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Revista da Estrutura de Aço | Volume 9 | Número 2

Volume 9 | Número 2
Agosto de 2020
Revista da Estrutura de Aço | Volume 9 | Número 2

ARTIGOS
Estudo térmico de pilares mistos de aço e concreto de
seção circular em situação de incêndio
Natan Sian das Neves, Macksuel Soares de Azevedo,
Carlito Botazini Barcelos Filho, Valdir Pignatta e Silva e Igor Pierin

122

Estudo numérico de ligações soldadas entre perfis


tubulares circulares (CHS-T) sob altas temperaturas
Carlos Alexandre Seruti, Luciano Rodrigues Ornelas de Lima e
Alexandre Landesmann

141

Estudo numérico de vigas de aço com seção I reforçadas


à flexão com laminados de fibra de carbono (PRFC)
Ana Flávia Canales e Ronaldo Rigobello

161

Efeitos da interação solo estrutura em edifícios em aço


sobre fundação profunda
Renan Moura Guimarães, Alex Sander Clemente de Souza e Silvana De Nardin

182
Revista da Estrutura de Aço | Volume 9 | Número 2

Efeito dos níveis de protensão em treliças de aço


em forma de arco utilizadas no projeto de estruturas
protendidas de coberturas
William Alfonso Piñerez Bettin, Sebastião Arthur Lopes de Andrade e
José Guilherme Santos da Silva

202

Análise numérica dos modos de colapso no


dimensionamento otimizado de vigas mistas celulares
José Ronaldo Soares Ramos e Élcio Cassimiro Alves

222
Recebido: 26/10/2018
Aprovado: 13/08/2019
Volume 9. Número 2 (agosto/2020). p. 122-140 - ISSN 2238-9377
Revista indexada no Latindex e Diadorim/IBICT

Estudo térmico de pilares mistos de aço e concreto


de seção circular em situação de incêndio
Natan Sian das Neves1; Macksuel Soares de Azevedo²*; Carlito Botazini Barcelos
Filho3; Valdir Pignatta e Silva4 e Igor Pierin5
1 Mestrando em Engenharia Civil, Universidade Federal do Espírito Santo,
natan.sian@gmail.com
2 Professor Doutor do Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal

do Espírito Santo, macksuel.azevedo@gmail.com


3 Mestrando em Engenharia Civil, Universidade Federal do Espírito Santo,

carlito.botazini@gmail.com
4 Professor Doutor do Departamento de Engenharia de Estruturas e Geotécnica

da Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, valpigss@usp.br


5 Doutor pela Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, igorpierin@usp.br

Thermal study of composite columns of steel hollow sections filled with


concrete on fire situation
Resumo
Esta pesquisa aborda a elevação da temperatura em pilares mistos de aço e concreto de seção
tubular circular quando submetidos ao incêndio, objetivando apresentar uma análise sobre o
aumento da temperatura em relação a alguns parâmetros estudados nos pilares mistos. As
análises realizadas são numéricas, via método dos elementos finitos utilizando um programa
desenvolvido em Matlab, denominado NASEN. Os modelos construídos foram validados com
dados experimentais extraídos da literatura e com o programa computacional ATERM. Os
resultados mostram que as elevações de temperaturas no aço e no concreto dependem de
parâmetros como o volume de concreto e o volume de aço, visto que os materiais possuem
propriedades térmicas bem distintas. O sistema misto para pilares mostrou-se eficaz na
diminuição da temperatura do elemento estrutural quando comparado a pilares de aço
tubulares.
Palavras-chave: pilares mistos, incêndio, temperatura, método dos elementos finitos.

Abstract
This research focuses on the temperature increase of concrete-filled tubular steel columns
subjected to fire, with the objective to investigate the influence of temperature increase on
parameters related to steel-concrete composite tubular columns. The analyses performed are
numerical, by means of the Finite Element Method, implemented with a software developed in
MATLAB environment, named NASEN. The numerical models elaborated were validated with
experimental data obtained from the literature, and with the computer program ATERM. Results
indicate that temperature distribution on steel and concrete are dependent on parameters such
as the volume of each material, since they present different thermal properties. When
compared with hollow steel tubular columns, the composite section is shown as an effective
alternative for decreasing overall temperature on the structural element.
Keywords: composite columns, fire, temperature, finite element method.

* autor correspondente
1 Introdução

O comportamento e dimensionamento de pilares mistos de aço e concreto em situação


de incêndio são muito importantes para a capacidade portante de uma edificação. O
aumento gradativo de temperatura provoca alterações nas propriedades mecânicas dos
materiais, causando redução de resistência e de módulo de elasticidade dos elementos
estruturais, podendo ocorrer um colapso prematuro.

A norma brasileira que trata do dimensionamento de pilares mistos de aço e concreto


em situação de incêndio é a ABNT NBR 14323(2013). O dimensionamento à temperatura
ambiente dos pilares mistos de aço e concreto é regido pela ABNT NBR 8800(2008).

Santos (2009) afirma que os elementos estruturais de concreto possuem um adequado


comportamento quando expostos a elevadas temperaturas, em razão da baixa
condutividade térmica desse material associada ao fato de esses elementos possuírem
seções transversais com dimensões consideráveis. Essas características permitem
admitir uma taxa reduzida de aquecimento e, consequentemente, uma redução menos
acentuada na resistência e do módulo de elasticidade do material. No entanto, a
tendência da expulsão da água existente no concreto, associado ao comportamento
desigual de cada um dos componentes do concreto quando aquecidos, provoca o
fenômeno denominado spalling (lascamento da superfície do elemento), ocorrendo
redução da seção transversal, bem como a exposição das armaduras ao fogo.

Ainda de acordo com Santos (2009), se comparado ao concreto, o aço possui elevada
condutividade térmica e elementos com seções transversais mais esbeltas, provocando
maior taxa de aquecimento e, consequentemente, uma redução mais acentuada na
resistência e no módulo de elasticidade do material. Porém, quando os elementos
estruturais de aço são utilizados com revestimento contra fogo (argamassa projetada,
mantas, tintas intumescentes, entre outros) eles melhoram seu comportamento
quando submetidos a elevadas temperaturas.

Santos (2009) conclui que a associação dos materiais aço e concreto na forma de pilares
mistos, garante à estrutura um maior tempo de exposição às ações térmicas, comparado
aos mesmos elementos constituídos desses mesmos materiais utilizados
separadamente. Quanto ao elemento de aço do pilar misto, o concreto absorve calor

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fazendo com que a elevação de temperatura nesse material ocorra de forma menos
intensa.

Segundo Costa (2005), pilares mistos de aço e concreto preenchidos mantêm sua
capacidade de carga por um logo período de exposição ao incêndio, inclusive quando
comparados aos pilares mistos totalmente ou parcialmente revestidos por concreto. Os
pilares mistos preenchidos, quando submetidos à ação térmica, reduzem ou mesmo
evitam o fenômeno chamado spalling, devido ao confinamento imposto pelo tubo de
aço.

Nos últimos anos, o uso de estruturas mistas e em particular o uso de pilares mistos
preenchidos se tornou mundialmente popular em edifícios altos e construções
industriais por se mostrar uma boa solução para situações de incêndio. A escolha por
esse tipo de pilar também é justificada pela estética, rápida construção e alta capacidade
portante à temperatura ambiente e em situação de incêndio. Tendo em vista a
importância dos elementos estruturais resistirem aos efeitos do fogo por um período de
tempo suficiente para que a desocupação da edificação seja de forma segura,
diminuindo ou até mesmo impedindo que ocorram danos patrimoniais e humanos,
estudos voltados a esse tema têm sido realizados por pesquisadores ao redor do mundo.

Zha (2002) usou o Método dos Elementos Finitos para determinar a resistência ao fogo
dos pilares mistos preenchidos, submetidos ao incêndio por todos os lados, tendo em
vista que com o desenvolvimento do Método dos Elementos Finitos é possível prever
com maior precisão o colapso dos pilares a altas temperaturas. O cálculo da resistência
ao fogo para os pilares mistos envolveu a determinação da distribuição da temperatura,
a deformação dos elementos (expansão e compressão) e a redução na resistência em
resposta à elevação da temperatura.

A análise dos resultados indicou proximidade dos resultados com os calculados por meio
da EN 1994-1-2 (2005), via Método Tabular, sendo o colapso causado principalmente
pela instabilidade global. A variação do diâmetro indicou que, quanto maior a seção,
maior a resistência ao incêndio. Em contrapartida, o aumento da espessura do tubo
resulta na diminuição da sua resistência ao incêndio. Também se concluiu que o colapso
é causado pela combinação da redução das propriedades dos materiais devido à

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elevação da temperatura e, consequentemente, à perda da capacidade resistente na
região exposta ao incêndio e da instabilidade do elemento.

Han et al. (2003) apresentaram um estudo experimental com pilares mistos


preenchidos, os quais foram ensaiados com e sem revestimento contra fogo, bem como
submetidos a carregamentos axiais ou excêntricos. O aquecimento do forno seguiu a
curva padrão de incêndio, ISO 834 (1999). Os autores destacam os benefícios dos pilares
mistos em relação aos sistemas tradicionais em aço ou em concreto armado, como por
exemplo, o aumento da resistência mecânica e ao fogo, o menor risco de ocorrência de
spalling e a ausência de fôrmas.

Foi observado nos experimentos que inicialmente o tubo de aço começa a expandir
axialmente, passando a absorver a maior parte da força aplicada, fazendo com que a
tensão de compressão no núcleo de concreto diminua. Posteriormente, com o aumento
da temperatura, o aço começa a apresentar instabilidade local e o carregamento é
gradualmente transferido para o concreto. Em um estágio final de carregamento, o
perfil de aço não consegue mais confinar o concreto e a amostra rompe geralmente de
forma brusca.

Yin et al. (2006) apresentaram estudos analíticos do comportamento de pilares mistos


preenchidos com concreto, com seções do tipo quadrada e circular, carregados
axialmente e expostos a elevadas temperaturas. O cálculo da resistência ao incêndio e
a comparação dos resultados sugerem que pilares mistos de seção circular apresentam
resistência ao incêndio ligeiramente superior quando comparados àqueles de seção
quadrada, ainda que para seções de mesma área. Os autores afirmam que tal diferença,
provavelmente, ocorre devido a seção quadrada possuir maior perímetro se comparado
à circular, bem como pelo fato de que quando suas quatro faces são expostas ao fogo,
essas absorvem mais calor e seu campo de temperaturas é superior em intensidade ao
do pilar de seção circular.

Um modelo de análise numérica não linear foi desenvolvido para predizer a resistência
ao fogo de pilares mistos de aço preenchidos com concreto. Yin et al. (2006) concluem
que a capacidade resistente do pilar misto exposto ao fogo depende da espessura do
tubo de aço. Nesse caso, quanto menor a espessura do tubo, maior é a capacidade
resistente do pilar.

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Pires et al. (2012) investigaram experimentalmente o comportamento de pilares mistos
tubulares circulares com restrições térmicas, axial e rotacional. Foram analisados
parâmetros relevantes que influenciam na resistência dos pilares, sendo eles: esbeltez
e diâmetro dos pilares; nível de carregamento; rigidez da estrutura envolvente que
impõe restrições térmicas; porcentagem de aço da armadura do concreto e a relação
aço-concreto.

Nos ensaios realizados foi observado que o tempo crítico dos pilares mistos não sofre
grande influência da restrição do pilar, porém, observou que quanto maior a taxa de
concreto na seção transversal do pilar, menores são as forças de restrição. Parâmetros
como nível de carregamento e esbeltez do pilar são fatores que exercem bastante
influência na resistência ao fogo dos pilares mistos, sendo que, um maior carregamento
e uma maior esbeltez diminuem a resistência ao fogo do pilar. Quanto ao nível de
armadura do concreto, foi verificado que o uso de barras de armadura aumenta
consideravelmente o tempo crítico do pilar, ou seja, aumenta a resistência ao fogo.

Pires et al. (2012) encontraram como critério de falha dos pilares mistos a instabilidade
global, apesar de em casos críticos ter ocorrido a instabilidade local.

No Brasil, apesar do crescimento do uso de estruturas mistas de aço e concreto, ainda


são poucas as pesquisas sobre o comportamento de pilares mistos de aço e concreto
em situação de incêndio.

Visto que o dimensionamento adequado desse elemento estrutural é realizado de


acordo com as propriedades que os materiais possuem a altas temperaturas e que essas
propriedades são reduzidas ao passo que a temperatura aumenta, este artigo aborda
um estudo térmico de pilares mistos de aço e concreto preenchidos de seção circular
em situação de incêndio por meio de uma análise numérica direcionada pelo uso do
programa codificado pelos autores. Os modelos numéricos foram validados pelos testes
experimentais realizados por Pires (2013) e pelo programa desenvolvido em Pierin
(2015), o ATERM.

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1.1 Objetivo

O objetivo deste artigo é apresentar análise térmica de pilares mistos de aço e concreto
de seção circular preenchidos em situação de incêndio, ou seja, verificar a evolução da
temperatura no elemento estrutural quando esse é submetido a uma carga térmica. A
partir da análise térmica, busca-se observar a influência dos volumes de aço e concreto
na evolução da temperatura, assim como comparar os resultados numéricos para pilares
mistos aos resultados numérico e analítico para pilares de aço, sendo esse último obtido
a partir da formulação da ABNT NBR 14323(2013).

2 Modelo experimental de referência

Os dados experimentais utilizados para a validação foram obtidos por Pires (2013) em
ensaios de pilares mistos de aço e concreto com restrições axial e rotacional em situação
de incêndio. O programa experimental foi realizado no Laboratório de Ensaios de
Materiais e Estruturas da Universidade de Coimbra, em Portugal. O objetivo principal foi
verificar a influência de alguns parâmetros na resistência ao fogo dos pilares mistos
quando submetidos a altas cargas térmicas.

Todos os corpos de prova ensaiados foram fabricados com perfis de aço de seção tubular
circular, de aço S355, com dois diferentes diâmetros externos, 219,1 mm e 168,3 mm,
ambos com 6,0 mm de espessura. Concreto de classe C25 e C30 foram utilizados na
fabricação dos corpos de prova.

Os pilares mistos ensaiados possuíam comprimento total de 3,0 metros, porém somente
os 2,5 metros centrais eram diretamente expostos ao aquecimento do forno. Nas
extremidades superior e inferior do pilar, foram previstas placas de aço com furos, a fim
de permitir a liberação do vapor de água proveniente do concreto no momento do
aquecimento. O modelo do ensaio foi composto principalmente por um pórtico que
simula as restrições provenientes da estrutura envolvente ao pilar, um forno para
simular o incêndio e aparatos de medição de carga e temperatura.

Para a medição da temperatura, todos os pilares mistos totalmente preenchidos


possuíam quatro termopares por seção e cinco seções ao longo do comprimento. A
Figura 1 mostra as dimensões dos pilares usados nos ensaios, com a definição das cinco
seções onde a temperatura foi medida.

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Figura 1 – Dimensões do pilar ensaiado e posição dos termopares. Adaptado de Pires
(2013)
O aquecimento do pilar ocorre por meio de um forno modular composto por três
módulos, dois com 1 m de altura e outro de 0,5 m de altura. Os módulos foram
superpostos um ao outro formando uma câmara de 1,5 m x 1,5 m x 2,5 m em volta dos
elementos ensaiados. O forno aquece os elementos por meio do calor gerado pelas
resistências elétricas distribuídas nas quatro paredes do mesmo. Cada módulo possui
uma fonte de alimentação individual, de forma que o calor gerado por cada segmento
do forno pode ser controlado separadamente.

No total, Pires (2013) ensaiou 40 corpos de prova, onde oito eram de pilares mistos
totalmente preenchidos. Nos testes realizados com os pilares mistos haviam variações
de dois diâmetros; dois carregamentos centrados e dois níveis de restrições axial e
rotacional. Visto que o presente artigo corresponde a um estudo térmico, a única das
variações citadas que influenciam no gradiente térmico é o diâmetro dos tubos.

3 Análise térmica

A simulação numérica nesta pesquisa é realizada com módulo específico para análise
térmica em situação de incêndio por meio do programa computaconal NASEN/TA-FIRE
(Numerical Analysis System for Engineering/Thermal Analysis - Fire), cujas rotinas de
programação foram implementadas em Matlab (2015). O programa tem como base o

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método de elementos finitos e é utilizado para efetuar análise térmica de estruturas em
domínios bidimensionais de qualquer geometria e material em regime transiente.
Permite também considerar a inserção de curvas de incêndio padrão, experimentais ou
qualquer função de descreva a temperatura dos gases quentes ao redor da estrutura.
Neste contexto, com base na solução da equação da difusão de calor bidimensional,
aplicando os procedimentos numéricos de elementos finitos de Galerkin (REDDY;
GARTLING, 2010), é possível determinar as temperaturas em cada instante de tempo
conforme Eq. (1).

C  C 
   K n1    (1   )K  n  (1   )Fn   Fn1 (1)
 t   t 

Onde as matrizes 𝐂, 𝐊 e 𝐅 são usualmente denominadas como matriz de capacidade


térmica, capacitância total e vetor de ação térmica respectivamente. Além disso, Δt é o
incremento de tempo e o parâmetro 𝛽 é responsável pelo esquema de discretização no
tempo, variando de 0 a 1.
O processamento global do programa é dividido em três etapas, sendo inicialmente
realizada a leitura de dados, contemplando a malha de elementos finitos, condições de
contorno e temperatura ambiente da estrutura. Em seguida, realiza-se a construção das
matrizes e solução do sistema linear. Por fim, o programa permite a visualização da
distribuição de temperaturas bidimensional, além de gráficos representativos da
evolução nodal da temperatura em função do tempo.

O programa possibilita a utilização de elementos finitos triangulares de três e seis nós,


retangulares com quatro e nove nós. Além disso, as propriedades termofísicas do aço e
concreto, ou seja, condutividade térmica, calor específico e massa específica tem como
base as prescrições da ABNT NBR 14323:2013 e ABNT NBR 15200:2012
respectivamente. Em particular, adota-se um concreto com teor de umidade 4,25% e
limite inferior para curva de condutividade térmica.

Para faces expostas ao incêndio, tem-se a transferência de calor por convecção e


radiação, onde adota-se o coeficiente de transferência de calor por convecção igual a 25
W/m2K, a emissividade para ambos os materiais (aço e concreto) é 0,7 e a constante de
Stefan-Boltzmann igual a 5,6697·108 W/m2K4.

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A propagação da temperatura da face externa do tubo de aço para o seu interior ocorre
por condução, de modo que a temperatura do aço se transfere para o núcleo de
concreto pelo acoplamento dos nós do aço e do concreto que estão em contato na
interface dos dois materiais. Nesse caso, a mesma temperatura identificada no nó do
elemento de aço é imposta ao nó do elemento do concreto, então a propagação da
temperatura da face externa do núcleo de concreto para o seu interior também ocorre
por condução. A Figura 2 mostra a malha na seção transversal do modelo proposto, com
destaque para os nós acoplados na interface aço e concreto.

Figura 2. Malha do modelo, destaque aos nós acoplados na interface aço e concreto.

4 Validação do modelo numérico

4.1 Validação com modelo numérico

O modelo térmico utilizado para a validação foi o programa computacional ATERM,


desenvolvido por Pierin (2015). Para essa comparação, os modelos numéricos
consideraram que os pilares mistos estavam expostos ao incêndio-padrão, ou seja, foi
utilizada a curva ISO 834 (1999).

Na Figura 3 são mostrados, respectivamente, para pilares mistos de 168,3 mm e 219,1


mm de diâmetro com 6 mm de espessura do tubo de aço em ambos, os gráficos com a
comparação dos resultados obtidos no programa computacional ATERM e obtidos no
modelo numérico proposto. As curvas representam a evolução da temperatura no

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ponto externo do tubo de aço, ponto T1, e no ponto central do núcleo do concreto,
ponto T4.

Figura 3 – Comparação da evolução da temperatura em pontos da seção S3 do pilar de


168,3 mm e 219,1 mm (NASEN versus ATERM).
Os resultados são satisfatórios visto que as curvas são próximas e as diferenças
percentuais máximas dos valores de temperatura são da ordem de 1%.

4.2 Validação com modelo experimental

Nos ensaios realizados por Pires (2013), dois diâmetros de tudo de aço foram utilizados,
sendo um com diâmetro de 168,3 mm e outro com 219,1 mm, ambos com espessura da
parede de 6 mm.

A elevação da temperatura na região aquecida tem como base a curva do forno


apresentada pelo autor do experimento e foi aplicada a um nó extra bem próximo ao
pilar. Como o ensaio durou aproximadamente 30 minutos, a análise térmica foi realizada
durante o mesmo tempo. O gráfico da Figura 4 compara os resultados nodais obtidos
numericamente aos obtidos experimentalmente por Pires (2013) nos termopares
instalados na seção S3 para o pilar misto com diâmetro de 168,3 mm. A localização da
seção S3 e o posicionamento dos termopares (T1 ao T4) foram mostrados na Figura 1.

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O mesmo resultado é apresentado na Figura 5 para o pilar misto com diâmetro de 219,1
mm.

Figura 4 – Comparação da evolução da temperatura em pontos da seção S3 do pilar de


168,3 mm (NASEN versus Experimental).

Figura 5 – Comparação da evolução da temperatura em pontos da seção S3 do pilar de


219,1 mm (NASEN versus Experimental).

Nota-se pelos gráficos expostos que os resultados obtidos numericamente, nos 30


minutos iniciais, apresentam uma concordância razoável com os resultados obtidos
experimentalmente por Pires (2013). Vale destacar que parâmetros importantes para a
análise térmica tais como emissividade, massa específica, condutividade térmica e calor

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específico adotados neste trabalho foram os normatizados que podem não coincidir
com os valores reais do ensaio, acarretando em possíveis desvios nas soluções. Além
disso, outro parâmetro importante e significativo para análise térmica de estruturas com
concreto é o fenômeno de migração de umidade, ou seja, ao longo do aquecimento do
elemento ocorre a evaporação da água no interior do concreto, acarretando em uma
distribuição não uniforme de umidade.

Na Figura 5, quando analisadas as elevações de temperatura dos pontos T3 e T4,


percebe-se que elas não ocorrem como o esperado no experimento. O ponto mais ao
centro do pilar, T4, deveria apresentar temperatura menor que no T3, o que não ocorre.
Na Figura 4, o comportamento ocorre como o esperado, ou seja, a temperatura no
ponto central do núcleo do concreto, T4, é menor do que nos pontos mais periféricos.
Essa diferença de resultados pode ser explicada por eventuais imprevistos no
experimento tais como imprecisões da medição ou da instrumentação.

5 Estudo Paramétrico

Foi estudada a influência do volume de concreto e do volume de aço na elevação de


temperatura do pilar misto quando esses são submetidos a cargas térmicas de um
incêndio-padrão determinado pela ISO 834 (1999). Foram utilizados perfis tubulares
circulares com dimensões comerciais, variando o diâmetro do pilar entre 141,3 mm e
323,8 mm. A espessura do perfil de aço é catalogada com dimensões entre 6,4 mm até
17,5 mm. Todos os pilares mistos estudados são perfis de aço preenchidos com concreto
de densidade normal.

Para comparações, foi analisada numericamente a elevação de temperatura dos tubos


de aço não preenchidos e foi calculada analiticamente a elevação de temperatura para
pilares de aço seguindo a formulação proposta pela ABNT NBR 14323:2013.

5.1 Influência do volume de concreto

Os gráficos temperatura versus tempo apresentados na Figura 6 mostram a evolução da


temperatura para os pilares mistos com espessura de 6,4 mm e 17,5 mm. As curvas
representam, para cada um dos diâmetros estudados, as temperaturas na face externa
do tubo de aço, ponto T1, e as temperaturas no núcleo de concreto, ponto T4. Vale

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destacar que quanto maior o diâmetro do pilar misto e mantendo-se a mesma espessura
da parede de aço, o volume de concreto aumenta.

Figura 6 – Variação de temperatura em função do diâmetro do pilar misto de 6,4mm


(esquerdo) e 17,5 mm (direito) de espessura.

