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Considerações

SOBRE AS FORMAS DO RITO ROMANO DA


Santa Missa

Dom Fernando Arêas Rifan

ADMINISTRAÇÃO APOSTÓLICA PESSOAL

SÃO JOÃO MARIA VIANNEY

1
D
edico esse trabalho a todos os que,

“cum Petro et sub Petro”,

amam a Liturgia na sua forma tradicional,

especialmente os sacerdotes e fiéis

da nossa querida Administração Apostólica Pessoal

São João Maria Vianney

(o autor)

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SUMÁRIO

Introdução 6

I Considerações Gerais
1. A importância da Missa na Igreja
2. Os vários ritos da Santa Missa
3. O Rito Romano
4. A Reforma Litúrgica após o Concílio Vaticano II
5. Duas correntes de interpretação da Missa e do Concílio
6. A paz litúrgica desejada por Bento XVI

II Considerações sobre a forma atual ordinária do Rito Romano


Sua promulgação oficial pela Igreja
Essa promulgação foi um ato de poder do primado do Papa
A Igreja tem esse poder sobre a Liturgia
É matéria que atinge a essência da Igreja Católica
A Sé de Roma é imune de todo erro em matéria de Fé
A Nova Missa não pode, portanto, ser falsa ou heterodoxa
A adoção pelo Episcopado mundial
Ensino unânime dos teólogos e liturgicistas católicos tradicionais
É uma conclusão teológica que se impõe
As fontes da Revelação e o Magistério não podem ser separados
O critério de verdade e ortodoxia para o católico:
O Magistério da Igreja
O Magistério da Igreja é vivo e perpétuo
A assistência divina à Igreja é constante e infalível
Limites à resistência e às críticas
A hermenêutica da continuidade do novo Missal
Sobre a perpetuidade da Bula Quo Primum tempore de São Pio V
Sobre os freqüentes abusos litúrgicos
Resolvendo dificuldades: a) A explicação ortodoxa do novo Ofertório
Resolvendo dificuldades: b) Sobre os diversos modos de comungar
Resolvendo dificuldades: c) A questão do “Mistério Pascal”
Conservação da Missa na forma antiga por verdadeiros motivos e não por falsas razões
Posição católica equilibrada na presente crise
Perigo do cisma na posição extremista
Mas no passado houve afirmações nesse sentido!
A posição clara da nossa Administração Apostólica
Nosso combate contra o modernismo continua

III Considerações sobre a forma antiga, extraordinária, do Rito Romano


1. Por que então conservar a Missa na forma antiga?
2. A Missa na forma antiga é lícita, aprovada e nunca ab-rogada
3. Incompreensível e equivocada proibição da Missa na forma antiga
4. A adesão à Missa de São Pio V é legítima e digna de respeito
5. Permissão geral oficial do Papa para a Missa de São Pio V
6. Apelo do Papa à generosidade dos Bispos
7. A Missa de São Pio V tem direito de cidadania na Igreja
8. A Missa de São Pio V é desejada por diversas classes de pessoas…
9. Nem será causa de divisões. É um só rito sob duas formas legítimas
10. Crise na Igreja, crise litúrgica
11. A Missa de S. Pio V é um refúgio contra os abusos que deformam e arruínam a nova Liturgia
12. Causas dos abusos litúrgicos: a) “criatividade”
13. Causas dos abusos litúrgicos: b) Manipulação e banalização
14. Causas dos abusos litúrgicos: c) inculturação e secularismo

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15. Causas dos abusos litúrgicos: d) o celebrante “protagonista”
16. O rito na forma antiga enriquece toda a Igreja e beneficia até o novo rito
17. Riquezas da Missa no rito de São Pio V: a) sacralidade
18. Riquezas da Missa no rito de São Pio V: b) o sentido do mistério
19. Riquezas da Missa no rito de São Pio V: c) reverência e humildade
20. Riquezas da Missa no rito de São Pio V: d) beleza e profundidade
21. Riquezas da Missa no rito de São Pio V: e) o silêncio
22. A antiga liturgia, fonte de vocações sacerdotais e religiosas, de famílias cristãs e de vida católica
23. O Rito de São Pio V se insere nos séculos de Fé da Igreja
A Missa de São Pio V é fruto de um desenvolvimento orgânico,
não fabricada artificialmente
A Missa de São Pio V feita para preservar a Fé e a sã doutrina
Implicações doutrinais teológicas e eclesiológicas
O Ofertório da Missa na forma antiga
A comunhão na boca
A celebração “versus Orientem” e não “versus populum”
A boa Música Sacra na Liturgia na forma tradicional 65
A riqueza e o valor do latim na Liturgia

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA

4
INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem modestamente como objetivo secundar o desejo do Santo Padre, o Papa
Bento XVI, na sua Carta Apostólica Motu Proprio Summorum Pontificum, ou seja, a paz litúrgica, “a
reconciliação interna no seio da Igreja” [1], através do mútuo entendimento, compreensão e respeito
pelos ritos por ela aprovados.

Embora pareça geralmente que a Reforma Litúrgica, fruto do Concílio Vaticano II, tenha tido uma
aceitação pacífica e universal na Igreja, não significa que ela não tenha causado, desde o início,
estranheza e polêmica, sem ou com o devido fundamento teológico e litúrgico.

Na relação entre Missa Antiga e Missa Nova, ou seja, entre a forma antiga e a nova forma da Missa
no Rito Romano, alguns adotam a hermenêutica da ruptura e da incompatibilidade radical, como o
fazem com o Concílio Vaticano II com relação aos Concílios anteriores, considerando-o como um
marco zero do começo de uma nova Igreja. Assim, entre os amigos da Missa na forma antiga,
alguns, infelizmente, consideram a Missa na forma atual, em si mesma, tal como foi promulgada
oficialmente pela Igreja, como sendo não católica e demolidora da Fé, característica de outra e nova
Igreja. Do outro lado, em erro oposto, há os que odeiam a Missa na forma antiga, considerando-a
como algo que representa a antiga Fé da Igreja, uma monstruosidade insuportável, não levando em
conta sua riqueza litúrgica e teológica para toda a Igreja.

O Papa João Paulo II advertia: “A diversidade litúrgica pode ser fonte de enriquecimento, mas pode
também provocar tensões, incompreensões recíprocas e até mesmo cismas. Neste campo, é claro
que a diversidade não deve prejudicar a unidade. Esta unidade não pode exprimir-se senão na
fidelidade à fé comum … e à comunhão hierárquica” ([2]).

É no intuito de esclarecer e acalmar os ânimos, dentro de uma correta visão teológica e litúrgica,
que apresentamos este trabalho, evidentemente não exaustivo, de “Considerações sobre as formas
do Rito Romano da Santa Missa” considerações minhas e de muitas outras pessoas bem mais
capacitadas que recolhi, na linha de fidelidade ao Magistério da Igreja.

A alguns, que estão fora do problema, poderão parecer estranhas e impertinentes tais
considerações. “Onde já se viu – perguntarão – ter que provar que a Missa que o Papa celebra é
uma missa válida e católica?!” Mas, infelizmente, há quem não pense assim. “Onde já se viu –
perguntarão outros – ter que provar que a Missa adotada pela Igreja por vários séculos é uma missa
adotável ainda hoje e que obtém a legítima preferência de muitos católicos para seu proveito
espiritual?!” Infelizmente, porém, também há quem não pense assim.

Dada a complexidade do assunto, advertimos que o presente ensaio que apresentamos só poderá
ser compreendido se for lido na sua integridade, inclusive as notas de rodapé. Qualquer leitura ou
citação parcial poderá falsear o nosso pensamento.

Querendo o bem de todos e, sobretudo, da Santa Igreja, esperamos que essas considerações
possam contribuir para a unidade e comunhão, bem como para o crescimento espiritual e fervor de
todos.

+ Dom Fernando Arêas Rifan

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AS FORMAS DO RITO ROMANO DA SANTA MISSA

I CONSIDERAÇÕES GERAIS

1. A importância da Missa na Igreja.

O sacrifício é um ato da virtude da religião pelo qual se reconhece a suprema soberania de Deus,
Criador e Senhor. É algo que pertence à Lei Natural, inato no coração do homem. Por isso, todas as
religiões, até as falsas, pagãs, tiveram seus sacrifícios oferecidos à divindade.

No Antigo Testamento, conhecemos os sacrifícios de Abel, Noé, Abraão, Melquisedec, bem como os
regularizados pela Lei de Moisés. Eram sacrifícios para reatar e renovar a aliança da humanidade
com Deus, sacrifícios de adoração, ação de graças, satisfação pelos pecados e pedido de graças e
benefícios. Mas todos esses sacrifícios eram insuficientes no seu objetivo diante de Deus, dada a
condição de humanidade decaída pelo pecado original. O homem, por si só, não seria capaz de
oferecer um sacrifício digno de Deus, perfeitamente satisfatório e agradável a ele.

Assim, “por causa de nós homens e por causa de nossa salvação”, o Verbo de Deus se fez carne,
tornou-se um de nós, e, em nome da humanidade, veio oferecer um sacrifício digno de Deus. Com
sua Paixão e Morte na Cruz, ele o fez uma vez por todas, definitivamente, realizando “uma nova e
eterna aliança” da humanidade com Deus.

Esse sacrifício único e definitivo da Cruz, para benefício de toda a humanidade de todos os tempos
e lugares, Jesus quis que fosse perpetuado na Igreja até o fim dos séculos, para que a todos fossem
aplicados os frutos de sua Paixão. Por isso, ele instituiu o Sacrifício da Missa, pelo qual se renova
cada vez e se torna presente o seu sacrifício da Cruz.

Desse modo, a Santa Missa é o sacrifício da Nova Lei ou Aliança, o centro da Igreja Católica, a
razão de ser do sacerdócio católico e a característica da nossa identidade.

É o que nos ensina o Catecismo da Igreja Católica: “A Eucaristia é o coração e o ápice da vida da
Igreja, pois nela Cristo associa sua Igreja e todos os seus membros a seu sacrifício de louvor e ação
de graças oferecido uma vez por todas na cruz a seu Pai; por seu sacrifício ele derrama as graças
da salvação sobre o seu corpo, que é a Igreja. A Eucaristia é o memorial da páscoa de Cristo: isto é,
da obra da salvação realizada pela Vida, Morte e Ressurreição de Cristo, obra esta tornada presente
pela ação litúrgica. Enquanto sacrifício, a Eucaristia é também oferecida em reparação dos pecados
dos vivos e dos defuntos, e para obter de Deus benefícios espirituais ou temporais” [3].

O mesmo ensinamento nos traz o Direito Canönico: “Augustíssimo sacramento é a santíssima


Eucaristia, na qual se contém, se oferece e se recebe o próprio Cristo Senhor e pela qual
continuamente vive e cresce a Igreja. O Sacrifício Eucarístico, memorial da morte e ressurreição do
Senhor, em que se perpetua pelos séculos o Sacrifício da cruz, é o ápice e a fonte de todo o culto e
da vida cristã, por ele é significada e se realiza a unidade do povo de Deus, e se completa a
construção do Corpo de Cristo. Os outros sacramentos e todas as obras de apostolado da Igreja se
relacionam intimamente com a santíssima Eucaristia e a ela se ordenam” [4].

Por isso, “é necessário que todos os fiéis tenham por seu principal dever e suma dignidade participar
do santo sacrifício eucarístico, não com assistência passiva, negligente e distraída, mas com tal
empenho e fervor que os ponha em contato íntimo com o Sumo Sacerdote…” [5].

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A Santa Missa é o grande mistério da nossa fé, a mais bela coisa que existe do lado de cá do
Paraíso. Pela sua sublimidade e dignidade, a Eucaristia merece, pois, o nosso máximo amor,
admiração, respeito e veneração.

2. Os vários ritos da Santa Missa.

Jesus instituiu a Eucaristia em meio à ceia pascal judaica, sua Última Ceia, apenas nos seus
elementos essenciais. Os Apóstolos e seus sucessores, – ou seja, a Igreja – foram enriquecendo o
que Jesus instituiu com várias cerimônias e ritos.

A partir da primeira comunidade de Jerusalém, outras foram surgindo, tornando-se comunidades


locais de outras cidades antigas, como Antioquia, conservando a unidade de fé e moral, segundo as
Escrituras e as tradições de Jerusalém. Essas comunidades se desenvolveram e adotaram
costumes próprios da região, nascendo assim os diversos ritos Já no século IV, documentos nos
revelam a existência de vários ritos.

Assim, a única Igreja Católica, que comporta a Igreja do Oriente e do Ocidente, una na sua unidade
de culto, tem um só e mesmo sacrifício da Missa, mas celebrada numa grande variedade de ritos
orientais e latinos, todos eles sendo expressões diferentes do mesmo culto católico prestado a
Deus. A diversidade litúrgica, quando legítima, é fonte de enriquecimento e não prejudica a unidade
da Igreja [6]. Pelo contrário, “as diversas tradições litúrgicas (ou ritos), legitimamente reconhecidas
por significarem e comunicarem o mesmo mistério de Cristo, manifestam a catolicidade da Igreja”
[7]. “A riqueza insondável do Mistério de Cristo é tal que nenhuma liturgia é capaz de esgotar sua
expressão. A história do surgimento e do desenvolvimento desses ritos atesta uma
complementaridade surpreendente” [8]

A Igreja Oriental tem cinco grandes famílias de ritos litúrgicos: Bizantino, Armênio, Antioqueno,
Caldeu e Alexandrino, com suas dezenas de subdivisões. Bem conhecidos entre nós são, por
exemplo, o rito Maronita, o rito Melquita e o rito Ucraniano. A Igreja do Ocidente – Latina – tem
também vários ritos, como o Ambrosiano, o Bracarence, o Mozárabe e, o mais importante deles, o
Rito Romano, o rito usado na Igreja de Roma pelo Santo Padre o Papa, rito ao qual nós
pertencemos.

3. O Rito Romano.

O Rito Romano é antiqüíssimo na Igreja e, segundo atesta o Papa Paulo VI na sua Constituição
Apostólica Missale Romanum, “conservou sempre a mesma forma que foi fixada entre os séculos IV
e V” [9]. Conservado assim na Igreja de Roma desde o século IV, passando por diversos
enriquecimentos ao longo dos séculos, teve sua principal promulgação, em obediência às
determinações do Concílio de Trento, em 1570, pelo Papa São Pio V.

Na sua Instrução Geral sobre o Missal Romano, proêmio, n. 7, o mesmo Papa Paulo VI recorda que
o Missal de São Pio V, de 1570, era praticamente o mesmo que o de 1474, que por sua vez
reproduz com fidelidade o do tempo do Papa Inocêncio III (século XIII), sendo que, no início da sua
Constituição Apostólica Missale Romanum, ele lembra que este Missal procede essencialmente de
uma tradição antiqüíssima, desde os tempos de São Gregório Magno – século VI [10]. Liturgistas e
historiadores abalizados afirmam que o Cânon Romano, como temos hoje, já estava constituído
basicamente no século IV.

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“Após o Concílio de Trento, a irrupção da Reforma protestante se fez, sobretudo, sob a modalidade
de ‘reformas litúrgicas’ (…) tanto que os limites entre o que era e o que não era ainda católico
ficavam freqüentemente difíceis de definir. Nessa situação de confusão, tornada possível pela
ausência de normas litúrgicas e pelo pluralismo litúrgico herdado da Idade Média, o Papa decidiu
que o Missale Romanum, o texto litúrgico da cidade de Roma, por ser verdadeiramente católico,
devia ser introduzido em toda a parte onde não se pudesse apelar para uma liturgia que remontasse
pelo menos a dois séculos antes. Lá onde isto se verificava, se podia manter a liturgia precedente,
dado que o seu caráter católico podia ser considerado como certo” [11].

4. A Reforma Litúrgica após o Concílio Vaticano II.

O Missal promulgado pelo Papa São Pio V não ficou intacto, mas foi se desenvolvendo
organicamente, recebendo modificações feitas pelos Papas posteriores. Como explicava o então
Cardeal Joseph Ratzinger, nosso Papa atual, “já no ano 1614 havia aparecido, durante o papado de
Urbano VIII, uma nova versão do missal, que também incluía diferentes melhorias. Quer dizer, tanto
antes como depois de Pio V, cada século foi deixando suas marcas no missal, que era concebido
como um único livro, submetido, por um lado, a um processo contínuo de purificação e, por outro, de
crescimento. …deve-se dizer que a liturgia da Igreja (como a própria Igreja) sempre está viva e por
tanto também sempre em processo de maturação. Nesse processo pode haver mudanças maiores
ou menores. Para a liturgia católica um período de quatrocentos anos não significaria muito; se
remonta realmente a Cristo e aos apóstolos e desde então esteve sempre em processo de mudança
até chegar a nós. O missal, como a Igreja mesma, não pode ser modificado” [12].

Após quatrocentos anos de uso, portanto, era natural que o Missal promulgado por São Pio V
necessitasse de uma reforma. Nisso praticamente todos na Igreja eram concordes. Tanto assim que
o primeiro documento do Concílio Vaticano II foi o “Sacrossanctum Concilium”, sobre a Reforma
Litúrgica, que recebeu surpreendente quase unânime aprovação [13]. Nesse documento, o Concílio
mandava que se fizesse uma reforma na liturgia romana.

Essa reforma entrou em vigor em 1970, tendo sido o novo Missal promulgado pela Constituição
Apostólica Missale Romanum do Santo Padre, o Papa Paulo VI, de 3 de abril de 1969.

Mas essa reforma provocou grande polêmica na Igreja. Assim como o Concílio Vaticano II, a
Reforma Litúrgica dele provinda ocorreu num período conturbado de grande crise na Igreja e serviu
de ocasião e pretexto para grandes abusos e erros, cometidos e propagados em seu nome [14].

5. Duas correntes de interpretação da Missa e do Concílio.

Com relação à nova Missa, assim como ao Concílio Vaticano II, há duas correntes de interpretação,
ou duas hermenêuticas, como se expressa o Papa Bento XVI: a hermenêutica da descontinuidade e
ruptura e a hermenêutica da reforma ou renovação na continuidade. A primeira, a da
descontinuidade ou ruptura, é a adotada pelos radicais, progressistas e tradicionalistas, os primeiros
para adotá-la e os segundos para rejeitá-la. Essa hermenêutica leva a aceitar uma ruptura entre a
Igreja pré-conciliar e a Igreja pós-conciliar, entre a Missa tradicional e a nova Missa. A hermenêutica
da reforma ou renovação na continuidade é a adotada pelo Papa Bento XVI [15].
Sobre esse ponto, ouçamos o que disse o então Cardeal Joseph Ratzinger, nosso Papa atual:
“Pessoalmente, eu fui desde o princípio a favor da liberdade de continuar a usar o antigo Missal, por
um motivo muito simples: começou-se desde então a falar de uma ruptura com a Igreja pré-conciliar
e da formação de modelos diferentes de igrejas: uma igreja pré-conciliar ultrapassada e uma igreja
8
nova, conciliar. É, aliás, agora o slogan dos Lefebristas afirmar que há duas igrejas, ficando para
eles patente a grande ruptura na existência de dois Missais, que estariam em ruptura entre eles.
Parece-me essencial e fundamental reconhecer que os dois Missais são Missais da Igreja, e da
Igreja que permanece sempre a mesma. O prefácio do Missal de Paulo VI diz explicitamente que ele
é um Missal da mesma Igreja, inscrevendo-se na sua continuidade. E para sublinhar que não há
ruptura essencial, que a continuidade e a identidade da Igreja existem, parece-me indispensável
manter a possibilidade de celebrar segundo o antigo Missal como sinal da identidade permanente da
Igreja. Para mim a razão fundamental é: o que era até 1969 aliturgia da Igreja, a coisa mais sagrada
para todos nós, não pode se tornar após 1969 – com um positivismo incrível – a coisa mais
inaceitável. Se queremos ter credibilidade, mesmo com o slogan da modernidade, é absolutamente
necessário reconhecer que o que era fundamental antes de 1969, permanece assim depois: é uma
mesma sacralidade, uma mesma liturgia” [16].

6. A paz litúrgica desejada por Bento XVI.

O Santo Padre, o Papa Bento XVI, na Carta aos Bispos que acompanha a Carta Apostólica Motu
Proprio Summorum Pontificum, escreveu que deseja a paz litúrgica na Igreja, por isso estava
liberando a celebração da Missa na forma antiga, para que existisse tranquilamente ao lado da
forma atual: “cheguei assim à razão positiva que me motivou a atualizar através deste Motu Proprio
o de 1988 (Motu Proprio de João Paulo II que permitia a Missa de São Pio V, pedindo a
generosidade dos Bispos). Trata-se de chegar a uma reconciliação interna no seio da Igreja”. Essa
“reconciliação interna”, querida pelo Papa, requer que os católicos das duas formas litúrgicas do
mesmo Rito Romano aprendam a se conhecer, a se respeitar e a se amar como membros da
mesma Igreja.

Quando Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o então Cardeal Ratzinger tranqüilizava os
sacerdotes e fiéis da Missa de São Pio V em peregrinação a Roma: “É preciso que tais ansiedades e
temores cessem enfim [temor de ver a convergência entre as duas formas litúrgicas como uma
manobra para suprimir a antiga]! Se nas duas formas de celebração a unidade da fé e a unicidade
do mistério aparecem claramente, isso não pode ser para nós senão uma razão de nos alegrar-nos
e agradecer ao bom Deus. Na medida em que nós todos cremos, vivemos e agimos segundo estas
motivações, nós poderemos também persuadir os Bispos de que a presença da antiga liturgia não
perturba e nem quebra a unidade de sua diocese, mas que ela é antes um dom destinado a
construir o Corpo de Cristo, do qual nós somos servidores” [17]. E o Papa Venerável João Paulo II,
logo depois, na audiência de 26 de outubro, exortou a “todos os católicos a fazer gestos de unidade
e renovar sua adesão à Igreja, para que a legítima diversidade e as diferentes sensibilidades, dignas
de respeito, não os separem uns dos outros, mas os impulsionem a anunciar juntos o Evangelho”
[18].

