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Acordao do processo 0000708-76.2012.5.04.0007 (RO)


Data: 13/02/2014
Origem: 7ª Vara do Trabalho de Porto Alegre
Órgão julgador: 4a. Turma
Redator: Gilberto Souza Dos Santos
Participam: George Achutti, João Batista De Matos Danda
Teor integral do documento (PDF) | Cópia do documento (RTF) | Andamentos do processo

PROCESSO: 0000708-76.2012.5.04.0007 AIRR

EMENTA

RECURSO ORDINÁRIO. AUSÊNCIA DE ANOTAÇÃO NA CTPS DE PERÍODO DE


TRABALHO EXÍGUO. Indenização por dano moral devida.

HONORÁRIOS ASSISTENCIAIS. O entendimento que prevalece na Turma é que, nas lides


envolvendo relação de emprego, são devidos honorários assistenciais apenas se preenchidos os
requisitos previstos no artigo 14 da Lei 5.584/70. Aplicação das Súmulas 219 e 329 do TST.

ACÓRDÃO

por unanimidade, DAR PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMADA


para (I) reconhecer a existência de contrato de experiência vigente de 18 a 21/5/2013; (II) excluir da
condenação (1) a retificação, na CTPS, do termo final do contrato; (2) o pagamento de (a) multa diária
pelo atraso no cumprimento de obrigação retificar a CTPS; (b) aviso prévio; (c) férias proporcionais com
1/3; (d) décimo terceiro salário proporcional; (e) FGTS com acréscimo de 40% sobre aviso prévio, férias
proporcionais com 1/3, e 13º salário proporcional; (f) multa do artigo 477, § 8º, da CLT; (g) honorários
assistenciais; (III) reduzir a condenação ao pagamento de indenização por dano moral, a R$ 1.000,00
(mil reais)

Custas de R$ 22,00 (vinte e dois reais) sobre o valor da condenação provisoriamente reduzido para
1.100,00 (mil e cem reais).

RELATÓRIO

A sentença julgou procedente em parte a ação. Inconformada, a ré interpõe recurso ordinário que trata de
indenização por danos morais, retificação da CTPS e multa, aviso prévio, férias proporcionais com um
terço, décimo terceiro salário proporcional, multas dos artigos 467 e 477, § 8º, da CLT, FGTS, e
honorários assistenciais. Apresenta prequestionamento.

Com contrarrazões, sobem os autos ao Tribunal.

VOTO RELATOR

DESEMBARGADOR GILBERTO SOUZA DOS SANTOS:

ANOTAÇÃO DA CTPS. AVISO PRÉVIO. FÉRIAS PROPORCIONAIS COM UM TERÇO.


DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO PROPORCIONAL. FGTS COM ACRÉSCIMO DE 40%

A sentença condenou a ré a pagar aviso prévio de 30 dias, 1/12 de 13º salário proporcional e 1/12 de
férias proporcional acrescidas de 1/3; FGTS incidente sobre as parcelas de natureza salarial e aviso prévio
deferidos, bem como sobre os três dias de salários, com o acréscimo de 40% sobre o montante.
Igualmente, determinou à reclamada retificar a data da saída na CTPS do autor para 20/6/2012, pelo

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cômputo do período do aviso prévio. Também constou do dispositivo da sentença: "A reclamada deverá
retificar a data da saída na CTPS do reclamante para que conste a data de 20 de junho de 2012, pelo
cômputo do período do aviso prévio. A anotação deverá ser procedida no praz de 48 horas após o
trânsito em julgado, sob pena de multa diária equivalente a R$ 732,00, limitada ao período de trinta
dias. Após o decurso de tal prazo, a anotação deverá ser realizada pela Secretaria da Vara." (sic)

O Juízo de origem fundamentou que, diante da inexistência de contrato de experiência escrito e da


ausência de anotação da CTPS, presumiu, pelo princípio da continuidade da relação de emprego, que o
pacto se deu a prazo indeterminado.

