos Ambientais (EIA)

EIA / Relatório de Impactos Ambientais (Rima)


Relatório da Audiência Pública
Licença – LP, LI, LO
Pareceres Técnicos de Licenças LP/LI/LO
Projeto Básico Ambiental – PBA
Parecer Técnico de Avaliação do PBA
Relatórios Semestrais de implementação do PBA
Outorga d’Água
Guia de transporte animal
Plano Anual de Outorga Florestal
Edital da Concessão Florestal
Contrato da Concessão
Monitoramento Público
Territórios Quilombolas
Terras Indígenas
Ocorrência Trabalho Escravo
FEVEREIRO 2019

vam, de forma precisa, a frequência de atualização, o detalhamento e o formato de


disponibilização. Para os órgãos federais, a Política de Dados Abertos, instituída em
20165, reforça princípios da LAI de garantia de acesso à informação, e estabelece
que os dados custodiados pela administração pública federal sejam publicados em
formato aberto, completo e atualizado. Ela também exige que os órgãos elaborem e
implementem seus planos para abertura de bases de dados levando em considera-
ção o interesse público das informações a serem disponibilizadas.

Apesar dos avanços, o governo federal mantém atos normativos contrários à transparência
ou que podem limitar o acesso à informação. É o caso da Instrução Normativa 03/2014 do
informações ambientais na Amazônia

Ministério do Meio Ambiente, que limita o acesso aos dados completos do CAR, e do De-
Avaliação da transparência das

creto 9.690/2019, que amplia o número de pessoas que podem classificar informações
como secretas ou ultrassecretas.

AVALIAÇÃO DA TRANSPARÊNCIA PASSIVA

De abril a novembro de 2018, testamos os Serviços Eletrônicos de Informação ao Cida-


dão dos Estados da Amazônia (E-SICs) para obter acesso às informações ambientais e
fundiárias. Os canais de atendimento digital funcionaram razoavelmente bem tanto em
nível federal quanto estadual. Recebemos respostas de grande parte dos pedidos com
um índice de retorno de 76% (Figura 4), o que significou aumento de 1% em relação
à avaliação de 2016. No entanto, quando consideramos apenas os pedidos atendidos
dentro dos prazos estabelecidos pela lei6, esse índice cai para 53%, sendo 12% menor
que o índice da avaliação anterior. Para esses pedidos, a média do prazo de resposta
foi de 11 dias. Para as solicitações que foram respondidas fora do prazo legal – 23% do
total enviado – o prazo médio para resposta foi de 42 dias.

FIGURA 4. PEDIDOS DE INFORMAÇÃO E RESPOSTAS

6 100%

Pedidos enviados: 101


76%
Pedidos respondidos: 77
53% Pedidos respondidos dentro do prazo: 54

Em 13% dos casos a resposta do órgão não se relacionava à pergunta enviada. Dentre
as respostas tidas como insatisfatórias, houve cinco pedidos negados sob argumento de
sigilo da informação solicitada, ainda que nenhum pedido solicitasse informações clas-
sificadas. O Estado com melhor retorno foi Rondônia, que respondeu a todos os pedidos
de informação dentro do prazo (Figura 5). O Amapá, apesar de ter respondido 70% dos
pedidos de informação, não atendeu aos prazos estabelecidos por lei, com média de 36
dias para atendimento das solicitações. Não houve resposta para 11% das solicitações.

5. Decreto Federal no 8.777/2016.


6. Segundo o Art. 11 da Lei 12.257/2011, caso o órgão ou entidade não consiga conceder o acesso imediato à informação,
ele tem até 20 (vinte) dias para atender ao pedido, prazo que pode ser prorrogado por mais 10 (dez) dias, se houver
justificativa expressa.
FEVEREIRO 2019
FIGURA 5. ÍNDICE DE TRANSPARÊNCIA PASSIVA NOS ESTADOS DA AMAZÔNIA
LEGAL E NOS ÓRGÃOS FEDERAIS
100%
100%
83%
80% 75% 78%

