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Radiação

Radiação térmica é a energia emitida pela matéria com uma temperatura finita,
transportada por ondas electromagnéticas (ou fotões). Ao contrário da condução e da
convecção, que necessitam de um meio para transmitir calor, este modo não necessita
de qualquer meio (pelo contrário, é até mais eficaz no vácuo).
Radiação transferência de calor por emissão (ou absorção) de radiação
electromagnética (não requer a intervenção de um meio material):

Coeficientes de absorção (α), de reflexão (ρ) e de transmissão (τ)


Para além das características das superfícies no que refere a emissão de radiação,
expressas na emissividade, também há que ter em conta as características à reflexão,
absorção e transmissão da radiação recebida.
Para a energia de radiação (irradiação – I) que incide numa superfície (translúcida),
ter-se-á:
Uma fracção é absorvida (Iabs)
Uma fracção é reflectida (Iref)
Uma fracção é transmitida (Itr)

I = I ref + I abs + I tr com I ref = ρ I I abs = α I I tr = τ I e ρ + α + τ = 1

Estes coeficientes (α, ρ, τ) dependem do comprimento de onda da radiação incidente,


da temperatura da superfície, da direcção da radiação incidente, e do acabamento da
superfície.

Radiação térmica. Corpos negros


As ondas electromagnéticas podem ser emitidas por dispositivos diferentes. Interessa-
nos considerar exclusivamente as ondas electromagnéticas cuja emissão está
dependente apenas da temperatura do corpo emissor, às quais se dá o nome de
radiação térmica.
A radiação é indicada por meio de duas variáveis independentes: a frequência de cada
uma das ondas monocromáticas que a compõem e a temperatura T do corpo ou fonte
emissora.
Da mesma forma que o estudo do comportamento dos gases se torna mais simples e
acessível à custa da consideração da existência de um gás ideal ou perfeito, assim o
estudo da radiação térmica simplifica-se à custa da consideração de um corpo ideal ou
corpo negro.
Em linhas gerais, dá-se o nome de corpo negro a um corpo que deixa penetrar toda a
energia electromagnética incidente sem que haja qualquer reflexão à sua superfície e
sem que saia qualquer fracção de energia electromagnética; por outras palavras, o
corpo negro absorve toda a energia electromagnética nele incidente.
Um corpo negro não existe na realidade, mas existem situações bastante próximas
dele. Por exemplo, uma esfera oca cuja superfície interna é mantida a uma
temperatura uniforme, com um pequeno orifício na sua superfície. Qualquer radiação
que entrar através dele será parcialmente absorvida e parcialmente reflectida nas
superfícies internas. A radiação reflectida não escapará imediatamente da cavidade,
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mas atingirá repetidamente a superfície interna. Cada vez que isso ocorrer, uma parte
dela será absorvida. Quando o feixe de radiação, finalmente atingir o furo e escapar,
estará tão enfraquecido pelas repetidas reflexões que a energia que deixará a cavidade
será desprezável, assim:

Corpo Negro é um corpo (noção teórica) que:


absorve toda a energia radiante que sobre ele incide independentemente do
comprimento e da direcção de incidência;
é um emissor perfeito (radiação máxima). Para uma dada temperatura, e num
dado comprimento de onda, nenhuma outra superfície pode emitir mais
energia;
é difuso. A radiação por ele emitida pode depender da temperatura e do
comprimento de onda, mas não da direcção (emite igualmente em todas as
direcções);
é uma superfície ideal usada como padrão na definição e quantificação das
propriedades radiactivas dos corpos reais.

Poder emissivo do corpo negro

O radiamento térmico emitido por um corpo negro é uma onda electromagnética


complexa formada pela sobreposição de um número muito elevado de ondas
monocromáticas, isto é, cada uma das ondas possui uma frequência bem definida,
assim como uma temperatura do corpo negro emissor.
O poder emissivo monocromático do corpo negro representa a quantidade de energia
electromagnética emitida, por unidade de tempo e por unidade de área, na temperatura
e em torno da frequência característica dessa onda monocromática.
Para uma dada temperatura, o poder emissivo varia em função do comprimento de
onda. Há um valor do comprimento de onda, tal que o poder emissivo monocromático
é máximo.

Qualquer corpo ou superfície a uma temperatura superior ao zero absoluto emite


radiação electromagnética por alteração na configuração electrónica de átomos e

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moléculas. A radiação térmica está restrita aos comprimentos de onda entre 0.1 e 100
µm do espectro electromagnético.
O espectro de energia radiada por unidade de tempo é contínuo e depende da
temperatura T e do comprimento de onda λ da radiação emitida.
Segundo a Lei de Wien o comprimento de onda a que corresponde a intensidade
máxima (λmáx) varia inversamente com a temperatura.

2.898 ×10 −3 m ⋅ K
Lei de Wien λmáx =
T

Espectro de radiação de um corpo negro.

