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Volume 9 | Número 2
Agosto de 2020
Revista da Estrutura de Aço | Volume 9 | Número 2
ARTIGOS
Estudo térmico de pilares mistos de aço e concreto de
seção circular em situação de incêndio
Natan Sian das Neves, Macksuel Soares de Azevedo,
Carlito Botazini Barcelos Filho, Valdir Pignatta e Silva e Igor Pierin
122
141
161
182
Revista da Estrutura de Aço | Volume 9 | Número 2
202
222
Recebido: 26/10/2018
Aprovado: 13/08/2019
Volume 9. Número 2 (agosto/2020). p. 122-140 - ISSN 2238-9377
Revista indexada no Latindex e Diadorim/IBICT
carlito.botazini@gmail.com
4 Professor Doutor do Departamento de Engenharia de Estruturas e Geotécnica
Abstract
This research focuses on the temperature increase of concrete-filled tubular steel columns
subjected to fire, with the objective to investigate the influence of temperature increase on
parameters related to steel-concrete composite tubular columns. The analyses performed are
numerical, by means of the Finite Element Method, implemented with a software developed in
MATLAB environment, named NASEN. The numerical models elaborated were validated with
experimental data obtained from the literature, and with the computer program ATERM. Results
indicate that temperature distribution on steel and concrete are dependent on parameters such
as the volume of each material, since they present different thermal properties. When
compared with hollow steel tubular columns, the composite section is shown as an effective
alternative for decreasing overall temperature on the structural element.
Keywords: composite columns, fire, temperature, finite element method.
* autor correspondente
1 Introdução
Ainda de acordo com Santos (2009), se comparado ao concreto, o aço possui elevada
condutividade térmica e elementos com seções transversais mais esbeltas, provocando
maior taxa de aquecimento e, consequentemente, uma redução mais acentuada na
resistência e no módulo de elasticidade do material. Porém, quando os elementos
estruturais de aço são utilizados com revestimento contra fogo (argamassa projetada,
mantas, tintas intumescentes, entre outros) eles melhoram seu comportamento
quando submetidos a elevadas temperaturas.
Santos (2009) conclui que a associação dos materiais aço e concreto na forma de pilares
mistos, garante à estrutura um maior tempo de exposição às ações térmicas, comparado
aos mesmos elementos constituídos desses mesmos materiais utilizados
separadamente. Quanto ao elemento de aço do pilar misto, o concreto absorve calor
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fazendo com que a elevação de temperatura nesse material ocorra de forma menos
intensa.
Segundo Costa (2005), pilares mistos de aço e concreto preenchidos mantêm sua
capacidade de carga por um logo período de exposição ao incêndio, inclusive quando
comparados aos pilares mistos totalmente ou parcialmente revestidos por concreto. Os
pilares mistos preenchidos, quando submetidos à ação térmica, reduzem ou mesmo
evitam o fenômeno chamado spalling, devido ao confinamento imposto pelo tubo de
aço.
Nos últimos anos, o uso de estruturas mistas e em particular o uso de pilares mistos
preenchidos se tornou mundialmente popular em edifícios altos e construções
industriais por se mostrar uma boa solução para situações de incêndio. A escolha por
esse tipo de pilar também é justificada pela estética, rápida construção e alta capacidade
portante à temperatura ambiente e em situação de incêndio. Tendo em vista a
importância dos elementos estruturais resistirem aos efeitos do fogo por um período de
tempo suficiente para que a desocupação da edificação seja de forma segura,
diminuindo ou até mesmo impedindo que ocorram danos patrimoniais e humanos,
estudos voltados a esse tema têm sido realizados por pesquisadores ao redor do mundo.
Zha (2002) usou o Método dos Elementos Finitos para determinar a resistência ao fogo
dos pilares mistos preenchidos, submetidos ao incêndio por todos os lados, tendo em
vista que com o desenvolvimento do Método dos Elementos Finitos é possível prever
com maior precisão o colapso dos pilares a altas temperaturas. O cálculo da resistência
ao fogo para os pilares mistos envolveu a determinação da distribuição da temperatura,
a deformação dos elementos (expansão e compressão) e a redução na resistência em
resposta à elevação da temperatura.
A análise dos resultados indicou proximidade dos resultados com os calculados por meio
da EN 1994-1-2 (2005), via Método Tabular, sendo o colapso causado principalmente
pela instabilidade global. A variação do diâmetro indicou que, quanto maior a seção,
maior a resistência ao incêndio. Em contrapartida, o aumento da espessura do tubo
resulta na diminuição da sua resistência ao incêndio. Também se concluiu que o colapso
é causado pela combinação da redução das propriedades dos materiais devido à
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elevação da temperatura e, consequentemente, à perda da capacidade resistente na
região exposta ao incêndio e da instabilidade do elemento.
Foi observado nos experimentos que inicialmente o tubo de aço começa a expandir
axialmente, passando a absorver a maior parte da força aplicada, fazendo com que a
tensão de compressão no núcleo de concreto diminua. Posteriormente, com o aumento
da temperatura, o aço começa a apresentar instabilidade local e o carregamento é
gradualmente transferido para o concreto. Em um estágio final de carregamento, o
perfil de aço não consegue mais confinar o concreto e a amostra rompe geralmente de
forma brusca.
Um modelo de análise numérica não linear foi desenvolvido para predizer a resistência
ao fogo de pilares mistos de aço preenchidos com concreto. Yin et al. (2006) concluem
que a capacidade resistente do pilar misto exposto ao fogo depende da espessura do
tubo de aço. Nesse caso, quanto menor a espessura do tubo, maior é a capacidade
resistente do pilar.
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Pires et al. (2012) investigaram experimentalmente o comportamento de pilares mistos
tubulares circulares com restrições térmicas, axial e rotacional. Foram analisados
parâmetros relevantes que influenciam na resistência dos pilares, sendo eles: esbeltez
e diâmetro dos pilares; nível de carregamento; rigidez da estrutura envolvente que
impõe restrições térmicas; porcentagem de aço da armadura do concreto e a relação
aço-concreto.
Nos ensaios realizados foi observado que o tempo crítico dos pilares mistos não sofre
grande influência da restrição do pilar, porém, observou que quanto maior a taxa de
concreto na seção transversal do pilar, menores são as forças de restrição. Parâmetros
como nível de carregamento e esbeltez do pilar são fatores que exercem bastante
influência na resistência ao fogo dos pilares mistos, sendo que, um maior carregamento
e uma maior esbeltez diminuem a resistência ao fogo do pilar. Quanto ao nível de
armadura do concreto, foi verificado que o uso de barras de armadura aumenta
consideravelmente o tempo crítico do pilar, ou seja, aumenta a resistência ao fogo.
Pires et al. (2012) encontraram como critério de falha dos pilares mistos a instabilidade
global, apesar de em casos críticos ter ocorrido a instabilidade local.
126
1.1 Objetivo
O objetivo deste artigo é apresentar análise térmica de pilares mistos de aço e concreto
de seção circular preenchidos em situação de incêndio, ou seja, verificar a evolução da
temperatura no elemento estrutural quando esse é submetido a uma carga térmica. A
partir da análise térmica, busca-se observar a influência dos volumes de aço e concreto
na evolução da temperatura, assim como comparar os resultados numéricos para pilares
mistos aos resultados numérico e analítico para pilares de aço, sendo esse último obtido
a partir da formulação da ABNT NBR 14323(2013).
Os dados experimentais utilizados para a validação foram obtidos por Pires (2013) em
ensaios de pilares mistos de aço e concreto com restrições axial e rotacional em situação
de incêndio. O programa experimental foi realizado no Laboratório de Ensaios de
Materiais e Estruturas da Universidade de Coimbra, em Portugal. O objetivo principal foi
verificar a influência de alguns parâmetros na resistência ao fogo dos pilares mistos
quando submetidos a altas cargas térmicas.
Todos os corpos de prova ensaiados foram fabricados com perfis de aço de seção tubular
circular, de aço S355, com dois diferentes diâmetros externos, 219,1 mm e 168,3 mm,
ambos com 6,0 mm de espessura. Concreto de classe C25 e C30 foram utilizados na
fabricação dos corpos de prova.
Os pilares mistos ensaiados possuíam comprimento total de 3,0 metros, porém somente
os 2,5 metros centrais eram diretamente expostos ao aquecimento do forno. Nas
extremidades superior e inferior do pilar, foram previstas placas de aço com furos, a fim
de permitir a liberação do vapor de água proveniente do concreto no momento do
aquecimento. O modelo do ensaio foi composto principalmente por um pórtico que
simula as restrições provenientes da estrutura envolvente ao pilar, um forno para
simular o incêndio e aparatos de medição de carga e temperatura.
127
Figura 1 – Dimensões do pilar ensaiado e posição dos termopares. Adaptado de Pires
(2013)
O aquecimento do pilar ocorre por meio de um forno modular composto por três
módulos, dois com 1 m de altura e outro de 0,5 m de altura. Os módulos foram
superpostos um ao outro formando uma câmara de 1,5 m x 1,5 m x 2,5 m em volta dos
elementos ensaiados. O forno aquece os elementos por meio do calor gerado pelas
resistências elétricas distribuídas nas quatro paredes do mesmo. Cada módulo possui
uma fonte de alimentação individual, de forma que o calor gerado por cada segmento
do forno pode ser controlado separadamente.
No total, Pires (2013) ensaiou 40 corpos de prova, onde oito eram de pilares mistos
totalmente preenchidos. Nos testes realizados com os pilares mistos haviam variações
de dois diâmetros; dois carregamentos centrados e dois níveis de restrições axial e
rotacional. Visto que o presente artigo corresponde a um estudo térmico, a única das
variações citadas que influenciam no gradiente térmico é o diâmetro dos tubos.
3 Análise térmica
A simulação numérica nesta pesquisa é realizada com módulo específico para análise
térmica em situação de incêndio por meio do programa computaconal NASEN/TA-FIRE
(Numerical Analysis System for Engineering/Thermal Analysis - Fire), cujas rotinas de
programação foram implementadas em Matlab (2015). O programa tem como base o
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método de elementos finitos e é utilizado para efetuar análise térmica de estruturas em
domínios bidimensionais de qualquer geometria e material em regime transiente.
Permite também considerar a inserção de curvas de incêndio padrão, experimentais ou
qualquer função de descreva a temperatura dos gases quentes ao redor da estrutura.
Neste contexto, com base na solução da equação da difusão de calor bidimensional,
aplicando os procedimentos numéricos de elementos finitos de Galerkin (REDDY;
GARTLING, 2010), é possível determinar as temperaturas em cada instante de tempo
conforme Eq. (1).
C C
K n1 (1 )K n (1 )Fn Fn1 (1)
t t
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A propagação da temperatura da face externa do tubo de aço para o seu interior ocorre
por condução, de modo que a temperatura do aço se transfere para o núcleo de
concreto pelo acoplamento dos nós do aço e do concreto que estão em contato na
interface dos dois materiais. Nesse caso, a mesma temperatura identificada no nó do
elemento de aço é imposta ao nó do elemento do concreto, então a propagação da
temperatura da face externa do núcleo de concreto para o seu interior também ocorre
por condução. A Figura 2 mostra a malha na seção transversal do modelo proposto, com
destaque para os nós acoplados na interface aço e concreto.