Nota-se que o tamanho do núcleo de concreto não exerce grande influência na


temperatura do ponto T1, porém pode-se perceber que quanto maior o diâmetro do
pilar, menor é a temperatura nesse ponto. Esse comportamento se deve ao fato de que
o concreto absorve calor que iria para o aço, diminuindo a sua temperatura. Portanto
uma maior área preenchida com concreto diminui as temperaturas finais ao que o aço
é exposto.

Ainda sobre as temperaturas alcançadas no ponto T1 dos pilares em estudo, percebe-se


também que para o pilar misto com espessura do tubo de 17,5 mm, as diferenças de
temperatura nesse ponto sofrem maior influência do que quando comparados ao pilar
misto com espessura menor do tubo.

Quando observadas as curvas nos pontos T4 dos pilares, percebe-se que a influência
exercida nas temperaturas alcançadas no núcleo de concreto é considerável. O

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fenômeno de condução de calor para o interior do pilar ocorre da mesma forma para
pilares com grandes diâmetros e pequenos diâmetros, porém em pilares mais robustos
o calor atinge o núcleo do concreto em tempo maior do que aquele que atinge em
pilares mais esbeltos. Dessa forma, para um mesmo tempo de incêndio, a temperatura
no núcleo de concreto é, como se esperava, maior em pilares mistos mais esbeltos.

5.2 Influência do volume de aço

Na Figura 7 é mostra-se os gráficos da evolução da temperatura para os pilares mistos


com diâmetro de 168,3 mm e 323,8 mm respectivamente. As curvas representam, para
cada uma das espessuras dos tubos estudadas, as temperaturas na face externa do tubo
de aço, ponto T1, e as temperaturas no núcleo de concreto, ponto T4. Vale destacar que
mantendo o diâmetro do tubo e alterando a espessura do mesmo, a área e
consequentemente o volume de aço também se altera, sendo ele maior ao passo que a
espessura aumenta.

Figura 7 – Variação de temperatura em função da espessura do tubo de aço com


diâmetro de 168,3 mm (esquerda) e 323,8 mm (direita).

Percebe-se pela análise dos gráficos que o volume de aço tem baixa influência na
temperatura alcançada no ponto da face externa do tubo de aço. Porém, nota-se que
135
quanto maior a espessura do tubo, menor é a temperatura final nesse ponto. Um
volume de aço maior exige um tempo maior para ele se aquecer, dessa forma resultando
em uma temperatura menor.

Ao contrário do que ocorre com a variação do volume de concreto, o volume de aço não
apresenta grande influência na variação de temperatura no núcleo. Apesar de as
diferenças não serem muito grandes, é possível perceber um aumento de temperatura
no ponto central do pilar misto à medida que área de aço aumenta, porém isso é devido
ao menor volume de concreto, e não ao volume de aço.

5.3 Comparação com pilar tubular de aço

Os gráficos temperatura versus tempo apresentados na Figura 8 mostram a evolução da


temperatura para os pilares mistos com 219,1 mm de diâmetro na face externa do tubo
de aço, ponto T1, e no núcleo do concreto, ponto T4. Nos mesmos gráficos são
mostradas as curvas de evolução de temperatura para o pilar de aço e a curva obtida
pela formulação apresentada na ABNT NBR 14323:2013 para o cálculo da temperatura
em pilares de aço.

A curva obtida pela ABNT NBR 14323:2013 se aproxima da curva obtida para os pilares
de aço. Ambas se distanciam das curvas de temperatura versus tempo para os pilares
mistos. Isso demonstra que o contato do concreto com o tubo de aço no elemento
misto, torna a temperatura do aço menor quando comparado a um tubo de aço isolado.

Após 30 minutos de incêndio, as diferenças são de aproximadamente 20% quando


comparadas à temperatura no pilar misto tubular, obtida via análise numérica, e a
temperatura obtida analiticamente para pilares tubulares de aço. Já quando
comparadas as temperaturas obtidas numericamente para pilares mistos e para pilares
de aço, ambos tubulares, as diferenças são de aproximadamente 12% sendo a maior no
pilar de aço.

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Figura 8 – Comparação da evolução da temperatura com a ABNT NBR 14323:2013.

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6 Conclusões

Neste artigo foram simulados numericamente ensaios de pilares mistos de aço e


concreto, sem revestimento contra fogo, submetido a cargas térmicas de incêndio,
prescrito pela ISO 834 (1999). Os pilares mistos estudados são do tipo tubular circular
totalmente preenchido com concreto de densidade normal.

Os modelos numéricos foram validados com os resultados obtidos no programa ATERM,


desenvolvido por Pierin (2015) na Universidade de São Paulo e com os dados
experimentais obtidos por Pires (2013) na Universidade de Coimbra.

Após a validação, foram realizadas simulações a fim de verificar a influência de dois


parâmetros na evolução da temperatura no pilar. O primeiro parâmetro estudado foi o
volume de concreto, e notou-se que ele influencia principalmente no aumento de
temperatura no núcleo de concreto do pilar, sendo que um menor diâmetro resulta em
temperaturas mais elevadas no núcleo.

O segundo parâmetro foi o volume de aço, onde ele demostrou exercer mais influência
na temperatura alcançada no aço, ou seja, o oposto do que ocorre com o volume de
concreto. Quanto maior a área de aço e consequentemente o volume de aço, menor é
a temperatura na face externa do pilar.

Também foram modelados pilares de aço, ou seja, não preenchidos com concreto e os
resultados térmicos obtidos foram comparados aos obtidos para os pilares mistos.
Também foram obtidos resultados analíticos segundo a ABNT NBR 14323:2013 para
pilares de aço a fim de comparação aos resultados numéricos para pilares mistos de aço
e concreto.

A partir dessa comparação foi possível concluir que há vantagem no uso do sistema
estrutural misto, ao menos no que se refere à diminuição da temperatura no elemento
estrutural. Como as temperaturas para um mesmo instante de tempo são sempre
menores para os pilares mistos do que para os pilares de aço, resultando em menor
perda das propriedades dos materiais, há indícios, como exposto por Santos (2009), que
o comportamento estrutural dos pilares mistos em situação de incêndio é melhor que
os pilares de aço. Salvo uma análise termestrutural precisa, o que não foi objeto deste

138
artigo, sabe-se que, a altas temperaturas, o tubo de aço tem sua resistência mais
reduzida do que o núcleo de concreto. Assim, se o pilar misto tem uma capacidade
resistente maior do que a do tubo sem concreto à temperatura ambiente, o mesmo
ocorrerá a altas temperaturas.

7 Agradecimentos

Agradece-se ao PPGEC-UFES – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da


Universidade Federal do Espírito Santo, à CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior, à FAPES – Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do
Espírito Santo, ao CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico e à FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(Processo 2018/15633-22018/15633-2).

8 Referências bibliográficas

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140
Recebido: 21/05/2019
Aprovado: 25/08/2019
Volume 9. Número 2 (agosto/2020). p. 141-160 - ISSN 2238-9377
Revista indexada no Latindex e Diadorim/IBICT

Estudo numérico de ligações soldadas entre perfis


tubulares circulares (CHS-T) sob altas temperaturas
Carlos Alexandre Seruti1, Luciano Rodrigues Ornelas de Lima2*,
Alexandre Landesmann3
1FEN/UERJ, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Departamento de
Estruturas e Fundações, Faculdade de Engenharia, Rua São Francisco Xavier,
524, sala 5018A, CEP 20550-900, carlosseruti@gmail.com
2 FEN/UERJ, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Departamento de

Estruturas e Fundações, Faculdade de Engenharia, Rua São Francisco Xavier,


524, sala 5018A, CEP 20550-900, luciano@eng.uerj.br
3 COPPE/UFRJ, Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE - Programa de

Engenharia Civil, Laboratório de Estruturas, sala I-216, Cidade Universitária, Ilha


do Fundão, CEP 21945-970, alandes@coc.ufrj.br

Numerical study of welded circular hollow section T-Joint (CHS-T) under


elevated temperature
Resumo
Este artigo tem como objetivo a investigação numérica-computacional da resistência de ligações
tubulares circulares soldadas (CHS-T) sob esforços axiais de tração e compressão no montante e
submetidas a altas temperaturas. Simulações em modelos de elementos finitos foram realizadas
e os resultados comparados com os valores de cálculo obtidos através das equações de projeto de
normas técnicas vigentes, substituindo a resistência ao escoamento do aço à temperatura
ambiente por aquelas reduzidas a altas temperaturas. Considerou-se o critério da deformação
limite de 3% do diâmetro do banzo e a força axial resistente da ligação. Foi investigada também a
influência de alguns parâmetros geométricos na resistência das ligações. Concluiu-se que o uso
das equações só é aconselhável para o caso em que o montante é submetido a esforços de tração
considerando a força axial máxima como valor de cálculo.
Palavras-chave: Ligações Tubulares Circulares Soldadas; Método dos Elementos Finitos; Altas
Temperaturas.

Abstract
This paper aims at investigating the welded circular hollow section T-joint (CHS-T) resistance under
axial tensile and compression loads in the brace and subjected to elevated temperatures.
Simulations in finite element models were performed and the results compared to the calculation
values obtained through the design equations of current technical standards, replacing the yield
stress at ambient temperature by those reduced to elevated temperatures. The deformation limit
criterion of 3% of the chord diameter and the ultimate load of the joint were considered. The
influence of the geometric parameters on the joints resistance was investigated. It was concluded
that the use of the equations is only advisable for the case in which the brace is subjected to tensile
stresses considering the ultimate load as calculation value.
Keywords: Welded Circular Hollow Section; Finite Element Method; Elevated Temperature.

* autor correspondente
1 Introdução e Objetivos

Estruturas tubulares de aço soldadas são largamente utilizadas na construção civil devido a
diversas características, dentre as quais estão a agilidade no processo construtivo, precisão
dimensional, a capacidade de vencer grandes vãos e propriedades mecânicas relevantes
como, elevados módulo de elasticidade, resistência ao escoamento, cargas de pico e
resistência à ruptura, condições normalmente exigidas em estruturas de pontes,
coberturas, plataformas offshore e estádios dentre outras. Entretanto, segundo Tan et al.
(2013), devido às possíveis descontinuidades de seção geométrica e da complexidade da
distribuição das tensões em suas ligações, estas exigem atenção, principalmente quando
submetidas a altas temperaturas, porque as propriedades do aço, como o módulo de
elasticidade e resistência ao escoamento, tendem a reduzir com o aumento de calor.

O comportamento mecânico de ligações soldadas foi objeto de diferentes


estudos/publicações nacionais, citando-se: Guerra et al. (2019), Dias et al. (2019),
Pereira et al. (2017), Affonso et al. (2011), Oliveira et al. (2011), Reis et al. (2011), Santos
et al. (2011), Silva et al. (2011), Bittencourt (2008) e Mendanha (2006). Somam-se ainda
os códigos vigentes e aplicáveis, (i) da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
- norma técnica NBR 16239 (ABNT, 2013), (ii) do European Committee for
Standardization (CEN) – Eurocódigo 3 EN 1993-1-8 (2005) e (iii) do International
Standard Organization (ISO) - ISO 14346 (2013), os quais apresentam curvas para
estimativa da resistência última de ligações, exclusivamente à temperatura ambiente.
Quando submetidas a altas temperaturas, tais equações podem não ser indicadas. Deste
modo, no intuito de contribuir para esta lacuna do conhecimento, isto é, extensão da
aplicabilidade das equações de dimensionamento para temperaturas elevadas, citam-
se alguns trabalhos relevantes: He et al. (2013), Fei et al. (2013) e Tan et al. (2013), os
quais estudaram ligações tubulares entre seções circulares (CHS) tipo K, Y e T,
respectivamente, sob esforços axiais de compressão no montante em altas
temperaturas. Destacam-se ainda os trabalhos realizados por Cheng et al. (2013) e Jin
et al. (2012), os quais analisaram o comportamento estrutural de ligações tubulares tipo
T entre seções circulares (CHS) sob cargas de compressão no montante e temperaturas
elevadas. Estes verificaram também a influência de parâmetros geométricos α, β e γ,
indicados na Figura 1, na resistência da ligação. Conforme apresentado na Figura 1, α é
a razão entre duas vezes o comprimento do banzo l0 e o diâmetro do banzo d0; β é a
razão entre o diâmetro do montante d1 e o diâmetro do banzo d0 e  é a razão entre d0
e duas vezes a espessura do banzo t0. Jin et al. (2012) também avaliaram o
comportamento de ligações T entre seções circulares sob diferentes temperaturas e a

142
influência dos parâmetros geométricos β, γ e τ – Figura 1. Finalmente, mais
recentemente, Ozyurt et al. (2014) estudaram a resistência a elevadas temperaturas de
ligações tubulares circulares (CHS) e tubulares quadradas (SHS) submetidas a cargas
axiais de tração e compressão no montante.

O trabalho de pesquisa reportado neste artigo, o qual pode ser entendido como uma
continuação de trabalhos anteriores (e.g., Seruti et al., 2015), tem como objetivo
investigar o comportamento de ligações tubulares circulares (CHS) soldadas tipo T
conforme apresentado na Figura 1 sob cargas axiais de compressão e tração no
montante e submetidas a altas temperaturas (Seruti, 2018). Adicionalmente, pretende-
se verificar a aplicabilidade e eventuais modificações das curvas de dimensionamento,
presentes nas normas técnicas vigentes e aplicáveis para temperaturas ambiente, para
os casos com temperaturas elevadas.

Figura 1 – Parâmetros geométricos da ligação CHS-T.

2 Metodologia

Neste estudo, análises estacionárias envolvendo as temperaturas 20/100


(ambiente/moderada, para fins de comparação), 200, 300, 400, 500, 600, 700 e 800 °C
foram realizadas considerando duas situações distintas para obtenção da capacidade
resistente da ligação:
(i) a carga aplicada correspondente a um deslocamento de 3% do diâmetro do
banzo (P3%d0,θ) no ponto A da Figura 1, ou a carga de pico (Pu,θ), aquela que
ocorrer primeiro, com base no critério de deformação limite para ligações
circulares proposto por Lu et al. (1994), que é bem aceito na literatura;
(ii) somente a carga de pico (Pu,θ), obtida dos gráficos carga x deslocamento, tendo
em vista que para ligações CHS-T, a carga a 3%d0 pode fornecer um
dimensionamento bastante conservador.

As resistências obtidas nas análises numéricas pelos dois critérios foram comparadas
àquelas obtidas com as equações das normas técnicas NBR 16239 (ABNT, 2013),

143
Eurocode 3 (EN 1993-1-8, 2005) e ISO 14346 (2013) para a temperatura ambiente,
substituindo a resistência ao escoamento por aquelas com valores reduzidos devido ao
aumento de temperatura.

Nas análises estacionárias desenvolvidas são aplicadas cargas no montante da ligação até
que ocorra a ruptura da ligação soldada. Sendo assim, uma distribuição uniforme de
temperatura foi assumida em toda a ligação, assim como o critério de Von Mises de
distribuição de tensões. O intervalo 20/100°C, considerado nesta pesquisa como
ambiente/moderada, deve-se ao fato de que entre essas temperaturas não ocorre
nenhum decréscimo na tensão limite proporcional do aço fp,θ, na resistência ao
escoamento fy,θ ou no módulo de elasticidade Ea,θ. Isso pode ser verificado nas curvas da
Figura 2 (EN 1993-1-2, 2005), definidas pelos fatores de redução kp,θ, kE,θ e ky,θ, que
relacionam, respectivamente, os valores de fp,θ, fy,θ e Ea,θ reduzidos em dada temperatura
aos mesmos na temperatura ambiente, ou seja, normalizados. Tais curvas definem a
influência de tais parâmetros na resistência da ligação com o aumento de calor.

Portanto, um modelo de ligação soldada entre perfis tubulares circulares CHS-T foi
desenvolvido com base no Método dos Elementos Finitos (MEF) no programa
computacional Ansys v12.0® (2010). Elementos tipo casca, SHELL181, foram usados
tanto no banzo quanto no montante e na solda. A Figura 3 mostra detalhes da malha de
elementos finitos utilizada.

Figura 2 – Fatores de redução para a relação tensão-deformação do aço carbono sob


elevadas temperaturas (adaptado de EN 1993-1-2, 2005).

O processo de calibração do modelo numérico foi realizado com base nos resultados dos
testes experimentais reportados por Chen et al. (2013) à temperatura ambiente (20 °C)
para uma ligação CHS-T denominada SP-T. O modelo possuía as extremidades do banzo
fixas com apoio de segundo gênero à esquerda e primeiro gênero à direita sendo a carga
aplicada na extremidade superior do montante que é sustentado também por um apoio
144
do primeiro gênero restringindo deslocamentos na direção do eixo z (Figura 4). O ângulo
θ1 entre o banzo e o montante é 90°. O aço usado na ligação avaliada tinha resistência
ao escoamento fy,20 = 383 MPa e módulo de elasticidade Ea,20 = 219 GPa, ambos a 20 °C.
Considerou-se, também, a resistência à ruptura da solda fu,20 = 480 MPa, já que o autor
não explicitou tal propriedade. O ponto A corresponde a ligação do banzo com o
montante a ser considerado na obtenção da resistência da ligação tendo em vista o
surgimento de tensões normais de flexão neste ponto. Tal procedimento também foi
reportado por Lima et al. (2018).

y
z x

Figura 3 – Modelo em elementos finitos da ligação soldada tipo T entre perfis


tubulares circulares CHS-T.

Figura 4 – Esquema da ligação SP-T (Adaptado de Chen et al., 2013) – dimensões em mm.

As curvas tensão x deformação do aço sob elevadas temperaturas foram consideradas


de acordo com parâmetros do Eurocode EN 1993-1-2 (2005) sendo curvas multilineares
com o patamar limitante da capacidade da ligação na resistência ao escoamento (Figura
5).

A Figura 6 apresenta uma comparação das curvas carga x deslocamento entre os


resultados do modelo numérico e os testes à temperatura ambiente (20 °C) reportados

145
por Chen et al. (2013), onde δm é o deslocamento axial do montante medido no ponto
A, em mm, sob determinada carga P20, em kN. Também é mostrado no gráfico, o limite
referente ao critério de deformação de 3% do diâmetro do banzo (3% d0) proposto por
Lu et al. (1994) para a determinação da capacidade resistente da ligação tubular.
Percebe-se que a curva obtida através do modelo numérico está bem próxima às curvas
experimental e numérica do autor relacionado. Tanto a força de pico (P 20) obtida
experimentalmente por Chen et al. (2013) como a verificada no modelo numérico
desenvolvido no presente trabalho foram de aproximadamente 85 kN, atingidas após o
limite de 3%d0, no deslocamento de 20 mm. A força (P3%d0) foi de aproximadamente 35
e 30 kN (14% de diferença), respectivamente, para o ensaio experimental e o modelo
calibrado. Desta forma, tendo em vista a diferença entre as duas capacidades
resistentes, optou-se por avaliar ambas situações para as ligações consideradas na
análise paramétrica que será discutida em seções posteriores. Desta forma, conclui-se
que o modelo é confiável e pode ser usado para gerar estudos paramétricos das ligações
soldadas em diferentes temperaturas.

Figura 5 – Relação tensão-deformação para aço carbono sob elevadas temperaturas.

Figura 6 – Comparação de curvas P20 x δm – experimental e numéricas (Chen et al., 2013).


146
3 Estudo Paramétrico

Concluída a calibração do modelo numérico apresentada na seção anterior, um estudo


paramétrico foi conduzido através de 15 modelos numéricos para investigar a influência
de parâmetros geométricos na resistência de ligações soldadas circulares CHS tipo T. Os
parâmetros adimensionais avaliados foram β, α e γ já citados na Figura 1. A Tabela 1
apresenta os parâmetros geométricos das 15 ligações estudadas. As propriedades à
temperatura ambiente dos tubos de aço e da solda considerada são mostradas na
Tabela 2. A Tabela 3 indica os momentos resistentes elásticos Wel,0 e plásticos Wpl,0 das
seções transversais dos banzos obtidos do catálogo de perfis metálicos estruturais (aço
VMB 250) da Vallourec (2018).

Em termos de solicitações foram consideradas duas situações distintas: (i) inicialmente,


ligações com o montante submetido a forças axiais de compressão e em seguida (ii)
ligações com o montante submetido a forças axiais de tração. Não foram consideradas
forças axiais aplicadas no banzo em ambos os casos. Cada caso englobou a análise dos
15 modelos descritos na Tabela 1 submetidos a 8 temperaturas diferentes, totalizando
240 modelos.

Tabela 1 - Parâmetros geométricos dos modelos numéricos


t0 l0 d1 t1 l1
Ligação d0 [mm] β α γ
[mm] [mm] [mm] [mm] [mm]
CHS-T-1 355,6 10 1000 101,6 10 500 0,29 5,62 17,78
CHS-T-2 355,6 10 1000 114,3 10 500 0,32 5,62 17,78
CHS-T-3 355,6 10 1000 141,3 10 500 0,40 5,62 17,78
CHS-T-4 355,6 10 1000 168,3 10 500 0,47 5,62 17,78
CHS-T-5 355,6 10 1000 219,1 10 500 0,62 5,62 17,78
CHS-T-6 355,6 10 800 168,3 10 500 0,47 4,50 17,78
CHS-T-7 355,6 10 1200 168,3 10 750 0,47 6,75 17,78
CHS-T-8 355,6 10 1400 168,3 10 875 0,47 7,87 17,78
CHS-T-9 355,6 10 1600 168,3 10 1000 0,47 9,00 17,78
CHS-T-10 355,6 10 1800 168,3 10 1125 0,47 10,12 17,78
CHS-T-11 355,6 14,2 1000 168,3 14,2 500 0,47 5,62 12,52
CHS-T-12 355,6 12,5 1000 168,3 12,5 500 0,47 5,62 14,22
CHS-T-13 355,6 11 1000 168,3 11 500 0,47 5,62 16,16
CHS-T-14 355,6 8,8 1000 168,3 8,8 500 0,47 5,62 20,21
CHS-T-15 355,6 8 1000 168,3 8 500 0,47 5,62 22,23

Tabela 2 - Propriedades geométricas dos materiais da ligação


Material Ea,20 [MPa] fy,20 [MPa] fu,20 [MPa]
Aço 205000 250 -
Solda 219000 - 480

147
Tabela 3 - Momentos resistentes elásticos e plásticos das seções estudadas
d0 [mm] t0 [mm] Wel,0 [x 103 mm3] Wpl,0 [x 103 mm3]
8 742 967
8,8 811 1059
10 912 1159
355,6
11 995 1307
12,5 1117 1472
14,2 1250 1656

Os valores de capacidades resistentes obtidos nas análises numéricas considerando-se a


aplicação do critério de deformação limite proposto por Lu et al. (1994) foram
comparados aos obtidos com as equações das normas técnicas NBR 16239 (ABNT, 2013),
Eurocode 3 (EN 1993-1-8, 2005) e ISO 14346 (2013) para a temperatura ambiente,
substituindo a resistência ao escoamento por aquelas com valores reduzidos devido ao
aumento de temperatura. Cabe ressaltar aqui que a equação da norma brasileira fornece
os mesmos valores da norma europeia para a força axial resistente das ligações. As
Equações 1 e 2, a seguir, fornecem, respectivamente, as forças axiais resistentes de cálculo
das normas Brasileira - NBR / Europeia – EC3 e a ISO. Estas equações consideram o ELU de
plastificação da região conectada do banzo junto ao montante tendo em vista ser o modo
de falha A que controla o dimensionamento das ligações tubulares soldadas tipo T entre
perfis circulares avaliadas no presente trabalho.

