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MINISTÉRIO DO TRABALHO
2022
©2022 dos autores
Todos os direitos desta edição reservados à Fundacentro.
Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.
Não permitida venda e/ou reprodução para fins comerciais.
Disponível também em: https://www.gov.br/fundacentro/pt-br
Publicado em 2023.
As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não exprimindo,
necessariamente, o ponto de vista da Fundacentro ou do Ministério do Trabalho e Previdência.
Presidência da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Fundacentro
Presidência
Paulo Cezar Vaz Guimarães – presidente substituto
Produção editorial
Design capa: Flávio Galvão
MINISTÉRIO DO TRABALHO E PREVIDÊNCIA
FUNDAÇÃO JORGE DUPRAT FIGUEIREDO DE SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO
Equipe do Projeto
Cristiane Maria Galvão Barbosa
(coordenadora)
André Luis Santiago Maia José
Radan de Oliveira Santos
Resumo:
O setor de abate-produção-de-carnes é de grande importância na economia nacional.
Desta forma tem-se visto uma crescente aceleração das atividades da indústria
frigorífica no Brasil, com consequente inserção de uma grande parcela de trabalhadores
neste processo.
Este projeto objetivou realizar um estudo preliminar sobre os riscos presentes no
processo de trabalho em frigoríficos e os principais agravos à saúde dos trabalhadores
do setor.
Foi realizado um levantamento bibliográfico sobre o tema e análise de dados sobre
benefícios previdenciários/acidentários no setor frigorífico no Brasil.
Os resultados deste estudo mostraram que o processo/condições de trabalho na indústria
frigorífica impõem a seus trabalhadores exposição a riscos de diversas naturezas e
complexidade, que se associam direta e/ou indiretamente com o perfil de adoecimento
desta população.
Espera-se que o presente relatório possa contribuir como subsídio técnico para novos e
estudos, bem como para implantação e/ou implementação de políticas públicas voltadas
para controle e prevenção de riscos ocupacionais na indústria frigorífica, visando a
melhoria dos ambientes e condições de trabalho, o que contribuirá na promoção da
saúde dos trabalhadores do setor.
1. INTRODUÇÃO
2
Figura A – Exportação brasileira do agronegócio por setor, 2021.
4
Por outro lado, estudos sobre exposição a riscos biológicos, frio e suas repercussões na
saúde do trabalhador, bem como sobre os possíveis efeitos sinérgicos causados pela
associação de riscos nestes ambientes são ainda escassos.
Diante deste contexto, este projeto teve como objetivo realizar um estudo preliminar
sobre os riscos presentes no processo de trabalho em frigoríficos, os principais agravos à
saúde dos trabalhadores e possíveis mecanismos fisiopatológicos associados.
Para tal, será realizado uma pesquisa bibliográfica sobre o tema e será avaliado os dados
sobre benefícios previdenciários/acidentários no setor, no sentido de se obter um
diagnóstico situacional.
Além disto, também foi feita uma análise da viabilidade de desenvolvimento de uma
pesquisa de campo para avaliação in loco das condições de trabalho e exposição a riscos
dos trabalhadores de frigoríficos, como complementação deste projeto.
O presente relatório compreende os resultados deste estudo.
Acreditamos que este material pode servir como embasamento técnico para realização
de novos estudos sobre o tema, bem como para a implementação de ações preventivas
visando o controle de riscos ocupacionais e agravos a saúde dos trabalhadores na
indústria frigorífica.
2. METODOLOGIA
5
Esta etapa se baseou em levantamento bibliográfico nas bases de indexação Scielo e
Pubmed, utilizando-se as palavras chaves Riscos Ocupacionais; Doenças Profissionais;
Frigoríficos/Abate de frango. Foram priorizados artigos e estudos realizados nos
últimos dez anos.
– Identificação de programas gratuitos de gerenciamento de referência bibliográfica para
seleção de um a ser usado no projeto. Por questões operacionais não foi utilizado
nenhum gerenciador de referência neste estudo.
– Análise dos benefícios previdenciários e acidentários por grupo de Classificação
Internacional de Doenças (CIDs) na indústria frigorífica. O período estudado foi de
2012 até 2019. Aspectos específicos da metodologia utilizada para apresentação destes
dados serão descritos na Seção Resultados.
Os dois servidores que compõem a equipe técnica do projeto participaram de todas as
etapas do projeto. O estagiário participou da etapa de identificação e apresentação de
programas gratuitos de gerenciamento de referência bibliográfica.
3. RESULTADOS PRELIMINARES
As condições de trabalho nos ambientes frigoríficos são bastantes adversas para a saúde
dos trabalhadores, devido aos diversos riscos presentes em cada etapa do processo
produtivo, como será visto a seguir.
Apesar dos avanços decorrentes da elaboração em 2013, da NR 36 (Norma
Regulamentadora 36) que estabeleceu requisitos mínimos de segurança e saúde para os
trabalhadores de frigoríficos, o que se tem visto nestas empresas é uma crescente
preocupação com o aumento da produtividade, não sendo observado a mesma atenção à
saúde e segurança do trabalhador. Embora seja exigido desse setor tecnologias e
práticas cada vez mais aperfeiçoadas e voltadas para o bem-estar animal, exigência
fundamental para se manter competitivo no mercado de alimentos, a questão da saúde e
bem esta dos trabalhadores não tem tido a mesma relevância.
6
Assim ao mesmo tempo em que se vê uma crescente expansão da indústria frigorífica
no Brasil, há uma escassez de políticas públicas efetivas que levem a melhoria das
condições de trabalho e de saúde dos trabalhadores deste setor.
Vale citar que o processo de trabalho nas indústrias frigoríficas, quer seja de frango,
porco, boi, ou outro animal, segue de um modo geral um fluxo semelhante que vai do
abate até a finalização dos produtos a serem comercializados, sendo que, entretanto,
existem especificidades conforme o tipo de animal que é processado. A seguir será
descrito, de forma resumida, o exemplo do processo de trabalho em frigoríficos de
frango.
É importante ainda frisar que mesmo as unidades frigoríficas do mesmo tipo de animal
são diferentes entre si, porém o processo produtivo segue etapas comuns e que serão
descritas abaixo.
À medida que as etapas vão sendo descritas, os possíveis riscos à saúde dos
trabalhadores presentes em cada etapa/atividade vão sendo relatados.
I. ÁREA SUJA
a) Recepção
O processo de trabalho no frigorífico de frango se inicia com a etapa de Recepção das
Aves, que compreende as atividades relativas à chegada dos caminhões com os animais,
o desembarque e a pendura das aves.
7
Os animais chegam em caminhões que são estacionados com os frangos vivos,
dispostos em gaiolas, caixas ou módulos, na área externa do frigorífico.
Daí segue-se os trâmites legais para conferência/pesagem da carga (Portaria nº. 210,
1998, Araújo, 2012).
Depois, os caminhões seguem para os “galpões de espera”, onde ocorre o desembarque
da carga.
A atividade de desembarque é feita manualmente pelos trabalhadores, e exige do
trabalhador grande esforço físico e posturas incômodas, devido ao levantamento de peso
(descarregamento de carga) e intensa utilização dos membros superiores e ombros
(Barzotto, 2013).
Os trabalhadores também se expõem a riscos biológicos, devido ao contato com fezes e
outras secreções das aves e pela presença de poeiras orgânicas.
8
Foto 2 – Esteira de Pendura. In: Ribeiro 2017
b) Atordoamento
A etapa de Insensibilização ou Atordoamento tem o objetivo de fazer com que as aves
cheguem inconscientes ao setor da Sangria, o que assegura um melhor corte (IN 3 de
2000).
O atordoamento pode ser elétrico ou por exposição a gás por atmosfera controlada
(Rodrigues, 2016; Sarcinelli, 2007).
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Foto 3: Método de eletronarcose na cuba de insensibilização. In: Saloio, 2010.
