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Recebido: 04/05/2018

Aprovado: 04/06/2020
Volume 9. Número 3 (dezembro/2020). p. 321-339 - ISSN 2238-9377
Revista indexada no Latindex e Diadorim/IBICT

Análise da instabilidade local em pilares do tipo


rack com perfurações.
Flávio Teixeira de Souza,1Dário Lúcio Vale Theodoro2 e Arlene Maria Cunha
Sarmanho3*
1IFMG,
Campus Ouro Preto, flavio.souza@ifmg.edu.br
2IFMG,
Campus Santa Luzia, dario.theodoro@ifmg.edu.br
3UFOP, Departamento de Engenharia Civil, arlene.sarmanho@gmail.com

Analysis of local buckling in perforated rack columns.

Resumo
Perfis formados a frio com perfurações são utilizados em diversas aplicações, por possibilitar a
passagem de dutos ou mesmo por facilitar a montagem. No entanto, estas perfurações
modificam o comportamento da estrutura, reduzindo sua resistência e alterando os modos de
instabilidade. Este trabalho avalia a ocorrência do modo local em pilares com seção do tipo rack
com perfurações em sua alma, por meio de modificações no método da seção efetiva, proposto
em prescrição brasileira. Os resultados normativos são comparados a resultados numéricos
obtidos a partir de modelo previamente validado por comparação com resultados
experimentais, e a boa correlação obtida indica a viabilidade do estudo efetuado.
Palavras-chave: perfis formados a frio com perfurações, método dos elementos finitos, método
da seção efetiva, sistemas de armazenagem industrial.

Abstract
Perforated cold formed sections are widely user because they make installations and
assemblage easier. These perforations, however, modify the structure behavior, reducing its
resistance and inducing different buckling modes. This work analyzes the local buckling
occurrence in rack columns with perforations, by introducing some modifications in effective
method proposed in Brazilian code NBR 14762. The code results are compared with numerical
ones, obtained by a previously validated model, end the good agreement obtained indicate the
viability of the method proposed.
Keywords: perforated cold formed sections, finite element method, effective section method,
steel storage rack systems.

* autor correspondente
1 Introdução

Os sistemas de armazenamento industrial estão entre as diversas aplicações dos perfis


formados a frio. Neste caso, no entanto, é comum a utilização de pilares com
perfurações ao longo de sua altura para facilitar o encaixe das ligações e agilizar a
montagem da estrutura. A Figura 1 apresenta a vista de um sistema de armazenagem
industrial e a seção característica dos pilares, com a nomenclatura de suas partes.
Observa-se na Figura 1 o encaixe das ligações em perfurações existentes na alma dos
perfis.

Alma Flange de
ligação

Enrijecedor

Flange

70
Figura 1. Vista geral de um sistema de armazenagem industrial (Grupo Alpha, 2018) e
32
nomenclatura da seção transversal dos pilares. 26

Por serem constituídos por chapas de pequena espessura, os perfis


2,65que constituem
20 os
84 40
sistemas de armazenagem industrial estão sujeitos à instabilidade local e distorcional, e
os métodos de dimensionamento utilizados para sua avaliação devem considerar estes
Dimensões em mm
fenômenos. Diversos trabalhos têm sido realizados para desenvolver métodos que
permitam a avaliação destes modos de instabilidade de forma isolada ou ainda em
interação.
A norma brasileira ABNT NBR 14762:2010 – “Dimensionamento de estruturas de aço
constituídas por perfis formados a frio” prevê a utilização de três métodos de
dimensionamento. Além do consagrado método das larguras efetivas, é proposto o
método da resistência direta (Schaffer e Pekoz, 1998), e o método da seção efetiva
(Batista, 2009). No entanto, as prescrições normativas abrangem somente pilares sem