(ABNT NBR 16239 e EN 1993-1-8) (1)

(ISO 14346) (2)

O fator np é dado pela Equação 3:

(3)

Onde: N1,Rd: é a força axial resistente de cálculo da diagonal ou montante na ligação


(ABNT NBR e Eurocode);
β, γ: são parâmetros geométricos da ligação apresentados na Figura 1;
kp: é o fator relacionado às tensões no banzo circular, tomado igual a 1,0
para cargas de tração no banzo (np ≥ 0) e tomado igual a 1 + 0,3 np – 0,3
np² para cargas de compressão no banzo (np < 0);

fy,θ: é a resistência ao escoamento do aço do banzo sob a temperatura θ;

148
t0 : é a espessura do banzo;

θ1 : é o ângulo de inclinação do montante com o banzo (= 90°);

Fi *: é a força axial resistente de cálculo do montante na ligação (ISO);


C1 : é o coeficiente de tensão no banzo, tomado igual a 0,20 para cargas de
tração no banzo (np ≥ 0) e tomado igual a 0,45 – 0,25 β para cargas de
compressão no banzo (np < 0);
np: é o fator que relaciona as tensões no banzo;
Pθ: é a força axial solicitante aplicada no montante da ligação sob
determinada temperatura θ;
A0: é a área da seção transversal do banzo;
Mθ: é o momento fletor solicitante no banzo sob a temperatura θ calculado
no ponto A conforme apresentado na Figura 4;
Wpl,0: é o momento resistente plástico da seção transversal do banzo.

4 Resultados e Discussões

Esta seção apresenta e discute os resultados obtidos através das simulações numéricas
realizadas considerando-se os montantes submetidos a forças axiais de compressão e
tração, respectivamente.

4.1 Ligações submetidas a forças axiais de compressão no montante

A Figura 7 ilustra a comparação entre as capacidades resistentes das ligações sujeitas a


forças axiais de compressão considerando o critério de deformação limite de 3%d0 ou
pico (aquela que ocorrer primeiro) - Figura 7(a) - e somente a carga de pico - Figura 7(b).
O eixo das abscissas indica as temperaturas e o das ordenadas apresenta as cargas
numéricas normalizadas pelas resistências teóricas (Equações 1 e 2). A reta horizontal
na ordenada 1,0 refere-se à situação ótima de projeto. Sendo assim, valores acima dessa
reta indicam segurança no uso das expressões; e abaixo, que as equações das normas
não são recomendadas para serem usadas na situação de ligações CHS-T sujeitas a
temperaturas elevadas.

De acordo com as Figuras 7(a) e 7(b), percebe-se que as cargas obtidas foram muito
próximas nos dois critérios. Aquelas obtidas numericamente são superiores às definidas
pela expressão do EC3/NBR até 300 °C nos dois gráficos. No caso da ISO, isso não é
satisfeito, pois apresenta ligações cuja capacidade resistente numérica ficou abaixo da

149
reta ideal. Assim, o uso das expressões só é recomendado para temperaturas até 200°C.
Posteriormente, apresentar-se-á a influência dos parâmetros α, β e γ na resistência das
ligações.

(a) P3%d0,θ ou Pu,θ; (b) somente Pu,θ


Figura 7 – Relação entre as temperaturas e as capacidades resistentes na compressão.

Considerando-se, agora, os fatores de redução propostos na EN 1993-1-2 (2005), que


define a influência de fp,θ, fy,θ e Ea,θ na resistência das ligações, a Figura 8 apresenta as
cargas obtidas numericamente no limite 3%d0 ou pico - Figura 8(a) e somente carga de
pico - Figura 8(b), normalizadas à temperatura ambiente.

(a) P3%d0,θ ou Pu,θ (b) somente Pu,θ


Figura 8 – Redução da capacidade resistente à compressão.

Observando-se os gráficos da Figura 8, nota-se em ambos os casos (P3%d0,θ e Pu,θ), que as


resistências obtidas na análise paramétrica são menores do que aquelas obtidas através dos
fatores de redução da resistência ao escoamento do aço (ky,θ = fy,θ / fy,20) e maiores que os
fatores que relacionam o módulo de Elasticidade (kE,θ = Ea,θ / Ea,20). Portanto, conclui-se que
o módulo de Elasticidade influencia diretamente na resistência da ligação. Vale ressaltar
que, apesar das cargas obtidas na deformação 3%d0 serem inferiores às de pico em

150
temperaturas elevadas - Figura 8(a), ao serem normalizadas à temperatura ambiente, a
curva originada é superior e mais próxima àquela dos módulos de elasticidade, o que
justifica a influência de tal parâmetro também para esse caso.

4.2 Ligações submetidas a forças axiais de tração no montante

A Figura 9 relaciona as capacidades resistentes das ligações sujeitas a forças axiais de


tração no montante considerando o critério de deformação limite de 3%d0 ou carga de pico
- Figura 9(a) e somente a carga de pico - Figura 9(b).
Percebe-se, pelas Figuras 9(a) e 9(b), que as capacidades de carga referentes a
deformação de 3%d0 ou pico foram bem inferiores àquelas obtidas pelo critério de se
usar somente a carga de pico. Conforme a Figura 9(a), que considera as cargas na
deformação limite, as capacidades resistentes numéricas são superiores somente às
definidas pela expressão da NBR até 300°C. A expressão da ISO só satisfaz até 200°C,
como no caso da compressão. Assim, o uso das expressões, considerando-se as ligações
estudadas no presente trabalho, só é válido para temperaturas até 200°C. No caso de se
usar somente as cargas de pico - Figura 9(b), verifica-se que as capacidades resistentes
obtidas pelas duas normas técnicas seguem bem abaixo das numéricas em todas as
temperaturas, com casos de cargas superiores a três vezes e meia as permitidas pelas
normas técnicas. Pode-se concluir que o uso das equações da NBR e ISO é seguro em
ligações submetidas a cargas de tração no montante considerando a carga de pico como
fator limitante na capacidade resistente das ligações. Porém, estas cargas podem ser
atingidas para níveis elevados de deformação das ligações.

(a) P3%d0,θ ou Pu,θ (b) somente Pu,θ


Figura 9 – Relação entre as temperaturas e as capacidades resistentes na tração.

A Figura 10 apresenta as cargas obtidas pelos dois critérios normalizadas e as relaciona aos
fatores de redução propostos no EN 1993-1-2 (2005). Pode-se observar que a curva
151
formada pelos valores obtidos na análise numérica praticamente acompanha a curva
formada pelos fatores de redução do módulo de Elasticidade (kE,θ). Portanto, para esse
caso, tal propriedade do aço tem significativa influência na resistência da ligação, assim
como naquelas submetidas à compressão, apresentadas no item anterior. Já na Figura
10(b), tal curva segue superpondo àquela dos fatores de redução da resistência ao
escoamento (ky,θ). Conclui-se então que, para as ligações submetidas a forças axiais de
tração no montante cujas cargas de pico são determinantes por ocorrerem antes das
cargas correspondentes ao deslocamento de 3%d0, a resistência ao escoamento do aço
é o fator influente na força axial resistente da ligação.

(a) P3%d0,θ ou Pu,θ (b) somente Pu,θ


Figura 10 – Redução da capacidade resistente à tração.

4.3 Efeito do parâmetro geométrico β no comportamento das ligações CHS-T

Considerando-se as ligações submetidas a forças axiais de compressão, a variação da


força resistente em função da variação dos diâmetros do montante d1 e do banzo d0
dado pelo parâmetro  é mostrada na Figura 11. A variação em função da força axial
resistente definida pelo critério limite (Lu et al., 1994), P3%d0,θ ou Pu,θ é mostrada na
Figura 11(a). Já a variação em função somente da força resistente de pico, Pu,θ, é
mostrada na Figura 11(b). Considerando-se, agora, as ligações submetidas a forças axiais
de tração, a Figura 12(a) apresenta a variação de β para a força axial referente à deformação
limite e a Figura 12(b) para a força de pico apenas, respectivamente.

Sendo β a relação entre os diâmetros do montante e do banzo, mantendo d1 constante


(355,5 mm) e aumentando-se d0 (de 101,6 mm inicial para 219,1 mm final), percebe-se um
acréscimo na resistência da ligação sob compressão em ambas as análises (3%d0 e força de
pico) e na tração, apenas considerando o critério de deformação limite. Para o caso em que

152
a ligação é submetida à tração considerando a carga de pico, a resistência praticamente se
mantém constante (redução em torno de 1% na temperatura ambiente).

(a) P3%d0,θ ou Pu,θ (b) somente Pu,θ


Figura 11 – Efeito da variação de β nas ligações CHS-T submetidas à compressão.

(a) P3%d0,θ ou Pu,θ (b) somente Pu,θ


Figura 12 – Efeito da variação de β nas ligações CHS-T submetidas à tração.

4.4 Efeito do parâmetro geométrico α no comportamento das ligações CHS-T

Considerando-se as ligações cujos montantes são submetidos a forças axiais de compressão,


a variação da resistência com o aumento da relação entre o comprimento e o diâmetro do
banzo, α, é mostrada na Figura 13. A Figura 13(a) considera a força resistente definida de
acordo com P3%d0,θ ou Pu,θ (Lu et al., 1994). Já a Figura 13(b) considera somente a resistência
de pico da ligação Pu,θ. A variação de α nas ligações para forças axiais de tração é
mostrada na Figura 14(a) para o caso de P3%d0,θ ou Pu,θ e na Figura 14(b) para a força de
pico Pu,θ.
153
(a) P3%d0,θ ou Pu,θ (b) somente Pu,θ
Figura 13 – Efeito de α nas ligações CHS-T submetidas à compressão.

(a) P3%d0,θ ou Pu,θ (b) somente Pu,θ


Figura 14 – Efeito de α nas ligações CHS-T submetidas à tração.

O parâmetro α relaciona duas vezes o comprimento do banzo (l0) e o diâmetro do banzo


(d0). Sendo assim, observa-se nas Figuras 13 e 14 que apenas variando l0 (de 800 mm
inicial para 1800 mm final), não se verifica influência na resistência da ligação em
nenhum caso. Isso pode ser notado nas expressões das normas técnicas, já que o fator
não está incluído no cálculo das forças axiais resistentes. Ressalta-se que as análises
realizadas nesta pesquisa em relação à influência do parâmetro α são locais, ou seja, as
deformações são localizadas na região da ligação em si. Considerando a estrutura
globalmente, é discutível que o comprimento l0 influencie na resistência e, portanto, as
conclusões tomadas aqui podem não ser ideais para este caso. Estudos aprofundados
para o caso global são recomendados.

154
4.5 Efeito do parâmetro geométrico γ no comportamento das ligações CHS-T

Considerando-se as ligações cujos montantes são submetidos a forças axiais de


compressão, a variação da resistência com o aumento na relação entre o diâmetro e
duas vezes a espessura do banzo, γ, é mostrada na Figura 15. A Figura 15(a) considera a
resistência definida entre P3%d0,θ ou Pu,θ (Lu et. al, 1994) e a Figura 15(b) considera
apenas a força de pico da ligação Pu,θ.

(a) P3%d0,θ ou Pu,θ (b) somente Pu,θ


Figura 15 – Efeito de γ nas ligações CHS-T submetidas à compressão.

A variação de γ nas ligações submetidas a forças axiais de tração é mostrada na Figura


16(a) para o caso de deformação limite e na Figura 16(b) para a carga de pico. O
parâmetro γ, por sua vez, é a relação entre o diâmetro do banzo (d0) e duas vezes a sua
espessura (t0), também influencia significativamente no comportamento das ligações. A
redução da espessura da seção transversal do banzo provoca queda na resistência, o
que é de se esperar, visto que a área da seção transversal diminui.

Por fim, a Tabela 4 mostra um resumo da variação da força axial resistente das ligações
CHS-T com o aumento de um parâmetro geométrico mantendo os outros dois
constantes, conforme descrito anteriormente na Tabela 1. Os acréscimos e reduções
apresentados na tabela foram obtidos a partir da primeira ligação do intervalo. Por
exemplo, para o fator β, o aumento da resistência à compressão de 64% considerando
a carga limite de 3%d0 ou carga de pico é tomado da ligação CHS-T-5 em relação a CHS-
T-1. O mesmo ocorre quando se considera apenas a carga de pico.

155
(a) (b)
Figura 16 – Efeito de γ nas ligações CHS-T submetidas à tração: (a) P3%d0,θ ou Pu,θ; (b)
somente Pu,θ.

Tabela 4 - Variação da força resistente das ligações com a variação dos parâmetros
geométricos

Variação da força axial resistente da ligação


Ligações Parâmetro P3%d0, (Lu et al., 1994) Ppico,
Compressão Tração Compressão Tração
CHS-T-1 a CHS-T-5   64%  73%  43%  3%
CHS-T-6 a CHS-T-10  0% 0% 0% 0%
CHS-T-11 a CHS-T-15   60%  54%  62%  42%
onde  indica aumento e  indica redução da força axial resistente das ligações

Pela Tabela 4, percebe-se que apenas os parâmetros β e γ influenciaram na resistência


das ligações. O incremento do primeiro parâmetro β aumenta a capacidade resistente
das mesmas. O incremento do segundo γ reduz. Ambos os parâmetros estão incluídos
nas expressões das normas técnicas usadas nesta pesquisa e influenciam também o
comportamento das ligações quando submetidas à temperatura elevada. O parâmetro
α não afeta o comportamento das ligações, portanto, não aparece nas equações.

5 Considerações Finais

Este trabalho envolveu o estudo de ligações tubulares circulares soldadas tipo T sob altas
temperaturas em regime estacionário. Foi investigada a resistência a compressão e a
tração das ligações através de simulações numéricas via MEF. Adicionalmente, um
estudo paramétrico visando avaliar o efeito de relações geométricas sobre a capacidade
resistente de várias ligações foi realizado. Tomando-se os fatores de redução da

156
resistência ao escoamento e módulo de elasticidade a temperatura ambiente obtidos
no Eurocódigo EN 1993-1-2 (2003) e as equações propostas pela norma brasileira NBR
16239 (ABNT, 2013) e as estrangeiras Eurocódigo EN 1993-1-8 (CEN, 2005) e a ISO 14346
(ISO, 2013), comparações foram feitas. Os valores das forças axiais resistentes obtidos
pelo critério de P3%d0,θ ou Pu,θ e somente Pu,θ descritos nesta pesquisa foram aqueles
obtidos diretamente através da simulação numérica.

A partir da análise dos diferentes resultados apresentados ao longo do trabalho, as


seguintes conclusões, relacionadas ao comportamento e dimensionamento de ligações
tubulares circulares CHS-T sob altas temperaturas podem ser destacadas:

(i) Considerando o montante sob compressão e as forças resistentes definidas tanto


por P3%d0,θ ou Pu,θ e somente Pu,θ, pode-se concluir que o uso das equações a
temperatura ambiente propostas pelas normas técnicas NBR 16239 (ABNT,
2013), Eurocódigo EN 1993-1-8 (CEN, 2005) e ISO 14346 (ISO, 2013) para o cálculo
das forças axiais resistentes a altas temperaturas não é aconselhável apenas
mudando os valores da resistência ao escoamento a 20 °C por aqueles reduzidos
em função do aumento de calor. A substituição só é válida para temperaturas
inferiores a 200 °C. Os valores das forças resistentes normalizados pela
temperatura ambiente são menores que os fatores de redução da resistência ao
escoamento e maiores que os do módulo de elasticidade definidos pelo
Eurocódigo EN 1993-1-2 (CEN, 2005). Isso indica que o módulo de Elasticidade
influencia na resistência da ligação;

(ii) Quando se considera o montante submetido a forças axiais de tração, duas


situações ocorrem. Para o caso das forças obtidas por P3%d0,θ ou Pu,θ, o uso das
equações só é aconselhável até 200 °C. Já quando se consideram apenas as forças
resistentes de pico Pu,θ, as equações podem ser usadas na obtenção das forças
axiais de resistência das ligações CHS-T sob cargas de tração no montante para
qualquer temperatura. No primeiro caso, a curva formada pelas cargas
normalizadas à temperatura ambiente fatores de redução segue abaixo da
formada pela resistência ao escoamento e acima da formada pelo módulo de
elasticidade. O que garante a influência do módulo de elasticidade também nesse
caso. A curva formada pelas cargas de pico normalizadas segue conjunta à da
resistência ao escoamento. Isso significa que tal fator é determinante na
resistência da ligação quando se toma tal carga como limitante no cálculo;

157
(iii) Os parâmetros geométricos β e γ têm grande influência na força axial resistente
das ligações. Nas ligações submetidas a forças axiais de compressão no montante,
enquanto que com o aumento de β, a força resistente tende a aumentar, com o
aumento de γ, a força resistente decresce. Já para ligações submetidas a forças
axiais de tração, o aumento de β teve pouca influência. Ainda no caso de tração,
com o aumento de γ, a força axial resistente também diminui. O parâmetro α teve
efeito praticamente nulo na capacidade resistente das ligações em todos os
casos. Tanto que tal parâmetro não está incluído nas expressões das normas
técnicas para o cálculo das forças axiais resistentes.

6 Agradecimentos

Os autores desta pesquisa agradecem a UERJ, ao CNPq e a CAPES pelo apoio financeiro
e ao LABCIV (Laboratório de Computação da Faculdade de Engenharia Civil da UERJ) pelo
suporte computacional.

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160
Recebido: 14/05/2019
Aprovado: 30/09/2019
Volume 9. Número 2 (agosto/2020). p. 161-181 - ISSN 2238-9377
Revista indexada no Latindex e Diadorim/IBICT

Estudo numérico de vigas de aço com seção I


reforçadas à flexão com laminados de fibra de
carbono (PRFC)
Ana Flávia Canales1 e Ronaldo Rigobello2*

1 Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil, Universidade Estadual de


Maringá, anaflavia.cnls@hotmail.com
2 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Campus Campo Mourão,

rigobello@utfpr.edu.br

Numerical models of flexural strengthened steel I-beams with CFRP

Resumo
O presente trabalho utiliza do Método dos Elementos Finitos para o desenvolvimento de
estratégias numéricas com intuito de simular o comportamento à flexão de vigas de aço com
seção I reforçadas com laminados de PRFC. A abordagem utilizada consiste principalmente no
emprego predominante de elementos finitos do tipo casca nas análises. As simulações
permitiram considerar a influência do comprimento e da espessura dos laminados de PRFC no
modo de falha e capacidade de carga das vigas reforçadas. A estratégia de modelagem
desenvolvida teve seus resultados validados junto a resultados numéricos e experimentais
presentes na literatura e se mostrou adequada e eficaz para simular o comportamento das
vigas, apresentando resultados coerentes de rigidez, capacidade de carga e de deslocamentos.

Palavras-chave: Vigas de aço. Reforço estrutural. PRFC. Análise numérica.

Abstract
This work uses the Finite Element Method for the development of numerical models to
simulate the flexural behavior of steel I-beams strengthened with CFRP laminates. The
approach used consists mainly in the predominant use of shell finite elements for the analysis.
The simulations allowed considering the influence of the length and thickness of the CFRP
laminates in the failure mode and loading capacity of the strengthened beams. The modeling
strategy developed had its results validated with the numerical and experimental results from
literature. The used strategy was adequate to simulate the behavior of the beams, presenting
coherent results when predicting rigidity, load capacity and structural displacements.

Keywords: Steel beams. Structural strengthening. CFRP. Numerical analysis.

*autor correspondente
1 Introdução

O sistema de reforço de estruturas com o compósito de fibra de carbono pode ser


empregado com diferentes finalidades e já é comumente aplicado para reforçar
estruturas de concreto. O uso desse avançado material de reforço tem se tornado uma
opção atrativa para o reforço de estruturas metálicas (HOLLAWAY; CADEI, 2002).

Segundo Zhao (2014) a utilização do PRFC (Polímero Reforçado com Fibra de Carbono)
é uma solução de interesse para o reforço de elementos metálicos estruturais, em
substituição aos métodos tradicionais, tendo em vista que o compósito apresenta alta
resistência e rigidez, massa específica reduzida, além de rapidez e facilidade de
instalação.

Com relação às vigas de aço com seção I submetidas à flexão, a sua capacidade de
resistência está ligada ao seu modo de ruína, e podem apresentar falhas como a
plastificação total da seção, a flambagem lateral com torção e a flambagem local dos
elementos (mesa e alma).

Quando a viga possui reforço à flexão com o PRFC, além dos modos de falha de vigas
isolada, novos modos são introduzidos: ruptura à tração do reforço de PRFC,
descolamento final (ou de extremidade) e descolamento intermediário do reforço de
PRFC.

A Figura 1 apresenta um esquema dos possíveis modos de falhas em uma viga de aço
com seção I reforçada com PRFC por ligação externa na sua face tracionada.

Figura 1 - Modos de falha da viga de aço reforçada com PRFC (Teng, Yu e Fernando, 2012)

162
De acordo com Zhao (2014) a ruptura à tração do PRFC ocorre quando a deformação
da extremidade tracionada atinge seu valor limite. Este é o modo de falha mais
desejável, visto que a capacidade resistente da seção reforçada em questão pode ser
prevista por uma análise de seção convencional e, portanto, a suposição de seção
plana ainda pode ser usada.

Poucas pesquisas foram realizadas quanto a falha por flambagem lateral com torção.
Porém, é de grande importância, no projeto de um sistema de reforço de PRFC,
verificar a possibilidade de a flambagem lateral se tornar o modo de falha governante
de uma viga de aço reforçada com PRFC, que estaria regida por falhas de flexão no
plano antes do reforço. Um estudo foi realizado por Kabir e Seif (2010), explorando a
eficácia de diferentes esquemas de reforço para aumentar a resistência à flambagem
lateral. Para tal, utilizaram de uma solução analítica baseada em método de energia
para encontrar um valor crítico para a análise da flambagem lateral.

Quanto à flambagem local, para previsões mais precisas desse modo de falha em vigas
de aço de seção I reforçadas PRFC, os projetistas são aconselhados a realizar análises
não lineares com base em técnicas de modelagem empregando elementos finitos do
tipo casca. Para previsões confiáveis, as imperfeições geométricas apropriadas para os
elementos devem ser incluídas no modelo.

De acordo com Zhao e Zhang (2007) o elo mais fraco da ligação nesse tipo de sistema
de reforço é o adesivo, e é quem define o descolamento final ou descolamento
intermediário do reforço de PRFC.

Segundo Zhao (2014) o descolamento da extremidade ocorre devido ao alto


cisalhamento interfacial localizado e tensões de cisalhamento perto da extremidade
laminada, iniciando numa extremidade do laminado e, em seguida, propagando-se
rapidamente para a região de momento mais elevado, exibindo as características de
um processo frágil e instável. É altamente indesejável permitir que o descolamento da
extremidade ocorra antes do escoamento da viga de aço, visto que, isso implica que a
força do material do PRFC está longe de ser totalmente utilizada, não contribuindo
adequadamente com o reforço da viga à flexão.

163
A falha por descolamento intermediário ocorre devido à presença de danos ou
escoamento do aço, localizados na região onde existe o maior momento, sendo
geralmente o local de maior solicitação do reforço de PRFC. O descolamento
intermediário foi observado em testes laboratoriais em vigas de aço reforçadas com
PRFC, com ou sem defeito inicial, em Sallam et al. (2006) e Kim e Garrett (2011).

Em Sallam et al. (2006), observou-se que o descolamento intermediário ocorreu


precocemente quando utilizado um reforço de maior largura, devido à tensão
transversal não uniforme. Conclui com os resultados obtidos que o descolamento do
reforço na região de momento constante diminui a eficiência do elemento reforçado.

Hollaway e Cadei (2002) explicaram que para a realização do reforço, é necessário


compreender como ocorre a transferência da força entre o PRFC e o elemento
estrutural de aço, visto que, a relação destes determinará a posição e o comprimento
total do reforço a ser utilizado.

De acordo com Fernando (2010), a resistência de ligação nem sempre aumenta com o
aumento do comprimento da ligação. Quando o comprimento da ligação atinge um
valor limite, qualquer aumento deste comprimento de ligação não resulta no aumento
de resistência da ligação. O adesivo é principal responsável para que se atinja o
máximo aproveitamento da capacidade de ligação.

Métodos analíticos para o cálculo da resistência de vigas de aço reforçadas com PRFC
quanto à flexão podem ser encontrados em literatura estrangeira. Porém, não há no
Brasil procedimentos normativos sobre esse tema. Uma maneira de contornar as
limitações dos procedimentos normativos, é o uso das simulações numéricas,
realizadas a partir da do Método dos Elementos Finitos.

Diante disso, este trabalho apresenta uma proposta de modelagem numérica para
simular adequadamente o comportamento à flexão de vigas de aço com seção I
reforçadas com laminados de PRFC, empregando predominantemente elementos do
tipo casca nas análises, ao invés de elementos do tipo sólido tradicionalmente
utilizados. A estratégia proposta permite considerar a influência do comprimento e da

164
espessura dos laminados de PRFC no modo de falha e capacidade de carga das vigas
reforçadas.