Outrossim, o Santo Padre o Papa Bento XVI, na Carta Apostólica “motu proprio data” Summorum
Pontificum, declara que “essas duas expressões da ‘Lex Orandi’ da Igreja não levarão de forma
alguma a uma divisão da ‘Lex credendi’” e que “não é apropriado falar destas duas versões do
Missal Romano como se fossem ‘dois ritos’. Trata-se, antes, de um duplo uso do único e mesmo
Rito” [19]. E, visando sempre a unidade e a reconciliação litúrgica, afirma o Papa que “não existe
qualquer contradição entre uma edição e outra do Missale Romanum. Na história da Liturgia, há
crescimento e progresso, mas nenhuma ruptura. Aquilo que, para as gerações anteriores, era
sagrado, permanece sagrado e grande também para nós, e não pode ser de improviso totalmente
proibido ou mesmo prejudicial” [20].

9
II - CONSIDERAÇÕES RELATIVAS À MISSA NA FORMA ATUAL ORDINÁRIA DO RITO ROMANO
OU MISSA PROMULGADA PELO PAPA PAULO VI.

1. Sua promulgação oficial pela Igreja.

A nova Liturgia da Missa foi promulgada oficial e solenemente pela Sé de Pedro como uma lei
litúrgica universal da Igreja, na Constituição Apostólica Missale Romanum do Santo Padre o Papa
Paulo VI [21], que se encerra assim:

“Por fim, queremos dar força de lei a tudo que até aqui expusemos sobre o novo Missal Romano.
Nosso predecessor, São Pio V, promulgando a edição-príncipe do Missal Romano, apresentou-o ao
povo cristão como fator da unidade litúrgica e sinal da pureza do culto da Igreja. Da mesma forma,
nós, no novo Missal, embora deixando lugar para “legítimas variações e adaptações” (Cf. Conc.
Vaticano II, Const. sobre a Sagrada Liturgia, SC, nnº 38-40, AAS 56 (1964), p. 110), segundo as
normas do Concílio Vaticano II, esperamos que seja recebido pelos fiéis como um meio de
testemunhar e afirmar a unidade de todos, pois, entre tamanha diversidade de línguas, uma só e
mesma oração, mais fragrante que o incenso, subirá ao Pai celeste por nosso Sumo Sacerdote
Jesus Cristo, no Espírito Santo. O que prescrevemos por esta nossa Constituição entrará em vigor
este ano, a partir do dia 30 de novembro, primeiro domingo do Advento. Tudo o que aqui
estabelecemos e ordenamos queremos que seja válido e eficaz, agora e no futuro, não obstante a
qualquer coisa em contrário nas Constituições e Ordenações Apostólicas dos nossos
predecessores, e outros estatutos, embora dignos de menção e derrogação especiais. Dado em
Roma, junto de São Pedro, a 3 de abril de 1969, quinta-feira da Ceia de Nosso Senhor Jesus Cristo,
sexto ano do nosso pontificado” [22].

Essa lei litúrgica foi reeditada em duas sucessivas edições pelo Papa Venerável João Paulo II [23].
E, para que não houvesse qualquer dúvida quanto à sua promulgação oficial, o Santo Padre o Papa
Bento XVI afirmou: “É preciso antes de mais afirmar que o Missal promulgado por Paulo VI e
reeditado em duas sucessivas edições por João Paulo IIobviamente é e permanece a forma normal
– forma ordinária – da Liturgia Eucarística” da Liturgia romana da Igreja Católica [24].

Essa promulgação (forma, no sentido filosófico) é a garantia contra qualquer irregularidade doutrinal
que pudesse ter havido na sua confecção (matéria), embora ela possa ser melhorada na sua
expressão litúrgica. E é a sua promulgação oficial, e não o modo de sua confecção, que a torna um
documento do Magistério da Igreja [25].

2. Essa promulgação foi um ato de poder do primado do Papa.

Pelos termos usados pelo Papa Paulo VI na promulgação do novo Missal, compreende-se
perfeitamente tratar-se de um ato de poder do Sumo Pontífice, como sucessor de São Pedro e chefe
de toda a Igreja, como o havia feito São Pio V. O Concílio Vaticano I proclama: “Ensinamos,
portanto, e declaramos que a Igreja Romana, por disposição do Senhor, tem o primado do poder
ordinário sobre todas as outras Igrejas; e que este poder de jurisdição do Romano Pontífice, que é
verdadeiramente episcopal, é imediato: portanto, a este poder estão obrigados ao dever de
subordinação hierárquica e verdadeira obediência pastores e fiéis de qualquer rito e dignidade, seja
individualmente seja coletivamente, não só nas coisas relativas à Fé e à Moral, mas também nas
relativas à disciplina e ao governo da Igreja dispersa pelo mundo inteiro. De modo que, guardada
esta unidade com o Romano Pontífice, tanto de comunhão como de profissão da mesma Fé, seja a
10
Igreja de Cristo um só Rebanho, sob um só Pastor supremo (Jo 10,16). Tal é a doutrina da verdade
católica, da qual ninguém pode desviar-se sem perigo para a sua Fé e sua salvação” [26].

3. A Igreja tem esse poder sobre a Liturgia.

A Igreja tem poder de criar e modificar os seus ritos. Assim, sobre “o poder da Igreja sobre a
administração do sacramento da Eucaristia”, o Concílio de Trento declara expressamente que “a
Igreja sempre teve o poder de, na administração dos sacramentos, salva a substância deles,
determinar e mudar aquelas coisas que julgar conveniente à utilidade dos que os recebem ou à
veneração dos mesmos sacramentos, segundo a variedade das coisas, tempos e lugares” [27].

O Papa Pio XII nos ensina, na sua célebre encíclica sobre a Sagrada Liturgia: “A hierarquia
eclesiástica tem usado sempre desse seu direito em matéria litúrgica, preparando e ordenando o
culto divino e enriquecendo-o sempre de novo esplendor e decoro para a glória de Deus e vantagem
dos fiéis. Não duvidou, além disto – salva a substância do sacrifício eucarístico e dos sacramentos –
em mudar aquilo que não julgava adaptado, em acrescentar o que parecia contribuir melhor para a
glória de Jesus Cristo e da augusta Trindade, para instrução e estímulo salutar do povo cristão. A
sagrada liturgia, com efeito, consta de elementos humanos e de elementos divinos. Esses, tendo
sido instituídos pelo divino Redentor, não podem, evidentemente, ser mudados pelos homens;
aqueles, ao contrário, podem sofrer várias modificações, aprovadas pela hierarquia sagrada,
assistida pelo Espírito Santo, segundo as exigências dos tempos, das coisas e das almas. Disso se
origina a estupenda variedade dos ritos orientais e ocidentais…” [28].

Deve-se notar que só a autoridade da Igreja pode declarar o que é legítimo ou não na celebração
dos sacramentos, especialmente da Santíssima Eucaristia. O Direito Canônico nos ensina que
pertence à autoridade da Igreja determinar o que é válido e lícito na celebração, administração e
recepção dos Sacramentos, pois eles são os mesmos para toda a Igreja e pertencem ao depósito
divino (Cf. C.D.C. cânon 841 [29]).

4. É matéria que atinge a essência da Igreja Católica.

A unidade da Igreja Católica é uma das suas notas características essenciais, junto com a
santidade, a catolicidade e a apostolicidade. A Igreja, portanto, nunca pode perder sua unidade [30],
sob pena de deixar de existir. E a unidade da Igreja é tríplice: unidade de governo – um só governo,
o do Romano Pontífice e dos Bispos em comunhão com ele -, unidade de fé – uma só doutrina – e
unidade de culto prestado a Deus, sobretudo através dos Sacramentos, especialmente a Santíssima
Eucaristia. A Igreja perderia sua unidade de culto, que lhe é essencial, se adotasse oficialmente uma
Missa falsa ou ofensiva a Deus, pois esse culto de nada serviria.

Ademais, a Eucaristia é o centro, a característica e a identidade da Igreja católica. Se a Igreja


adotasse uma Missa ruim, pecaminosa, ofensiva a Deus, estaria atingindo a sua própria identidade,
o que é absurdo pelas palavras de Nosso Senhor que lhe garantem a indefectibilidade, pela
assistência perene e contínua do Divino Espírito Santo.

5. A Sé de Roma é imune de todo erro em matéria de Fé.

É dogma de Fé, definido pelo Concílio Ecumênico Vaticano I, que “esta Sé de São Pedro permanece
imune de todo erro, segundo a promessa de Nosso Divino Salvador feita ao Príncipe de Seus
Apóstolos: ‘Eu roguei por ti, para que tua Fé não desfaleça; e tu, uma vez convertido, confirma teus
irmãos’ (Lc 22,32)”. [31] Esse mesmo Concílio Ecumênico Vaticano I define que “este carisma da
11
verdade e da fé, que nunca falta, foi conferido a Pedro e a seus sucessores nesta cátedra…” [32]

O Catecismo da Igreja Católica ensina que “o grau supremo da participação na autoridade de Cristo
é assegurado pelo carisma da infalibilidade. Esta tem a mesma extensão que o depósito da
revelação divina; estende-se ain-da a todos os elementos de doutrina, incluindo a moral, sem os
quais as verdades salutares da fé não podem ser preserva­das, expostas ou observadas” [33].

6. A Nova Missa não pode, portanto, ser falsa ou heterodoxa.

A promulgação de uma lei litúrgica para toda a Igreja Latina é, portanto, matéria ligada à Fé e aos
Costumes, matéria grave na qual não é possível a Igreja nos induzir ao erro, como nos recorda o
Papa Pio XII: “A lei da oração estabeleça a lei da Fé”… “A lei da Fé deve estabelecer a lei da
oração” [34]. Assim sendo, é impossível que essa liturgia, em si mesma, seja herética, não católica,
ou até menos católica ou ilícita, pecaminosa ou mesmo prejudicial à Fé. Pode sê-lo por
circunstâncias adjuntas, que infelizmente muitas vezes ocorrem, mas não em si mesma, tal qual foi
promulgada, ou corretamente celebrada.

Santo Tomás de Aquino ensina: “Se se considera a Providência divina que dirige sua Igreja pelo
Espírito Santo para que ela não erre, como ele mesmo prometeu em João 14,26, que o Espírito
quando viesse ensinaria toda a verdade, quer dizer, com relação às coisas necessárias à salvação;
é certo ser impossível que o julgamento da Igreja universal erre sobre as coisas que dizem respeito
à fé. Donde deve-se estar pela sentença do Papa, a quem pertence determinar sobre a fé, quando
profere em juízo, do que pela opinião de quaisquer homens sábios nas Escrituras…” [35].

É proposição censurada pelo Magistério dizer que a Igreja, regida pelo Espírito de Deus, possa
promulgar uma disciplina perigosa ou prejudicial às almas (Cf. Papa Pio VI [36], e Papa Gregório
XVI [37]). Pelo contrário, como disse o Papa Pio XII, as leis universais da Igreja são santíssimas:
apesar das falhas dos seus membros, “sem mancha alguma, brilha a Santa Madre Igreja nos
sacramentos com que gera e sustenta os filhos; na fé que sempre conservou e conserva
incontaminada; nas leis santíssimas que a todos impõe, nos conselhos evangélicos que dá; nos
dons e graças celestes, pelos quais com inexaurível fecundidade produz legiões de mártires, virgens
e confessores. Nem é sua culpa se alguns de seus membros sofrem de chagas ou doenças; por
eles ora a Deus todos os dias: “Perdoai-nos as nossas dívidas” e incessantemente com fortaleza e
ternura materna trabalha pela sua cura espiritual.” [38].

7. A adoção pelo Episcopado mundial.

A nova Liturgia foi adotada pelo Episcopado mundial em comunhão com o Papa por quase quatro
décadas, o que é também um argumento a favor da sua legitimidade [39]. São Roberto Belarmino
faz essa consideração: “Se todos os Bispos errassem, toda a Igreja erraria, pois o povo é obrigado a
seguir os seus Pastores, como disse Jesus em S. Lucas 10,16: ‘Quem vos ouve, a mim ouve’ e São
Mateus 23,3: ‘Fazei tudo quanto vos disserem’” [40]. Na presença desse fato, lembramo-nos da
consideração de Dom Antônio de Castro Mayer: “Caso toda a hierarquia viesse a falhar, seria a
palavra de Jesus Cristo que teria falhado, pois o Divino Salvador confiou à hierarquia o governo e a
direção de sua Igreja até o fim dos séculos e, mais, sua assistência para que ela não falhasse.” [41].

Assim, tendo sido a nova liturgia da Missa adotada por toda a Igreja hierárquica por quatro décadas,
se ela fosse, por si mesma, atentatória contra a fé, então teríamos um escurecimento geral das
verdades da religião. Ora, “a proposição que afirma: ‘nestes últimos séculos desencadeou-se um
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escurecimento total (sparsam esse generalem obscurationem) sobre as verdades de maior
gravidade e importância relativas à religião e que são o fundamento da Fé e da Moral da doutrina de
Jesus Cristo’ – é herética” (primeira proposição condenada do Sínodo jansenista de Pistóia) [42].

8. Ensino unânime dos teólogos e liturgistas.

A unanimidade dos teólogos nos ensina a infalibilidade ou inerrância da Igreja nas suas leis
universais, entre as quais se situam as leis litúrgicas. E é bom ressaltar que o consenso moralmente
unânime dos teólogos em um ponto específico de doutrina representa uma opinião certa (theologice
certum) e é um sinal certo da Divina Tradição.[43]

Eis as considerações de alguns desses teólogos, liturgistas e canonistas:

A Igreja “deixaria de ser santa”, e, portanto, “deixaria de ser a verdadeira Igreja de Cristo”, caso
“preceituasse a todos os fiéis, através da sua suprema autoridade, algo contra a fé e os bons
costumes” (Cônego Hervé) [44].

“Os atos da liturgia tem um valor dogmático; são as expressões do culto de Deus na Igreja. Ora, a
manifestação exterior do culto tem uma relação intima com a fé. Para ser razoável, o culto não pode
deixar de ser conforme à fé” (Joseph Haegy) [45].

“Os Romanos Pontífices são infalíveis ao fazer leis universais sobre a disciplina eclesiástica, de
modo que jamais estabeleçam qualquer coisa contra a fé e os bons costumes, embora não atinjam o
supremo grau de prudência” (Wernz e Vidal, canonistas) [46].

“Esta infalibilidade consiste em que a Igreja num juízo doutrinal nunca possa estabelecer uma lei
universal, que seja contrária à fé, aos bons costumes e à salvação das almas…(no entanto) em
lugar algum foi prometido à Igreja um sumo grau de prudência para promulgar as melhores leis para
todos os tempos, lugares e circunstâncias” (Tanquerey) [47].

“A Igreja é infalível na sua disciplina geral. Pelo termo disciplina geral entendem-se as leis e as
práticas que pertencem à ordenação externa de toda a Igreja. Isto diz respeito a elementos tais
como o culto externo, como a liturgia e as rubricas ou a administração dos sacramentos (…) Se ela
fosse capaz de prescrever ou de ordenar ou de tolerar em sua disciplina alguma coisa contrária à fé
e aos costumes, ou alguma coisa prejudicial à Igreja ou nociva aos fiéis, ela falharia na sua missão
divina, o que seria impossível” (Hermann) [48].

“A doutrina da indefectibilidade da Igreja é uma conseqüência da promessa de Nosso Senhor a São


Pedro ‘sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela’
(Mt. 16,18)… Alguns católicos, durante as atuais tribulações,… dizem que a Missa e os sacramentos
foram destruídos pelos mais recentes ‘ocupantes’ da Sé de Pedro. Se essas pessoas estão corretas
significa que Nosso Senhor Jesus Cristo abandonou a Sua Igreja… Mas isto é algo que nunca pode
acontecer, pois contradiria a solene promessa de Nosso Senhor acima citada… É também
impossível que Nosso Senhor pudesse abandonar Sua Igreja, pois isso frustraria o verdadeiro fim
para o qual a Igreja foi fundada, para ser o instrumento de Deus para a salvação de nossas almas.
Se Nosso Senhor abandonasse Sua Igreja, as palavras “quem vos ouve a mim ouve” seriam
verdadeiras apenas para um excepcional pequeno grupo que se considera a si mesmo como o
eleito, o que é sempre a mais evidente característica de uma seita. Nosso Senhor não fundou uma
seita, mas a Igreja que é universal, isto é, Católica” (Prof. Van der Ploeg, O. P) [49].

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9. É uma conclusão teológica que se impõe.

Pela sua relação com a fé, a infalibilidade das leis litúrgicas universais da Igreja é uma conclusão
teológica admitida pelo comum e constante sentir dos teólogos católicos.

Alguns advogam que se deva limitar a submissão dos católicos ao ensinamento dogmático infalível
da Igreja. Eis o que a isso responde o Papa Beato Pio IX: “Porque ainda que se tratasse daquela
submissão que se deve prestar mediante um ato de fé divina, não haveria, sem embargo, que limitá-
la às matérias que foram definidas por decretos expressos dos Concílios ecumênicos ou dos
Romanos Pontífices e desta Sé, mas haveria também que estender-se às matérias que se ensinam
como divinamente reveladas pelo magistério ordinário da Igreja inteira espalhada pelo mundo e,
portanto, com universal e comum consentimento são consideradas pelos teólogos católicos como
pertencentes à fé” [50].

E continua o mesmo Papa: “Como se trata daquela sujeição à qual estão obrigados em consciência
todos aqueles católicos que se dedicam às ciências especulativas,… não basta aos sábios católicos
aceitar e reverenciar os supracitados dogmas da Igreja,mas que é também necessário a eles
submeter-se às decisões que, pertencentes à doutrina, são emanadas das Congregações
Pontifícias, bem como àqueles capítulos de doutrina que, pelo comum e constante sentir dos
católicos, são considerados como verdades e conclusões teológicas, tão certas que as opiniões
contrárias a esses capítulos de doutrina, ainda que não possam ser chamadas de heréticas,
merecem, sem embargo, alguma censura teológica” [51].

Como ensinava o então Cardeal Ratzinger, quando Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé,
o dogma da infalibilidade pontifícia “significa, exatamente, que no cristianismo, na fé católica em
todo caso, há uma última instância que decide. Significa que o Papa tem autoridade para decidir,
com caráter vinculante, nas questões essenciais, e que nós, definitivamente, podemos ter a certeza
de que a herança de Cristo foi interpretada corretamente” [52].

10. As fontes da Revelação e o Magistério não podem ser separados.

Assim como os protestantes, querendo pelo livre-exame serem eles mesmos os intérpretes da
Bíblia, usam a Sagrada Escritura contra o Magistério da Igreja, outros, até entre os católicos,
pretendem, às vezes, separar a Tradição do Magistério, fazendo-se eles mesmos árbitros da
Tradição, usando dela para atacar o Magistério.

Mas não se pode usar a Tradição ou a Escritura contra o Magistério, como nos ensina a Igreja: “Os
Apóstolos, transmitindo o que eles mesmos receberam, advertem os fiéis a que mantenham as
tradições que aprenderam quer por palavra quer por escrito (cf. 2 Ts 2, 15), e a que lutem pela fé,
recebida uma vez para sempre (cf. Jd 3). Ora estas tradições, recebidas dos Apóstolos, abrangem
tudo quanto contribui para a santidade de vida do povo de Deus e para o aumento da fé; assim a
Igreja, na sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo aquilo que ela
própria é e tudo quanto ela crê (Conc. Vat. I, Const. Dogm. De Fide Catholica cap. 4; Denz. 1800
(3020))… A Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um só depósito sagrado da palavra
de Deus, confiado à Igreja; mantendo-se fiel a este depósito, todo o povo santo, unido aos seus
Pastores, persevera assiduamente na doutrina dos Apóstolos, na união fraterna, na fração do pão e
nas orações (cf. At 2,42) de tal modo que, conservando, praticando e professando a fé transmitida,
haja singular unidade de espírito entre os Pastores e os fiéis (cf. Pio XII, Const. Apost.
Munificentissimus Deus, 1 nov. 1950; cf. as palavras de São Cipriano, Epist. 6,8: ‘A Igreja é o povo
unido ao sacerdote e o rebanho unido ao seu Pastor’). Todavia, o múnus de interpretar
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autenticamente a palavra de Deus escrita ou contida na Tradição (Cf. Conc. Vat. I, Const. Dogm. De
Fide Catholica, cap. 3 de fide – Denz. 1793 (3011)), só foi confiado ao Magistério vivo da Igreja (cf.
Pio XII, Encíclica Humani Generis – Denz. 2314 (3886)), cuja autoridade é exercida em nome de
Jesus Cristo… É claro, portanto, que a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da
Igreja, segundo o sapientíssimo plano de Deus, estão de tal maneira ligados e unidos que uma coisa
sem as outras não se mantém, mas juntas, cada uma a seu modo, sob a ação do Espírito Santo,
colaboram eficazmente para a salvação das almas” [53].

Essa doutrina nos é recordada pelo Catecismo: “O ofício de interpretar autenticamente a Palavra de
Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se
exerce em nome de Jesus Cristo (Dei Verbum, 10), isto é, foi confiado aos Bispos em comunhão
com o sucessor de Pedro, o Bispo de Roma” [54].

Essa verdade foi recentemente lembrada pelo Santo Padre, o Papa Bento XVI: “a unidade é
primariamente unidade de fé, sustentada pelo depósito sagrado. cujo primeiro guardião e defensor é
o Sucessor de Pedro” [55].

11. O critério de verdade e ortodoxia para um católico: o Magistério da Igreja.

É o que nos ensina São Pio X: “o primeiro e maior critério da fé, a regra suprema e inquebrantável
da ortodoxia é a obediência ao magistério sempre vivo e infalível da Igreja, estabelecido por Cristo
columna et firmamentum veritatis, a coluna e o sustento da verdade.” [56].