A insensibilização elétrica deve ser realizada por eletronarcose sob imersão em líquido.
Neste método as aves, penduradas de cabeça para baixo, passam através da nória na
cuba onde recebem o choque e deverão permanecer dependuradas pelos pés, antes da
sangria, para que haja fluxo de sangue à cabeça (IN 3 de 2000).
Já no atordoamento a gás é criada uma atmosfera controlada com uma mistura de gases,
podendo ser com o dióxido de carbono ou com mistura de dióxido de carbono
(Rodrigues et al, 2016) causando menos estresse ao animal, quando comparado ao
método de eletronarcose.
Risco: Físico (Ruído). Além do risco acidente (choque elétrico).
c) Sangria:
A operação de sangria, segundo a Instrução Normativa Nº 3/2000, deve ser iniciada
logo após a insensibilização do animal (máximo de um minuto), de modo a provocar um
rápido, profuso e mais completo escoamento de sangue, antes que o animal recupere a
sensibilidade.
A sangria é realizada pela secção dos grandes vasos do pescoço (artérias carótidas e
veias jugulares) (Portaria nº. 210 de 1998, Sarcielli et al, 2007; Rodrigues et al, 2016;
Pinto et al, 2015).
O processo de sangria poderá ser feito de forma manual, através do uso de uma faca
pelo trabalhador ou de forma mecânica através de sangradores mecânicos. Este último é
a forma ideal para linhas rápidas (Ludtke et al, 2010).
10
Foto 4: Sangria manual, frigorífico de aves. In: Saloio, 2010.
O sangramento da carcaça deve ser completo, de forma a assegurar que as aves estejam
mortas ao entrar no tanque de escaldamento, não só pela questão do bem-estar animal,
mas também para reduzir a chance de contaminação da carcaça (Ludtke et al , 2010;
Gishotomi et al, 2017).
Riscos: Físico(ruído) biológico (contato com sangue e secreções das aves); ergonômicos
(posturais, ritmo acelerado). Além de risco de acidentes (piso escorregadio, uso de
máquinas e equipamentos cortantes).
d) Escaldagem:
O processo de Escaldagem tem como objetivo realizar uma lavagem prévia e abertura
dos poros da ave para afrouxamento das penas, facilitando desta forma a depenagem.
A portaria no 210 de 1998 estabelece parâmetros legais para a execução da atividade de
escaldagem de forma a evitar a perda da qualidade da carcaça. A descrição desta etapa
está baseada nos critérios estabelecidos por esta portaria.
11
O processo de escaldagem deverá, obrigatoriamente, ser executado logo após o término
da sangria, sob condições definidas de temperatura e tempo, não sendo permitido a
introdução de aves ainda vivas no sistema.
O processo pode ser por pulverização de água quente e vapor; por imersão em tanque
com água aquecida através de vapor ou por outro processo similar, aprovado
previamente pelo Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal.
Os tanques de escaldagem devem ser localizados em local apropriado, juntamente com
as máquinas de depenagem (depenador) e não deve ter qualquer contato com as demais
áreas operacionais.
O ambiente deverá possuir ventilação suficiente para exaustão do vapor d’água
proveniente da escaldagem e das impurezas em suspensão, devendo, se necessário, usar
coifas ou exaustores (IN 3/2000).
Ainda segundo a legislação deverá ser previsto equipamento adequado e/ou área
destinada à escaldagem de pés, cabeças e a retirada da cutícula dos pés, quando estes se
destinarem a fins comestíveis. Todo processo de escaldagem deve observar critério de
renovação contínua de água com frequente remoção total da água.
O setor de escaldagem é uma área muito suja e assim expõe os trabalhadores a diversas
situações de risco, a saber: Físico (ruído, umidade, calor); biológicos em geral; químicos
(vapor). Além do risco de acidentes (queimaduras, quedas, etc).
e) Depenagem
A etapa da depenagem também segue os parâmetros estabelecidos pela Portaria
210/1998, conforme será descrito a seguir.
12
O processo de depenagem deverá ser mecanizado, executado com as aves suspensas
pelos pés e processadas logo após a escaldagem, sendo proibido o retardamento do
processo.
Tem como função específica retirar as penas de toda a ave, sendo realizada através de
um equipamento próprio que é o depenador (Foto 7).
Na parte final do processo estes equipamentos têm dedos mais longos e flexíveis, que
permitem uma ação mais suave. Geralmente, alguns depenadores mecânicos são usados
em sequência, seguidos por um depenador para remoção das penas da coxa, da asa e do
pescoço (Pujarra, 2013).
Os depenadores devem estar posicionados próximos aos escaldadores, de maneira que a
temperatura da pele não diminua muito entre uma operação e outra (Araújo et al, 2012;
Pujarra, 2013).
Todas as máquinas de depenagem devem possuir aspersores de alta pressão de água
para lavar a carcaça do animal e ajudar na retirada das penas (Portaria 210, 1998).
Após finalização do processo de depenagem pela máquina, o trabalhador realiza um
acabamento final, para retirada manual dos pelos que porventura ainda permaneçam na
carcaça (Araújo et al, 2012; Sarcinelli et al, 2007).
Daí o animal passa por uma inspeção e se aprovado segue para a etapa seguinte
(evisceração).
O pé pode ser cortado e separado do restante da carcaça. Neste caso as carcaças (sem os
pés) seguem por um novo trilho para evisceração e os pés retornam para escaldagem
13
para classificação, tratamento e embalagem conforme a destinação - fins comestíveis,
ração animal, etc. (Grishotoni et al, 2017; Pujarra, 2013).
A operação de depenagem tem um aspecto microbiológico muito importante, pois
objetiva a diminuição do risco de introdução de microflora externa na musculatura da
ave. Entretanto, mesmo se utilizando as mais modernas e avançadas tecnologias, as
contagens microbianas tendem a aumentar nesta fase devido a contaminação cruzada
(Sales et al, 2007; Pujarra 2013).
Segundo a IN 3 de 2000 não é permitido o acúmulo de penas no piso, devendo para
tanto, haver no local uma canaleta para o transporte contínuo das penas para o exterior
da dependência e que facilite a higienização do local.
Este setor também é bastante sujo, expondo o trabalhador a uma série de riscos a saber:
Físicos (ruído, umidade, calor); biológicos (penas, poeiras em suspenção).
Vale ainda ressaltar que em todas as etapas da Área Suja as atividades são realizadas em
pé e em ritmo muito rápido, pois devem ser concluídas rapidamente a fim de não
comprometer o fluxo da linha de produção, contaminações e a qualidade do produto.
14
Segundo Saloio, 2010, pode-se dizer que a etapa de evisceração das aves consiste
resumidamente desde a retirada da pele do pescoço até a toalete final.
A evisceração pode ser automatizada ou manual, existindo critérios legais a serem
seguidos para cada situação.
15
Foto 9: Eventração mecânica. In: Saloio, 2010.
No final desta etapa é feita a inspeção das carcaças sob supervisão do serviço federal
(Inspeção Post-mortem), que determina se a ave está sadia e/ou se necessita de remoção
de partes com lesões. Assim, considerando que a inspeção sanitária é feita nesta fase
processo, significa que todos os trabalhadores que antecedem essa etapa podem estar
expostos a agentes biológicos.
Depois que as carcaças são inspecionadas e julgadas sadias, coração, fígado, e moela
são removidos, seguindo uma ordem pré-determinada e atendendo critérios legais.
Foto 10: Calhas para separação de miúdos (coração e fígado). In: Saloio, 2010.
16
Riscos: Físico (ruído, umidade); biológico (contato com vísceras); ergonômicos e
psicossociais (trabalho em pé com membros superiores elevados, trabalho repetitivo e
em ritmo acelerado). Além do risco de acidentes (manuseio de material cortante e
pontiagudo).
b) Lavagem:
Após finalização do processo de Evisceração é realizada a lavagem externa e interna das
carcaças, através de um aspersor (chuveiro) para retirada de resíduos e materiais
contaminantes (Pujarra, 2013).