Figura 2. Malha do modelo, destaque aos nós acoplados na interface aço e concreto.
130
ponto externo do tubo de aço, ponto T1, e no ponto central do núcleo do concreto,
ponto T4.
Nos ensaios realizados por Pires (2013), dois diâmetros de tudo de aço foram utilizados,
sendo um com diâmetro de 168,3 mm e outro com 219,1 mm, ambos com espessura da
parede de 6 mm.
131
O mesmo resultado é apresentado na Figura 5 para o pilar misto com diâmetro de 219,1
mm.
132
específico adotados neste trabalho foram os normatizados que podem não coincidir
com os valores reais do ensaio, acarretando em possíveis desvios nas soluções. Além
disso, outro parâmetro importante e significativo para análise térmica de estruturas com
concreto é o fenômeno de migração de umidade, ou seja, ao longo do aquecimento do
elemento ocorre a evaporação da água no interior do concreto, acarretando em uma
distribuição não uniforme de umidade.
5 Estudo Paramétrico
133
destacar que quanto maior o diâmetro do pilar misto e mantendo-se a mesma espessura
da parede de aço, o volume de concreto aumenta.
Quando observadas as curvas nos pontos T4 dos pilares, percebe-se que a influência
exercida nas temperaturas alcançadas no núcleo de concreto é considerável. O
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fenômeno de condução de calor para o interior do pilar ocorre da mesma forma para
pilares com grandes diâmetros e pequenos diâmetros, porém em pilares mais robustos
o calor atinge o núcleo do concreto em tempo maior do que aquele que atinge em
pilares mais esbeltos. Dessa forma, para um mesmo tempo de incêndio, a temperatura
no núcleo de concreto é, como se esperava, maior em pilares mistos mais esbeltos.
Percebe-se pela análise dos gráficos que o volume de aço tem baixa influência na
temperatura alcançada no ponto da face externa do tubo de aço. Porém, nota-se que
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quanto maior a espessura do tubo, menor é a temperatura final nesse ponto. Um
volume de aço maior exige um tempo maior para ele se aquecer, dessa forma resultando
em uma temperatura menor.
Ao contrário do que ocorre com a variação do volume de concreto, o volume de aço não
apresenta grande influência na variação de temperatura no núcleo. Apesar de as
diferenças não serem muito grandes, é possível perceber um aumento de temperatura
no ponto central do pilar misto à medida que área de aço aumenta, porém isso é devido
ao menor volume de concreto, e não ao volume de aço.
A curva obtida pela ABNT NBR 14323:2013 se aproxima da curva obtida para os pilares
de aço. Ambas se distanciam das curvas de temperatura versus tempo para os pilares
mistos. Isso demonstra que o contato do concreto com o tubo de aço no elemento
misto, torna a temperatura do aço menor quando comparado a um tubo de aço isolado.
136
Figura 8 – Comparação da evolução da temperatura com a ABNT NBR 14323:2013.
137
6 Conclusões
O segundo parâmetro foi o volume de aço, onde ele demostrou exercer mais influência
na temperatura alcançada no aço, ou seja, o oposto do que ocorre com o volume de
concreto. Quanto maior a área de aço e consequentemente o volume de aço, menor é
a temperatura na face externa do pilar.
Também foram modelados pilares de aço, ou seja, não preenchidos com concreto e os
resultados térmicos obtidos foram comparados aos obtidos para os pilares mistos.
Também foram obtidos resultados analíticos segundo a ABNT NBR 14323:2013 para
pilares de aço a fim de comparação aos resultados numéricos para pilares mistos de aço
e concreto.
A partir dessa comparação foi possível concluir que há vantagem no uso do sistema
estrutural misto, ao menos no que se refere à diminuição da temperatura no elemento
estrutural. Como as temperaturas para um mesmo instante de tempo são sempre
menores para os pilares mistos do que para os pilares de aço, resultando em menor
perda das propriedades dos materiais, há indícios, como exposto por Santos (2009), que
o comportamento estrutural dos pilares mistos em situação de incêndio é melhor que
os pilares de aço. Salvo uma análise termestrutural precisa, o que não foi objeto deste
138
artigo, sabe-se que, a altas temperaturas, o tubo de aço tem sua resistência mais
reduzida do que o núcleo de concreto. Assim, se o pilar misto tem uma capacidade
resistente maior do que a do tubo sem concreto à temperatura ambiente, o mesmo
ocorrerá a altas temperaturas.
7 Agradecimentos
8 Referências bibliográficas
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Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, SP.
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ZHA, X. (2002). FE analysis of fire resistance of concrete filled CHS columns. Journal of
Constructional Steel Research. vol. 59, p. 769–779.
140
Recebido: 21/05/2019
Aprovado: 25/08/2019
Volume 9. Número 2 (agosto/2020). p. 141-160 - ISSN 2238-9377
Revista indexada no Latindex e Diadorim/IBICT
Abstract
This paper aims at investigating the welded circular hollow section T-joint (CHS-T) resistance under
axial tensile and compression loads in the brace and subjected to elevated temperatures.
Simulations in finite element models were performed and the results compared to the calculation
values obtained through the design equations of current technical standards, replacing the yield
stress at ambient temperature by those reduced to elevated temperatures. The deformation limit
criterion of 3% of the chord diameter and the ultimate load of the joint were considered. The
influence of the geometric parameters on the joints resistance was investigated. It was concluded
that the use of the equations is only advisable for the case in which the brace is subjected to tensile
stresses considering the ultimate load as calculation value.
Keywords: Welded Circular Hollow Section; Finite Element Method; Elevated Temperature.
* autor correspondente
1 Introdução e Objetivos
Estruturas tubulares de aço soldadas são largamente utilizadas na construção civil devido a
diversas características, dentre as quais estão a agilidade no processo construtivo, precisão
dimensional, a capacidade de vencer grandes vãos e propriedades mecânicas relevantes
como, elevados módulo de elasticidade, resistência ao escoamento, cargas de pico e
resistência à ruptura, condições normalmente exigidas em estruturas de pontes,
coberturas, plataformas offshore e estádios dentre outras. Entretanto, segundo Tan et al.
(2013), devido às possíveis descontinuidades de seção geométrica e da complexidade da
distribuição das tensões em suas ligações, estas exigem atenção, principalmente quando
submetidas a altas temperaturas, porque as propriedades do aço, como o módulo de
elasticidade e resistência ao escoamento, tendem a reduzir com o aumento de calor.
142
influência dos parâmetros geométricos β, γ e τ – Figura 1. Finalmente, mais
recentemente, Ozyurt et al. (2014) estudaram a resistência a elevadas temperaturas de
ligações tubulares circulares (CHS) e tubulares quadradas (SHS) submetidas a cargas
axiais de tração e compressão no montante.
O trabalho de pesquisa reportado neste artigo, o qual pode ser entendido como uma
continuação de trabalhos anteriores (e.g., Seruti et al., 2015), tem como objetivo
investigar o comportamento de ligações tubulares circulares (CHS) soldadas tipo T
conforme apresentado na Figura 1 sob cargas axiais de compressão e tração no
montante e submetidas a altas temperaturas (Seruti, 2018). Adicionalmente, pretende-
se verificar a aplicabilidade e eventuais modificações das curvas de dimensionamento,
presentes nas normas técnicas vigentes e aplicáveis para temperaturas ambiente, para
os casos com temperaturas elevadas.
2 Metodologia
As resistências obtidas nas análises numéricas pelos dois critérios foram comparadas
àquelas obtidas com as equações das normas técnicas NBR 16239 (ABNT, 2013),
143
Eurocode 3 (EN 1993-1-8, 2005) e ISO 14346 (2013) para a temperatura ambiente,
substituindo a resistência ao escoamento por aquelas com valores reduzidos devido ao
aumento de temperatura.
Nas análises estacionárias desenvolvidas são aplicadas cargas no montante da ligação até
que ocorra a ruptura da ligação soldada. Sendo assim, uma distribuição uniforme de
temperatura foi assumida em toda a ligação, assim como o critério de Von Mises de
distribuição de tensões. O intervalo 20/100°C, considerado nesta pesquisa como
ambiente/moderada, deve-se ao fato de que entre essas temperaturas não ocorre
nenhum decréscimo na tensão limite proporcional do aço fp,θ, na resistência ao
escoamento fy,θ ou no módulo de elasticidade Ea,θ. Isso pode ser verificado nas curvas da
Figura 2 (EN 1993-1-2, 2005), definidas pelos fatores de redução kp,θ, kE,θ e ky,θ, que
relacionam, respectivamente, os valores de fp,θ, fy,θ e Ea,θ reduzidos em dada temperatura
aos mesmos na temperatura ambiente, ou seja, normalizados. Tais curvas definem a
influência de tais parâmetros na resistência da ligação com o aumento de calor.
Portanto, um modelo de ligação soldada entre perfis tubulares circulares CHS-T foi
desenvolvido com base no Método dos Elementos Finitos (MEF) no programa
computacional Ansys v12.0® (2010). Elementos tipo casca, SHELL181, foram usados
tanto no banzo quanto no montante e na solda. A Figura 3 mostra detalhes da malha de
elementos finitos utilizada.
O processo de calibração do modelo numérico foi realizado com base nos resultados dos
testes experimentais reportados por Chen et al. (2013) à temperatura ambiente (20 °C)
para uma ligação CHS-T denominada SP-T. O modelo possuía as extremidades do banzo
fixas com apoio de segundo gênero à esquerda e primeiro gênero à direita sendo a carga
aplicada na extremidade superior do montante que é sustentado também por um apoio
144
do primeiro gênero restringindo deslocamentos na direção do eixo z (Figura 4). O ângulo
θ1 entre o banzo e o montante é 90°. O aço usado na ligação avaliada tinha resistência
ao escoamento fy,20 = 383 MPa e módulo de elasticidade Ea,20 = 219 GPa, ambos a 20 °C.
Considerou-se, também, a resistência à ruptura da solda fu,20 = 480 MPa, já que o autor
não explicitou tal propriedade. O ponto A corresponde a ligação do banzo com o
montante a ser considerado na obtenção da resistência da ligação tendo em vista o
surgimento de tensões normais de flexão neste ponto. Tal procedimento também foi
reportado por Lima et al. (2018).
y
z x
Figura 4 – Esquema da ligação SP-T (Adaptado de Chen et al., 2013) – dimensões em mm.
145
por Chen et al. (2013), onde δm é o deslocamento axial do montante medido no ponto
A, em mm, sob determinada carga P20, em kN. Também é mostrado no gráfico, o limite
referente ao critério de deformação de 3% do diâmetro do banzo (3% d0) proposto por
Lu et al. (1994) para a determinação da capacidade resistente da ligação tubular.