E o Papa venerável Pio XII também ensina que “a norma próxima e universal da verdade” é o
“Magistério da Igreja”, “visto que a ele confiou Nosso Senhor Jesus Cristo a guarda, a defesa e a
interpretação do depósito da Fé, ou seja, das Sagradas Escrituras e da Tradição divina” [57].
“Porque para explicar as coisas que estão contidas no Depósito da Fé, não foi aos julgamentos
privados que o Nosso Salvador as confiou, mas sim ao Magistério Eclesiástico” [58]. “O encargo de
interpretar autenticamente a Palavra de Deus, escrita ou transmitida, foi confiado exclusivamente ao
Magistério vivo da Igreja, ao Papa e aos Bispos em comunhão com ele, cuja autoridade é exercida
em nome de Jesus Cristo” [59]. “Por desígnio sapientíssimo de Deus, a Sagrada Tradição, a
Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja são de tal forma conexos e unidos entre si que um, sem
os outros, não pode subsistir, e que todos juntos, cada um segundo o seu modo, sob a ação do
mesmo Espírito Santo, contribuem eficazmente para a salvação das almas” [60].

Na verdade, “o livre exame, ou seja, a interpretação privada que cada qual fizesse das fontes da
Revelação, seria a maior fonte de divisões: “quantas cabeças, tantas sentenças” [61]. Como
observava Dom Antônio de Castro Mayer: “Não compreendemos, portanto, como é possível formar
católicos, ignorando totalmente a fonte mais próxima da verdade revelada, que é o Magistério vivo.
Só por semelhante atitude se tornam suspeitos os fautores de um novo cristianismo” [62]; “ninguém
tem o direito de julgar a palavra do Papa e só aceita-la se receber seu beneplácito” [63].

Santo Tomás de Aquino nos ensina: “O que possui a mais alta autoridade é o costume da Igreja,
que deve ser preferido a tudo o mais, pois a própria doutrina dos doutores católicos tira da Igreja a
sua autoridade. Por onde, devemos nos apoiar, antes, na autoridade da Igreja do que na de
Agostinho, de Jerônimo ou de qualquer outro doutor” [64]. Santo Agostinho chega a dizer: “Eu não
creria no Evangelho, se a isto não me levasse a autoridade da Igreja católica” [65].

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Por isso, a Igreja ensina que a consciência subjetiva do fiel ou do teólogo não é critério de verdade
porque tal consciência subjetiva “não constitui uma instância autônoma e exclusiva para julgar a
validade de uma doutrina… Opor ao Magistério da Igreja um magistério supremo de consciência é
admitir o princípio do livre-exame, incompatível com a economia da Revelação e da sua transmissão
na Igreja, assim como uma concepção correta da teologia e da função do próprio teólogo. Os
enunciados da Fé não resultam de uma investigação puramente individual e de um livre exame da
Palavra de Deus, mas constituem uma herança eclesial. Se alguém se separa dos Pastores, que
velam por manter viva a tradição apostólica, é a ligação com Cristo que se encontra
irreparavelmente comprometida” [66].

Os argumentos e razões que damos neste trabalho seguem, sobretudo, a orientação do Magistério
vivo da Igreja, critério de verdade para o católico. Essas razões nos provam que a Igreja não pode
promulgar oficial e universalmente um rito não católico ou prejudicial às almas – razões teológicas a
priori -, e, realmente, não o fez – razões litúrgicas a posteriori. E é o mesmo Magistério da Igreja que
nos dá as corretas razões para conservarmos o Missal de São Pio V.

Logo no início da reforma litúrgica, apareceram interpretações dadas por modernistas e declarações
feitas por protestantes, indicando um sentido heterodoxo da nova Liturgia. Essas interpretações
impressionaram o mundo católico e muitos chegaram a pensar ser este o sentido a ser dado ao
novo ritual da Missa. Mas o sentido das ações e expressões litúrgicas é dado, não por eles ou pela
imaginação das pessoas, mas pelo Magistério da Igreja. E, graças a Deus, diversas intervenções
posteriores do Magistério corrigiram qualquer ambigüidade que pudesse existir e deram aos textos e
rituais o verdadeiro sentido, o católico, e não o modernista ou protestante [67]. Ademais, nos textos
oficiais promulgados pelo Magistério estão expressos os dogmas eucarísticos do sacrifício da Missa,
da transubstanciação, da presença real e substancial e da distinção entre o sacerdócio ministerial e
o sacerdócio comum dos fiéis.

12. O Magistério da Igreja é vivo e perpétuo.

A promulgação da nova Liturgia é um ato do Magistério supremo autêntico, fazendo parte do


Magistério vivo que Cristo instituiu, magistério contínuo e perpétuo, feito de pessoas vivas, que nos
guiassem perpetuamente em todos os momentos, que nos acompanhassem na caminhada, que
interpretassem os princípios perenes e os aplicassem nas diversas circunstâncias que apareceriam.

Assim nos ensina o Papa Leão XIII: “É, pois, evidente… que Jesus Cristo instituiu na Igreja um
magistério vivo, autêntico e, além disso, perpétuo, que ele investiu da sua própria autoridade,
revestiu do espírito de verdade, confirmou por milagres e quis e mui severamente ordenou que os
ensinamentos doutrinais desse magistério fossem recebidos como os seus próprios” [68].

Isso decorre das verdades de Fé: “Ide e ensinai a todos os povos…” (Mt 28,20); “Quem vos ouve a
mim ouve” (Lc 10,16); “O Espírito da Verdade ficará eternamente convosco” – “O Espírito Santo vos
ensinará todas as coisas” (Jo 14,16.26).

O Concílio Vaticano I ensina que “São Pedro, até hoje e sempre, vive, governa e julga, nos seus
sucessores” [69]. É falso, pois, achar que a assistência do Divino Espírito Santo à Igreja,
especialmente à Cátedra de Pedro, possa ser intermitente, ou seja, estar ausente durante algum
período da história.

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13. A assistência divina à Igreja é constante e infalível.

O Divino Espírito Santo, que assiste contínua e ininterruptamente a Igreja, como Nosso Senhor
prometeu e cumpre, não permite que os Papas inventem doutrinas novas ou deixem de guardar
corretamente o Depósito da fé, conforme ensina o Concílio Vaticano I: “Porque não foi prometido o
Espírito Santo aos sucessores de Pedro para que, por Revelação Sua, manifestassem uma nova
doutrina, mas para que, com Sua Assistência, guardassem santamente e expusessem fielmente a
Revelação transmitida pelos Apóstolos, isto é, o Depósito da Fé. E certamente sua doutrina
apostólica todos os Santos Padres a abraçaram e os Santos Doutores da reta doutrina a veneraram
e seguiram, sabendo perfeitamente que esta Sé de São Pedro permanece imune de todo erro,
segundo a promessa de nosso Divino Salvador feita ao Príncipe de Seus Apóstolos: ‘Roguei por ti,
para que tua Fé não desfaleça; e tu, uma vez convertido, confirma teus irmãos’ (Lc 22,32)” [70].

14. Limites à resistência e às críticas.

Possíveis reservas e críticas feitas a documentos, decretos e orientações da Igreja têm seus limites,
impostos pela Divina Revelação, pelo próprio Magistério, pela honestidade, pela submissão devida à
Igreja, pela coerência, pelo equilíbrio e pelo conhecimento teológico e histórico da liturgia.

Esses limites nos impedem, por exemplo, de dizer que o Novus Ordo Missae, a Missa promulgada
pelo Santo Padre Paulo VI, seja heterodoxa ou não católica.

Pois, como admitir que o Papa tenha promulgado um novo Missal, recebido pelos Bispos do mundo
inteiro, doutrinariamente heterodoxo? E mais, após quarenta anos de adoção desse novo Missal por
toda a Igreja hierárquica, admitir que uma Missa celebrada todos os dias pela quase totalidade da
Igreja latina – Papa, Bispos e padres – seja má em si mesma e perigosa para a fé, quer dizer, que a
Igreja esteja dando cada dia a seus filhos um veneno como se fosse um alimento espiritual, não é
reconhecer que as portas do inferno teriam prevalecido contra ela? Não é negar a assistência
prometida por Cristo à sua Igreja? Isso ultrapassa uma simples discussão doutrinal; isso se torna
uma questão de fé na Igreja.

O Santo Padre, o Papa Bento XVI, em sua Carta aos Bispos que acompanha o Motu Proprio
Summorum Pontificum, afirma-o expressamente, como sendo algo óbvio: “Obviamente, para viver a
plena comunhão, também os sacerdotes das Comunidades que aderem ao uso antigo, não podem,
em linha de princípio, excluir a celebração segundo os novos livros. De fato, não seria coerente com
o reconhecimento do valor e da santidade do rito a exclusão total do mesmo”.

Fica claro, nas palavras do Santo Padre, que se deve reconhecer o valor e a santidade do novo rito,
e, em conseqüência, não excluí-lo totalmente [71]. Segundo Bento XVI, portanto, uma participação
daqueles que aderem à Missa na forma antiga em uma Missa num rito promulgado oficialmente pela
hierarquia da Igreja, por ela determinado como legítimo e por ela adotado, como é a Missa
celebrada no Rito Romano atual, não pode ser considerada, em si mesma, como sendo algo mau.
Nem isso significa a perda da sua identidade litúrgica, mas sim uma demonstração de comunhão
com os outros Bispos, sacerdotes e fiéis, apesar da diferença da forma ritual.

Não almejamos aqui fazer a apologia da reforma litúrgica, mas sim defender a correta doutrina
católica sobre o rito da Missa, o Magistério e a indefectibilidade da Igreja, que continua perene,
mesmo com os atuais desastres a que possa ter dado azo a reforma litúrgica. O nosso propósito
específico aqui é combater o equívoco doutrinário dos que consideram a nova Missa, em si mesma,
como foi promulgada oficialmente pela hierarquia da Igreja, como sendo pecaminosa e, portanto,
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impossível de ser assistida sem se cometer pecado, e o conseqüente erro prático dos que atacam
aqueles que, em determinadas circunstâncias, por dever de ofício ou demonstração de comunhão,
dela participam, como se eles tivessem cometendo uma ofensa a Deus.
15. A hermenêutica da continuidade do novo Missal.

Hermenêutica significa interpretação. No nosso caso, modo de considerar o novo rito da Missa.
Alguns consideraram a nova liturgia da Missa como sendo uma ruptura como o passado doutrinário
e litúrgico da Igreja, representando assim como que uma nova Igreja, uma nova fé. É o que se
chama hermenêutica da ruptura. Outros, mais corretamente, consideram a nova liturgia como sendo
uma mudança, mas que não pode ser desligada do passado litúrgico e teológico da Igreja, mas estar
em consonância com ele. É o que se chama hermenêutica da continuidade, posição de Bento XVI.

Assim ele explicava, quando Cardeal: “Para evitar todo o mal-entendido, eu quero deixar claro que
estou muito contente com o novo missal, com a ampliação do tesouro das orações, dos prefácios,
com as novas preces do cânon, pela multiplicação dos formulários da missa para os dias de semana
etc., sem falar da possibilidade de utilizar as línguas maternas. Mas foi uma infelicidade, a meu ver,
ter ele dado a impressão de que se tratava de um livro novo, ao invés de apresentá-lo na unidade da
história da liturgia. Por isso, creio que uma nova edição deverá dizer e mostrar claramente que o
missal de Paulo VI não é nada mais do que uma versão nova do missal no qual haviam já
trabalhado São Pio X, Urbano VIII, São Pio V e seus predecessores remontando até à Igreja
primitiva” [72].

“Não há nenhuma liturgia tridentina e até 1965 ninguém teria sabido o que significa essa palavra. O
Concílio de Trento não ‘fez’ nenhuma liturgia. E tampouco há nenhum missal de Pio V no sentido
estrito. O missal que apareceu no ano 1570 por encargo de Pio V só diferia em pequenas coisas da
primeira edição impressa do Missal romano, aparecida uns cem anos antes. Na reforma de Pio V se
tratava simplesmente de eliminar as impurezas que haviam sido infiltradas durante a baixa Idade
Média e os erros que se haviam cometido ao copiar e imprimir, voltando a estabelecer como regra
para toda a Igreja o Missal Romano, que não havia quase sido afetado por essas transformações.
Ao mesmo tempo, se teria que acabar com as inseguranças que se produziram na confusão das
mudanças litúrgicas do tempo da Reforma Luterana, já que a diferença entre o católico e o
específico da Reforma se tornara cada vez mais difusa; intentou-se evitar este problema
estabelecendo o uso exclusivo e o caráter obrigatório do missal ‘typicum’, impresso em Roma.
Também se pode ver que essa era a única intenção no fato de que não se reformaram os costumes
litúrgicos de mais de duzentos anos de antiguidade. Já no ano 1614 havia aparecido, durante o
papado de Urbano VIII, uma nova versão do missal, que também incluía diferentes melhorias. Quer
dizer, tanto antes como depois de Pio V, cada século foi deixando suas marcas no missal, que era
concebido como um único livro, submetido, por um lado, a um processo contínuo de purificação e,
por outro, de crescimento. Considerando isso, há que se criticar o empenho em conservar o missal
tridentino, porque é algo irreal, mas também a maneira como o novo missal foi apresentado [73].
Aos ‘tridentinos’ deve-se dizer que a liturgia da Igreja (como a própria Igreja) sempre está viva e por
tanto também sempre em processo de maturação. Nesse processo pode haver mudanças maiores
ou menores. Para a liturgia católica um período de quatrocentos anos não significaria muito; se
remonta realmente a Cristo e aos apóstolos e desde então esteve sempre em processo de mudança
até chegar a nós. O missal, como a Igreja mesma, não pode ser modificado” [74].

Negando que exista diferença entre o que se devia crer antigamente e agora, explicava o mesmo
Cardeal Ratzinger: “O Concílio não inventou nada novo que se tenha que crer ou que colocar no
lugar do antigo. Um elemento essencial de todas as declarações do Concílio é que se autodenomina
a continuação e aprofundamento dos Concílios anteriores, em especial o de Trento e o Vaticano I.
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Trata-se simplesmente de fazer possível a mesma fé em diferentes condições e de revitalizá-la. Por
isso a reforma litúrgica procurou tornar mais transparente a expressão da fé, mas pretende em
qualquer caso ser expressão da única fé e não de uma mudança em seu conteúdo” [75].

16. Sobre a perpetuidade da Bula Quo Primum tempore de São Pio V.

Em resposta oficial de 11 de junho de 1999, a Congregação para o Culto Divino à pergunta: “Pode
um Papa fixar um rito para sempre?” Respondeu: “Não.” E explicou:“Sobre a ‘Ecclesiae potestas
circa dispensationem sacramenti Eucharistiae’ – o poder da Igreja a respeito da administração do
sacramento da Eucaristia -, o Concílio de Trento declara expressamente: ‘Existe perpetuamente na
Igreja este poder para, na administração (ministério) dos sacramentos, salva a substância deles,
estatuir e mudar aquelas coisas que julgar melhor para a utilidade dos que os recebem ou
veneração dos próprios sacramentos, segundo a variedade das coisas, tempos e lugares” (DS
1728). Do ponto de vista canônico, deve-se dizer que quando um Papa escreve ‘perpetuo
concedimus’, deve-se sempre subentender ‘até que seja ordenado de outro modo’. É próprio da
autoridade soberana do Romano Pontífice não ser limitado nas leis meramente eclesiásticas, muito
menos pelas disposições dos seus Predecessores. Ele é ligado somente à imutabilidade das leis
divina e natural, além da própria constituição da Igreja”.

As expressões de perpetuidade e proibição de modificação usadas por São Pio V na Bula Quo
primum tempore, pela qual publicou o Missal, são idênticas às que ele mesmo usou na bula Quod a
nobis, pela qual publicou o Breviário Romano. No entanto, São Pio X modificou esse breviário pela
Bula Divino afflatu, usando por sua vez as mesmas expressões solenes consagradas de
perpetuidade e de proibição de modificação, proibição que não atingiu evidentemente o Papa Pio XII
que o modificou pela Carta Apostólica In cotidianis precibus, bem como o Papa Beato João XXIII,
cujas rubricas ele alterou, ao mesmo tempo que as do Missal, pela Carta Apostólica Rubricarum
instructum, modificações essas adotadas por todo o mundo tradicionalista.

17. Sobre os freqüentes e lamentáveis abusos litúrgicos.

Uma das principais causas da ojeriza de muitas pessoas com relação à Nova Missa são os abusos
litúrgicos e mesmo doutrinais que nela ocorrem, confundindo-se como o próprio rito da Missa.
Quanto a isso, são necessárias as seguintes considerações.

A respeito de abusos e escândalos na Igreja em geral, nos ensina o Papa São Pio X: “Como é
impossível que os escândalos cessem no mundo, dado o orgulho da inteligência ou a corrupção dos
corações, vós encontrareis, e infelizmente com muita freqüência, esse novo tipo de apóstolos.
Necesse est, disse Cristo, ut veniant scandala, e Deus o permite e o tolera para provar a fidelidade e
a constância dos justos. Mas, diante desses escândalos tão dolorosos, não enfraqueçais, não vos
desencorajeis, mas, lamentando esses pobres cegos que, na sua ignorância ou sua perversidade, e
se achando muito sábios, stulti facti sunt, e, rezando por eles, a fim de que o Senhor os esclareça e
faça voltar ao redil erradamente abandonado, sêde, vós, fortes e fiéis às vossas promessas…”[76].

Assim escrevia a respeito o Papa Venerável João Paulo II: “Não é permitido a ninguém, mesmo ao
sacerdote, nem a um grupo qualquer, acrescentar [à liturgia], retirar ou mudar o que quer que seja,
por sua própria conta. A fidelidade aos ritos e aos textos autênticos da liturgia é uma exigência da
‘lex orandi’, que deve sempre estar conforme à ‘lex credendi’. A falta de fidelidade neste ponto pode
até tocar a validade dos sacramentos”. Adiante, ele deplora novamente que alguns “promoveram
inovações fantasiosas, tomando distância com relação às normas estabelecidas pela autoridade da
Sé Apostólica ou pelos Bispos, perturbam a unidade da Igreja e a piedade dos fiéis, ferindo mesmo
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às vezes os dados da fé… Constatam-se às vezes omissões ou acréscimos ilícitos, ritos inventados
fora das normas estabelecidas, atitudes ou cantos que não favorecem a fé ou o sentido do sagrado,
abusos na prática da absolvição coletiva, confusões entre o sacerdócio ministerial, ligado à
Ordenação, e o sacerdócio comum dos fiéis, que tem seu fundamento no batismo. Não se pode
tolerar que certos padres se arroguem o direito de compor orações eucarísticas ou de substituir os
textos da Sagrada Escritura por textos profanos. Iniciativas deste gênero, longe de estarem ligadas à
reforma litúrgica em si mesma, ou aos livros dela oriundos, a contradizem diretamente, a desfiguram
e privam o povo cristão das riquezas autênticas da liturgia da Igreja” [77].

O mesmo Papa João Paulo II já havia antes escrito: “Quero pedir perdão – em meu nome e no de
todos vós, veneráveis e queridos irmãos no episcopado – por tudo o que, por qualquer motivo que
seja e por qualquer fraqueza humana, impaciência, negligência, em virtude também da aplicação às
vezes parcial, unilateral, errônea das prescrições do concílio Vaticano II, possa ter suscitado
escândalo e mal-estar acerca da interpretação da doutrina e da veneração devida a este grande
Sacramento. E peço ao Senhor Jesus para que no futuro seja evitado, em nosso modo de tratar este
sagrado Mistério, o que possa, de alguma maneira, debilitar ou desorientar o sentido de reverência e
de amor dos nossos fiéis” [78].

“Os abusos, os equívocos, os exageros, os erros pastorais vieram, como sempre acontece, dos
filhos da Igreja, não da própria Igreja”. “Nos documentos oficiais que vieram depois do Concílio,
mesmo que tenha havido às vezes alguma suspeita de imprudência pastoral, sobretudo no excesso
de confiança num clero que deles se aproveitou, não houve, porém, concessão na linha dos
princípios: os abusos foram muitas vezes tolerados na prática, mas condenados – e isso é o que, no
final, conta – a nível magisterial…” Os fiéis “não ficaram desencorajados ainda nos momentos e nos
anos mais turbulentos, pois prevaleceu a confiança de que as imprudências pastorais seriam
corrigidas, os anticorpos eclesiais como sempre reagiriam e o princípio petrino no final prevaleceria”
[79].

Falando sobre o desenvolvimento orgânico da liturgia, o então Cardeal Ratzinger, após ter criticado
duramente, por um lado, os abusos provenientes da reforma litúrgica, diz: “Por outro lado, há a
conservação das formas rituais cuja grandeza sempre comove, mas que, levada ao extremo,
manifesta um isolamento teimoso e que no final não deixa senão tristeza. Mas, entre esses dois
lados, restam todos os padres e seus paroquianos que celebram a nova liturgia com respeito e
solenidade, mas eles são questionados pela contradição entre os dois extremos, e a falta de
unidade interna na Igreja faz finalmente aparecer sua fidelidade, erradamente para muitos dentre
eles, como uma simples variedade pessoal de neo-conservadorismo. Sendo assim, um novo
impulso espiritual é necessário para que a liturgia seja de novo para nós uma atividade comunitária
da Igreja e que ela seja tirada da arbitrariedade dos párocos e de suas equipes litúrgicas” [80].

18. Resolvendo dificuldades: a) A explicação ortodoxa do novo Ofertório.

Uma das dificuldades com relação à Nova Missa é o novo rito do Ofertório ou Apresentação dos
dons.

O então Cardeal Joseph Ratzinger assim formulava essa dificuldade: “com a mudança do ofertório,
foi destruído o caráter sacrifical da Missa que, com isso, deixou de ser católica”.

