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TRANSCRIÇÕES XIFOIDES LTDA

Saúde Comunitária e do Trabalho


03.09.2018

Transcrito por: Glauceste


Revisado por: Satúrnio

AULA 05 – LEIS ORGÂNICAS DO SUS


SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE HISTÓRIA RECENTE
O SUS foi criado em 1988 com a Constituição. Porém, essa construção foi toda trabalhada em 1986 na VIII Conferência
de Saúde, a qual reuniu trabalhadores, usuários e profissionais de saúde que estavam insatisfeitos com a forma como
estava sendo prestada a assistência à saúde. Nessa conferência foram traçados os direcionamentos para o novo
sistema que estava sendo proposto, um sistema único, que deveria funcionar da mesma forma em todo o território
nacional.
 Marco histórico de surgimento do SUS
o VIII Conferência Nacional de Saúde (1986)
 A saúde deve ser entendida como um processo resultante das condições de vida.
 Saúde como direito de todos e dever do Estado.
 Direito de todos, não apenas daqueles que fazem parte do mercado de trabalho
formal.
 Organização do setor saúde a fim de permitir o acesso universal e igualitário aos serviços.

SUS – PRINCIPAIS DIRETRIZES


 Universalidade da atenção.
 Equidade do atendimento.
 Integralidade das ações de saúde em todos os níveis de atenção.
 Descentralização do sistema.
 Participação social.
Essas diretrizes são definidas na VIII Conferência de Saúde e se repetem no texto da Constituição.

CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988


Abaixo estão descritos os trechos da Constituição que abrangem o tema. A Constituição cria, a partir do movimento
da reforma sanitária, um sistema com um novo funcionamento, diferente o sistema vigente anteriormente. É com o
objetivo de definir a operacionalidade do novo sistema que surgem as 2 leis orgânicas. Além disso, há também as
normas operacionais, que são normas básicas (NOB’s)de assistência à saúde para explicar cada vez mais como se dava
essa operacionalização do sistema. Ex: como se dará a municipalização? Como serão feitos os repasses? Como serão
organizados os recursos humanos? As normas foram sendo criadas justamente para guiar essa gestão.
*Obs: as normas não serão estudadas na disciplina porque não tem mais validade. Hoje se tem o Pacto pela Saúde e,
mais recentemente, tem-se o Contrato Organizativo de Ação Pública de Saúde (COAP).

(Título VIII – ordem social / capítulo II – Da seguridade social / Sessão I – Disposições gerais)
A saúde está contemplada dentro da seguridade social, junto com a previdência social e a assistência social, os quais
são independentes e tem sua legislação própria. A criação do SUS se confunde com a criação da previdência social,
pois antes só quem tinha acesso era quem contribuía com a previdência, o que mudou com a criação do Ministério da
Saúde e do SUS.
 Art. 194: A seguridade social compreende um conjunto de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da
sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência social e a assistência social.
(Sessão II – Saúde)
 Art. 196: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que
visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços
para sua promoção, proteção e recuperação.
 Art. 198: As ações e serviços de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um
sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:
o Descentralização: direção única em cada esfera de governo.
 Na prática, isso significa que havia uma centralização desse molde a nível do Ministério da
Saúde, a qual precisa ser substituída pela descentralização político-administrativa, ou seja,
outros entes federativos (Secretário municipal de saúde e Secretário estadual de saúde)
também terão autonomia.
 A descentralização é importante para que o sistema se aproxime das particularidades locais.
O gestor municipal deve ter autonomia para fazer um planejamento de saúde pautado na sua
realidade.
o Atendimento Integral: prioridade das atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais.
 Deve garantir não somente o atendimento individual, como também as ações de prevenção e
promoção de saúde, com circulação do cidadão nos diferentes níveis de complexidade,
conforme necessidade.
o Participação da comunidade.
 Conferências e Conselhos de Saúde com a participação popular.
 Apesar de ser garantido por lei a presença dos usuários e dos trabalhadores neste espaço de
discussão não significa que isso acontece de forma efetiva, por isso este ponto deve ser
trabalhado e estimulado.

SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE


 É considerado um sistema porque é formado por um conjunto de várias instituições, serviços e ações dos três
níveis de governo e do setor privado contratado que interagem para um fim comum, com atividades de
promoção, proteção e recuperação da saúde.

LEI Nº 8.080/90
 O ÚNICO se refere a um conjunto de
elementos doutrinários e de
organização do sistema de saúde. O
único seria: os princípios da
universalização, da equidade, da
integralidade, da descentralização e da
participação popular.
o Princípios doutrinários: integralidade, universalidade e equidade.
o Princípios organizativos: descentralização, participação popular, regionalização e hierarquização.
 Princípios organizativos para que a operacionalização seja possível.
o Estes princípios devem ser colocados em prática em qualquer ponto do país.

UNIVERSALIDADE
 A saúde é um direito de cidadania de todas as pessoas independentemente de sexo, raça, renda, ocupação ou
outras características sociais ou pessoais.
 É dever do Estado* (Fed., Est., Munic., DF).
o Os três entes federativos têm essa responsabilidade (união, estado e município).
 Art. 2º § 1º (Lei 8080/1990) O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da
sociedade.
o Ex: é oferecida uma vacina, porém se o indivíduo escolhe não a tomar, ninguém poderá obrigá-lo.
 O SUS foi implantado com a responsabilidade de tornar realidade esse princípio.
O fato de o sistema ser universal não significa que não exista um fluxo correto de entrada no sistema, depende da
complexidade.

EQUIDADE
 Diminuir as desigualdades.
 Tratar desigualmente os desiguais, investindo mais aonde a carência é maior.
o Ou seja, o acesso será dado a todos, mas de forma diferenciada.
 Eu ofereço mais a quem mais precisa, diminuindo assim as desigualdades existentes.
INTEGRALIDADE
 Significa considerar a pessoa como um todo, um ser integral com no mínimo três dimensões: biológica,
emocional e social.
o O atendimento deverá ser integral, considerando todos os condicionantes do processo saúde-doença.
 Integração das ações: promoção, prevenção, tratamento e reabilitação.
 Atuação intersetorial de diferentes áreas.
o Ou seja, integração do serviço de saúde com os demais serviços (intersetorialidade).
 Atuação intersetorial:
o A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes:
 Alimentação, moradia, saneamento básico, meio ambiente, trabalho, renda, educação,
transporte, lazer e acesso aos bens e serviços essenciais.
 Ações para o provimento destes aspectos também são executadas por outros setores do
governo, com recursos próprios e são consideradas ações de intersetorialidade.

PRINCÍPIOS ORGANIZACIONAIS OU OPERACIONAIS DO SUS


 Descentralização.
 Regionalização.
 Hierarquização.
 Participação da comunidade.

DESCENTRALIZAÇÃO
 Redistribuição das responsabilidades das ações e serviços de saúde entre os vários níveis de governo (Federal,
Estadual e Municipal).
o Federal – Ministério da Saúde.
o Estadual – Secretaria Estadual de Saúde.
o Municipal – Secretaria Municipal de Saúde.
 Com ênfase na municipalização.
o O sistema local precisa gerir o máximo possível de suas unidades de saúde.
 Quanto mais perto do fato a decisão a ser tomada, mais chance haverá de acerto.
o O atendimento deverá ser integral, considerando todos os condicionantes do processo saúde-doença.

REGIONALIZAÇÃO/DISTRITALIZAÇÃO
 Divisão por regiões com a finalidade de facilitar a gestão do sistema e favorecendo ações mais localizadas para
minimizar os problemas da comunidade.
 Permite uma abrangência maior em relação aos problemas locais de cada comunidade, gerando assim maior
eficiência no seu acompanhamento e solução.
o Tem como principal objetivo dividir os territórios de cada região, para conseguir oferecer ações de
atenção primária, secundária e terciária a cada população específica.
 Distritos sanitários (conjunto de bairros ou municípios).