Da distribuição espectral representada na figura, acima para algumas temperaturas,


pode observar-se que:
a radiação emitida por um corpo negro varia continuamente com o
comprimento de onda;
em qualquer comprimento de onda, a radiação emitida por um corpo negro
aumenta à medida que a temperatura aumenta;
quando a temperatura aumenta, diminui o comprimento de onda
correspondente ao valor máximo da distribuição espectral.

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A taxa a que é libertada, energia radiativa por unidade de área e por unidade de tempo
chama-se potência emitida (ou poder emissivo) E (W/m2). Existe um limite superior
para esta quantidade que é estabelecida pela lei de Stefan-Boltzmann:

Eb = σ T 4

em que T é a temperatura absoluta (K) da superfície e σ é a constante de Stefan-


Boltzmann (σ= 5.67 x 10-8 W/m2.K4; σ=4.896 x 10-8 Kcal/h. m2.K4; σ= 1.73 x 10-9
BTU/h. ft2.R4). Neste caso a superfície é chamada radiador ideal ou corpo negro.
O fluxo de calor emitido por uma superfície real é menor do que o emitido por um
corpo negro, e é igual a E = e σ T 4 ε é uma propriedade radiativa da superfície
chamada emissividade, tem valor compreendido entre 0 e 1. No caso de um corpo
negro a emissividade tem o valor igual à unidade.

Corpos cinzentos - Corpos não negros

Os corpos não negros emitem também radiação térmica com uma distribuição
espectral idêntica à de um corpo negro, à mesma temperatura T. Simplesmente, o
poder emissivo é menor. Define-se então Emissividade (e).
A emissividade e de um corpo é definida como o quociente entre a sua potência
emissiva e a de um corpo negro; quer dizer e = E Eb nas mesmas condições (T, λ).

Estritamente deveria considerar-se a emissividade para cada comprimento de onda,


visto que o quociente e não permanecerá constante através de uma larga gama de
comprimentos de onda. Define-se corpo cinzento como aquele que tem um valor de ε
constante, de forma que, para qualquer gama de temperaturas, ele emite a mesma
fracção da energia radiada por um corpo negro.
A fracção da radiação incidente absorvida é chamada de absortividade, α, para um
corpo negro, toda a radiação incidente será absorvida, quer dizer, a sua absortividade
é igual à unidade, α = 1 . Um corpo cinzento terá também uma absortividade
constante.
A emissividade depende não só da temperatura como também do comprimento de
onda. Nos cálculos tecnológicos para evitar esta dificuldade, considera-se a existência
de corpos cinzentos, para os quais a emissividade é independente do comprimento de
onda.

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De uma forma genérica, a emissividade dos corpos metálicos exibe um
comportamento distinto dos corpos não metálicos, podendo afirmar-se que para as
superfícies metálicas polidas, a emissividade tem um valor relativamente pequeno a
baixas temperaturas mas o valor aumenta com o aumento da temperatura; para as
superfícies não metálicas, o valor é relativamente elevado á temperatura ambiente e
diminui à medida que aumenta a temperatura, podendo no entanto, passar a aumentar
de valor a temperaturas muito elevadas.

Lei de Kirchoff

Considere uma cavidade perfeitamente negra, ou seja, uma cavidade que absorva toda
a energia toda a radiação incidente sobre ela, figura seguinte:

CAVIDADE NEGRA

EA

CORPO

qiAα

Modelo utilizado para a obtenção da lei de Kirchhoff.

Esta cavidade também emite radiação de acordo com a lei de T4. Sendo qi W.m-2 o
fluxo radiante emitido. Um corpo colocado no interior da cavidade entrará em
equilíbrio térmico. No equilíbrio a energia emitida (EA) pelo corpo deve ser igual a
energia absorvida (qiAα). Na condição de equilíbrio podemos escrever:

EA = qi Aα

Se agora substituirmos o corpo na cavidade por um corpo negro com a mesma forma e
dimensão, em equilíbrio térmico com a cavidade à mesma temperatura:

En A = qi A ⋅1

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pois a absortividade de uma corpo negro é igual à unidade. Dividindo às duas
equações anteriores, vem que:

E

En

o que significa que a relação entre o poder emissivo de um corpo e o poder emissivo
de um corpo negro à mesma temperatura é igual à absortividade do corpo. Esta
relação é definida como a emissividade de um corpo e portanto: e = α , sendo
chamada a identidade de Kirchhoff.
Em certas condições as características de emissão (e) e de absorção (α) são iguais
para a mesma temperatura. Na prática, muitas superfícies têm o objectivo de
funcionar com α (T) ≠ e (T). Por exemplo, uma placa selectiva para captação da
energia solar:

A tinta branca é outro exemplo. É usada em superfícies que se pretende que não
aqueçam demasiado quando estão expostas ao sol (p.ex.: paredes das casas), pois
apresentam baixos valores de α em baixos comprimentos de onda, e elevados valores
de ε nos maiores comprimentos de onda.

