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3.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 A Produção de Resíduos Sólidos no Brasil e sua Destinação

De acordo com o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), por meio


da Resolução nº 005/1993, e a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT),
por meio da NBR nº 1004:2004, temos como definição de resíduos sólidos:
“Resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades de origem
industrial, doméstica, hospitalar, comercial agrícola, de serviços de varrição. Ficam
incluídos nesta definição os provenientes dos sistemas de tratamento de água,
aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como
determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável seu lançamento na rede
pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnicas e
economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível.”
A classificação dos resíduos sólidos, conforme a norma, foi definida da
seguinte forma:
Tabela 1: Classificação dos resíduos de acordo com sua periculosidade
Classificação dos Resíduos Descrição
Resíduos que apresentam periculosidade ou pelo menos
Classe I – Perigosos uma das seguintes características: inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxicidade ou patogenicidade.
São os resíduos não perigosos e que não se enquadram
Classe II – Não perigosos na classificação de resíduos classe I e são divididos em:
Resíduos classe II A: Não Inertes e classe II B: Inertes.
São aqueles que não se enquadram nas classificações de
Classe II A – Não inertes resíduos classe I ou de resíduos classe II B e podem ter
propriedades como biodegradabilidade, combustibilidade
ou solubilidade em água.
 São quaisquer resíduos que, quando amostrados de uma
forma representativa e submetidos a um contato dinâmico
Classe II B - Inertes e estático com água destilada ou desionizada, à
temperatura ambiente não tiverem nenhum de seus
constituintes solubilizados a concentrações superiores
aos padrões de potabilidade de água, excetuando-se
aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor.

Fonte: ABNT NBR 10004/2004


Em virtude de suas amplas classificações e seu grande volume de geração
principalmente na construção civil, que segundo Paula Lopes Oliveira (2017), atingiu
uma margem de 3.790.122 toneladas geradas por mês contribuindo para a
degradação do meio ambiente, a gestão de resíduos é normatizada em vários
países, sendo no Brasil o CONAMA em acordo e parcerias com entidades estaduais
e municipais, o responsável pela Resolução n° 307, de 5 de julho de 2002, que define
orientações critérios e mecanismos, para a gestão dos resíduos da construção civil.

Tabela 2: Classificação e destinação dos resíduos de Construção Civil

Fonte: Resolução CONAMA nº 307/2002

Segundo o estudo “Solucionar a Poluição Plástica: Transparência e


Responsabilização”, feito pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF), o Brasil é o
quarto país no mundo que mais produz lixo. São 11.355.220 toneladas e apenas
1,28% de reciclagem. Só está atrás dos Estados Unidos (1º lugar), da China (2º) e da
Índia (3º).
No Brasil, segundo dados do Banco Mundial, mais de 2,4 milhões de
toneladas de plástico são descartadas de forma irregular, sem tratamento e, em
muitos casos, em lixões a céu aberto. Aproximadamente 7,7 milhões de toneladas de
lixo são destinados a aterros sanitários.
De acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil de 2017/2018,
realizado pela ABRELPE (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e
Resíduos Especiais), entre 2017 e 2018 a geração de RSU no Brasil aumentou
quase 1% e chegou a 216.629 toneladas diárias. Como a população também cresceu
no período (0,40%), a geração per capita teve elevação um pouco menor (0,39%).
Isso significa que, em média, cada brasileiro gerou pouco mais de 1 quilo de resíduo
por dia.
Gráfico 1: Geração de RSU no Brasil

Fonte: Abrelpe/IBGE

Das 72,7 milhões de toneladas coletadas no Brasil em 2018, 59,5% tiveram


disposição final adequada e foram encaminhadas para aterros sanitários, uma
expansão de 2,4% em relação ao valor total do ano anterior.
Porém, unidades inadequadas como lixões e aterros controlados ainda têm
participação significativa (23% e 17,5%, respectivamente). Estão presentes em todas
as regiões e recebem mais de 80 mil toneladas de resíduos por dia, com elevado
potencial de poluição ambiental e impactos negativos à saúde (ABRELPE).
Gráfico 2: Disposição Final de RSU por Tipo de Destinação