HIERARQUIZAÇÃO
Se refere aos diferentes níveis de complexidade.
 Hierarquização das ações e serviços de saúde:
o Da mais simples as mais complexas.
o Das menos custosas as mais dispendiosas.
o Da promoção e prevenção ao diagnóstico precoce e à reabilitação.
o Atenção primária, secundária e terciária.
 Deve-se ter todos os níveis de complexidade funcionando dentro do sistema de saúde.

LEI Nº 8.080/90
Criada para atender aos princípios definidos.
 Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o
funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências.
 Art. 2º. A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições
indispensáveis ao seu pleno exercício.
 § 1º. O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e
sociais que visem a redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que
assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e
recuperação.
 § 3º. A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, alimentação, moradia,
saneamento básico, meio ambiente, trabalho, renda, educação, transporte, lazer e o acesso aos bens e
serviços essenciais.
 Participação popular: a participação popular deve estar presente no dia-a-dia do sistema, onde temos alguns
mecanismos de participação, como os Conselhos e as Conferências de Saúde, onde são formuladas
estratégias, controle, avaliação e execução da política de saúde.
 Da Organização, da Direção e da Gestão:
o Art. 14. Deverão ser criadas comissões permanentes de integração entre os serviços de saúde e as
instituições de ensino profissional e superior.
 Essa relação entre as instituições de saúde e a educação é importante para que aconteçam a
educação permanente e a educação continuada (educação na saúde).
o Parágrafo único: ... propor prioridades, métodos e estratégias para a formação e educação
continuada dos recursos humanos do SUS, na esfera correspondente, assim como em relação à
pesquisa e à cooperação técnica entre essas instituições.
 Ex: Fiocruz oferece cursos de formação, por exemplo, para especialistas em saúde mental, os
quais atuam na rede, na atenção psicossocial. Logo, essa parceria é necessária.
 Às vezes, pessoas sem qualquer experiência entram na rede por concurso público, então são
necessários esses cursos, ou mesmo há necessidade quando surge um novo agravo.
 Dos Serviços Privados de Assistência à Saúde:
o Art. 21º. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.
o Art. 24º. Quando as suas disponibilidades forem insuficientes para garantir a cobertura assistencial à
população de uma determinada área, o SUS poderá recorrer aos serviços ofertados pela iniciativa
privada.
 Ou seja, se não há o oferecimento do serviço no SUS, pode-se recorrer ao serviço privado,
como em casos de emergência.
 Parágrafo único. A participação complementar dos serviços privados será formalizada mediante contrato ou
convênio, observadas, a respeito, as normas de direito público.
o Ou seja, as unidades terceirizadas que fizerem parte do sistema deverão seguir as regras do próprio
sistema.
 Art. 25º. Na hipótese do artigo anterior, as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos terão preferência
para participar do Sistema Único de Saúde.
 Dos recursos humanos:
o Art. 27º. Parágrafo único. Os serviços públicos que integram o SUS constituem campo de prática para
ensino e pesquisa, mediante normas específicas, elaboradas conjuntamente com o sistema
educacional.
 É importante que o processo de formação aconteça dentro da rede, por isso existem convênios
de universidades com a rede.
o Art. 28º. Os cargos e funções de chefia, direção e assessoramento, no âmbito do SUS, só poderão ser
exercidos em regime de tempo integral.
 Ou seja, o diretor deve permanecer em tempo integral na sua unidade de saúde.
 Do Planejamento e do Orçamento:
o Art. 36º. O processo de planejamento e orçamento do SUS será ascendente, do nível local até o
federal, ouvidos seus órgãos deliberativos, compatibilizando-se as necessidades da política de saúde
com a disponibilidade de recursos em planos de saúde dos municípios, dos estados, do Distrito
Federal e da União.
 O planejamento é feito de baixo para cima, ou seja, de nível local para federal, daí a
importância da descentralização. Assim, será planejado o que será feito nos próximos anos,
bem como o que será preciso para que os planos entrem em prática.
o §1º Os planos (planejamentos) de saúde serão a base das atividades e programações de cada nível
da direção do SUS e seu financiamento será previsto na respectiva proposta orçamentária.
 Ou seja, o financiamento é feito em blocos, a partir do planejamento do orçamento, com base
no recurso (dinheiro) disponível para isso.
o §2º É vedada a transferência de recursos para o financiamento de ações não previstas nos planos de
saúde, exceto em situações emergenciais ou de calamidade pública, na área de saúde.
 Uma das funções dos Conselhos de saúde é fiscalizar se o orçamento do sistema está sendo
usado da forma como ele foi previsto, para isso os conselheiros precisam entender o sistema,
como se dá o financiamento.