A essa objeção ele mesmo, em seguida, respondia: “Basta um ligeiro conhecimento do catecismo
mais simples para saber que a idéia de sacrifício nunca teve lugar no ‘Ofertório’, mas sim na Oração
Eucarística, no ‘Canon’; pois não se trata de que nós oferecemos a Deus isso ou aquilo; a novidade
20
da Eucaristia é a presença do sacrifício de Cristo. Por isso o sacrifício tem lugar ali onde se
pronuncia sua Palavra… Ali onde se escuta a voz da Palavra e, desse modo, nossos dons se
convertem em seus, e através deles se entrega ele mesmo, ali tem lugar o Sacrifício da Eucaristia.
O que nós chamamos ‘ofertório’ tem outro sentido. O termo alemão ‘ofertório’ procede do latim
‘offerre’ ou, mais provavelmente, de ‘operari’. ‘Offerre’ não significa sacrificar (em latim seria
‘immolare’), mas quer dizer proporcionar, trazer (cf. J.A. Jugmann, Missarum Solemnia, 60-67). E
‘operari’ significa atuar; mas aqui também pode significar preparar. Com toda a simplicidade se
pensava que esse era o momento em que o altar tinha que se preparar para a Eucaristia, e que para
eles era preciso ‘operari’, quer dizer, realizar diversas ações, de modo que as luzes, as oferendas, o
pão e o vinho estivessem convenientemente dispostos para a Eucaristia. No princípio se tratava,
pois de uma simples preparação externa para o acontecimento próprio. Mas logo se lhe deu uma
interpretação mais profunda e se imitou o gesto do pai de família judeu, que elevava o pão diante da
face de Deus, para dele recebê-lo novamente… Até os séculos IX-X estes gestos preparatórios, que
haviam sido tomados de Israel, se realizavam em silêncio, e então se teve a impressão de que no
cristianismo cada um dos gestos exigia também a palavra. Assim, por volta do século X se criaram
as orações de apresentação das oferendas da Missa antiga, que os mais velhos entre nós
conhecemos e apreciamos, e que às vezes misturamos na nova forma da Missa.

Eram belas e profundas orações, mas, no entanto, também temos que reconhecer que nelas se
escondia certa compreensão da Missa. Essas orações foram progressivamente sendo formuladas
como antecipação do que constituía o acontecimento próprio do Cânon; e, assim, ambas as coisas:
a preparação e a hora exata do sacrifício se entrelaçavam nas suas formulações. No entanto, é
certo que o que tem seu sentido correto no mundo da fé e é perfeitamente compreendido desde o
interior dessa fé… pode conduzir também a erros de compreensão naqueles que estão em atitude
observadora e olhando as coisas de longe. E que tal seja o caso o mostram bem as reações que
comentamos. Por esse motivo, os autores da reforma litúrgica quiseram em primeiro lugar retroagir à
situação prévia do século IX e eliminar as palavras do rito de elevação das oferendas. Foi o Santo
Padre, o Papa Paulo VI, que decidiu com uma grande determinação pessoal que também aqui as
palavras da oração tinham que permanecer. Ele mesmo tomou parte na confecção das orações.

Em grande parte tomaram sua forma das orações de mesa de Israel…, que têm em mira a Páscoa
israelita, pois estão pesadas e vividas a partir dela. Isto significa que são como uma tranqüila
antecipação do mistério pascal de Jesus Cristo, e podemos, indistintamente, considerar seu caráter
de advento e, também, denominá-las pascais. Lembramo-nos, sobretudo, de que também a
Sagrada Família, Jesus, José e Maria, rezou desta maneira em sua fuga para o Egito, em um país
estrangeiro, e posteriormente na sua casa de Nazaré; e que também Jesus orou assim com seus
discípulos. Provavelmente também já então era válida a norma judaica de que ao entardecer a mãe
acendesse as velas e que fosse ela a que presidisse a oração da família. De modo que nós, agora,
nestas bênçãos estaríamos escutando a voz de Maria e rezando com ela.

Todo mistério de Nazaré, este dirigir-se em caminho desde o advento até o acontecimento pascal,
está aqui presente. Deste modo chegou à liturgia uma nova riqueza: nós também nos gestos da
preparação começamos em Nazaré e, partindo dali, chegamos – no centro do Cânon – até o
Gólgota para, finalmente, introduzir-nos, no momento da comunhão, no próprio acontecimento da
ressurreição. Creio que, se somos capazes de escutar dessa maneira estas antigas orações agora
renovadas, elas chegarão a ser para nós um tesouro maravilhoso em nossa missão de incorporação
da vida terrena de Jesus, de identificação com a oração paciente de Israel, e de caminhar unidos de
Nazaré ao Gólgota e ao momento da Ressurreição” [81].

21
19. Resolvendo dificuldades: b) Sobre os diversos modos de comungar.

Jesus distribuiu a primeira comunhão aos Apóstolos durante a sua última Ceia. O modo, porém, de
receber a santa Comunhão variou no decurso da história da Igreja.

O então Cardeal Joseph Ratzinger, falando sobre as diversas maneiras de comungar, de pé ou de


joelhos, na mão ou na boca, especialmente sobre a objeção que fazem sobre a adoção da
comunhão na mão, infelizmente hoje comum na nova liturgia da Missa, explicava: “Antes de tudo
quero dizer que ambas as atitudes são possíveis e isso exige que de todos os sacerdotes que sejam
tolerantes e aceitem a forma que cada um escolha; … sabemos que até o século IX a comunhão se
tomava de pé e na mão. Obviamente, isto não significa que sempre tenha que ser assim, pois o que
é grande e belo na Igreja é que ela cresce e amadurece, compreendendo cada vez com maior
profundidade o mistério. Por isso o novo desenvolvimento (comunhão na boca e de joelhos), que
começou depois do nono século como expressão de respeito, tem sua razão de ser e seus bons
motivos. Mas também temos que dizer, ao contrário, que é impossível que a Igreja houvesse
celebrado indignamente a Eucaristia por 900 anos.

Quando lemos os textos dos Santos Padres comprovamos a atitude tão respeitosa com que
comungavam. Em Cirilo de Jerusalém, no século quarto, encontramos um texto especialmente
formoso. Em suas catequeses batismais indica aos que vão comungar como devem fazê-lo: devem
adiantar-se, formar com suas mãos um trono colocando a direita sobre a esquerda para que sendo
um trono para o rei representem ao mesmo tempo uma cruz… as mãos do homem formam a cruz,
que se converte em trono, no qual desce o rei (Catequese mistagógica V 21, ed. A. Piédagrel –
Sources chrétiennes 126, 170 ss. – cf. J.A. Jungmann, Missarum Solemnia II, 469).

Quem pensar nisso terá que reconhecer que é um erro discutir sobre esta ou aquela atitude. Nossa
discussão tem que se limitar ao que chegou a fazer a Igreja tanto antes quanto depois do século IX,
quer dizer, ao respeito profundo prestado ao mistério de Deus ao pôr-se ele em nossas mãos. E não
devemos esquecer o fato de que não só são impuras nossas mãos, senão que também o são nossa
língua e nosso coração, e com freqüência pecamos mais com nossa língua que com nossas mãos.
A maior ousadia, e ao mesmo tempo a expressão da bondade misericordiosa de Deus, é que não só
mãos e língua, senão também o nosso próprio coração pode tocá-lo; que o Senhor entra em nós e
vive em nós e conosco, no centro mais íntimo de nossa vida e quer transfigurá-la” [82].

Ressaltamos que a nova fórmula de se apresentar a comunhão aos fiéis, exigindo deles uma
profissão de fé na presença real – “C: O Corpo de Cristo! R: Amém” – não significa aquela teoria
protestante da Presença Real dependente da fé subjetiva de cada fiel que comunga, como
pensaram alguns, mas foi tirado do antigo uso na Igreja, como nos atesta Santo Ambrósio de Milão:
“Não é sem razão que dizes: ‘Amém’, confessando em espírito que recebes o corpo de Cristo.
Quando te apresentas, o sacerdote te diz: ‘Corpo de Cristo’, e tu respondes: ‘Amém’, isto é, ‘é
verdadeiro’. O que a língua confessa, que a convicção o conserve. Para que saibas: este é o
sacramento, cuja figura veio antes (rf. ao maná)” [83].

20. Resolvendo dificuldades: c) A questão do “Mistério Pascal”.

Mencionando a “estranha oposição entre a Páscoa e o sacrifício, porque ela representa o princípio
arquitetônico de um livro recentemente publicado pela Fraternidade São Pio X, pretendendo que
existe uma ruptura dogmática entre a liturgia nova de Paulo VI e a tradição litúrgica católica
precedente”, o então Cardeal Joseph Ratzinger, nosso Sumo Pontífice atual, assim responde a essa
acusação: “Esta ruptura é vista precisamente no fato de que se interpreta tudo de agora em diante a
22
partir do ‘mistério pascal’, no lugar do sacrifício redentor de expiação de Cristo; a categoria do
mistério pascal seria a alma da reforma litúrgica, e é precisamente isto que seria a prova da ruptura
com relação à doutrina clássica da Igreja. É claro que há autores que dão azo a um tal mal-
entendido. Mas que se trate de um mal-entendido fica absolutamente evidente para quem o observa
de mais perto. Com efeito, o termo ‘mistério pascal’ conduz claramente às realidades que
aconteceram nos dias que vão da Quinta-feira feira santa à manhã de Páscoa: a Ceia como
antecipação da Cruz, o drama do Gólgota e a Ressurreição do Senhor. No termo ‘mistério pascal’,
esses episódios são vistos sinteticamente como um único acontecimento, unitário, como ‘a obra de
Cristo’, – como nós inicialmente o ouvimos dizer pelo Concílio, – que teve lugar historicamente, e
transcende, ao mesmo tempo, este preciso instante. Como este acontecimento é, interiormente, um
culto prestado a Deus, pôde se tornar um culto divino, e assim estar presente a todos os instantes. A
teologia pascal do Novo Testamento… dá precisamente a entender isso: o episódio aparentemente
profano da crucifixão de Cristo é um sacrifício de expiação, um ato salvador do amor reconciliador
do Deus feito homem. A teologia da Páscoa é uma teologia da redenção, uma liturgia do sacrifício
expiatório. O pastor se tornou cordeiro. A visão do cordeiro, que aparece na história de Isaac, o
cordeiro que se esconde entre os arbustos e resgata o filho se tornou uma verdade: o Senhor se fez
cordeiro: ele se deixa prender e sacrificar, para nos libertar” [84].

21. Conservação da Missa na forma antiga por verdadeiros motivos e não por falsas razões.

Há infelizmente alguns que pensam que o único motivo para se celebrar ou assistir à Missa na forma
antiga seja o fato de a Nova Missa ser inválida ou heterodoxa e, portanto, ilícita. Ora, os muitos
sérios e graves motivos que damos abaixo na Parte III são suficientes para a nossa adesão à forma
mais antiga do Rito Romano, como nos concedeu a Santa Sé, sem necessitar recorrer a esse
argumento que, aliás, seria falso e injusto. E só a verdade e a justiça devem ser a nossa norma
nesta luta. Somente a verdade nos fará livres (Jo 8,32). Caso contrário estaríamos açoitando o ar (I
Cor 9,26).

Bem acertadamente observou um escritor católico da atualidade, Dr. Michael Davies, grande
defensor da Missa dita tradicional e de grande renome nos meios tradicionalistas: “Alegações têm
sido feitas dentro do movimento tradicionalista de que a Nova Missa não foi apropriadamente
promulgada conforme as normas do Direito Canônico, de que ela não é a Missa oficial da Igreja
Católica, de que assistindo a ela não se cumpre o preceito dominical, de que ela é ruim, má, ou
mesmo intrinsecamente má. Visto que o Papa Paulo VI era um verdadeiro papa, e que o Missal de
1970 constitui o que é conhecido como uma lei disciplinaria universal, tais alegações são
completamente insustentáveis em vista da doutrina da indefectibilidade da Igreja.

Nenhum papa verdadeiro poderia impor ou mesmo autorizar para o uso universal um rito litúrgico
que fosse em si mesmo prejudicial aos fiéis. As alegações completamente insustentáveis a que me
referi explicam uma atitude perturbadora que prevalece em certas secções do movimento
tradicionalista nos quais atacar o Missal de 1970 (de Paulo VI) parece obter prioridade sobre a
conservação do de 1570 (Missal de São Pio V).

Não há nenhuma esperança possível de um reconhecimento do Vaticano ser estendido a padres


que sustentam essas hipóteses insustentáveis, fato que não parece perturbá-los. Nem eles parecem
se perturbar com o fato de que tais teorias não são endossadas por nenhum teólogo qualificado fora
do movimento tradicionalista, ou que o consenso de opinião dentro do movimento as rejeita. Alguns
desses padres não duvidam imaginar que alguém não pode ser um verdadeiro tradicionalista sem
aceitar que a Nova Missa seja má. A documentação que segue (no seu livro) seria suficiente para
23
provar que de fato aqueles que adotam esta posição é que não podem se considerar católicos
tradicionais, pois defender que um rito sacramental aprovado pelo Romano Pontífice seja mau é
totalmente incompatível com o ensinamento tradicional da Igreja” [85].

22. Posição católica equilibrada na presente crise.

Santo Tomás de Aquino, seguindo Aristóteles, nos ensina que as virtudes morais e intelectuais
consistem num meio termo: “Virtus in medio” [86].

Muitos católicos pensam, equivocadamente, talvez com medo de caírem no liberalismo ou


progressismo, que seja melhor assumir sempre a posição mais dura e extremista, suspeitando de
tudo e de todos. Nem sempre, porém, a posição mais dura e radical é a verdadeira, a melhor, a mais
certa e a mais eficaz. Muitas vezes a posição radical e extremista, que generaliza e nega tudo, é até
mais cômoda do que aquela que faz as devidas distinções. Mas nem por isso está mais de acordo
com a verdade, a justiça e a honestidade, que devem pautar o nosso pensar, o nosso proceder e o
nosso combate pelo bem, como dissemos acima. Muitos dos que lutaram pela tradição litúrgica e
doutrinal da Igreja, por não guardarem esses devidos limites, acabaram caindo no cisma e na
heresia. Pensavam erradamente poder guardar a tradição fora e independentemente da Igreja
hierárquica e até contra ela. Por considerarem a Nova Missa, em si mesma, como inválida ou
herética, sacrílega, heterodoxa, não católica, pecaminosa, e, portanto, ilegítima, acabaram
realmente tirando as lógicas conseqüências teológicas dessa posição e a aplicaram ao Papa e a
todo o Episcopado residente no mundo, isto é, a toda a Igreja docente: ou seja, tiveram que
sustentar que a Igreja oficialmente promulgou, conservou há décadas e oferece todos os dias a
Deus um culto ilegítimo e pecaminoso. Daí, logicamente, concluíram que a Igreja hierárquica como
ela existe hoje não é mais a Igreja Católica, pois caiu oficialmente no erro e que ela apenas subsiste
em um pequeno grupo, do qual evidentemente eles fazem parte. Infelizmente é difícil convencê-los
do erro. Na história da Igreja se constata que nenhum herege ou cismático em tempo algum achou
que estava enganado. Sempre pensavam que a Igreja é que estava errada e eles certos. E se
vangloriavam de terem conservado a sã doutrina.

23. Perigo do cisma na posição extremista.

O Papa venerável Pio XII nos adverte: “Em erro perigoso estão, pois, aqueles que julgam poder unir-
se a Cristo, cabeça da Igreja, sem aderirem fielmente ao seu Vigário na terra. Suprimida a cabeça
visível e rompidos os vínculos visíveis da unidade, obscurecem e deformam de tal maneira o corpo
místico do Redentor, que não pode ser visto nem encontrado por quem procura o porto da eterna
salvação”. [87]

Não nos devemos iludir pensando estarmos certos por conservar coisas boas tradicionais, mas fora
da comunhão com a Igreja hierárquica, lembramos as palavras de Santo Agostinho: “Ninguém pode
encontrar salvação a não ser na Igreja Católica. Fora da Igreja, pode se ter tudo, menos a salvação.
Pode-se ter honra, pode se ter sacramentos, pode-se cantar Alleluia, pode-se responder Amem,
pode-se ter fé no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e pregar isso também, mas nunca se
pode, exceto na Igreja Católica, encontrar salvação” [88].

O Magistério da Igreja nos lembra a necessidade da comunhão com a hierarquia para que haja
legitimidade na celebração da Santa Missa. O Papa João Paulo II nos ensina isso na sua encíclica
Ecclesia de Eucharistia: “Somente neste contexto, tem lugar a celebração legítima da Eucaristia e a
autêntica participação nela”.[89] Santo Inácio de Antioquia diz: “Que se considere legítima só esta
Eucaristia que se faz sob a presidência do Bispo ou daquele a quem este encarregou”. [90]
24
Como bem observa o eminente escritor católico tradicionalista Michael Davies: “Poderíamos
parafrasear o Papa Paulo VI e lamentar o fato de que a fumaça de Satanás penetrou no movimento
tradicionalista para estrangular sua defesa da ortodoxia. Quando nos recordamos de que estamos
lidando com um inimigo sobrenatural de enorme astúcia e inteligência, devemos supor que ele faria
tudo o que estivesse em seu poder para fragmentar e destruir aqueles grupos que têm sido mais
eficazes na oposição à sua destruição da Igreja. Que meios mais eficazes poderia ele empregar do
que tentar levá-los a cair no cisma? Fora da Igreja sua defesa da Tradição se tornaria ineficaz. Uma
vez que tais pessoas tenham abandonado a Igreja, embora como todos os hereges e cismáticos
eles proclamem que eles constituem a verdadeira Igreja, torna-se claro que só um milagre pode
levá-los à compreensão de sua verdadeira situação. O orgulho que ocasionou a ruína de Satanás é
evidente aqui. Há muita satisfação ligada a ser um membro do número dos eleitos, que, como o
Padre van der Ploeg recorda, ‘é sempre a mais evidente característica de uma seita’” [91].

Muito mais do que pertencer a um grupo, pertencemos à Igreja católica, nossa família. Muitos,
pensando em se preservar, não querem ter contato com os outros católicos. Mas Santo Tomás de
Aquino nos ensina que “são chamados cismáticos aqueles que se recusam a se submeter ao Sumo
Pontífice e aqueles que se recusam a viver em comunhão com os membros da Igreja, a ele sujeitos”
[92].

A propósito, recordo um comentário feito pelo então Cardeal Joseph Ratzinger, falando sobre a
eclesialidade, que não é “uma questão de escolha livre”, “segundo o critério de subjetividade”. “A
Igreja – diz ele – é construída sobre os Bispos, segundo a sucessão dos Apóstolos, em forma de
Igrejas locais, portanto, com um critério objetivo. Eu estou nessaIgreja local e eu não procuro meus
amigos, eu encontro meus irmãos e minhas irmãs; e os irmãos e irmãs eu não os procuro, eu os
encontro. Essa situação de não arbitrariedade da Igreja na qual eu me encontro, que não é uma
igreja de minha escolha, mas a Igreja que se apresenta a mim, é um princípio muito importante.
Parece-me que as palavras de Santo Inácio vão muito fortemente nessa linha que o Bispo é a Igreja;
não é minha escolha, como se eu fosse com tal grupo de amigos ou com tal outro; eu estou na
Igreja comum, com os pobres, com os ricos, com as pessoas simpáticas e não simpáticas, com os
intelectuais e com os iletrados; eu estou na Igreja que me precede…” [93].

24. Mas no passado houve afirmações nesse sentido!

Muitas vezes, na ânsia de defender coisas corretas e sob pressão dos ataques dos opositores,
mesmo com reta intenção, podem-se cometer erros e exageros que, após um período de maior
reflexão, devem ser retificados e corrigidos. São Pio X comentava que no calor da batalha é difícil
medir a precisão e o alcance dos golpes. Daí acontecerem faltas ou excessos, compreensíveis, mas
incorretos. Erros podem ser compreendidos e explicados, mas não justificados. Santo Tomás de
Aquino nos ensina: “Não se pode justificar uma ação má, embora feita com boa intenção” [94].

Por isso não é correto apelar para antigos comportamentos ou afirmações, pelo fato de algo ter sido
dito antes, como se tais afirmações fossem infalíveis e nunca passíveis de correção e melhor
expressão. É preciso examiná-los e retificá-los à luz do Magistério perene e vivo da Igreja, que é o
critério de verdade e comportamento para o católico.

É preciso sempre ajustar a prática com os princípios que defendemos. Se reconhecemos as


autoridades da Igreja é preciso respeitá-las como tais, sem jamais, ao atacar os erros, desprestigiá-
las. Se houve algum erro ou exagero no passado quanto a isso, não há nada de mais em se corrigir
o erro. Os princípios, a adesão às verdades da nossa Fé e a rejeição aos erros condenados pela
25
Igreja continuam os mesmos. O que é preciso evitar são as generalizações, ampliações e
atribuições indevidas e injustas. A justiça e a caridade, mesmo no combate, são imprescindíveis. Se
houve alguma falha também nesse ponto, corrigir-se não é nenhum desdouro. Afinal, errar é
humano, perdoar é divino, corrigir-se é cristão e perseverar no erro é diabólico.

Assim, jamais se pode usar a adesão à Liturgia dita tradicional em espírito de contestação à
autoridade da Igreja ou de rompimento de comunhão. Há que se conservar a adesão à tradição
litúrgica sem pecar contra a sã doutrina do Magistério e sem jamais ofender a comunhão eclesial.
Conservemos a Tradição e a Liturgia tradicional, em união com a Hierarquia e o Magistério vivo da
Igreja, e não em contraposição a eles.
Relembramos a advertência do Papa João Paulo II: “A diversidade litúrgica pode ser fonte de
enriquecimento, mas pode também provocar tensões, incompreensões recíprocas e até mesmo
cismas. Neste campo, é claro que a diversidade não deve prejudicar a unidade. Esta unidade não
pode exprimir-se senão na fidelidade à fé comum … e à comunhão hierárquica” ([95]).

25. A posição clara da nossa Administração Apostólica.

O Santo Padre o Papa Bento XVI, na sua Carta aos Bispos anexa ao Motu Proprio Summorum
Pontificum, tranqüiliza os Bispos dizendo-lhes que com a liberação universal da Missa dita de São
Pio V, que ele faz nesse Motu Proprio, “não tem fundamento o temor de que seja aqui afetada a
autoridade do Concílio Vaticano II e que uma das suas decisões essenciais – a reforma litúrgica –
seja posta em dúvida”; ademais, “não me parece realmente fundado o temor de que uma
possibilidade mais ampla do uso do Missal de 1962 levasse a desordens ou até a divisões nas
comunidades paroquiais” [96].