Factor de forma ou factor geométrico


Para calcular a troca de calor entre duas superfícies é necessário determinar a fracção
da radiação total difusa que deixa uma superfície e é interceptada por outra e vice-
versa.
A fracção da radiação distribuída difusamente que deixa a superfície Ai e chega à
superfície Aj é denominada de Factor de Forma para a radiação Fij.
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O factor de forma também é correntemente designado de factor de vista. F12 é um
parâmetro prático tradutor da condição "ser vista" a que se dá o nome de factor de
forma ou factor geométrico. Quer dizer, no caso geral, a tradução científica da
condição "ser vista" exige a realização de uma dupla integração, a qual na maioria dos
casos é difícil ou mesmo impossível.
Considerando duas superfícies negras de áreas A1 e A2, separadas no espaço, figura
seguinte, e T1 é maior de que T2.

A2
T2

q
A1
T1

Em relação às superfícies A1 e A2 temos os seguintes factores de forma:


F12, fracção de energia que deixa a superfície (1) e atinge (2);
F21, fracção de energia que deixa a superfície (2) e atinge (1).
A energia radiante que deixa A1 e atinge A2 é:
q1→2 = En1 ⋅ A1 ⋅ F12
A energia radiante que deixa A2 e atinge A1 é:
q2→1 = En 2 ⋅ A2 ⋅ F21
A troca líquida entre as duas superfícies será:
q = q1→2 − q2→1 = En1 ⋅ A1 ⋅ F12 − En 2 ⋅ A2 ⋅ F21

Como A1 ⋅ F12 = A2 ⋅ F21 , regra da reciprocidade:

q = A1 ⋅ F12 (En1 − En 2 )
Aplicando a lei de Stefan-Boltzman, obtemos a expressão para o calor transferido por
radiação entre duas superfícies a diferentes temperaturas:
(
q = σ A1 ⋅ F12 T14 − T24 )

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O cálculo deste factor é realizado ou através da mencionada dupla-integração ou
através de uma conciliação empírica do seu cálculo aproximado e de dados
experimentais.

Os factores geométricos satisfazem às seguintes propriedades:


no caso de 2 superfícies A1 e A2, há uma relação de reciprocidade: A1 F12 =
A2 F21 chamada regra recíproca;
no caso de superfícies convexas: F11 = F22 = F33... = 0, evidenciando que tais
superfícies não se podem ver a si próprias;
no caso de um conjunto de n superfícies tais que se "fechem" F11 + F12 +
F13...= 1 chamada regra de adição.

Cálculo da transferência de calor por radiação

1º A distância entra as superfícies não influencia o factor de forma (ou factor de


vista):

A -Transferência por radiação entre um sistema e as paredes do recipiente fechado no


qual está contido:

Consideremos um sistema fechado, limitado por uma superfície fechada de área A1, à
temperatura T1, colocado num recipiente fechado cujas paredes estão à temperatura
T2.Quer o sistema, quer as paredes estão em equilíbrio térmico; o meio existente no
interior é perfeitamente transparente à radiação térmica.

Quantidade de energia emitida: qemitido = A1 E1 = A1 e1 σ T14

Quantidade de energia absorvida: qabsorvido = A1 a1 E2 = A1 a1 e2 σ T24

Transferência de radiação: q = qemitido − qabsorvido

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B - Radiação entre dois corpos cinzentos

q1−2 = F12 σ A1 (T14 − T24 )

Superfície pequena envolvida por outra muito maior:

A1
A1 << A2 ⇒ ≈0
A2

F1− 2 = e1

Que mostra que o balanço da superfície A1 (pequena) não depende das propriedades
da superfície A2 (maior). O balanço é o mesmo quer a superfície A2 seja negra ou não.
De facto, pode considerar-se que o corpo A2 se comporta como negro face a A1.

Placas paralelas e infinitas:


A1 = A2 = A

1
F1− 2 = Exemplo: paneis solares
1 1
+ −1
e1 e2

Cilindros coaxiais compridos:


A1 r1
=
A2 r2

1
F1−2 = Exemplo: garrafas térmicas
1 1 − e2  r1 
+  
e1 e2  r2 

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Esferas concêntricas:
A1 r12
=
A2 r22

1
F1−2 = 2
1 1 − e2  r1 
+  
e1 e2  r2 

Exemplo: depósitos de fluidos criogénicos

2º Duas superfícies de dimensões finitas e distância entre elas também finita


PLANOS PARALELOS

Neste caso os factores de forma entram em linha de contra não só com a geometria
das superfícies e emissividades mas também com a distância entre as duas superfícies.

Corpos negros - (
q = A1F12σ T14 − T24 )

Corpos cinzentos - (
q = A1F12σ T14 − T24 )

1
F12 =
1 A1  1  1 
+  − 1 +  − 1
F12 A 2  e2   e1 

Nota: F12 - retirado do gráfico seguinte, quando as superfícies são ligadas por uma

parede não condutora e reirradiante F12 é substituído por F12 .

F12 .A 1 = F21 .A 2

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