Fonte: Abrelpe/IBGE

Diante dos dados apresentados se torna explícito o reflexo de uma sociedade


ainda incapaz de raciocinar sustentavelmente, apenas seguindo o constante fluxo de
uma modernidade baseada em consumismo, que nos dispõe uma falsa sensação de
acomodação. Por exemplo, um dos maiores aliados da nossa rotina hoje em dia são
os serviços delivery de comida e bebida, e ainda que muitos estabelecimentos se
esforcem para diminuir o máximo possível a quantidade de plástico envolto na
embalagem dos produtos, parte da responsabilidade fica nas mãos do cliente que o
recebe, que diversas vezes inclusive inconscientemente, acumula cada vez mais
estes tipos de resíduos em sua residência, deixando para realizar o descarte quando
os mesmos já se encontram em um volume exagerado, sendo destinados em
conjunto para a coleta de lixo comum, sem tomar consciência dos enormes
benefícios que toda aquela quantidade de canudos, garrafas PET, garrafas de vidro,
latinhas, entre outros itens recicláveis, poderiam proporcionar caso já fossem
inicialmente separados para a coleta seletiva ou destinados diretamente para um
centro de reciclagem.
O fato é que a falta de interesse ambiental no Brasil é algo cultural, onde não
vemos o próprio Poder Público investindo o suficiente para reverter tais índices ou
quaisquer demais problemáticas pertinentes ao meio ambiente, ocasionando como
consequência um vazio na educação ambiental da sociedade.
Os municípios se encontram endividados, havendo um contingente
considerável de pessoas que não são alcançadas por serviços regulares de coleta
porta a porta: 1 em cada 12 brasileiros não tem coleta regular de lixo na porta de
casa, sendo a justificativa, que os municípios não possuem recursos para custear
este processo (ABRELPE).
A estagnação ou o retrocesso de alguns índices é potencializado pela falta de
recursos destinados para custeio dos serviços de limpeza urbana que, em 2018,
registrou queda de 1,28% de investimentos, além da perda de quase 5 mil postos de
trabalho direto/formal. Para a execução de todos os serviços de limpeza urbana
foram aplicados pelos municípios apenas R$ 10,15 por habitante/mês, em média
(ABRELPE).
De acordo com o estudo, o país utiliza o aterro sanitário como forma de
disposição ambientalmente correta (59,5% do volume coletado). Entretanto, mais de
3 mil municípios ainda destinam seus resíduos para locais inadequados, sendo os
lixões ainda trazendo consigo a problemática dos catadores de lixo, que tiram dali o
seu sustento, ainda que tão expostos a diversos problemas graves de saúde.

3.2 Os Lixões a Céu Aberto e o Impacto ao Meio Ambiente

Os lixões a céu aberto (aterros comuns) apresentam índices de contaminação


humana superiores aos índices de aterros controlados e de aterros sanitários. No
caso os índices de aterros controlados são maiores que os índices de aterros
sanitários. “Os catadores sabem do risco que estão correndo, mas acabam
justificando que o trabalho é sempre em primeiro lugar” (CAVALCANTE e FRANCO,
2007).

Tabela 3: Impactos ambientais provenientes dos lixões a céu aberto


Alteração da DQO e DBO da água,
influenciando negativamente na fauna
e flora macro e microscópica. A
contaminação dos aquíferos é invisível
Alteração dos Recursos Hídricos Geração de chorume e pode transformar-se em um
problema crônico, na medida em que
só venha a ser identificado por meio
de seus efeitos na saúde pública.

O processo de decomposição dos


resíduos sólidos por meio da ação dos
microrganismos, produz o biogás que
é composto por hidrogênio, nitrogênio,
Alteração da Qualidade do Ar Produção de gases poluentes e gás sulfídrico dióxido de carbono e
material particulado metano. Este último é altamente
inflamável e junto com o ar pode
formar uma mistura explosiva; por isso
é comum a combustão espontânea do
lixo em vazadouros a céu aberto.