Nessa mesma carta, o Santo Padre afirma: “Obviamente, para viver a plena comunhão, também os
sacerdotes das Comunidades que aderem ao uso antigo, não podem, em linha de princípio, excluir a
celebração segundo os novos livros. De fato, não seria coerente com o reconhecimento do valor e
da santidade do rito a exclusão total do mesmo”.

No que nos diz respeito, essa orientação do Santo Padre deve ser perfeitamente acatada e seguida.

Assim, em carta de 13 de março de 2009, que enviei ao Santo Padre Bento XVI, em sinal de
comunhão, agradecimento e resposta a essa sua Carta aos Bispos que acompanha o Motu Próprio
Summorum Pontificum, escrevi:

“… Por causa dos atuais problemas e circunstâncias, por fidelidade a esse Magistério da Igreja,
declaramos reconhecer o Concílio Vaticano II como um dos Concílios Ecumênicos da Igreja
Católica, aceitando dócil e sinceramente, com religiosa submissão de espírito [97], seus
ensinamentos [98], tal como no-los transmite a Igreja como dotados da autoridade do magistério
ordinário supremo e autêntico [99]”.

“Por isso, rejeitamos o chamado “pernicioso espírito do Concílio”, ou o seu “antiespírito” [100], e toda
hermenêutica da descontinuidade e da ruptura e adotamos, com Vossa Santidade, a hermenêutica
da reforma ou renovação na continuidade” [101].

“Declaramos, igualmente, o nosso pleno reconhecimento do Magistério de Vossa Santidade e de


todos os seus antecessores, especialmente dos Papas Beato João XXIII, Paulo VI, João Paulo I e
João Paulo II” [102].
26
“Quanto à Liturgia, em nossa Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, por
privilégio concedido por esta Sé Apostólica, nós conservamos com amor de predileção o rito romano
da Missa na sua forma extraordinária, como uma das riquezas litúrgicas católicas, pela qual
exprimimos o nosso amor pela Santa Igreja e nossa comunhão com ela”.

“Declaramos, porém, que, como Vossa Santidade nos ensina, para viver a plena comunhão da
Igreja, não excluímos, em linha de princípio, a celebração segundo os novos livros litúrgicos
promulgados pelo Magistério da Igreja, pois a exclusão total do novo rito não seria coerente com o
reconhecimento do valor e da santidade dele, que nós reconhecemos [103]”.

“Reconhecemos, portanto, que o Missal Romano, estabelecido pelo Sumo Pontífice Paulo VI para a
Igreja universal, foi promulgado pela legítima suma autoridade da Santa Sé, a quem compete na
Igreja o direito da legislação litúrgica, e que é, por isso mesmo e em si mesmo, legítimo e católico”
[104].

“Evidentemente, rejeitamos todas as “ambigüidades, liberdades, criatividades, adaptações, reduções


e instrumentalizações” (S.S. João Paulo II, enc. Ecclesia de Eucharistia, nn 10, 52, 61), enfim, todos
os usos abusivos do Missal promulgado por S. S. Paulo VI, especialmente os mencionados na
Instrução Redemptionis Sacramentum”.

26. Nosso combate contra o modernismo continua.

Ao reconhecermos a validade e legitimidade da Missa promulgada pela Hierarquia católica,


queremos defender a Santa Igreja e seu Magistério. E, na linha dessa fidelidade ao Magistério, não
arrefeceu e continua o nosso combate contra as heresias litúrgicas como a negação da presença
real de Cristo na Eucaristia, a transformação da Missa numa simples ceia, a negação ou o
encobrimento do caráter sacrifical e propiciatório da Santa Missa, a confusão entre o sacerdócio
ministerial e o sacerdócio comum dos fiéis, a dessacralização da sagrada Liturgia, a falta de
veneração, de adoração e de modéstia nos trajes no culto divino, a mundanização da Igreja, etc. E a
esses erros, bem como a todos os erros contra a nossa Fé católica, nós nos opomos e a eles
resistiremos sempre, venham de onde vierem. A doutrina da resistência continua a mesma: “Se um
anjo do Céu, ou nós mesmos, vos ensinar um Evangelho diferente daquele que vos pregamos, seja
anátema” (São Paulo aos Gálatas 1,8). Esta nossa posição doutrinária foi e continua sendo a
mesma que sempre sustentamos.

Queremos colaborar com o Santo Padre, o Papa, e, com ele e ao seu lado, continuarmos nessa luta
por um revigoramento da vida litúrgica e sacramental da Igreja.

Por todas as razões mencionadas, conclui-se que a Missa na forma ordinária do Rito Romano, tal
como foi promulgada pela suprema autoridade da Igreja, celebrada dentro das corretas normas
litúrgicas, é católica, ortodoxa e válida na sua eficácia sacramental como veículo da Graça Divina,
podendo, portanto, ser participada e celebrada legitimamente.

III - CONSIDERAÇÕES RELATIVAS À MISSA NA FORMA ANTIGA OU EXTRAORDINÁRIA DO


RITO ROMANO, MISSA PROMULGADA PELO PAPA SÃO PIO V E ATUALIZADA, POR ÚLTIMO,
PELO PAPA BEATO JOÃO XXIII.

27
1. Por que, então, conservar a Missa na forma antiga?

Tendo ficado bem demonstrado neste trabalho que a Missa, na forma atual ou ordinária do Rito
Romano, é católica, válida e legítima, alguém poderia perguntar por que razão, então, conservar ou
preferir a Missa na sua forma antiga.

Por isso, daremos agora as razões pelas quais, apesar disso, nós amamos, conservamos,
preferimos e defendemos a Missa na forma antiga do Rito Romano. São Pedro, na sua epístola, nos
exorta a estarmos prontos para dar aos que nos perguntam as razões do nosso procedimento: “Estai
prontos para uma resposta vitoriosa a todo aquele que vos perguntar acerca da esperança que vos
anima, mas com maneiras suaves e respeitosas, estando em boa consciência, para naquilo mesmo
que vos caluniam, sejam confundidos os que denigrem o vosso bom procedimento de cristãos” (1
Pdr 3, 15-16).

Nosso amor preferencial pela Missa na forma extraordinária do Rito Romano se baseia em razões
eclesiais históricas, teológicas, litúrgicas, espirituais e estéticas.

Em nossa Administração Apostólica, por faculdade a nós concedida pela Santa Sé, conservamos o
rito da Missa na sua forma tradicional, isto é, a antiga forma do Rito Romano, como o fazem
igualmente muitas congregações religiosas, grupos e milhares de fiéis em todo o mundo.

Desse modo, por ser uma das riquezas litúrgicas católicas, exprimimos através da Missa na sua
forma tradicional o nosso amor pela Santa Igreja e nossa comunhão com ela.

2. A Missa na forma antiga é lícita, aprovada e nunca ab-rogada.

Em 7 de julho de 2007, o Santo Padre, o Papa Bento XVI escreveu ao mundo católico, em forma de
“Motu Proprio”, quer dizer, por própria iniciativa, a Carta Apostólica Summorum Pontificum.

Na carta de apresentação aos Bispos, ele declara ser este documento “fruto de longas reflexões,
múltiplas consultas e de oração” [105]. No texto do Motu Proprio, ele explicita mais a sua origem,
dizendo que ela surge “depois da consideração por parte de nosso predecessor João Paulo II, das
insistentes petições destes fiéis, depois de haver escutado aos Padres Cardeais no consistório de
22 de março de 2006, após haver refletido profundamente sobre cada um dos aspectos da questão,
invocado o Espírito Santo e contando com a ajuda de Deus”.

Nesse Motu Proprio, o Papa estabelece que “o Missal Romano promulgado por São Pio V e
novamente pelo beato João XXIII deve ser considerado como expressão extraordinária da mesma
“Lex orandi” (ao lado da expressão ordinária que é o Missal Romano promulgado por Paulo VI) e
gozar do respeito devido por seu uso venerável e antigo… Por isso é lícito celebrar o Sacrifício da
Missa segundo a edição típica do Missal Romano promulgado pelo beato João XXIII em 1962, que
não foi ab-rogado nunca, como forma extraordinária da Liturgia da Igreja” [106].

Na Carta aos Bispos que acompanha o Motu Proprio, ele afirma que “este Missal (de São Pio V)
nunca foi juridicamente ab-rogado e, conseqüentemente, em princípio, sempre continuou permitido”.

Sobre a legitimidade da Missa na forma antiga, o Cardeal Jorge Rafael Medina, ex-prefeito da
Congregação para o Culto Divino, já havia declarado: “Eu estou consciente dos sentimentos de
numerosos católicos pela Santa Missa celebrada segundo o rito de São Pio V. O Motu Proprio
28
Ecclesia Dei, publicado pelo Papa João Paulo II, reconhece o desejo destes tradicionalistas e
procura dar-lhes ocasião de participar da liturgia segundo esse venerável rito, que foi o rito romano
durante séculos. O Papa encoraja os bispos a serem generosos e abertos a esses católicos que não
deviam ser marginalizados ou tratados como membros de ‘segunda classe’ pela comunidade
católica. Eu creio pessoalmente que largas garantias deveriam ser dadas aos católicos
tradicionalistas cujo único desejo é seguir um rito legítimo e aprovado. Numa época da história onde
o ‘pluralismo’ goza do direito de ‘cidadania’, por que não reconhecer o mesmo direito àqueles que
desejam celebrar a liturgia segundo a maneira utilizada durante mais de quatro séculos?… Eu
estudei cuidadosamente a questão da abrogação do rito de São Pio V depois do Concílio Vaticano
II. […] Sobre a base das minhas pesquisas, eu só posso concluir que o rito de São Pio V nunca foi
ab-rogado…” [107].

3. Incompreensível e equivocada proibição da Missa na forma antiga.

Se, por um lado, nós confessamos que houve exagero nas críticas feitas ao Novo Ordo da Missa,
devemos, por outro, admitir que isso aconteceu não só por causa do clima apaixonado e polêmico
da época, mas também, sobretudo, devido ao ostracismo brutal e à perseguição da qual a antiga
liturgia foi vítima.

O então Cardeal Ratzinger escreveu, como citaremos abaixo, que, quando foi promulgado o novo
Ordo, “ficou consternado com a proibição do antigo missal, pois isso nunca se tinha visto em toda a
história da liturgia…[108]. O decreto de interdição do missal que se tinha desenvolvido no curso dos
séculos, deste o tempo dos sacramentários da antiga Igreja, significou uma ruptura na história da
liturgia, cujas conseqüências só poderiam ser trágicas” [109]. E ele acrescentava: “A meu ver, devia-
se deixar seguir o rito antigo com muito mais generosidade àqueles que o desejam. Não se
compreende o que nele possa ser perigoso ou inaceitável. Uma comunidade põe a si mesma em
xeque quando declara como estritamente proibido o que até então tinha tido como mais sagrado e o
mais elevado, e quando considera, por assim dizer, impróprio o desejo dessa coisa… Infelizmente,
entre nós, a tolerância de experiências aventureiras é quase ilimitada; contudo, a tolerância da
liturgia antiga é praticamente inexistente. Desse modo, está-se certamente no caminho errado”
[110]. E diz mais: “Para a formação da consciência no domínio da liturgia, é importante também
cessar de banir a forma da liturgia em vigor até 1970. Quem, atualmente, defende a validade desta
liturgia ou quem a pratica, é tratado como um leproso: é o fim de toda a tolerância, tal como nunca
se conheceu em toda a história da Igreja. Despreza-se assim todo o passado da Igreja. Como se
poderia ter confiança nela no presente, se as coisas são assim. Eu confesso também que eu não
compreendo porque muitos de meus confrades bispos se submetam a esta lei de intolerância, que
se opõe, sem razão válida, às reconciliações necessárias na Igreja” [111].

A Carta Apostólica Summorum Pontificum modificou profundamente esse clima geral de


perseguição e conflito, reconhecendo os católicos ligados à antiga forma litúrgica como membros da
Igreja, como todos os outros, afirmando que o seu desejo da antiga liturgia é perfeitamente normal e
legítimo. Graças a Deus! Oficialmente, nos documentos, portanto, o clima agora é outro na Igreja.
Esperemos que o seja também na prática.

Essa posição do nosso atual Papa já é antiga. Eis o que ele dizia quando Cardeal: “A meu ver, se
deveria deixar seguir o rito antigo com muito mais generosidade àqueles que o desejam. Não se
compreende o que nele possa ser perigoso ou inaceitável. Uma comunidade põe a si mesma em
xeque quando declara como estritamente proibido o que até então tinha tido como mais sagrado e o
mais elevado, e quando considera, por assim dizer, impróprio o desejo dessa coisa… Infelizmente,
entre nós, a tolerância de experiências aventureiras é quase ilimitada; contudo, a tolerância da
29
liturgia antiga é praticamente inexistente. Desse modo, está-se certamente no caminho errado”
[112].

“Para a formação da consciência no domínio da liturgia, é importante também cessar de banir a


forma da liturgia em vigor até 1970. Quem, atualmente, defende a validade desta liturgia ou quem a
pratica, é tratado como um leproso: é o fim de toda a tolerância, tal como nunca se conheceu em
toda a história da Igreja. Despreza-se assim todo o passado da Igreja. Como se poderia ter
confiança nela no presente, se as coisas são assim.
Eu confesso também que eu não compreendo porque muitos de meus confrades bispos se
submetam a esta lei de intolerância, que se opõe, sem razão válida, às reconciliações necessárias
na Igreja” [113].

4. A adesão à Missa de São Pio V é legítima e digna de respeito.


A Santa Sé reconhece essa adesão como perfeitamente legítima, como já se expressava o Papa
venerável João Paulo II: “Todavia, é preciso que todos os Pastores e os demais fiéis tomem nova
consciência, não só da legitimidade mas também da riqueza que representa para a Igreja a
diversidade de carismas e de tradições de espiritualidade e de apostolado, o que constitui a beleza
da unidade na variedade: daquela “sintonia” que, sob o impulso de Espírito Santo, a Igreja terrestre
eleva ao céu… A todos estes fiéis católicos, que se sentem vinculados a algumas precedentes
formas litúrgicas e disciplinares da tradição latina, desejo manifestar também a minha vontade – à
qual peço que se associem a dos Bispos a de todos aqueles que desempenham na Igreja o
ministério pastoral – de lhes facilitar a comunhão eclesial, mediante as medidas necessárias para
garantir o respeito das suas justas aspirações… além disso, em toda a parte deverá ser respeitado o
espírito de todos aqueles que se sentem ligados à tradição litúrgica latina, mediante uma ampla e
generosa aplicação das diretrizes, já há tempos emanadas pela Sé Apostólica, para o uso do Missal
Romano segundo a edição típica de 1962” [114].

5. Permissão geral oficial do Papa para a Missa de São Pio V.

O Santo Padre o Papa Bento XVI, no Motu proprio Summorum Pontificum, sanciona que, nas
Missas celebradas sem o povo ou para os fiéis que o peçam voluntariamente, “todo sacerdote
católico de rito latino, tanto secular como religioso, pode utilizar seja o Missal Romano editado pelo
beato Papa João XXIII em 1962, seja o Missal Romano promulgado pelo Papa Paulo VI em 1970,
em qualquer dia, exceto o Tríduo Sacro. Para dita celebração seguindo um ou outro missal, o
sacerdote não necessita de nenhuma permissão, nem da Sé Apostólica nem do Ordinário” [115].

“Nas paróquias, onde haja um grupo estável de fiéis aderentes à precedente tradição litúrgica, o
pároco acolherá de bom grado seu pedido de celebrar a Santa Missa segundo o rito do Missal
Romano editado em 1962. Deve procurar que o bem destes fiéis se harmonize com a atenção
pastoral ordinária da paróquia, sob a direção do bispo como estabelece o cân. 392 evitando a
discórdia e favorecendo a unidade de toda a Igreja” [116].

“O pároco permita também aos fiéis e sacerdotes que o solicitem a celebração nesta forma
extraordinária em circunstâncias particulares, como matrimônios, exéquias ou celebrações
ocasionais, como, por exemplo, as peregrinações. Nas igrejas que não são paroquiais nem
conventuais, é competência do Reitor conceder a licença mais acima citada” [117].

“Se um grupo de fiéis leigos… não tenha obtido satisfação a suas petições por parte do pároco,
informe ao bispo diocesano. Convida-se vivamente ao bispo a satisfazer seu desejo. Se não pode
prover a esta celebração, o assunto se remeta à Pontifícia Comissão ‘Ecclesia Dei” [118].
30
“O ordinário do lugar, se o considerar oportuno, pode erigir uma paróquia pessoal segundo a norma
do cânon 518 para as celebrações com a forma antiga do rito romano, ou nomear um capelão,
observadas as normas do direito” [119].

6. Apelo do Papa à generosidade dos Bispos.

Na mesma Carta aos Bispos que acompanha a Carta Apostólica Summorum Pontificum, Bento XVI
relembra que “o Papa João Paulo II… através do Motu Proprio ‘Ecclesia Dei’, de 2 de julho de
1988,… fazia apelo, de forma mais geral, à generosidade dos Bispos para com as ‘justas
aspirações’ dos fiéis que requeriam este uso do Rito Romano”.

De fato, o Papa Venerável João Paulo II, no seu Motu Próprio Ecclesia Dei Adflicta de 1ode julho de
1988, falava da legitimidade da Missa tradicional e da riqueza que isso representa para a Igreja:
“Todos os pastores e os outros fiéis devem também ter uma nova consciência não somente da
legitimidade, mas também da riqueza que representa para a Igreja a diversidade dos carismas e das
tradições da espiritualidade e do apostolado. Esta diversidade constitui assim a beleza da unidade
na variedade: tal é a sinfonia que, sob a ação do Espírito Santo, a Igreja faz subir ao Céu”. E João
Paulo II pedia aos Bispos que, como ele, fossem abertos em conceder aos fiéis o antigo rito da
Missa: “A todos esses fiéis católicos que se sentem ligados a certas formas litúrgicas e disciplinares
anteriores da tradição latina, eu desejo também manifestar minha vontade – à qual eu peço que se
associem os bispos e todos os que têm um ministério pastoral na Igreja – de lhes facilitar a
comunhão eclesial graças a medidas necessárias para garantir o respeito às suas aspirações”. E
insistia nessa generosidade: “Dever-se-á por toda a parte respeitar as disposições interiores de
todos aqueles que se sentem ligados à tradição litúrgica latina, e isso por uma aplicação larga e
generosa das diretrizes dadas a seu tempo pela Sé Apostólica para o uso do Missal Romano
segundo a edição típica de 1962” [120].

7. A Missa de São Pio V tem direito de cidadania na Igreja.

Eis como se expressava o Cardeal Darío Castrillón Hoyos, quando prefeito da Sagrada
Congregação para o Clero e presidente da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei: “Não se pode
considerar que o rito chamado de São Pio V esteja extinto, e a autoridade do Santo Padre exprimiu
seu acolhimento benevolente para com os fiéis que, mesmo reconhecendo a legitimidade do rito
romano renovado segundo as indicações do concílio Vaticano II, permanecem ligados ao rito
precedente e nele encontram um alimento espiritual sólido no seu caminho de santificação. Ademais
o próprio concílio Vaticano II declarou que ‘a Santa Madre Igreja tem por iguais em direito e em
dignidade todos os ritos legitimamente reconhecidos, e ela quer que no futuro eles sejam
conservados e favorecidos de todas as maneiras […]’ (SC, n. 4).

O antigo rito romano conserva pois na Igreja seu direito de cidadania no seio da multiformidade dos
ritos católicos tanto latinos quanto orientais. O que une a diversidade desses ritos, é a mesma fé no
mistério eucarístico, cuja profissão sempre assegurou a unidade da Igreja, santa, católica e
apostólica. […] Tudo isso é um motivo de gratidão especial para com o Santo Padre. Nós somos
reconhecidos de coração pela compreensão delicada e paternal que ele testemunha para com
aqueles que desejam manter viva, na Igreja, a riqueza que representa esta venerável forma litúrgica
[…]” [121].

“Por outra parte, esta celebração deu maior confiança sobre o fato de que o venerável Rito de São
Pio V se beneficia, na Igreja católica de Rito Latino, de ‘um direito de cidadania’, como eu disse na
homilia. Este Rito não está extinto, não há dúvidas nesta matéria. O acontecimento de Santa Maria
31
Maior contribuiu para dissipar esta dúvida, onde um tipo de desinformação a teria alimentado. Eu
gostaria de lembrar que Paulo VI mesmo já havia permitido que padres, em certas situações,
pudessem continuar a celebrar como antes da reforma litúrgica; em seguida, em 1984, a
Congregação para o Culto Divino, com a carta “Quattuor abhinc annos”, autorizou sob certas
condições a celebração deste Rito e, finalmente o próprio Soberano Pontífice reinante, em 1988,
com o Motu proprio ‘Ecclesia Dei’, recomendou o que segue: ‘será preciso respeitar em todos os
lugares o desejo de todos aqueles que se sentem ligados à tradição litúrgica latina, por uma
aplicação larga e generosa das diretrizes já publicadas desde longo tempo pela Sé Apostólica,
concernentes ao uso do Missal Romano segundo a edição típica de 1962’, (MP Ecclesia Dei,
02/07/1988, n. 6). Não se pode esquecer também que o Rito dito de S. Pio V é o Rito ordinário
concedido no dia 18 de janeiro de 2002 por decisão da Sua Santidade, à Administração Apostólica
Pessoal S. João Maria Vianney de Campos (Brasil). Tudo isto faz ver claramente que este Rito, por
concessão do Santo Padre, tem pleno direito de cidadania na Igreja, sem que isto queira diminuir a
validade do Rito aprovado por Paulo VI e atualmente em vigor na Igreja latina” [122].

8. A Missa de São Pio V é desejada por diversas classes de pessoas: idosas e jovens, simples e
instruídas, piedosas, sérias e corretas na sua adesão à Igreja.

