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A tributação incidente sobre a previdência privada

Juliano José Rodrigues

 umário: 1 Introdução; 2 A necessidade do seguro privado; 3 Previdência Privada – breves


noções; 4 Entidades Abertas de Previdência Privada; 5 Resgate; 6 Portabilidade; 7 Da
tributação incidente na Previdência Privada; 7.1 Lei 11.053, de 2004; 7.1.1 Tributação
progressiva; 7.1.2 Tributação Regressiva; 7.1.3 Prazo para opção do regime tributário; 7.2
Modalidades de planos de benefícios para fins de tributação do IR;  7.2.1 PGBL – Plano
Gerador de Benefício Livre; 7.2.2 VGBL – Vida Gerador de Benefício Livre; 7.3 Incidência
do Imposto de Renda; 7.3.1 Plano PGBL – tributação progressiva; 7.3.2 Plano PGBL –
tributação regressiva; 7.3.3 Plano VGBL – tributação progressiva; 7.3.4 Plano VGBL –
tributação regressiva; 7.4 PGBL x VGBL – a melhor opção; 7.5 Portabilidade – tratamento
tributário; 8 Considerações Finais; Referências; Bibliografias Consultadas.

O sistema de previdência complementar, de caráter privado, facultativo e


organizado de forma autônoma em relação ao regime geral de previdência social,
objetiva garantir a continuidade do padrão de bem-estar correspondente a fase em
que o individuo laborava. A incidência tributária sobre as operações com as
entidades abertas de previdência privada, constitui-se em tema relevante, haja
vista que as variáveis existentes na forma de tributação previstas na legislação
fiscal, determinam o alcance do resultado que se almeja de um plano de
benefício. A análise na seara tributária passa pela opção pelos regimes Regressivo
e Progressivo, de acordo com a Lei 11.053, de 2004, atrelada necessariamente, a
escolha pelas modalidades VGBL ou PGBL, resultando num plano de benefício
adequado a cada tipo de indivíduo.

1 Introdução

Por maior que seja a disposição do individuo em desempenhar suas atividades


durante sua vida laborativa, chegará uma fase da vida em que sua capacidade
física e mental não mais lhe permitirá a vivacidade de outrora. Neste momento,
quando a velhice bater à porta, a previdência tornar-se-á a principal preocupação
deste indivíduo.

Atualmente, graças aos avanços culturais e financeiros, a previdência vem


ganhando espaço, acarretando no fato de que, cada vez mais, as pessoas
preocupam-se com sua aposentadoria precocemente, no inicio da vida adulta,
quando ainda lhe restam tempo para elaborar um plano de investimentos de longo
prazo, almejando uma velhice tranqüila e independente.

Entretanto, não causa espanto a ninguém a atual situação caótica da previdência


oficial em nosso país, haja vista falar-se em crise da seguridade social há décadas.
Realmente, o sistema previdenciário brasileiro vem apresentando crescentes
dificuldades financeiras e administrativas.

Neste sentido, desenvolveu-se, paralelamente ao sistema previdenciário público,


um sistema privado de previdência, fruto da necessidade de determinadas classes
de indivíduos, que almejam rendimentos vultosos e flexibilidade em seus planos de
benefícios, assim como, em decorrência da perda de credibilidade do regime geral
de previdência social – RGPS. O sistema privado de previdência é organizado de
forma autônoma e possui caráter complementar em relação ao sistema oficial e
aos regimes próprios.

Resulta que hodiernamente, quantidade considerável de indivíduos, ingressou ou


pretende ingressar junto aos planos de benefícios das entidades abertas de
previdência privada, oferecidos usualmente por instituições financeiras, com a
finalidade de garantir suas aposentadorias. Contudo, os reflexos diretos e indiretos
do ingresso aos planos passam despercebidos, seja pela falta de preparo dos
agentes investidos na comercialização, seja pela falta de estudo sobre o assunto.

Neste sentido, a presente pesquisa objetiva estudar um tema de grande relevo,


qual seja, a tributação incidente nas operações envolvendo os planos de benefícios
das entidades abertas.

A abordagem sobre o tema deve invariavelmente, desenvolver-se em consonância


com o exame da Lei Complementar n. 109, de 2001, que dispõe sobre a
intervenção do poder público objetivando a formulação de políticas de previdência
complementar, assim como, assegurando a preservação dos interesses dos
participantes e dos assistidos em relação às entidades abertas previdenciárias.
Tem-se ainda, de fundamental importância, a pesquisa doutrinária e legislativa
que, por conseguinte, gera resultados que amoldam-se à realidade previdenciária
nacional.

Tendo em vista a complexidade e o pouco desenvolvimento doutrinário existente


acerca da matéria, este trabalho apresenta informações indispensáveis para
melhor compreender o tema, todavia, sem pretensão de esgotar o assunto. Busca-
se ainda, indicar de maneira pormenorizada, os reflexos tributários decorrentes da
opção pelas inúmeras modalidades de planos de benefícios existentes junto às
entidades abertas de previdência complementar.

Este trabalho é partidário da implementação dos planos de benefícios das


entidades abertas de previdência privada, haja vista, tal medida acarretar à
sociedade, desenvolvimento social e econômico, por meio da capitalização de
recursos, que ocasionam a melhoria na qualidade de vida dos cidadãos vinculados à
previdência privada, e indiretamente, a toda coletividade.

2 A necessidade do seguro privado

Cabe ressaltar que neste estudo as expressões previdência privada e previdência


complementar serão usadas como sinônimas, pois o legislador infraconstitucional
assim entende. Todavia, cabe uma ressalva, segundo Ramos (2005, p. 26) houve
um equívoco do legislador "ele entendeu como complementar o que na realidade,
não é complementar ao regime geral de previdência social, mas sim totalmente
autônomo, conforme definido constitucionalmente".

O sistema de previdência social, no seu regime geral, básico, possui caráter


universal e destina-se a todos, sendo obrigatório à população economicamente
ativa, mediante atendimento de determinados requisitos e de contribuições.
Contudo, frente à massa de segurados que nesse sistema se amparam é evidente a
insuficiência do modelo do Regime Geral de Previdência Social.

Voltando-se no tempo, tem-se que desde os primórdios os indivíduos buscavam


métodos de ajuda mútua, constituindo-se a solidariedade num instituto basilar
para os riscos futuros e incertos. A solidariedade consiste na relação de
responsabilidade entre pessoas unidas por interesses comuns, de maneira que cada
elemento do grupo sinta-se na obrigação moral de ajudar os outros. Tal instituto
tem guarida legal em nossa Carta Magna[1].