322
perfurações, não sendo, portanto, aplicáveis aos pilares dos sistemas de armazenagem
industrial.
Recentemente, diversos trabalhos passaram a avaliar o dimensionamento de perfis
formados a frio com perfurações (Moen e Schaffer (2008), Freitas et al. (2013); Faria et
al., (2015); Faria (2016); Neiva et al., (2018), Oliveira et al., (2018); Pastor at al. (2014);
Bonada et al. (2015); Dinis et al. (2018); Young et al. (2018)). Estes trabalhos baseiam-se
em resultados experimentais ou numéricos, a partir dos quais foram testadas
formulações para a consideração dos diversos arranjos de perfurações.
Este trabalho insere-se neste contexto, com o objetivo de estudar as seções do tipo rack
sujeitas à instabilidade local, a partir da adaptação do método da seção efetiva para a
consideração do efeito das perfurações, e validação a partir de comparações com
resultados numéricos previamente validados.

2 Validação do modelo numérico

A modelagem numérica utilizada neste trabalho foi desenvolvida utilizando o programa


comercial ANSYS (ANSYS, 2011), tendo o foco em pilares submetidos à instabilidade
local. O refinamento da malha, as condições de contorno e a aplicação do carregamento
foram definidas a partir de recomendações de trabalhos anteriores (Souza (2013), Faria
(2016), Neiva (2017), Sales (2017)), e sua validação foi feita em duas etapas. A primeira
baseou-se em comparação com resultados experimentais para seções com e sem
perfurações apresentados por Silva (2011), e a outra se baseou na comparação entre
resultados normativos e numéricos para seções sem perfurações.

2.1 Comparação entre resultados numéricos e experimentais para seções com e sem
perfurações

Inicialmente, foram utilizadas seções do tipo rack com as dimensões utilizadas por Silva
(2011), com o objetivo de validar o modelo numérico a partir de comparação com os
resultados experimentais deste autor. Foi utilizado o elemento de casca SHELL181, da
biblioteca interna do ANSYS, por se adequar ao tipo de análise pretendida. Empregaram-
se elementos quadrilaterais com lado igual a 10% da largura da alma, nível de
refinamento que alia precisão e eficiência computacional (Souza, 2013).
323
As condições de contorno buscaram simular a situação do ensaio de compressão do pilar,
realizado por Silva (2011). Nas extremidades, foram restringidos os deslocamentos nas direções
perpendiculares ao eixo, como faz a placa de extremidade soldada ao protótipo experimental.
Para evitar o deslocamento de corpo rígido, a direção axial foi restringida em um nó à meia
altura do modelo. Foram construídos modelos sem perfurações e com perfurações na alma,
mantendo a configuração dos ensaios de Silva (2011). A figura 2 apresenta a malha de elementos
finitos gerada.

Figura 2. Modelo numérico construído no ANSYS baseado em Silva (2011) (a) Pilar sem furos;
(b) Malha sem furos; (c) Pilar com furos; (d) Malha com furos.

A análise numérica foi feita em duas etapas. Primeiramente, foi feita a análise de
estabilidade elástica e em seguida, feita a análise não linear.

Na análise de estabilidade foi considerado o material linear elástico, e foi aplicado um


carregamento unitário distribuído uniformemente a todos os nós da extremidade, conforme

324
mostra a

Figura 2. Nesta etapa, obtiveram-se as forças axiais de flambagem local elástica e os modos de
instabilidade para cada um dos protótipos analisados.

Na análise não linear, foram consideradas as propriedades elastoplásticas do aço, por


meio de um diagrama multilinear (Faria, 2016), com Módulo de elasticidade E = 200 GPa;
Tensão de escoamento fy = 354 MPa e tensão última fu = 440 MPa (Silva, 2011). Foram
introduzidas imperfeições a partir dos modos de instabilidade local obtidos na etapa
anterior, com fator de imperfeição inicial igual à metade da espessura, baseando-se em
levantamento dimensional dos protótipos. Foi considerado um carregamento superior
à carga de escoamento da seção bruta, distribuído uniformemente nos nós da
extremidade (Figura 2). Com esta análise, foram determinadas as forças axiais de
compressão resistentes dos protótipos, a partir de curvas carga x deslocamento como a
apresentada na Figura 3,que são comparadas aos resultados experimentais na Tabela 1.