Após falar da renovação e adaptação feita pelo Papa Paulo VI, seguindo o desejo do Concílio
Vaticano II, o Santo Padre o Papa Bento XVI, na mesma Carta Apostólica “motu proprio data”
Summorum Pontificum, recorda: “Em algumas regiões, contudo, não poucos fiéis aderiram e
seguem aderindo com muito amor às formas litúrgicas anteriores, que haviam embebido tão
profundamente sua cultura e seu espírito, que o Sumo Pontífice João Paulo II, movido pela
preocupação pastoral em relação a esses fiéis, no ano de 1984, com o indulto especial ‘Quatuor
abhinc annos’, emitido pela Congregação para o Culto Divino, concedeu a faculdade de usar o
Missal Romano editado pelo beato João XXIII no ano de 1962; mais tarde, no ano de 1988, com a
Carta Apostólica ‘Ecclesia Dei’, dada em forma de Motu Próprio, João Paulo II exortou aos bispos a
utilizar ampla e generosamente esta faculdade em favor de todos os fiéis que o solicitassem” [123].

E Bento XVI assevera que no começo, quando se introduziu o novo Missal, “supôs-se,
provavelmente, que se trataria de poucos casos individuais que seriam resolvidos um a um na sua
situação concreta. Bem depressa, porém, se constatou que não poucoscontinuavam fortemente
ligados a este uso do Rito Romano que, desde a infância, se lhes tornara familiar” [124].

Porque não são apenas pessoas antigas ou idosas que desejam essa forma da Missa, talvez por
saudosismo ou dificuldade de adaptação à nova liturgia, pois, como constata o Papa Bento XVI na
Carta aos Bispos que acompanha o Motu Proprio Summorum Pontificum, “logo a seguir ao Concílio
Vaticano II podia-se supor que o pedido do uso do Missal de 1962 se limitasse á geração mais idosa
que tinha crescido com ele, mas, entretanto, vê-se claramente que também pessoas jovens
descobrem esta forma litúrgica, sentem-se atraídas por ela e nela encontram uma forma, que lhes
resulta particularmente apropriada, de encontro com o mistério[125] da Santíssima Eucaristia”.

E o desejo dessa forma do Rito Romano não veio de pessoas ignorantes da Liturgia ou sem amor
por ela, mas, pelo contrário, como diz o Papa Bento XVI na Carta aos Bispos que acompanha o
Motu Proprio Summorum Pontificum, “isto aconteceu, sobretudo, em países onde o movimento
litúrgico tinha dado a muitas pessoas uma formação litúrgica notável e uma profunda e íntima
familiaridade com a forma anterior da Celebração Litúrgica”. E, embora tenha havido quem
desejasse essa forma por motivos não corretos, entretanto, como diz o Papa, “muitas pessoas, que
aceitavam claramente o caráter vinculante do Concílio Vaticano II e que eram fiéis ao Papa e aos
Bispos, desejavam, contudo, reaver também a forma, que lhes era cara, da sagrada Liturgia” [126].
32
Realmente esse apego à Missa na forma antiga não é apenas da parte de pessoas idosas, como
observava o Cardeal Darío Castrillón Hoyos, quando prefeito da Sagrada Congregação para o Clero
e presidente da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei: “É interessante em seguida ressaltar como se
encontram no seio desta realidade numerosos padres, nascidos depois do Concílio Ecumênico
Vaticano II. Eles manifestam, eu diria, como uma « simpatia de coração » por uma forma de
celebração, e também de catequese, que segundo sua « percepção » deixa um grande lugar ao
clima de sacralidade e de espiritualidade que justamente conquista também os jovens de hoje: não
se pode certamente defini-los como « nostálgicos » ou um vestígio do passado. Eu gostaria também
de lembrar, por outra parte, que este venerável Rito formou durante séculos numerosos santos, e
modelou o rosto da Igreja que reconhece ainda hoje seus méritos, o indulto Ecclesia Dei de João
Paulo II é a prova disto. Na Igreja há uma tal variedade de dons postos à disposição das
consciências e sensibilidades diferentes, com suas especificidades, que encontram seu lugar
justamente nesta riqueza abundante da catolicidade. Não se pode recusar que no seio de uma tal
variedade de dons e sensibilidades os ditos ‘tradicionalistas’ estejam também presentes; e não se
devem tratá-los como ‘fiéis de segunda categoria’, mas é preciso proteger seu direito de poder
exprimir a fé e a piedade segundo uma sensibilidade particular, que o Santo Padre reconhece como
totalmente legítimo. Não se trata portanto de opor duas sensibilidades como se elas fossem
antagonistas: uma que diríamos ‘tradicional’ e outra que chamaríamos ‘moderna’; trata-se pelo
contrário da liberdade de confessar a mesma fé católica, com insistências e expressões
legitimamente diversas, um pleno respeito fraterno e recíproco. Eu posso dizer que o Santo Padre,
já com o indulto Ecclesia Dei e a criação da Comissão Pontifícia de mesmo nome, quis defender as
aspirações legítimas dos fiéis ligados à Liturgia antiga; é nesta linha que a Comissão continua a
trabalhar. Mais de quinze anos depois deste Motu proprio – considerando as numerosas dificuldades
que apareceram entre estes fiéis e diferentes Bispos que permanecem perplexos ou que são muito
hesitantes em conceder as permissões necessárias –, uma idéia toma sempre mais corpo, conforme
a qual tornou-se necessário tornar efetiva a concessão do indulto numa escala mais vasta e que
correspondam melhor à realidade; ou seja, consideramos que os tempos estão maduros para uma
nova forma de garantia jurídica, clara , deste direito já reconhecida pelo Santo Padre pelo indulto de
1988” [127].

Ressaltando a fidelidade à Igreja e o fervor daqueles que são ligados à antiga liturgia, o mesmo
Cardeal Darío Castrillón Hoyos assim se expressava: “Penso que os sinais de proximidade que o
Santo Padre deu aos fiéis ligados à Tradição testemunham amplamente o afeto de Sua Santidade
por esta porção do Povo de Deus que não se pode absolutamente negligenciar nem menos ainda
ignorar; estes fiéis, em plena comunhão com a Sé Apostólica, se esforçam, mesmo se isto é através
de numerosas dificuldades, por manter vivos o fervor da fé católica e a devoção, através da
expressão de um apego particular às formas litúrgicas e devocionais da antiga Tradição, com as
quais eles melhor se identificam. Parece-me, com efeito, que esta adesão destes fiéis ao antigo Rito
vêm exprimir legitimamente um percepção religiosa, litúrgica e espiritual, particularmente ligada à
Tradição antiga: quando isto é vivido em comunhão com a Igreja, é um enriquecimento” [128].

Por isso, os fiéis que desejam a Missa na forma tradicional não podem ser considerados como
pessoas com dificuldade de adaptação ou nostálgicas, conforme escrevia o mesmo Cardeal Paulo
Augustinho Mayer, quando presidente da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei: “… Insistir, por
conseguinte, sobre o fato de que apenas ‘as aspirações daqueles que têm dificuldades de se
habituar à missa promulgada por Paulo VI’ são consideradas como ‘legítimas’, e denegrir os outros
como desenvolvendo uma ‘teologia pobre, um interesse pessoal, uma nostalgia superficial ou
qualquer outra aberração’ parece bem longe das benevolentes disposições e da consideração
pastoral do nosso Santo Padre, que escrevia na sua carta apostólica de 2 de julho de 1988: ‘Dever-
se-á por toda parte respeitar as disposições interiores de todos aqueles que se sentem ligados à
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tradição litúrgica latina, e isso por uma aplicação larga e generosa das diretivas dadas em seu
tempo pela Sé Apostólica para o uso do Missal Romano segundo a edição típica de 1962’ ( Motu
Proprio Ecclesia Dei 6c)” [129].
9. Sua liberação não será causa de divisões. É um só rito sob duas formas legítimas.

Como já citamos, o Santo Padre, o Papa Bento XVI, no Motu Proprio Summorum Pontificum, declara
que “essas duas expressões da ‘Lex Orandi’ da Igreja não levarão de forma alguma a uma divisão
da ‘Lex credendi’. E, na Carta aos Bispos que acompanha essa Carta Apostólica, ensina que “não é
apropriado falar destas duas versões do Missal Romano como se fossem ‘dois ritos’. Trata-se,
antes, de um duplo uso do único e mesmo Rito”. Ademais, tranqüiliza os Bispos, declarando: “não
me parece realmente fundado o temor de que uma possibilidade mais ampla do uso do Missal de
1962 levasse a desordens ou até a divisões nas comunidades paroquiais”.

E o Santo Padre o Papa Bento XVI explica o porquê da liberação geral da Missa na forma antiga:
“cheguei assim à razão positiva que me motivou a atualizar através deste Motu Próprio o de 1988
(Motu Próprio de João Paulo II que permitia a Missa de São Pio V pedindo a generosidade dos
Bispos). Trata-se de chegar a uma reconciliação interna no seio da Igreja”.

O Papa ainda insiste que “não existe qualquer contradição entre uma edição e outra do Missale
Romanum. Na história da Liturgia, há crescimento e progresso, mas nenhuma ruptura. Aquilo que,
para as gerações anteriores, era sagrado, permanece sagrado e grande também para nós, e não
pode ser de improviso totalmente proibido ou mesmo prejudicial” [130].

Na verdade, a Missa celebrada na forma antiga só traria benefícios pastorais aos fiéis, conforme
escrevia aos Bispos americanos o Cardeal Paulo Augustinho Mayer, quando presidente da Pontifícia
Comissão Ecclesia Dei: “… Por isso, excelência, nós desejamos encorajá-lo a facilitar a celebração
justa e digna dos ritos litúrgicos segundo o Missal romano de 1962, por toda a parte onde se
encontra um autêntico desejo da parte de padres e de fiéis… Não há razão hoje para que a missa
dita ‘tridentina’ não possa ser celebrada em uma igreja paroquial onde sua celebração seria um
autêntico serviço pastoral prestado aos fiéis que o desejam… Se bem que o Santo Padre tenha
dado a esta comissão Pontifícia a faculdade de conceder o uso da edição típica de 1962 do Missal
Romano a todos aqueles que fizerem o pedido, informando em seguida ao Ordinário respectivo, nós
preferimos que tais autorizações sejam dadas pelo próprio Ordinário, a fim de reforçar o laço de
comunhão eclesial entre esses padres e fiéis e o seu pastor” [131].

10. Crise na Igreja, crise litúrgica.

Ninguém de correta visão pode negar a existência da atual crise na Igreja, afirmada por vários
Papas. E essa crise tem muito a ver com a Liturgia, especialmente após a reforma conciliar, que,
infelizmente deu azo a muitos abusos litúrgicos.

O então Cardeal Ratzinger afirmara: “Estou convencido de que a crise da Igreja na qual hoje nos
encontramos depende em grande parte do desmoronamento da liturgia” [132].

Ainda quando Cardeal, o nosso atual Papa comentava: “Depois do Concílio, muitos padres
deliberadamente erigiram a dessacralização como um programa de ação, argumentando que o novo
testamento aboliu o culto do templo; o véu do templo, que se rasgou de alto a baixo no momento da
morte de Cristo sobre a cruz, seria, para alguns, o sinal do fim do sagrado. A morte de Jesus, fora
dos muros da cidade, o que significa, no mundo profano, é hoje a verdadeira religião. A religião, se
ela algum dia teve existência, deve encontrá-la no caráter não sagrado da vida cotidiana, no amor
34
que se vive. Animados por tais idéias, eles rejeitaram as vestes sagradas; tanto quanto puderam,
eles despojaram as igrejas dos seus resplendores que lembram o sagrado; e eles reduziram a
liturgia à linguagem e aos gestos da vida de todos os dias, por meio de saudações, de sinais de
amizade e outros elementos” [133].
O Papa Paulo VI, que viveu o turbilhão da crise, intitulava-a como sendo “a fumaça de Satanás no
Templo de Deus” [134].

Em recente entrevista, o Cardeal Virgílio Noé, cerimoniário da Santa Sé, explicou que, com a
expressão “fumaça de Satanás no templo de Deus”, Paulo VI se referia aos abusos litúrgicos pós-
conciliares: “Aqui, o Papa Montini por ‘Satanás’ queria classificar todos aqueles sacerdotes, bispos e
cardeais que não rendem culto ao Senhor ao celebrar mal a Santa Missa, devido a uma errada
interpretação e aplicação do Concílio Vaticano II. Falou de fumaça de Satanás, porque sustentava
que aqueles sacerdotes que manipulavam a Santa Missa em nome da criatividade, em realidade
estavam possuídos da vanglória e da soberba do Maligno. Portanto, a fumaça de Satanás não era
outra coisa que a mentalidade que queria distorcer as regras tradicionais e litúrgicas da cerimônia
Eucarística… Ele condenava o espírito de protagonismo e delírio de onipotência que se seguiram à
liturgia do Concílio. A Missa é uma cerimônia sagrada, repetia freqüentemente, tudo deve estar
preparado e estudado adequadamente respeitando os cânones, ninguém é o ‘dominus’ (Senhor) da
Missa. Infelizmente, muitos depois do Vaticano II não o entenderam e Paulo VI considerava o
fenômeno um ataque do demônio” [135].

11. A Missa de São Pio V é um refúgio contra os abusos que deformam e arruínam a nova Liturgia.

Os abusos – “ambigüidades, liberdades, criatividades, adaptações, reduções e instrumentalizações”,


lamentados pelo Papa João Paulo II [136] – e que nós também lamentamos, apareceram, desde o
começo, tão entranhados à nova liturgia da Missa, que, equivocadamente, foram atribuídos ao
próprio rito da Missa promulgado pela Igreja, provocando assim grande restrição, aliás, explicável,
com relação ao próprio rito promulgado pela Igreja [137]. Mas há que se reconhecer que eles
infelizmente existiram e existem ainda. E com eles não concordamos de modo algum.

O Papa Bento XVI, na Carta aos Bispos que acompanha o Motu Proprio Summorum Pontificum,
explica o motivo que levou os fiéis a desejarem a Missa na forma antiga: “isto sucedeu, antes de
tudo, porque, em muitos lugares, se celebrava não se atendo de maneira fiel às prescrições do novo
Missal, antes se consideravam como que autorizados ou até obrigados à criatividade, o que levou
freqüentemente a deformações da Liturgia no limite do suportável. Falo por experiência, porque
também eu vivi aquele período com todas as suas expectativas e confusões. E vi como foram
profundamente feridas, pelas deformações arbitrárias da Liturgia, pessoas que estavam totalmente
radicadas na fé da Igreja”. Tais motivos, lamentados pelo Papa, infelizmente, permanecem até hoje.

Na verdade, a Missa na forma extraordinária do Rito Romano, por sua maior precisão e rigor nas
rubricas, apresenta mais segurança e proteção contra tais abusos litúrgicos.

Aludindo a essa segurança e proteção contra os abusos, dizia Dom Thomas Doran, Bispo de
Rockford (Illinois, USA): “Como vós podeis constatar, a Missa codificada pelo Papa São Pio V
estabelece minuciosamente, exatamente e precisamente os ritos a observar nos mínimos detalhes.
O Concílio de Trento prescrevendo os ritos não deixou nada ao acaso, pois ele talvez tivesse um
melhor conhecimento da natureza humana do que nós. […]” [138].

O Cardeal Eduardo Gagnon, então presidente do Pontifício Comitê para os Congressos Eucarísticos
Internacionais, também constatava: “… não se pode, entretanto, ignorar que a reforma (litúrgica) deu
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origem a muitos abusos e conduziu em certa medida ao desaparecimento do respeito devido ao
sagrado. Esse fato deve ser infelizmente admitido e desculpa bom número dessas pessoas que se
afastaram de nossa Igreja ou de sua antiga comunidade paroquial” [139].

Assim, levados pelo legítimo desejo de conservar a riqueza litúrgica do rito tradicional e chocados,
com toda a razão, em sua fé e piedade com os abusos, sacrilégios e profanações a que deu azo a
reforma litúrgica, os católicos da linha tradicional, não querendo ver a “liturgia transformada em
show” ([140]) nem querendo compartilhar com erros e profanações que viam, apegaram-se
legitimamente às formas tradicionais da liturgia.

Por isso, merecem toda a nossa compreensão, nosso apoio e nossos louvores todos os que lutam
pela preservação da Liturgia na sua forma tradicional [141].

12. Causas dos abusos litúrgicos: a) “criatividade”.

Já o Papa Paulo VI lamentava, recebendo os membros do Consilium: “Em matéria litúrgica, as


próprias Conferências Episcopais vão às vezes, por sua própria conta, além dos justos limites.
Acontece igualmente que se fazem experiências arbitrárias ou que se introduzam ritos que estão em
oposição flagrante com as regras estabelecidas pela Igreja” [142].

O então Cardeal Ratzinger, quando Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, numa
conferência em Roma por ocasião de uma peregrinação pelo 10º aniversário do Motu Proprio
Ecclesia Dei, afirmava: “O espaço livre que o novo Ordo Missae dá à criatividade é frequentemente
alargado excessivamente: a diferença entre a liturgia segundo os novos livros, como ela é praticada
de fato, celebrada em lugares diferentes, é frequentemente maior do que a que existe entre uma
liturgia antiga e uma liturgia nova, celebradas ambas conforme os livros litúrgicos prescritos. Um
cristão comum sem formação litúrgica especial quase não distingue uma missa cantada em latim
segundo o antigo Missal de uma missa cantada em latim segundo o novo Missal; ao contrário, a
diferença entre uma liturgia celebrada fielmente segundo o Missal de Paulo VI e as formas e as
celebrações concretas em língua vulgar com todas as liberdades e criatividades possíveis, esta
diferença pode ser enorme!” [143].

E Ratzinger explicava então que a liturgia “não é nada que novas comissões voltem sempre a
inventar. Porque assim se tornaria uma coisa feita por nós mesmos, quer as comissões estejam em
Roma, quer em Trier, quer em Paris. Pelo contrário, tem que conservar sempre sua continuidade e
uma última ausência de arbitrariedade, em que realmente eu me encontro com os séculos e, através
deles, com o que é eterno, e sou elevado para uma comunidade de celebração que é uma coisa
diferente do que imaginam os comitês ou uma comissão de festas” [144].

“Dever-se-ia insistir e explicar muito claramente que a ciência litúrgica não existe para produzir
continuamente modelos novos, como é costume fazer na indústria automobilística. A liturgia existe
para incorporar o homem às festas e sua celebração, existe para introduzi-lo no mistério. Temos o
exemplo da Igreja oriental e também de todas as religiões do mundo, onde todos sabem que a
liturgia não existe para inventar novos textos e ritos, mas que perdura, precisamente, porque não se
deixa manipular. A juventude atual é muito sensível a isso. Os centros em que a liturgia se celebra
com solenidade, de modo reverente, sem frivolidades, ainda que não se entendam todas as
palavras, gozam de uma grande atração. Necessitamos de mais centros que sigam essa linha.”
[145].

36
“Não se pode comparar a liturgia a um mecanismo, desmontável e reparável à vontade, mas a um
organismo vivo cujas leis internas determinam as modalidades do seu futuro desenvolvimento… A
criatividade não deveria constituir uma categoria autêntica da liturgia. Essa noção pertence,
ademais, a uma visão marxista do mundo. Num universo desprovido de sentido e fruto de uma
evolução cega, o homem marxista é capaz de criatividade fazendo nascer um mundo novo e melhor”
[146].

Criticando as atuais manipulações da liturgia, infelizmente feitas por aqueles que se aproveitam da
reforma litúrgica, dizia ainda o então Cardeal Ratzinger: “A idéia que está na base dessas reflexões
é que a liturgia seja uma celebração comunitária, um ato durante o qual a comunidade se constitui
em comunidade e se experimenta como tal. Mas, dessa maneira, a forma e atitude espiritual da
liturgia passam a ser na prática as próprias de uma festa de vizinhos (festa surpresa). Isso se nota,
por exemplo, na importância cada vez maior das palavras de saudação e despedida, assim com a
procura de elementos que sirvam de entretenimento. O grau de entretenimento se converte no fator
para medir se a celebração litúrgica foi bem sucedida, o que a faz depender da ‘criatividade’, quer
dizer, nas invenções do seu organizador” [147].

13. Causas dos abusos litúrgicos: b) Manipulação e banalização.

Comentava o então Cardeal Ratzinger: “Para a maioria, a liturgia se apresenta como uma tarefa de
criação para a comunidade correspondente; tarefa que conduz, em determinados círculos, a
elaborar, semana após semana, ‘liturgias’ novas, e isso com um empenho tão admirável quanto
errôneo. Esta ruptura nas convicções litúrgicas essenciais é o que me parece verdadeiramente
nocivo. Os limites entre liturgia e encontros de amigos, entre liturgia e reuniões sociais estão caindo
de maneira imperceptível; … [dá o exemplo de algumas invencionices] com as quais destroem a
distância entre o sacerdote e os fiéis, que é um componente essencial da liturgia; também as
saudações, com freqüência insuportáveis e repletas de banalidades, que muitas comunidades já
esperam como norma de educação indispensável, têm a ver com esta nova situação. No tempo que
ainda não havia aparecido o novo Missal, mas já se tinha taxado o antigo de antiquado, se perdeu a
noção de que existe um ‘rito’, quer dizer uma forma litúrgica determinada, e de que a liturgia só pode
ser tal liturgia, se os fiéis não podem dispor dela livremente. Inclusive os novos livros oficiais, ainda
que em muitos sentidos são muito bons, deixam entrever uma planificação muito elaborada dos
teólogos acadêmicos, reforçando assim a opinião de que um livro litúrgico se ‘faz’, como se fazem
outros livros” [148].

“A liturgia não é um show, um espetáculo que necessite de diretores geniais e de atores de talento.
A liturgia não vive de surpresas ‘simpáticas’, de invenções ‘cativantes’, mas de repetições solenes.
Não deve exprimir a atualidade e o seu efêmero, mas o mistério do Sagrado. Muitos pensaram e
disseram que a liturgia deve ser ‘feita’ por toda a comunidade para ser realmente sua. É um modo
de ver que levou a avaliar o seu sucesso em termos de eficácia espetacular, de entretenimento.
Desse modo, porém, terminou por dispersar o proprium litúrgico, que não deriva daquilo que nós
fazemos, mas do fato de que acontece. Algo que nós todos juntos não podemos, de modo algum,
fazer. Na liturgia age uma força, um poder que nem mesmo a Igreja inteira pode atribuir-se: o que
nela se manifesta é o absolutamente Outro que, através da comunidade (que não é, portanto, dona,
mas serva, mero instrumento), chega até nós. Para o católico, a liturgia é a Pátria comum, é a fonte
mesma da sua identidade. Também por isso ela deve ser ‘predeterminada’, ‘imperturbável’, porque
através do rito se manifesta a Santidade de Deus. Ao contrário, a revolta contra aquilo que foi
chamado ‘a velha rigidez rubricista’, acusada de inibir a ‘criatividade’, arrastou também a liturgia ao
vórtice do ‘faça-você-mesmo’, banalizando-a, porque reduzindo-a à nossa medíocre medida” [149].