Antigamente, a solidariedade não era obrigatória, mas beneficente. No decorrer da


história, com a intervenção do Estado nas relações sociais, os modelos de ajuda
mútua aperfeiçoaram-se, para originar a Previdência Social, de caráter
contributivo e de filiação obrigatória. Segundo Ramos (2005, p. 18) "a previdência
pública, objetivava, e ainda objetiva nos dias atuais, garantir o mínimo necessário
à subsistência de seus segurados e/ou dependentes, desde a criação do Sistema
Nacional de Seguridade Social".

A Previdência Social esta intimamente ligada aos riscos sociais, que podem ser
definidos como situações futuras, certas ou incertas, cuja materialização não
depende da vontade dos indivíduos afetados. São exemplos os casos de doença,
invalidez, velhice e morte. Esclarece Ramos (2005, p. 20):

 Os sistemas de proteção social coletivos objetivavam minimizar os impactos a que


estavam sujeitos os beneficiários no caso de ocorrência de risco social,
impossibilitando-os de prover sua subsistência, já que buscavam a manutenção da
qualidade de vida de que os segurados desfrutavam antes da concretização do risco
social e a garantia do mínimo necessário à sua sobrevivência.

Todavia, considerando o atual estágio do Regime Geral de Previdência Social,


sobressai o fato notório de que determinados indivíduos não se encontram
adequadamente protegidos, haja vista tal regime não garantir a continuidade da
qualidade de vida da qual desfrutavam.

Imagine a hipótese de determinado profissional que aufere rendimentos na ordem


de R$ 10.000,00 (Dez Mil Reais) mensais, dos quais R$ 5.000,00 (Cinco Mil Reais)
estão comprometidos com despesas gerais de manutenção de seu patrimônio, de
sua família e de seu lazer. Pelo RGPS, este trabalhador estaria segurado com um
benefício na ordem de aproximadamente R$ 2.700,00 (Dois Mil e Setecentos
Reais), resta evidente que haverá uma diminuição no seu padrão de vida.

Relevante magistério acrescenta Balera (2003, p. 77):

O que se quer, no atual estágio da proteção social, é a garantia de padrão de bem-


estar que corresponda à média nacional. (...) Ocorre que a média nacional, no
caso do Brasil, encontra-se situada em nível de subsistência. Donde a necessidade
de instituição dos sistemas privados e complementares aptos a atender aos
trabalhadores que lograram situar-se, pelo esforço individual, em elevados padrões
da escala social.

Tendo em vista tal cenário e seus reflexos na sociedade, esclarece Ramos (2005, p.
22):

Foi criado então, em 1977, o sistema de previdência complementar, de caráter


privado, paralelo ao regime de previdência social, básico e estatal, com a
finalidade de, por meio de contrato, propiciar o pagamento de benefícios em
contraprestações às contribuições vertidas. O próprio trabalhador, pelo seu esforço
pessoal, com o intuito de garantir a sua qualidade de vida, busca a
complementação da sua aposentadoria, efetuando poupança prévia durante sua
vida laborativa, acumulando valores.

Decorre da evolução social, que a má distribuição de renda originou disparidades


gritantes entre classes sociais, sendo que muitos indivíduos auferem rendas
superiores ao teto previsto no Regime Geral de Previdência Social. Não é porque
esses indivíduos pertencem a classes sociais privilegiadas que não mereçam a
manutenção do padrão de vida na velhice.

A remuneração mensal proveniente de aposentadoria, similar àquela percebida em


fase laborativa, é fator indispensável em todas as classes sociais para a obtenção
da estabilidade social. Fato é que a redução de rendimento, seja em vida
laborativa, seja na aposentadoria, gera conseqüências desagradáveis e não
esperadas para qualquer família.

As contribuições vertidas ao sistema previdenciário pelos segurados,


indubitavelmente, refletem nos futuros benefícios a serem concedidos. Portanto,
segundo Balera (2003, p. 76-77), no Regime Geral de Previdência Social:

 Há limites máximos para a incidência da contribuição sobre a remuneração dos


trabalhadores das empresas privadas, com conseqüente cobertura limitada do
regime geral de previdência social (...) Em rigor, inexiste limite para a incidência
de contribuições sobre o rendimento dos trabalhadores que ingressam em plano
previdenciário complementar. Ao criar essa segunda rede de proteção social, o
legislador quer, ipso facto, afastar limites.

Sendo assim, apresenta-se a Previdência Privada como instituto necessário àqueles


indivíduos que desejarem um acréscimo nos valores de benefícios pagos pelo RGPS.
Não restam dúvidas de que atualmente, em face da modernização econômica e da
facilidade no acesso a informações, a inteligência financeira da população
aprimorou-se. Em conseqüência, o planejamento de uma aposentadoria tranqüila e
saudável está se disseminando, sendo a Previdência Complementar uma excelente
alternativa de proteção contra as incertezas do futuro.

3 Previdência Privada – breves noções

A previdência privada é o regime previdenciário de caráter facultativo,


complementar e organizado de forma autônoma em relação ao regime geral de
previdência social, e baseia-se na constituição de reservas para a garantia de
benefícios contratados. Tem como instituto basilar a manifestação de vontade dos
participantes, emanada por meio de contratos de adesão facultativa. Este regime é
operado por entidades de previdência complementar que têm por objetivo
principal instituir e executar planos de benefícios de caráter previdenciário.

Na seara dos objetivos da previdência complementar, imprescindível é o


ensinamento de Balera (2003, p. 69):

Atuam, os entes complementares, como estruturas de expansão do arcabouço de


proteção, formando, como já se costuma dizer na França, segunda rede de
seguridade social, em estreita colaboração com o Poder Público, no interior do
aparato de seguridade social.

Não é segredo a insuficiência do regime básico e estatal de previdência em cobrir


os riscos sociais de todos os indivíduos, torna-se então, essencial a existência das
entidades de previdência complementar. A sociedade almeja e incentiva tais
entidades, que contribuem para a estabilidade social e econômica dos
beneficiários.

Tratando do assunto, Ramos (2005, p. 23), traz importantes apontamentos:

A previdência privada nasceu com a finalidade de garantir mais proteção à


sociedade. Visa ao seu desenvolvimento econômico e social, por meio da
capitalização de seus recursos, buscando o desenvolvimento econômico, e
conseqüentemente, a melhoria da qualidade de vida de todos os cidadãos.

Intrinsecamente ligado ao tema ora abordado está a lição de Póvoas (1985 apud
RAMOS, 2005, p. 23):

A impossibilidade de os sistemas compulsórios satisfazerem completamente as


necessidades dos segurados, as previsões que se fazem sobre o desequilíbrio que,
inexoravelmente, se abaterá sobre eles e ainda a doutrinação das correntes não-
liberalistas de que o homem não deve entregar à ação exclusiva do estado a
administração do seu bem-estar futuro, mas criar esquemas voluntários e
alimenta-los para que na eventualidade de estados de necessidade possa
sobrepassá-los, têm levado a criar esquemas específicos privados previdenciários.

