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Resumo
Palavras-chave
Abstract
Popular festivities make part of the popular imaginary, specially, in the Northwest.
This article intends to register the Priest Cicero pilgrimage festivity, of Juazeiro do Norte
city, located in Cariri, in the south of the State of Ceara, to study the nature of the popular
festivities identifying the comunication processes that decide how a culture space of
entertainment and is at same time, a "civic celebration".
key-words
Popular festivities, comunication, devotion.
1. Introdução
Estudar a natureza das festas populares é o objetivo do IV Folkcom – Conferência
Brasileira de Folkcomunicação que tem como intenção explorar o dinamismo que constitui
alguns elementos do folclore brasileiro. Este artigo pretende registrar a festa popular a
partir das romarias do Padre Cícero – da cidade de Juazeiro do Norte, região do Cariri, no
sul do Estado do Ceará – estudar a natureza das festas populares, identificando os
1
Jornalista, doutoranda em Comunicação Social, UMESP. Profa. de Comunicação, FAE.
2
Segundo João Pedro (2001, p.6) “(...) a exposição mostra um pouco dessas festas,
muito ligadas à religiosidade e que não morrem jamais”. Esse sentido “imortal” da festa
popular caracteriza a necessidade social que está muito representada em cada rito, seja uma
festa religiosa – do padroeiro –, ou profana – do carnaval.
As romarias do Padre Cícero representam mais do que uma religiosidade em si, mas
também um grande caráter festivo e divertido. Por traz da manifestação religiosa, o povo
nordestino também comemora, de maneira lúdica, sua devoção ao “santo” querido.
Padre Cícero nasceu na cidade do Crato, sul do Ceará, em março de 1844, no dia 24,
inclusive, uma data muito especial e comemorada pelos romeiros. No natal de 1871, após a
conclusão de seus estudos e ordenação, Padre Cícero é convidado pelo Prof. Semeão
Correia de Mâcedo para visitar o povoado de Juazeiro – distrito que pertencia à cidade do
Crato. No povoado, Padre Cícero celebrou a tradicional “missa do galo”. Em 1972, 11 de
abril, Padre Cícero fixa residência no povoado de Juazeiro. A partir daí, inicia-se o trabalho
pastoral e político de um dos maiores mitos do Nordeste brasileiro.
2. Os processos comunicacionais
2.1– A festa popular
A festa popular apresenta uma natureza muito complexa, mas a partir de uma
reflexão sobre o conceito de “frentes culturais” no sentido de observar os “espaços sociais,
entrecruzamentos e formas de relações sociais não especializadas, onde luta ou se vem
lutando pelo monopólio legítimo da construção e reconstrução semiótica (modulação e
modelação) de determinados elementos culturais transclassistas” (GONZALES, 1994, P.
82), podemos entender como a questão comunicacional permeia as festas populares.
As romarias do Padre Cícero sempre são notícias nos principais jornais do Estado,
como fonte de renda e atividade econômica da cidade de Juazeiro do Norte. O destaque, às
vezes, não está no caráter religioso da festa, mas o grande evento comercial que a festa
adquiriu atualmente:
Todos estes elementos são atrativos ao comércio e à mídia. Portanto, surge uma teia
complexa de relações e interesses, do qual participam também o Estado e a questão política
local. Como o poder político é responsável pelo espaço público onde se realizam as festas
populares, muitas vezes, não só a questão da segurança, mas também o sucesso e a
organização da festa dependem muito do apoio da política local. Neste sentido, os políticos
da situação, como prefeitos e deputados estaduais aproveitam para se promoverem,
politicamente, diante da população. As influências de um político junto à comunidade
extrapolam o caráter significativo e festivo da manifestação cultural. Em muitas cidades do
interior do Nordeste, em época de eleição, muitos candidatos oferecem caminhões – “paus-
de-arara”, ônibus e caminhonetes de graça para aqueles que desejam ir às romarias de
Juazeiro. Ou então, depois de eleito, oferecem transporte gratuito como pagamento de
promessa. Assim, as oligarquias se perpetuam através de muitas ações, inclusive, nas festas
populares.