2 Referências para o desenvolvimento numérico

A seguir estão apresentados os estudos experimentais e numéricos utilizados no


desenvolvimento do presente trabalho. É apresentado o estudo experimental
realizado por Lenwari, Thepchatri e Albrecht (2005), utilizado como base para o
desenvolvimento da modelagem numérica realizada por Sellem, Sharaky e Sallam
(2010), e o estudo de Narmashiri, Sulong e Jumaat (2012).

2.1 Estudo experimental de Lenwari, Thepchatri e Albrecht (2005)

Lenwari, Thepchatri e Albrecht (2005) estudaram o comportamento à flexão de vigas


de aço reforçadas com a ligação de laminados de PRFC em sua mesa inferior. Foram
avaliados aspectos como o efeito do comprimento do PRFC nas cargas de colapso e
modos de falha, tensões e deformações e a relação carga-deflexão das vigas.

Para isso, realizaram ensaios em sete amostras de vigas de aço de perfil W100x17,2,
biapoiadas, com comprimento entre apoios de 1,8 m. Visando evitar o escoamento por
compressão da mesa superior, realizaram a soldagem de uma placa de aço na face
superior da viga, com 12,2 mm de espessura, 200 mm de largura.

A configuração do reforço se deu com sua ligação à face inferior da mesa inferior do
perfil, utilizando duas tiras de 50 mm de largura e 1,4 mm de espessura do laminado e
uma camada de 1 mm do adesivo. O comprimento do reforço foi variado em 65 cm e
120 cm. O esquema de configuração das vigas ensaiadas é apresentado na Figura 2.

Figura 2 – Configuração da viga ensaiada (Lenwari, Thepchatri e Albrecht, 2005)

165
Os resultados obtidos para a análise foram retirados de diferentes pontos ao longo da
viga, visando conhecer o desenvolvimento de tensões de tração no PRFC, a distribuição
de tensões ao longo da seção transversal no meio do vão, as tensões na mesa inferior
ao final do laminado e os deslocamentos no meio do vão da viga.

2.2 Estudo numérico de Sellem, Sharaky e Sallam (2010)

Seleem, Sharaky e Sallam (2010) desenvolveram um modelo numérico para


representação do comportamento da viga ensaiada experimentalmente por Lenwari,
Thepchatri e Albrecht (2005), utilizando mesmas propriedades materiais e geométricas
e configurações de ligação para o reforço.

Com o auxílio do software ABAQUS, a análise tridimensional de elementos finitos foi


adotada para simular o comportamento não linear dessas vigas carregadas sob
configuração de flexão de quatro pontos, com aplicação de carga em incrementos
como carga estática seguindo um esquema de controle automático de carga.

Todos os materiais foram modelados com elemento sólido com oito nós (C3D8).
Quanto ao comportamento dos materiais, a viga de aço foi definida como um material
elastoplástico com encruamento por deformação, com relação tensão-deformação
bilinear para compressão e tração, e relação tensão-deformação linear até a falha do
material do PRFC. A modelagem, utilizando elementos finitos sólidos, da viga é
apresentada na Figura 3.

Figura 3 – Modelagem com elemento finito sólido (Seleem, Sharaky e Sallam, 2010)

A análise numérica em questão, baseada em resultados experimentais previamente


encontrados na literatura, conseguiu prever com razoável aproximação o
comprimento crítico do PRFC no qual a eficiência total da ligação adesiva é atingida.

166
2.3 Estudo de Narmashiri, Sulong e Jumaat (2012)

Narmashiri, Sulong e Jumaat (2012) estudaram os modos de falha do sistema de


reforço de vigas de aço com PRFC e seu comportamento estrutural. Para isso foram
escolhidos diferentes tipos e dimensões do PRFC, e empregados estudos de simulação
numérica e testes experimentais.

O estudo utilizou amostras com mesmas dimensões para as vigas de aço e diferentes
combinações de PRFC para o reforço, variando comprimento, espessura e módulo de
resistência à tração do laminado. A Figura 4 mostra as dimensões e configuração do
ensaio da viga.

Figura 4 – Dimensões e configuração do ensaio da viga (Narmashiri, Sulong e Jumaat, 2012)

Com a finalidade de obter a capacidade de incremento de resistência com o reforço,


uma amostra de viga não reforçada também foi utilizada. Dentre as amostras, todas
foram simuladas e analisadas numericamente, e apenas seis delas foram testadas e
analisadas experimentalmente.

As simulações e análises numéricas das amostras foram realizadas com uso do


software ANSYS. Todos os materiais foram modelados pelo elemento sólido com 10
nós (SOLID187), e a interface de superfícies comuns foi definida entre a viga de aço, o
adesivo e o PRFC.

Quanto às propriedades dos materiais, para o laminado de PRFC foram definidas como
lineares e ortotrópicas, e a viga de aço e adesivo foram definidos como materiais com
propriedades não lineares.

167
A análise estática não linear foi realizada para alcançar o ponto das falhas, sendo
assim, a carga foi aplicada incrementalmente até que a deformação plástica em um
elemento atingisse sua tensão final.

Narmashiri, Sulong e Jumaat (2012) concluíram que a capacidade de carga das vigas
reforçadas aumentou com placas de maior comprimento e espessura, e que o uso de
comprimento do PRFC maior que seu comprimento efetivo não tem influência
significativa na resistência final.

3 Modelos desenvolvidos

3.1 Considerações gerais

A modelagem e análises das vigas foram realizadas utilizando o software ANSYS®


Academic Research Mechanical, Release 18.2 (ANSYS Inc., 2017), e validadas com
resultados experimentais e numéricos apresentados em Lenwari, Thepchatri e
Albrecht (2005), Sellem, Sharaky e Sallam (2010 e Narmashiri, Sulong e Jumaat (2012).

Visando adotar uma estratégia mais eficiente computacionalmente que as referências


pesquisadas, o presente trabalho utilizou elementos finitos do tipo casca
(denominados também de Shell), para simular o comportamento da viga de aço e do
sistema de reforço com o PRFC.

Dentre os elementos finitos utilizados, disponibilizados na biblioteca interna do ANSYS,


encontra-se o elemento de casca SHELL181 para modelar a seção transversal da viga
de aço, o adesivo e o reforço de PRFC, o elemento sólido com características de casca
SOLSH190 para modelagem do adesivo e reforço de PRFC, e por fim, o elemento de
interface INTER205 para simulação da ligação entre as interfaces.

O elemento SHELL181 possui quatro nós e seis graus de liberdade por nó, três
translações e três rotações. É um elemento de casca bastante adequado para modelar
elementos estruturais de paredes finas. Esse tipo de elemento permite que seja
considerada a não linearidade do material e a deformação linear é apresentada no
plano em que está contido. Foi utilizado principalmente para a modelagem da seção
da viga de aço, e também foi testado para a representação do adesivo e do reforço de

168
PRFC, por se tratar de um elemento que permite ainda a consideração de camadas
com diferentes espessuras e propriedades de materiais, sendo um possível recurso
para a análise de compósitos.

O elemento SOLSH190 é usado para simular estruturas de casca com espessuras


variando de finas a moderadamente espessas. É um elemento que possui oito nós e
três graus de liberdade em cada nó e topologia de elemento sólido, podendo ser
facilmente conectados a outros elementos finitos. Esse é um elemento que também
pode ser utilizado para aplicações em camadas, com diferentes espessuras e
propriedades de materiais, sendo um recurso bastante útil na análise de compósitos.

O elemento finito INTER205 possui oito nós e três graus de liberdade em cada nó,
sendo utilizado para simulação de interface entre duas diferentes superfícies,
simulando a conexão entre elas. Esse elemento possui a capacidade de simular o
processo de descolamento interfacial entre as duas superfícies. A simulação do
comportamento desse descolamento é regida por um modelo de zona de coesão,
podendo o usuário definir qual modelo melhor se adequa ao caso em análise.

Para modelos desenvolvidos neste trabalho, utilizou-se a forma exponencial do


modelo de zona coesiva para interface entre adesivo e outros materiais, com
definições de valores baseados na pesquisa de Fawzia, Zhao e Al-Mahaidi (2010) e os
dados apresentados pelo fabricante dos adesivos. As variáveis e os valores de interesse
para esse modelo são informados no item 4.3.

Foram realizadas análises estáticas não lineares utilizando o método de solução de


Newton-Raphson para o sistema resultante. O processo de convergência foi
controlado pelos incrementos de carga e seus deslocamentos correspondentes, de
forma iterativa.

Com objetivo de melhorar o tempo de processamento computacional, considerou-se a


simetria da viga, modelando apenas metade do elemento estrutural, fazendo uso de
restrições de graus de liberdades dos elementos para a simulação da continuidade da
mesma, como ilustrado pela Figura 5.

169
Figura 5 - Exemplo de simetria do modelo e as restrições empregadas

Informações como propriedades de materiais e geometria, configuração de distância


entre apoios e pontos de aplicação de carga, comprimento da viga e do reforço,
tamanho do elemento finito para a malha, foram utilizadas como dados de entrada
para a construção dos modelos numéricos, e seus valores adotados de acordo com as
particularidades das referências utilizadas.

4 Validação da modelagem numérica

Em relação aos modelos desenvolvidos apresentados a seguir, de maneira geral, a


estratégia proposta é bastante eficiente quanto à convergência e o tempo
processamento. Situações que envolvam o modo de falha por descolamento são
consideradas e introduzem maiores dificuldades de convergência, necessitando de
passos de carregamento menores próximo ao colapso e malhas mais refinadas na
região do reforço.

Os modelos apresentados neste trabalho não consideram imperfeições geométricas


iniciais nem tensões residuais, de modo que problemas em que o modo de colapso
seja devido à instabilidade global ou local devem levar em conta esses fatores. Análises
de situações que envolvam flexão composta e trechos com inversão de momento com
o PRFC comprimido devem ser objeto de novos estudos.

170
4.1 Modelo 1 – Viga de referência

Inicialmente, desenvolveu-se um modelo referente apenas ao perfil de viga de aço,


adotado como viga de referência, denominado Modelo 1. A viga em questão possui
configuração em concordância com os dados das vigas ensaiadas experimentalmente
por Lenwari, Thepchatri e Albrecht (2005) e simuladas numericamente por Seleem,
Sharaky e Sallam (2010).

A viga de aço foi modelada como um material elastoplástico perfeito, e utilizou-se


relação tensão x deformação bilinear para seções de aço em compressão e tração.
Utilizou-se módulo de elasticidade de 200 GPa, tensão de escoamento de 300 MPa e
coeficiente de Poisson igual a 0,3.

Para a discretização da seção transversal da viga de aço foi utilizado o elemento de


casca SHELL181, realizando a compatibilização (ou acoplamento) entre os
deslocamentos e rotações dos nós da extremidade da alma/mesas com o elemento de
restrição multiponto MPC184 (Ver ilustração desse aspecto na figura 7). A utilização
desse elemento finito MPC 184 possibilita realizarmos a disposição adequada de
camada ou camadas do elemento de casca, a partir da superfície da malha de
elementos finitos, localizada na superfície externa das mesas superior e inferior no
presente caso. Isso evita a superposição de áreas, como as que poderiam ocorrer entre
mesa inferior/superior e alma, ou mesmo mesa inferior e adesivos. Além disso, esse
artifício permite a disposição adequada dos adesivos junto a superfície da malha de
elementos finitos, sempre externa ao perfil de aço.

A simulação do modelo foi realizada para diferentes tamanhos de malha (25 mm, 50
mm e 100 mm), visando definir um tamanho que seja eficiente para a modelagem. Os
resultados das simulações, no ponto central do vão na face inferior da mesa inferior,
estão apresentados na Figura 6.

171
Figura 6 – Resultados do Modelo 1 com MPC184 e teste de malha

O Modelo 1 apresentou curva com boa concordância na rigidez inicial e resultados


mais próximos dos resultados de Lenwari, Thepchatri e Albrecht (2005). Em relação à
carga máxima resistida, o Modelo 1 alcançou a carga de 87 kN, bastante próxima do
carregamento de plastificação total da seção de 88,7 kN obtido pela referência e,
portanto, a estratégia mostrou-se adequada.

Quanto a variação das malhas, observou-se respostas muito semelhantes para 25 mm


e 50 mm, sendo definido então o uso da malha de 25 mm para prosseguimento das
análises, por apresentar convergência de resultados e boa discretização para os
elementos do perfil.

4.2 Modelo 2

O Modelo 2 contempla a adição do reforço de PRFC à mesma seção transversal da viga


de aço do Modelo 1. Assim como nas referências, o comprimento de reforço utilizado
foi de 65 cm e 120 cm. A estratégia adotou interação total entre a viga de aço e o
reforço.

A camada adesiva e a camada do laminado de PRFC foram representadas pelo


elemento SHELL181, fazendo uso de sua característica que possibilita o uso de

172
múltiplas camadas dentro de um mesmo elemento. A Figura 7 apresenta, sem escala, o
perfil do esquema de reforço da viga do Modelo 2.

Figura 7 – Representação esquemática, sem escala, do perfil da viga de aço com PRFC

Visando simular adequadamente a ocorrência das possíveis falhas na ligação do


reforço, foi adotado refinamento de ¼ do tamanho da malha inicial do reforço e da
porção da mesa inferior em contato com o mesmo.

O laminado utilizado para a realização do reforço foi o Sika CarboDur H514, com
módulo de Elasticidade igual a 300 GPa e resistência à tração igual a 1800 MPa. O
adesivo utilizado para a ligação das laminas a viga de aço foi o epóxi de duas partes da
marca SikaDur 30, com uma camada de 1 mm de espessura, e módulo de elasticidade
de 11,2 GPa e resistência à tração igual a 24 MPa.

O comportamento do sistema de reforço com PRFC foi considerado linear até a


ruptura, e utilizado um critério de falha com dano por máxima deformação, tanto para
o adesivo quanto para o laminado de PRFC. Ou seja, quando se atinge a deformação
relativa a resistência de ruptura do material, é então disparado o modelo de dano,
sendo definido como uma redução de 95% na rigidez dos elementos de reforço.

Na Figura 8 são apresentados os resultados dos deslocamentos no meio do vão para o


Modelo 2 com o comprimento do reforço de 65 cm, bem como os resultados
experimentais e numéricos dos trabalhos de referência.

173
Figura 8 – Resultados do Modelo 2 com PRFC de 65 cm

A divergência dos resultados obtidos pode ser justificada com uma limitação do
modelo em apontar o momento de ocorrência da falha viga, visto que, segundo
Lenwari, Thepchatri e Albrecht (2005) a falha da viga se deu por descolamento da
extremidade do laminado.

Isso indica que o Modelo 2 não apresenta a eficiência para a detecção desse tipo de
falha, levando a resultados de cargas resistentes elevadas, o que não condiz com a
realidade apresentada no estudo experimental.

A Figura 9 apresenta os resultados dos deslocamentos no meio do vão para o Modelo


2 com o comprimento do reforço de 120 cm, bem como os resultados experimentais e
numéricos dos trabalhos de referência.

O resultado da carga máxima do Modelo 2 foi aproximadamente 3% inferior ao valor


experimental, e 8% superior em relação ao modelo numérico de Seleem, Sharaky e
Sallam (2010). Quanto ao deslocamento vertical no meio do vão, o Modelo 2
apresentou resposta bem mais dúctil que os resultados das referências.

174
Figura 9 – Resultados do Modelo 2 com PRFC de 120 cm

Segundo o estudo de Seleem, Sharaky e Sallam (2010), para comprimentos maiores de


reforço, que possuem suas extremidades situadas em regiões de menor solicitação, o
laminado consegue atingir sua capacidade de resistência máxima, levando a viga a
falhar pela ruptura a tração do reforço. Nesse caso, o Modelo 2 mostrou-se eficiente
nessa situação para a previsão desse tipo de falha (sem ocorrência de descolamento
de extremidade), resultando em valores satisfatórios para a capacidade de resistência
quando comparados aos obtidos pelos autores.

4.3 Modelo 3

O Modelo 3 é referente à adição do reforço de PRFC a mesma seção transversal da viga


de aço do Modelo 1, com a inclusão de um elemento de interface (INTER205) com
capacidade para simular o comportamento de descolamento das interfaces do sistema
de reforço, isto é, interface aço/adesivo e adesivo/PRFC. O elemento finito SOLSH190
foi utilizado para simulação do adesivo e do reforço de PRFC.

Um modelo simplificado de zona coesiva (MZC) foi adotado para o comportamento


constitutivo da ligação. Fernando (2010), Fawzia, Zhao e Al-Mahaidi (2010) e Yu, Chiew
e Lee (2011), são exemplos de pesquisas que apontam a importância de um modelo de
zona coesiva para a representação adequada do comportamento de perda de
aderência entre as interfaces.

175
Utilizou-se a forma exponencial do modelo de zona coesiva disponível no ANSYS, e a
determinação dos valores de entrada para os parâmetros necessários se deu com base
na ficha técnica do fabricante do adesivo SikaDur 30 (SIKA, 2017) e em Fawzia, Zhao e
Al-Mahaidi (2010). Os parâmetros de interesse necessários são a máxima tensão
normal de tração na interface (C1), adotada igual a 21 MPa, o valor da separação
normal à interface onde a máxima tensão de tração normal é alcançada (C2), adotado
igual a 0,04 mm, e o valor da separação devido ao cisalhamento onde a máxima tensão
de cisalhamento é atingida (C3), adotado igual a 0,04 mm.

O critério de falha com dano por máxima deformação continuou sendo utilizado para o
laminado de PRFC e adesivo foi definido como material elastoplástico perfeito.
Novamente, o acoplamento entre as mesas e a alma se deu por meio do elemento
MPC184. A Figura 10 apresenta os resultados obtidos com o Modelo 3 para o laminado
de 65 cm de comprimento, junto com os resultados de comparação.

Figura 10 - Resultados do Modelo 3 com PRFC de 65 cm

A curva obtida para o Modelo 3 apresenta boa concordância com as curvas das
referências, apresentando carregamento de colapso mais próximo dos resultados
experimentais de Lenwari, Thepchatri e Albrecht (2005) do que aqueles obtidos por
Seleem, Sharaky e Sallam (2010).

176
Quando se compara a viga controle (Modelo 1) com a viga reforçada com laminado de
PRFC de 65 cm, obtém-se um aumento de aproximadamente 25,6% no valor da
capacidade de carga, e redução nos deslocamentos verticais. Isso é coerente com os
resultados obtidos no estudo experimental de Lenwari, Thepchatri e Albrecht (2005) e
numérico de Seleem, Sharaky e Sallam (2010).

A Figura 11 apresenta os resultados obtidos com o Modelo 3 para o laminado de 120


cm de comprimento, junto com os resultados das referências.

Figura 11 - Resultados do Modelo 3 com PRFC de 120 cm

A curva obtida para o Modelo 3 apresenta boa concordância com os resultados das
referências, especialmente com os resultados experimentais de Lenwari, Thepchatri e
Albrecht (2005).

Com o Modelo 3, para o caso da viga reforçada com laminado de PRFC de 120 cm,
observou-se o aumento de aproximadamente 39,6% no valor da capacidade de carga,
e redução no deslocamento vertical, em relação à viga controle de aço do Modelo 1.
Quando comparado ao Modelo 2, os resultados obtidos com o Modelo 3 para o
comprimento de reforço de 65 cm evidenciam eficiência em considerar o
descolamento do reforço, resultando em carga de colapso apenas 7% maior que o
resultado experimental.

177
Com a estratégia do Modelo 3, foram também simuladas vigas ensaiadas por
Narmashiri, Sulong e Jumaat (2012), com a finalidade de analisar a influência do
reforço na capacidade de resistência das vigas.

Foram consideradas as vigas reforçadas com PRFC de alta resistência à tração com 50
mm de largura, com módulo de elasticidade de 160 GPa, resistência à tração de 2800
MPa e deformação última igual a 1,7%. O adesivo utilizado tem propriedades iguais ao
SikaDur 30, já mencionado anteriormente, com espessura de camada de 1 mm. A viga
de aço foi modelada como um material elastoplástico perfeito, com resistência ao
escoamento de 370 MPa.

Assim como na referência utilizada, as propriedades do material do laminado de PRFC


foram definidas como lineares até a ruptura (critério de falha com dano por máxima
deformação) e o adesivo foi definido como material elastoplástico perfeito.

Os resultados obtidos para a capacidade de carga com a simulação das vigas com
reforço são apresentados na Tabela 1, juntamente com os valores de simulação
numérica e ensaios experimentais de Narmashiri, Sulong e Jumaat (2012).

Tabela 1 - Especificações e capacidade de carga das vigas analisadas


Carga de colapso (kN) Relação de
capacidades de
Experimental Numérico carga
Compr. Espessura Narmashiri, Narmashiri,
Presente FRk,num FRk,num
Viga reforço do PRFC Sulong e Sulong e
Jumaat (2012) Jumaat (2012)
Trabalho FRk,exp,ref FRk,num,ref
(mm) (mm)
F1 N/A N/A 184,88 170,93 171,00 0,92 1,00
F2 600 1,2 N/A 180,13 178,55 - 0,99
F3 1000 1,2 N/A 186,52 188,25 - 1,01
F4 1500 1,2 206,24 191,13 190,28 0,92 1,00
F5 1700 1,2 217,77 203,8 201,79 0,93 0,99
F6 1800 1,2 219,19 206,6 202,36 0,92 0,98
F7 1500 1,4 222,5 210,01 203,55 0,91 0,97
F8 1500 2 N/A 223,72 213,03 - 0,95
N/A – Não aplicável
Os resultados apresentados na Tabela 1 permitem concluir que a estratégia do Modelo
3 do presente trabalho se mostrou eficiente ao simular o comportamento quanto a
capacidade de cargas das amostras, apresentando valores em média 8% menores
178
quando comparados ao estudo experimental, e valores muito próximos quando
comparados ao estudo numérico, com a maior divergência de valores na ordem de 5%.
A Tabela 2 apresenta o aumento na capacidade resistente nas vigas com a introdução
do reforço quando comparadas com viga de aço (F1).

Tabela 2 - Especificações e aumento na capacidade de resistência das vigas reforçadas


em relação à viga de referência.
Aumento de resistência em relação à
viga de referência (%)
Narmashiri, Sulong e Presente
Jumaat (2012) Trabalho
Compr. do Espessura do
Viga Experimental Numérico Numérico
reforço (mm) PRFC (mm)
F2 600 1,2 - 5,1 4,2
F3 1000 1,2 - 8,4 9,2
F4 1500 1,2 10,4 10,6 10,1
F5 1700 1,2 15,1 16,1 15,3
F6 1800 1,2 15,7 17,3 15,5
F7 1500 1,4 - 18,6 16,0
F8 1500 2 - 23,6 19,7
N/A – Não aplicável

A partir dos resultados é possível observar que para uma mesma espessura de PRFC,
os comprimentos mais longos resultam em maior capacidade de carga.

Quando comparadas as vigas F1 e F6, o aumento de resistência chega a 15,5%.


Diferentemente da viga F2 que atinge aumento de aproximadamente apenas 4,2%.
Porém, se comparado as vigas F5 e F6, nota-se que com um aumento de 100 mm no
comprimento, resulta em acréscimo próximo de 1% na capacidade de carga. Ou seja, a
partir de determinado comprimento, o ganho no desempenho estrutural passa a ser
relativamente insignificante.

O exposto acima condiz com o apresentado em Narmashiri, Sulong e Jumaat (2012),


em que se afirma que ao aumentar o comprimento do laminado de PRFC até um
comprimento eficiente, a capacidade de carga das vigas de aço aumentou. Para
comprimentos além disso, não há ganho na capacidade de carga.

179
Com relação aos efeitos da espessura do PRFC, os resultados indicaram que o uso do
laminado de 2 mm aumentou a capacidade de carga em aproximadamente 20%
quando comparado a F1. Quando comparado com a viga F7 com a F4, um aumento de
0,2 mm na espessura do PRFC levou ao incremento de 8% na capacidade de carga.
Analisando os resultados de F8 em relação a F4, um aumento de 0,6 mm na espessura
do laminado levou ao incremento de 13% na capacidade de carga.