Assim, tem-se resumidamente, que o objetivo primordial da previdência privada é


manter a tranqüilidade social de maneira ampla, e tratando especificamente do
segurado e seus dependentes, almeja garantir a manutenção da qualidade de vida
por ocasião dos riscos sociais. Contudo, segundo Ramos (2005, p. 24) "objetiva
ainda proporcionar o aumento da poupança acumulada pelos fundos no país,
traduzindo-se em importante fonte de financiamento nacional".

4 Entidades Abertas de Previdência Privada

As entidades de previdência complementar dividem-se em fechadas e abertas,


sendo que na legislação vigente, esta divisão acarreta efeitos em relação à
normatização e ao controle das entidades de previdência, assim como em relação
a sua base estrutural.

A denominação entidade fechada origina-se no fato de que nesse tipo existe


vedação quanto ao livre acesso de participantes aos planos de benefícios, pois
somente é permitido o ingresso de associados ou membros das instituidoras, ou dos
empregados das patrocinadoras, com vista a constituir-se num plus ao benefício
oferecido pelo regime geral de previdência social. O estudo das entidades fechadas
será relegada a uma vindoura pesquisa.

Tratar-se-á de agora em diante, apenas das entidades abertas de previdência


privada. De inicio, cabe trazer a tona a disposição legal do artigo 36, caput, da Lei
Complementar n. 109, de 29 de Maio de 2001:

As entidades abertas são constituídas unicamente sob a forma de sociedades


anônimas e têm por objetivo instituir e operar planos de benefícios de caráter
previdenciário concedidos em forma de renda continuada ou pagamento único,
acessíveis a quaisquer pessoas físicas.

No âmbito da conceituação das entidades abertas de previdência complementar,


pontuais são os ensinamentos de Ramos (2005, p. 41):

A entidades são denominadas abertas por poderem oferecer seus planos de


benefícios livremente a todas as pessoas interessadas, não tendo seu âmbito de
atuação restrito, tal qual as entidades fechadas de previdência complementar. A
filiação de participantes aos planos de benefícios dessas entidades não depende da
existência de qualquer vínculo prévio entre as pessoas físicas e/ou jurídicas
envolvidas na relação de previdência complementar. Os participantes podem ser
tidos como associados dessas entidades, nunca como seus sócios.

São estas entidades, na verdade, instituições financeiras que exploram o ramo dos
riscos sociais, mediante a instituição e operação de planos de benefícios de caráter
previdenciário, seja em forma de renda continuada ou pagamento único, para
tanto, devem necessariamente revestir-se sob a forma societária de sociedade
anônima.

Sobre o assunto, assevera Balera (2005, p. 227):

As sociedades anônimas oferecem estrutura econômica com liberdade de


patrimônio, além de possuírem organização administrativa e comercial que
facilitam a operacionalidade do processo previdenciário privado e garantindo a
proteção dos interesses sociais de segmentos expressivos da sociedade ativa.
Também facilita a tutela da administração pública, a imposição de exigências
técnico-operacionais e a respectiva fiscalização.

Assim, quando a Lei Complementar n. 109 determinou que a forma societária das
entidades abertas de previdência privada deve ser obrigatoriamente a sociedade
anônima, trouxe abarcada nesta premissa, a organização, estrutura operacional e
controles internos próprios que anteriormente não eram utilizados neste
segmento.

5 Resgate

O resgate é o instituto presente na previdência privada que permite a restituição


parcial ou total ao participante, do montante acumulado na provisão matemática
de benefícios a conceder[2] relativa ao seu benefício. É uma garantia legalmente
expressa do participante de planos abertos de previdência[3].

A opção pelo resgate de recursos, resguardado os motivos particulares do


participante, indubitavelmente é desvantajoso, já que sobre o valor resgatado,
haverá incidência de Imposto de Renda de acordo com a legislação fiscal vigente,
além de encargo de saída, no percentual estabelecido pelo regulamento do plano.

Em contrapartida, segundo o magistério de Ramos (2005, p. 83), o resgate


"apresenta o atrativo de permitir que o participante tenha acesso imediato às
contribuições por ele vertidas (...), enquanto as demais opções garantem um
montante monetário maior, mas futuro".

6 Portabilidade

A portabilidade é o instituto de cunho individual que, durante o período entre a


data de início de vigência de cobertura por sobrevivência e a data contratada para
início de pagamento de indenização, permite a movimentação de recursos da
provisão matemática de benefícios a conceder para outro plano de benefício, da
mesma ou de outra entidade aberta[4]. Constitui direito inalienável do
participante, vedada sua concessão sob qualquer hipótese.

Considera-se a portabilidade uma importante inovação, instituída pela Lei


Complementar n. 109, de 2001, com o objetivo de incentivar a formação e
manutenção de poupança, pois suas características implicam na inibição da
utilização dos recursos pelos participantes para o consumo. O texto legal assegura
que a portabilidade pode ser exercida entre entidades abertas e fechadas de
previdência privada.

No mesmo sentido, Balera (2005, p. 180) defende que para as entidades de


previdência complementar:

A portabilidade também tem como aspecto positivo a continuidade da aplicação de


recursos em planos de benefícios, sem que haja sua retirada do sistema de
previdência privada para, por exemplo, aplicação em investimentos de cunho
meramente financeiro, tais com fundos de investimentos e aplicações de renda
fixa.

Os recursos financeiros serão portados diretamente entre as entidades, ficando


vedado que transitem, sob qualquer forma, pelo participante. Esta limitação
ocorre para evitar fraudes, já que a portabilidade não sofre incidência do Imposto
de Renda. Cabe destacar que, sobre o valor da transferência de recursos, haverá
incidência de despesas relativas às tarifas bancárias necessárias à portabilidade, e
de encargos de saída, de acordo com o regulamento do plano.

7 Da tributação incidente na Previdência Privada

Analisar-se-á, a partir deste ponto, a incidência tributária na previdência privada


no que toca aos institutos da portabilidade, do resgate e dos rendimentos oriundos
da percepção dos benefícios previdenciários. Assim como, dar-se-á atenção
especial a incidência do Imposto de Renda, tal qual a opção do participante pelo
modelo de plano para fins de tributação.

Com a intenção de melhor explanar o assunto, deixa-se claro de inicio, que em


regra, o Imposto de Renda é o tributo incidente sobre as operações envolvendo
transações com entidades de previdência privada.

7.1 Lei n. 11.053, de 2004

A legislação tributária pertinente aos planos de benefícios das entidades abertas


de previdência privada, sofreu recentes alterações com a edição da Lei n. 11.053,
de 29 de dezembro de 2004, em vigor desde o dia 1º de janeiro de 2005.

A elaboração da Lei n. 11.053, de 2004, decorreu da decisão do governo em


realizar mudanças na tributação dos planos de previdência privada para estimular
ainda mais o crescimento do segmento no Brasil.