60% 55% 53%


47%
42%
40% 33% 33%

20%
0%
0
l l
Acr
e apá nas era hão rosso Par
á
ôni
a
nti
ns ima ra
Am azo Fed ran G d a Ror
a l Ge
Am Nível Ma Mato Ron Toc Tot
a

informações ambientais na Amazônia


Avaliação da transparência das
AVALIAÇÃO DA TRANSPARÊNCIA ATIVA

A análise dos websites dos órgãos estaduais e federais responsáveis pelo controle ambien-
tal e pela regularização fundiária demonstrou níveis variáveis de disponibilização e de qua-
lidade das informações ambientais. Isto resultou em um índice médio de transparência de
28%, representando um aumento tímido em relação ao índice de 24% aferido em 2016.
O índice de transparência dos órgãos federais continua o mais elevado (88%). Com uma
variação significativa do índice no último biênio (19%), os órgãos federais aumentaram o
número e a qualidade de informações disponibilizadas ativamente. Os Planos de Dados
Abertos desses órgãos foram instrumentos importantes para orientar a abertura de bases
dados chaves para o controle ambiental. Esse esforço foi realizado ao longo de 2018, prio-
rizando o interesse público para a disponibilização de informação e permitindo assim a
disponibilização de bases como a dos Documentos de Origem Florestal, gerida pelo Ibama.

Entre os nove estados, o Mato Grosso passou a liderar o ranking de transparência ativa
com índice de 56% (Figura 6). Essa liderança se deve ao lançamento de um Portal de
Transparência pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente, que disponibiliza um con-
junto de informações-chave para o controle ambiental com detalhamento e atualizações
adequados, bem como diferentes opções de formato, incluindo informações georrefe-
7
renciadas. É o caso, por exemplo, das informações do Cadastro Ambiental Rural (CAR),
disponibilizadas inclusive com as informações dos requerentes, assim como já era feito
no portal do Estado do Pará. Em contraposição, Rondônia foi o único estado que teve
queda na transparência ao longo do biênio, com uma redução de 9% em relação ao índi-
ce aferido em 2016. Isso porque as informações de licenças e autorizações ambientais
deixaram de estar disponíveis no site do órgão estadual de meio ambiente (Oema).

Quando analisamos a transparência ativa por agenda de uso dos recursos naturais, verifica-
mos que o índice médio máximo é 40%, referente a agenda de soja. Esse resultado ainda é
insuficiente para auxiliar mecanismos de monitoramento e rastreabilidade na cadeia produ-
tiva. A agenda com o menor índice de transparência continua sendo a de regularização fun-
diária (16%). A ausência de informações nos websites dos órgãos de terras, sobretudo dos
estaduais, impossibilitam o acompanhamento das políticas fundiárias pela sociedade, como
é reforçado em outros estudos7, limitando o controle social, a cooperação entre os diferentes
órgãos do Executivo e a atuação das agências de controle.

7. Transparência de órgãos fundiários estaduais na Amazônia Legal. Dário Cardoso Jr., Rodrigo Oliveira, Brenda Brito. –
Belém, PA: Imazon, 2018.
arência
Transparênci
41-60%
0-20%
Mato Grosso

Transparência
Transparência Ativa
21-40%

Passiva Passiva
61-80%

FEVEREIRO 2019
41-60%
81-100%
FIGURA 6. ÍNDICE DE TRANSPARÊNCIA ATIVA DAS INFORMAÇÕES NÍVEL MATO
LEGENDA FEDERAL GROSSO
61-80%
AMBIENTAIS POR ESTADO E AGENDA PRIORITÁRIA Disponibilização ativa 100% 93% 93% 100% 63% 63%
81-100% das informações
88% 100% 88% 43% 94% 40%
Qualidade da
disponibilização 100% 89% 89% 100% 81% 81%
das informações 100% 95% 95% 82% 74% 61%
23% 15%
Índice de 100% 71% 71% 44% 33% 15%
Roraima Amapá transparência 100% 93% 93% 100% 83% 83%
ativa
Total 98% 90% 88% Total 78% 72% 56%
Roraima Amapá Exploração
Florestal
ACRE PARÁ
Hidrelétrica
50% 42% 21% 77% 63% 49%
39% 48% 6% 43% 42% 18% 43% 100% 43%
Pecuária
Amazonas Pará Maranhão 27% 44% 12% 86% 72% 62%
Amazonas Pará Maranhão Regularização 33% 33% 11% 55% 67% 36%
ambiental
Total 38% 40% 15% 60% 50% 30%
Regularização 83% 80% 67%
fundiária
Acre AMAPÁ Total 67% 72% 48%
Acre
15% 6% 17% Soja 36% 75% 27%

informações ambientais na Amazônia


Rondônia Tocantins RONDÔNIA
Rondônia Tocantins 33% 0% 0%
Nível federal

Avaliação da transparência das


20% 0% 0% 13% 44% 6%
56% 20% 33% 7% 0% 67% 0%
atéaté
10%10% de
de51
51aa60%
60% Mato Grosso
Mato Grosso Total 27% 54% 15% 17% 44% 7%