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Foto 12: Chiller com borbulhamento de ar. In: Rosa, 2014.
d) Gotejamento
O gotejamento ocorre para escorrer a água da carcaça depois da operação de pré-
resfriamento.
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Deverá ser realizado, com as carcaças suspensas pelas asas ou pescoço, em equipamento
de material apropriado, através de calhas coletoras de água de gotejamento, suspensas e
dispostas ao longo do transportador (Portaria Nº 210, 1998).
e) Resfriamento de miúdos
Os miúdos (moelas, coração, fígado, pés e pescoço) devem ser resfriados,
imediatamente, após a coleta e preparação, através de mini-chillers específicos para
cada víscera, onde permanecem por cerca de 15 minutos. Após este período os miúdos
serão selecionados por um trabalhador e enviados para a embalagem primária (Portaria
Nº 210, 1998; Pujarra, 2013).
Riscos: Físico (umidade, temperatura fria, ruído); biológicos (contato com carcaças).
f) Classificação/Cortes (Espotejamento):
As carcaças são classificadas e destinadas para o processo de embalagem ou para o
corte de peças. Se o corpo da ave estiver em bom estado é embalado como peça inteira,
já os que apresentam lesões são destinados ao corte (Gishotomi et al, 2017 Pujarra,
2013)
Tradicionalmente, a linha de produção da desossa de carcaças de frango é realizada de
forma manual, diretamente na nória, em ciclos de trabalho curtos. Esta atividade é feita
com auxílio de facas apropriadas para se efetuar os cortes, mas pode também ser feito
através de processo automático (Pujarra, 2013).
Foto 13: Sala de corte de frango. Retirado do site da Revista Globo Rural (Foto Globo
Rural).https://revistagloborural.globo.com/Noticias/
19
A temperatura do setor não deve ultrapassar 12ºC, visando assim manter a qualidade do
produto até o final de seu processamento (Portaria Nº.210, 1998; Gishotomi et al, 2017).
Risco: Físicos (ruido, umidade, frio); biológicos; ergonômicos e psicossociais (trabalho
em pé com membros superiores elevados, repetitividade, monotonia, trabalho
fragmentado, ritmo de trabalho intenso, ausência de pausas, cobrança de produção).
Além de risco de acidentes (manuseio de faca e outros instrumentos de corte e/ou
pontiagudos, quedas).
g) Apontamento e Embalagem
Este setor tem a função de apontar e registrar todos os produtos que serão encaminhados
aos túneis de congelamento, para manter o controle do estoque de produtos
encaminhados para os túneis de congelamento, e consequentemente obter um melhor
controle da produção (Contreras, 1991).
Após o apontamento os produtos serão devidamente embalados.
Riscos: Físico (ambiente úmido, temperaturas baixas e ruído); químicos (amônia);
ergonômicos e psicossociais (movimentos repetitivos, ritmo acelerado, levantamento de
peso).
h) Túnel de congelamento
O congelamento dos produtos finais é feito nos túneis de congelamento e daí serão
armazenados nas câmaras frias.
O túnel de congelamento possui temperatura de -35° a -40°C e o tempo de
processamento varia em relação ao produto que está sendo congelado. Segundo Pujarra,
2013, no caso do frango inteiro leva cerca de 10h para o produto atingir a temperatura
de -25ºC a -35ºC e sair do túnel de congelamento pronto para receber sua embalagem
final e seguir no processo.
Riscos: Físico (temperatura fria, ruído); biológicos (contato com carcaças).
20
Foto 14: Câmara de expedição. In: Barzotto, 2013.
21
ambiente, onde estes se multiplicam (Meima et al, 2020). Neste segundo grupo é onde
está incluído o trabalho em frigoríficos.
22
- Inalação de aerossóis e/ou poeiras orgânicas
suspensas no ar podem ser fontes de
contaminação (via de entrada através do
sistema respiratório).
23
pela Salmonelose; Campylobacter jejuni e coli,
causam a campilobacteriose; Echerichia Coli,
causa doenças diarréicas enterohemorrágicas;
Listeria Monocytogênica, causa a listeriose.
24
várias etapas do processo produtivo do
frigorífico de frango, principalmente na
Recepção das aves e Áreas Sujas, conforme foi
descrito no item “Descrição do processo de
produção”.
25
decorrente da exposição a poeiras orgânicas que
pode surgir imediatamente após a exposição ou
após cessada a exposição, sendo que neste
último caso é mais difícil o estabelecimento do
nexo causal.
26
b) Exposição ao frio em frigoríficos
Para conceituar a exposição ao frio em ambientes de trabalho primeiramente será
reportado alguns aspectos da legislação vigente no Brasil sobre o tema.
Segundo o parágrafo único do artigo 253 da CLT- Consolidação das leis trabalhistas
(Martins, 2019), considera-se artificialmente frio, o que for inferior, nas primeira,
segunda e terceira zonas climáticas do mapa oficial do Ministério do Trabalho, Industria
e Comércio, a 15º (quinze graus), na quarta zona a 12º (doze graus), e nas quinta, sexta
e sétima zonas a 10º (dez graus).
Para melhor entendimento destas zonas climáticas a portaria SSST nº 21 de 26/12/1994,
estabelece: “Para atender ao disposto no parágrafo único do artigo 253 da CLT, define-
se como primeira, segunda e terceira zonas climáticas do mapa oficial do MTB, a zona
climática quente, a quarta zona, como a zona climática subquente, e a quinta, sexta e
sétima zonas, como a zona climática mesotérmica (branda ou mediana)”.
Segundo Norma Regulamentadora 15 (NR15) em locais fechados, como é o caso dos
frigoríficos, para se considerar o ambiente frio deve-se realizar a medição da
temperatura do ambiente e relacionar o valor encontrado com a da área climática onde o
trabalho é realizado (NR15; Bastos, 2016).
A exposição ocupacional ao frio pode ocorrer em atividades exercidas ao ar livre, como,
por exemplo, na construção civil, agricultura, pesca, ou através de atividades que
ocorrem ambientes fechados, como é o caso da indústria frigorífica (Bastos, 2016).
27
empregados que trabalham no interior das
câmaras frigoríficas e para os que movimentam
mercadorias do ambiente quente ou normal para
o frio e vice-versa, depois de 1 (uma) hora e 40
(quarenta) minutos de trabalho contínuo, será
assegurado um período de 20 (vinte) minutos de
repouso, computado esse intervalo como de
trabalho efetivo. Condição também estabelecida
pela NR36.
28
morte (quando o trabalhador fica preso
acidentalmente em ambientes frios ou imerso
em água gelada).
29
trabalhador alterações em outros órgãos.
Lesões Dermatológicas - Entre as lesões dermatológicas destaca-se:
frostbite, fenômeno de Raynaud, pé de imersão
e urticária pelo frio.
30
Raynaud. O indivíduo portador do Fenômeno
de Raynoud quando exposto ao frio tem mais
risco de desenvolver frostbite e vice-versa.
31
alterações de forma gradativa e progressiva,
podendo chegar até a morte se medidas de
controle não forem devidamente tomadas. Os
sintomas da Hipotermia podem ser classificados
conforme sua gravidade:
- Leve (temperatura central entre 35 a 33°C): A
sensação de frio, seguida de dor nas partes
expostas do corpo, é o primeiro sinal de estresse
pelo frio. Quando a temperatura do corpo cai
abaixo de 35°C, ocorrem fortes tremores,
sensação de dor e desconforto, que devem ser
considerados como aviso de perigo para os
trabalhadores. Nesta fase há uma diminuição
do estado de alerta, aumentando a chance de
ocorrência de erros e acidentes.