Recorre a reclamada. Sustenta incontroversos os seguintes dados: salário mensal do reclamante de R$


732,12; início do contrato de trabalho em 18/5/2012; término em 21/5/2012. Diz que houve contrato de
experiência e que em relação a isso não houve qualquer negativa, aduzindo que o fato de não ter sido
encontrado o instrumento contratual não é razão para lhe atribuir inexistência. Aduz que juntou termo de
rescisão do contrato de trabalho e pagou corretamente as parcelas rescisórias, bem como a multa do artigo
477 da CLT. Conforme afirma, "caso não seja considerado o contrato de experiência, dada a
particularidade do labor de três dias apenas, a data da dispensa - que consta na CTPS do recorrido - não
pode ser modificada, pois no dia 21 de maio de 2012 houve efetivamente o seu desligamento e na CTPS
consta o tempo laborado e não a projeção do aviso prévio." Requer a reforma da sentença quanto à
condenação nas parcelas rescisórias além do que já foi adimplido e à retificação da CTPS.
Sucessivamente, pede a redução do prazo para efetuar tal retificação, bem como a minoração da multa
diária prevista para a hipótese de atraso no cumprimento dessa obrigação de fazer.

Examino.

a) Aviso prévio. Natureza do contrato

Na petição inicial, o autor disse ter assinado contrato de experiência com a ré pelo prazo de 30 dias,
prorrogável por mais 60 dias (fl. 03 dos autos, terceiro parágrafo), e que iniciou a laborar no dia
18/5/2012, tendo sido dispensado em 21/5/2012. Tais alegações não foram negadas na defesa.

Ou seja, as partes concordaram quanto ao fato de que celebraram contrato de experiência por trinta dias e
em relação às datas de admissão e despedida, bem como que a ré despediu o autor antes do advento do
termo final que havia sido ajustado.

O contrato de experiência é um tipo de contrato de trabalho por prazo determinado (artigo 443, § 2º, "c",
da CLT).

Estabelece o artigo 443, caput, da CLT: "O contrato individual de trabalho poderá ser acordado tácita ou
expressamente, verbalmente ou por escrito e por prazo determinado ou indeterminado."

Enfatizo que no Direito do Trabalho vigora o princípio da realidade.

Diferentemente do sustentado na peça vestibular, a ausência de instrumento contratual escrito, de termo


de rescisão, e de anotação da CTPS não são fatos hábeis a afastar a existência ou caracterização do
contrato de experiência, cuja celebração resultou incontroversa. Incabível, pois, a pretensão do autor
quanto ao pagamento de verbas rescisórias pertinentes à rescisão do contrato de trabalho a prazo
indeterminado. Não tendo sido ultrapassado o prazo legal do contrato de experiência, não cabe cogitar de
sua conversão para contrato de trabalho sem determinação de prazo.

Como o próprio nome diz, o contrato de experiência tem por fim oportunizar ao empregado e ao
empregador a avaliação recíproca em face das circunstâncias de trabalho, durante determinado prazo (não
superior a 90 dias; no caso de 30 dias, prorrogáveis por mais 60), sendo assegurado aos contratantes, optar

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pelo não prosseguimento da relação de emprego, imediatamente após o termo final previsto para
encerramento do pacto, sem aviso prévio.

Estabelece o artigo 479, caput, da CLT: "Nos contratos que tenham termo estipulado, o empregador que,
sem justa causa, despedir o empregado será obrigado a pagar-lhe, a titulo de indenização, e por metade,
a remuneração a que teria direito até o termo do contrato."

No caso, à luz do registro de horário, no dia 21/5/2013, o autor teria chegado para trabalhar às 10h16min,
quando o correto seria às 9h. Trata-se de documento impugnado (fls. 53/55). De qualquer sorte, mesmo
que se atribuísse poder de convicção a tal instrumento, o invocado atraso não seria suficiente para
caracterizar justa causa para despedida. Atraso diz com a conduta de desídia prevista na alínea "e" do
artigo 482 da CLT, arrolada como uma das hipóteses que autorizam a despedida por justa causa, a exigir,
porém, prática reiterada de chegar ao serviço após o horário previsto, o que não resultou caracterizado.
Concluo, pois, que o reclamante foi "despedido sem justa causa".