325
Nc (kN)
160
140
120
100
80
60
40
20
0
0 1 2 3 4 5 6
d (mm)

(a) (b)

Figura 3. Seção SF-1,8: (a) Deslocamentos na alma; (b) Curva carga x deslocamento.

Observam-se boas correlações entre os resultados experimentais e numéricos, com


dispersão inferior a 10% para as situações consideradas. Estes resultados indicam a
viabilidade do modelo via elementos finitos para a previsão do comportamento e da
resistência de pilares formadas a frio, de seções do tipo rack, submetidos à compressão
axial, quando se considera o modo de instabilidade local.

Tabela 1 . Comparação entre os resultados numéricos e experimentais.

Protótipo 𝑵𝐜,𝐑 𝐞𝐱𝐩 (kN) 𝑵𝐜,𝐑 𝐧𝐮𝐦 (kN) 𝑵𝐜,𝐑 𝐧𝐮𝐦


(Silva, 2011) (Silva, 2011) 𝑵𝐜,𝐑 𝐞𝐱𝐩
SF-1,5 79,77 81,15 1,02
SF-1,8 128,00 139,00 1,09
2F-1,5 77,19 80,00 1,04
2F-1,8 128,90 132,00 1,02
SF– Sem perfurações.
2F – Com duas perfurações à meia altura.
1,5 e 1,8– Espessura de chapa (mm).
Nc,Rexp – força axial de compressão resistente experimental (Silva, 2011) .
Nc,Rnum–força axial de compressão resistente numérica.

2.2 Comparação entre resultados numéricos e normativos para seções sem


perfurações

Ainda com o objetivo de validar o modelo numérico, com vistas ao estudo a ser
desenvolvido nesta pesquisa, foram analisadas os pilares com as seções apresentadas
na Figura 4, sem perfurações, e suas forças axiais de compressão resistentes foram
326
comparadas às obtidas pelos três métodos de dimensionamento previstos na NBR
14762 (ABNT,2010), conforme apresentado na Tabela 2. As dimensões da seção foram
escolhidas visando a obtenção de alma esbeltas.

Figura 4. Dimensões da seção transversal.

Assim como na comparação entre os resultados numéricos e experimentais, observa-se


boa correlação entre os resultados numéricos e normativos, sendo as maiores
dispersões observadas para o método da largura efetiva, que leva a resultados
conservadores. Isto se deve ao fato de que este método considera os elementos da
seção isoladamente, não quantificando a interação entre eles, como nos outros
métodos. Pode-se mais uma vez concluir que o modelo numérico é adequado para o
estudo proposto, viabilizando a sua utilização na simulação dos pilares com diferentes
arranjos de perfurações.

Tabela 2. Comparação entre os valores da força axial de compressão resistente para pilares do
tipo rack sem perfurações obtidas numericamente e via métodos da NBR 14762 (kN).

bw(mm) t(mm) L(mm) M.L.E(kN) M.S.E(kN) M.R.D(kN) M.E.F(kN)


1,2 288 71,93 63,98 65,09 65,14
120 1,4 288 94,02 83,33 84,80 86,49
1,6 288 126,23 104,49 106,45 101,72
1,8 288 147,52 127,51 129,81 121,76
2 288 169,58 152,17 154,87 139,73
1,2 360 81,84 59,61 60,70 64,05
150 1,4 360 104,10 77,81 79,20 83,95

327
1,6 360 126,64 97,88 99,60 105,03
1,8 360 148,26 119,70 121,74 127,36
2 360 170,74 143,17 145,56 142,15
1,2 432 81,76 56,59 57,72 62,14
180 1,4 432 104,07 73,98 75,42 79,94
1,6 432 125,54 92,48 94,33 102,00
1,8 432 148,44 114,16 116,27 124,02
2 432 171,15 136,74 139,22 139,33
1,2 480 81,57 55,01 56,16 62,69
200 1,4 480 103,86 71,95 73,44 79,53
1,6 480 126,40 90,72 92,72 105,04
1,8 480 148,22 111,20 113,37 118,50
2 480 171,03 133,31 135,83 132,84
M.L.E– Método da Largura Efetiva
M.S.E – Método da Seção Efetiva
M.E.F – Método dos Elementos Finitos, ANSYS(2011)
M.R.D– Método da Resistência Direta.