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14. Causas dos abusos litúrgicos: c) inculturação e secularismo.

Ratzinger, quando Cardeal Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, dizia: “em nossa
reforma litúrgica há uma tendência, a meu ver errada, que visa à ‘inculturação’ total da liturgia ao
mundo moderno: fazê-la mais curta, fazer desaparecer o que se considera incompreensível, traduzi-
la em uma linguagem ainda mais simples, mais vulgar. Desse modo, a essência da liturgia e a
própria celebração ficam completamente desvirtuadas; porque em liturgia não se tem que entender
as coisas só de forma racional, como se entende uma conferência, mas de modo mais completo,
participando com todos os sentidos e deixando-se compenetrar por uma celebração que não foi
inventada por uma comissão, mas que nos chega desde a profundidade dos séculos e,
definitivamente, desde a eternidade” [150].

Ao analisar o aggiornamento querido pelo Concílio Vaticano II, o então secretário da Congregação
para o Culto Divino e disciplina dos Sacramentos, Dom Albert Malcom Ranjith Don, falando sobre os
desvios na Liturgia da Igreja, diz que “infelizmente, após o Concílio, certas mudanças pouco
refletidas foram feitas, na rapidez, no entusiasmo, na rejeição de certos exageros do passado. Isso
levou a uma situação oposta ao que se desejava”. E ele dá exemplos: “Vê-se que a liturgia tomou
direções errôneas como o abandono do sagrado e da mística, a confusão entre o sacerdócio comum
e o consagrado de modo especial, ou seja, a confusão dos papeis entre os leigos e os padres. Há
também a visão do conceito de Eucaristia como um banquete comum, mais do que a acentuação
sobre a memória do sacrifício de Cristo no Calvário e sobre a eficácia sacramental para a salvação,
ou ainda certas mudanças como ter esvaziado as igrejas na linha protestante… Essa mudança de
mentalidade enfraqueceu o papel da liturgia ao invés de reforçá-lo… Isso causou outros resultados
negativos para a vida da Igreja. Assim, para enfrentar o progresso do secularismo no mundo, não
era preciso nos tornar secularizados, mas que nos aprofundássemos ainda mais, pois o mundo tem
sempre mais necessidade do Espírito, da interioridade…Vê-se bem, nos jovens de hoje, e inclusive
nos jovens padres, uma nostalgia do passado, uma nostalgia de certos aspectos perdidos. Há na
Europa um despertar muito positivo” [151].

15. Causas dos abusos litúrgicos: d) protagonismo do celebrante.

Em certas circunstâncias, “se dá ao sacerdote, à pessoa do sacerdote, uma importância desmedida,


quer dizer, se espera dele que faça tudo perfeito, que apresente tudo muito bem, etc. Porque, com
essa mentalidade, o centro da celebração é realmente o sacerdote. Em conseqüência, cabe
perguntar-se ‘por que só algumas pessoas o podem fazer?’. Quando, ao contrário, o sacerdote sabe
desaparecer pessoalmente e reconhecer-se só como mero representante e se limita a cumprir com
fé o que se lhe pede, então o que sucede não gira em torno dele, sua pessoa não é o centro, mas
põe-se de lado e aparece algo maior. Julgo que se deve ver mais o poder e a força da tradição que
não pode ser manipulada. Sua beleza e sua grandeza se impõem inclusive a quem não sabe
precisar nem compreender todos os seus detalhes. No centro está então a Palavra, que é anunciada
e explicada” [152].

E Ratzinger já observava: “o sacerdote não é um ‘showman’ ou ‘showmaster’ (apresentador de


programa), que hoje inventa qualquer coisa e a transmite com habilidade. Pelo contrário, ele pode
não ter talento nenhum como ‘showman’, porque ele está representando algo completamente
diferente e que não depende absolutamente dele mesmo” [153].

38
16. O rito na forma antiga enriquece toda a Igreja e beneficia até o novo rito.

O Santo Padre o Papa Bento XVI, na Carta aos Bispos que acompanha o Motu Proprio Summorum
Pontificum, afirma que não existe incompatibilidade, mas que “as duas formas do uso do Rito
Romano podem enriquecer-se mutuamente” [154]. E diz mais: devido à proximidade com a Missa no
rito de São Pio V, após sua liberação geral, “na celebração da Missa segundo o Missal de Paulo VI,
poder-se-á manifestar, de maneira mais intensa do que frequentemente tem acontecido até agora
[155], aquela sacralidade que atrai muitos para o uso antigo”.

Concordando com essas afirmações, assim se exprimiu o Cardeal Dario Castrillón Hoyos, falando
da Missa na forma antiga: “Não é um dom que se destinaria somente àqueles denominados
‘tradicionalistas’: não, é um dom para toda a Igreja católica. E esse dom, livremente oferecido, o
Santo Padre o faz ao interior dessa estrutura maravilhosa da Igreja, constituída pelas paróquias,
padres e capelães nas capelas onde se celebra a Eucaristia. Pela vontade do Vigário de Cristo, eles
devem aceitar os requerimentos e pedidos dos fiéis, que desejam esta Missa, e eles a devem
oferecer a eles. E mesmo quando não há pedido específico, nem requerimento, eles deveriam torná-
la acessível, a fim de que cada um possa ter acesso a esse tesouro da liturgia antiga da Igreja. Aí
está o objetivo primordial do Motu Próprio: uma riqueza espiritual e teológica. O Santo Padre quer
que esta forma da Missa se torne normal nas paróquias a fim de que, dessa maneira, as jovens
comunidades possam também se familiarizar com esse rito” [156].

Falando da importância do rito de São Pio V e encorajando a sua celebração como um paradigma
para todos os ritos católicos, uma riqueza que, conservada, trará benefícios até para aqueles que
seguem a Missal Romano atual, assim escrevia o Cardeal Francis George, Arcebispo de Chicago,
USA: “Nós estamos em um momento de uma importância considerável para a liturgia de 1962 e
também, portanto, para o CIEL (Centro Internacional de Estudos Litúrgicos) que consagrou tanta
energia para encorajar este rito. O Santo Padre mesmo, há algum tempo, chamou nossa atenção
para a beleza e a profundidade do missal de São Pio V. Muito recentemente o Cardeal Darío
Castrillón Hoyos, por ocasião do vigésimo quinto aniversário da eleição do Papa João Paulo II, e
com sua anuência, declarou: ‘Não se pode considerar que o rito dito de São Pio V esteja extinto. O
antigo rito romano conserva pois na Igreja seu direito de cidadania’. … a liturgia de 1962 é um rito
autorizado da Igreja Católica e uma fonte preciosa de compreensão litúrgica para todos os outros
ritos. Os estudos apresentados no colóquio de 2002, no quadro de uma reflexão sobre o significado
do sagrado no culto católico, oferecem um benefício espiritual para a celebração de todos os ritos da
Igreja católica. Um uso mais expandido do missal romano de 1962, no quadro que foi autorizado,
deve ser mais que a renovação nostálgica de um rito venerável. Esta liturgia pertence à Igreja inteira
como um veículo do espírito que deve se irradiar também na celebração da terceira edição típica do
missal romano atual… Meus votos são de que estejamos talvez na aurora de uma renovação
verdadeiramente frutuosa para a liturgia da Igreja católica, como o segundo Concílio do Vaticano
desejou, uma renovação que permitirá aos ritos sagrados comunicar a salvação obtida para todos
na Igreja, pela morte e ressurreição de Cristo” [157].

A Missa de São Pio V é, portanto, um rito que pertence à Igreja inteira, uma fonte preciosa de
compreensão litúrgica para todos os outros ritos, um veículo do espírito que deve se irradiar também
na Missa de Paulo VI.

39
17. Riquezas da Missa no rito de São Pio V: a) sacralidade.

Sacralidade é o oposto de banalização. Se a Missa é o que temos de mais santo, mais sagrado,
mais semelhante à Liturgia celeste, seus ritos devem exprimir dignidade, respeito, adoração, enfim,
sacralidade.

Bento XVI, na Carta aos Bispos que acompanha o Motu Proprio Summorum Pontificum, referindo-se
à liberação geral do uso antigo do Rito Romano, afirma que “faz-nos bem a todos conservar as
riquezas que foram crescendo na fé e na oração da Igreja, dando-lhes o justo lugar” [158].

E, quando Cardeal, assim confessava: “Se bem que haja numerosos motivos que possam ter levado
um grande número de fiéis a encontrar refúgio na liturgia tradicional, o mais importante dentre eles é
que eles aí encontram preservada a dignidade do sagrado” [159].

18. Riquezas da Missa no rito de São Pio V: b) o sentido do mistério.

O então Cardeal Ratzinger, narrando os primeiros contatos, na sua infância, através do seu primeiro
missal, com “o mundo misterioso da liturgia, que se desenrolava diante de nós e para nós no altar”,
ressalta: “Esta misteriosa trama de textos e de ações havia crescido no curso dos séculos da fé da
Igreja. Levava em si o peso de toda a história e era muito mais do que um produto da história
humana… Nem tudo era lógico, muitas coisas eram complicadas e não era sempre fácil se orientar.
Mas exatamente por isso o edifício era maravilhoso e nos sentíamos em casa” [160].

A Missa na forma antiga do Rito Romano tem uma nobreza característica, uma antiguidade
venerável e mantém vivo o sentido do mistério, como se expressou o Cardeal Darío Castrillón
Hoyos: “O rito antigo da Missa serve precisamente a muitas pessoas para manter vivo este sentido
do mistério. O rito sagrado, com o sentido do mistério, nos ajuda a penetrar com nossos sentidos no
recinto do mistério de Deus. A nobreza de um rito que acompanha a Igreja durante tantos anos
justifica bem o fato de que um grupo escolhido de fiéis mantenha a apreciação deste rito, e a Igreja,
pela voz do Soberano Pontífice, o compreendeu assim, quando ela pede que haja portas abertas à
sua celebração… Nós celebramos um belo rito, rito que foi o de muitos santos, uma bela Missa, que
encheu os arcos de muitas catedrais e que faz ressoar seus acentos de mistério nas pequenas
capelas do mundo inteiro…” [161].

19. Riquezas da Missa no rito de São Pio V: c) reverência e humildade.

O silêncio, as inclinações, as múltiplas genuflexões, a sobriedade dos gestos, prescritos pelas


rubricas do antigo Missal, e, sobretudo, o texto das orações exalam reverência e humildade diante
de Deus, a quem é oferecido o Santo Sacrifício da Missa.

É o que constatava o Papa Venerável João Paulo II, quando propunha a Missa tradicional como
modelo de reverência e humildade para todos os celebrantes do mundo: “O Povo de Deus tem
necessidade de ver nos padres e nos diáconos um comportamento cheio de reverência e de
dignidade, capaz de ajudá-lo a penetrar as coisas invisíveis, mesmo com poucas palavras e
explicações. No Missal Romano, dito de São Pio V, … nós encontramos belíssimas orações com as
quais o padre exprime o mais profundo senso de humildade e de reverência diante dos santos
mistérios: elas revelam a substância mesma de toda a Liturgia” [162].

Na Missa na forma antiga há muitos momentos em que os fiéis se ajoelham. O então Cardeal
40
Ratzinger se referia “ao gesto central da adoração, que hoje em dia corre cada vez mais o risco de
desaparecer: o ajoelhar-se. Sabemos que o Senhor rezou de joelhos (Lc 22,41), que Estevão (At
7,60), Pedro (At 9,40) e Paulo (At 20,36) rezaram de joelhos… Esse ajoelhar-se é uma
apresentação e aceitação que imita atitude daquele que, ‘sendo de natureza divina’ ‘humilhou-se a si
mesmo até a morte’” [163]. “A Liturgia que não conhecesse mais o ajoelhar-se seria intrinsecamente
doente. É preciso reensinar a ajoelhar-se, reintroduzir o ajoelhar-se por toda a parte onde isso tiver
desaparecido, a fim de que por nossa oração continuemos em comunhão com os Apóstolos e os
mártires…, em comunhão com Jesus Cristo” [164].

20. Riquezas da Missa no rito de São Pio V: d) beleza e profundidade.

A Missa de São Pio V encanta a todos pela sua beleza inigualável, proveniente da sua riqueza
litúrgica, profundidade e elevação espiritual de suas orações, que foram compostas ou usadas por
santos de vários séculos, e pela nobreza e solenidade das suas vestes, rituais e cerimônias.

Falando sobre essa beleza da liturgia e respondendo às “acusações de ‘triunfalismo’, em nome das
quais se jogou fora, com excessiva facilidade, muito da antiga solenidade litúrgica”, o então Cardeal
Ratzinger explicava: “Não é triunfalismo, de forma alguma, a solenidade do culto com que a Igreja
exprime a beleza de Deus, a alegria da fé, a vitória da verdade e da luz sobre o erro e as trevas. A
riqueza litúrgica não é riqueza de uma casta sacerdotal; é riqueza de todos, também dos pobres,
que, com efeito, a desejam e não se escandalizam absolutamente com ela. Toda a história da
piedade popular mostra que mesmo os mais desprovidos sempre estiveram dispostos instintiva e
espontaneamente a privar-se até mesmo do necessário, a fim de honrar, com a beleza, sem
nenhuma avareza, ao seu Senhor e Deus” [165].

O Cardeal Francis George, acima mencionado, citando o Papa João Paulo II – afirmou: “O Santo
Padre mesmo, há algum tempo, chamou nossa atenção para a beleza e a profundidade do missal
de São Pio V”.

21. Riquezas da Missa no rito de São Pio V: e) o silêncio.

Conforme explicava o então Cardeal Ratzinger, o silêncio na liturgia, uma das características da
Missa na forma antiga, “como um caminho em comum em direção ao interior, como interiorização da
palavra e dos sinais, como uma liberação dos papéis que escondem o verdadeiro, é imprescindível
para uma ‘participatio actuosa’ (participação ativa, conforme o Vaticano II) verdadeira… A emoção
litúrgica já não pode consistir na ‘variedade’… mas na consecução de um espaço para encontrar o
verdadeiramente grande e inesgotável, o que não necessita de variação, porque satisfaz por si
mesmo, quer dizer, a verdade e o amor… E quero acrescentar, ainda que seja uma opinião contrária
à teoria dominante, que em nenhum caso é uma obrigação ler em voz alta todo o cânon… Só o valor
para voltar a aprender a palavra em silêncio pode solucionar o problema, diante da presente
inundação de palavras, que no final nos leva a uma verborréia, precisamente no momento em que
há de encontrar com a ‘palavra’ – o Logos – que é, enquanto palavra do amor crucificado e
ressuscitado, a autorização para vida e a alegria” [166].

22. A antiga liturgia, fonte de vocações sacerdotais e religiosas, de famílias cristãs e de vida católica.

Ao comentar os efeitos do Motu Proprio Ecclesia Dei de João Paulo II, que já havia liberado a Missa
na forma antiga, o então Cardeal Joseph Ratzinger fazia essa constatação: “Eu penso que é antes
de tudo uma ocasião para mostrar nossa gratidão e para render graças. As diversas comunidades
nascidas graças a este texto pontifício têm dado à Igreja um grande número de vocações
41
sacerdotais e religiosas, que, zelosas, alegres e profundamente unidas ao Papa, prestam seu
serviço ao Evangelho nesta época da história que é a nossa. Por elas, muitos fiéis foram
confirmados na alegria de poder viver a liturgia e no seu amor para com a Igreja, ou talvez, eles
encontraram as duas coisas…” [167].

E sobre os reflexos sobre toda a vida cristã, assim comentava o Cardeal Darío Castrillón Hoyos,
quando prefeito da Sagrada Congregação para o Clero e presidente da Pontifícia Comissão Ecclesia
Dei: “Eu não gosto, com efeito, das concepções que querem reduzir o ‘fenômeno’ tradicionalista
somente à celebração do Rito antigo, como se se tratasse de um apego nostálgico e obstinado ao
passado. Isto não corresponde à realidade que se vive no interior deste vasto grupo de fiéis. Na
realidade, nós estamos aí freqüentemente na presença de uma visão cristã da vida de fé e de
devoção – partilhada por muitas famílias, freqüentemente ricas de numerosos filhos – que possui
suas próprias particularidades; esta visão comporta por exemplo um forte sentido de pertença ao
Corpo Místico, um desejo de manter com solidez os laços com o passado – que se quer considerar
não em oposição ao presente, mas na continuidade da Igreja – para conservar os fortes pontos de
ancoragem do cristianismo, um desejo profundo de espiritualidade e sacralidade, etc. O amor pelo
Senhor e pela Igreja encontra assim, sua mais alta expressão na adesão às antigas formas litúrgicas
e devocionais que acompanharam a Igreja ao longo de toda a sua história” [168].

Nessa mesma linha de pensamento, o então Cardeal Joseph Ratzinger dizia: “A Eucaristia é o
núcleo central da nossa vida cultual, mas para que possa servir-lhe de centro precisa de um
conjunto completo, no qual possa viver. Todas as pesquisas acerca dos efeitos da reforma litúrgica
mostram que certa insistência pastoral somente na Missa acaba por esvaziá-la, porque é como
situá-la no vazio, não preparada e não seguida, como deve ser, por outros atos litúrgicos. A
Eucaristia pressupõe os outros sacramentos e os aponta. Mas a Eucaristia pressupõe também a
oração pessoal, a oração em família e a oração comunitária extralitúrgica. Penso em duas das mais
ricas e fecundas orações do cristianismo, que levam sempre e de novo à grande corrente
eucarística: a Via Sacra e o Rosário” [169].

23. O Rito de São Pio V se insere nos séculos de Fé da Igreja.

Falando das origens históricas da Liturgia Romana, o Santo Padre o Papa Bento XVI, no seu Motu
Proprio Summorum Pontificum, ressalta a figura do Papa São Gregório Magno, “que fez todo o
possível para que aos novos povos da Europa se transmitisse tanto a fé católica como os tesouros
do culto e da cultura acumulados pelos romanos nos séculos precedentes. Ordenou que fosse
definida e conservada a forma da sagrada Liturgia, relativa tanto ao Sacrifício da Missa quanto ao
Ofício Divino, no modo em que se celebrava na Urbe (Roma)… Dessa forma a Sagrada Liturgia,
celebrada segundo o uso romano, enriqueceu não somente a fé e a piedade, mas também a cultura
de muitas populações. Consta efetivamente que a liturgia latina da Igreja em suas várias formas, em
todos os séculos da era cristã, impulsionou na vida espiritual a numerosos santos e fortaleceu a
tantos povos na virtude da religião e fecundou sua piedade” [170]. E acrescenta: “Muitos outros
pontífices romanos, no transcurso dos séculos, mostraram particular solicitude para que a sagrada
Liturgia manifestasse da forma mais eficaz esta tarefa: entre eles se destaca São Pio V, que,
sustentado por grande zelo pastoral, após a exortação do Concílio de Trento, renovou todo o culto
da Igreja, revisou a edição dos livros litúrgicos emendados e ‘renovados segundo a norma dos
Padres’ e os deu em uso à Igreja Latina” [171].

O Papa Paulo VI, na Constituição Apostólica Missale Romanum, escreveu que o Cânon Romano,
usado exclusivamente na forma antiga do Rito Romano, é antiqüíssimo na Igreja, riqueza de sua
42
Tradição, e “conservou sempre a mesma forma que foi fixada entre os séculos IV e V”. E, na mesma
Constituição, acrescenta: “na verdade, durante quatro séculos, os sacerdotes do rito latino o tiveram
como norma para a celebração do sacrifício eucarístico; os santos arautos do Evangelho o
introduziram em quase toda a terra; nele também muitos santos alimentaram copiosamente a sua
piedade para com Deus, haurindo-a tanto das leituras da Sagrada Escritura como das suas orações,
cuja parte principal fora organizada por São Gregório Magno” .

24. A Missa de São Pio V é fruto de um desenvolvimento orgânico, não fabricada artificialmente.

Ratzinger, quando Cardeal Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, afirma, sobre a reforma
litúrgica, que os liturgicistas diziam que São Pio V havia feito o mesmo, impondo um novo missal,
quando, na verdade, “tratava-se de um processo contínuo de crescimento e depuração, sem ruptura.
São Pio V nunca criou um missal. Ele não fez senão revisar o missal, fase de uma longa evolução”
[172]. Em conseqüência, afirmava ele que foi “uma infelicidade, a meu ver, de ter ele dado a
impressão de que se tratava de um livro novo, ao invés de recolocar o conjunto na unidade da
história litúrgica… Muitas coisas decididas no Concílio já tinham sido antecipadas entre nós há
tempos. Assim, Pio XII já havia introduzido uma parte da reforma litúrgica; temos o exemplo na nova
configuração da Vigília Pascal. Entretanto, tenho que concordar que depois disso muitas coisas se
passaram de modo abrupto e que muitos fiéis não puderam encontrar a unidade interna entre o que
era novo com o que eles conheciam antes. Neste sentido se foi simplesmente além do estipulado
pelo Concílio. Por exemplo, se havia estabelecido que a língua do rito latino continuasse sendo o
latim, mas que também se deveria dar lugar de forma adequada às línguas vernáculas. Hoje,
evidentemente, se poderia perguntar se afinal existe um rito latino. As pessoas quase não têm
consciência de algo semelhante” [173].