Percebe-se que a curva obtida através do modelo numérico está bem próxima às curvas
experimental e numérica do autor relacionado. Tanto a força de pico (P 20) obtida
experimentalmente por Chen et al. (2013) como a verificada no modelo numérico
desenvolvido no presente trabalho foram de aproximadamente 85 kN, atingidas após o
limite de 3%d0, no deslocamento de 20 mm. A força (P3%d0) foi de aproximadamente 35
e 30 kN (14% de diferença), respectivamente, para o ensaio experimental e o modelo
calibrado. Desta forma, tendo em vista a diferença entre as duas capacidades
resistentes, optou-se por avaliar ambas situações para as ligações consideradas na
análise paramétrica que será discutida em seções posteriores. Desta forma, conclui-se
que o modelo é confiável e pode ser usado para gerar estudos paramétricos das ligações
soldadas em diferentes temperaturas.
147
Tabela 3 - Momentos resistentes elásticos e plásticos das seções estudadas
d0 [mm] t0 [mm] Wel,0 [x 103 mm3] Wpl,0 [x 103 mm3]
8 742 967
8,8 811 1059
10 912 1159
355,6
11 995 1307
12,5 1117 1472
14,2 1250 1656
(3)
148
t0 : é a espessura do banzo;
4 Resultados e Discussões
Esta seção apresenta e discute os resultados obtidos através das simulações numéricas
realizadas considerando-se os montantes submetidos a forças axiais de compressão e
tração, respectivamente.
De acordo com as Figuras 7(a) e 7(b), percebe-se que as cargas obtidas foram muito
próximas nos dois critérios. Aquelas obtidas numericamente são superiores às definidas
pela expressão do EC3/NBR até 300 °C nos dois gráficos. No caso da ISO, isso não é
satisfeito, pois apresenta ligações cuja capacidade resistente numérica ficou abaixo da
149
reta ideal. Assim, o uso das expressões só é recomendado para temperaturas até 200°C.
Posteriormente, apresentar-se-á a influência dos parâmetros α, β e γ na resistência das
ligações.
150
temperaturas elevadas - Figura 8(a), ao serem normalizadas à temperatura ambiente, a
curva originada é superior e mais próxima àquela dos módulos de elasticidade, o que
justifica a influência de tal parâmetro também para esse caso.
A Figura 10 apresenta as cargas obtidas pelos dois critérios normalizadas e as relaciona aos
fatores de redução propostos no EN 1993-1-2 (2005). Pode-se observar que a curva
151
formada pelos valores obtidos na análise numérica praticamente acompanha a curva
formada pelos fatores de redução do módulo de Elasticidade (kE,θ). Portanto, para esse
caso, tal propriedade do aço tem significativa influência na resistência da ligação, assim
como naquelas submetidas à compressão, apresentadas no item anterior. Já na Figura
10(b), tal curva segue superpondo àquela dos fatores de redução da resistência ao
escoamento (ky,θ). Conclui-se então que, para as ligações submetidas a forças axiais de
tração no montante cujas cargas de pico são determinantes por ocorrerem antes das
cargas correspondentes ao deslocamento de 3%d0, a resistência ao escoamento do aço
é o fator influente na força axial resistente da ligação.
152
a ligação é submetida à tração considerando a carga de pico, a resistência praticamente se
mantém constante (redução em torno de 1% na temperatura ambiente).
154
4.5 Efeito do parâmetro geométrico γ no comportamento das ligações CHS-T
Por fim, a Tabela 4 mostra um resumo da variação da força axial resistente das ligações
CHS-T com o aumento de um parâmetro geométrico mantendo os outros dois
constantes, conforme descrito anteriormente na Tabela 1. Os acréscimos e reduções
apresentados na tabela foram obtidos a partir da primeira ligação do intervalo. Por
exemplo, para o fator β, o aumento da resistência à compressão de 64% considerando
a carga limite de 3%d0 ou carga de pico é tomado da ligação CHS-T-5 em relação a CHS-
T-1. O mesmo ocorre quando se considera apenas a carga de pico.
155
(a) (b)
Figura 16 – Efeito de γ nas ligações CHS-T submetidas à tração: (a) P3%d0,θ ou Pu,θ; (b)
somente Pu,θ.
Tabela 4 - Variação da força resistente das ligações com a variação dos parâmetros
geométricos
5 Considerações Finais
Este trabalho envolveu o estudo de ligações tubulares circulares soldadas tipo T sob altas
temperaturas em regime estacionário. Foi investigada a resistência a compressão e a
tração das ligações através de simulações numéricas via MEF. Adicionalmente, um
estudo paramétrico visando avaliar o efeito de relações geométricas sobre a capacidade
resistente de várias ligações foi realizado. Tomando-se os fatores de redução da
156
resistência ao escoamento e módulo de elasticidade a temperatura ambiente obtidos
no Eurocódigo EN 1993-1-2 (2003) e as equações propostas pela norma brasileira NBR
16239 (ABNT, 2013) e as estrangeiras Eurocódigo EN 1993-1-8 (CEN, 2005) e a ISO 14346
(ISO, 2013), comparações foram feitas. Os valores das forças axiais resistentes obtidos
pelo critério de P3%d0,θ ou Pu,θ e somente Pu,θ descritos nesta pesquisa foram aqueles
obtidos diretamente através da simulação numérica.
157
(iii) Os parâmetros geométricos β e γ têm grande influência na força axial resistente
das ligações. Nas ligações submetidas a forças axiais de compressão no montante,
enquanto que com o aumento de β, a força resistente tende a aumentar, com o
aumento de γ, a força resistente decresce. Já para ligações submetidas a forças
axiais de tração, o aumento de β teve pouca influência. Ainda no caso de tração,
com o aumento de γ, a força axial resistente também diminui. O parâmetro α teve
efeito praticamente nulo na capacidade resistente das ligações em todos os
casos. Tanto que tal parâmetro não está incluído nas expressões das normas
técnicas para o cálculo das forças axiais resistentes.
6 Agradecimentos
Os autores desta pesquisa agradecem a UERJ, ao CNPq e a CAPES pelo apoio financeiro
e ao LABCIV (Laboratório de Computação da Faculdade de Engenharia Civil da UERJ) pelo
suporte computacional.
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160
Recebido: 14/05/2019
Aprovado: 30/09/2019
Volume 9. Número 2 (agosto/2020). p. 161-181 - ISSN 2238-9377
Revista indexada no Latindex e Diadorim/IBICT
rigobello@utfpr.edu.br
Resumo
O presente trabalho utiliza do Método dos Elementos Finitos para o desenvolvimento de
estratégias numéricas com intuito de simular o comportamento à flexão de vigas de aço com
seção I reforçadas com laminados de PRFC. A abordagem utilizada consiste principalmente no
emprego predominante de elementos finitos do tipo casca nas análises. As simulações
permitiram considerar a influência do comprimento e da espessura dos laminados de PRFC no
modo de falha e capacidade de carga das vigas reforçadas. A estratégia de modelagem
desenvolvida teve seus resultados validados junto a resultados numéricos e experimentais
presentes na literatura e se mostrou adequada e eficaz para simular o comportamento das
vigas, apresentando resultados coerentes de rigidez, capacidade de carga e de deslocamentos.
Abstract
This work uses the Finite Element Method for the development of numerical models to
simulate the flexural behavior of steel I-beams strengthened with CFRP laminates. The
approach used consists mainly in the predominant use of shell finite elements for the analysis.
The simulations allowed considering the influence of the length and thickness of the CFRP
laminates in the failure mode and loading capacity of the strengthened beams. The modeling
strategy developed had its results validated with the numerical and experimental results from
literature. The used strategy was adequate to simulate the behavior of the beams, presenting
coherent results when predicting rigidity, load capacity and structural displacements.
*autor correspondente
1 Introdução
Segundo Zhao (2014) a utilização do PRFC (Polímero Reforçado com Fibra de Carbono)
é uma solução de interesse para o reforço de elementos metálicos estruturais, em
substituição aos métodos tradicionais, tendo em vista que o compósito apresenta alta
resistência e rigidez, massa específica reduzida, além de rapidez e facilidade de
instalação.
Com relação às vigas de aço com seção I submetidas à flexão, a sua capacidade de
resistência está ligada ao seu modo de ruína, e podem apresentar falhas como a
plastificação total da seção, a flambagem lateral com torção e a flambagem local dos
elementos (mesa e alma).
Quando a viga possui reforço à flexão com o PRFC, além dos modos de falha de vigas
isolada, novos modos são introduzidos: ruptura à tração do reforço de PRFC,
descolamento final (ou de extremidade) e descolamento intermediário do reforço de
PRFC.
A Figura 1 apresenta um esquema dos possíveis modos de falhas em uma viga de aço
com seção I reforçada com PRFC por ligação externa na sua face tracionada.
Figura 1 - Modos de falha da viga de aço reforçada com PRFC (Teng, Yu e Fernando, 2012)
162
De acordo com Zhao (2014) a ruptura à tração do PRFC ocorre quando a deformação
da extremidade tracionada atinge seu valor limite. Este é o modo de falha mais
desejável, visto que a capacidade resistente da seção reforçada em questão pode ser
prevista por uma análise de seção convencional e, portanto, a suposição de seção
plana ainda pode ser usada.
Poucas pesquisas foram realizadas quanto a falha por flambagem lateral com torção.
Porém, é de grande importância, no projeto de um sistema de reforço de PRFC,
verificar a possibilidade de a flambagem lateral se tornar o modo de falha governante
de uma viga de aço reforçada com PRFC, que estaria regida por falhas de flexão no
plano antes do reforço. Um estudo foi realizado por Kabir e Seif (2010), explorando a
eficácia de diferentes esquemas de reforço para aumentar a resistência à flambagem
lateral. Para tal, utilizaram de uma solução analítica baseada em método de energia
para encontrar um valor crítico para a análise da flambagem lateral.
Quanto à flambagem local, para previsões mais precisas desse modo de falha em vigas
de aço de seção I reforçadas PRFC, os projetistas são aconselhados a realizar análises
não lineares com base em técnicas de modelagem empregando elementos finitos do
tipo casca. Para previsões confiáveis, as imperfeições geométricas apropriadas para os
elementos devem ser incluídas no modelo.
De acordo com Zhao e Zhang (2007) o elo mais fraco da ligação nesse tipo de sistema
de reforço é o adesivo, e é quem define o descolamento final ou descolamento
intermediário do reforço de PRFC.
163
A falha por descolamento intermediário ocorre devido à presença de danos ou
escoamento do aço, localizados na região onde existe o maior momento, sendo
geralmente o local de maior solicitação do reforço de PRFC. O descolamento
intermediário foi observado em testes laboratoriais em vigas de aço reforçadas com
PRFC, com ou sem defeito inicial, em Sallam et al. (2006) e Kim e Garrett (2011).
De acordo com Fernando (2010), a resistência de ligação nem sempre aumenta com o
aumento do comprimento da ligação. Quando o comprimento da ligação atinge um
valor limite, qualquer aumento deste comprimento de ligação não resulta no aumento
de resistência da ligação. O adesivo é principal responsável para que se atinja o
máximo aproveitamento da capacidade de ligação.