A justificativa às modificações implementadas, foi o fato de que o modelo de


previdência complementar mostra-se exitoso em países de maior desenvolvimento
em virtude do diferimento fiscal e da dispensa de tributação durante o período de
acumulação dos recursos, razão pela quais os contribuintes são estimulados a
investir numa poupança de longo prazo (previdência privada), em detrimento de
consumir imediatamente seus recursos ou investir em aplicações de curto prazo.

Intimamente ligado ao plano de benefícios da previdência privada, esta o regime


tributário aplicável ao mesmo, que nada mais é do que o conjunto de regras e
disposições que norteiam a incidência tributária sobre as operações envolvendo
valores vertidos ou oriundos da previdência complementar.

Antes da edição da Lei n. 11.053, de 2004, existia apenas um regime tributário,


denominado Progressivo, que tem como base a Tabela Progressiva do Imposto de
Renda para Pessoa Física. A Lei ora em comento, inovou ao criar um segundo
regime, o Regressivo, que determina que, quanto mais tempo o participante deixar
seus recursos aplicados em um plano de previdência complementar, menos Imposto
de Renda pagará ao receber o benefício da aposentadoria ou efetuar um resgate.

Primordial é neste momento, delinear a distinção entre os regimes Progressivo e


Regressivo, pois a escolha por um ou outro, determina as alíquotas do Imposto de
Renda que incidirão, por ocasião dos recebimentos de benefícios ou dos resgates
dos recursos acumulados.
7.1.1 Tributação progressiva

O regime de tributação Progressivo é assim denominado, por utilizar-se, para fins


de incidência do Imposto de Renda, da Tabela Progressiva do Imposto de Renda da
Pessoa Física, com exceção aos resgates, que sofrem incidência fixa. Esta tabela
do Imposto de Renda utiliza-se da progressividade de alíquotas, ou seja, quanto
maior a base de cálculo do imposto, maior a alíquota correspondente, traduz-se na
realização do princípio tributário da capacidade contributiva.

No regime Progressivo, após o período de acumulação de recursos, quando do


início do recebimento dos benefícios de aposentadoria, tem-se, que estes, sofrerão
incidência do Imposto de Renda no ato do pagamento pela entidade, ao assistido,
de acordo com a Tabela Progressiva Mensal do Imposto de Renda da Pessoa Física
em vigor.

Os valores pagos a título de Imposto de Renda são retidos na fonte, ou seja, o valor
do benefício será entregue ao assistido já descontado do valor do imposto[5],
entretanto, permite-se que o imposto retido, seja compensado na Declaração de
Ajuste Anual do Imposto de Renda[6].

Contudo, não obstante a ocorrência de tal fenômeno, permite-se que o imposto


retido, seja compensado na Declaração de Ajuste Anual de Imposto de Renda.
Nesta sistemática, em decorrência da elaboração da Declaração Anual de Ajuste do
Imposto de Renda das Pessoas Físicas, os benefícios recebidos (classificados como
rendimentos tributáveis), são acrescidos ao restante dos rendimentos tributáveis
do contribuinte, para fins de calculo do ajuste do Imposto de Renda, assim, o
imposto retido na fonte, é considerado para fins de compensação, podendo haver
um valor complementar a recolher, ou um valor pago a maior a restituir.

Em relação aos resgates, preceitua o artigo 3º da Lei n. 11.053, de 2004, que a


partir de 1º de janeiro de 2005, os resgates, parciais ou totais, de recursos
acumulados relativos a participantes dos planos Progressivos, sujeitar-se-ão à
incidência do IR na fonte à alíquota de 15%, como antecipação do devido na
declaração de ajuste da pessoa física, portanto, não se utiliza a Tabela
Progressiva.

 O ajuste será realizado por ocasião da entrega da Declaração Anual de Ajuste do


Imposto de Renda, ou seja, pode ser que o resgate, acrescido dos outros
rendimentos tributáveis do contribuinte, sujeitem-se à alíquota de 27,5%, quando
então deverá ser recolhido o imposto complementar.

Da mesma forma, pode acontecer de que os rendimentos anuais não ultrapassem a


faixa de isenção do imposto, originando o direito a restituição do valor
previamente retido na fonte. Não é difícil de tal fato acontecer, pois, quando do
resgate, incide a alíquota de 15%, independente do valor resgatado, todavia, na
entrega da Declaração Anual de Ajuste, utiliza-se por lógico, a tabela anual, assim,
caso o contribuinte tenha efetuado um resgate, que acrescido aos outros
rendimentos tributáveis, não ultrapasse o valor de R$ 14.992,32 (limite anual de
isenção do IR para o exercício de 2007, ano-calendário de 2006), terá direito a
restituição do valor que lhe foi retido a titulo de antecipação do valor de IR devido
Declaração Anual de Ajuste.

Esta opção de regime é indicada para os indivíduos que pretendem ter um plano de
previdência privada com visão de curto prazo, com a expectativa de efetuar
resgates em datas imprevistas ou em prazos curtos, explica-se: se o individuo
possuir perspectiva de curto prazo, subtende-se que os valores de seus benefícios
serão menores, para tanto, a tributação imposta pela Tabela Progressiva será mais
vantajosa.

7.1.2 Tributação Regressiva

Por ora, o regime Regressivo, estabelece que, no recebimento dos benefícios de


aposentadoria ou em eventuais resgates realizados durante o período de
diferimento, a alíquota do Imposto de Renda aplicada será determinada de acordo
com o prazo de acumulação dos recursos, ou seja, quanto mais tempo o dinheiro
permanecer aplicado, menos Imposto de Renda o participante pagará no momento
de ser resgatado.

Os prazos e a respectivas alíquotas do Imposto de Renda no regime Regressivo,


podem ser assim demonstradas[7]:

Tabela 2: Tabela Regressiva das Alíquotas do Imposto de Renda

Período de aportes Alíquota do IR


Até 2 anos 35%
De 2 a 4 anos 30%
De 4 a 6 anos 25%
De 6 a 8 anos 20%
De 8 a 10 anos 15%
Mais de 10 anos 10%

Ressalva-se, que o prazo de acumulação dos recursos, é contado individualmente


para cada contribuição realizada, ou seja, é o tempo decorrido entre a data de
cada depósito e a data do recebimento do benefício. Portanto, não deve-se
confundir o prazo de acumulação com a data de ingresso no plano.

Para o computo do prazo de acumulação[8] é utilizado, conforme orientação da


Secretaria da Receita Federal, o critério contábil de avaliação de estoques,
denominado PEPS (primeiro que entra, primeiro que sai), assim, no caso dos
benefícios, será considerada a média ponderada do prazo de acumulação em
relação aos valores acumulados, de tal forma, que os depósitos iniciais sejam os
primeiros a serem pagos, beneficiando-se de alíquotas mais favoráveis.