5 Conclusões
A estratégia numérica de modelagem desenvolvida neste trabalho com o uso de
elementos tipo casca para o perfil e a utilização de elementos de interface para
representar o comportamento do adesivo se mostrou eficiente ao prever rigidez, a
capacidade de carga e os deslocamentos do elemento estrutural. É possível concluir
que, em comparação a resultados presentes na literatura, o modelo 3, principalmente,
permitiu alcançar resultados com adequada aproximação dos valores experimentais e
de outros modelos numéricos das referências utilizadas. A variação nos comprimentos
de reforço mostrou que laminados de PRFC mais curtos resultaram em descolamento
prematuro da extremidade e a aplicação de laminados mais longos resultou em maior
resistência contra o descolamento da extremidade. Quando analisada a variação de
espessuras, os laminados mais espessos aumentaram a capacidade de carga da viga.
Para as espessuras utilizadas nas análises, bem como para as condições de contorno
empregadas, o acréscimo na capacidade de carga da viga apresenta valores
significativos. Por fim, vale lembrar que os modelos apresentados neste trabalho não
consideram imperfeições geométricas iniciais e imperfeições de material, de modo que
problemas em que o modo de colapso ocorra devido à instabilidade global ou local
devem levar em conta esses fatores.

6 Agradecimentos
Ao PCV – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Estadual
de Maringá e à CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessol de Nível Superior.

180
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181
Recebido: 24/04/2019
Aprovado: 15/10/2019
Volume 9. Número 2 (agosto/2020). p. 182-201 - ISSN 2238-9377

Revista indexada no Latindex e Diadorim/IBICT

Efeitos da interação solo estrutura em


edifícios em aço sobre fundação profunda

Renan Moura Guimarães2, Alex Sander Clemente de Souza1*, Silvana De


Nardin1
1Prof. Dr. do Programa de Pós-graduação em Estruturas e Construção Civil

da Universidade Federal de São Carlos, alex@ufscar.br


2 Mestre em Estruturas e Construção Civil pela Universidade Federal de

São Carlos

Effects of soil–structure interaction in steel building on deep foundation

Resumo
Este trabalho apresenta um estudo comparativo entre diferentes edifÍcios em aço sobre
fundação do tipo estacas pré-moldadas de concreto com a finalidade de analisar a influência
da interação solo-estrutura (ISE) nos recalques e nos esforços solicitantes. Foram
dimensionadas 5 estruturas e suas respectivas fundações, variando o número de pavimentos
e tipos de contraventamento. As estruturas foram analisadas de forma convencional,
considerando o solo indeformável e considerando a deformabilidade do solo por meio de
coeficientes de reações aplicando a Hipótese de Winkler. Foram analisados os resultados de
reações de apoio e momentos fletores na base dos pilares, coeficientes de estabilidade
global B2, deslocamentos laterais, recalques e também a variação dos esforços de
compressão axial e momentos fletores ao longo da altura dos edifícios.

Palavras-chave: Interação solo-estrutura, estruturas metálicas, fundação profunda

Abstract
This work presents a comparative study between different steel structures on a pile
foundation with the purpose of analyzing the influence of the soil-structure interaction (SSI)
on soil displacements and stresses. Five structures and their respective foundations were
designed, varying the number of floors and types of bracing. The structures were analyzed in
a conventional way considering rigid base and considering the deformability of the soil by
means of reaction coefficients applying the Winkler Hypothesis. Were analyzed the results of
base reactions and bending moments at the base of the columns, global stability coefficients
B2, lateral displacements, soil displacements and also the variation of the axial compression
forces and bending moments along the height of the buildings.

Keywords: soil-structure interaction, steel structures, deep foundation

*autor correspondente
1 Introdução

Na prática atual de projetos de estruturas de edifício a superestrutura e as fundações


tem sido analisadas e dimensionadas de forma independentes. Durante a etapa de
projeto da superestrutura, o solo é considerado como um elemento indeformável, ou
seja, infinitamente rígido, permanecendo assim após a aplicação dos carregamentos.
As fundações são projetas com base na análise do solo e das reações nos apoios
oriundas do projeto estrutural. Porém, a redistribuição de esforços na
superestrutura devido aos recalques da fundação não é levada em consideração
durante a etapa de projeto podendo, assim, gerar patologias e comportamento
estrutural não previsto (GUSMÃO, 1990; IWAMOTO, 2000; ANTONIAZZI et. al., 2010;
REIS 2014).

O conhecimento da interação solo-estrutura (ISE) leva à uma modelagem mais


realista, podendo-se prever melhor o comportamento físico da estrutura. Um dos
principais efeitos provocados pela interação solo-estrutura é a redistribuição de
esforços na estrutura, principalmente nos pilares, onde há a possibilidade de
incremento dos efeitos globais de segunda ordem, de deslocamentos laterais e de
esforços de compressão (GUIMARAES e SOUZA, 2018; ANTONIAZZI, 2011). Além
disso, podem surgir patologias ou redução nos níveis de segurança sem a
consideração adequada da análise conjunto solo-estrutura. Colares (2006) aponta
vários problemas de manifestações patológicas e/ou problemas estruturais
originadas pela não consideração da interação solo-estrutura, como por exemplo a
Torre de Pisa, o Edifício Copam em São Paulo, a Companhia Paulista, além de vários
casos nas cidades de Santos e Cidade do México, cujos terrenos apresentam grandes
dificuldades para a execução das fundações devido à formação geológica.

O estudo da interação solo-estrutura exige do engenheiro um conhecimento mais


abrangente dos diversos tipos de materiais que compõem o sistema, assim como
conhecimentos nas áreas de fundações, solos e estruturas.

Vários estudos tem sido desenvolvidos com objetivos de compreender e modelar a


interação solo-estrutura propiciando a determinação da deformabilidade do sistema
estrutura-fundação e a distribuição de esforços decorrente (CHAMECKI,1954;
BURAGOHAINS & RAGHAVAN, 1977; GUSMÃO, 1990; AYALA et. al. 2015).

183
Com relação a modelagem do problema de interação solo-estrutura várias
metodologias tem sido desenvolvidas. O modelo mais simples e direto é o modelo de
Winkler, que admite que as cargas aplicadas na superfície do solo geram
deslocamentos somente no ponto de aplicação da mesma, ou seja, o efeito da
continuidade do meio não é considerado. Desta forma o maciço de solo pode ser
substituído por um sistema de molas com rigidez equivalente dando origem aos
coeficientes de reação verticais C.R.V. e horizontais C.R.H. que simulam a rigidez do
solo (GUIMARÃES, 2018). Para fundações profundas os coeficientes de reação
horizontais (C.R.H.) podem ser determinado em função das tensões e dos
deslocamentos horizontais no fuste da estaca como sendo uma parcela dos C.R.V. O
Quadro 1 apresenta de forma sintética o equacionamento para determinação dos
coeficientes de reação.

Quadro 1 – Cálculo dos coeficientes de reação pela hipótese de Winkler

𝑃(𝑟) – Pressão aplicada ao solo


pela fundação
𝐾𝑣 – Coef. de reação vertical
(C.R.V.)
𝐾ℎ – Coef. de reação horizontal
(C.R.V.)
𝑤 – Recalque
𝑝: carregamento imposto
B: menor largura da sapata
E: módulo de elasticidade
𝐼𝑝 : fator de influência
𝑃(𝑟) = 𝐾𝑣 𝑤
𝑘𝑣 : coef. de recalque vertical
1−𝑣 2
𝑤 = 𝑃𝐵 ( ) 𝐼𝑝 ʋ: coeficiente de Poisson
𝐸
𝐸 𝐵 𝑎 = 0,29 solo arenoso e 0,40
𝑘𝑣 = (1−𝜗2 ) 𝐼
𝑝
solo argiloso
𝑘ℎ = 𝑎 𝑘𝑣

A evolução da modelagem numérica do problema de interação solo-estrutura passa


pela aplicação do método dos elementos finitos (MEF) que permitem acoplar
estrutura, solo e fundações. Além disso, o método dos elementos de contorno (MEC)
também tem sido utilizado para modelar o solo e, em várias situações, o
acoplamento MEC-MEF tem se mostrado eficiente para as análises de interação solo-
184
estrutura com o solo sendo discretizado em elementos de contorno e o MEF utilizado
para modelar fundação e estrutura (SILVA & CODA, 2010; ALMEIDA, 2003;
MENDONÇA, 2015).

Outra linha de pesquisa bastante pertinente é a avaliação do efeito da interação solo-


estrutura nos esforços nos elementos estruturais e nos recalques de fundação. Neste
sentido vale destacar que os principais parâmetros que influenciam o
comportamento do conjunto solo-fundação-estrutura são a rigidez relativa estrutura-
solo, número de pavimentos, geometria do pavimento, sequência construtiva e a
presença de edificações vizinhas (REIS, 2000; HOLANDA JR. , 1998; GUSMÃO E
GUSMÃO FILHO, 1994; ANTONIAZZI, 2011 GUIMARÃES E SOUZA, 2018). A grande
maioria dos trabalhos nesta linha estão focado em edificações em concreto armada e
em comum concluem que considerando a interação solo-estrutura na análise os
recalques nos apoios tendem a ser mais uniformes, há alívio de cargas nos pilares
centrais e aumento nos pilares periféricos e que a alterações nos esforços estruturais
são mais significativo nos primeiros pavimentos. O número de pavimentos é umas
das variáveis de maior influência para a análise da interação solo-estrutura nestes
casos.

Em relação às estruturas metálicas, os efeitos da interação solo-estrutura ainda não


são completamente conhecidos e as pesquisas são escassas. Ferro et. Al. (2016)
fizeram um estudo em galpões metálicos treliçados com cobertura em arco circular,
percebendo que os deslocamentos e esforços aumentaram com a consideração da
ISE e os recalques foram mais uniformes. Guimarães et. al. (2018) mostrou que o
efeito da ISE nos esforços e recalques de edifícios em aço é pouco significativo, no
entanto a estrutura por resultar mais deslocavel e consequentemente mais sensível
aos efeitos de 2º ordem.

Pelo exposto ainda é necessário enteder melhor o efeito da interação solo-estruturas


em edificios em aço e mistos de aço e concreto. Este trabalho tem como objetivo
analisar as alterações nos esforços e nos recalques em edíficio em aço sob fundação
profunda.

185
2 Metodologia

Para a análise do efeito da interação solo-estrutura tomou-se como base um edifício


modelo de uso residencial variando-se a altura resultando em cinco estruturas com 4,
8, 12, 16 e 20 pavimentos. As Figuras 1, 2 e 3 apresentam as plantas da estrutura
modelo juntamente com a disposição dos sistemas de contraventamento adotados
em função do número de pavimentos. Foi utilizado o aço ASTM A572 Gr50 e coreto
C20 para dimensionamento da estrutura e fundações e, seguindo as recomendações
das normas brasileiras NBR 8800 (ABNT, 2008), NBR 6122 (ABNT, 2010), NBR 6123
(ABNT, 1988), NBR 8681 (ABNT, 2003), NBR 6122 (ABNT, 2010).

Figura 1 – Planta das edificações de 4 e 8 pavimentos (dimensões em mm)

Figura 2 – Planta das edificações de 12 e 16 pavimentos (dimensões em mm)

186
Figura 3 – Planta da edificação de 20 pavimentos (dimensões em mm)

Os elementos estruturais foram dimensionados com base nos esforços obtidos em


análise de 2ª ordem considerando vínculos ideais nas bases dos pilares, ou seja,
admitindo solo indissociável (análise sem interação solo-estrutura). As reações de
apoio resultantes foram utilizadas para projeto das fundações e cálculo dos recalques
iniciais.

Para o projeto das fundações foram consideradas estacas pré-moldadas com


resistência nominal de 750 kN e diâmetro de 33 cm, sendo a profundidade das
estacas e o número de estacas por bloco as únicas variáveis nos projetos das
fundações. O solo é predominantemente argiloso com valores de SPT por camadas
adequados para a fundação profunda em estacas conforme pode ser observado na
Figura 4.

Para o dimensionamento do elemento de fundação, formado por estacas mais solo,


foi utilizado o Método de Aoki-Velloso (1975) utilizando a equação 1.
𝐾.𝑁𝑝 .𝐴𝑝 𝑈
𝑅= 𝐹1
+ 𝐹 Σ(𝛼. 𝐾. 𝑁𝐿 . Δ𝐿 ) (1)
2

Sendo,

Ap é área da ponta da estaca.

187
U é o perímetro da estaca.

ΔL é a espessura da camada de solo.

Np e NL, respectivamente, os índices de resistência à penetração na cota de apoio da


ponta da estaca e o índice de resistência à penetração médio na camada de solo de
espessura ΔL, sendo estes valores obtidos através de ensaio de sondagem do solo.

K e α são parâmetros que dependem do tipo de solo. Para este caso, K e α valem
respectivamente 220 KPa e 0,04 para Argila Siltosa e 350 KPa e 0,024 para Argila
Arenosa.

F1 e F2 são fatores de correção que dependem do tipo de estaca adotada. Para este
caso, F1 vale 1,41 e F2 vale 2,82.

Figura 4 – Sondagem utilizada

Para o Edifício Modelo de 4 pavimentos, a resistência do elemento de fundação,


segundo o Método de Aoki-Velloso é de 178,63 kN. O número de estacas por pilar foi
obtido em função da carga na fundação oriunda na análise da estrutura e da
resistência do elemento de fundação (R.E.F.). A Figura 5 apresenta a planta de
188
fundação para a Estrutura Modelo de 4 pavimentos, o mesmo procedimento foi
adotado para os demais casos em estudo.

Figura 5 – Planta de fundação profunda estrutura de 4 pavimentos

O recalque foi obtido através do Método de Aoki-Lopes (1975), dado pela equação 2
a 3.
∆𝜎 1
𝜌 = ∑( 𝐸 . 𝐻) + 𝐴.𝐸 . ∑(𝑃𝑖 . 𝐿𝑖 ) (2)
𝑠 𝑐

𝜎0 + ∆𝜎 𝑛
𝐸𝑠 = 𝐸0 ( ) (3)
𝜎0

𝐸0 = 6. 𝐾. 𝑁𝑆𝑃𝑇 (4)
Sendo:

𝜌 é o recalque total final.

A é a área da seção transversal do fuste.

∆𝜎 é a contribuição total das parcelas de recalque devido ao fuste da estaca.

𝐸𝑐 é o módulo de elasticidade do concreto.

H é a altura da camada considerada, nesta caso igual a 1 m.

P é a carga vertical na estaca na camada considerada.

L é o comprimento da estaca na camada considerada.

Es é o módulo de deformabilidade do solo

189
E0 é o módulo de deformabilidade do solo antes da execução da estaca

σ0 é a tensão geostática no centro da camada.

n é um expoente que depende da natureza do solo, igual a 0 para solos argilosos.

K o coeficiente empírico do método de Aoki-Velloso (1975).

A análise estrutural foi desenvolvida utilizando o software SAP 2000 e de acordo com
as recomendações da NBR 8800 (ABNT, 2008). A estrutura foi modelada
tridimensionalmente incluindo a laje de concreto. A Figura 6 apresenta uma
ilustração 3D da geometria do modelo estrutural, a discretização de um pavimento e
o detalhe do bloco mais estacas para o caso da análise considerando a ISE.

Figura 6 – Geometria do modelo estrutural e detalhe bloco-estaca

Para consideração da interação solo-estrutura foram modelados, posteriormente, os


blocos de fundação com elementos finitos sólidos e as estacas com elementos finitos
de barra. Para simulação do solo foram inseridas molas horizontais e verticais para
simular a rigidez do solo por meio dos coeficientes de rigidez C.R.V. e C.R.H.
calculados conforme hipótese de Winkler.

Foi desenvolvido um aplicativo para o cálculo dos coeficientes de reação tendo como
dados de entrada as características do solo, características das fundações e reações
nos apoios da estrutura. A Figura 7 apresenta algumas telas do aplicativo
denominado MOLA.

190
Figura 7 – Aplicativo Mola para cálculo dos coeficientes de reação

A molas correspondentes ao C.R.V foram inseridas na ponta da estaca enquanto as


molas correspondentes ao C.R.H. foram distribuídas ao longo do comprimento da
estaca.

3 Resultados e discussões

Apresenta-se e discute-se em seguida os resultados de recalques, deslocamentos e


esforços com e sem a consideração da interação solo estrutura para os 5 edifícios
analisados. Foi adotada a seguinte nomenclatura ENpav (E = edifício e Npav – número
de pavimentos) para identificar os modelos sem interação solo estrutura e para os
modelos como interação solo estrutura ENpavISE-Est.

O gráfico da Figura 8 apresenta uma comparação dos esforços de compressão na


base dos pilares para análise convencional (apoio rígido) e considerando a ISE para a
combinação de ações mais desfavorável.

7000
6500
6000
Compressão Axial (kN)

5500
5000
4500
4000
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 P15 P16
Pilares

E4 E4ISE-Est E8 E8ISE-Est E12 E12ISE-Est E16 E16ISE-Est E20 E20ISE-Est

Figura 8 – Comparação de reações nos apoios com e sem ISE (kN)

191
Para os pilares centrais (P6, P7, P10 e P11) foram observadas pequenas reduções nos
valores dos esforços axiais de compressão, para todas as estruturas analisadas. A
estrutura que apresentou o comportamento mais evidente da influência da interação
solo-estrutura foi a estrutura de 20 pavimentos, possivelmente devido à rigidez
global da mesma. O gráfico da Figura 9 apresenta uma comparação entre os
recalques finais para análise convencional e considerando a ISE.

18
17
16
15
14
Recalques (mm)

13
12
11
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 P15 P16
Pilares

E4 E4ISE-Est E8 E8ISE-Est E12 E12ISE-Est E16 E16ISE-Est E20 E20ISE-Est

Figura 9 – Comparação de recalques com e sem ISE (mm)

Percebe-se pela Figura 9 que não houve alterações significativa dos recalques devido
a análise considerando a ISE, para nenhuma das estruturas analisadas. A Figura 10
apresenta de forma comparativa os momentos fletores finais nos apoios com e sem
consideração da ISE.

1400
1300
Momentos Fletores (kN.m)

1200
1100
1000
900
800
700
600
500
400
300
200
100
0
P6 P7 P10 P11
Pilares

E4 E4ISE E8 E8ISE E12 E12ISE E16 E16ISE E20 E20ISE

Figura 10 – Comparação dos momentos fletores com e sem ISE (kN.m)

192
Foi observado variações significativas dos momentos fletores na base dos pilares
apenas para estruturas de 12 ou mais pavimentos. Estes aumentos foram de 11 kN.m
(+1,67%) para a estrutura de 12 pavimentos, 19 kN.m (+1,53%) para as estruturas de
16 e de 19 kN.m (+2,12%) para as estruturas de 20 pavimentos.

Foram analisados também a variação dos esforços normais e momentos fletores ao


longo da altura dos pilares. Para ilustrar esses resultados foi utilizado como exemplo
o pilar P11 da estrutura de 20 pavimento.

A Tabela 1 apresenta os resultados de esforços axiais nos pilares ao longo da altura


com e sem a consideração da iteração solo estruturas para o edifício de 20
pavimentos.

Tabela 1 – Variação do esforço de compressão axial ao longo da altura do pilar

Pavimento P11-E20 P11-E20ISE Diferença


(kN) (kN) (%)
Pav1 6324 6295 -0,44
Pav2 5999 5978 -0,35
Pav3 5638 5621 -0,30
Pav4 5284 5262 -0,42
Pav5 4922 4898 -0,49
Pav6 4600 4578 -0,48
Pav7 4268 4255 -0,30
Pav8 3942 3931 -0,28
Pav9 3605 3592 -0,36
Pav10 3305 3292 -0,39
Pav11 2992 2981 -0,37
Pav12 2684 2672 -0,45
Pav13 2378 2362 -0,67
Pav14 2076 2059 -0,82
Pav15 1776 1762 -0,79
Pav16 1480 1471 -0,61
Pav17 1187 1181 -0,51
Pav18 898 893 -0,56
Pav19 615 611 -0,65
Pav20 338 336 -0,59

193
Observa-se que ocorrem maiores diferenças entre os esforços com e sem ISE para os
pavimentos mais elevados, no entanto essa diferença não alcança 1%. Para as demais
estruturas esse comportamento se mantem.

A Tabela 2 apresenta a variação dos momentos fletores ao longo da altura da


edificação com e sem a consideração da iteração solo estruturas para o edifício de 20
pavimentos.

Tabela 2 – Variação do momento fletor ao longo da altura do pilar

Pavimento P11-E20 P11-E20ISE Diferença


(kN.m) (kN.m) (%)
Pav1 843 855 1,42
Pav2 516 520 0,78
Pav3 303 303 0,00
Pav4 180 180 0,00
Pav5 112 112 0,00
Pav6 73 73 0,00
Pav7 49 49 0,00
Pav8 32 31 -3,13
Pav9 20 20 0,00
Pav10 10 10 0,00
Pav11 3 3 0,00
Pav12 -4 -4 0,00
Pav13 -10 -12 20,00
Pav14 -15 -16 6,67
Pav15 -20 -20 0,00
Pav16 -23 -24 4,35
Pav17 -25 -25 0,00
Pav18 -25 -26 4,00
Pav19 -21 -22 4,76
Pav20 -5 -6 1,42

Para a maioria dos pavimentos a variação do momento fletor foi pouco significativa,
já para outros pavimentos, como o Pav13, observou-se uma variação significativa,
porém em valor absoluto esta variação foi pequena. No caso do Pav13 houve uma
variação de 2 kN.m no momento fletor.

194
Com relação aos deslocamentos laterais as Figuras de 11, 12 e 13 apresentam uma
comparação entre os deslocamentos laterais para análise convencional e
considerando a ISE para combinações de serviço.

Pav4 Pav4
Pavimentos

Pavimentos
Pav3 Pav3
Pav2 Pav2
Pav1 Pav1

0 0,5 1 1,5 0 0,5 1 1,5 2


Deslocamento (cm) - Direção X Deslocamento (cm) - Direção Y

E4ISE-Est E4 E4ISE-Est E4

Figura 11 – Comparação deslocamentos laterais - Estrutura de 4 pavimentos

Pav12 Pav12
Pav11 Pav11
Pav10 Pav10
Pav9 Pav9
Pav8 Pav8
Pavimentos

Pavimentos

Pav7 Pav7
Pav6 Pav6
Pav5 Pav5
Pav4 Pav4
Pav3 Pav3
Pav2 Pav2
Pav1 Pav1

0 2 4 6 0 2 4 6 8
Deslocamento (cm) - Direção X Deslocamento (cm) - Direção Y

E12ISE-Est E12 E12ISE-Est E12

Figura 12 – Comparação deslocamentos laterais - Estrutura de 12 pavimentos

195
Pav20 Pav20
Pav19 Pav19
Pav18 Pav18
Pav17 Pav17
Pav16 Pav16
Pav15 Pav15
Pav14 Pav14
Pav13 Pav13
Pav12 Pav12
Pavimentos

Pavimentos
Pav11 Pav11
Pav10 Pav10
Pav9 Pav9
Pav8 Pav8
Pav7 Pav7
Pav6 Pav6
Pav5 Pav5
Pav4 Pav4
Pav3 Pav3
Pav2 Pav2
Pav1 Pav1

0 1 2 3 4 5 0 2 4 6 8 10 12 14 16
Deslocamentos (cm) - Direção X Deslocamento (cm) - Direção Y

E20ISE-Est E20 E20ISE-Est E20

Figura 13 – Comparação deslocamentos laterais - Estrutura de 20 pavimentos

Para a estrutura de 4 pavimentos, os deslocamentos laterais apresentaram variações


para ambas as direções, sendo maiores na direção “Y”. A variação dos deslocamentos
na direção “Y” da estrutura apresentou variação de 33,6% (passando de 1,25 cm para
1,67 cm) no topo da estrutura e variação de 33,34% (passando de 0,45 cm para 0,60
cm) no primeiro pavimento. A direção “X” apresentou variações um pouco menores,
sendo de 16,85% no topo da estrutura (passando de 0,89 cm para 1,04 cm) e variação
de 25% no primeiro pavimento (passando de 0,24 cm para 0,30 cm). Para a estrutura
de 12 pavimentos, os deslocamentos laterais apresentaram variações bastante
significativas. Os deslocamentos na direção “Y” apresentaram variações de 51,72% no
topo da estrutura (passando de 5,24 cm para 7,95 cm) e de 93,33% no primeiro
pavimento (passando de 0,45 cm para 0,87 cm). Os deslocamentos na direção “X”
apresentaram variações menores, sendo de 17,43% no topo da estrutura (passando
de 5,05 cm para 5,93 cm) e de 88,89% no primeiro pavimento (passando de 0,34 cm
para 0,18 cm). Para a estrutura de 20 pavimentos, os deslocamentos na direção “Y”
apresentaram variações de 21,63% no topo da estrutura (passando de 8,97 cm para

196
10,91 cm) e de 48,98% no primeiro pavimento (passando de 0,45 cm para 0,67 cm).
Os deslocamentos na direção “X” apresentaram variações menores, sendo de 4,64%
no topo da estrutura (passando de 6,68 cm para 6,99 cm) e de 23,53% no primeiro
pavimento (passando de 0,17 cm para 0,21 cm).