3 Instabilidade local de seções do tipo rack com perfurações

3.1 Seções analisadas

Nesta etapa, foi feita a análise de estabilidade elástica das seções do tipo rack
apresentadas na Figura 4, com a inserção de perfurações retangulares na alma do pilar,
de acordo com o arranjo apresentado na Figura 5. As dimensões destas perfurações
variaram de acordo com a largura da alma (bw): a altura do furo e a distância entre eles
(hf) foi de 10%, 20%, 30% e 40% de bw; a largura do furo (bf) foi adotada como 10% de
bw em todas as simulações; a distância entre o furo e a borda lateral da alma foi de 20%
de bw em todos os modelos; e a distância entre as duas filas de perfurações foi de 40%
de bw em todas as análises.

328
ℎ𝑓 ℎ𝑓 ℎ𝑓 ℎ𝑓
= 10% = 20% = 30% = 40%
𝑏𝑤 𝑏𝑤 𝑏𝑤 𝑏𝑤

Figura 5. Arranjo das perfurações na alma.

O objetivo deste trabalho é o estudo da instabilidade local. No entanto, a seção tipo rack
é bastante susceptível à ocorrência da instabilidade distorcional. Para as seções sem
perfurações, esta probabilidade foi descartada por análises via teoria generalizada de
vigas, através do programa GBTul (Bebiano ET AL., 2008). No entanto, para as seções
com perfurações esta análise foi feita por meio do modelo via elementos finitos, dada a
impossibilidade de fazê-la via GBTul.
A Figura 6 apresenta os resultados obtidos para duas seções com perfurações. No
primeiro caso, observa-se uma seção em que ocorre a instabilidade distorcional,
diferentemente da segunda, onde a elevada esbeltez das chapas a faz susceptível
puramente à instabilidade local em comprimentos inferiores àqueles em que ocorre a
instabilidade global. Sendo esta a situação buscada neste trabalho, foram eliminadas as
seções em que ela não foi observada, sendo consideradas nas etapas subseqüentes as
seções apresentadas na Tabela 3.

329
(a)

(b)

Figura 6. Curvas de estabilidade para seções do tipo rack (a) com instabilidade distorcional (b)
sem instabilidade distorcional.

Tabela 3. Seções que não apresentam o modo distorcional.

bw(mm) t(mm) ℎ𝑓
(%)
𝑏𝑤
150 1,2; 1,4 e 1,6 10, 20, 30 e 40
180 1,2; 1,4 e 1,6 10, 20, 30 e 40
200 1,2; 1,4 e 1,6 10, 20, 30 e 40

3.2 Adaptação do método da seção efetiva para seções rack com perfurações

O Método da Seção Efetiva, desenvolvido por Batista (2009) e apresentado na NBR


14762 (ABNT, 2010), prevê a determinação da força axial de instabilidade local elástica
(Nl) a partir da equação 1, onde kl é o coeficiente de instabilidade local para a seção
completa.

330
𝜋2 𝐸
𝑁𝑙 = 𝑘𝑙 𝑏 2 𝐴 (1)
12(1−𝜐2 )( 𝑤 )
𝑡

Neste trabalho, a equação 1 foi adaptada para a consideração do efeito das perfurações,
considerando-se a força axial de instabilidade local elástica com perfurações (Nl,net) e o
coeficiente de instabilidade local para a seção completa com perfurações (kl,net) (Equação
2).
𝜋2 𝐸
𝑁𝑙,𝑛𝑒𝑡 = 𝑘𝑙,𝑛𝑒𝑡 𝑏 2 𝐴 (2)
12(1−𝜐2 )( 𝑤 )
𝑡

Os valores da força axial de instabilidade local elástica com perfurações (Nl,net) foram
determinados a partir do modelo numérico via elementos finitos e levados à equação 2
para a determinação dos valores dos coeficientes de instabilidade local para a seção
completa com perfurações (kl,net) dos protótipos considerados, conforme apresenta a
Tabela 4.