Decorre da análise da tabela, que o assistido que iniciar o recebimento de


benefício antes de dois anos de aplicação pagará Imposto de Renda sobre a
alíquota de 35%. A alíquota tem um decréscimo de 5 pontos percentuais a cada
dois anos de acumulação completados, assim, os investimentos superiores a dez
anos de aplicação terão a alíquota do Imposto de Renda minorada, para apenas
10%.

O Imposto de Renda retido no regime Regressivo, tal qual no regime Progressivo, é


retido na fonte (já vem descontado), todavia, no regime Regressivo o mesmo é
reputado definitivo[9], ou seja, a tributação é exclusiva na fonte, não havendo
possibilidade de compensação na declaração anual do imposto sobre a renda das
pessoas físicas[10]. 

Esta opção de regime tributário é aconselhável ao indivíduo que pretende investir


por muito tempo, pois quanto maior o prazo de permanência das contribuições
vertidas ao plano, menor será a incidência do Imposto de Renda. Resta ainda, que
este novo regime tributário, por intermédio da minoração de alíquotas para quem
investe por períodos extensos, objetiva incentivar a coletividade a construir uma
poupança de longo prazo, formando uma reserva financeira que lhes dê segurança
no caso de imprevistos, além da manutenção do padrão de vida na aposentadoria.

7.1.3 Prazo para opção do regime tributário

Não é por acaso que tanto se discute acerca da incidência do Imposto de Renda, o
planejamento prévio para o indivíduo que pretende ingressar num plano de
benefícios de uma entidade aberta de previdência privada, não pode deixar de se
debruçar sobre as alíquotas do IR decorrente da opção do regime Progressivo ou
Regressivo. A escolha errada pode imputar ao assistido, perdas consideráveis no
valor líquido de seus benefícios.

O advento da Lei n. 11.053, de 2004, trouxe consigo, disposição no sentido de que


os participantes que ingressarem a partir de 1º de janeiro de 2005 em planos de
benefício de caráter previdenciário das entidades de previdência complementar,
têm a faculdade de optar pelo regime de tributação que julgar mais adequado no
ato da contratação. Para tanto, deverão exercer esta opção até o último dia útil
do mês subseqüente ao do ingresso no plano de benefício.

Relembre-se, que antes da edição da Lei n. 11.053, de 2004, em vigor a partir de


1º de Janeiro de 2005, existia tão somente o regime Progressivo, sendo o regime
Regressivo criado nesta ocasião.

Surge então uma questão: e os participantes de planos previdenciários privados


que ingressaram antes de 1º de janeiro de 2005 e que conseqüentemente,
possuíam seus planos com as regras do regime Progressivo? A Lei n. 11.053, não os
deixou desamparados, pelo contrário, concedeu a eles idêntica faculdade
conferida aos novos participantes, ou seja, podem optar em permanecer no regime
Progressivo, ou migrarem para o regime Regressivo.

Contudo, estabeleceu um prazo, inicialmente até o dia 1º de julho de 2005,


posteriormente prorrogado até o último dia útil do mês de dezembro de 2005,
conforme a Medida Provisória n. 255, de 1º de Julho de 2005.
Ressalva-se, que a opção pelo regime tributário, tanto para quem ingressou
anteriormente à 1º de janeiro de 2005, como para quem ingressa após, é
irretratável, mesmo nas hipóteses de portabilidade de recursos, fato que reputa ao
assunto demasiada relevância, pela qual se justifica as presentes considerações.

Por fim, com a intenção de firmar o entendimento, reitera-se que a opção pelo
regime Progressivo ou Regressivo, reflete diretamente na tributação incidente nos
planos de benefícios das entidades abertas de previdência privada.

7.2 Modalidades de planos de benefícios para fins de tributação do IR

Além da opção pelo regime tributário aplicável, o interessado em aderir a um


plano previdenciário complementar, deve escolher qual a modalidade do plano que
lhe convém para fins de tributação do Imposto de Renda. Diferentemente dos
regimes tributários, Progressivo e Regressivo, que determinam quais as alíquotas
do Imposto de Renda serão aplicáveis, os planos VGBL e PGBL, determinam quais
os valores, provenientes dos benefícios ou resgates, serão reputados como base de
cálculo do Imposto de Renda.

Atualmente, as duas modalidades mais comercializadas no Brasil, são o PGBL –


Plano Gerador de Benefício Livre e o VGBL – Vida Gerador de Benefício Livre[11]. A
maior diferença entre eles está na tributação.

Os planos nas modalidades PGBL e VGBL são considerados modernos, já que não
oferecem uma garantia mínima de rentabilidade, retratando com fidelidade a
realidade do mercado financeiro e da economia nacional. Soma-se a tal
argumento, o fato de possuírem maior grau de transparência, pois oferecem aos
participantes, a possibilidade de acompanhar a rentabilidade das cotas em fundo
de investimentos diariamente, informando-se prontamente sobre os ganhos ou
perdas dos recursos.

A flexibilidade também é ponto marcante nestes planos, haja vista permitirem a


suspensão de contribuições por determinado tempo, para serem retomadas em
momento considerado oportuno pelo participante.

Além disso, fica a critério do participante a escolha do tipo do fundo de


investimento em que deseja ter seus recursos aplicados. A escolha, na maioria dos
planos, é realizada mediante o perfil do investidor, que poderá ser classificado
como: conservador, moderado ou agressivo. Em ordem gradual, quanto maior for o
risco que o investidor se dispõe a correr, maior será a quantidade de recursos
destinados às aplicações com rendimentos variáveis, usualmente, fundo de ações
na Bolsa de Valores.

Enquanto a comercialização dos planos PGBL e VGBL crescem vertiginosamente,


outros planos de previdência permanecem quase desconhecidos. É o caso dos
Planos com Remuneração Garantida e Performance (PRGP), com Atualização
Garantida e Performance (PAGP), do Vida com Remuneração Garantida e
Performance (VRGP) e do Vida com Atualização Garantida e Performance (VAGP).
Faz-se mister agora, estabelecer critérios para a correta conceituação dos planos
PGBL e VGBL.

7.2.1 PGBL – Plano Gerador de Benefício Livre

É um plano de previdência complementar, instituído por uma entidade aberta de


previdência complementar, que permite a acumulação de recurso e a contratação
de rendas para recebimento a partir de uma data escolhida pelo participante. O
plano PGBL de cada entidade deve ser aprovado, previamente, pela SUSEP –
Superintendência de Seguros Privados.

Em suma, é um plano normal (assim como o VGBL), apresentando apenas,


peculiaridades quanto à entidade instituidora e em relação à tributação do
Imposto de Renda.