LEI Nº 8.142/90
Lei complementar criada 2 meses após a lei 8.080 para tratar do controle social e do financiamento.
Controle social e financiamento receberam muitos vetos na primeira lei, para isso precisou-se retomá-los.
 Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e sobre as transferências intergovernamentais
de recursos na área da saúde e das outras providências.
 Art. 1º O SUS contará, em cada esfera de governo, sem prejuízo das funções do Poder Legislativo, com as
seguintes instâncias colegiadas:
o A Conferência de Saúde;
o O Conselho de Saúde.
 Qual a diferença entre os dois? O Conselho acontece de forma permanente (reuniões mensais),
enquanto que a Conferência acontece a cada 4 anos.
 §1º A Conferência de Saúde reunir-se-á a cada quatro anos com a representação dos vários segmentos sociais,
para avaliar a situação de saúde e propor as diretrizes para a formulação da política de saúde nos níveis
correspondentes, convocada pelo Poder Executivo ou, extraordinariamente, por esta ou pelo Conselho de
Saúde.
o A Conferência tem caráter consultivo. Ouvem-se os problemas dos níveis municipal, estadual e federal,
discutindo a situação de saúde de cada um para traçar diretrizes. Porém, a Conferência não tem poder
de decisão. Deve-se fazer cumprir aquilo que ficou deliberado no Conselho de saúde.
 §2º O Conselho de Saúde, em caráter permanente e deliberativo, órgão colegiado composto por
representantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na formulação de
estratégias e no controle da execução da política de saúde na instância correspondente, inclusive nos aspectos
econômicos e financeiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em
cada esfera do governo.
 §4º A representação dos usuários nos Conselhos de
Saúde e Conferências será paritária em relação ao
conjunto dos demais segmentos.
o Exemplificado na imagem ao lado.
o Essa participação não é aleatória, mas a partir
da sociedade civil organizada, a partir de
eleições de representantes nas associações,
sindicatos, que se organizam e elegem um
membro para representa-los, existe um
número pré-estabelecido de conselheiros, e
isso deve mudar a cada dois anos.
o O conceito de controle social se modificou ao longo da história. Essa diretriz tem o objetivo de inverter
o controle, que antes era do Estado, agora será da população, na fiscalização, questionamento e
construção das políticas.

DESAFIOS NA OPERACIONALIZAÇÃO
 Natureza deliberativa dos conselhos (ingerências do poder executivo).
o É importante que as pessoas percebam a importância da sua participação no sistema, a partir dos seus
questionamentos.
 O acesso dos conselheiros às informações em saúde (formação dos conselheiros).
o As informações não são simples de serem compreendidas, por isso existem cursos para que se entenda
o que é e como funciona o sistema.
 Os conselhos devem estabelecer objetivos que representem as reais aspirações da sociedade.

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