32
verifica atividade cardíaca e com temperatura
interna ao redor de 17°C não se evidencia
atividade cerebral. Se o paciente não for
devidamente tratado, a morte é inevitável.
33
sendo mais intensos em trabalhadores com
comorbidades respiratórias, como asma rinite e
DPOC.
34
favorecem a persistência de agentes biológicos,
conforme já citado anteriormente.
35
O desequilíbrio desta interação decorre da presença de condições anti-ergonômicas no
ambiente de trabalho, ou seja, de riscos ergonômicos, que podem ser de ordem física
(ruído, vibração, mobiliário inadequado, carregamento de peso, posturas incomodas, por
exemplo), cognitiva (estresse, ausência de controle/autonomia, entre outros) ou
organizacional (pressão por tempo, repetitividade, ritmo acelerado, etc.).
Já os riscos psicossociais podem ser compreendidos, de uma forma mais abrangente,
como decorrente de alterações na concepção, organização e gestão do trabalho (OMS,
2010). Os riscos psicossociais compreendem, entre outros, a violência no trabalho, que
inclui o assédio moral/sexual e o suicídio no trabalho e o estresse no trabalho e burnout
(Zanelli et al, 2018).
A exposição dos trabalhadores aos riscos ergonômicos e/ou psicossociais pode
desencadear, contribuir e/ou agravar doenças de ordem física e/ou mental, a depender
do tipo de risco envolvido. A gravidade dos danos ou agravos a saúde do trabalhador vai
depender da intensidade e tempo de exposição aos riscos.
36
frigorífica compreende um sistema contínuo de
“desmontagem” do animal, tornando o trabalho
exaustivo e perigoso.
37
Sundstrup et al, 2014; Hendrix et al, 2017;
Marra et al, 2017; Musolin et al, 2017.
Risco à saúde do trabalhador - A exposição a riscos ergonômicos e
psicossociais estão associados ao
desencadeamento de doenças de natureza física
e psicossocial.
38
frequentes são transtornos depressivos, estresse
e quadro de ansiedade.
Maior que na população geral e que em outros
setores produtivos.
40
3. Análise do perfil de afastamentos por benefícios previdenciários por grupos de
CIDs (Classificação Internacional de Doenças) entre trabalhadores de frigoríficos
41
Não foi considerado no estudo o ano de 2020, pois com a pandemia pode ter havido
mudança no perfil de distribuição de doenças não só no setor frigorífico, mas em todos
os demais setores da economia.
Com base nos dados do observatório do Smart-lab, verifica-se que em 2020, os
afastamentos pelo INSS, por grupos de CIDs que passaram a ser utilizados para registro
da COVID-19, ou seja, os grupos B34 (doenças por vírus de localização não
especificada) e U07 (COVID-19), sendo este último criado na pandemia
especificamente, cresceram bastante. Para se ter uma ideia, considerando os benefícios
auxílio-doença acidentário (B91) para todos os setores da economia, considerando a
série histórica de 2012 até 2019, foram registrados 113 casos de afastamentos pelo
grupo de CID B34, já em 2020 este número passou para 20.797 relativos aos CIDs B34
e U07 (Smart-lab).
Assim, apesar de reconhecer o impacto da COVID-19 para todos os setores da
economia e em especial para o setor frigorífico, a análise aqui apresentada não abordará
esta patologia, considerando o objetivo do presente estudo.
Apesar de saber da importância dos acidentes de trabalho com um todo no setor
frigorífico, neste estudo o foco a ser abordado é as doenças relacionadas ao trabalho, de
forma que não serão discutidas questões relativas aos acidentes de trabalho típico e de
trajeto.
Para esta pesquisa foram considerados os benefícios B91 e B31 por grupo de CID, para
os grupos de CNAE referentes a “Abate e fabricação de produtos de carne” (CNAE
10.1), ou seja: “Abate de reses, exceto suínos (CNAE 10.11-2); “Abate de suínos, aves e
outros pequenos animais” (CNAE10.12-1) e “Fabricação de produtos de carne”
(CNAE10.13-9) durante o período de 2012 até 2019.
Foram excluídos os benefícios relativos aos grupos de CID XIX – S, T - (Lesão e
Envenenamento e algumas outras consequências de Causas Externas) e XX – V, W, X,
Y - (Causas Externas de Morbidade e Mortalidade) e outros registros isolados que
representam agravos decorrentes de acidentes e/ou traumas, como fraturas, amputações,
etc.
Após estas exclusões, foram feitas análises dos benefícios por grupo de CID e em cada
grupo foi feito análise por subgrupo de doenças mais frequentes. Os grupos e subgrupos
de CID foram descritos mais detalhadamente por ordem decrescente de frequência, do
42
primeiro até o quinto mais frequentes, considerando que os demais grupos e subgrupos
representavam baixos percentuais.
Ainda foi também descrito os resultados de alguns grupos e/ou subgrupos de CID que
mesmo não estando incluídos entre os cinco mais frequentes são considerados
importantes na discussão de doenças relacionadas ao trabalho no ramo frigorífico,
levando em conta os riscos ocupacionais presentes no ambiente de trabalho. A seguir
apresentamos os resultados desta análise.
Em relação ao benefício auxílio-doença acidentário (B91), Figura 1, verifica-se que no
período de 2012 até 2019, do total de 20.363 benefícios concedidos, a grande maioria
foi referente ao grupo M (Doenças do Sistema Osteomuscular e do Tecido Conjuntivo),
com um percentual de 73,3% (14.924). Em seguida com 12,8% (2.595) aparece o grupo
G (Doenças do Sistema Nervoso); depois o grupo K (Doenças do Aparelho Digestivo),
com 4,3% (868); o grupo F (Transtornos Mentais e Comportamentais), com 3,7% (747)
e o grupo I (Doenças do Aparelho Circulatório) que aparece com 2,7% (538).
44
A Figura 4, mostra a distribuição dos subgrupos de CID no Grupo K (Doenças do
Aparelho Digestivo), onde verifica-se que os maiores percentuais de doenças foram
devidos ao CID K40 (Hérnia Inguinal), com 64,2% dos casos e K42 (Hérnia Umbilical),
com 18,7% dos registros. Em seguida, aparecem os seguintes subgrupos: K43 (Hérnia
Ventral), com 5,9%, K 35 (Apendicite Aguda), com 5,2% e K46 (Hérnia Abdominal
Não Especificada), com 3,3%.
45
Figura 5– Distribuição de benefícios auxílio-doença acidentários (B91) no grupo F.
46
Em relação aos benefícios auxílio-doença previdenciário (B31), Figura 7, verifica-se
que no período de 2012 até 2019, do total de 133.444 benefícios concedidos, em
primeiro lugar aparece o grupo M (Doenças do Sistema Osteomuscular e do Tecido
Conjuntivo), com um percentual de 28,9 (38.507). Em seguida com 17,0% (22.700)
aparece o grupo F (Transtornos Mentais e Comportamentais); depois o grupo K
(Doenças do Aparelho Digestivo), com 13,7% (18.256); em quarto lugar aparece o
grupo I (Doenças do Aparelho Circulatório) com 8,3% (11.080) e em seguida o grupo O
(Gravidez, Parto e Puerpério) com 8,1% (10.848).
47
Figura 8 – Distribuição de benefícios auxílio-doença previdenciários (B31) no grupo M.
48
A Figura 10, mostra a distribuição dos subgrupos de CID no Grupo K (Doenças do
Aparelho Digestivo), onde verifica-se que os maiores percentuais de doenças foram
devido ao CID K40 (Hérnia Inguinal), com 24,5%; K80 (Colelitíase), com 21,7%; K35
(Apendicite Aguda), com 17,0%; K42 (Hérnia Umbilical), com 10,6% e K81
(Colicistite), com 6,7%.
49
Figura 11 – Distribuição de benefícios auxílio-doença previdenciários (B31) no grupo I.