Ainda, por força do aludido artigo 479, caput, da CLT, e ao contrário do alegado na petição inicial,
entendo que a ré não violou o princípio da boa fé ao dispensar o autor imotivadamente antes do termo
final designado para encerramento do contrato de experiência. Por outro lado, com base no princípio da
simetria, entendo que, ao apontar tal violação, o autor admitiu que o contrato de experiência foi celebrado
pelas partes, sem cláusula assecuratória do direito recíproco de rescisão antes de expirado o prazo, direito
esse em face de cujo exercício o artigo 481 da CLT considera aplicáveis os princípios que regem a
rescisão dos contratos por prazo indeterminado.

Portanto, a situação dos autos, de contrato de experiência sem a mencionada cláusula assecuratória,
ajusta-se à hipótese prevista no já citado artigo 479, caput, da CLT, sendo devido ao autor indenização
equivalente à metade da remuneração a que esse teria direito até o término contratual previsto.

Assim, cumpre reconhecer que houve contrato de experiência entre as partes, vigente de 18 a 21/5/2013 e
considerar indevido aviso prévio ao reclamante. Poder-se-ia cogitar de substituir a condenação em aviso
prévio pelo pagamento ao autor da indenização prevista no artigo 479, caput, da CLT. Constato, porém,
que o valor devido a esse título já resultou satisfeito.

Na segunda audiência, a ré se comprometeu a pagar ao autor a importância de R$ 1.034,19, mediante


depósito na conta corrente indicada na ata da fl. 98. No dia subsequente a audiência, 02/4/2013, quando já
estava encerrada a instrução do processo, a reclamada depositou (fl. 113) o mencionado valor na referida
conta bancária. Nas contrarrazões, o autor silenciou acerca do mencionado depósito, cujo comprovante foi
juntado na fl. 113, com o recurso. Inequívoco, pois, que o autor recebeu o valor depositado. Por outro
lado, na aludida ata de audiência ficou registrado que a reclamada se comprometeu a pagar ao reclamante
o valor de R$1.034,19 "a título das parcelas rescisórias descritas no Termo (de rescisão) da fl. 84 e multa
do art. 477, § 8º, da CLT". Verifico que, no termo de rescisão, no campo referente a pagamento, consta a
rubrica "Multa Art. 479/CLT", na importância de R$ 317,25, correspondente à metade do salário do autor,
de R$ 732,12. Entendo que esse era o salário dele, pois tendo sido indicado nesse valor na contestação (fl.
42) e no termo de rescisão (fl. 84), o autor não o impugnou ao falar nas fls. 53/55 sobre a defesa.
Ademais, trata-se de valor que tem diferença mínima em relação ao de R$ 732,14 invocado na petição
inicial. Assim, concluo que o autor já recebeu integralmente o valor da indenização do artigo 479, caput,
da CLT.

Diante do exposto, provejo o apelo para reconhecer a existência de contrato de experiência entre as partes,
de 18 a 21/5/2012, bem como para afastar da condenação o pagamento de aviso prévio. Em decorrência,
também dou provimento ao recurso para excluir da condenação o pagamento de FGTS, com acréscimo
de 40%, sobre o aviso prévio.

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b) Retificação da CTPS. Prazo. Multa por descumprimento

Ressalto que, no curso do presente processo, a ré anotou a CTPS do autor, registrando admissão em
18/5/2012 e saída em 21/5/2012 (fl. 89). Esclareço que o Juízo de origem autorizara a reclamada a fazer
"as devidas anotações, sem prejuízo das teses debatidas e eventual futura retificação." (despacho na fl.
78). Assim, e tendo sido reconhecido no item anterior que houve contrato de experiência entre as partes,
vigente de 18 a 21/5/2013, provejo o recurso para excluir da condenação a retificação da data de saída na
CTPS e o pagamento de multa diária pelo atraso no cumprimento dessa obrigação de fazer.

c) Férias proporcionais com 1/3. Décimo terceiro salário proporcional

Como o contrato de trabalho em apreço não teve vigência além de 14 dias, o autor não tem direito ao
pagamento de férias proporcionais (artigo 146, parágrafo único, da CLT).

Da mesma forma, tendo em vista que a duração do pacto não foi igual ou superior a 15 dias, o reclamante
tampouco faz jus ao pagamento de 13º salário proporciona (Lei 4.090, artigo 1º, § 2º).