As áreas que recebem resíduos


sólidos de forma inadequada durante
muitos anos, mesmo depois de
desativadas terão seu uso futuro
comprometido. Materiais tóxicos
poderão ser retidos pelos solos e
Alteração da Qualidade do Solo Degradação sanitária e assimilados pelos vegetais, não sendo
ambiental de grandes recomendada, deste modo, a
extensões de solo utilização de culturas para
alimentação. Vale ressaltar que muitas
substâncias contidas nos resíduos
urbanos são corrosivas para alguns
materiais de construção e apresentam
risco de explosões devido o acumulo
de gases mesmo após anos,
inviabilizando a urbanização na área.
Fonte: Adaptado de SISINNO (2012)
3.3 O Aterro Sanitário Como Solução Para a Disposição Final dos
Resíduos Sólidos Urbanos
Em 3 de agosto de 2010 foi publicado no Diário Oficial da União a Lei Nº
12.305, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Essa nova lei
inclui estratégias de gestão integrada, além de especificar diversas formas de
gerenciamento dos resíduos. Traz também a hierarquia de prioridades na gestão e
gerenciamento dos resíduos sólidos, que são: não geração, redução, reutilização,
reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente
adequada dos rejeitos, dentre elas os aterros sanitários, definidos por MONTEIRO et
al. (2001) como, método para disposição final dos resíduos sólidos urbanos, sobre
terreno natural, através do seu confinamento em camadas cobertas com material
inerte, geralmente solo, segundo normas operacionais específicas, de modo a evitar
danos ao meio ambiente, em particular à saúde e à segurança pública.
A figura abaixo destaca alguns elementos típicos dos projetos de aterros
sanitários tais como: divisão em células, compactação dos resíduos, camada de
cobertura, sistema de impermeabilização de base (liner), sistemas de drenagem e
tratamento para líquidos e gases, monitoramento geotécnico e ambiental, entre
outros. Todas essas medidas visam minimizar os impactos ambientais e proteger o
ambiente onde será implantando o aterro.
Figura 1. Desenho esquemático da área de um aterro sanitário

Fonte: IPT (2000)


Através da Tabela 4, conforme abaixo, é possível perceber que o aterro
sanitário é uma tecnologia de disposição final de resíduos viável, porém, causa
grande impacto na área de implantação.

Tabela 4. Vantagens e desvantagens da implantação de um aterro sanitário

Fonte: Adaptado de GRS/UFPE (2014)

A operação desses empreendimentos precisa ser monitorada de forma


correta, pois erros podem acarretar danos ambientais imensuráveis. Os objetivos do
monitoramento são: acompanhar o comportamento geomecânico e o desempenho
ambiental do aterro, de forma a permitir a identificação, em tempo hábil, de
alterações no padrão de comportamento previsto e a proposição de medidas
preventivas e corretivas, orientando os trabalhos de conservação e manutenção. Os
monitoramentos geotécnico e ambiental de um aterro sanitário são realizados por
meio dos resultados das observações de campo, da análise da instrumentação
instalada e das análises físico-químicas e microbiológicas em amostras de águas
superficiais e subterrâneas, e em amostras de líquidos lixiviados. São monitoradas
ainda as condições de qualidade dos solos e do ar (CATAPRETA et al., 2016).
A camada de base de aterros sanitários é de difícil monitoramento após a
disposição de resíduos na Célula Sanitária. As liners devem funcionar como isolante
entre o maciço sanitário e o solo natural. Os drenos presentes nesta camada devem
funcionar de modo que o lixiviado produzido seja captado e levado para tratamento.
Então, erros operacionais podem ser de difícil detecção e de grande impacto
ambiental. Portanto, os cuidados nesta camada são essenciais para minimização dos
riscos ambientais impostos na operacionalização do aterro sanitário, pois o fato de
estarem estocados não quer dizer que estejam inativos.
As condições de armazenagem, bem como as influências de agentes naturais
(chuva e microrganismos) ativam processos físico, químico e biológicos de
transformação. Os elementos naturais são dissolvidos, a água desprende finas
partículas e o principal responsável pela degradação dos resíduos é a bioconversão
da matéria orgânica em formas solúveis e gasosas. Com isto, temos a formação de
biogás e os lixiviados.