Tabela 4. Valores do coeficiente de instabilidade local para a seção completa com perfurações

t(mm) 1,2 1,4 1,6


bw(mm) hf/bw Nl,net(kN) kl,net Nl,net(kN) kl,net Nl,net(kN) kl,net
0% 29,03 5,70 45,32 5,71 67,41 5,69
10% 26,79 5,36 42,48 5,35 63,31 5,34
150 20% 26,90 5,38 42,69 5,38 63,67 5,37
30% 25,50 5,10 40,46 5,10 60,33 5,09
40% 23,90 4,78 37,88 4,77 56,57 4,78
0% 22,20 5,94 35,59 5,96 57,87 5,93
10% 21,27 5,69 33,73 5,65 50,27 5,64
180 20% 21,51 5,76 34,15 5,72 50,95 5,72
30% 20,49 5,48 32,53 5,45 49,12 5,51
40% 19,60 5,25 31,32 5,25 46,70 5,24
0% 19,86 6,20 31,46 6,19 47,10 6,21
10% 19,65 6,14 31,16 6,13 46,43 6,12
200 20% 19,44 6,07 30,87 6,07 46,07 6,07
30% 18,30 5,72 29,06 5,72 43,37 5,71
40% 17,61 5,50 27,91 5,49 41,53 5,47

Os valores da Tabela 4 são apresentados na Figura 7. Observa-se que o aumento do


tamanho das perfurações reduz o valor do coeficiente de instabilidade local para a seção
completa com perfurações (kl,net). No entanto, o comportamento das curvas é bastante
similar, com a variação da largura da alma tendo pouca influência e a espessura da chapa

331
tendo influência desprezível para uma mesma largura da alma. Este fato é explicado pelo
fato de que o valor do coeficiente de instabilidade da placa é determinado pelas
condições de contorno, e não pelas dimensões da mesma.

Figura 7. Variação do coeficiente de instabilidade local para a seção completa com perfurações
em relação às dimensões dos furos.

Foi feito então o ajuste polinomial para a obtenção de uma curva de tendência para a
determinação do coeficiente de instabilidade local para a seção completa com
perfurações (kl,net), que é apresentada na equação 3.
ℎ 4 ℎ 3 ℎ 2 ℎ
𝑘𝑙,𝑛𝑒𝑡 = 𝑘𝑙 + 388,09 (𝑏 𝑓 ) − 343,93 (𝑏 𝑓 ) + 94,14 (𝑏 𝑓 ) − 9,76 (𝑏 𝑓 ) (3)
𝑤 𝑤 𝑤 𝑤

4 Determinação da força axial de compressão resistente para pilares do


tipo rack com perfurações

O método apresentado na seção anterior foi utilizado na previsão da força axial


resistente (Nc,R), utilizando o método da seção efetiva, utilizando as equações 2 e 3. Num
primeiro momento, foi adotada na equação 2 a área líquida da seção transversal, ou
seja, a área da seção mais afetada pelas perfurações. A Tabela 5 apresenta os resultados

332
obtidos para as seções em estudo, e faz a comparação entre os resultados do método
da seção efetiva (Nc,R MSE) e valores numéricos (Nc,R Num), a fim de verificar sua viabilidade.