Assim, provejo o apelo para excluir da condenação o pagamento de férias proporcionais, com um terço,
bem como de 13º salário proporcional. Em consequência, igualmente, dou provimento ao recurso para
excluir da condenação o pagamento de FGTS, com acréscimo de 40%, sobre "as parcelas de natureza
salarial" deferidas, quais sejam, férias proporcionais com 1/3 e décimo terceiro salário proporcional.

d) FGTS

Diante do decidido em itens anteriores, e tendo em vista o caráter acessório do FGTS e do seu acréscimo
de 40%, não subsiste condenação quanto a esses aspectos em relação ao aviso prévio e às "parcelas de
natureza salarial" deferidas, isto é, férias proporcionais com 1/3 e décimo terceiro salário proporcional.
Tal não ocorreu, porém, quanto à condenação ao pagamento de FGTS com acréscimo de 30% sobre "três
dias de salário".

Assim consta das razões recursais: "Os valores devidos quanto ao FGTS já foram pagos corretamente,
embora não tenham sido discriminadas as parcelas na audiência de instrução". A recorrente afirma que
os cálculos foram efetuados pelo Juízo de origem, limitando-se ela a acatar a decisão.

Examino.

Como se vê, o recurso não ataca a sentença de forma específica quanto ao acréscimo de 40% sobre o
FGTS. Portanto, não há falar em reforma da decisão quanto ao pagamento de tal acréscimo sobre "três
dias de salário".

Embora por motivo diverso, tampouco merece reforma a sentença quanto ao pagamento do próprio FGTS
sobre "três dias de salário."

No caso de contrato por prazo determinado, ocorrendo despedida sem justa causa, como no caso, o
empregado faz jus ao FGTS (incidente sobre parcelas de natureza salarial), com acréscimo de 40%
(artigos 14 e 9º, §§ 1º e 2º, do Decreto 99.684/90, Regulamento do FGTS).

O pagamento de FGTS não foi discriminado no termo de rescisão (fl. 84), tampouco na ata de audiência
da fl.98. Vale frisar que, a teor dessa ata, a importância de R$ 1.034,19 abrange apenas a multa do artigo
477, § 8º, da CLT e as parcelas rescisórias descritas no Termo da fl. 84, dentre as quais não incluído o
FGTS. Tendo assinado a ata de audiência em tal sentido, a ré não pode pretender que a mencionada
importância seja hábil a quitar condenação em FGTS.

Diante do exposto, subsiste a condenação ao pagamento de FGTS (com acréscimo de 40%) sobre "três

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dias de salário".

Nego provimento.

e) Multas dos artigos 467 e 477, § 1º, da CLT

A reclamada disse, na contestação, que pagaria na audiência inicial as verbas rescisórias incontroversas
(fl. 43). Assim, e sendo incontroversa a existência de contrato de experiência, não há justificativa para a
ausência de pagamento da indenização do artigo 479, caput, da CLT já na primeira audiência. Confirmo,
pois, a condenação ao pagamento da multa do artigo 467 da CLT.

Por outro lado, prospera o recurso quanto à multa do artigo 477, § 8º, da CLT, pois já satisfeita.

Não é demais enfatizar que na ata da segunda audiência (fl. 98) consta que a ré assumiu o compromisso
de pagar ao autor o valor de R$1.034,19 "a título das parcelas rescisórias descritas no Termo (de
rescisão) da fl. 84 e multa do art. 477, § 8º, da CLT".

O termo de rescisão registra pagamento de multa do artigo 479 da CLT, no valor de R$ 317,25, bem como
de salário de R$ 97,62, referente aos quatro dias de vigência do contrato de experiência, incluído o
repouso semanal remunerado, valor esse proporcional ao salário mensal ajustado, de R$ 732,12. A soma
entre aqueles valores totaliza R$ 414,87.