2.2 – A religiosidade
O sertão nordestino, em fins do século 18 e início do século 19, foi um campo fértil
para o surgimento de líderes religiosos. Padre Cícero, ao instalar-se no povoado de
Juazeiro, encontra um lugar propício para seu desenvolvimento pastoral e político.
2.3 - As romarias
Todo ano 1,2 milhão2 de pessoas visitam Juazeiro. A maioria são nordestinos que
chegam de pau-de-arara ou a pé. Muitos hospedam-se nos 427 ranchos da cidade – casarões
com banheiro coletivo e redes com capacidade para até 500 pessoas. Os turistas pagam de
R$ 5 a R$ 10 por três dias, e seu roteiro inclui o túmulo do padre, a Capela do Socorro, o
memorial ao padre e uma estátua de 27 metros erguida em sua homenagem. Embora a
Igreja não o tenha canonizado, Padre Cícero para eles é santo.
O Ceará revelou sua religiosidade ao eleger como Cearense do Século, padre Cícero
Romão Batista, com quase 1 milhão de votos, seguido do industrial Edson Queiroz, com
diferença de 9,08%. A campanha da Rede Globo e TV Verdes Mares disponibilizou 44
urnas em todo o Estado, em 20 dias de participação efetiva, na Capital e no Interior. Ao
todo, foram 1.694.930 votos, sendo 38,78% para o vencedor 3. A lista com outros mais oito
nomes foi sugerida por representantes de 18 entidades cearenses ligadas à cultura popular,
política, economia, literatura, religião, educação, magistério e medicina. A escolha foi feita
através de votação entre membros e dirigentes das instituições. O mesmo processo foi
desenvolvido em todos os estados brasileiros, com o objetivo de homenagear brasileiros
ilustres que contribuíram para o desenvolvimento do País.
Juazeiro do Norte muda muito na época das datas festivas. No dia de comemorar a
festa de Nossa Senhora das Candeias – ocasião em que Juazeiro, de ruas calmas e ar
brejeiro, de casas de apenas um andar, de bucólicas praças – a cidade rende-se ao
movimento frenético de centenas de milhares de pessoas. Luxuosos ônibus de turismo até
velhos caminhões “paus-de-arara” passam a transitar por todo município. “São grupos e
mais grupos de romeiros, de vendedores ambulantes e pedintes. Na maioria, gente que
passou a vida toda em longínquos vilarejos e que, chegando a Juazeiro, sente-se ao mesmo
tempo encantada e perdida na ‘grandiosidade’ desta cidade. E muitos se perdem mesmo!
Ficam horas perambulando boquiabertos (ou apavorados) procurando os seus ‘ranchos’, os
cortiços onde se apinham os peregrinos a preços módicos” (VELOSO, 2001, p. 6).
“esquecem da enxada, da terra dura e seca, das agruras, do sol calcinante, e partem em
busca do místico, do sobrenatural. Do alento para suas vidas. Um sorriso para suas faces
enrugadas. É esta confiança cega em dias melhores que faz toda a magia de Juazeiro”
((VELOSO, 2001, p. 7).
Nesta época de festa em Juazeiro, todos estão protegidos e desde o alto, na serra do
Horto, por este santo popular, beatificado não pelo Vaticano, mas pela fé de um povo.
Segundo Veloso (2001) a festa das Candeias representa a festa das luzes:
“´A luz que mais alumeia´”, segundo o canto dos romeiros do Padre Cícero.
A luz das velas que acendem (ou ascendem) pedidos ao céus. A luz que traz
o calor nas noites frias. Romeiros e suas velas plantadas no chão da Praça
da Igreja do Socorro. Pontinhos de luz na escuridão da noite marcando para
Deus, que do alto tudo e a todos observa, as suas presenças ora iluminadas
na Terra. Como se cada um suplicasse ‘olhe aqui para baixo’!, ‘olha para
mim’!.
3. Conclusão
O estudo das festas populares é muito importante para a produção cultural brasileira.
É neste campo que podemos destacar os elementos comunicacionais e seus processos. Esta
reflexão busca registrar os processos comunicacionais que estão inseridos nas festas
populares, que muitas vezes, são desconsiderados por muitos pesquisadores.
4. Bibliografia