Métodos analíticos para o cálculo da resistência de vigas de aço reforçadas com PRFC
quanto à flexão podem ser encontrados em literatura estrangeira. Porém, não há no
Brasil procedimentos normativos sobre esse tema. Uma maneira de contornar as
limitações dos procedimentos normativos, é o uso das simulações numéricas,
realizadas a partir da do Método dos Elementos Finitos.
Diante disso, este trabalho apresenta uma proposta de modelagem numérica para
simular adequadamente o comportamento à flexão de vigas de aço com seção I
reforçadas com laminados de PRFC, empregando predominantemente elementos do
tipo casca nas análises, ao invés de elementos do tipo sólido tradicionalmente
utilizados. A estratégia proposta permite considerar a influência do comprimento e da
164
espessura dos laminados de PRFC no modo de falha e capacidade de carga das vigas
reforçadas.
Para isso, realizaram ensaios em sete amostras de vigas de aço de perfil W100x17,2,
biapoiadas, com comprimento entre apoios de 1,8 m. Visando evitar o escoamento por
compressão da mesa superior, realizaram a soldagem de uma placa de aço na face
superior da viga, com 12,2 mm de espessura, 200 mm de largura.
A configuração do reforço se deu com sua ligação à face inferior da mesa inferior do
perfil, utilizando duas tiras de 50 mm de largura e 1,4 mm de espessura do laminado e
uma camada de 1 mm do adesivo. O comprimento do reforço foi variado em 65 cm e
120 cm. O esquema de configuração das vigas ensaiadas é apresentado na Figura 2.
165
Os resultados obtidos para a análise foram retirados de diferentes pontos ao longo da
viga, visando conhecer o desenvolvimento de tensões de tração no PRFC, a distribuição
de tensões ao longo da seção transversal no meio do vão, as tensões na mesa inferior
ao final do laminado e os deslocamentos no meio do vão da viga.
Todos os materiais foram modelados com elemento sólido com oito nós (C3D8).
Quanto ao comportamento dos materiais, a viga de aço foi definida como um material
elastoplástico com encruamento por deformação, com relação tensão-deformação
bilinear para compressão e tração, e relação tensão-deformação linear até a falha do
material do PRFC. A modelagem, utilizando elementos finitos sólidos, da viga é
apresentada na Figura 3.
Figura 3 – Modelagem com elemento finito sólido (Seleem, Sharaky e Sallam, 2010)
166
2.3 Estudo de Narmashiri, Sulong e Jumaat (2012)
O estudo utilizou amostras com mesmas dimensões para as vigas de aço e diferentes
combinações de PRFC para o reforço, variando comprimento, espessura e módulo de
resistência à tração do laminado. A Figura 4 mostra as dimensões e configuração do
ensaio da viga.
Quanto às propriedades dos materiais, para o laminado de PRFC foram definidas como
lineares e ortotrópicas, e a viga de aço e adesivo foram definidos como materiais com
propriedades não lineares.
167
A análise estática não linear foi realizada para alcançar o ponto das falhas, sendo
assim, a carga foi aplicada incrementalmente até que a deformação plástica em um
elemento atingisse sua tensão final.
Narmashiri, Sulong e Jumaat (2012) concluíram que a capacidade de carga das vigas
reforçadas aumentou com placas de maior comprimento e espessura, e que o uso de
comprimento do PRFC maior que seu comprimento efetivo não tem influência
significativa na resistência final.
3 Modelos desenvolvidos
O elemento SHELL181 possui quatro nós e seis graus de liberdade por nó, três
translações e três rotações. É um elemento de casca bastante adequado para modelar
elementos estruturais de paredes finas. Esse tipo de elemento permite que seja
considerada a não linearidade do material e a deformação linear é apresentada no
plano em que está contido. Foi utilizado principalmente para a modelagem da seção
da viga de aço, e também foi testado para a representação do adesivo e do reforço de
168
PRFC, por se tratar de um elemento que permite ainda a consideração de camadas
com diferentes espessuras e propriedades de materiais, sendo um possível recurso
para a análise de compósitos.
O elemento finito INTER205 possui oito nós e três graus de liberdade em cada nó,
sendo utilizado para simulação de interface entre duas diferentes superfícies,
simulando a conexão entre elas. Esse elemento possui a capacidade de simular o
processo de descolamento interfacial entre as duas superfícies. A simulação do
comportamento desse descolamento é regida por um modelo de zona de coesão,
podendo o usuário definir qual modelo melhor se adequa ao caso em análise.
169
Figura 5 - Exemplo de simetria do modelo e as restrições empregadas
170
4.1 Modelo 1 – Viga de referência
A simulação do modelo foi realizada para diferentes tamanhos de malha (25 mm, 50
mm e 100 mm), visando definir um tamanho que seja eficiente para a modelagem. Os
resultados das simulações, no ponto central do vão na face inferior da mesa inferior,
estão apresentados na Figura 6.
171
Figura 6 – Resultados do Modelo 1 com MPC184 e teste de malha
4.2 Modelo 2
172
múltiplas camadas dentro de um mesmo elemento. A Figura 7 apresenta, sem escala, o
perfil do esquema de reforço da viga do Modelo 2.
Figura 7 – Representação esquemática, sem escala, do perfil da viga de aço com PRFC
O laminado utilizado para a realização do reforço foi o Sika CarboDur H514, com
módulo de Elasticidade igual a 300 GPa e resistência à tração igual a 1800 MPa. O
adesivo utilizado para a ligação das laminas a viga de aço foi o epóxi de duas partes da
marca SikaDur 30, com uma camada de 1 mm de espessura, e módulo de elasticidade
de 11,2 GPa e resistência à tração igual a 24 MPa.
173
Figura 8 – Resultados do Modelo 2 com PRFC de 65 cm
A divergência dos resultados obtidos pode ser justificada com uma limitação do
modelo em apontar o momento de ocorrência da falha viga, visto que, segundo
Lenwari, Thepchatri e Albrecht (2005) a falha da viga se deu por descolamento da
extremidade do laminado.
Isso indica que o Modelo 2 não apresenta a eficiência para a detecção desse tipo de
falha, levando a resultados de cargas resistentes elevadas, o que não condiz com a
realidade apresentada no estudo experimental.
174
Figura 9 – Resultados do Modelo 2 com PRFC de 120 cm
4.3 Modelo 3
175
Utilizou-se a forma exponencial do modelo de zona coesiva disponível no ANSYS, e a
determinação dos valores de entrada para os parâmetros necessários se deu com base
na ficha técnica do fabricante do adesivo SikaDur 30 (SIKA, 2017) e em Fawzia, Zhao e
Al-Mahaidi (2010). Os parâmetros de interesse necessários são a máxima tensão
normal de tração na interface (C1), adotada igual a 21 MPa, o valor da separação
normal à interface onde a máxima tensão de tração normal é alcançada (C2), adotado
igual a 0,04 mm, e o valor da separação devido ao cisalhamento onde a máxima tensão
de cisalhamento é atingida (C3), adotado igual a 0,04 mm.
O critério de falha com dano por máxima deformação continuou sendo utilizado para o
laminado de PRFC e adesivo foi definido como material elastoplástico perfeito.
Novamente, o acoplamento entre as mesas e a alma se deu por meio do elemento
MPC184. A Figura 10 apresenta os resultados obtidos com o Modelo 3 para o laminado
de 65 cm de comprimento, junto com os resultados de comparação.
A curva obtida para o Modelo 3 apresenta boa concordância com as curvas das
referências, apresentando carregamento de colapso mais próximo dos resultados
experimentais de Lenwari, Thepchatri e Albrecht (2005) do que aqueles obtidos por
Seleem, Sharaky e Sallam (2010).
176
Quando se compara a viga controle (Modelo 1) com a viga reforçada com laminado de
PRFC de 65 cm, obtém-se um aumento de aproximadamente 25,6% no valor da
capacidade de carga, e redução nos deslocamentos verticais. Isso é coerente com os
resultados obtidos no estudo experimental de Lenwari, Thepchatri e Albrecht (2005) e
numérico de Seleem, Sharaky e Sallam (2010).
A curva obtida para o Modelo 3 apresenta boa concordância com os resultados das
referências, especialmente com os resultados experimentais de Lenwari, Thepchatri e
Albrecht (2005).
Com o Modelo 3, para o caso da viga reforçada com laminado de PRFC de 120 cm,
observou-se o aumento de aproximadamente 39,6% no valor da capacidade de carga,
e redução no deslocamento vertical, em relação à viga controle de aço do Modelo 1.
Quando comparado ao Modelo 2, os resultados obtidos com o Modelo 3 para o
comprimento de reforço de 65 cm evidenciam eficiência em considerar o
descolamento do reforço, resultando em carga de colapso apenas 7% maior que o
resultado experimental.
177
Com a estratégia do Modelo 3, foram também simuladas vigas ensaiadas por
Narmashiri, Sulong e Jumaat (2012), com a finalidade de analisar a influência do
reforço na capacidade de resistência das vigas.
Foram consideradas as vigas reforçadas com PRFC de alta resistência à tração com 50
mm de largura, com módulo de elasticidade de 160 GPa, resistência à tração de 2800
MPa e deformação última igual a 1,7%. O adesivo utilizado tem propriedades iguais ao
SikaDur 30, já mencionado anteriormente, com espessura de camada de 1 mm. A viga
de aço foi modelada como um material elastoplástico perfeito, com resistência ao
escoamento de 370 MPa.
Os resultados obtidos para a capacidade de carga com a simulação das vigas com
reforço são apresentados na Tabela 1, juntamente com os valores de simulação
numérica e ensaios experimentais de Narmashiri, Sulong e Jumaat (2012).
A partir dos resultados é possível observar que para uma mesma espessura de PRFC,
os comprimentos mais longos resultam em maior capacidade de carga.
179
Com relação aos efeitos da espessura do PRFC, os resultados indicaram que o uso do
laminado de 2 mm aumentou a capacidade de carga em aproximadamente 20%
quando comparado a F1. Quando comparado com a viga F7 com a F4, um aumento de
0,2 mm na espessura do PRFC levou ao incremento de 8% na capacidade de carga.
Analisando os resultados de F8 em relação a F4, um aumento de 0,6 mm na espessura
do laminado levou ao incremento de 13% na capacidade de carga.
5 Conclusões
A estratégia numérica de modelagem desenvolvida neste trabalho com o uso de
elementos tipo casca para o perfil e a utilização de elementos de interface para
representar o comportamento do adesivo se mostrou eficiente ao prever rigidez, a
capacidade de carga e os deslocamentos do elemento estrutural. É possível concluir
que, em comparação a resultados presentes na literatura, o modelo 3, principalmente,
permitiu alcançar resultados com adequada aproximação dos valores experimentais e
de outros modelos numéricos das referências utilizadas. A variação nos comprimentos
de reforço mostrou que laminados de PRFC mais curtos resultaram em descolamento
prematuro da extremidade e a aplicação de laminados mais longos resultou em maior
resistência contra o descolamento da extremidade. Quando analisada a variação de
espessuras, os laminados mais espessos aumentaram a capacidade de carga da viga.