Nesta modalidade, todas as contribuições vertidas ao plano podem ser deduzidas


da base de calculo do Imposto de Renda[12], limitado até 12% da renda bruta anual
do participante, desde que entregue a Declaração Anual de Ajuste do IR, no
formulário completo[13]. Dessa forma, o participante poderá utilizar as
contribuições efetuadas para o plano como valores a serem deduzidos da base de
cálculo do imposto a pagar, o reduzindo. Caso tenha saldo de imposto a restituir, o
valor da restituição será acrescido.

Essa dedução da base de cálculo foi instituída pela Lei 9.532, de 10 de dezembro
de 1997, é considerada um benefício fiscal. Esta dedução também é assegurada
pelo artigo 69 da Lei Complementar n. 109, de 2001.

A tributação nos planos PGBL ocorrerá tão somente, por ocasião do inicio do
recebimento dos benefícios (aposentadoria) mensais, ou no momento de eventuais
resgates efetuados durante o período de diferimento. A base de cálculo do Imposto
de Renda será o valor total recebido.

Decorre das assertivas acima: nos planos PGBL, concede-se ao participante um


benefício fiscal, no qual ele utiliza as contribuições vertidas ao plano como
deduções da base de calculo do imposto, em contrapartida, quando receber os
rendimentos provenientes da previdência complementar, sofrerá a incidência do IR
sobre os valores totais recebidos, de acordo com o regime tributário escolhido
quando da contratação do plano.

7.2.2 VGBL – Vida Gerador de Benefício Livre

O VGBL é um seguro de vida com cobertura por sobrevivência (aposentadoria), que


objetiva possibilitar a formação de uma poupança, a qual poderá ser revertida na
forma de renda mensal ou pagamento único a partir de uma data escolhida pelo
participante. Necessariamente, deve ser regulamentado pela SUSEP.

O VGBL, diferentemente do PGBL, é instituído por seguradoras que operam no


ramo vida, em conformidade com a permissão legal expressa no parágrafo único do
artigo 36 da Lei Complementar n. 109, de 2001, que assim dispõe:
Art. 36 – (...)

Parágrafo único – As sociedades seguradoras autorizadas a operar exclusivamente


no ramo de vida poderão ser autorizadas a operar os planos de benefícios (...), a
elas se aplicando as disposições desta Lei Complementar.

Resulta que, estas seguradoras são equiparadas às entidades abertas de


previdência complementar, para todos os efeitos. A única distinção, é que no
VGBL, denomina-se o individuo integrante do plano enquanto no período de
diferimento, como segurado, enquanto no PGBL, denomina-se participante. Porém,
a diferença, limita-se a terminologia empregada, pois participante e segurado, no
final das contas, tem o mesmo significado.

Firma-se o entendimento, de que o VGBL, não obstante ser conceituado como um


seguro de vida com cobertura por sobrevivência, é reputado à condição de plano
de previdência complementar, estando em conformidade com tudo o que foi
exposto neste trabalho.

No VGBL, a tributação do Imposto de Renda dar-se-á no momento do recebimento


dos benefícios, ou por ocasião de resgates de recursos efetuados, havendo
incidência apenas sobre os rendimentos auferidos, de acordo com o regime
tributário escolhido. Em contrapartida, como a incidência do imposto será
restringida à apenas os rendimentos, não se concede ao segurado o benefício fiscal
de deduzir os valores das contribuições vertidas ao plano em sua Declaração Anual
de Ajuste do Imposto de Renda.

Ressalva-se, que durante o período de acumulação, os recursos aplicados estão


isentos de tributação sobre os rendimentos, somente na ocasião do recebimento de
valores é que ocorrerá o fato gerador do imposto.

Neste sentido, reitera-se, a incidência do Imposto de Renda será apenas, e tão


somente, sobre os rendimentos auferidos em decorrência dos recursos aplicados.
Para tanto, os cálculos dos valores dos benefícios são realizados de forma
individualizada, tem-se o valor do principal investido (contribuição vertida) e o
valor total resultante dos anos de aplicação, individualizando-se assim, o
rendimento percebido ao longo dos anos de aplicação.

7.3 Incidência do Imposto de Renda

Viu-se até o momento, como ocorre a incidência do Imposto de Renda nos planos
de benefícios das entidades abertas de previdência complementar. Os regimes
tributários Progressivo e Regressivo determinam qual a alíquota aplicável,
enquanto os planos PGBL e VGBL fixam qual valor será imputado como base de
cálculo.

Tem-se por certo, que o presente assunto é complexo, haja vista os planos de
benefícios serem direcionados ao público em geral, que na maioria dos casos, não
possui conhecimentos financeiros e tributários necessários para tornar a matéria
de fácil compreensão.
Neste sentido, a presente pesquisa apresenta nos próximos tópicos, um resumo
simplificado da forma como se dá a tributação em cada modalidade de plano,
consoante o regime tributário escolhido pelo participante.

7.3.1 Plano PGBL – tributação progressiva

Num plano PGBL atrelado ao regime Progressivo de tributação, tem-se a incidência


do Imposto de Renda, no ato do recebimento do benefício, de acordo com a Tabela
Progressiva Mensal do Imposto de Renda da Pessoa Física em vigor. Para os
resgates, aplicar-se-á a alíquota de 15%, independente do valor requerido. A base
de cálculo em ambos os casos será o valor total recebido. O imposto será retido na
fonte pela entidade aberta de previdência complementar.

Neste caso, os valores recebidos (a título de benefícios ou resgates) deverão ser


declarados como rendimentos tributáveis, aumentando, portanto, a base de
calculo do Imposto de Renda a pagar, todavia, relembre-se que por utilizar-se do
regime Progressivo, os valores retidos na fonte poderão ser compensados com o
montante do Imposto de Renda apurado na entrega da Declaração Anual de Ajuste
de Imposto de Renda Pessoas Físicas.

Estas diferenças que podem ocorrer no montante do Imposto de Renda a pagar na


Declaração Anual, resultam do fato de que os contribuintes auferem outros
rendimentos tributáveis, tais quais, aluguéis, ganho de capital, rendimentos do
trabalho assalariado, dentre outros, assim, como possuem despesas dedutíveis,
como despesas médicas, com ensino, dependentes, e outras. Por tal razão é que
faz-se necessário realizar anualmente, o ajuste do imposto a pagar.

Concede-se ao participante o benefício fiscal de deduzir os valores das


contribuições vertidas ao plano, até o limite de 12% da renda bruta anual, da base
de cálculo do Imposto de Renda a pagar por ocasião da entrega da Declaração
Anual.

7.3.2 Plano PGBL – tributação regressiva

O plano PGBL conjugado com o regime Regressivo de tributação apresenta às


seguintes características: no ato do recebimento, tanto dos benefícios, como dos
resgates de recursos, a tributação dar-se-á na fonte conforme a tabela Regressiva
do Imposto de Renda, sendo a base de calculo em ambos os casos, o valor total
percebido. Portanto, quanto mais tempo o recurso ficar investido, menos o
participante pagará de Imposto de Renda.