Figura 2. Principais impactos ambientais resultantes da disposição de resíduos em aterro


sanitário

Fonte: CASTILHOS JR (2003, p. 20)


4. RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS POR DEPOSIÇÃO DE RESÍDUOS
SÓLIDOS

A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) – Lei nº 6938/81, faz as


seguintes citações:
Art. 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação,
melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar,
ao País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da
segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os
seguintes princípios:
(...)
VIII – recuperação de áreas degradadas;
Deste modo, a legislação deixa explícito que a recuperação de áreas
degradadas se faz necessária para assegurar o bem estar da população em
diversos âmbitos, sendo seguro afirmar que recuperar as áreas que durante anos
foram destinadas ao recebimento de resíduos é imprescindivelmente, uma questão
de o município estar em conformidade com a lei.
Segundo Moreira et al. (2004), são consideradas como áreas degradadas
extensões naturais que perderam a capacidade de recuperação natural após
sofrerem distúrbios. Portanto, um Aterro Sanitário se define como uma área
ambientalmente degradada por geralmente serem utilizadas encostas onde havia
um solo, uma vegetação e a fauna natural e que foram retirados para a implantação
de atividades de recebimento e armazenamento de resíduos sólidos, o que sem
dúvidas, causam distúrbios severos e que impedem uma regeneração natural da
área, sendo de responsabilidade do município revitalizar esta área após o término de
sua vida útil.

4.1 A Técnica de Revegetação e Sua Importância

4.1.1 Estabilidade dos Taludes

Taludes podem ser compreendidos como quaisquer superfícies inclinadas que


limitam um maciço de terra, de rocha ou de terra e rocha, que podem ser naturais ou
artificiais (Caputo, 1988). Os resíduos são depositados em células nos aterros
sanitários, formando taludes que necessitam de revegetação após a desativação do
entorno, pois a ausência de vegetação em taludes além de possibilitar
deslocamentos de massa, também pode contribuir para outros danos, como o
processo de erosão de solos. E quando se tratando de uma área com grande
acúmulo de resíduos, um deslizamento de terra implicaria em toneladas de lixo sendo
espalhadas em córregos, residências ou até mesmo estradas, causando impactos
sócios e ambientais imensuráveis, incluindo risco de mortes como já aconteceu em
um aterro na Etiópia em 2017.

Figura 3. Deslizamento de lixo em aterro na Etiópia, 2017

Fonte: Espaço Ecológico no Ar, 2007

4.1.2 Dificuldades Provenientes da Formação de Solo

A suma importância da revegetação dos taludes também traz consigo


dificuldades neste processo, tais como: falta de solo de superfície, a deficiência de
nutrientes, a alta declividade, a dificuldade em selecionar espécies para a
revegetação e a escolha de um método que apresente resultados mais satisfatórios
no sentido de realmente estabilizar esse talude (EINLOFT et al.1997).
Nos aterros, os resíduos são depositados e selados com uma camada de solo
chamada de material inerte, portanto quando uma célula de deposição de resíduos é
encerrada, o que se tem é uma camada superficial de um solo muito argiloso.
De acordo com Carolinne Matias de Souza (2007), o solo da área de um aterro
sanitário não possui estrutura primária necessária para estabelecimento e
crescimento de raízes de boa parte das espécies arbóreas pioneiras e definitivas. Por
este motivo recomenda-se fazer uma primeira fase de colonização do solo por
consórcios herbáceos e arbustivos (geralmente gramíneas e leguminosas). Tendo as
condições do solo melhoradas, será possível pensar no restabelecimento da
vegetação original daquela área, o que é o principal objetivo de se promover a
recuperação de áreas degradadas. A figura abaixo mostra um esquema projetado
justamente para a recuperação de uma área degradada de aterro sanitário.

Figura 4. Esquema do desenvolvimento de um projeto para área degradada de um aterro


sanitário no município de Petrópolis, RJ.

Fonte: PLANTHA PLANEJAMENTO E TECNOLOGIA LTDA, adaptado de Carolinne Souza,


2007

O esquema mostra o processo de estabelecimento da cobertura vegetal da


área degradada. Primeiramente as sementes de gramíneas e leguminosas são
disponibilizadas através de uma das técnicas conhecidas para recuperação de
taludes. Após o crescimento destas espécies no campo, haverá uma melhora das
condições químicas e físicas do solo que possibilitará a implantação de espécies
pioneiras e em seguida, das definitivas visando a recomposição florestal do local,
atingindo por fim o esquema de número 6, onde a fisionomia deste povoamento deve
ser semelhante ao que havia originalmente no local.