Deve-se levar em consideração que houve alterações nos contraventamentos para


viabilizar o aumento do número de pavimentos das estruturas, portanto não são
estruturas exatamente idênticas no que se refere ao sistema de contraventamento.

A Figura 14 apresenta uma comparação para a variação ao longo da altura para o


coeficiente de classificação quanto a deslocabilidade “B2”, no caso dos edifícios de 20
pavimentos, para análise convencional e considerando a ISE. A Figura 15 apresenta os
valores máximos de B2 utilizados para classificar cada estrutura quanto a
deslocabilidade.

Pav20 Pav20
Pav19 Pav19
Pav18 Pav18
Pav17 Pav17
Pav16 Pav16
Pav15 Pav15
Pav14 Pav14
Pav13 Pav13
Pavimentos

Pav12
Pavimentos

Pav12
Pav11 Pav11
Pav10 Pav10
Pav9 Pav9
Pav8 Pav8
Pav7 Pav7
Pav6 Pav6
Pav5 Pav5
Pav4 Pav4
Pav3 Pav3
Pav2 Pav2
Pav1 Pav1

0,95 1,00 1,05 1,10 1,15 1,20 1,00 1,05 1,10 1,15
B2 - Direção X B2 - Direção Y

E20ISE-Est E20 E20ISE-Est E20

Figura 14 – Comparação dos coeficientes de estabilidade global - Estrutura 20 Pav.

197
1,3

1,2

B2
1,1

1
4Pav 8Pav 12Pav 16Pav 20Pav
Estruturas analisadas

Sem ISE Com ISE

Figura 15 – Comparação dos coeficientes de estabilidade global - Direção “X”

0bservou-se alterações significativas no coeficiente B2 com a introdução da ISE na


análise estrutural, sobretudo para os edifícios de maior altura. Para as estruturas de
8, 16 e 20 pavimentos houve, inclusive, mudança da classificação quanto a
deslocabilidade de “pequena deslocabilidade” para “média deslocabilidade”. A
mudança de classificação da estrutura quanto a deslocabilidade acarretaria na
necessidade de procedimentos de análise mais rigorosos no que se refere a
consideração das imperfeições geométricas e de material.

4 Conclusões

Este trabalho teve como objetivo avaliar o efeito da interação solo-estrutura em


estruturas metálicas apoiadas em fundações profunda do tipo bloco sobre estacas.

Pelos resultados expostos foi observado a tendência à redistribuição de esforços com


alívio dos pilares centrais e a sobrecarga dos pilares de extremidade, resultados que
estão de acordo com os encontrados na literatura para estruturas de concreto
armado. Porém os esforços normais na base dos pilares, momentos fletores e
recalques sofreram variações pouco significativas, possivelmente devido à relação de
rigidez estrutura-fundação-solo. Os deslocamentos laterais, por sua vez,
apresentaram variação importante alterando a deslocabilidade da estrutura. Os
coeficientes de estabilidade B2, também apresentaram variações significativas, onde
inclusive houve alterações da classificação da estrutura quanto a deslocabilidade. Em
alguns casos a classificação da estrutura possou de pequena para média
deslocabilidade, o que implicaria em diferentes considerações na análise estrutural.
Os esforços de compressão axial e de momentos fletores apresentaram variações

198
constante ao longo da altura dos pilares, ou seja, a mesma taxa de variação
encontrada na base dos pilares em média foi observada ao longo de toda a altura dos
pilares. Portanto, observa-se que, nas estruturas analisadas, os deslocamentos
laterais e os coeficientes de estabilidade global foram os mais afetados pela
consideração da ISE na análise estrutural.

5 Referências bibliográficas

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acoplamento MEC/MEF. São Carlos, 192p. Tese (Doutorado em Estruturas). Escola de
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201
Recebido: 17/05/2019
Aprovado: 28/10/2019
Volume 9. Número 2 (agosto/2020). p. 202-221 - ISSN 2238-9377
Revista indexada no Latindex e Diadorim/IBICT

Efeito dos níveis de protensão em treliças de aço


em forma de arco utilizadas no projeto de
estruturas protendidas de coberturas
William Alfonso Piñerez Bettin1, Sebastião Arthur Lopes de Andrade1 e José
Guilherme Santos da Silva2*
1 Departamento de Engenharia Civil, Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro, PUC-Rio, Rua Marquês de São Vicente, Nº 225, 22451-900, Gávea, Rio
de Janeiro/RJ, Brasil. E-mail: wapinere@hotmail.com; andrade@puc-rio.br
2 Departamento de Estruturas e Fundações, Universidade do Estado do Rio de

Janeiro, UERJ, Rua São Francisco Xavier, Nº 524, Maracanã, 20550-900, Rio de
Janeiro/RJ, Brasil. E-mail: jgss@uerj.br

Effect of prestressing levels in arched steel truss used in the design of


prestressed structures for roofs

Resumo
O efeito da protensão pode ser introduzido em treliças de aço em forma de arco, utilizadas no
projeto de coberturas, gerando um aumento dos níveis de esforços de tração na corda inferior
da treliça e, por conseguinte a atenuação das forças da corda superior. Tal situação é benéfica
para o projeto de estruturas de coberturas com grandes vãos. Dentro deste escopo, o presente
trabalho de pesquisa visa apresentar os resultados obtidos com base na modelagem numérica,
via emprego do Método dos Elementos Finitos (MEF), sobre o comportamento estrutural de
treliças de aço em forma de arco, utilizadas para o projeto de coberturas protendidas. Para tal,
a modelagem numérica é realizada com base em formulações não lineares, com o uso do
programa computacional ANSYS, avaliando-se os modelos estruturais até o regime de ruptura,
para diversos níveis de forças de protensão aplicadas. Considerando-se a complexidade do
comportamento das treliças protendidas em estudo, foram feitas análises com inclusão do
efeito da não linearidade física.
Palavras-chave: treliças de aço protendidas, modelagem computacional, efeito da protensão.

Abstract
The prestressing effect can be introduced into arched roof steel trusses used in roof design,
leading to increased levels of tensile stresses in the lower truss chord and therefore the
attenuation of upper chord forces. Such a situation is favourable for the design of large span
roof structures. Within this scope, the present research aims to present the results obtained
based on the numerical modelling through the Finite Element Method (FEM) on the structural
behaviour of steel trusses used in the design of prestressed roof structures. For this purpose,
the numerical modelling is performed based on non-linear formulations using the ANSYS
software, evaluating the model up to failure, in order to study the effect of such prestressing
forces on the structure. Considering the complexity of the behaviour of the investigated arched
trusses, there were included in the structural analysis the effects of material nonlinearities.
Keywords: prestressed steel trusses, computational modelling, prestressing effect.
* autor correspondente
1 Introdução

A tecnologia para a aplicação da protensão em estruturas metálicas de forma que se


possa obter ganho econômico, sendo capaz de vencer grandes vãos, resistindo a
carregamentos elevados com peso reduzido, menores dimensões de seções transversais
e facilidade construtiva, começou a se desenvolver na Europa em 1950 (Troitsky, 1990),
mas ainda é considerada uma técnica nova para a maioria dos países. A aplicação da
tecnologia da protensão pode ser usada com a finalidade de reforçar e recuperar
estruturas metálicas existentes, como passarelas e pontes metálicas.

De acordo com este contexto, um sistema de protensão em estruturas metálicas,


segundo Troitsky (1990), foi utilizado, inicialmente, no ano de 1837 por Squire Whipple,
que aplicou a protensão aos elementos tracionados de treliças em ferro fundido, que
formavam o tabuleiro de uma ponte de ferro em forma de arco, com o objetivo de tornar
a estrutura mais dúctil. Na cidade de Johnstown, em Nova Iorque, uma réplica dessa
ponte foi construída no ano de 1980 pelos estudantes de Engenharia Civil do “Union
College Campus” (Figura 1), em comemoração à contribuição de Whipple para a
construção de pontes.

Cabe ressaltar que, apenas em meados da década de 1930, F. Dischinger na Alemanha


Gustave Magnel na Bélgica iniciaram seus estudos com base em análises teóricas,
ensaios experimentais e construções (Dischinger, 1949 e Magnel, 1954), utilizando-se a
protensão, principalmente para a construção de pontes. Somente a partir da década de
1950 surgiram as publicações de artigos técnico-científicos mais expressivos sobre o
tema em questão.

Figura 1 - Squire Whipple Bridge at Union College (Seward, 1980).

203
Belenya (1977), em seu trabalho de pesquisa relata que sistemas de treliças protendidas
do tipo arco são eficazes para grandes vãos e cargas. Cada uma das barras protendidas
da estrutura pode fornecer uma economia de material de aproximadamente 40% a 45%,
mas a economia no que diz respeito ao custo total da treliça é da ordem de 8% a 10%.
De outra forma, a protensão aumenta consideravelmente a rigidez da estrutura quando
uma das cordas ao longo da extensão do arco é carregada.

O uso da protensão em estruturas de aço tem por finalidade a obtenção de economia


de material, ou mesmo atender às imposições arquitetônicas ou construtivas. O
princípio básico desta metodologia de projeto consiste em criar, em determinadas
regiões da estrutura, tensões de sinais opostos às produzidas pelas cargas externas. Isto
é obtido pelo emprego de fios de aço de alta resistência que são ancorados na estrutura,
de modo que possam ser protendidos e gerem solicitações em sentidos opostos aos
causados pelas cargas externas em trechos previamente estruturados.

1.1 Motivação

De acordo com Post-Tensioning Institute of Australia Limited (PTIA, 2014), a grande


vantagem da utilização de treliças protendidas se deve à redução do peso do aço em até
60%. Além disso, por serem protendidos, esses elementos conseguem vencer grandes
vãos com economia, controlando a flecha e aumentando a resistência estrutural. O Pós-
tensionamento dos cabos de aço dentro da estrutura proporciona o mecanismo de
armazenamento de energia, quanto maior as cargas impostas associadas ao fenômeno
natural, tais como terremotos, tornados e carregamento de neve, com os benefícios de
redução de custos e aumento de rigidez.

Um caso de estudo recente de estruturas de aço protendidas de alta resistência e de


grande importância é o caso da reconfiguração do estádio “Olympic Sydney”, em 2003,
localizado em Homebush, New South Wales, com vão livre de 114 m de seções de norte
a sul do telhado e área total de cobertura de 7.000 m2 (Figura 2). A treliça protendida
forneceu uma solução de alto grau de sustentação de carga, com redução da ordem de
40% de peso de aço.

204
(a) Estrutura da treliça protendida. (b) Cabos ancorados na treliça.
Figura 2 - Reconstrução Estádio Olímpico de Sydney (PTIA, 2014).

Dentre as vantagens da protensão tem-se, por exemplo, a facilidade de inspeção e a


manutenção durante e após a protensão. Os cabos são dispostos fora da área física
ocupada pela seção transversal da estrutura, o que facilita uma possível substituição
quando necessário e previsto em projeto. A Figura 3 mostra o processo de colocação
dos cabos em elementos metálicos da estrutura e cabo tensionado na ancoragem.

(a) Colocação dos cabos. (b) Cabos ancorados.


Figura 3 - Cabos de protensão na estrutura (PTIA, 2014).
1.2 Objetivos
O objetivo deste trabalho de pesquisa é o de desenvolver a modelagem do
comportamento estrutural de treliças de aço em forma de arco protendida, com base
no Método dos Elementos Finitos (MEF), via uso do programa ANSYS (ANSYS, 2015).
Para tal, são efetuadas análises numéricas acerca dos níveis das forças de protensão
aplicadas sobre treliças de aço protendidas com vãos de 10 m (A10), 20 m (B20), 40 m
(C40), 80 m (D80) e 120 m (E120), respectivamente, para a análise do comportamento não
linear até o regime de ruptura. O caso da treliça com vão de 10 m tem o objetivo de
serem obtidos resultados para comparação com futuros resultados experimentais.

205
2 Nível da Protensão Ideal
Durante a fase de protensão do sistema de um cabo de aço em perfil de aço, aplica-se
uma força de tração P no cabo e uma força de compressão de igual magnitude é induzida
na barra de aço, como apresentado na Figura 4, onde L0 representa o comprimento
inicial do cabo e do perfil; Xc representa a extensão do cabo e Xt diz respeito ao
encurtamento do tubo. Quando o processo de protensão é concluído o cabo e o tubo
são “bloqueados” na posição em que ambos deformam, de modo que não há
movimento relativo entre os dois componentes.

(a) Força do cabo durante (b) Força do tubo (c) Tubo e cabo travados em
a protensão. durante a protensão. posição após a protensão.
Figura 4 - Esquema do processo de protensão em perfil de aço.
Uma vez que a força de protensão P, da mesma magnitude, mas de sentido oposto, é
aplicada ao cabo (Pcabo) e ao tubo (Ptubo), o elemento protendido é auto equilibrado.
Portanto, desde que não haja deslocamentos fora do plano, isto é, nenhuma
flambagem, as forças são induzidas durante a condição de equilíbrio para o sistema, de
acordo com a Equação (1):

Pcabo - Ptubo  K c X c - K t X t (1)

Kc, Kt: representam a rigidez axial do cabo e do tubo, respectivamente.

Em relação ao nível de protensão ideal, Popt, sob carga de tração, pode ser definido como
aquele que causa a plastificação simultânea do cabo e do tubo, uma vez que proporciona
a resposta mais rígida. O nível de protensão ideal sob a carga de tração aplicada é
calculado ao igualarem-se as expressões para a tensão necessária a fim de produzir a
plastificação tanto do cabo como do tubo, de acordo com a Equação (2):

Ac At
Popt  ( fcy Et - fty Ec ) (2)
At Et  Ac Ec
Ec, Et: módulo de elasticidade do cabo e do tubo, respectivamente.
Ac e At: área da seção transversal do cabo e do tubo, respectivamente.
fcy, fty: resistência ao escoamento do cabo e do tubo, respectivamente.

206
De maneira a simular a aplicação da força de protensão sobre o sistema, será
considerada uma deformação (∆c) nos cabos, fazendo com que estes elementos se
deformem, gerando uma força de tração, ocasionando uma redução na força de
compressão da corda inferior da treliça (Figura 5).

∆c
Figura 5 - Esquema da aplicação da deformação na treliça.
O valor de deformação unitária, diferença de deformação, a ser introduzida nos cabos,
deve ser tal que produza o esforço axial nos elementos de cabo igual ou próximo do
valor da força de protensão calculada. Sendo assim, a variação de deformação unitária
(Δc) do cabo é igual à função da força (Fc), módulo de elasticidade (Ec) e área do cabo de
protensão (Ac), podendo ser escrita em consonância com a Equação (3):

Fc
c  (3)
Ec Ac

3 Modelo Estrutural Parametrizado


Os modelos estruturais investigados consistem em treliças de aço em forma de arco
protendida, para diversos níveis de protensão, e, ainda, o caso de treliça sem cabos. A
geometria do sistema estrutural é formada por perfis tipo W nas cordas e montantes, e
cantoneiras nas diagonais. Observa-se que as cordas são todas em perfil laminado com
o eixo de maior inércia contido no plano da treliça, e que os montantes têm as mesmas
dimensões das cordas. A ligação entre os montantes e as cordas é sempre do tipo
contínua, executada por soldagem das mesas, como ilustrado nas Figuras 6 a 8.

3.1 Características Geométricas das Seções Estruturais

A treliça em forma de arco é constituída por seção transversal de perfil tipo W nas cordas
superior, inferior e montantes. Nas diagonais têm-se cantoneiras duplas trabalhando
como peça composta. As Figuras 9 e 10 apresentam os detalhes das ligações com perfis
W e cantoneira, ressaltando-se que os ângulos entre esses elementos nas ligações são
variáveis para cada modelo de treliça investigado.
207
Figura 6 - Perspectiva da simetria da treliça parametrizada.

Figura 7 - Vista lateral da treliça parametrizada.

Figura 8 - Simetria da treliça com 10 m de vão: identificação das posições dos nós.
Montante

Corda superior
Diagonal

Diagonal 92°
Montante

Corda inferior

25 mm 25 mm

(a) Corda superior (b) Corda inferior no centro da treliça


Figura 9 - Detalhe da ligação das cordas superior e inferior da treliça parametrizada.

A ancoragem do cabo constitui-se basicamente de uma chapa de aço nos apoios da


treliça, com espessura: 9,3 mm (para A10 e B20), 16 mm (C40), 19 mm (D80) e 22,4 mm

208
(E120). A Figura 10 ilustra a configuração da chapa de ancoragem para treliça de 10 m de
vão, onde sempre são usadas duas unidades.

60 mm

16 mm 16 mm
148 mm

(a) Vista lateral (b) Perspectiva


Figura 10 - Detalhe dos perfis detalhe da chapa de ancoragem.

As treliças possuem flecha no centro do vão (distância entre a corda inferior e a linha
horizontal entre apoios) igual à respectiva altura da treliça nesse ponto. Deste modo, o
modelo estrutural tipo “A10” foi projetado com vão de 10 m e altura no centro do vão
de 700 mm. Com referência aos demais comprimentos de vãos analisados (20 m, 40 m,
80 m, e 120 m), as geometrias dos respectivos modelos são apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1 - Modelos estruturais das treliças investigadas.


Modelos de Treliças Vão (m) Flecha (m)
Modelo A10 10 0,7
Modelo B20 20 1,5
Modelo C40 40 3,0
Modelo D80 80 5,5
Modelo E120 120 7,5

4 Modelo Numérico Parametrizado


A discretização dos modelos numéricos foi desenvolvida com base no emprego de
elementos sólidos tridimensionais SOLID185 (ANSYS, 2015). Tal elemento é definido por
oito nós com três graus de liberdade em cada nó. De outra maneira, para simular os
cabos de protensão, foram empregados elementos do tipo LINK10 (ANSYS, 2015) que
permitem aplicação da protensão por meio de deformações iniciais dos cabos. Este
elemento possui dois nós com três graus liberdade por nó (ANSYS, 2015). Ao longo do
estudo, o elemento LINK10 será utilizado para trabalhar apenas à tração.

Considerando-se diferentes valores para a área da seção transversal dos modelos, são
obtidos diferentes valores para as forças de protensão. Em seguida, as Tabelas 2 e 3

209
apresentam especificações dos perfis e os valores das Popt. Os cabos empregados estão
associados a cordoalhas de aço tipo 190 RB da Belgo Mineira (Belgo, 2015).

Tabela 2 - Especificações dos perfis das treliças para cada modelo estrutural.
Cordas: superior, inferior e montante Cordas: diagonais
Modelos 2
Perfil W Área (mm ) Cantoneiras duplas (mm2) Área (mm2)
A10 150 x 13 1.660 50,8 x 50,8 x 4,76 458
B20 150 x 13 1.660 63,5 x 63,5 x 19,52 952
C40 150 x 29,8 3.850 127 x 127 x 15,88 2.696
D80 200 x 52 6.690 152,4 x 152,4 x 19,05 5.444
E120 200 x 86 11.090 152,4 x 152,4x 19,05 5.444

Tabela 3 - Especificações dos cabos de protensão em cada modelo.


Modelos Área dos Cabos (mm2) Designação: 190 RB Protensão Ótima Popt (kN)
A10 60 2- Ø3, 5-3 fios 65,37
B20 120 4- Ø 3,5-3 fios 130,86
C40 188 4- Ø 4,5-3 fios 205,27
D80 404 4- Ø12, 7-7 fios 440,66
E120 606 6- Ø12, 7-7 fios 660,56

No que diz respeito à estratégia para a geração das malhas em elementos finitos, foram
consideradas as condições de simetria das treliças de aço, modeladas com base na
consideração de um plano de simetria paralelo ao plano Y-Z, objetivando reduzir o
esforço computacional. A Tabela 4 apresenta os números de nós, elementos e graus de
liberdade para cada modelo numérico analisado neste estudo e as Figuras 11 a 13
ilustram a criação dos elementos da treliça, refinamento da malha, cabos de protensão
e condições de contorno do modelo numérico, com base no emprego do modelo A10.

Tabela 4 - Características dos modelos em elementos finitos das treliças


Modelos Numéricos Nós Elementos Graus de Liberdade
A10 44.896 131.532 269.376
B20 86.606 247.332 519.636
C40 221.363 631.248 1.328.178
D80 300.890 725.198 1.805.340
E120 336.953 951.376 2.021.718

4.1 Análise Estática Não Linear Física


No que tange as analises não lineares foi empregado o método de Newton-Raphson para
a resolução do sistema de equações de equilíbrio, via emprego do programa ANSYS
(2015). Este método se baseia na divisão dos deslocamentos em uma série de

210
incrementos, sendo aplicados em vários passos. Em cada etapa de aplicação dos
deslocamentos, uma configuração de equilíbrio é gerada e um novo incremento é
aplicado até se concluir o número total de incrementos.

Simetria da treliça

Detalhe inicial

Figura 11 - Perspectiva e simetria: criação dos elementos SOLID185.

Criação das malhas

Malha triangular

Figura 12 - Perspectiva e simetria: criação da malha de elementos finitos.

Treliça protendida

Cabos de protensão
Chapa de ancoragem
Figura 13 - Perspectiva e simetria: elementos dos cabos de protensão.

211
A análise não linear foi executada a partir da aplicação de deslocamento sobre o centro
da treliça, na direção do eixo Y. A Figura 14 ilustra a metodologia de análise para
aplicação do deslocamento (ver ponto M), com base no modelo da treliça de aço com
80 m de vão, e as condições de contorno da estrutura.

Figura 14 - Deslocamento vertical aplicado no centro da treliça na corda superior.

A análise numérica das treliças considera uma análise do tipo elastoplástica não linear
com um modelo constitutivo bi linear [BISO (Bilinear Isotropic Hardening)], utilizando-
se um modelo de endurecimento bi linear isotrópico com rigidez pós-limite de 20 MPa.

5 Resultados Numéricos da Análise Não Linear


Os resultados da análise numérica não linear permitem a verificação das diferenças
entre os valores dos deslocamentos translacionais verticais e das forças máximas
existentes nos modelos investigados, tendo em mente a intensidade dos valores das
forças de protensão (valores máximos e mínimos). Assim sendo, são apresentadas
curvas do tipo força (FM) versus deslocamento (∂M), e os seguintes pontos de interesse
são analisados: A (limite elasticidade), B (limite de escoamento), C (força máxima) e D
(força de ruptura).

5.1 Avaliação dos Níveis de Protensão da Treliça de 10 m de vão

Considerando-se cinco variações para a força de protensão (0,1Popt; 0,25Popt; 0,5Popt;


0,75Popt e Popt), a treliça metálica protendida foi modelada com a finalidade de analisar
o comportamento da estrutura à medida que o nível da força aumenta até a sua ruptura,
para cada nível de protensão. Os resultados são apresentados na Figura 15, que
apresenta curvas do tipo “Força versus Deslocamento”, considerando-se para tal
diferentes níveis de força de protensão, a partir da análise não linear. Os pontos

212
característicos destas curvas são analisados em detalhe; e, ainda, as principais
informações obtidas, a partir da análise da Figura 15, são destacadas a seguir:

Figura 15 - Força versus deslocamento translacional vertical do meio do vão do modelo


estrutural A10 para vários níveis de protensão.

