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junho 8, 2019
João Grilo é o pobre que não adere aos favores dos poderosos; a seu
modo, ele sempre resiste. Por outro lado, é pelo favor que se pautam as
relações entre o clero e os ricos donos da padaria. Quando ele revela
que o padre teria abençoado a cachorra de Antônio de Morais, mas não
a deles, a mulher do padeiro argumenta que seu marido é “presidente da
Irmandade das Almas”, uma espécie de fiador último da justiça, da moral
e dos bons costumes das famílias de bem. Assim, se o padre não
abençoar a cachorra, o marido não só se demitirá do cargo como não
enviará um só pão para a irmandade; acresce à isso que não contribuirá
com as obras da igreja e confiscará até mesmo a vaquinha, emprestada à
igreja para fornecer leite. Essas justificativas reunidas terminam por
convencer o padre de que é preciso enterrar a cachorra – nessa altura já
morta sem ser abençoada – para que se faça cumprir o testamento do
“nobre animal”.
Alguém já disse que, no Brasil, é o favor que instiga e orienta, ponto por
ponto, a incestuosa prática do compadrio, da exceção à regra e da
cultura que fomenta e remunera o interesse privado. Na obra de
Suassuna, ainda que relações dessa natureza sejam reproduzidas pelo
bispo, pelo padre e pelo padeiro, ela não é integralmente aceita e
reproduzida por João Grilo. Ao contrário, ele se insurge contra o major e
leva o religioso da vez a ofender sua esposa. Ao invés de “praticar a
dependência” ao representante do poder naquele momento, Grilo o
enfrenta. Ele não reproduz “a cultura do interesse privado” de
subserviência aos poderosos, mas alinhava atos de resistência como
recurso político praticado por um pobre que, a seu modo, é crítico do
poder dominante.
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