5. ESTUDO DE CASO E RESULTADOS

O Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho, situado no Km 4,5 da Rodovia


Washington Luiz (Rio-Petrópolis) sempre foi utilizado como aterro sanitário por ser a
solução mais simples e de menor custo operacional para o tratamento final do lixo,
constituindo uma área de 1.300.000 m² recebendo em média cerca de 6.700
toneladas de resíduos por dia. No entanto, teve suas atividades encerradas em junho
de 2012, com a promessa de que o sub-bairro seria revitalizado.

Figura 5. Entrada do Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho

Fonte: Autora, 2020

Embora tenha sido o maior depósito de lixo da América Latina, o lixão de


Jardim Gramacho nunca foi um aterro sanitário como algumas autoridades insistiam
em defini-lo. Desrespeitando a legislação ambiental desde sua implantação há mais
de 3 décadas atrás, situado na esquina entre o Rio Sarapuí e a Baía de Guanabara,
foi implantado em cima de um manguezal, que de acordo com o atual Código
Florestal (Lei nº12.651/12), é definido que beira de Rio, beira de Baía e manguezal
são APPs (Áreas de Preservação Permanente), locais que não podem ser alterados
por sua fundamental relevância no equilíbrio ambiental. 
O local ainda dispunha de um grande volume de catadores que tiravam dali o
seu sustento, trazendo à tona a problemática socioeconômica e ambiental que reflete
uma população completamente esquecida pelo Poder Público, além de permanecer
constantemente exposta à doenças de pele e patologias mais graves, por andarem
em cima de seringas usadas e lixo hospitalar.
Assim, fica explícito o nível de irregularidade do aterro, justificando ser mais
apropriado o classificar como um verdadeiro lixão a céu aberto, recebendo o despejo
de todos os tipos de resíduos, inclusive aqueles que possuem sua destinação
apropriada definida pela PNRS, que é o exemplo do lixo hospitalar, cujo seu destino
final deve ser a incineração, trazendo cada vez mais em evidência a falta de
interesse em pôr em prática uma eficaz gestão de resíduos, vide que a incineração é
um tratamento de alto custo, sendo assim, algo inconveniente para aqueles que
deveriam colocar a saúde pública acima do próprio lucro.

Figura 6. Recebimento de lixo em depósitos ilegais ao redor do antigo aterro

Fonte: Autora, 2020


8 anos após a desativação do aterro, torna-se possível concluir que a situação
do local se encontra exatamente a mesma. Em visita ao entorno em outubro de 2020,
foi relatada a informação de que o local estava totalmente abandonado há mais de 6
meses, não sendo liberada a entrada além da cerca conforme Figura 5, com a
justificativa que o local agora estava servindo apenas para serem realizados reparos
nos equipamentos de gás, vide que após a desativação, houve a exploração do gás
metano para geração de energia. Sendo curioso que a segunda justificativa para a
proibição da entrada ter sido o fato do local também se encontrar sem energia há
mais de 6 meses, nos levando a concluir que a premissa de gerar energia a partir do
gás metano proveniente do lixão, também tenha sido um fracasso.

Figura 7. Lixo acumulado em depósitos ilegais ao redor do antigo aterro

Fonte: Autora, 2020

Ainda que não tenha sido possível acessar o centro do antigo Aterro de Jardim
Gramacho, não se fez necessário chegar tão perto para presenciar a precariedade do
ambiente. Toda a região ainda recebe lixo em depósitos ilegais, sendo estes
totalmente acumulados e sem nenhum tipo de tratamento ou destinação adequada,
se caracterizando como o mesmo lixão a céu aberto de sempre, ainda que em menor
volume, porém trazendo o mesmo nível de contaminação ao meio ambiente.
O local se encontrava com inúmeros pontos lamacentos, acumulando
imensidades de plásticos, sendo impossível mensurar a quantidade de lixo tóxico que
se acumula ali, evidenciando ainda ser um enorme vetor para ratos, urubus e a para
a proliferação de chorume.