de 11 a 20% de 61 a 70% 88% 10% 50% 5%


de 11 a 20% de 61 a 70%
AMAZONAS 20% 50% 10%
de 21 a 30% de 71 a 80%
de 21 a 30% de 71 a 80% Total 12% 51% 6%
86% 72% 62%
de 31 a 40% de 81 a 90% 83% 60% 50%
de 31 a 40% de 81 a 90% RORAIMA
de 41 a 50% de 91 a 100% 80% 67% 53%
de 41 a 50% de 91 a 100% 33% 22% 7% 57% 50% 29%
Total 71% 55% 39% 60% 50% 30%
Variação dos índices de transparência Índices de transparência ativa
33% 56% 19%
ativa entre 2016 e 2018 por agenda em 2018 Variação 2016-2018
MARANHÃO 56% 27% 15%
19% 19% Índice de transparência ativa
+2% por agenda em 2018 14% 33% 5%
Total 52% 46% 23%
16%
20% 33% 7%
12% +1% TOCANTINS
13% 33% 4%
26%
20% 17% 3% 57% 42% 24%
6% +5%
25% 33% 8% 21% 67% 14%
33%
2% Total 18% 30% 6% 50% 33% 17%
1% 1% 1%
0% +4%
40% 27% 11%
Nível MT AP RR PA AC TO MA AM RO 33%
Federal 38% 33% 13%
+7%
60% 33% 20%
34%
-9% Total 44% 39% 17%
+2%
40%

8
FEVEREIRO 2019

Recomendações

A avaliação mostrou um nível baixo de transparência das informações ambientais na


Amazônia tanto nas modalidades passiva quanto ativa. Isso dificulta o controle ambien-
tal e impõe limitações para a comprovação de legalidade para as cadeias de suprimento
do agronegócio e demais atividades econômicas.

Para sanar as falhas detectadas, é fundamental que os governos federal e estaduais priori-
zem iniciativas para ampliar a transparência, com atenção às seguintes ações prioritárias:
informações ambientais na Amazônia
Avaliação da transparência das

• Aprimorar a aplicação da LAI pelos Estados, através do estabelecimento de pro-


cedimentos efetivos de respostas aos SIC eletrônicos que cumpram os prazos de
atendimento previstos na legislação;

• Implementar processos que viabilizem o diálogo e a cooperação entre os órgãos am-


bientais e os diferentes usuários de informações ambientais e fundiárias, deixando
claro o interesse público na disponibilização de informações e priorizando a dispo-
nibilização das bases com maior potencial de uso pela sociedade como um todo;

• Estabelecer regulamentações que tragam expressamente a obrigação de dispo-


nibilizar as informações ambientais de interesse público, com definições sobre
a frequência de atualização, detalhamento e formato, bem como revogar atos
normativos contrários à transparência ou que possam limitar o acesso à infor-
mação, como a Instrução Normativa 03/2014 do Ministério do Meio Ambiente
e o Decreto 9.690/2019;

• Replicar abordagens exitosas de disponibilização de informações ambientais,


como os portais de transparência das Oemas do Pará e de Mato Grosso, com dis-
ponibilização inclusive das bases georreferenciadas e completas, e como os es-
9 forços dos órgãos federais de implementação de seus Planos de Dados Abertos.

Finalmente, para destravar o acesso às informações ambientais é essencial que haja o


reconhecimento claro por parte do poder público do papel da transparência no controle
ambiental e combate à ilegalidade. O entendimento claro das limitações do sigilo quan-
to às informações pessoais e de uso comercial da terra e dos recursos naturais permitiria
garantir o interesse coletivo de preservação do meio ambiente. Assim, em nome coletivi-
dade, é necessário que bases como Cadastro Ambiental Rural e Guias de Trânsito Animal
sejam disponibilizadas na sua integralidade, possibilitando o uso desses dados para
expor e inibir as práticas ilegais na Amazônia e nos demais biomas.

Transparência Florestal Mato Grosso : avaliação da transparência das informações Agradecimentos: Agradecemos a Paula
ambientais na Amazônia / Ana Paula Valdiones, Alice Thuault. Ano 6, n. 10 (fev.
Bernasconi pelas contribuições e a
2019). – Cuiabá: Instituto Centro de Vida, 2019. v. : il. ; 27 cm.
Gisele Neuls pela revisão editorial.
Semestral
ISSN 1984-9826
1. Direito à informação. 2. Gestão florestal - Amazônia. I. Valdiones, Ana Paula. II.
Thuault, Alice. APOIO
CDU 504

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