Da mesma forma, no termo de rescisão encontram-se acertadamente discriminados os seguintes


descontos: a) R$ 7,80 a título de desconto previdenciário correspondente à quota de contribuição
previdenciária de responsabilidade do empregado, incidente sobre o salário, de R$ 97,62; b) R$ 105,00,
valor esse que o autor, na petição inicial, admitiu que havia recebido da ré. O total dos descontos alcança
a importância R$ 112,80. Deduzindo-se esse valor daquele de R$ 414,87, obtém-se o valor líquido do
pagamento previsto no termo de rescisão, qual seja, R$ 302,07. Somando esse valor com aquele de R$
732,12, alusivo à multa do artigo 477, § 8º, da CLT (equivalente a um salário do empregado), o total é de
R$ 1.034,19, ou seja, exatamente a que importância o autor veio a receber via depósito bancário efetuado
pela ré.

Diante do exposto, provejo o recurso para excluir da condenação o pagamento da multa do artigo 477, §
8º, da CLT.

INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

Na petição inicial, o autor disse ter sido admitido pela ré em 18/5/2012, mediante assinatura de contrato
de experiência de 30 dias. Aduziu que laborou, normalmente, naquele dia, sexta-feira, bem como no
sábado e na segunda-feira, ao final de cuja jornada de trabalho, teria sido comunicado, pela Gerência, de
sua "dispensa imotivada". Admitiu a percepção de salário quanto a três dias de trabalho, no valor de R$
105,00, e vales-transporte quanto aos três dias laborados. Alegou dano moral em razão de ato ilícito
cometido pela ré, o qual residiria no fato de que ela rasgou o contrato de experiência e não assinou a
CTPS, com o fito de não efetuar o pagamento correto das verbas rescisórias, desvirtuando a aplicação dos
direitos trabalhistas. Invocou gravação por ele efetuada, constante de CD anexado à peça vestibular,
pretendendo demonstrar que, ao questionar as funcionárias do RH, fora informado de que o contrato de
experiência havia sido "rasgado". Segundo igualmente noticiou, a ré frustrou a expectativa que ele tinha
de, na condição de empregado contratado por prazo determinado, trabalhar ao menos até o termo final da
vigência prevista para o contrato de experiência. Pediu indenização por danos morais em valor não
inferior a 30 salários mínimos, que reputou então equivalentes a R$ 18.660,00.

Ao teor da defesa, desprovido de currículo e não tendo passado por avaliação, o reclamante foi avisado de
que a CTPS seria assinada após três dias de teste, com data retroativa. Consoante acrescentou, decidiu

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dispensá-lo porque ele chegou ao serviço com atraso de uma hora e meia, no terceiro dia de trabalho.
Asseverou que o autor foi pago pelos três dias de trabalho e que não assinou a carteira de trabalho, por ser
extremamente prejudicial ao empregado que ali conste contrato de trabalho com duração de tão pouco
tempo. Conforme frisou, o autor "estaria recebendo para aprender uma função que parecia nunca ter
ocupado". Afirmou que não lucra com a permanência de empregados por tão poucos dias, pois o outro
empregado que é deslocado para ensinar diminui seu ritmo de trabalho.

A sentença deferiu a indenização no valor postulado. Em longa fundamentação, o Juízo de origem


considerou ser "evidente que o comportamento da reclamada admitido em sua própria defesa causa
danos morais ao trabalhador." Entendeu preconceituosa a mentalidade exposta na contestação.

Recorre a reclamada. Afirma que a mera ausência de anotação na CTPS não gera dano moral.
Conforme sustenta, dizer que a recorrente tem "mentalidade preconceituosa" por afirmar que um contrato
de três dias é prejudicial ao empregado, é distorcer a realidade. Sob sua ótica, não houve qualquer dano
moral ao recorrido, pois durante sua avaliação, ele estava aprendendo, tendo recebido por isso, ausente
lucro para a recorrente. Diz que o fato de ter feito algo ilegal - um teste por três dias de um empregado
sem qualificação e com CTPS que o desabonava - não faz dele um mau patrão, tampouco torna o
recorrido merecedor de vultosa quantia em dinheiro, pois não sofreu qualquer dano a ser reparado.
Consoante sublinha, agiu com boa fé pois em momento algum negou que o autor tenha laborado para ela,
tanto assim que ao ser demandado judicialmente, deduziu requerimento para assinar a CTPS, tendo
efetuado os apontamentos que entendeu devidos. Sucessivamente, requer a redução do valor da
indenização, por injusta e excessiva.