Figura 8. Degradação do ambiente nos depósitos ilegais ao redor do antigo aterro

Fonte: Autora, 2020

Apesar da grande quantidade de lixo despejada nos entornos do aterro, ainda


havia movimentação de equipes de coletas seletivas. Embora seja um ponto
interessante, se torna frustrante ao analisar toda a questão de forma crítica, vide que
as atividades de coleta se mostram totalmente desproporcionais com relação a
quantidade de lixo presente no local, principalmente caso seja levada em
consideração a quantidade de resíduos tóxicos, que acedem o alerta inclusive para a
segurança dos encarregados pela coleta seletiva.
Figura 9. Atividade de coleta seletiva ao redor do antigo aterro

Fonte: Autora, 2020.

Figura 10. Posto de coleta seletiva ao redor do antigo aterro.

Fonte: Autora, 2020


Figura 11. Acúmulo de entulho nos depósitos ilegais ao redor do antigo aterro

Fonte: Autora, 2020.

Outro ponto negativo se dá pelo presente momento em que vivemos em


âmbito mundial, uma pandemia. Onde frustrantemente, nenhum daqueles presentes
no local, inclusive nos postos de coleta, aparentava seguir as recomendações
básicas de prevenção, como o simples uso da máscara. Tal negligência em um
momento tão delicado nos leva a questionar inclusive a procedência da coleta e os
cuidados na hora de manejar os resíduos.

Figura 12. Abrigos de catadores ao redor do antigo aterro


Fonte: Autora, 2020

Por fim, a realidade mais agravante. Inúmeras casas remanescentes ao redor


do antigo aterro, de diversas famílias que ainda tiram seu sustento do que sobrou do
entorno, porém, em menor quantidade. Concluindo que a promessa de desativar o
local para revitalizar o mesmo caiu completamente em esquecimento, não só
permanecendo como um eterno ambiente para despejo ilegal de lixo, mas também
um reflexo de uma parte da população inteiramente esquecida e deixada à deriva de
más condições socio ambientais e econômicas.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os Aterros Sanitários quando em comparação com os lixões, são


indiscutivelmente a melhor forma de destinação final dos resíduos, desde que de
acordo os parâmetros estabelecidos pela Resolução CONAMA Nº 307 de 2002 e
pela Lei Nº 12.305 que institui a PNRS, fornecendo formas específicas de
gerenciamento de resíduos, vide que nem mesmo em um aterro, sendo este
classificado como Classe II – não perigoso, é permitido depositar todo e qualquer tipo
de resíduos, tais como os resíduos classificados como perigosos, devido ao seu alto
grau de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade,
apresentando significativo risco à saúde pública ou à qualidade ambiental.
Contudo, além do correto gerenciamento de resíduos é necessário também
monitorar constantemente a operação dos aterros, pois ainda que seja uma forma de
destinação viável, sua implantação causa impactos ambientais, os quais devem ser
mitigados com a recuperação da área degradada após sua desativação, sendo
possível atingir bons resultados, conforme o esquema apresentado na Figura 4, cujo
foi possível desenvolver um projeto de recuperação para o Aterro Sanitário de
Petrópolis, onde no fim do tempo a fisionomia da área se tornou semelhante ao que
havia originalmente no local.
O Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho desde sua implantação sempre
desrespeitou uma série de normas, sendo instalado em uma área proibida conforme
o atual Código Florestal, além de nunca apresentar controle e gestão dos resíduos
despejados no entorno, recebendo todo tipo de lixo incluindo aqueles inclusos na
categoria de resíduos perigosos, mesmo o local não tendo estrutura para ser um
aterro próprio para tal (Aterro de Classe I), oferecendo graves riscos de saúde para
os catadores que tiravam dali a sua renda e sérios danos ambientais.
O aterro foi desativado em 2012 com a promessa de revitalização da área,
porém durante a visita ao local 8 anos após, foi inevitável se deparar com um
ambiente completamente abandonado, ainda operando em desacordo com a Lei,
mantendo depósitos ilegais ao redor da área que permanece sem nenhum plano de
recuperação inerente as degradações causadas ao ambiente ao longo das décadas
de funcionamento, e mantendo um completo descaso com os moradores dos
arredores que jamais receberam qualquer forma de tipo pelo Poder Público.
O local é reflexo não só da irregularidade do município em âmbitos ambientais,
mas de uma problemática em níveis altos e extremamente graves de desinteresse
socioeconômico, espelho de um governo que não valoriza suas riquezas ambientais
e tampouco seu povo.

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