No grupo O (Gravidez, Parto e Puerpério), Figura 12, em primeiro lugar aparece o CID
O20 (Hemorragia do Início da Gravidez), com 34,5% seguido do CID O60 (Trabalho de
Parto Prematuro), com 11,1%. Depois aparece o CID O62 (Anormalidade da contração
uterina); O26 (Assistência Materna por Outras Complicações ligadas
predominantemente a Gravidez), com 6,5% e O21 (Vômitos Excessivos da Gravidez),
com 5,1%.
50
Embora não apareça entre os principais grupos de CID nos dois tipos de benefício (B91
e B31), vale a pena fazer alguns comentários sobre o grupo de doenças infecciosas, pela
questão da exposição a risco biológico em frigoríficos.
Em relação ao benefício auxílio-doença acidentário, B91, o grupo de CID A00-B99
(Algumas Doenças Infecciosas e Parasitárias), apresentaram 170 casos, o que
corresponde a 0,3% dos benefícios concedidos. Destes; mais da metade (55,3%) foram
decorrentes do CID A23 (Brucelose), seguido por: A15 (Tuberculose Pulmonar com
Confirmação Bacteriana ou Histológica), com 7,6%; A16 (Tuberculose Pulmonar sem
Confirmação Bacteriana ou Histológica), com 7,1%; B35 (Dermatofitose), com 6,5% e
A27 (Leptospirose), com 5,3% dos casos.
Já em relação aos benefícios B31, considerando o Grupo de CID A00-B99 (Algumas
Doenças Infecciosas e Parasitárias), foram registrados um total de 2.640 benefícios o
que corresponde a 2,0% do total de benefícios. Neste grupo o CID A16 (Tuberculose
Pulmonar sem Confirmação Bacteriana ou Histológica) apresentou 8,9% dos casos,
seguidos por A46 (Erisipela), com 5,9%; B20 (Doença pelo Vírus da Imunodeficiência
Humana – HIV -, resultando em doença infecciosa ou parasitária), com 3,5%; B55
(Leishmaniose), com 3,2% e B58 (Toxoplasmose), com 2,2% dos casos.
4. DISCUSSÃO
51
como por exemplo, idade, sexo, tabagismo etc., como também de fatores específicos
relacionados ao trabalho por eles executado.
Desta forma, pode-se dizer que existe dois grupos de doenças que podem acometer o
trabalhador: aquelas que não tem relação com o trabalho e as relacionadas ao trabalho,
sendo estas últimas denominadas de Doenças Relacionadas ao Trabalho (DRTs).
As DRTs compreendem um grupo de doenças em que o trabalho/condição de trabalho
atua como fator de risco para o seu aparecimento/desencadeamento e/ou agravamento,
ou seja, existe uma relação causal entre o trabalho/condições de trabalho e a doença. As
DRTs podem ser agrupadas em três grupos, segundo a classificação de Schilling, 1984:
(Mendes, 2013; Brasil, MS, 2001):
GRUPO I: doenças em que o trabalho aparece como causa necessária. São também
denominadas doenças profissionais. Exemplos: asbestoses (exposição ocupacional ao
asbesto), silicoses (exposição ocupacional a sílica) e intoxicações agudas de origem
ocupacional. Neste caso, se a causa for eliminada do ambiente de trabalho a doença
também será eliminada.
GRUPO II: doenças em que o trabalho aparece com um fator de risco contributivo, mas
não necessário. Neste caso inclui-se doenças comuns (também acometem a população
geral), que são mais frequentes ou aparecem mais precocemente em determinados
grupos ocupacionais. Como exemplo, a hipertensão arterial em motoristas de ônibus.
GRUPO III: doenças em que o trabalho é provocador de um distúrbio latente, ou
agravador de uma doença preexistente, ou seja, concausa. Como exemplo estão as
doenças alérgicas de pele (dermatites alérgicas), respiratórias (asma ocupacional) e
distúrbios mentais (episódios depressivos), em determinados grupos ocupacionais ou
profissões.
Os grupos Schilling II e III compreendem as doenças de etiologia múltipla, onde o
trabalho aparece como um dos fatores causais. Neste caso, devido as condições de
trabalho (exposição a riscos ocupacionais) há uma probabilidade aumentada de
ocorrência da doença.
Assim, para estabelecimento do nexo causal, nestes dois grupos, há de se levar em conta
os aspectos epidemiológicos envolvidos na distribuição do agravo, seja pelo aumento no
número de casos ou precocidade de ocorrência dos mesmos entre determinados grupos
ocupacionais ou profissões, ou pela possibilidade de agravamento da patologia
decorrente da exposição a riscos ocupacionais.
52
Ainda em relação aos grupos Schilling II e III, diferentemente do grupo Schilling I,
mesmo que os fatores de risco forem eliminados do ambiente de trabalho, não significa
que a doença também será eliminada, o que vai se observar neste caso é a diminuição da
incidência ou modificação do curso evolutivo da doença.
No Brasil, levando em conta a classificação de Schilling, o enquadramento legal das
DRT é feito através da Portaria nº 1.339 do Ministério da Saúde (MS), de 18 de
novembro de 1999 e, do Decreto nº 3.048/99 do Instituto Nacional de Seguro Social
(INSS).
A Portaria nº 1.339/99 do MS dispõe de duas listas para determinação das doenças
relacionadas ao trabalho, sendo que a lista A parte do agente etiológico/fator de risco
para a respectiva doença, enquanto a lista B parte da doença para o respectivo agente de
risco.
O INSS passou a utilizar estas duas listas para fins de concessão de benefícios
previdenciários, através do Anexo II do Decreto nº 3.048/99 do Instituto Nacional de
Seguro Social (INSS).
A partir de 2006 o INSS começa a introduzir mais um conceito para o enquadramento
das DRT, que é o nexo técnico epidemiológico previdenciário (NTEP), Lei nº 11.430,
de 26 de dezembro de 2006. O NTEP implantado a partir de 2007 se baseia em uma
matriz criada a partir do banco de dados da Previdência Social que demonstrou
associação estatística entre determinados grupos de CNAE e determinadas patologias
responsáveis pela concessão de benefícios previdenciários por incapacidade, concluindo
nestes casos pela provável etiologia ocupacional do agravo (Silva-Junior, 2012).
Com isso o INSS passa a utilizar para enquadramento das DRTs, além das listas A e
B, uma terceira lista, Lista C, baseada no NTEP, que faz o cruzamento entre o código da
CID e o da CNAE.
Vale ainda citar que em agosto de 2020, através da Portaria GM/MS nº 2.309, foi feita
uma atualização da LDRT do Brasil com modificações tanto na Lista A, quanto da Lista
B. Esta atualização levou em conta a necessidade de ampliação de conceitos sobre
riscos ocupacionais relativos à biomecânica do trabalho e fatores
organizacionais/psicossociais, bem como a inclusão de novos agentes de risco
biológicos e químicos (Silva-Junior, 2020).
53
Entretanto, em 02 de setembro de 2020 foi publicada a Portaria nº 2.345, que tornou
sem efeito a atualização 2020 da LDRT, retomando a vigência da versão lista de DRT
de novembro de 1999.
É preciso se ter em mente, que independente da lista utilizada, elas têm um caráter
exemplificativo, não excludente, de forma que a não inclusão na lista de um fator de
risco e/ou de uma doença e/ou da relação CID/CNAE, não exclui a possibilidade de se
tratar de DRTs.