Os cálculos para apurar a alíquota aplicável são complexos, efetuados mediante a


aplicação do sistema contábil PEPS. A incumbência para determinar a alíquota do
Imposto de Renda recai sobre a entidade aberta previdenciária, que deverá manter
controle individualizado de prazos para cada contribuição vertida ao plano.

Nesta modalidade, os valores retidos na fonte do Imposto de Renda são


considerados definitivos, ou seja, não são passíveis de compensação por ocasião da
elaboração da Declaração Anual de Ajuste. Assim, os valores percebidos a título de
benefícios ou resgates, serão classificados como rendimentos sujeitos a tributação
exclusiva[14], e o valor do imposto retido não deverá ser informado na Declaração.

Concede-se aqui também, o benefício fiscal da dedução dos valores das


contribuições vertidas ao plano, da base de calculo do Imposto de Renda a pagar
por ocasião da entrega da Declaração Anual.

7.3.3 Plano VGBL – tributação progressiva

No plano VGBL com a tributação progressiva, a incidência do Imposto de Renda,


dar-se-á, no caso dos benefícios de aposentadoria, no ato do recebimento, de
acordo com a Tabela Progressiva Mensal do Imposto de Renda da Pessoa Física em
vigor. Todavia, a base de cálculo do imposto será somente o rendimento auferido
sobre as contribuições vertidas ao plano.

Incumbe à entidade aberta previdenciária, proceder a individualização, por


ocasião do recebimento dos benefícios, dos rendimentos provenientes do decurso
de tempo em que as contribuições ficaram investidas. Assim, deverá ser
discriminado o valor do principal e o respectivo rendimento sobre o capital.

No caso particular do resgate, por estar adotando o regime Progressivo, o mesmo


se sujeitará à incidência automática da alíquota de 15% do Imposto de Renda, sem
deduções, a título de antecipação do devido na Declaração Anual, independente
do valor resgatado. Aqui também a base de calculo será composta somente pelos
rendimentos auferidos.

O imposto em ambos os casos (benefícios e resgates) é retido na fonte, entretanto,


é passível de ser compensado na Declaração de Ajuste Anual, por meio da Tabela
Progressiva Anual de Imposto de Renda.

Ressalva-se, que no caso de resgates, caso o valor recebido devesse ser tributado
pela alíquota de 27,5%, a diferença entre os 15% já pagos e os 27,5% devidos,
deverão ser pagos por ocasião do ajuste realizado na Declaração Anual do Imposto
de Renda. Da mesma forma, caso o resgate tenha sido de valor inferior ao limite
de isenção (R$ 14.992,32 – em vigor[15]), obrigatoriamente terá incidido o imposto
com a alíquota de 15%, contudo, caso o contribuinte não tenha mais nenhum
rendimento tributável, terá direito restituição da integralidade do valor que lhe foi
retido a titulo de antecipação do imposto devido.

Por fim, tem-se que por adotar o plano na modalidade VGBL, ocorre a não
concessão do benefício fiscal anteriormente mencionado (dedução da base de
cálculo).

7.3.4 Plano VGBL – tributação regressiva

A última das combinações possíveis é a adoção do plano VGBL conjugado com o


regime Regressivo de tributação. Nesta opção, a tributação incide de acordo com a
Tabela Regressiva do Imposto de Renda. Aplicar-se-á neste plano o que foi
mencionado a respeito do Plano PGBL – tributação regressiva, com exceção de dois
pontos.

O primeiro diz respeito à base de cálculo, por tratar-se de um VGBL, a mesma será
tão somente o valor dos rendimentos auferidos provenientes das contribuições
ofertadas ao plano. A forma de identificar os rendimentos é idêntica ao PGBL.

O segundo, refere-se à concessão do benefício fiscal, enquanto naquele, por


tratar-se de um PGBL existe a concessão do benefício, aqui, pelas características
já mencionadas do VGBL, não existe essa benevolência em favor do segurado.

7.4 PGBL x VGBL – a melhor opção

Questão rotineira intrínseca ao indivíduo que pretende aderir a um plano de


previdência privada é a opção pelo plano adequado à sua vida financeira.
Primeiramente, precisa definir a escolha pelo regime Progressivo ou Regressivo,
levando-se em consideração as vantagens e desvantagens de cada um em relação
ao planejamento que deseja efetuar.

Conforme já mencionado, o regime Regressivo oferece a oportunidade de alíquotas


do IR menores, todavia, o participante precisa ter uma visão de longo prazo para
auferir tal beneficio, além do que, nesse regime, o valor retido do imposto é
reputado definitivo. No Progressivo, por conseguinte, as alíquotas são menos
flexíveis, e em alguns casos[16], maiores, todavia, os valores retidos podem ser
compensados, objetivando diminuir ou restituir o Imposto de Renda devido
anualmente.

Superada tal fase, incumbe ao pretendente, optar pelo plano PGBL ou VGBL.
Verifica-se, que comumente, as entidades de previdência complementar fazem
indicações genéricas sobre qual modalidade adequar-se-á a determinado padrão de
indivíduo. De imediato, ressalta-se que este procedimento é errôneo, haja vista a
opção por um plano VGBL ou PGBL englobar inúmeras variáveis que seriam
impossíveis de resultar numa orientação padrão.

Portanto, em face desta afirmação, o presente estudo, neste momento, almeja


contribuir com informações que possam socorrer quem em dúvida esteja, quanto a
qual opção lhe trará maiores benefícios, sem a pretensão de que tal orientação
seja definitiva.

Relembre-se, a opção por um plano VGBL ou PGBL é irretratável, o que confere a


este assunto indubitável importância. A principal importância entre estas
modalidades esta na tributação. No PGBL, pode-se deduzir o valor das
contribuições da base de calculo do Imposto de Renda, limitado a 12% da renda
bruta total anual do participante[17]. Assim, pode-se reduzir o valor do Imposto de
Renda a pagar ou aumentar a restituição. A incidência do IR dar-se-á sobre o valor
total do benefício percebido ou do resgate efetuado.
Já no VGBL, não se permite utilizar como dedução os valores vertidos ao plano,
todavia, o IR incide, por ocasião de resgates ou recebimento de benefícios, apenas
sobre os rendimentos auferidos.

A primeira consideração a ser feita, é a de que os planos da modalidade PGBL são


indicados para os indivíduos que fazem a Declaração Anual do Imposto de Renda
pelo Formulário Completo, utilizando-se das deduções (inclusive das contribuições
ao plano de previdência) que este formulário garante. O formulário completo,
permite a utilização de despesas e valores dedutíveis conforme legislação do
Imposto de Renda, tais como a contribuição vertida ao plano de previdência
privada, despesas com plano de saúde, despesas com instrução de dependentes,
dentre outras. Usualmente utilizada por contribuintes de faixa de rendimento
superior, ou então que possua numero considerável de despesas dedutíveis.