Tabela 5. Comparação entre o método da seção efetiva e resultados numéricos.

bw t L ℎ𝑓 Nc,R Num Nc,R MSE Nc,R MSE/ Nc,R-sf


(%)
(mm (mm (mm) 𝑏𝑤 (kN) (kN) Nc,R Num (kN)
) )
375 10 54,91 54,92 1,00 61,17
390 20 56,49 54,96 0,97 60,65
1,2
405 30 65,26 54,36 0,83 62,01
420 40 63,11 52,71 0,83 61,69
375 10 71,56 71,65 1,00 76,00
390 20 72,08 71,71 0,99 75,08
150 1,4
405 30 82,47 70,95 0,86 76,16
420 40 77,93 68,77 0,88 75,65
375 10 88,85 90,07 1,01 91,18
390 20 89,76 90,16 1,00 90,07
1,6
405 30 100,65 88,36 0,88 91,11
420 40 92,38 86,35 0,93 90,02
450 10 52,84 52,44 0,99 58,43
468 20 57,03 52,57 0,93 60,69
1,2
486 30 60,51 51,55 0,85 59,73
504 40 59,30 50,80 0,85 58,86
450 10 68,34 68,51 1,00 72,93
468 20 72,93 67,75 0,93 75,09
180 1,4
486 30 75,14 67,40 0,90 71,93
504 40 73,72 66,79 0,91 72,95
450 10 85,39 86,26 1,01 87,36
468 20 88,74 86,55 0,97 89,74
1,6
486 30 91,26 85,28 0,93 87,86
504 40 87,75 83,59 0,95 87,10
500 10 54,29 52,07 0,96 55,45
520 20 55,89 51,77 0,93 57,43
1,2
540 30 55,23 50,9 0,92 55,72
560 40 54,03 49,94 0,93 54,56
500 10 70,74 68,06 0,96 68,92
520 20 70,52 68,52 0,97 70,84
200 1,4
540 30 69,26 66,08 0,95 69,96
560 40 66,98 64,97 0,97 67,95
500 10 82,53 81,75 0,99 83,37
520 20 83,83 80,57 0,96 84,86
1,6
540 30 86,73 79,59 0,92 82,41
560 40 83,08 76,23 0,92 81,58

333
Observa-se na Tabela 5 que o método da seção efetiva para pilares com perfurações
leva a valores conservadores em relação ao resultado numérico, aqui considerado como
referência. Para perfurações pequenas (hf = 10% e 20% de bw), observa-se boa
correlação entre os valores teóricos e numéricos. No entanto, quando se aumenta a
altura do furo (hf = 30% e 40% de bw) e, consequentemente, o espaçamento entre eles,
observa-se o aumento da dispersão entre os resultados.
Na Tabela 5 também são apresentados os resultados numéricos da força axial resistente
determinada numericamente para os pilares sem perfurações (Nc,R-sf). Comparando-se
estes valores com os resultados dos pilares com perfurações, observa-se que, em
algumas seções com perfurações onde hf = 30% de bw ou 40% de bw, diferentemente do
que se espera, a inserção do furo aumenta a resistência do pilar em relação ao caso sem
perfurações. Estes valores são destacados na Tabela 5. Estas observações indicam a
influência das dimensões dos furos e do espaçamento entre os furos no comportamento
do pilar.
Entre as particularidades que podem ser induzidas pelas perfurações é a ocorrência de
um modo local concentrado entre os furos. Souza (2013) e Faria (2016) estudaram este
fenômeno, e observaram sua influência no comportamento e na resistência do pilar.
Nas seções avaliadas neste trabalho, observou-se a ocorrência desta concentração dos
deslocamentos da alma da região entre os furos nas seções com perfurações onde h f =
30% de bw ou 40% de bw.
A Tabela 6 apresenta os deslocamentos na alma para as seções com espessura de chapa
igual a 1,2 mm e bw= 150 mm, quando submetidas à análise de estabilidade elástica.
Observa-se que, para os pilares com perfurações em que hf = 10% de bw ou 20% de bw a
inserção das perfurações não altera substancialmente o desenvolvimento do modo, com
as meias ondas desenvolvendo-se independentemente do posicionamento dos furos.
Já para os pilares com perfurações onde hf = 30% de bw ou 40% de bw pode-se ver a
concentração dos deslocamentos na região entre os furos. Este modo concentrado na
região entre os furos é chamado modo localizado de placa (Souza, 2013) e modifica o
comportamento esperado do pilar. Ressalta-se que para as outras seções analisadas
neste trabalho o comportamento observado foi semelhante, ou seja, onde ocorre o

334
modo localizado de placa, a inserção das perfurações induz ao aumento da força axial
resistente (Nc,R), conforme apresentado na Tabela 5.