Ponto A correspondente ao limite elástico:

Para uma variação de força de protensão de 0,1Popt a 0,25Popt, as forças aumentam de


181,19 kN (∂A =72,64 mm) a 202,4 kN (∂A =60 mm), ou seja, um acréscimo de 11,7%.

Para uma variação de força de protensão de 0,25Popt a 0,5 Popt, as forças aumentam de
202,4 kN (∂A =60 mm) a 232,8 kN (∂A =60 mm), ou seja, um acréscimo de 15,02%.

Para uma variação de força de protensão de 0,5Popt a 0,75Popt, as forças aumentam de


232,8 kN (∂A =60 mm) a 255,3 kN (∂A =60 mm), ou seja, um acréscimo de 9,67%.

Para uma variação de força de protensão de 0,75Popt a Popt, as forças aumentam de 255,3
kN (∂A = 60 mm) a 273,265 kN (∂A =60 mm), ou seja, um acréscimo de 7,04%.

2. Ponto B correspondente ao limite de escoamento:


Para uma variação de força de protensão de 0,1Popt a 0,25Popt, as forças aumentam de
185,95 kN (∂B =89,4 mm) a 215,15 kN (∂B =84 mm), ou seja, um acréscimo de 15,71%.

Para uma variação de força de protensão de 0,25Popt a 0,5Popt, as forças aumentam de


215,15 kN (∂B =84 mm) a 252,11 kN (∂B=84 mm), ou seja, um acréscimo de 17,18%.

213
Para uma variação de força de protensão de 0,5Popt a 0,75Popt, as forças aumentam de
252,11 kN (∂B=84 mm) a 279,14 kN (∂B =84 mm), ou seja, um acréscimo de 10,72%.

Para uma variação de força de protensão de 0,75Popt para Popt, as forças aumentam de
279,14 kN (∂B =84 mm) a 300,12 kN (∂B =84 mm), ou seja, um acréscimo de 7,51%.

3. Ponto C correspondente à força máxima (início da instabilidade):


Para uma variação de força de protensão de 0,1Popt a 0,25Popt, diminuem de 922,3 kN
(∂C =1.905,39 mm) a 908,75 kN (∂C =1.492,9 mm), ou seja, uma redução de 1,47%.

Para uma variação de força de protensão de 0,25Popt a 0,5Popt, diminuem de 908,75 kN


(∂C =1.492,93 mm) a 899,44 kN (∂C =1.295,2 mm), ou seja, uma redução de 1,02%.

Para uma variação de força de protensão de 0,5Popt a 0,75Popt, diminuem de 899,44 kN


(∂C =1.295,2 mm) a 893,71 kN (∂C =1.217,09 mm), ou seja, uma redução de 0,64%.

Para uma variação de força de protensão de 0,75Popt a Popt, diminuem de 893,71 kN


(∂C =1.217,09 mm) a 890,51 kN (∂C =1.151,63 mm), ou seja, uma redução de 0,36%.

4. Ponto D correspondente à força de ruptura final:


Para uma variação de força de protensão de 0,1Popt a 0,25Popt, diminuem de 715,3 kN
(∂D =3.000 mm) a 640,88 kN (∂D =3.000 mm), ou seja, uma redução de 10,41%.

Para uma variação de força de protensão de 0,25Popt a 0,5Popt, diminuem de 640,9 kN


(∂D =3.000 mm) a 608,03 kN (∂D =3.000 mm), ou seja, uma redução de 5,13%.

Para uma variação de força de protensão de 0,5Popt a 0,75Popt, diminuem de 608,03 kN


(∂D =3.000 mm) a 590,35 kN (∂D =3.000 mm), ou seja, uma redução de 2,91%.

Para uma variação de força de protensão de 0,75Popt a Popt, diminuem de 590,35 kN


(∂D =3.000 mm) a 569,79 kN (∂D =3.000 mm), ou seja, uma redução de 3,48%.

As Tabelas 5 a 8 apresentam um resumo dos resultados obtidos e uma relação de


diferenças existentes entre os valores das forças e deslocamentos obtidos a partir dos
diferentes níveis de protensão. No que diz respeito aos valores das forças protendidas
nos pontos de limite elástico, de escoamento, de força máxima e de ruptura da análise
não linear física, ressalta-se que o efeito da protensão influenciou significativamente as
forças atuantes sobre o modelo, conforme ilustrado na Figura 15 e Tabelas 5 a 8.

214
Tabela 5 - Níveis de força de protensão da treliça de aço investigada (Figura 15).
Pontos das curvas 0,1 𝑃𝑂𝑃𝑇 0,25 𝑃𝑂𝑃𝑇 0,5 𝑃𝑂𝑃𝑇 0,75 𝑃𝑂𝑃𝑇 1,0 𝑃𝑂𝑃𝑇
(ver Figura 17) Unidades de força em (kN)
A: Limite elástico 181,19 202,4 232,8 255,3 273,27
B: Limite de escoamento 185,95 215,15 252,11 279,14 300,12
C: Força máxima 922,32 908,75 899,44 893,71 890,51
D: Força de ruptura 715,34 640,88 608,03 590,35 569,79

Tabela 6 - Deslocamentos para os níveis de força de protensão da treliça (Figura 15).

Pontos das curvas 0,1 𝑃𝑂𝑃𝑇 0,25 𝑃𝑂𝑃𝑇 0,5 𝑃𝑂𝑃𝑇 0,75 𝑃𝑂𝑃𝑇 1,0 𝑃𝑂𝑃𝑇
(ver Figura 17) Unidades de deslocamento em (mm)
A: Limite elástico 72,64 60 60 60 60
B: Limite de escoamento 89,47 84 84 84 84
C: Força máxima 1.905,39 1.492,93 1.295,2 1.217,09 1151,63
D: Força de ruptura 3.000 3.000 3.000 3.000 3.000

Tabela 7 - Relação de diferença de forças para cada nível de protensão aplicada.


Pontos das curvas 0,1 0,25 0,5 0,75
𝑃 𝑃 𝑃 𝑃
(ver Figura 17) 0,25 𝑂𝑃𝑇 0,5 𝑂𝑃𝑇 0,75 𝑂𝑃𝑇 1,0 𝑂𝑃𝑇
A: Limite elástico 10,48% 13,06% 8,81% 6,58%
B: Limite de escoamento 13,58% 14,66% 9,69% 6,99%
C: Força máxima 1,49% 1,03% 0,64% 0,36%
D: Força de ruptura 11,62% 5,40% 2,99% 3,61%

Tabela 8 - Relação de diferença de deslocamentos para cada nível de protensão.


Pontos das curvas 0,1 0,25 0,5 0,75
𝑃 𝑃 𝑃 𝑃
(ver Figura 17) 0,25 𝑂𝑃𝑇 0,5 𝑂𝑃𝑇 0,75 𝑂𝑃𝑇 1,0 𝑂𝑃𝑇
A: Limite elástico 21,07% 0% 0% 0%
B: Limite de escoamento 6,51% 0% 0% 0%
C: Força máxima 27,63% 15,27% 6,42% 5,68%
D: Força de ruptura 0% 0% 0% 0%

Comparando-se a variação de força de protensão de 0,1Popt com a Popt, observa-se um


ganho de força considerável, com redução do deslocamento da estrutura, na medida
em que se aumenta o valor da força de protensão no trecho linear elástico, Figura 15 e
Tabelas 5 a 8. Cabe ressaltar que, as principais informações, mediante análise da Figura
15 e Tabelas 5 a 8, são destacadas a seguir:

No limite de elasticidade existe um ganho de força à medida que se aumenta a força de


protensão até o valor ótimo. Ressaltando-se que, comparando 0,1Popt com a Popt, a força
aumenta de 181,19 kN a 273,27 kN, ou seja, uma diferença de força de 50,81%.

215
Em relação ao limite de escoamento, existe um ganho de força à medida que se aumenta
a força de protensão até o valor ótimo. Comparando-se 0,1Popt com a Popt, a força
aumenta de 185,95 kN a 300,12 kN, ou seja, uma diferença de força de 61,4%.

Com referência à força máxima e de ruptura, observa-se uma redução de força da ordem
de 3,5% à medida que a protensão aumenta até o valor ótimo. A estrutura rompe com
o mesmo deslocamento (3.000 mm) para forças de ruptura distintas.

5.2 Estudo da Variação Paramétrica dos Vãos das Treliças: 20 m, 40 m, 80 m e 120 m

Inicialmente, as Figuras 16 e 17 apresentam as curvas “Força versus Deslocamento” para


os modelos de treliças com grandes vãos (80 m e 120 m), respectivamente, sem cabo e
com protensão ótima na corda inferior dos modelos. Ressalta-se que o carregamento
foi aplicado mediante o emprego de incrementos de deslocamento vertical até atingir a
ruptura das treliças em estudo (ver Figura 14). As Tabelas 9 e 10 apresentam os
resultados associados aos valores das forças e deslocamentos (Figuras 16 e 17), em
relação aos pontos de limite elástico, escoamento, força máxima e ruptura no centro do
vão das treliças (80 m e 120 m).

Cabe ressaltar que na análise estática não linear, comparando-se os resultados da treliça
com 80 m de vão sem cabo e com protensão ótima, observa-se que o ponto elástico, A,
com protensão, atingiu uma capacidade máxima de carga de 824,48 kN para um
deslocamento de 175,81 mm, enquanto que a treliça sem cabo alcançou uma carga de
479,4 kN para um deslocamento de 437,5 mm. Portanto, houve um aumento de força
de 72 % e uma redução de deslocamento de 59,82%, Figura 16 e Tabela 9.

Em relação ao ponto elástico, B, a influência da protensão apresentou um ganho com


uma capacidade de carga de 840,99 kN, para um deslocamento de 180,18 mm,
enquanto que, sem o efeito da protensão, alcançou um valor de carga de 494,79 kN para
um deslocamento de 496,13 mm, ou seja, uma relação de força de 70 %, Figura 16 e
Tabela 9.

No que se refere ao ponto da força máxima, C, a carga passa de 524,05 kN a 1.217,06 kN,
representando um aumento de 132,24% da carga de flambagem. Para o ponto de
ruptura, D, a treliça sem protensão se rompe com 441,43 kN, enquanto a treliça com
protensão se rompe com 1.006,49 kN, com aumento de 128%, Figura 16 e Tabela 9.

216
Figura 16 - Força versus deslocamento translacional vertical do meio do vão do modelo
estrutural D80 sem cabo e com protensão ótima.
Tabela 9 - Resultados das forças e deslocamentos da treliça de 80 m de vão D80 sem
cabo e com protensão ótima nos pontos das curvas (Figura 16).
Treliça com protensão
Treliça sem cabo Razão
Pontos das curvas ótima
de Força
(ver Figura 18) Força Deslocamento Força Deslocamento
(%)
(kN) (mm) (kN) (mm)
A: Limite elástico 479,4 437,5 824,48 175,78 72
B: Limite de
494,79 496,13 840,99 180,18 70
escoamento
C: Força máxima 524,05 541,14 1.217,06 1.156,22 132,24
D: Força de ruptura 441,43 2.395,98 1.006,49 2.394,83 128

Os resultados apresentados na Figura 17 e Tabela 10 ilustram o ganho de forças devido


ao efeito da força de protensão ótima para o modelo de treliça com vão de 120 m. A
partir dos resultados obtidos nesta análise, destacam-se os seguintes aspectos:

No ponto A, referente ao limite de elasticidade com força de protensão ótima, foi


observada uma capacidade de carga de 908,15 KN para um deslocamento 165 mm,
enquanto que, sem a presença do cabo, foi obtida uma carga de 493,3 KN para um
deslocamento de 480 mm, ou seja, um aumento de força de 84,1% e uma redução de
deslocamento de 65,63%, como ilustrado na Figura 17 e Tabela 10.

217
Figura 17 - Força versus deslocamento translacional vertical do meio do vão do modelo
estrutural E120 sem cabo e com protensão ótima.

Para o limite de escoamento (ponto elástico B), a força de protensão apresentou um


ganho de força de 927,08 kN para um deslocamento de 195 mm, ao passo que, para a
treliça sem cabo, a força atingida foi de 506,39 kN para um deslocamento de 520 mm,
ou seja, uma relação de força de 83,1%. No ponto da força máxima, constata-se que o
valor da força variou de 631,43 kN a 1.297,51 kN, representando um aumento de 105,5%
da carga de flambagem. Para o ponto da força de ruptura D, a treliça sem protensão se
rompeu com 595,95 kN, enquanto a treliça com protensão se rompeu com 1.162,51 kN,
resultando em um aumento de 95,1% (Figura 17 e Tabela 10).

Tabela 10 - Resultados das forças e deslocamentos da treliça de 120 m de vão E120 sem
cabo e com protensão ótima nos pontos das curvas (Figura 17).
Treliça com protensão
Treliça sem cabo Razão
Pontos das curvas ótima
de Força
(ver Figura 19) Força Deslocamento Força Deslocamento
(%)
(kN) (mm) (kN) (mm)
A: Limite elástico 493,3 480 908,15 165 84,1
B: Limite de escoamento 506,39 520 927,08 195 83,1
C: Força máxima 631,43 1.079,4 1.297,51 1.174 105,5
D: Força de ruptura 595,95 1.371,43 1.162,51 2.060 95,1

218
Na sequência do estudo, as Tabelas 11 e 12 apresentam os resultados das análises
numéricas, considerando-se para tal a variação paramétrica dos vãos das treliças,
ilustrando os valores das forças e deslocamentos nos trechos elástico e plástico da seção
central das treliças de 20 m (B20) e 40 m (C40), sem cabo de protensão e com o uso da
protensão ótima.

Tabela 11 - Resultados das forças e deslocamentos da treliça de 20 m de vão B20 sem


cabo e com protensão ótima.
Treliça com protensão
Treliça sem cabo Razão
ótima
Pontos das curvas de Força
Força Deslocamento Força Deslocamento
(%)
(kN) (mm) (kN) (mm)
A: Limite elástico 121,5 100 324,28 118 166,9
B: Limite de escoamento 154,3 150 346,47 149 124,5
C: Força máxima 155,23 401 823,28 1.222 430,4
D: Força de ruptura 95,47 2.462 639,25 2.867 569,6

Tabela 12 - Resultados das forças e deslocamentos da treliça de 40 m de vão C40 sem


cabo e com protensão ótima.
Treliça com protensão
Treliça sem cabo Razão de
ótima
Pontos das curvas Força
Força Deslocamento Força Deslocamento
(%)
(kN) (mm) (kN) (mm)
A: Limite elástico 278,6 224 481,1 98 205,1
B: Limite de
296,51 240 506,43 105 70,8
escoamento
C: Força máxima 299,01 325 1.057,51 1.160 253,7
D: Força de ruptura 168,45 1.600 755,72 2.886,32 348,6

Constata-se que os resultados apresentados nas Tabelas 11 e 12, referentes aos


modelos das treliças com vãos de 20 m e 40 m, respectivamente, confirmam que a
influência da protensão proporciona um ganho de força, aumento da carga de
flambagem, além da redução dos deslocamentos verticais nos pontos analisados
anteriormente, com referência à modelagem numérica das treliças de 10 m, 80 m e
120 m de vão. Cabe ressaltar, também, que para todos os pontos analisados, a
protensão e as forças foram expressivamente maiores, bem como a capacidade de
absorver energia, melhorando, assim, a rigidez da estrutura.

219
6 Conclusões

Neste trabalho de pesquisa foram consideradas treliças de aço em forma de arco com
vãos de 10 m, 20 m, 40 m, 80 m e 120 m, respectivamente. Com base no emprego da
modelagem numérico-computacional comprovou-se a eficiência do sistema estrutural
investigado, dado que, ao se introduzirem forças de protensão nos cabos, conseguiu-se
atingir uma redução de esforço de no mínimo 50% comparado com as estruturas sem
esta protensão.

Na analise da treliça com 10 m de vão, foi feita a verificação da estrutura para cinco
magnitudes de forças de protensão. A análise mostrou grande acréscimo de forças e
deslocamentos no trecho elástico da resposta da estrutura à medida que se aumentou
o valor da força de protensão, levando a uma estrutura mais rígida. Observa-se que o
trecho plástico revelou a redução dos deslocamentos, ressaltando-se como a adição do
cabo aumenta a resistência do elemento enquanto a rigidez da treliça sofre aumento,
mesmo quando é aplicada uma força de protensão mínima.

Cabe ressaltar que o principal benefício da protensão é a possibilidade de aumento dos


esforços de tração nas barras da corda inferior, com a consequente atenuação das forças
da corda superior. Tal benefício é particularmente interessante para esse tipo de
geometria, uma vez que pode facilitar a concepção de estruturas especiais cobrindo
grandes vãos.

Constata-se que os resultados encontrados ao longo do desenvolvimento deste trabalho


de pesquisa, mediante análise estrutural de treliças com vãos de 10 m, 20 m, 40 m, 80
m e 120 m, confirmam as conclusões obtidas por Belenya (1997) e Troitsky (1990), no
que tange o fato de que os sistemas de treliças protendidas são eficientes para grandes
vãos e resultam em estruturas mais leves e econômicas. O uso de protensão oferece
grande redução de deslocamentos verticais da estrutura.

7 Agradecimentos

Os autores deste trabalho de pesquisa agradecem ao suporte financeiro fornecido pelas


Agências de Fomento à Pesquisa do país: CAPES, CNPq e FAPERJ. Os autores externam,
também, o seu agradecimento ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da
PUC-Rio.

220
8 Referências bibliográficas

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TROITSKY, Michael. Prestressed steel bridges: Theory and design. 16th edition. New York: Van
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221
Recebido: 17/06/2019
Aprovado: 05/11/2019
Volume 9. Número 2 (agosto/2020). p. 222-240 - ISSN 2238-9377
Revista indexada no Latindex e Diadorim/IBICT

Análise numérica dos modos de colapso no


dimensionamento otimizado de vigas mistas
celulares
José Ronaldo Soares Ramos 1, Élcio Cassimiro Alves2*
Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal do Espírito Santo, Av.
Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras, CEP 29075-910, Vitória – ES,
1zeronaldoramos@gmail.com
2elcio.calves1@gmail.com

Numerical analysis of collapse modes in the optimized design of cellular


mixed beams

Resumo
Objetiva-se neste trabalho apresentar a formulação do problema de otimização envolvendo vigas mistas
celulares de aço bem como uma análise dos modos de colapso preponderante do problema de
otimização associado a uma análise numérica via método dos elementos finitos dos mesmos. Para tal
problema será considerada a iteração completa entre a viga celular e a laje de concreto. A formulação
para a verificação da viga mista é a proposta por Lawson e Hicks (2011) com adaptações para
atendimento dos critérios da ABNT NBR 8800:2008. A solução do problema de otimização será dada
pelo Método dos Algoritmos Genéticos através de um sistema desenvolvido na plataforma Matlab. Para
validação do sistema exemplos numéricos serão apresentados bem como uma análise dos modos de
colapso preponderantes nos exemplos estudados. Uma análise de uma viga através do método dos
elementos finitos é apresentada de modo a comprovar os modos de colapso preponderantes no
problema de otimização. Os resultados mostram que o método dos Algoritmos Genéticos proporciona a
obtenção de perfis mais eficientes em termos de peso e resistência quando comparado com exemplos
apresentado na literatura especializada.

Palavras-chave: Vigas, Celular, Mista, Otimização, Algoritmo Genético.

Abstract
The objective of this work is to present the formulation of the optimization problem involving steel
cellular mixed beams as well as an analysis of the predominant collapse modes of the optimization
problem associated with a finite element numerical analysis. For this problem will be considered the
complete iteration between the cellular beam and the concrete slab. The formulation for the verification
of mixed beam is proposed by Lawson and Hicks (2011) with adaptations to meet the criteria of ABNT
NBR 8800: 2008. The solution of the optimization problem will be given by the Genetic Algorithm
Method through a system developed in the Matlab platform. For validation of the system, numerical
examples will be presented as well as an analysis of the preponderant collapse modes in the examples
studied. An analysis of a beam through the finite element method is presented in order to prove
preponderant collapse modes in the optimization problem. The results show that the Genetic Algorithm
method provides the most efficient profiles in terms of weight and resistance when compared with
examples presented in the specialized literature.

Keywords: Beam, Cellular, Composite, Optimization, Genetic Algorithm.

* autor correspondente
1 Introdução

As vigas celulares possuem diversas vantagens construtivas, por exemplo: pode vencer
vãos maiores, peso menor em comparação com uma viga de alma cheia de mesma
altura e com um custo menor no valor final do projeto. Aliás, o aumento da altura é
um dos principais ganhos que se tem com a transformação de uma viga comum em
celular. Com a adição da laje de concreto sobre a viga celular de aço, obtêm-se uma
viga mista de aço e concreto. Assim é possível aproveitar a contribuição de cada
material no aumento dos esforços resistentes da viga, no caso do concreto a
resistência, à compressão e no caso do aço, à tração.
Alguns estudos recentes de vigas celulares de aço como os de Cimadevila (2000),
Kohnehposshi e Showkati (2009), Abreu (2011), Bezerra (2011), Silveira (2011), Vieira
(2011), Oliveira (2012), Veríssimo et al. (2012), Mendonça (2014) e Badke Neto (2015)
apresentam avanço na análise numérica de vigas celulares.
Cimadevilla (2000) aborda em sua obra um desenvolvimento teórico sobre os aspectos
de cálculo, para esforços resistentes e para o cálculo de deformações. Estabelecendo
equações consistentes para o dimensionamento das vigas alveolares de aço.
Abreu (2011) obtêm em seu estudo o momento fletor resistente à flambagem lateral
com torção de vigas celulares, duplamente simétricas, biapoiadas através do método
dos elementos finitos utilizando o programa ABAQUS/CAE versão 6.7, ano 2007. Nesse
estudo, os resultados são comparados com os obtidos por um método de cálculo em
que se usa o procedimento da ABNT NBR 8800:2008 para vigas de alma cheia em
conjunto com a recomendação da British Standard BS 5950-1:2000.
Bezerra (2011) propôs um procedimento para a determinação do momento fletor
resistente nominal de vigas casteladas, de padrão Peiner e anglo saxônico, para o
estado-limite último de flambagem lateral com torção, para os casos em que as vigas
possuem vínculo de garfo (empenamento livre e torção impedida) nas extremidades e
estejam submetidas a momento uniforme, a carga uniformemente distribuída e a
carga concentrada na seção central.
Silveira (2011) realizou uma análise numérica para avaliar o comportamento de vigas
alveolares de aço enfatizando os modos de colapso por plastificação. Em seu trabalho

223
foram desenvolvidos modelos numéricos para vigas alveolares obtidas a partir de
perfis brasileiros, para a observação dos modos de colapso e do carregamento último.
Veríssimo et al (2012) elabora um estudo analítico-numérico generalizado objetivando
reavaliar o comportamento de vigas alveolares com variadas geometrias, incluindo as
obtidas a partir dos perfis I laminados produzidos no Brasil a partir de 2002, propor um
procedimento para dimensionamento dessas vigas.
Um estudo recente elaborado por Sonck e Belis (2015) avalia o comportamento das
estruturas de aço celulares em relação à instabilidade lateral com torção, entretanto
esta metodologia ainda não foi avaliada para utilização em perfis de aço fabricados no
Brasil. Badke Neto (2015) avançam na análise numérica de vigas alveolares.
Entretanto, os mesmos não apresentaram estudos de otimização daquelas vigas. Por
outro lado Lubke, Alves e Azevedo (2017) apresentaram a formulação da otimização
de vigas celulares fazendo um estudo comparativo entre diferentes métodos de
otimização.
Tendo em vista a escassez ou a falta de trabalhos de otimização envolvendo vigas
mistas celulares de aço e concreto, o presente trabalho tem por objetivo apresentar a
formulação e os critérios para o dimensionamento otimizado, com o uso de algoritmos
genéticos, de vigas mistas celulares de aço e concreto de acordo com os estudos de
Lawson e Hicks (2011) descritos no guia de projeto europeu SCI Publication P355. O
programa foi desenvolvido na plataforma do Matlab@2016 com o uso da ferramenta
guide e o algoritmo genético utilizado é o que se encontra no toolbox do próprio
Matlab. A utilização do guide permite a criação de uma interface interativa de fácil
manipulação de dados como será mostrado em seções posteriores. Uma análise
numérica através do método dos elementos finitos será feita de forma a demonstrar o
modo de colapso preponderante encontrado pela formulação implementada neste
trabalho.