Analisando especificamente os resultados apresentados neste relatório, em relação aos
cinco primeiros grupos de CID mais frequentes entre os benefícios previdenciários
concedidos entre 2012 a 2019 no setor de frigoríficos, primeiramente chama atenção
que quatro grupos de CID M (Doenças do Sistema Osteomuscular e tecido Conjuntivo),
F (Transtornos Mentais e Comportamentais), K (Doenças do aparelho Digestivo) e I
(Doenças do Aparelho Circulatório) aparecerem como os mais prevalentes tanto na
concessão de benefícios B91 como B31, só havendo alteração na ordem de frequência,
conforme o tipo de benefício. Para o benefício B91 ainda o grupo G (Doenças do
Sistema Nervoso) aparece entre os cinco mais frequentes e para o benefício B31 o grupo
O (Gravidez, Parto e Puerpério). Adicionalmente, os resultados ainda evidenciaram que
em cada grupo de CID, em geral, as doenças mais frequentes também foram as mesmas
nos dois tipos de benefícios.
Diante deste cenário, considerando o processo de trabalho em frigoríficos e os riscos
ocupacionais presentes na atividade, pode-se inferir que esteja ocorrendo uma
subnotificação de doenças relacionadas ao trabalho no setor, de forma que muitos
trabalhadores que estão sendo afastados através de benefício auxílio doença
previdenciário (B31), deveriam estar afastados por auxílio doença acidentário (B91),
reforçando o que tem sido constatado por vários outros autores (Jakobi et al, 2015;
Oliveira et al, 2014; Guilhard et al, 2017; Brasil, 2021). Jakobi et al, 2015, em estudo de
incidência de benefícios previdenciários em 2008 entre trabalhadores do setor
frigorífico, encontrou uma incidência bastante superior de auxílio-doença previdenciário
em relação a auxílio doença-acidentária (16,3/10.000 trabalhadores X 2,2/10.000
trabalhadores). Segundo o Relatório de Análise de Impacto Regulatório da Norma
Regulamentadora n° 36, Brasil, 2021, a subnotificação de acidentes e adoecimentos já é
amplamente conhecida e estudada no Brasil.
54
Estudos mostram que as desordens osteomusculares, doenças do sistema nervoso,
especificamente a Síndrome do Túnel do Carpo e os transtornos mentais são
responsáveis pela maioria dos adoecimentos e/ou afastamentos na indústria frigorífica
(jakobi et al, 2015; Guilhard et al, 2017; Tirloni et al, 2021; Leibler et al, 2017).
Questões relativas à aspectos biomecânicos; da organização do trabalho e fatores
psicossociais são os fatores de risco associados ao desencadeamento destes agravos,
conforme pode ser verificado no item subitem 3 “Riscos ergonômicos e psicossocias”
no item “resultado”.
Vale citar que o grupo de CID Transtornos Mentais e Comportamentais aparecem em
segundo lugar entre os benefícios auxílio-doença previdenciário (B31), com 17% dos
registros neste grupo e em quarto lugar entre os benefícios auxílio doença acidentário
(B91), com apenas 3,7% dos registros. Ainda chama atenção o grande número de
episódios depressivos concedidos como B31 em comparação aos concedidos como B91,
que também se evidenciou neste estudo. Estes achados podem estar refletindo, além da
subnotificação já referida acima, a tendência ainda predominante no meio médico de
não considerar os transtornos psíquicos como relacionados ao trabalho (Silveira, 2017;
MPT, 2017) apesar, que para fins de perícia médica, os transtornos depressivos (F32 e
F33), estão incluídos na lista de NTEP para este setor econômico.
Além destes três grupo de patologias o grupo I (Doenças do Aparelho Circulatório) e o
grupo K (Doenças do Aparelho Digestivo), também apareceram entre os grupos de
doenças mais prevalentes, tanto nos benefícios B91 como no B31. Em relação a este
fato temos a considerar:
- Entre o grupo I, as Varizes de Membros Inferiores (I83) foram as mais frequentes. Já
no grupo K, a maioria dos casos foi devido ao CID Hérnia Inguinal (K40).
- Estas patologias são de etiologia multifatorial, e o trabalho pode atuar como um fator
contributivo e/ou agravante para seu aparecimento. A permanência prolongada em
posição de pé (varizes) e o levantamento/carregamento de peso (hérnias) estão entre os
principais fatores de risco associados ao trabalho para essas patologias (Barzotto, 2013;
Bertoldi et al, 2011; Lima et al, 2019; Jakobi et al, 2015; Sperandio et al2008; Leme et
al, 2010; Carvalho, 2019: Goulart et al, 2015; Svendsen et al, 2013). Ainda em relação
as condições laborais, a jornada de trabalho extenuante e ausência ou insuficiência de
pausas para descanso podem atuar como agravantes destas doenças (Moraes, 2014;
Bertoldi et al, 2011).
55
- Estas patologias têm um potencial de geração de incapacidade (Berenguer et al, 2010;
Bertoldi et al, 2011; Lima 2019; Goulart et al, 2015; Martins et al 2015).
- A associação entre trabalho em frigorífico com varizes de membros inferiores e hérnia
inguinal é também considerada pelo próprio INSS, através do NTEP, onde os CNAES
da indústria frigorífica 1011; 1012; 1013 mostram associação com grupo de CID que
inclui o agravo varizes de membros inferiores (I83) e hérnia inguinal (K40). Embora o
NTEP não discrimine especificamente o CID I83 (varizes) e o CID K40 (hérnia
ingunal), sabe-se que estes agravos são responsáveis pela maioria dos diagnósticos do
grupo de CID I80-I89 e do K40-K43 (Costa, 2016; Venturelli et al, 2007; Berndsen et
al, 2019).
- As atividades laborativas em frigoríficos impõem permanência prolongada em posição
em pé e realização de carregamento/levantamento de peso.
Levando em conta que as varizes de membros inferiores e hérnia inguinais são agravos
que muitas vezes não requerem afastamento do trabalho, sendo que este se torna mais
necessário quando existe uma evolução desfavorável do quadro clínico, pode ser que a
prevalência destas patologias em trabalhadores de frigoríficos seja maior do que o
encontrado neste estudo que só avaliou casos afastados. Considerando esta hipótese, a
permanência do trabalhador portador destes agravos no trabalho sem que sejam
adotadas medidas de prevenção e controle no ambiente, aumenta a probabilidade de
agravamento do quadro, o que poderá gerar incapacidade laboral e consequente
afastamento do trabalho.
Outros estudos deverão ser feitos no sentido de se conhecer o real impacto destes
agravos na saúde do trabalhador de frigoríficos, de identificar atividades de risco, bem
como, subsidiar propostas de medidas de intervenções/ações voltadas para a prevenção
destes agravos.
No caso dos benefícios auxílio-doença previdenciário (B31) o grupo de CID O
(Gravidez, Parto e Puerpério), aparece entre os cinco mais prevalentes, sendo que os
CIDs O20 (hemorragia do início da gravidez e o O60 (trabalho de parto prematuro)
foram responsáveis por quase metade das ocorrências deste grupo.
Vale citar que Jakobi et al, 2015, em estudo sobre a incidência de benefícios
previdenciários no setor de carnes e pescados em 2008, encontrou como principais CID
responsáveis pela concessão de benefícios auxílio-doença previdenciário a hemorragia
do início da gravidez, juntamente com as dorsopatias e episódios depressivos.
56
A preocupação com a existência no trabalho de riscos potenciais ao sistema reprodutivo
é fundamental na área de saúde e segurança do trabalho, sendo de especial importância
a atenção à mulher gestante trabalhadora, pelos possíveis efeitos adversos do trabalho
durante todo o período gestacional. De forma que algumas considerações devem ser
feitas em relação a estes achados:
- Evidências epidemiológicas mostram que ambientes e condições de trabalho podem
produzir efeitos adversos sobre a gravidez, como por exemplo a ocorrência de
abortamento espontâneo, baixo peso ao nascer, prematuridade, entre outros (Mendes,
2005; Fiocruz 2021 (a)).
