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Reflexões sobre a Ceia do Senhor

Quando ouvimos a expressão “com o coração limpo e sem pecado” como


pressupostos básicos para alguém participar da Ceia do Senhor, parece uma
afirmação absurda, porque a própria Bíblia nos informa que “Se dissermos que não
temos pecado nenhum, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós”.
(1 Jo 1.8, mas logo adiante também nos diz: “Se confessarmos os nossos pecados,
ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”. (1 Jo
1.9). Por isso, a expressão está carregada de significação de arrependimento, de
indignidade diante do que ceia representa, e não deve ser entendida como um
elemento de presunção ou falsa santidade. O que essa expressão evoca é a
sinceridade.

A informação que recebemos é que a igreja primitiva possuía atitudes de destaque,


atitudes espirituais sem afetação de superioridade, ou intenções de caráter meritório.
Suas práticas caracterizavam-se pela comunhão, alegria e singeleza de coração: “E,
perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam
com alegria e singeleza de coração”. A recomendação de Paulo aos colossenses
invoca o princípio da humildade diante do Senhor e a sinceridade do coração (At
2.46): “...não servindo somente à vista como para agradar aos homens, mas em
singeleza de coração, temendo ao Senhor”. (Cl 3.22). O termo “singeleza” é um
substantivo feminino, que está conectado com o adjetivo “singelo”, que segundo o
dicionário significa “Sem ornamentação ou enfeites; Que não há complicações;
fácil; Que não sofreu influências ou não foi corrompido; puro. Que não possui
malícia; ingênuo”. Assim, não é nenhum absurdo imaginar alguém buscando estar
diante de Deus com “singeleza” e reconhecendo sua pecaminosidade, e se
oferecendo como “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rm 12.1). Essa deve
ser a intenção de qualquer um que se aproxime da mesa da comunhão com Cristo.

A ideia de pedir perdão apenas em vista da iminência do culto de ceia, não tem
fundamento bíblico, pois o arrependimento deve ser constante, sendo a motivação
do participante a obediência e gratidão ao Senhor e não qualquer mecanismo de
suposto escape circunstancial.

Obviamente, a Ceia não é um ritual vazio, nem transmite graça a ninguém, também
não está impregnada de associações místicas. A Ceia não deve ser tratada com
extremismos, pois seu objetivo primordial é nos conectar com a lembrança do
sacrifício de Jesus no calvário e nos remeter à herança escatológica que recebemos.
Por isso, o equilíbrio deve permear nossa relação com essa ordenança .

Pr. Carlos Azevedo

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