2 Formulação do Problema

O problema apresentado neste trabalho consiste no dimensionamento ótimo de uma


viga mista celular de aço e concreto com base em dados de entrada definidos pelo
usuário, tais como: carga aplicada, vão da viga, condições de apoio, etc.

224
O modelo de otimização consiste em escolher uma viga, de uma família de vigas, com
base em uma função objetivo que será minimizada, no caso deste trabalho a função
peso da viga. As vigas disponíveis para escolha são os perfis metálicos do catálogo da
Gerdau.

2.1 Função objetivo

A Figura 1 apresenta as variáveis do problema para a função objetivo mostrada na Eq.


(1).

Figura 1 – Variáveis do problema

𝑥1 𝑥5 2 𝑥1 𝑥5 (𝑥6 − 1)
𝑃𝑎 = (2𝑥2 𝑥3 + (𝑥1 + √( ) −( ) − 2𝑥3 ) 𝑥4
2 2
(1)
1 )2
𝜋(𝑥5 𝑥1
− . ) 𝜌𝑎
𝑥6 𝑥5 𝑥1 4
onde:
𝑥1 altura do perfil;
𝑥2 altura da mesa do perfil;
𝑥3 espessura da mesa do perfil;
𝑥4 espessura da alma do perfil;
𝑥5 razão entre o diâmetro do furo e a altura do perfil;
𝑥6 razão entre o passo e o diâmetro do furo;
𝜌𝑎 peso específico do aço

2.2 Funções de restrição

2.2.1 Critério dos limites geométricos

De acordo com a tabela de perfis tipo I da Gerdau, foram determinadas como


restrições os valores mínimos e máximos das dimensões (d, bf, tf e tw) componentes

225
da seção transversal dos referidos perfis. Tais restrições são mostradas nas inequações
de (2) a (5).

148 ≤ 𝑑 ≤ 617 (2)

100 ≤ 𝑏𝑓 ≤ 325 (3)

4,9 ≤ 𝑡𝑓 ≤ 22,2 (4)

4,3 ≤ 𝑡𝑤 ≤ 14,0 (5)

2.2.2 Critérios de resistência

O processo de escolha de uma viga otimizada depende se ela atenderá aos diversos
critérios de resistência estabelecidos no estado limite último e no estado limite de
serviço. Estes critérios seguem a formulação de Lawson e Hicks (2011) com adaptações
para atendimento dos critérios da ABNT NBR 8800:2008. Os esforços resistentes são
determinados de acordo com os itens a seguir.

2.2.2.1 Esforço cortante resistente na seção de abertura (VplRd)

O esforço cortante resistente na seção de abertura é dado pela Eq. (6).

0,6𝐴𝑤 𝑓𝑦
𝑉𝑝𝑙,𝑅𝑑 = (6)
𝛾𝑎1
Onde:
𝐴𝑤 soma das áreas das almas dos tês superior e inferior
𝑓𝑦 limite de escoamento do aço do perfil de aço
𝛾𝑎1 coeficiente de ponderação da resistência igual a 1,1

2.2.2.2 Momento fletor resistente na abertura (M0,Rd)

O momento resistente plástico pode assumir dois valores, dependendo da posição da


linha neutra. No caso da linha neutra está posicionada na laje de concreto o momento
é dado pela equação Eq. (7).

226
1
𝑀0,𝑅𝑑 = 𝑁𝑏𝑇,𝑅𝑑 (ℎ𝑒𝑓 + 𝑧𝑇 + ℎ𝑡 − 𝑧𝑐 ) (7)
2

Quando a linha neutra encontra-se na mesa superior do perfil o momento resistente é


dado pela Eq. (8)

1
𝑀0,𝑅𝑑 = 𝑁𝑏𝑇,𝑅𝑑 ℎ𝑒𝑓 + 𝑁𝑐,𝑅𝑑 (𝑧𝑇 + ℎ𝑡 − 𝑧𝑐 ) (8)
2
Onde:
𝑁𝑏𝑇,𝑅𝑑 esforço axial de tração resistente da viga
ℎ𝑒𝑓 altura efetiva da viga entre os centros de gravidade dos tês
ℎ𝑡 altura da laje de concreto
𝑧𝑇 distância entre a extremidade da mesa e o centro de gravidade do tê superior
𝑧𝑐 altura do concreto em compressão
𝑁𝑐,𝑅𝑑 esforço axial resistente de compressão da mesa de concreto

2.2.2.3 Verificação do mecanismo Vierendeel

A resistência à flexão de Vierendeel é dada pela soma dos momentos fletores locais
resistentes dos quatro cantos da abertura com o momento fletor resistente local
devido à interação do tê superior com a laje de concreto. O momento fletor resistente
de Vierendeel deve ser maior que a diferença dos valores dos momentos fletores
solicitantes à esquerda e direita da abertura, conforme Eq. (19)

𝑀𝑉,𝑅𝑑 = 2𝑀𝑏,𝑁𝑉,𝑅𝑑 + 2𝑀𝑡,𝑁𝑉,𝑅𝑑 + 𝑀𝑣𝑐,𝑅𝑑 ≥ 𝑉𝑆𝑑 𝑙𝑒 (9)

Onde:
𝑀𝑏,𝑁𝑉,𝑅𝑑 momento resistente reduzido da mesa inferior para a presença de esforço
cortante e axial
𝑀𝑡,𝑁𝑉,𝑅𝑑 momento resistente reduzido da mesa superior para a presença de esforço
cortante e axial
𝑀𝑣𝑐,𝑅𝑑 momento resistente local devido à interação da mesa superior com a laje de
concreto
𝑉𝑆𝑑 esforço cortante que atua na extremidade da abertura em que o momento
fletor é solicitante é menor
𝑙𝑒 é igual a 45% do diâmetro da abertura

227
A fim de adaptar os critérios do manual de Lawson e Hicks (2011) à NBR 8800:2008,
utilizou-se a Tabela F.1 da norma brasileira para classificar a mesa do perfil celular,
conforme mostra a Figura 2.

Figura 2 – Classificação da mesa do perfil

2.2.2.4 Esforço cortante longitudinal (Vwp,Rd)

O esforço cortante longitudinal resistente do montante da alma á dado pela Eq. (10).

0,6𝑠0 𝑡𝑤 𝑓𝑦
𝑉𝑤𝑝,𝑅𝑑 = (10)
𝛾𝑎1
Onde:
𝑠0 largura do montante da alma
𝑡𝑤 espessura da alma

2.2.2.5 Momento fletor resistente do montante da alma (Mwp,Rd)

𝑠02 𝑡𝑤 𝑓𝑦
𝑀𝑤𝑝,𝑅𝑑 = (11)
6𝛾𝑎1

2.2.2.6 Resistência à flambagem lateral do montante da alma (Nwp,Rd)

Para determinar a resistência do montante da alma à flambagem, pode-se determinar


o coeficiente de redução estabelecido na curva de resistência à compressão da ABNT
NBR 8800:2008, o qual depende da esbeltez do elemento (Ramos, 2019). De acordo
com Lawson e Hicks (2011) tal coeficiente é dado pela Eq. (13).

√12𝑙𝑤 𝑡𝑤
0 = (12)
1

Adaptando a Eq. (12) ao estabelecido na NBR 8800:2008, chega-se na esbeltes


reduzida para aberturas circulares, conforme Eq. (13).

228
1,75√𝑠02 + 𝑑02
0 = (13)
𝑡𝑤 1

Onde:
𝑑0 diâmetro da abertura
1 𝜋√𝐸/𝑓𝑦
𝐸 módulo de elasticidade do aço do perfil

A resistência à flambagem para aberturas adjacentes é dada pela Eq. (14).

𝑠0 𝑡𝑤 𝑓𝑦
𝑁𝑤𝑝,𝑅𝑑 =  (14)
𝛾𝑎1
Onde:
 fator de redução da resistência à compressão

2.2.2.7 Verificação dos Deslocamentos na Viga

A flecha atuante, para um carregamento distribuído, é determinada de acordo com a


Eq. (15)

5𝑞𝑙 4
𝑓= (15)
348𝐸𝐼
Onde:
𝑞 carregamento distribuído
𝑙 vão da viga

2.3 Equações de restrições da resistência

As equações de restrições da resistência são então dadas pelas equações de (16) a


(22).

𝑉𝑝𝑙,𝑅𝑑
1− ≤0 (16)
𝑉𝑆𝑑
𝑀0,𝑅𝑑
1− ≤0 (17)
𝑀𝑆𝑑

𝑀𝑉,𝑅𝑑
⁄𝑙
1− 𝑒
≤0 (18)
𝑉𝑆𝑑

229
𝑉𝑤𝑝,𝑅𝑑
1− ≤0 (19)
𝑉𝑆𝑑
𝑀𝑤𝑝,𝑅𝑑
1− ≤0 (20)
𝑀𝑆𝑑
𝑁𝑤𝑝,𝑅𝑑
1− ≤0 (21)
𝑁𝑤,𝑆𝑑
𝑓𝑎𝑑𝑚
1− ≤0 (22)
𝑓

3 O programa Computacional

O programa foi desenvolvido na plataforma Matlab, com o uso da ferramenta guide


que permite criar de forma simples uma interface gráfica interativa com o usuário. O
menu inicial do programa é mostrado na Figura 3. Nesta tela é possível fazer o
dimensionamento do perfil de acordo com os parâmetros de entrada, previamente
definidos pelo usuário. Também, depois de escolhido o perfil otimizado, é possível
visualizar o resumo das verificações feitas pelo software, esforços resistentes e
esforços atuantes. Todo o processo de escolha do perfil é baseado no método dos
Algoritmos Genéticos (AG). A escolha do método se deu, por ser um método de
otimização para variável discreta, que se adequa bem a problema proposto, tendo em
vista que a busca pela solução ótima do problema será em uma tabela de perfis
comerciais.

Figura 3 – Menu do programa desenvolvido

230
3.1 Validação dos resultados

Para analisar a eficácia do programa desenvolvido foram resolvidos dois exemplos de


vigas mistas celulares. O primeiro exemplo consiste no exemplo numérico de Oliveira
(2012), disponível na literatura. Já o segundo exemplo consiste em dimensionar um
grupo de 12 vigas, 6 de sistema de piso e 6 de sistema de cobertura, comparando os
resultados obtidos com os resultados fornecidos pelo software ACB+ 3.15 da Arcelor
Mittal.

3.1.1 Exemplo 1 – Oliveira (2012)

Este exemplo consiste em verificar um perfil celular, obtido de um perfil “I” de abas
paralelas padrão europeu comercializado pela ArcellorMittal, de nome “IPE 550”. Para
validar o programa, serão introduzidos os mesmos parâmetros de entrada, a fim de
obter um perfil de forma otimizada. Este será comparado com o perfil do exemplo. Os
parâmetros de entrada são mostrados na Tabela 1.
Após realização da otimização pelo software apresentado neste artigo, o resultado é
comparado com os resultados do exemplo numérico de Oliveira (2012), conforme
Tabela 2 e Tabela 3.

Tabela 1 – Dados de entrada


Item Parâmetros Valores
Viga comprimento do vão 10 m
Laje altura da laje 120 mm
diâmetro 19 mm
Conector
comprimento do conector 100 mm
limite escoamento aço 345 MPa
Materiais
fck do concreto 30 MPa
Peso da forma de aço 0,2 kN/m
Ações
Peso da armadura 0,1 kN/m
permanentes
Acabamentos 3 kN/m
Sobrecarga na construção 1,5 kN/m2
Ações variáveis
Sobrecarga 15 kN/m2

Tabela 2 – Comparação dos resultados – dados geométricos


Altura viga Diâmetro do Espaçamento do Perfil
original alvéolo alvéolo
Oliveira (2012) 550 mm 400 mm 550 mm IPE 550
Autores 525 mm 364,8 mm 394 mm W 530 x 66

Tabela 3 – Comparação dos resultados – esforços e deformações


NRd MSd MRd VSd VRd Flecha
Oliveira 1104,97 kN 451,8 kNm 691,51 kNm 131,8 kN 390,74 kN 22,3 mm
(2012)
Autores 1164 kN 451,8 kNm 735,6 kNm 131,8 kN 394 kN 19,4 mm

231
Conforme pode ser observado na Tabela 2, o perfil escolhido pelo método de
otimização foi o “W530 x 66”, o mesmo pesa 66 kg/m e o perfil proposto por Oliveira
(2012) é o perfil IPE 550 que pesa 92,1 kg/m. Logo, o programa de otimização escolheu
um perfil 28,3 % mais leve que o apresentado pelo exemplo, sendo o perfil escolhido
aprovado em todas as verificações de cálculo.

3.1.2 Exemplo 2 – Grupo de 12 vigas

Neste exemplo foram dimensionados 2 grupos de 6 vigas cada, sendo 6 de piso e 6 de


cobertura. Os dados de entrada para as vigas são mostrados na Tabela 4. A laje
utilizada no exemplo possui altura igual a 65 mm, com um fck igual a 30 MPa e com
tensão de escoamento do aço de 345MPa.

Tabela 4 – Dados de entrada


Sistema de piso

Lb (m) Qcp (kN/m) Qsc (kN/m)


Viga 1 5,00 1,00 1,50
Viga 2 6,00 2,00 2,50
Viga 3 7,00 3,00 3,50
Viga 4 8,00 4,00 4,50
Viga 5 9,00 5,00 5,50
Viga 6 10,00 6,00 6,50
Sistema de cobertura
Lb (m) Qcp (kN/m) Qsc (kN/m)
Viga 7 11,00 1,00 1,50
Viga 9 12,00 2,00 2,50
Viga 10 13,00 3,00 3,50
Viga 11 14,00 4,00 4,50
Viga 12 15,00 5,00 5,50
Viga 13 16,00 6,00 6,50
Lb Vão entre apoios
Qcp Carga permanente
Qsc Carga variável

Os dados de entrada foram levados ao programa, os perfis escolhidos com o processo


de otimização através dos algoritmos genéticos são mostrados na Tabela 5.

232
Tabela 5 – Perfis otimizados
Viga Perfil escolhido
1 W 150x13
2 W 200x15
Vigas de 3 W 250x17,9
piso 4 W 310x28,3
5 W 410x38,8
6 W 410x46,1
7 W 310 x 21
8 W 410 x 38,8
Vigas de 9 W 460 x 52
cobertura 10 W 530 x 66
11 W 530 x 82
12 W 610 x 101

Os perfis escolhidos pelo programa foram levados à verificação através do software


ACB+ 3.15, que é baseado na norma ENV 1993-1-1: Eurocode 3: Design of steel
structures - Annex N : Openings in webs, a fim de comparar os valores dos esforços
resistentes obtidos pelo programa de otimização. Os resultados das comparações são
mostrados na Tabela 6.

Tabela 6 – Comparação dos resultados


M0Rd (kNm) VRd (kN) VwpRd (kN)
Esforços solicitantes
Sistema
de piso Programa ACB+ 3.15 Programa ACB+ 3.15 Programa ACB+ 3.15
MSd VSd
(kNm) (kN)
Viga 1 32,90 47,10 57,10 52,00 71,86 80,20 10,90 6,80
Viga 2 47,60 64,11 78,50 80,78 97,10 112,70 28,10 15,30
Viga 3 60,00 71,10 111,20 105,90 136,00 147,20 55,10 26,87
Viga 4 184,60 200,90 164,20 150,90 209,30 212,20 94,00 40,90
Viga 5 228,20 253,30 233,40 231,80 288,30 307,20 146,80 58,10
Viga 6 297,00 322,30 251,20 247,20 318,50 381,50 215,60 77,80
M0Rd (kNm) VRd (kN) VwpRd (kN)
Sistema Esforços solicitantes
de
cobertura Programa ACB+ 3.15 Programa ACB+ 3.15 Programa ACB+ 3.15
MSd VSd
(kNm) (kN)
Viga 7 76,60 88,30 143,10 121,00 174,50 178,40 52,90 17,40
Viga 8 228,2 235,50 233,4 212,10 288,3 277,20 112,50 34,40
Viga 9 341,6 410,10 309,1 272,90 386,1 417,50 190,10 54,10
Viga 10 445,50 582,20 425,10 476,10 527,60 574,60 287,90 76,80
Viga 11 696 744,5 452,3 582,4 566,4 616,85 407,8 102,1
Viga 12 972,9 1351 571,2 682,1 714,9 777,8 552 130,5

233
De acordo com a Tabela 6 os perfis escolhidos pelo programa de otimização através
dos algoritmos genéticos atendem ao problema, quando comparado os esforços
resistentes com os esforços solicitantes e os mesmos atendem a norma ENV 1993-1-1,
quando verificado com o programa ACB+ 3.15. A diferença de resultados entre os dois
programas para os esforços resistentes se dá devido a diferença de formulação
utilizada pelos mesmos, tendo a vista que o ACB+ 3.15 é baseado na ENV 1993-1-1 e o
trabalho aqui proposto na formulação de Lawson e Hicks (2011). De forma geral o
software ACB+3.15 se mostrou mais conservador que a formulação proposta neste
trabalho.

3.1.3 Análise dos modos de colapso com restrições ativas

Os modos de colapso das vigas celulares foram utilizados como restrições para
implementação do programa, conforme descrito no item 2.2.2. No dimensionamento
da viga ótima é comum que algumas restrições governem todo o processo de
verificações de cálculo. Este item busca ilustrar os modos de colapso que governaram
o dimensionamento das doze vigas estudas no exemplo 2. Os modos de colapso
preponderantes nas verificações são mostrados na Tabela 7.

Tabela 7 – Modos de colapso


Modos de colapso preponderantes

Vão Plastificação do Plastificação do Escoamento do


Vigas Mecanismo
(m) perfil na região perfil devido à montante da alma por
Vierendeel
da abertura flexão esforço cortante

1 5 X - - -
2 6 - X - -
3 7 - X - -
4 8 - X - -
5 9 X - - -
6 10 X - - -
7 11 - X - -
8 12 X - - -
9 13 X - - -
10 14 X - - -
11 15 X - - -
12 16 X - - -

234
Com base nos resultados apresentados na Tabela 7, pode-se chegar as seguintes
conclusões:
 As vigas de sistema de piso de 6 a 8 metros tiveram como modo de colapso
preponderante a plastificação do perfil devido à flexão;
 Para as vigas de sistema de piso de 5 e 9 a 10 metros, o modo preponderante
foi a plastificação do perfil na região da abertura;
 Para o grupo de sistema de cobertura apenas a viga de vão igual a 11 metros
teve como modo de colapso preponderante a plastificação do perfil devido à
flexão. As demais vigas deste grupo tiveram como modo de colapso
preponderante a plastificação do perfil na região da abertura.

Os resultados detalhados na Tabela 7 também podem ser lidos graficamente conforme


apresentado na Figura 4.

Vigas celulares
80
Porcentagem das vigas com restrição

70
60
50
40
30
ativa

20
10
0
Plastificação do Plastificação do Mecanismo Escoamento do
perfil na região da perfil devido à Vierendeel montante da alma
abertura flexão por esforço cortante
Modos de colapso

Figura 4 – Gráfico modos de colapso versus percentual de vigas

3.1.4 Análise numérica

Com o objetivo de comparar os resultados obtidos com o programa, a viga 6 será


submetida a uma análise de elementos finitos a fim de verificar o modo de colapso

235
atuante nesta análise. A tensão máxima atuante na análise de elementos finitos será
comparada com a tensão resultante do modo de colapso preponderante para a viga 6.

3.1.4.1 Modelo de análise

A viga 6 foi modelada no software Solidworks Simulation Premium 2016 (D. S.


Corporation, 2015), conforme mostrado na Figura 5. O modelo adotado para a análise
de elementos finitos foi o de uma viga biapoiada sendo os materiais utilizados os
mesmos descritos na seção 3.1.2.

Figura 5 – Modelo de análise

Para discretização do modelo de elementos finitos foi adotada uma malha, tanto para
a viga de aço quanto para a laje de concreto, de elementos sólidos tetraédricos com
lado igual a 25 mm e tolerância igual a 1,25 mm. Cada elemento possui 4 nós com 3
graus de liberdade por nó que representam as translações nas três direções
ortogonais.

3.1.4.2 Tensões atuantes

Após análise do modelo de elementos finitos, pode observar na Figura 6 a localização e


o valor da máxima tensão atuante na viga. Como se nota, a máxima tensão ocorre no
centro do vão, na abertura central, causada pela flexão da viga. Este resultado, em
termos de localização, confere com o modo de colapso preponderante da viga 6
(plastificação do perfil devido à flexão).

236
Figura 7 – Máxima tensão

3.1.4.3 Tensão máxima analítica

Este item determinará a máxima tensão, de forma analítica, atuante na viga, com base
no momento fletor de cálculo, MSd, e de acordo com as propriedades geométricas do
perfil celular misto, a fim de comparar este valor com o obtido da análise de elementos
finitos. A Tabela 8 mostra as propriedades geométricas do perfil misto.

Tabela 8 – Propriedades geométricas da viga celular mista


Momento de inércia (Ix) 4,49 x 107 mm4
Distância entre a linha neutra
mm
plástica e a borda da abertura (y) 273,6
Módulo resistente (Wx) 164108,2 mm3

A tensão 𝜎𝑑 devido à flexão da viga, provocada pelo momento MSd atuante, é obtida
conforme Eq. (23).

𝑀𝑆𝑑 28100000
𝜎𝑑 = = = 171,2 𝑀𝑃𝑎 (23)
𝑊𝑥 164108,2
Este resultado é comparado com o resultado da análise de elemento finitos conforme
Tabela 9.

237
Tabela 9 – Comparação dos resultados - Tensões
Máximas tensões
Análise de
Cálculo % diferença
elementos
analítico
finitos
152,36 MPa 171,2 MPa 11,0

O resultado da análise de elementos finitos comprovou que o modo de colapso da viga


6 é mesmo devido à flexão do perfil misto. Em termos de intensidade os resultados
analíticos e numéricos ficaram bem próximos, o que valida o resultado obtido com o
programa.

4 Conclusões

O objetivo do trabalho era apresentar a formulação do problema de otimização para


vigas mistas celulares de aço e concreto e suas aplicações, bem como uma análise
numérica foi realizada de modo analisar um dos modos de colapso preponderante no
problema de otimização.
Conforme exemplo apresentado, a utilização do método dos algoritmos genéticos
permite obter soluções melhores em relação ao peso quando comparado com o
exemplo da literatura aqui apresentado. Neste caso, a redução de peso do perfil
chegou aproximadamente a 21%.
Para análise dos modos de colapso, pode-se perceber que em todos os exemplos os
modos preponderantes foram o mecanismo de plastificação da abertura do perfil e o
mecanismo de plastificação do perfil por flexão. A análise via método dos elementos
finitos para uma das vigas mostra que a análise numérica da estrutura coincide com a
análise feita para o problema de otimização.
Pode-se perceber também que os perfis obtidos no problema analisado para as 12
vigas, todos atendem a norma europeia ENV 1993-1-1. A diferença obtida nos
resultados se dá devido a diferença na formulação dos modos de colapso. Ressalta-se
que a formulação de Lawson e Hicks(2011) é uma formulação mais atual que a
proposta por ENV 1993-1.1, levando a um dimensionamento menos conservador
quando comparado com a norma supracitada.

238
O programa apresentado neste artigo se mostra uma boa ferramenta para
dimensionamento de perfis celulares, uma vez que na prática de projeto usual o
processo de escolha de uma viga celular consiste basicamente em um pré-
dimensionamento inicial do projetista, através de catálogos e softwares fornecidos por
fabricantes destes perfis; tornando este processo lento e a solução encontrada pelo
mesmo nem sempre é a mais econômica e eficiente.

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