- A exposição ocupacional a determinados agentes químicos (agrotóxicos; metais;
solventes orgânicos etc.); biológicos (vírus da rubéola, da hepatite; citomegalovírus,
entre outros), físicos (radiação ionizante; frequência de rádio/micro-ondas),
ergonômicos e psicossociais (esforço físico; estresse) podem levar a alterações na
gestação (Fiocruz, 2021 (a); Mendes, 2005).
- As hemorragias do primeiro trimestre da gestação são de grande preocupação, pois
podem levar ao abortamento. A prematuridade também causa muita preocupação devido
à morbimortalidade para o bebê. Estes agravos são de natureza multifatorial. Dentro da
multifatorialidade, o trabalho pode aparecer como fator contribuinte e/ou agravante
destes eventos.
- Em relação a questões ergonômicas e psicossociais, atividades laborais que exijam
esforço físico extenuante, carga horária elevada; trabalho noturno; permanência postural
fixa prolongada; baixo nível de satisfação com o trabalho e ambientes violentos podem
atuar como um fator de risco na gravidez (Fiocruz, 2021 (a); Cunha, 2015) e contribuir
no desencadeamento destes eventos. Assim, fica evidente que condições laborais que
demandam sobrecarga física e/ou psíquica, como ocorre na realização de diversas
atividades na indústria frigorífica, podem contribuir no desencadeamento destes
agravos.
Diante deste cenário, a realização de estudos que abordem esse tema entre as mulheres
trabalhadoras de frigoríficos é fundamental para se conhecer a distribuição de agravos
relacionados a gravidez nesta população, identificar os fatores de riscos presentes no
ambiente (e/ou atividades de risco) que possam contribuir para ocorrência destes
agravos e propor medidas preventivas no ambiente de trabalho visando a promoção da
saúde reprodutiva das mulheres trabalhadoras de frigoríficos.
57
Embora o grupo de doenças infecciosas não apareça entre os cinco grupos de CID que
mais afasta por benefícios B91 e/ou B31, e tenha apresentado relativamente baixos
índices de benefícios concedidos tanto para B31 como B91, três considerações serão
feitas a seguir, em relação a este grupo de doenças devido a importância da exposição a
risco biológico nos ambientes frigoríficos, conforme já descrito no subitem “Processo
produtivo” e “Risco biológico” no item “Resultado” deste relatório.
Primeiramente vale citar que muitas doenças infecciosas que acometem os trabalhadores
de frigorífico podem ter um curso insidioso, com quadro clínico assintomático, ou
autolimitado de forma que não há necessidade de afastamentos prolongados por mais de
15 dias, como é o caso das gastroenterites decorrentes da infecção por inúmeros agentes
virais e bacterianos. A análise de adoecimentos baseado em afastamentos
previdenciários, como foi feito neste estudo, não contempla estes casos.
Em segundo lugar considerando os resultados apresentados, verifica-se que a Brucelose
apareceu como principal causa de afastamento por B91, no período e a Tuberculose
entre as causas de benefícios B31, sendo que esta patologia também foi responsável pela
concessão de muitos benefícios B91.
A brucelose é uma doença infecciosa de caráter crônico, causada por bactérias do
gênero Brucella, sendo considerada uma zoonose de distribuição mundial. A brucelose
pode acometer diferentes mamíferos, sendo que a Brucella abortus causa doença nos
bovinos e bubalinos que pode ser transmitida ao homem pelo contato direto ou indireto
com os animais infectados e veiculada ao homem através da ingestão de leite
contaminado ou da manipulação de carcaças e vísceras durante o abate de bovinos.
(Sola et al, 2020; Calvalcante, 2016; Cardoso, 2016).
Assim, representa um risco de transmissão para trabalhadores de frigoríficos sendo
considerada uma doença ocupacional. A Brucelose está incluída na lista B (doença para
o agente) como DRT em frigoríficos.
O quadro clínico em humanos costuma se apresentar de forma severa e debilitante, além
de exigir um tratamento prolongado com antibióticos (Rosinha et al, 2019), o que
geralmente requer afastamento do trabalho.
A tuberculose bovina é uma infecção causada pela bactéria Mycobacterium bovis (M.
bovis), com tropismo pela espécie bovina, porém pode acometer outras espécies
(incluindo a humana) através da sua capacidade zoonótica, expondo vários grupos
58
ocupacionais entre os quais estão os trabalhadores de frigoríficos (Almeida et al, 2017;
Smaniotto et al., 2019; Asi et al, 2021).
Para a espécie humana, a patogenicidade das bactérias M. bovis e Mycobacterium
tuberculosis é a mesma (Smaniotto et al., 2019). O M. bovis, é uma zoonose, que afeta
todo o mundo, com maior incidência em os países em desenvolvimento (Smaniotto et
al., 2019; Asi, et al; 2021; Ribas, 2010; Franco, 2016). Pode causar uma doença clínica
e patologicamente indistinguível da infecção causada pelo M. tuberculosis. Sua
incidência vem diminuindo em locais que fazem programas de combate à doença (Asi et
al, 2021; Franco 2016).
Para Asi et al, 2021, as informações epidemiológicas relacionadas a tuberculose humana
pelo M. bovis na América Latina é considerada escassa e isso se torna preocupante
devido às complicações causadas na saúde pública e economia nacional. Segundo estes
autores o Brasil é considerado um país endêmico para tuberculose bovina, sendo que na
rotina dos frigoríficos a única medida empregada para o diagnóstico da enfermidade, é a
avaliação macroscópica durante a inspeção post mortem do animal, o que pode gerar
erros e comprometer o sucesso do programa de vigilância da tuberculose bovina.
A transmissão é principalmente por via aérea, o que aumenta o risco de transmissão e
disseminação da doença em ambientes fechados, e com pouca ventilação, (vide subitem
“Riscos biológicos” no item “Resultados”). Nos frigoríficos, também pode haver
transmissão através do contato dos trabalhadores com vísceras e secreções de animais
contaminados. Ribas, 2010, chama atenção que mesmo os trabalhadores que usam luvas
estão sujeitos ao contato com os braços, olhos e boca em caso de acidentes de trabalho.
Diante deste cenário, a tuberculose em trabalhadores de frigoríficos pode ter um caráter
de doença ocupacional (Asi et al, 2021; Ribas, 2010).
E por fim, frente ao momento atual de pandemia, será feito a seguir alguns comentários
referentes a Covid 19 e os frigoríficos.
No final de 2019 em Wuhan, China, começou a surgir os primeiros casos de uma
doença viral nova, denominada COVID-19 ou SARS-COV 2.
A COVID-19 é uma doença respiratória que acomete o homem, e é altamente
transmissível, sendo que em fevereiro de 2020 a Organização Mundial de Saúde
declarou se tratar de uma pandemia (OPAS, 2021).
Sete coronavírus humanos (HCoVs) já foram identificados: HCoV-229E, HCoV-OC43,
HCoV-NL63, HCoV-HKU1, SARS-COV (que causa síndrome respiratória aguda
59
grave), MERS-COV (que causa síndrome respiratória do Oriente Médio) e o, mais
recente, novo coronavírus que recebeu o nome de SARS-CoV-2), que causa a COVID-
19 (OPAS, 2021).
A maioria dos coronavírus são endêmicos, causando resfriados comuns, mas algumas
das cepas provocam infecções graves do trato respiratório inferior, e pode ser letal
(Ursacic et al, 2021; Da Silva, 2020; Salata et al, 2020).
Anteriormente dois surtos mais graves tinham acontecido envolvendo outros
coronavírus: em 2002 na China, SARS-CoV e em 2012 na Península Arábica, a MERS-
CoV (Ursacic et al, 2021; Zhong et al, 2003; Abdel-Moneim, 2014), sendo que o
COVID-19 é muito mais contagioso e infeccioso quando comparado ao anteriores
(Ursacic et al, 2021).