Para as espessuras utilizadas nas análises, bem como para as condições de contorno
empregadas, o acréscimo na capacidade de carga da viga apresenta valores
significativos. Por fim, vale lembrar que os modelos apresentados neste trabalho não
consideram imperfeições geométricas iniciais e imperfeições de material, de modo que
problemas em que o modo de colapso ocorra devido à instabilidade global ou local
devem levar em conta esses fatores.
6 Agradecimentos
Ao PCV – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Estadual
de Maringá e à CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessol de Nível Superior.
180
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181
Recebido: 24/04/2019
Aprovado: 15/10/2019
Volume 9. Número 2 (agosto/2020). p. 182-201 - ISSN 2238-9377
São Carlos
Resumo
Este trabalho apresenta um estudo comparativo entre diferentes edifÍcios em aço sobre
fundação do tipo estacas pré-moldadas de concreto com a finalidade de analisar a influência
da interação solo-estrutura (ISE) nos recalques e nos esforços solicitantes. Foram
dimensionadas 5 estruturas e suas respectivas fundações, variando o número de pavimentos
e tipos de contraventamento. As estruturas foram analisadas de forma convencional,
considerando o solo indeformável e considerando a deformabilidade do solo por meio de
coeficientes de reações aplicando a Hipótese de Winkler. Foram analisados os resultados de
reações de apoio e momentos fletores na base dos pilares, coeficientes de estabilidade
global B2, deslocamentos laterais, recalques e também a variação dos esforços de
compressão axial e momentos fletores ao longo da altura dos edifícios.
Abstract
This work presents a comparative study between different steel structures on a pile
foundation with the purpose of analyzing the influence of the soil-structure interaction (SSI)
on soil displacements and stresses. Five structures and their respective foundations were
designed, varying the number of floors and types of bracing. The structures were analyzed in
a conventional way considering rigid base and considering the deformability of the soil by
means of reaction coefficients applying the Winkler Hypothesis. Were analyzed the results of
base reactions and bending moments at the base of the columns, global stability coefficients
B2, lateral displacements, soil displacements and also the variation of the axial compression
forces and bending moments along the height of the buildings.
*autor correspondente
1 Introdução
183
Com relação a modelagem do problema de interação solo-estrutura várias
metodologias tem sido desenvolvidas. O modelo mais simples e direto é o modelo de
Winkler, que admite que as cargas aplicadas na superfície do solo geram
deslocamentos somente no ponto de aplicação da mesma, ou seja, o efeito da
continuidade do meio não é considerado. Desta forma o maciço de solo pode ser
substituído por um sistema de molas com rigidez equivalente dando origem aos
coeficientes de reação verticais C.R.V. e horizontais C.R.H. que simulam a rigidez do
solo (GUIMARÃES, 2018). Para fundações profundas os coeficientes de reação
horizontais (C.R.H.) podem ser determinado em função das tensões e dos
deslocamentos horizontais no fuste da estaca como sendo uma parcela dos C.R.V. O
Quadro 1 apresenta de forma sintética o equacionamento para determinação dos
coeficientes de reação.
185
2 Metodologia
186
Figura 3 – Planta da edificação de 20 pavimentos (dimensões em mm)
Sendo,
187
U é o perímetro da estaca.
K e α são parâmetros que dependem do tipo de solo. Para este caso, K e α valem
respectivamente 220 KPa e 0,04 para Argila Siltosa e 350 KPa e 0,024 para Argila
Arenosa.
F1 e F2 são fatores de correção que dependem do tipo de estaca adotada. Para este
caso, F1 vale 1,41 e F2 vale 2,82.
O recalque foi obtido através do Método de Aoki-Lopes (1975), dado pela equação 2
a 3.
∆𝜎 1
𝜌 = ∑( 𝐸 . 𝐻) + 𝐴.𝐸 . ∑(𝑃𝑖 . 𝐿𝑖 ) (2)
𝑠 𝑐
𝜎0 + ∆𝜎 𝑛
𝐸𝑠 = 𝐸0 ( ) (3)
𝜎0
𝐸0 = 6. 𝐾. 𝑁𝑆𝑃𝑇 (4)
Sendo:
189
E0 é o módulo de deformabilidade do solo antes da execução da estaca
A análise estrutural foi desenvolvida utilizando o software SAP 2000 e de acordo com
as recomendações da NBR 8800 (ABNT, 2008). A estrutura foi modelada
tridimensionalmente incluindo a laje de concreto. A Figura 6 apresenta uma
ilustração 3D da geometria do modelo estrutural, a discretização de um pavimento e
o detalhe do bloco mais estacas para o caso da análise considerando a ISE.
Foi desenvolvido um aplicativo para o cálculo dos coeficientes de reação tendo como
dados de entrada as características do solo, características das fundações e reações
nos apoios da estrutura. A Figura 7 apresenta algumas telas do aplicativo
denominado MOLA.
190
Figura 7 – Aplicativo Mola para cálculo dos coeficientes de reação
3 Resultados e discussões
7000
6500
6000
Compressão Axial (kN)
5500
5000
4500
4000
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 P15 P16
Pilares
191
Para os pilares centrais (P6, P7, P10 e P11) foram observadas pequenas reduções nos
valores dos esforços axiais de compressão, para todas as estruturas analisadas. A
estrutura que apresentou o comportamento mais evidente da influência da interação
solo-estrutura foi a estrutura de 20 pavimentos, possivelmente devido à rigidez
global da mesma. O gráfico da Figura 9 apresenta uma comparação entre os
recalques finais para análise convencional e considerando a ISE.
18
17
16
15
14
Recalques (mm)
13
12
11
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 P15 P16
Pilares
Percebe-se pela Figura 9 que não houve alterações significativa dos recalques devido
a análise considerando a ISE, para nenhuma das estruturas analisadas. A Figura 10
apresenta de forma comparativa os momentos fletores finais nos apoios com e sem
consideração da ISE.
1400
1300
Momentos Fletores (kN.m)
1200
1100
1000
900
800
700
600
500
400
300
200
100
0
P6 P7 P10 P11
Pilares
192
Foi observado variações significativas dos momentos fletores na base dos pilares
apenas para estruturas de 12 ou mais pavimentos. Estes aumentos foram de 11 kN.m
(+1,67%) para a estrutura de 12 pavimentos, 19 kN.m (+1,53%) para as estruturas de
16 e de 19 kN.m (+2,12%) para as estruturas de 20 pavimentos.
193
Observa-se que ocorrem maiores diferenças entre os esforços com e sem ISE para os
pavimentos mais elevados, no entanto essa diferença não alcança 1%. Para as demais
estruturas esse comportamento se mantem.
Para a maioria dos pavimentos a variação do momento fletor foi pouco significativa,
já para outros pavimentos, como o Pav13, observou-se uma variação significativa,
porém em valor absoluto esta variação foi pequena. No caso do Pav13 houve uma
variação de 2 kN.m no momento fletor.
194
Com relação aos deslocamentos laterais as Figuras de 11, 12 e 13 apresentam uma
comparação entre os deslocamentos laterais para análise convencional e
considerando a ISE para combinações de serviço.
Pav4 Pav4
Pavimentos
Pavimentos
Pav3 Pav3
Pav2 Pav2
Pav1 Pav1
E4ISE-Est E4 E4ISE-Est E4
Pav12 Pav12
Pav11 Pav11
Pav10 Pav10
Pav9 Pav9
Pav8 Pav8
Pavimentos
Pavimentos
Pav7 Pav7
Pav6 Pav6
Pav5 Pav5
Pav4 Pav4
Pav3 Pav3
Pav2 Pav2
Pav1 Pav1
0 2 4 6 0 2 4 6 8
Deslocamento (cm) - Direção X Deslocamento (cm) - Direção Y
195
Pav20 Pav20
Pav19 Pav19
Pav18 Pav18
Pav17 Pav17
Pav16 Pav16
Pav15 Pav15
Pav14 Pav14
Pav13 Pav13
Pav12 Pav12
Pavimentos
Pavimentos
Pav11 Pav11
Pav10 Pav10
Pav9 Pav9
Pav8 Pav8
Pav7 Pav7
Pav6 Pav6
Pav5 Pav5
Pav4 Pav4
Pav3 Pav3
Pav2 Pav2
Pav1 Pav1
0 1 2 3 4 5 0 2 4 6 8 10 12 14 16
Deslocamentos (cm) - Direção X Deslocamento (cm) - Direção Y
196
10,91 cm) e de 48,98% no primeiro pavimento (passando de 0,45 cm para 0,67 cm).
Os deslocamentos na direção “X” apresentaram variações menores, sendo de 4,64%
no topo da estrutura (passando de 6,68 cm para 6,99 cm) e de 23,53% no primeiro
pavimento (passando de 0,17 cm para 0,21 cm).
Pav20 Pav20
Pav19 Pav19
Pav18 Pav18
Pav17 Pav17
Pav16 Pav16
Pav15 Pav15
Pav14 Pav14
Pav13 Pav13
Pavimentos
Pav12
Pavimentos
Pav12
Pav11 Pav11
Pav10 Pav10
Pav9 Pav9
Pav8 Pav8
Pav7 Pav7
Pav6 Pav6
Pav5 Pav5
Pav4 Pav4
Pav3 Pav3
Pav2 Pav2
Pav1 Pav1
0,95 1,00 1,05 1,10 1,15 1,20 1,00 1,05 1,10 1,15
B2 - Direção X B2 - Direção Y
197
1,3
1,2
B2
1,1
1
4Pav 8Pav 12Pav 16Pav 20Pav
Estruturas analisadas
4 Conclusões
198
constante ao longo da altura dos pilares, ou seja, a mesma taxa de variação
encontrada na base dos pilares em média foi observada ao longo de toda a altura dos
pilares. Portanto, observa-se que, nas estruturas analisadas, os deslocamentos
laterais e os coeficientes de estabilidade global foram os mais afetados pela
consideração da ISE na análise estrutural.
5 Referências bibliográficas
199
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201
Recebido: 17/05/2019
Aprovado: 28/10/2019
Volume 9. Número 2 (agosto/2020). p. 202-221 - ISSN 2238-9377
Revista indexada no Latindex e Diadorim/IBICT
Janeiro, UERJ, Rua São Francisco Xavier, Nº 524, Maracanã, 20550-900, Rio de
Janeiro/RJ, Brasil. E-mail: jgss@uerj.br
Resumo
O efeito da protensão pode ser introduzido em treliças de aço em forma de arco, utilizadas no
projeto de coberturas, gerando um aumento dos níveis de esforços de tração na corda inferior
da treliça e, por conseguinte a atenuação das forças da corda superior. Tal situação é benéfica
para o projeto de estruturas de coberturas com grandes vãos. Dentro deste escopo, o presente
trabalho de pesquisa visa apresentar os resultados obtidos com base na modelagem numérica,
via emprego do Método dos Elementos Finitos (MEF), sobre o comportamento estrutural de
treliças de aço em forma de arco, utilizadas para o projeto de coberturas protendidas. Para tal,
a modelagem numérica é realizada com base em formulações não lineares, com o uso do
programa computacional ANSYS, avaliando-se os modelos estruturais até o regime de ruptura,
para diversos níveis de forças de protensão aplicadas. Considerando-se a complexidade do
comportamento das treliças protendidas em estudo, foram feitas análises com inclusão do
efeito da não linearidade física.