O plano na modalidade VGBL, por conseguinte, é indicado, por suas


características, às pessoas que utilizam a Declaração do Imposto de Renda no
Formulário Simplificado. O formulário simplificado não permite deduções, porém,
oferece uma dedução legal, fixa na porcentagem de 20% sobre os rendimentos
brutos anuais do contribuinte. Usualmente utilizada por contribuintes de faixa de
rendimento inferior, ou então, por quem tenha rendimento superior, porém não
possua despesas a serem deduzidas.É aconselhável também para os contribuintes
isentos de Imposto de Renda, pois em nada adiantaria, deduzir valores em suas
Declarações, haja vista não terem Imposto a pagar ou a restituir para se
beneficiarem.

No caso do indivíduo que deseje adquirir renda continuada por intermédio de um


plano de benefícios, realizando um aporte único de recursos, o plano indicado, em
regra, será o VGBL. Não se indica o PGBL, pois em tese, uma contribuição única
extrapolaria os 12% da renda bruta anual do indivíduo, assim, decorrendo que a
parcela excedente não seria passível de dedução, sendo que no recebimento dos
benefícios, o IR incidiria sobre o valor total da renda, enquanto no VGBL, pagar-se-
ia apenas sobre o valor dos rendimentos dos recursos.

Para a pessoa que declare no Formulário Completo e possua todos os elementos


que a levariam a optar por um plano PGBL, cabe uma importante ressalva: faz-se
fundamental, antes de aderir ao plano, um estudo prévio acerca da sua renda
bruta anual para determinar-se a quantia a ser vertida mensalmente ao plano, pois
caso contribua com mais do que os 12% dedutíveis, sobre a parcela excedente não
haverá nenhum benefício fiscal.

Neste caso, aconselha-se que o individuo contrate dois planos simultaneamente, o


PGBL, no qual contribuirá até o limite de 12% de sua renda anual, e
paralelamente, o VGBL, contribuindo com valores excedentes ao limite da dedução
do PGBL. Assim, não fica restrito ao limite, gozando do benefício fiscal da dedução
da base de calculo do IR, em conjunto com a incidência do imposto apenas sobre
os rendimentos.  

Por fim, pretende-se fixar, que não há uma fórmula que possa ser observada
genericamente, quanto a qual modalidade ser mais vantajosa. Deve o pretendente,
invariavelmente, quando não possua qualificação para tal, procurar um profissional
capacitado para elaborar um estudo individualizado de seu caso, englobando a
perspectiva de tempo a permanecer contribuindo ao plano, os valores a serem
vertidos, sua renda tributável bruta anual, a analise de suas Declarações pretéritas
do Imposto de Renda, dentre outros elementos.

Tem-se também, que a opção pela modalidade VGBL ou PGBL deve ser realizada
em conjunto com a escolha pelo regime de tributação Progressivo ou Regressivo,
pois a união destas duas modalidades, influenciará diretamente nos resultados
almejados pelo participante de um plano de benefícios de uma entidade aberta de
previdência complementar.

7.5 Portabilidade – tratamento tributário

A portabilidade de recursos previdenciários de um plano para outro tem


tratamento diferenciado, nos termos da legislação tributária nacional, haja vista,
não caracterizar resgate[18] de poupança e sua conversão em liquidez, mas tão
somente uma transferência de ativos entre planos previdenciários, não
ocasionando a súbita perca de recursos pelo sistema previdenciário complementar.

Para fins de incidência do Imposto de Renda, dispõe o Ato Declaratório Normativo


COSIT n. 09, de 1999:

Não se configura como fato gerador do Imposto de Renda a transferência direta de


reservas entre entidades de previdência privada, desde que não haja mudança de
titularidade e que os recursos correspondentes, em nenhuma hipótese, sejam
disponibilizados para o participante ou para o beneficiário do plano.

A proibição de que os recursos transitem pelos participantes, prevista


expressamente no parágrafo 2º do artigo 27, da Lei Complementar n. 109, de 2001,
tem por justificativa, a inibição de fraudes pelos participantes, pois seria possível
a camuflagem de resgates pelo instituto da portabilidade, caso os recursos
transitassem pelos participantes.

No que tange a Contribuição Provisória sobre Movimentação ou Transmissão de


Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira – CPMF, dispõe o parágrafo
4º, do artigo 3º, da Instrução Normativa SRF n. 126, de 2002, que sobre a
portabilidade de recursos de reservas técnica, fundos e provisões entre planos de
benefícios de entidades de previdência complementar, titulados pelo mesmo
participante, não haverá incidência da CPMF.

Neste sentido, encerra qualquer discussão acerta da incidência tributária sobre a


portabilidade de recursos, o disposto no artigo 69, parágrafo 2º, da Lei
Complementar n. 109, de 2001:

Sobre a portabilidade de recursos de reservas técnica, fundos e provisões (...) não


incidem tributação e contribuições de qualquer natureza.

8 Considerações Finais
A previdência privada é fruto da demanda pela estabilidade social e financeira,
almejada pelos indivíduos que auferem rendimentos superiores ao teto
determinado pela previdência oficial, além de suprir a perca de credibilidade que
o regime previdenciário público apresentou nos últimos tempos, resultado da
incapacidade deste sistema em garantir as necessidades básicas de subsistência
dos segurados.

 O desenvolvimento econômico e cultural da sociedade fez surgir em muitos


indivíduos, a preocupação em assegurar uma aposentadoria tranqüila e
economicamente estável. Ocupando este nicho do mercado previdenciário, estão
as entidades de previdência privada, comercializando planos de benefícios que
complementam a aposentadoria oficial ou até mesmo, a substitua.

A recente modernização legislativa, com diversos diplomas legais tratando deste


tema, e em especial com o advento das Leis Complementares n. 108 e n. 109,
ambas de 2001, assim como, da Lei n. 11.053, de 2004, trouxeram ao ramo da
previdência privada, visibilidade e confiabilidade sem precedentes no Brasil.

Na análise da incidência tributária sobre as operações que envolvem os planos de


benefícios das entidades abertas, restou por evidenciado, a necessidade da
elaboração de um prévio planejamento acerca de como estruturar o plano de
benefícios em conformidade com as características do pretendente à condição de
participante.

Por fim, resta inferir, por tudo aqui explanado, que a previdência privada tende a
ser num futuro próximo, um sistema previdenciário completo e apto a garantir a
proteção dos indivíduos frente aos riscos sociais. É evidente que o regime geral de
previdência social não será relegado a um segundo plano, entretanto, os avanços
na área da previdência complementar, indiscutivelmente atrairão mais e mais
participantes, ávidos por um sistema que ofereça flexibilidade e a capitalização
dos recursos investidos.

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