Tabela 6. Deslocamentos na análise de estabilidade elástica na alma das seções com

bw = 150 mm e t = 1,2 mm.

t ℎ𝑓
(%)
(mm) 𝑏𝑤 Deslocamentos

10

20

1,2

30

40

Estes resultados indicam que o surgimento do modo de instabilidade localizado entre


furos, devido à altura destes ser elevada, faz com que a utilização da área líquida não
seja adequada para esta avaliação. Foram formuladas propostas que considerem os
diversos parâmetros geométricos das perfurações, buscando um melhor ajuste do
método proposto. Em todas as equações, buscando quantificar a influência da
distribuição das perfurações na área líquida da seção a ser considerada.

𝐴𝑚𝑜𝑑 = 𝐴𝑔 − 𝜉𝐴𝑓 (4)

𝐴𝑚𝑜𝑑 = 𝐴𝑔 − (1 − 𝜑)𝐴𝑓 (5)

335
ℎ𝑓

𝐴𝑚𝑜𝑑 = 𝐴𝑔 − (10,5𝛿)𝑏𝑤 𝐴𝑓 (6)

Sendo:

𝐴𝑚𝑜𝑑 área utilizada no Método da Seção Efetiva para seções com perfurações;
𝐴𝑔 área bruta da seção;
𝐴𝑓 somatório da área dos furos na seção transversal líquida;
𝜉relação entre as alturas do furo e do pilar;

𝜑relação entre a altura do furo e distância entre os furos ao longo da altura (𝑑𝑓 ≤ 1);
𝑓

𝛿relação entre as áreas retiradas (𝐴𝑟𝑒𝑡 ) para inserção dos furos e área da
alma (𝑏𝑤 . ℎ𝑐 ) ;
ℎ𝑓
relação entre a altura dos furos e largura da alma.
𝑏𝑤

A Erro! Fonte de referência não encontrada.

Figura 2 representa os parâmetros geométricos utilizados nas equações (4), (5) e (6).

336
Figura 8. Parâmetros geométricos das perfurações.

A Equação (4) considera a influência da altura da perfuração em relação à altura total


do pilar, considerando que, quanto maior esta relação, mais próxima da área líquida
mínima (Anet) deve ser a área considerada na análise (Amod).
A Equação (5) considera a influência da relação entre a distância entre furos e sua altura.
Neste caso, maiores relações levam a áreas consideradas (Amod) mais próximas da área
bruta (Ag), por ser menor a influência do furo.
A Equação (6) busca representar a redução da área na alma da seção devida à existência
dos furos. Busca ainda quantificar a influência da relação entre a altura do furo e a
largura da alma. Neste contexto, a constante 10,5 é inserida empiricamente a fim de
buscar um ajuste entre os diversos parâmetros presentes na fórmula.
Os valores obtidos da força axial resistente (Nc,R) as seções em estudo são apresentados
na Tabela 7.

Tabela 7. Forças axiais resistentes obtidas numericamente e pelas formulações propostas.