Palavras-chave: treliças de aço protendidas, modelagem computacional, efeito da protensão.
Abstract
The prestressing effect can be introduced into arched roof steel trusses used in roof design,
leading to increased levels of tensile stresses in the lower truss chord and therefore the
attenuation of upper chord forces. Such a situation is favourable for the design of large span
roof structures. Within this scope, the present research aims to present the results obtained
based on the numerical modelling through the Finite Element Method (FEM) on the structural
behaviour of steel trusses used in the design of prestressed roof structures. For this purpose,
the numerical modelling is performed based on non-linear formulations using the ANSYS
software, evaluating the model up to failure, in order to study the effect of such prestressing
forces on the structure. Considering the complexity of the behaviour of the investigated arched
trusses, there were included in the structural analysis the effects of material nonlinearities.
Keywords: prestressed steel trusses, computational modelling, prestressing effect.
* autor correspondente
1 Introdução
203
Belenya (1977), em seu trabalho de pesquisa relata que sistemas de treliças protendidas
do tipo arco são eficazes para grandes vãos e cargas. Cada uma das barras protendidas
da estrutura pode fornecer uma economia de material de aproximadamente 40% a 45%,
mas a economia no que diz respeito ao custo total da treliça é da ordem de 8% a 10%.
De outra forma, a protensão aumenta consideravelmente a rigidez da estrutura quando
uma das cordas ao longo da extensão do arco é carregada.
1.1 Motivação
204
(a) Estrutura da treliça protendida. (b) Cabos ancorados na treliça.
Figura 2 - Reconstrução Estádio Olímpico de Sydney (PTIA, 2014).
205
2 Nível da Protensão Ideal
Durante a fase de protensão do sistema de um cabo de aço em perfil de aço, aplica-se
uma força de tração P no cabo e uma força de compressão de igual magnitude é induzida
na barra de aço, como apresentado na Figura 4, onde L0 representa o comprimento
inicial do cabo e do perfil; Xc representa a extensão do cabo e Xt diz respeito ao
encurtamento do tubo. Quando o processo de protensão é concluído o cabo e o tubo
são “bloqueados” na posição em que ambos deformam, de modo que não há
movimento relativo entre os dois componentes.
(a) Força do cabo durante (b) Força do tubo (c) Tubo e cabo travados em
a protensão. durante a protensão. posição após a protensão.
Figura 4 - Esquema do processo de protensão em perfil de aço.
Uma vez que a força de protensão P, da mesma magnitude, mas de sentido oposto, é
aplicada ao cabo (Pcabo) e ao tubo (Ptubo), o elemento protendido é auto equilibrado.
Portanto, desde que não haja deslocamentos fora do plano, isto é, nenhuma
flambagem, as forças são induzidas durante a condição de equilíbrio para o sistema, de
acordo com a Equação (1):
Em relação ao nível de protensão ideal, Popt, sob carga de tração, pode ser definido como
aquele que causa a plastificação simultânea do cabo e do tubo, uma vez que proporciona
a resposta mais rígida. O nível de protensão ideal sob a carga de tração aplicada é
calculado ao igualarem-se as expressões para a tensão necessária a fim de produzir a
plastificação tanto do cabo como do tubo, de acordo com a Equação (2):
Ac At
Popt ( fcy Et - fty Ec ) (2)
At Et Ac Ec
Ec, Et: módulo de elasticidade do cabo e do tubo, respectivamente.
Ac e At: área da seção transversal do cabo e do tubo, respectivamente.
fcy, fty: resistência ao escoamento do cabo e do tubo, respectivamente.
206
De maneira a simular a aplicação da força de protensão sobre o sistema, será
considerada uma deformação (∆c) nos cabos, fazendo com que estes elementos se
deformem, gerando uma força de tração, ocasionando uma redução na força de
compressão da corda inferior da treliça (Figura 5).
∆c
Figura 5 - Esquema da aplicação da deformação na treliça.
O valor de deformação unitária, diferença de deformação, a ser introduzida nos cabos,
deve ser tal que produza o esforço axial nos elementos de cabo igual ou próximo do
valor da força de protensão calculada. Sendo assim, a variação de deformação unitária
(Δc) do cabo é igual à função da força (Fc), módulo de elasticidade (Ec) e área do cabo de
protensão (Ac), podendo ser escrita em consonância com a Equação (3):
Fc
c (3)
Ec Ac
A treliça em forma de arco é constituída por seção transversal de perfil tipo W nas cordas
superior, inferior e montantes. Nas diagonais têm-se cantoneiras duplas trabalhando
como peça composta. As Figuras 9 e 10 apresentam os detalhes das ligações com perfis
W e cantoneira, ressaltando-se que os ângulos entre esses elementos nas ligações são
variáveis para cada modelo de treliça investigado.
207
Figura 6 - Perspectiva da simetria da treliça parametrizada.
Figura 8 - Simetria da treliça com 10 m de vão: identificação das posições dos nós.
Montante
Corda superior
Diagonal
Diagonal 92°
Montante
Corda inferior
25 mm 25 mm
208
(E120). A Figura 10 ilustra a configuração da chapa de ancoragem para treliça de 10 m de
vão, onde sempre são usadas duas unidades.
60 mm
16 mm 16 mm
148 mm
As treliças possuem flecha no centro do vão (distância entre a corda inferior e a linha
horizontal entre apoios) igual à respectiva altura da treliça nesse ponto. Deste modo, o
modelo estrutural tipo “A10” foi projetado com vão de 10 m e altura no centro do vão
de 700 mm. Com referência aos demais comprimentos de vãos analisados (20 m, 40 m,
80 m, e 120 m), as geometrias dos respectivos modelos são apresentadas na Tabela 1.
Considerando-se diferentes valores para a área da seção transversal dos modelos, são
obtidos diferentes valores para as forças de protensão. Em seguida, as Tabelas 2 e 3
209
apresentam especificações dos perfis e os valores das Popt. Os cabos empregados estão
associados a cordoalhas de aço tipo 190 RB da Belgo Mineira (Belgo, 2015).
Tabela 2 - Especificações dos perfis das treliças para cada modelo estrutural.
Cordas: superior, inferior e montante Cordas: diagonais
Modelos 2
Perfil W Área (mm ) Cantoneiras duplas (mm2) Área (mm2)
A10 150 x 13 1.660 50,8 x 50,8 x 4,76 458
B20 150 x 13 1.660 63,5 x 63,5 x 19,52 952
C40 150 x 29,8 3.850 127 x 127 x 15,88 2.696
D80 200 x 52 6.690 152,4 x 152,4 x 19,05 5.444
E120 200 x 86 11.090 152,4 x 152,4x 19,05 5.444
No que diz respeito à estratégia para a geração das malhas em elementos finitos, foram
consideradas as condições de simetria das treliças de aço, modeladas com base na
consideração de um plano de simetria paralelo ao plano Y-Z, objetivando reduzir o
esforço computacional. A Tabela 4 apresenta os números de nós, elementos e graus de
liberdade para cada modelo numérico analisado neste estudo e as Figuras 11 a 13
ilustram a criação dos elementos da treliça, refinamento da malha, cabos de protensão
e condições de contorno do modelo numérico, com base no emprego do modelo A10.
210
incrementos, sendo aplicados em vários passos. Em cada etapa de aplicação dos
deslocamentos, uma configuração de equilíbrio é gerada e um novo incremento é
aplicado até se concluir o número total de incrementos.
Simetria da treliça
Detalhe inicial
Malha triangular
Treliça protendida
Cabos de protensão
Chapa de ancoragem
Figura 13 - Perspectiva e simetria: elementos dos cabos de protensão.
211
A análise não linear foi executada a partir da aplicação de deslocamento sobre o centro
da treliça, na direção do eixo Y. A Figura 14 ilustra a metodologia de análise para
aplicação do deslocamento (ver ponto M), com base no modelo da treliça de aço com
80 m de vão, e as condições de contorno da estrutura.
A análise numérica das treliças considera uma análise do tipo elastoplástica não linear
com um modelo constitutivo bi linear [BISO (Bilinear Isotropic Hardening)], utilizando-
se um modelo de endurecimento bi linear isotrópico com rigidez pós-limite de 20 MPa.
212
característicos destas curvas são analisados em detalhe; e, ainda, as principais
informações obtidas, a partir da análise da Figura 15, são destacadas a seguir:
Para uma variação de força de protensão de 0,25Popt a 0,5 Popt, as forças aumentam de
202,4 kN (∂A =60 mm) a 232,8 kN (∂A =60 mm), ou seja, um acréscimo de 15,02%.
Para uma variação de força de protensão de 0,75Popt a Popt, as forças aumentam de 255,3
kN (∂A = 60 mm) a 273,265 kN (∂A =60 mm), ou seja, um acréscimo de 7,04%.
213
Para uma variação de força de protensão de 0,5Popt a 0,75Popt, as forças aumentam de
252,11 kN (∂B=84 mm) a 279,14 kN (∂B =84 mm), ou seja, um acréscimo de 10,72%.
Para uma variação de força de protensão de 0,75Popt para Popt, as forças aumentam de
279,14 kN (∂B =84 mm) a 300,12 kN (∂B =84 mm), ou seja, um acréscimo de 7,51%.
214
Tabela 5 - Níveis de força de protensão da treliça de aço investigada (Figura 15).
Pontos das curvas 0,1 𝑃𝑂𝑃𝑇 0,25 𝑃𝑂𝑃𝑇 0,5 𝑃𝑂𝑃𝑇 0,75 𝑃𝑂𝑃𝑇 1,0 𝑃𝑂𝑃𝑇
(ver Figura 17) Unidades de força em (kN)
A: Limite elástico 181,19 202,4 232,8 255,3 273,27
B: Limite de escoamento 185,95 215,15 252,11 279,14 300,12
C: Força máxima 922,32 908,75 899,44 893,71 890,51
D: Força de ruptura 715,34 640,88 608,03 590,35 569,79
Pontos das curvas 0,1 𝑃𝑂𝑃𝑇 0,25 𝑃𝑂𝑃𝑇 0,5 𝑃𝑂𝑃𝑇 0,75 𝑃𝑂𝑃𝑇 1,0 𝑃𝑂𝑃𝑇
(ver Figura 17) Unidades de deslocamento em (mm)
A: Limite elástico 72,64 60 60 60 60
B: Limite de escoamento 89,47 84 84 84 84
C: Força máxima 1.905,39 1.492,93 1.295,2 1.217,09 1151,63
D: Força de ruptura 3.000 3.000 3.000 3.000 3.000
215
Em relação ao limite de escoamento, existe um ganho de força à medida que se aumenta
a força de protensão até o valor ótimo. Comparando-se 0,1Popt com a Popt, a força
aumenta de 185,95 kN a 300,12 kN, ou seja, uma diferença de força de 61,4%.
Com referência à força máxima e de ruptura, observa-se uma redução de força da ordem
de 3,5% à medida que a protensão aumenta até o valor ótimo. A estrutura rompe com
o mesmo deslocamento (3.000 mm) para forças de ruptura distintas.