À medida que os estudos sobre o novo coronavírus foram se intensificando foi ficando
mais evidente a importância da transmissão aérea, por aerossóis, como principal via de
transmissão, ou seja: uma pessoa infectada (mesmo que assintomática) elimina o vírus
pela respiração, fala, tosse ou espirro, sob a forma de aerossóis que podem ser então
inalados por uma pessoa saudável (Greenhalgh et al, 2021; Wang et al, 2021; Randal et
al; 2021; Tang et al, 2021), e consequentemente contaminando-a.
Os aerossóis são partículas muito pequenas, constituídas de microrganismos, que são
liberadas pelo indivíduo (através da fala, tosse, etc.) e que podem ficar em suspensão no
ar por muitas horas após terem sido expelidas. Embora se dispersem rapidamente em
ambientes abertos, estas partículas tendem a se acumular em espaços fechados e mal
ventilados, podendo ser inaladas por outras pessoas e penetrar até o pulmão e
consequentemente, causar uma infecção. Este modo de transmissão dificulta a
instituição de medidas de prevenção eficazes e assim é mandatório a utilização de
máscaras adequadas. (Fiocruz, 2021 (b); OPAS, 2010).
Desta forma, no caso de transmissão de agentes biológicos por via aérea, como ocorre
na COVID-19, a ventilação do ambiente e distância entre as pessoas interferem na
transmissão de forma que ambientes fechados, com superlotação de pessoas e pouco
ventilados, como ocorre nos frigoríficos, tem maior probabilidade de transmissão do
vírus (Fiocruz, 2021 (b); Ursacic at al, 2021; Dutkiewicz et al, 2020).
Considerando ser a via aérea a principal via de transmissão do novo coronavírus, as
medidas de prevenção devem se concentrar no ar do ambiente, além da utilização de
máscaras pelos indivíduos. Ambientes abertos, bem ventilados devem ser preferidos,
60
pois permitem a troca constante do ar e em caso de utilização de sistemas de ar-
condicionado para refrigeração de ambientes estes devem garantir a renovação do ar. A
vacinação, que se encontra disponível desde o final de 2020, tem ajudado também na
diminuição da transmissão do vírus e da infecção (Fiocruz, 2021 (b)).
Com o início da pandemia vários surtos de COVID19 passaram a ocorrer em
frigoríficos de todo mundo (Ursacic et al, 2021; Dutkiewicz et al, 2020; Silva, 2020).
No Brasil, especificamente, verificou-se taxas elevadas de incidência da Covid-19 entre
os trabalhadores do setor, o que inclusive fez parar em 2020 algumas plantas frigoríficas
por determinação do Ministério Público do Trabalho para tentar frear a transmissão
entre os trabalhadores do local (Silva, 2020).
Como já descrito no item “risco biológico” deste relatório, as condições de trabalho em
frigorífico são propícias a transmissão aérea de doenças. Para Dutkiewicz et al, 2020, a
superlotação do ambiente de trabalho e a linha de produção em nória (correia
transportadora) não permitindo a manutenção de uma distância segura entre os
trabalhadores, são os fatores de risco que concorrem para disseminação da COVID-19
no ambiente frigorífico. Enquanto fatores relacionados ao clima, grande produção de
aerossóis associado a presença de poeiras orgânicas (penas, fezes dos animais) atuam
favorecendo a persistência do novo coronavírus neste ambiente (Dyal et al, 2020,
Middleton et al, 2020).
Em relação a questões climáticas, as baixas temperaturas, alta umidade relativa do ar e
ausência de luz solar, presentes em unidades frigoríficas estão entre os fatores que
favorecem a sobrevivência do SARSCOV-2 (Ursacic et al, 2021; Middleton, 2020;
Dutkiewicz et al, 2020).
Além disto, a umidade excessiva dos ambientes pela lavagem constante dos produtos
animais, de superfícies, equipamentos (bandejas, facas, etc.) e pisos, concorrem
facilitando a sobrevivência e propagação do vírus no ambiente (Ursacic, 2021).
Os sistemas de ar-condicionado, não permitindo a renovação do ar local, também
podem espalhar o vírus nos ambientes frigoríficos aumentando o risco de infecção
(Ursacic et al, 2021; Middleton et al,2020).
Em relação a uso de máscaras, Ursacic et al, 2021, adverte que em ambiente com
temperaturas baixas de 4-100 (situação presente em diversos setores do frigorífico) as
máscaras ficam úmidas rapidamente (pela condensação do ar exalado durante a
61
respiração) reduzindo o seu poder de filtração. Desta forma a escolha do tipo de
máscara a ser usada pelos trabalhadores deve ser bastante rigorosa.
A pandemia do novo coronavírus acendeu a luz para importância e magnitude da
exposição ocupacional a agentes biológicos em frigoríficos, mostrando como este
ambiente é altamente vulnerável frente a um vírus de transmissão aérea, com alto
potencial de disseminação e propagação.
Esta situação revela a necessidade de se investir em medidas para melhoria das
condições e dos ambientes de trabalho nas empresas frigoríficas, visando a redução de
disseminação e propagação não só do coronavírus, mas de outros agentes biológicos, em
geral.
Vale ainda comentar sobre as doenças relacionadas ao trabalho relativas à exposição
ocupacional ao frio. Considerando que:
- Nesta análise se avaliou os agravos a saúde que levam a afastamento do trabalho por
mais de 15 dias. As alterações mais frequentes decorrentes da exposição ao frio são de
dor e desconforto em mãos (Takeda, 2018), o que em geral pode não levara a
incapacidade laboral.
- Muitas das possíveis doenças relacionadas ao frio não se manifestam logo após a
exposição ao agente, o que dificulta o estabelecimento de nexo causal.
- Á exceção da hipotermia, a maioria das doenças relacionadas ao frio que
compreendem as dermatoses, doenças osteomusculares e cardiorrespiratórios são de
natureza multifatorial, o que dificulta ainda mais o estabelecimento de nexo causal.
Neste caso, a comparação entre a prevalência dessas doenças entre trabalhadores em
frigoríficos com trabalhadores de outros setores econômicos poderia contribuir para
investigação da existência de nexo causal.
- Na análise de dados do INSS foi observado que no item Traumatismo houve 08 casos
de “Geladura”, sendo 05 por B31 e 03 por B91. Estas lesões também denominadas
Eritema Pérnio”, são decorrentes da exposição ao frio associados a ambientes úmidos.
Acometem principalmente os pés e as mãos e se apresenta por lesões eritemocianótica
que em casos gaves pode se manifestar com ulcerações passíveis de infecção. Os
indivíduos acometidos muitas vezes apresentam quadro de dor, dormência e dificuldade
de usar as mãos (Barros, 2009).
- A exposição ao frio é inerente ao trabalho em frigoríficos, desde a etapa de cortes até a
embalagem dos produtos finais. Os estudos sobre o tema são escassos.
62
Estudos mais aprofundados devem ser feitos, no sentido de realizar um diagnóstico da
exposição ao risco e suas repercussões na saúde do trabalhador.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este projeto visou realizar uma pesquisa preliminar sobre os riscos ocupacionais da
indústria frigorífica e sua repercussão na saúde dos trabalhadores do setor. Mesmo
levando em conta a abrangência do tema, ao concluir esta pesquisa podemos considerar
que o seu objetivo foi contemplado.
Considerando os resultados aqui apresentados, fica evidente que o processo e as
condições de trabalho na indústria frigorífica impõem a seus trabalhadores exposição a
riscos de diversas naturezas e complexidade, que se associam direta e/ou indiretamente
com o perfil de adoecimento desta população.
Espera-se que o presente relatório possa contribuir como subsídio técnico para novos
estudos, bem como para implantação e/ou implementação de políticas públicas voltadas
para controle e prevenção de riscos ocupacionais na indústria frigorífica, visando a
melhoria dos ambientes e condições de trabalho, o que contribuirá na promoção da
saúde dos trabalhadores do setor.
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