bw t ℎ𝑓 Nc,R Num Eq (4) Eq (5) Eq (6) Nc,R Nc,R Nc,R Num/


(mm) (mm) 𝑏𝑤 (kN) (kN) (kN) (kN) Num/ Num/ Eq (6)
Eq (4) Eq (5)
10 54,91 56,52 58,50 53,77 0,97 0,94 1,02
20 56,49 56,66 58,23 56,54 1,00 0,97 1,00
1,2 30 65,26 55,61 56,79 56,96 1,17 1,15 1,15
40 63,10 54,56 55,40 56,23 1,16 1,14 1,12
10 71,56 73,74 76,32 70,17 0,97 0,94 1,02
150 1,4 20 72,08 73,96 76,01 73,81 0,97 0,95 0,98
30 82,47 72,60 74,13 74,36 1,14 1,11 1,11
40 77,93 71,20 72,30 73,39 1,09 1,08 1,06
10 88,85 92,73 95,97 88,24 0,96 0,93 1,01
20 89,76 93,01 95,58 92,83 0,97 0,94 0,97
337
1,6 30 100,65 91,33 93,26 93,56 1,10 1,08 1,08
40 92,38 89,31 90,69 92,06 1,03 1,02 1,00
10 52,84 54,09 56,20 51,16 0,98 0,94 1,03
20 57,03 54,38 56,05 54,24 1,05 1,02 1,05
1,2 30 60,51 53,46 54,72 54,90 1,13 1,11 1,10
40 59,30 52,46 53,37 54,25 1,13 1,11 1,09
10 68,34 70,67 73,42 66,85 0,97 0,93 1,02
20 72,93 71,07 73,26 70,90 1,03 1,00 1,03
180
1,4 30 75,14 69,89 71,53 71,77 1,08 1,05 1,05
40 73,72 68,54 69,71 70,87 1,08 1,06 1,04
10 85,39 88,98 92,44 84,18 0,96 0,92 1,01
1,6 20 88,74 89,51 92,26 89,31 0,99 0,96 0,99
30 91,26 88,43 90,51 90,82 1,03 1,01 1,00
40 87,75 86,31 87,79 89,25 1,02 1,00 0,98
10 54,29 53,76 55,98 50,67 1,01 0,97 1,07
20 55,89 53,61 55,35 53,46 1,04 1,01 1,05
1,2 30 55,23 52,47 53,78 53,96 1,05 1,03 1,02
40 54,03 51,78 52,72 53,64 1,04 1,02 1,01
10 70,74 70,27 73,17 66,24 1,01 0,97 1,07
200 1,4 20 70,52 70,97 73,28 70,79 0,99 0,96 1,00
30 69,26 68,64 70,35 70,60 1,01 0,98 0,98
40 66,98 67,69 68,92 70,13 0,99 0,97 0,96
10 82,53 89,58 93,28 84,46 0,92 0,88 0,98
20 83,83 90,29 93,23 90,07 0,93 0,90 0,93
1,6 30 86,73 86,53 88,69 89,01 1,00 0,98 0,97
40 83,08 85,25 86,80 88,33 0,97 0,96 0,94

Observa-se que o emprego das equações propostas leva a um melhor ajuste entre os
resultados numéricos, aqui considerados como referência, e os valores obtidos pelo
método da seção efetiva com as modificações propostas neste trabalho. Pode-se ainda
afirmar que as três equações propostas levam a resultados similares, indicando a
necessidade de consideração, além da área líquida, da distribuição geométrica das
perfurações ao longo da alma.

5 Considerações finais

A utilização de perfis formados a frio com perfurações é comum, devido ao efeito


benéfico dos furos na montagem destas estruturas. No entanto, a influência das
perfurações no comportamento e na resistência destas estruturas ainda não é
consideradas nos procedimentos normativos. Este trabalho avalia a resistência e o

338
comportamento de seções do tipo rack com perfurações, a partir da comparação entre
resultados obtidos numericamente por um modelo previamente validado e resultados
teóricos obtidos por meio da introdução de modificações no método da seção efetiva,
constante na NBR 14762:2010.
Esta avaliação se mostrou promissora para as seções analisadas. No entanto,
observaram-se particularidades relacionadas às dimensões das perfurações e sua
distribuição ao longo da alma da seção rack, que induzem mudanças significativas em
seu comportamento e resistência.
Para considerar esta influência geométrica, foram propostas formulações para avaliação
de sua influência na determinação da área a ser utilizada na determinação da força axial
resistente a partir do procedimento normativo modificado utilizado nesta pesquisa.
Estas formulações mostraram-se promissoras, indicando a possibilidade de ampliação
deste estudo para outras seções e arranjos de perfurações.

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