Cabe ressaltar que na análise estática não linear, comparando-se os resultados da treliça
com 80 m de vão sem cabo e com protensão ótima, observa-se que o ponto elástico, A,
com protensão, atingiu uma capacidade máxima de carga de 824,48 kN para um
deslocamento de 175,81 mm, enquanto que a treliça sem cabo alcançou uma carga de
479,4 kN para um deslocamento de 437,5 mm. Portanto, houve um aumento de força
de 72 % e uma redução de deslocamento de 59,82%, Figura 16 e Tabela 9.
No que se refere ao ponto da força máxima, C, a carga passa de 524,05 kN a 1.217,06 kN,
representando um aumento de 132,24% da carga de flambagem. Para o ponto de
ruptura, D, a treliça sem protensão se rompe com 441,43 kN, enquanto a treliça com
protensão se rompe com 1.006,49 kN, com aumento de 128%, Figura 16 e Tabela 9.
216
Figura 16 - Força versus deslocamento translacional vertical do meio do vão do modelo
estrutural D80 sem cabo e com protensão ótima.
Tabela 9 - Resultados das forças e deslocamentos da treliça de 80 m de vão D80 sem
cabo e com protensão ótima nos pontos das curvas (Figura 16).
Treliça com protensão
Treliça sem cabo Razão
Pontos das curvas ótima
de Força
(ver Figura 18) Força Deslocamento Força Deslocamento
(%)
(kN) (mm) (kN) (mm)
A: Limite elástico 479,4 437,5 824,48 175,78 72
B: Limite de
494,79 496,13 840,99 180,18 70
escoamento
C: Força máxima 524,05 541,14 1.217,06 1.156,22 132,24
D: Força de ruptura 441,43 2.395,98 1.006,49 2.394,83 128
217
Figura 17 - Força versus deslocamento translacional vertical do meio do vão do modelo
estrutural E120 sem cabo e com protensão ótima.
Tabela 10 - Resultados das forças e deslocamentos da treliça de 120 m de vão E120 sem
cabo e com protensão ótima nos pontos das curvas (Figura 17).
Treliça com protensão
Treliça sem cabo Razão
Pontos das curvas ótima
de Força
(ver Figura 19) Força Deslocamento Força Deslocamento
(%)
(kN) (mm) (kN) (mm)
A: Limite elástico 493,3 480 908,15 165 84,1
B: Limite de escoamento 506,39 520 927,08 195 83,1
C: Força máxima 631,43 1.079,4 1.297,51 1.174 105,5
D: Força de ruptura 595,95 1.371,43 1.162,51 2.060 95,1
218
Na sequência do estudo, as Tabelas 11 e 12 apresentam os resultados das análises
numéricas, considerando-se para tal a variação paramétrica dos vãos das treliças,
ilustrando os valores das forças e deslocamentos nos trechos elástico e plástico da seção
central das treliças de 20 m (B20) e 40 m (C40), sem cabo de protensão e com o uso da
protensão ótima.
219
6 Conclusões
Neste trabalho de pesquisa foram consideradas treliças de aço em forma de arco com
vãos de 10 m, 20 m, 40 m, 80 m e 120 m, respectivamente. Com base no emprego da
modelagem numérico-computacional comprovou-se a eficiência do sistema estrutural
investigado, dado que, ao se introduzirem forças de protensão nos cabos, conseguiu-se
atingir uma redução de esforço de no mínimo 50% comparado com as estruturas sem
esta protensão.
Na analise da treliça com 10 m de vão, foi feita a verificação da estrutura para cinco
magnitudes de forças de protensão. A análise mostrou grande acréscimo de forças e
deslocamentos no trecho elástico da resposta da estrutura à medida que se aumentou
o valor da força de protensão, levando a uma estrutura mais rígida. Observa-se que o
trecho plástico revelou a redução dos deslocamentos, ressaltando-se como a adição do
cabo aumenta a resistência do elemento enquanto a rigidez da treliça sofre aumento,
mesmo quando é aplicada uma força de protensão mínima.
7 Agradecimentos
220
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221
Recebido: 17/06/2019
Aprovado: 05/11/2019
Volume 9. Número 2 (agosto/2020). p. 222-240 - ISSN 2238-9377
Revista indexada no Latindex e Diadorim/IBICT
Resumo
Objetiva-se neste trabalho apresentar a formulação do problema de otimização envolvendo vigas mistas
celulares de aço bem como uma análise dos modos de colapso preponderante do problema de
otimização associado a uma análise numérica via método dos elementos finitos dos mesmos. Para tal
problema será considerada a iteração completa entre a viga celular e a laje de concreto. A formulação
para a verificação da viga mista é a proposta por Lawson e Hicks (2011) com adaptações para
atendimento dos critérios da ABNT NBR 8800:2008. A solução do problema de otimização será dada
pelo Método dos Algoritmos Genéticos através de um sistema desenvolvido na plataforma Matlab. Para
validação do sistema exemplos numéricos serão apresentados bem como uma análise dos modos de
colapso preponderantes nos exemplos estudados. Uma análise de uma viga através do método dos
elementos finitos é apresentada de modo a comprovar os modos de colapso preponderantes no
problema de otimização. Os resultados mostram que o método dos Algoritmos Genéticos proporciona a
obtenção de perfis mais eficientes em termos de peso e resistência quando comparado com exemplos
apresentado na literatura especializada.
Abstract
The objective of this work is to present the formulation of the optimization problem involving steel
cellular mixed beams as well as an analysis of the predominant collapse modes of the optimization
problem associated with a finite element numerical analysis. For this problem will be considered the
complete iteration between the cellular beam and the concrete slab. The formulation for the verification
of mixed beam is proposed by Lawson and Hicks (2011) with adaptations to meet the criteria of ABNT
NBR 8800: 2008. The solution of the optimization problem will be given by the Genetic Algorithm
Method through a system developed in the Matlab platform. For validation of the system, numerical
examples will be presented as well as an analysis of the preponderant collapse modes in the examples
studied. An analysis of a beam through the finite element method is presented in order to prove
preponderant collapse modes in the optimization problem. The results show that the Genetic Algorithm
method provides the most efficient profiles in terms of weight and resistance when compared with
examples presented in the specialized literature.
* autor correspondente
1 Introdução
As vigas celulares possuem diversas vantagens construtivas, por exemplo: pode vencer
vãos maiores, peso menor em comparação com uma viga de alma cheia de mesma
altura e com um custo menor no valor final do projeto. Aliás, o aumento da altura é
um dos principais ganhos que se tem com a transformação de uma viga comum em
celular. Com a adição da laje de concreto sobre a viga celular de aço, obtêm-se uma
viga mista de aço e concreto. Assim é possível aproveitar a contribuição de cada
material no aumento dos esforços resistentes da viga, no caso do concreto a
resistência, à compressão e no caso do aço, à tração.
Alguns estudos recentes de vigas celulares de aço como os de Cimadevila (2000),
Kohnehposshi e Showkati (2009), Abreu (2011), Bezerra (2011), Silveira (2011), Vieira
(2011), Oliveira (2012), Veríssimo et al. (2012), Mendonça (2014) e Badke Neto (2015)
apresentam avanço na análise numérica de vigas celulares.
Cimadevilla (2000) aborda em sua obra um desenvolvimento teórico sobre os aspectos
de cálculo, para esforços resistentes e para o cálculo de deformações. Estabelecendo
equações consistentes para o dimensionamento das vigas alveolares de aço.
Abreu (2011) obtêm em seu estudo o momento fletor resistente à flambagem lateral
com torção de vigas celulares, duplamente simétricas, biapoiadas através do método
dos elementos finitos utilizando o programa ABAQUS/CAE versão 6.7, ano 2007. Nesse
estudo, os resultados são comparados com os obtidos por um método de cálculo em
que se usa o procedimento da ABNT NBR 8800:2008 para vigas de alma cheia em
conjunto com a recomendação da British Standard BS 5950-1:2000.
Bezerra (2011) propôs um procedimento para a determinação do momento fletor
resistente nominal de vigas casteladas, de padrão Peiner e anglo saxônico, para o
estado-limite último de flambagem lateral com torção, para os casos em que as vigas
possuem vínculo de garfo (empenamento livre e torção impedida) nas extremidades e
estejam submetidas a momento uniforme, a carga uniformemente distribuída e a
carga concentrada na seção central.
Silveira (2011) realizou uma análise numérica para avaliar o comportamento de vigas
alveolares de aço enfatizando os modos de colapso por plastificação. Em seu trabalho
223
foram desenvolvidos modelos numéricos para vigas alveolares obtidas a partir de
perfis brasileiros, para a observação dos modos de colapso e do carregamento último.
Veríssimo et al (2012) elabora um estudo analítico-numérico generalizado objetivando
reavaliar o comportamento de vigas alveolares com variadas geometrias, incluindo as
obtidas a partir dos perfis I laminados produzidos no Brasil a partir de 2002, propor um
procedimento para dimensionamento dessas vigas.
Um estudo recente elaborado por Sonck e Belis (2015) avalia o comportamento das
estruturas de aço celulares em relação à instabilidade lateral com torção, entretanto
esta metodologia ainda não foi avaliada para utilização em perfis de aço fabricados no
Brasil. Badke Neto (2015) avançam na análise numérica de vigas alveolares.
Entretanto, os mesmos não apresentaram estudos de otimização daquelas vigas. Por
outro lado Lubke, Alves e Azevedo (2017) apresentaram a formulação da otimização
de vigas celulares fazendo um estudo comparativo entre diferentes métodos de
otimização.
Tendo em vista a escassez ou a falta de trabalhos de otimização envolvendo vigas
mistas celulares de aço e concreto, o presente trabalho tem por objetivo apresentar a
formulação e os critérios para o dimensionamento otimizado, com o uso de algoritmos
genéticos, de vigas mistas celulares de aço e concreto de acordo com os estudos de
Lawson e Hicks (2011) descritos no guia de projeto europeu SCI Publication P355. O
programa foi desenvolvido na plataforma do Matlab@2016 com o uso da ferramenta
guide e o algoritmo genético utilizado é o que se encontra no toolbox do próprio
Matlab. A utilização do guide permite a criação de uma interface interativa de fácil
manipulação de dados como será mostrado em seções posteriores. Uma análise
numérica através do método dos elementos finitos será feita de forma a demonstrar o
modo de colapso preponderante encontrado pela formulação implementada neste
trabalho.
2 Formulação do Problema
224
O modelo de otimização consiste em escolher uma viga, de uma família de vigas, com
base em uma função objetivo que será minimizada, no caso deste trabalho a função
peso da viga. As vigas disponíveis para escolha são os perfis metálicos do catálogo da
Gerdau.