Examino.

Vale repetir que, segundo a ré, ela teria avisado o autor de que só assinaria a CTPS após três dias de
trabalho, com data retroativa, ou seja, mediante a aprovação do seu desempenho profissional durante o
teste ao qual estaria sendo submetido nesse período.

O procedimento invocado não tem respaldo em nosso ordenamento jurídico.

Por outro lado, a ré não negou ter rasgado o instrumento contratual, conduta, a toda evidência,
antijurídica.

O ato de não anotar a carteira de trabalho, por si só, já causa lesão à esfera subjetiva do empregado
(direito subjetivo ao registro de seu contrato de trabalho), sendo até presumível que quem o pratique cause
dano (artigos 187 e 927 do CC ).

Saliento que, atualmente, a evolução profissional de alguns empregados afigura-se mais valorizada quanto
maior o número de contratos anotados em suas carteiras de trabalho, pois assim resultam demonstrados
indícios de ampla experiência laboral, obtida em atuações variadas no mesmo segmento ou em distintos
setores.

Assim, concluo que o reclamante faz jus ao pagamento de indenização por dano moral. Entendo, porém,
que o valor deve ser comedido, considerando a atenuantes culturais levantadas (v.g, que poucos dias de
contrato "suja" a carteira) e a pouca transcendência dos seus efeitos, mas sem desprezá-los, diante do
caráter pedagógico da pena. Considero, assim, adequado reduzir para R$ 1.000,00 a indenização em
apreço.

A propósito, a circunstância de o autor ter celebrado contrato de trabalho a prazo certo até poderia ter
gerado para ele a alegada expectativa de trabalhar ao menos até o fim do contrato de experiência. Não
obstante, em face do disposto no artigo 479, caput, da CLT, afigura-se inviável a caracterização de dano
moral advindo do fato de a ré ter dispensado sem justo motivo o autor previamente à data fixada para

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encerramento do pacto. Logo, a circunstância em apreço tampouco merece ser considerada quanto ao
valor da indenização por dano moral.

Diante do exposto, provejo o apelo para reduzir ao valor de R$ 1.000,00 a indenização por dano moral.

HONORÁRIOS ASSISTENCIAIS

A reclamada sustenta não preenchidos os requisitos legais para o deferimento de honorários assistenciais.
Sucessivamente, pretende sejam reduzidos de 20% para 15%.

Examino.

Sem desconhecer o atual entendimento do Tribunal Superior do Trabalho acerca do tema, retratado nas
Súmulas 219 e 329, tenho a convicção de que são devidos honorários advocatícios na Justiça do Trabalho,
bastando que seja declarada pelo reclamante a sua miserabilidade, na forma do artigo 4º da Lei 1.060/50,
por aplicação da Súmula 450 do STF.

Embora o artigo 791 da CLT confira ao empregado e ao empregador a possibilidade de reclamar


pessoalmente perante a Justiça do Trabalho, isso não afasta a previsão constitucional que consagra a
indispensabilidade do advogado à administração da justiça.

Ademais, embora o citado dispositivo legal garanta à parte que exerce o jus postulandi o direito de
acompanhar as suas reclamações até o final, tal previsão acaba por ser mitigada diante das limitações
reconhecidas pela jurisprudência, a exemplo da orientação contida na Súmula 425 do TST.

Depois, como a assistência judiciária gratuita, no processo do trabalho, não constitui monopólio sindical,
pois a parte pode escolher livremente advogado de sua confiança para o patrocínio da causa,
independentemente do credenciamento sindical, há que se observar o princípio constitucional da isonomia
na concessão da verba honorária.

Contudo, como imperativo de política judiciária, tendo em vista que o entendimento majoritário da Turma
se coaduna com a atual orientação do TST acerca do tema, apenas ressalvando entendimento pessoal a
respeito dou provimento ao recurso, pois juntada aos autos apenas a declaração de pobreza (fl. 11).

PREQUESTIONAMENTO

Diante do exposto, considero enfrentados todos os prequestionamentos pretendidos.

cls.

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