𝑥1 𝑥5 2 𝑥1 𝑥5 (𝑥6 − 1)
𝑃𝑎 = (2𝑥2 𝑥3 + (𝑥1 + √( ) −( ) − 2𝑥3 ) 𝑥4
2 2
(1)
1 )2
𝜋(𝑥5 𝑥1
− . ) 𝜌𝑎
𝑥6 𝑥5 𝑥1 4
onde:
𝑥1 altura do perfil;
𝑥2 altura da mesa do perfil;
𝑥3 espessura da mesa do perfil;
𝑥4 espessura da alma do perfil;
𝑥5 razão entre o diâmetro do furo e a altura do perfil;
𝑥6 razão entre o passo e o diâmetro do furo;
𝜌𝑎 peso específico do aço
225
da seção transversal dos referidos perfis. Tais restrições são mostradas nas inequações
de (2) a (5).
O processo de escolha de uma viga otimizada depende se ela atenderá aos diversos
critérios de resistência estabelecidos no estado limite último e no estado limite de
serviço. Estes critérios seguem a formulação de Lawson e Hicks (2011) com adaptações
para atendimento dos critérios da ABNT NBR 8800:2008. Os esforços resistentes são
determinados de acordo com os itens a seguir.
0,6𝐴𝑤 𝑓𝑦
𝑉𝑝𝑙,𝑅𝑑 = (6)
𝛾𝑎1
Onde:
𝐴𝑤 soma das áreas das almas dos tês superior e inferior
𝑓𝑦 limite de escoamento do aço do perfil de aço
𝛾𝑎1 coeficiente de ponderação da resistência igual a 1,1
226
1
𝑀0,𝑅𝑑 = 𝑁𝑏𝑇,𝑅𝑑 (ℎ𝑒𝑓 + 𝑧𝑇 + ℎ𝑡 − 𝑧𝑐 ) (7)
2
1
𝑀0,𝑅𝑑 = 𝑁𝑏𝑇,𝑅𝑑 ℎ𝑒𝑓 + 𝑁𝑐,𝑅𝑑 (𝑧𝑇 + ℎ𝑡 − 𝑧𝑐 ) (8)
2
Onde:
𝑁𝑏𝑇,𝑅𝑑 esforço axial de tração resistente da viga
ℎ𝑒𝑓 altura efetiva da viga entre os centros de gravidade dos tês
ℎ𝑡 altura da laje de concreto
𝑧𝑇 distância entre a extremidade da mesa e o centro de gravidade do tê superior
𝑧𝑐 altura do concreto em compressão
𝑁𝑐,𝑅𝑑 esforço axial resistente de compressão da mesa de concreto
A resistência à flexão de Vierendeel é dada pela soma dos momentos fletores locais
resistentes dos quatro cantos da abertura com o momento fletor resistente local
devido à interação do tê superior com a laje de concreto. O momento fletor resistente
de Vierendeel deve ser maior que a diferença dos valores dos momentos fletores
solicitantes à esquerda e direita da abertura, conforme Eq. (19)
Onde:
𝑀𝑏,𝑁𝑉,𝑅𝑑 momento resistente reduzido da mesa inferior para a presença de esforço
cortante e axial
𝑀𝑡,𝑁𝑉,𝑅𝑑 momento resistente reduzido da mesa superior para a presença de esforço
cortante e axial
𝑀𝑣𝑐,𝑅𝑑 momento resistente local devido à interação da mesa superior com a laje de
concreto
𝑉𝑆𝑑 esforço cortante que atua na extremidade da abertura em que o momento
fletor é solicitante é menor
𝑙𝑒 é igual a 45% do diâmetro da abertura
227
A fim de adaptar os critérios do manual de Lawson e Hicks (2011) à NBR 8800:2008,
utilizou-se a Tabela F.1 da norma brasileira para classificar a mesa do perfil celular,
conforme mostra a Figura 2.
O esforço cortante longitudinal resistente do montante da alma á dado pela Eq. (10).
0,6𝑠0 𝑡𝑤 𝑓𝑦
𝑉𝑤𝑝,𝑅𝑑 = (10)
𝛾𝑎1
Onde:
𝑠0 largura do montante da alma
𝑡𝑤 espessura da alma
𝑠02 𝑡𝑤 𝑓𝑦
𝑀𝑤𝑝,𝑅𝑑 = (11)
6𝛾𝑎1
√12𝑙𝑤 𝑡𝑤
0 = (12)
1
228
1,75√𝑠02 + 𝑑02
0 = (13)
𝑡𝑤 1
Onde:
𝑑0 diâmetro da abertura
1 𝜋√𝐸/𝑓𝑦
𝐸 módulo de elasticidade do aço do perfil
𝑠0 𝑡𝑤 𝑓𝑦
𝑁𝑤𝑝,𝑅𝑑 = (14)
𝛾𝑎1
Onde:
fator de redução da resistência à compressão
5𝑞𝑙 4
𝑓= (15)
348𝐸𝐼
Onde:
𝑞 carregamento distribuído
𝑙 vão da viga
𝑉𝑝𝑙,𝑅𝑑
1− ≤0 (16)
𝑉𝑆𝑑
𝑀0,𝑅𝑑
1− ≤0 (17)
𝑀𝑆𝑑
𝑀𝑉,𝑅𝑑
⁄𝑙
1− 𝑒
≤0 (18)
𝑉𝑆𝑑
229
𝑉𝑤𝑝,𝑅𝑑
1− ≤0 (19)
𝑉𝑆𝑑
𝑀𝑤𝑝,𝑅𝑑
1− ≤0 (20)
𝑀𝑆𝑑
𝑁𝑤𝑝,𝑅𝑑
1− ≤0 (21)
𝑁𝑤,𝑆𝑑
𝑓𝑎𝑑𝑚
1− ≤0 (22)
𝑓
3 O programa Computacional
230
3.1 Validação dos resultados
Este exemplo consiste em verificar um perfil celular, obtido de um perfil “I” de abas
paralelas padrão europeu comercializado pela ArcellorMittal, de nome “IPE 550”. Para
validar o programa, serão introduzidos os mesmos parâmetros de entrada, a fim de
obter um perfil de forma otimizada. Este será comparado com o perfil do exemplo. Os
parâmetros de entrada são mostrados na Tabela 1.
Após realização da otimização pelo software apresentado neste artigo, o resultado é
comparado com os resultados do exemplo numérico de Oliveira (2012), conforme
Tabela 2 e Tabela 3.
231
Conforme pode ser observado na Tabela 2, o perfil escolhido pelo método de
otimização foi o “W530 x 66”, o mesmo pesa 66 kg/m e o perfil proposto por Oliveira
(2012) é o perfil IPE 550 que pesa 92,1 kg/m. Logo, o programa de otimização escolheu
um perfil 28,3 % mais leve que o apresentado pelo exemplo, sendo o perfil escolhido
aprovado em todas as verificações de cálculo.
232
Tabela 5 – Perfis otimizados
Viga Perfil escolhido
1 W 150x13
2 W 200x15
Vigas de 3 W 250x17,9
piso 4 W 310x28,3
5 W 410x38,8
6 W 410x46,1
7 W 310 x 21
8 W 410 x 38,8
Vigas de 9 W 460 x 52
cobertura 10 W 530 x 66
11 W 530 x 82
12 W 610 x 101
233
De acordo com a Tabela 6 os perfis escolhidos pelo programa de otimização através
dos algoritmos genéticos atendem ao problema, quando comparado os esforços
resistentes com os esforços solicitantes e os mesmos atendem a norma ENV 1993-1-1,
quando verificado com o programa ACB+ 3.15. A diferença de resultados entre os dois
programas para os esforços resistentes se dá devido a diferença de formulação
utilizada pelos mesmos, tendo a vista que o ACB+ 3.15 é baseado na ENV 1993-1-1 e o
trabalho aqui proposto na formulação de Lawson e Hicks (2011). De forma geral o
software ACB+3.15 se mostrou mais conservador que a formulação proposta neste
trabalho.
Os modos de colapso das vigas celulares foram utilizados como restrições para
implementação do programa, conforme descrito no item 2.2.2. No dimensionamento
da viga ótima é comum que algumas restrições governem todo o processo de
verificações de cálculo. Este item busca ilustrar os modos de colapso que governaram
o dimensionamento das doze vigas estudas no exemplo 2. Os modos de colapso
preponderantes nas verificações são mostrados na Tabela 7.
1 5 X - - -
2 6 - X - -
3 7 - X - -
4 8 - X - -
5 9 X - - -
6 10 X - - -
7 11 - X - -
8 12 X - - -
9 13 X - - -
10 14 X - - -
11 15 X - - -
12 16 X - - -
234
Com base nos resultados apresentados na Tabela 7, pode-se chegar as seguintes
conclusões:
As vigas de sistema de piso de 6 a 8 metros tiveram como modo de colapso
preponderante a plastificação do perfil devido à flexão;
Para as vigas de sistema de piso de 5 e 9 a 10 metros, o modo preponderante
foi a plastificação do perfil na região da abertura;
Para o grupo de sistema de cobertura apenas a viga de vão igual a 11 metros
teve como modo de colapso preponderante a plastificação do perfil devido à
flexão. As demais vigas deste grupo tiveram como modo de colapso
preponderante a plastificação do perfil na região da abertura.
Vigas celulares
80
Porcentagem das vigas com restrição
70
60
50
40
30
ativa
20
10
0
Plastificação do Plastificação do Mecanismo Escoamento do
perfil na região da perfil devido à Vierendeel montante da alma
abertura flexão por esforço cortante
Modos de colapso
235
atuante nesta análise. A tensão máxima atuante na análise de elementos finitos será
comparada com a tensão resultante do modo de colapso preponderante para a viga 6.
Para discretização do modelo de elementos finitos foi adotada uma malha, tanto para
a viga de aço quanto para a laje de concreto, de elementos sólidos tetraédricos com
lado igual a 25 mm e tolerância igual a 1,25 mm. Cada elemento possui 4 nós com 3
graus de liberdade por nó que representam as translações nas três direções
ortogonais.
236
Figura 7 – Máxima tensão
Este item determinará a máxima tensão, de forma analítica, atuante na viga, com base
no momento fletor de cálculo, MSd, e de acordo com as propriedades geométricas do
perfil celular misto, a fim de comparar este valor com o obtido da análise de elementos
finitos. A Tabela 8 mostra as propriedades geométricas do perfil misto.
A tensão 𝜎𝑑 devido à flexão da viga, provocada pelo momento MSd atuante, é obtida
conforme Eq. (23).
𝑀𝑆𝑑 28100000
𝜎𝑑 = = = 171,2 𝑀𝑃𝑎 (23)
𝑊𝑥 164108,2
Este resultado é comparado com o resultado da análise de elemento finitos conforme
Tabela 9.
237
Tabela 9 – Comparação dos resultados - Tensões
Máximas tensões
Análise de
Cálculo % diferença
elementos
analítico
finitos
152,36 MPa 171,2 MPa 11,0
4 Conclusões
238
O programa apresentado neste artigo se mostra uma boa ferramenta para
dimensionamento de perfis celulares, uma vez que na prática de projeto usual o
processo de escolha de uma viga celular consiste basicamente em um pré-
dimensionamento inicial do projetista, através de catálogos e softwares fornecidos por
fabricantes destes perfis; tornando este processo lento e a solução encontrada pelo
mesmo nem sempre é a mais econômica e eficiente.
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