Dissertando sobre “liturgia, fruto de um desenvolvimento”, o então Cardeal Ratzinger lamentava que
“o que se passou depois do Concílio significa um coisa completamente diferente: no lugar da liturgia
fruto de um desenvolvimento contínuo, colocou-se uma liturgia fabricada. Saiu-se do processo vivo
de crescimento e progresso para entrar na fabricação. Não se quis continuar o progresso e a
maturação orgânicos de algo vivo através dos séculos e se os substituiu, a modo da produção
técnica, por uma fabricação, produto banal do momento. … A reforma litúrgica, na sua realização
concreta, afastou-se sempre mais dessa origem. O resultado não foi uma reanimação mas uma
devastação. De um lado tem-se uma liturgia degenerada em ‘show’, onde se tenta tornar a religião
interessante com a ajuda de asneiras na moda e de máximas morais provocantes, com o sucesso
momentâneo no grupo dos fabricantes litúrgicos e uma atitude de afastamento tanto mais
pronunciada entre aqueles que procuram na liturgia não mais o ‘showmaster’ espiritual, mas o
encontro com o Deus vivo diante do qual todo ‘fazer’ se torna insignificante, sendo que esse
encontro é o único capaz de nos fazer chegar às verdadeiras riquezas do ser… ” [174].

“A liturgia não nasce por decreto, e uma das falhas da reforma litúrgica pós-conciliar é, sem
nenhuma dúvida, procurar no zelo dos professores que, de seu escritório, construíram o que deveria
vir de um crescimento orgânico… É preciso constatar que o novo Missal, quaisquer que sejam todas
as suas vantagens, foi publicado como uma obra reelaborada por professores e não como uma
etapa no curso de um desenvolvimento contínuo. Nada de semelhante jamais se produziu dessa
forma, isso é contrário ao caráter próprio da evolução litúrgica e daí que surgiu a idéia absurda de
que o Concílio de Trento e São Pio V teriam, por seu lado, composto um Missal há quatrocentos
anos. Assim se rebaixou a liturgia católica à categoria de produto do início da época moderna e com
isso se alterou a visão da liturgia de uma maneira bastante aterradora. Embora muito poucos dos
que hoje expressam descontentamento entendam desses temas, é certo que existe um saber
43
instintivo que diz que a liturgia não pode ser o produto de um decreto eclesial nem da erudição dos
professores, senão que só sendo o fruto da Igreja viva pôde chegar a ser o que é” [175].

“Como já havia acontecido muitas vezes no passado, era de todo razoável e plenamente na linha
das disposições do Concílio que se chegasse a uma revisão do missal, sobretudo em consideração
da introdução das línguas nacionais. Mas naquele momento aconteceu qualquer coisa a mais: se fez
em pedaços o edifício antigo e dali se construiu um outro, com o material de que era feito o edifício
antigo e utilizando também os projetos anteriores. Não há nenhuma dúvida de que este novo missal
comportasse em muitas de suas partes autênticas melhoras e um real enriquecimento, mas o fato
de que isso tenha sido apresentado como um edifício novo, contraposto àquele que se tinha
formado ao longo da história, que se proibisse esse último e se fizesse de qualquer modo aparecer a
liturgia não mais como um processo vital, mas como um produto de erudição especialista e de
competência jurídica, trouxe para nós danos extremamente graves. Neste ponto, de fato, se
desenvolveu a impressão de que a liturgia seja ‘fabricada’, que não seja algo que existe antes de
nós, alguma coisa de ‘transmitido’, mas que depende das nossas decisões. Segue daí, em
conseqüência, que não se reconheça esta capacidade de decisão só aos especialistas ou a uma
autoridade central, mas que, definitivamente, qualquer comunidade queira dar-se uma própria
liturgia. Mas quando a liturgia é algo que qualquer um faz por si, então não existe mais a sua
verdadeira característica: o encontro com o mistério, que não é um produto, mas a nossa origem e a
fonte da nossa vida” [176].

25. A Missa de São Pio V, feita para preservar a Fé e a sã doutrina.

Ademais, uma das fortes razões para conservarmos a Missa na forma antiga é o sintomático ódio
que lhe têm os modernistas, neste ponto, seguidores de Lutero. Eles odeiam o Concílio de Trento e
sua doutrina sobre o Sacrifício da Missa, tão bem expressa na forma antiga do Rito Romano. Sinal
do alto significado teológico anti-protestante da Missa na sua forma antiga.

Alusivas a isso, citamos as sérias e impressionantes palavras do então Cardeal Joseph Ratzinger,
Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Após citar uma análise de Stephan Orth, que
constata que “hoje muitos católicos ratificam eles mesmos o veredicto e as conclusões de Martinho
Lutero, para quem falar de sacrifício é ‘o maior e mais espantoso horror’ e uma ‘maldita impiedade’”,
comentava o então Cardeal Joseph Ratzinger: “Um grupo considerável de liturgistas católicos
parece ter praticamente chegado à conclusão de que Lutero, ao invés de Trento, estava
substancialmente certo no debate do século XVI… Alguém pode observar bem a mesma posição
nas discussões pós-conciliares sobre sacerdócio. É só neste fundo de desqualificação prática de
Trento, que se pode entender a exasperação da luta contra a possibilidade de celebrar ainda, depois
da reforma litúrgica, a Missa de acordo com o Missal de1962.. A possibilidade de tal celebração
constitui a mais forte, e por conseguinte a mais intolerável contradição da opinião daqueles que
acreditam que a fé na Eucaristia formulada por Trento perdeu seu valor…”.

“A gravidade destas teorias vem do fato que freqüentemente elas passam imediatamente para a
prática. A tese, segundo a qual é a comunidade que é como tal o sujeito da Liturgia, serve como
uma autorização para manipular a Liturgia de acordo com o entendimento de cada um. As pretensas
novas descobertas e as formas que as seguem, são difundidas com uma rapidez surpreendente e
com uma obediência a tais modas que há muito não existe com relação às normas da autoridade
eclesiástica. Teorias, na área da Liturgia, se transformam hoje muito rapidamente em prática, e a
prática, por sua vez, cria ou destrói modos de se comportar e pensar… Trento não cometeu um
engano, apoiou-se no fundamento sólido da Tradição da Igreja. Ele continua a ser um critério
fidedigno” [177].
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Ora, o Missal de São Pio V foi um dos principais frutos do Concílio de Trento, que tanto bem fez à
Igreja, em matéria de Fé e sã doutrina, como proclamou o Papa Paulo VI na Constituição Apostólica
Missale Romanum: “O Missal Romano que, conforme o decreto do Concílio Tridentino, foi
promulgado em 1570 pelo nosso predecessor São Pio V, conta-se entre os muitos e admiráveis
frutos que aquele Santo Sínodo difundiu por toda a Igreja de Cristo” [178]. E diz mais: “Nosso
predecessor, São Pio V, promulgando a edição-príncipe do Missal Romano, apresentou-o ao povo
cristão como fator da unidade litúrgica e sinal da pureza do culto da Igreja” [179]. E esse Missal de
São Pio V acompanhou os santos missionários em suas missões por toda a terra: “os santos arautos
do Evangelho o introduziram em quase toda a terra” [180].

Na sua Instrução Geral sobre o Missal Romano, proêmio, n. 7, o Papa Paulo VI dá os motivos pelos
quais o Papa São Pio V fez a codificação da liturgia que leva o seu nome: “Naqueles tempos,
verdadeiramente difíceis, em que a fé católica corria perigo em relação à índole sacrifical da Missa,
o sacerdócio ministerial e a presença real e permanente de Cristo sob as espécies eucarísticas, era
necessário que São Pio V conservasse uma tradição mais recente, injustamente impugnada,
introduzindo o mínimo de modificações nos ritos sagrados”. Em seguida, nessa mesma Instrução
Geral, Paulo VI lembra que o Missal de São Pio V, de 1570 era praticamente o mesmo que o de
1474, que por sua vez reproduz com fidelidade o do tempo do Papa Inocêncio III – século XIII,
sendo que, no início da sua Constituição Apostólica Missale Romanum, ele lembra que este Missal
procede essencialmente de uma tradição antiqüíssima, desde os tempos de São Gregório Magno –
século VI. Liturgicistas e historiadores abalizados afirmam que o Cânon Romano, como temos hoje,
já estava constituído basicamente no século IV. Ora, o Santo Padre Venerável João Paulo II, na sua
encíclica “Ecclesia de Eucharistia” vem exatamente nos lembrar que esses três dogmas, do caráter
sacrifical da Missa, do Sacerdócio ministerial e da Presença Real, são os pontos da Fé Católica que
mais correm perigo nos nossos dias, sendo seu obscurecimento uma fonte de grandes abusos
(Ecclesia de Eucharistia, nn. 10,12,15 e 29). Continuam válidos, portanto, os mesmos motivos para
se conservar a Missa codificada por São Pio V, que tão claramente expressa e reforça esses
dogmas eucarísticos, que corriam perigo no seu tempo e correm perigo hoje em dia.

26. Implicações doutrinais teológicas e eclesiológicas.

Aprofundando-se no assunto da reforma litúrgica, Ratzinger, quando Cardeal Prefeito da


Congregação para a Doutrina da Fé, afirmava: “A crise da liturgia, e, portanto, também da Igreja, na
qual estamos imersos há tempo, se deve só em pequena medida às diferenças que existem entre os
livros litúrgicos antigos e novos. Torna-se cada vez mais claro que, no fundo de toda a disputa,
existe um desacordo profundo sobre a essência da celebração litúrgica, sua origem, seus ministros
e sua forma correta. Trata-se, em suma, da questão da estrutura fundamental da liturgia; duas
concepções fundamentalmente diferentes se confrontam aqui, mais ou menos conscientemente. A
nova imagem da liturgia se pode resumir com os conceitos chaves por ela cunhados: criatividade,
liberdade, celebração, comunidade. Segundo essa concepção, o rito, as exigências cerimoniais, a
interioridade, a ordenação geral da Igreja aparecem como noções negativas que caracterizam uma
etapa da ‘antiga liturgia’ que deve ser ultrapassada… Antes de tudo, digamos claramente que a
verdadeira oposição não se situa entre livros antigos e livros novos, mas entre liturgia comum a toda
a Igreja e liturgia autofabricada. O maior obstáculo à assimilação pacífica das formas litúrgicas
renovadas é a impressão que se poderia ter de que a liturgia é, de agora em diante, deixada ao
espírito de invenção de cada um” [181].

Ainda sobre a falsa concepção da liturgia, infelizmente em voga em muitos lugares, o então Cardeal
Ratzinger explicava que isso deriva de uma recusa da noção de pecado e de uma concepção
errônea sobre Cristo, como se o fato de reconhecê-lo como Deus o afastasse de nossa pobre
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condição humana. Essa concepção modernista se traduz em exegese por uma distinção entre o
Jesus do Evangelho, que seria o da fé, e o Jesus real da história. As conseqüências sobre a liturgia
logo aparecem: “É porque não há naturalmente mais lugar para um Filho de Deus, que vem ao
mundo para nos salvar do pecado e que, para fazê-lo, morre na cruz. Eis o que explica… a
metamorfose profunda na compreensão do culto e da liturgia, que se espalhou nesses últimos
tempos – depois de ter sido preparada desde longa data: seu primeiro objeto não é Deus, nem o
Cristo, mas os que celebram o culto. E o primeiro sentido desse culto não pode evidentemente ser
mais a adoração… Não se trata mais de expiação, de sacrifício, para o perdão dos pecados… É por
isso que pertence à comunidade criar ela mesma sua liturgia e não de receber tradições tornadas
incompreensíveis; a comunidade se representa e se celebra ela mesma” [182].

27. O Ofertório da Missa na forma antiga.

O Ofertório da Missa na forma antiga é perfeitamente ortodoxo e de grande alcance doutrinal, pois,
no dizer do então Cardeal Joseph Ratzinger, “as orações de apresentação das oferendas da Missa
antiga, que os mais velhos entre nós conhecemos e apreciamos, e que às vezes misturamos na
nova forma da Missa eram belas e profundas orações…” [183], e continham um alto significado
místico e teológico: não se tratava de oferecer simplesmente pão e vinho, mas já, antecipadamente,
o sacrifício, pois a hóstia é já chamada de “vítima imaculada”. Entre os Bizantinos, designa-se a
hóstia com o nome de “Cordeiro”. No rito dominicano, dando a patena ao celebrante, o diácono lhe
diz: “Imola a Deus este sacrifício de louvor”.

Uma boa explicação nos dá Dom Paulo Tirot, O.S.B., monge de Solesmes: “A oração litúrgica da
Igreja não segue nossa lógica cartesiana: ela antecipa, ela lembra, ela vai, ela vem, com uma
liberdade que é a do espírito de Deus e da poesia. É uma das críticas que se pode fazer à recente
reforma litúrgica, de ter querido ‘racionalizar’ a oração litúrgica, querendo colocar aí uma ‘ordem’ que
não existe no seu espírito e de tê-la assim despoetizado. Começa-se a se dar conta disso e a sentir
saudade do lirismo da antiga liturgia… O padre, falando em seu próprio nome, implora, antes de
entrar na grande oração eucarística e sacrifical, o perdão de suas faltas e insiste muito
oportunamente sobre o caráter sacrifical da oferenda que ele vai fazer in persona et virtute Christi.
Este caráter é, com efeito, muito discretamente expresso nas orações consecratórias: este é o meu
Corpo entregue por vós, este é o cálice do meu Sangue que será derramado por vós. Era, portanto,
muito útil que a Igreja, na consciência maior que ela tomava do aspecto essencialmente sacrifical da
missa, insistisse sobre este caráter nas orações do ofertório. O Concílio de Trento compreendeu a
oportunidade disso contra a heresia que o negava. É talvez mais urgente do que nunca sublinhá-lo”
[184]. Certamente por isso que o então Cardeal Ratzinger dizia: “… as orações de apresentação das
oferendas da Missa antiga, que os mais velhos entre nós conhecemos e apreciamos, e que às vezes
misturamos na nova forma da Missa. Eram belas e profundas orações…” [185].

28. A comunhão na boca.

Ao invés da comunhão na mão, na Missa na forma extraordinária do Rito Romano a comunhão é


dada na boca, “por causa do sentido da reverência devida a este Santíssimo Sacramento e da
humildade com a qual ele deve ser recebido”, conforme nos explica o Papa Paulo VI: “É verdade
que, segundo o antigo costume, os fieis puderam antigamente receber esse alimento divino na mão
e levá-lo eles mesmos à boca… Entretanto, as prescrições da Igreja e os textos dos Padres atestam
abundantemente o profundíssimo respeito e as grandíssimas precauções que cercavam a santa
Eucaristia. Assim: ‘Que ninguém… coma essa carne se antes não a adorou’ (Santo Agostinho); e a
todo aquele que a come é dirigida a advertência: ‘Receba isso, vigiando para nada perder dele’ (São
Cirilo de Jerusalém);: ‘pois é o Corpo de Cristo’ (Santo Hipólito)… Com o passar do tempo, quando a
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verdade e a eficácia do mistério eucarístico, assim como a presença de Cristo nele, foram
perscrutadas com mais profundidade, o sentido da reverência devida a este Santíssimo Sacramento
e da humildade com a qual ele deve ser recebido exigiram que fosse introduzido o costume que seja
o ministro mesmo que deponha sobre a língua do comungante uma parcela do pão consagrado”
[186] .

Assim, as razões para se dar a comunhão na boca, costume conservado na Missa na forma antiga,
são dadas pelo Papa Paulo VI: “Levando em conta a situação atual da Igreja no mundo inteiro, essa
maneira de distribuir a santa comunhão deve ser conservada, não somente porque ela tem atrás de
si uma tradição multissecular, mas sobretudo porque ela exprime a reverência dos fiéis para com a
Eucaristia. Ademais, esse modo de faze-lo não fere em nada a dignidade da pessoa daqueles que
se aproximam desse sacramento tão elevado, e é apropriado à preparação requerida para receber o
Corpo do Senhor da maneira mais frutuosa possível. Essa reverência exprime bem a comunhão,
não ‘de um pão e de uma bebida ordinários’ (São Justino), mas do Corpo e do Sangue do Senhor,
em virtude da qual ‘o povo de Deus participa dos bens do sacrifício pascal, reatualiza a nova aliança
selada uma vez por todas por Deus com os homens no Sangue de Cristo, e na fé e na esperança
prefigura e antecipa o banquete escatológico no Reino do Pai’ (Sagr. Congr. Dos Ritos, Instrução
Eucharisticum Mysterium, n.3). Por fim, através dessa maneira de agir que deve já ser considerada
tradicional, assegura-se mais eficazmente que a santa comunhão seja administrada com a
reverência, o decoro e a dignidade que lhe são devidos de sorte que seja afastado todo o perigo de
profanação das espécies eucarísticas, nas quais, ‘de uma maneira única, Cristo total e todo inteiro,
Deus e homem, se encontra presente substancialmente e de um modo permanente’(Sagr. Congr.
Dos Ritos, Instrução Eucharisticum Mysterium, n. 9); e para que se conserve com diligência todo o
cuidado constantemente recomendado pela Igreja no que concerne aos fragmentos do pão
consagrado: ‘O que tu deixaste cair, considera que é como uma parte dos teus membros que foi
amputada’ (São Cirilo de Jerusalém)…” [187].

E Paulo VI explica por que motivo não convém mudar essa forma de dar a comunhão na boca para
dá-la na mão: Com efeito, uma mudança que fosse feita em uma matéria tão importante, em um
modo de agir que se apóia em uma tradição muito antiga e venerável, não somente diz respeito à
disciplina, mas pode também comportar perigos que, como se teme, nasceriam eventualmente
dessa nova maneira de distribuir a santa comunhão, quer dizer, uma menor reverência para com o
augusto sacramento do altar; uma profanação desse sacramento; ou uma alteração da verdadeira
doutrina …” [188].

29. A celebração “versus Orientem” e não “versus populum”.

A Missa na forma antiga do Rito Romano é normalmente celebrada “versus Orientem”, voltada
simbolicamente para o Oriente, que simboliza o Senhor, ficando o celebrante e os fiéis voltados para
a mesma direção, o que tem um significado teológico bem explicado pelo então Cardeal Joseph
Ratzinger: “A orientação da oração comum aos padres e fiéis – cuja forma simbólica era geralmente
em direção ao Oriente, quer dizer ao sol nascente – era concebida como um olhar voltado para o
Senhor, para o verdadeiro sol. Há na liturgia uma antecipação do seu retorno; padres e fiéis vão ao
seu encontro. Esta orientação da oração exprime o caráter teocêntrico da liturgia; ela obedece à
advertência: voltemo-nos para o Senhor!” [189]. Mas, “depois do Concílio (que, ele mesmo, não fala
da ‘disposição voltada para o povo’), em toda parte se construíram novos altares; a celebração
orientada versus populum aparece hoje como sendo o verdadeiro fruto da renovação operada pelo
Concílio Vaticano II. De fato, essa é a conseqüência mais visível de uma transformação que não
significa apenas uma diferente arrumação exterior do espaço litúrgico, mas implica também uma
nova concepção da essência da liturgia como refeição comunitária… Escutemos a propósito o que
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escreve Louis Bouyer: ‘A idéia que uma celebração voltada para o povo teria podido ser uma
celebração primitiva, e em particular a da ceia eucarística, não tem outro fundamento senão uma
errônea concepção do que podia ser uma refeição na antiguidade, cristã ou não. Em nenhuma
refeição do início da era cristã o presidente de uma assembléia de comensais estava de frente aos
outros participantes. Estes estavam todos sentados, ou reclinados, no lado oposto de uma mesa em
forma de sigma… De nenhuma parte, portanto, na antiguidade cristã, teria podido vir a idéia de se
colocar em frente para o povo para presidir uma refeição. O caráter comunitário da refeição era
ressaltado mesmo pela disposição contrária, isto é, pelo fato de que todos os participantes se
encontrassem do mesmo lado da mesa’… A Eucaristia não pode certamente ser descrita com
precisão com os termos ‘refeição’ ou ‘banquete’. De fato, o Senhor indubitavelmente instituiu a
novidade do culto cristão no âmbito de um banquete pascal hebraico, mas nos ordenou repetir esta
novidade, não o banquete como tal. Por isso mesmo, a novidade muito depressa se libertou de seu
antigo contesto e encontrou uma forma que lhe é própria, que tinha sido já antecipada pelo fato de
que a Eucaristia conduz à cruz e, portanto, à transformação do sacrifício do templo na liturgia
racional. Outra conseqüência é que a liturgia sinagogal da palavra foi renovada e aprofundada
cristãmente, permeada da memória da morte e ressurreição de Cristo e, por isso mesmo, ficou fiel
ao dever do ‘fazei isto’… O conhecimento desse estado de coisas ficou certamente obscurecido no
curso da modernidade ou mesmo perdido, tanto no modo de se construir as igrejas quanto no de
celebrar a liturgia. Só assim se pode explicar o fato de que a orientação comum do sacerdote e do
povo tenha sido etiquetada como ‘celebração voltada para a parede’ ou como ‘um mostrar as costas
para o povo’, etiqueta que, entretanto, se espalhou como sendo algo absurdo e completamente
inaceitável. Só assim se pode explicar que a idéia do banquete… se tornou então normativa para a
celebração litúrgica dos cristãos. Na verdade assim se introduziu uma clericalização que nunca tinha
acontecido antes. Ora, de fato, o sacerdote – ou, o ‘presidente’, como se prefere chamá-lo – se torna
o verdadeiro e próprio ponto de referência de toda a celebração. Tudo termina sobre ele. É a ele que
é necessário olhar, é à sua ação que se toma parte, é a ele que se responde; é a sua criatividade
que sustenta o conjunto da celebração. É ademais compreensível que se procure depois reduzir
esse papel… distribuindo numerosas atividades e confiando-as ã ‘criatividade’ dos grupos que
preparam a liturgia, os quais querem e devem antes de tudo ‘levar a si mesmos’. A atenção é
sempre menos voltada para Deus e é sempre mais importante o que fazem as pessoas que se
encontram e que não querem de fato submeter-se a um ‘esquema predisposto’. O sacerdote voltado
para o povo dá à comunidade o aspecto de um todo fechado em si mesmo. Ela não está mais – na
sua forma – aberta para frente e para o alto, mas se fecha sobre si mesma. O ato pelo qual se
voltavam todos para o Oriente não era ‘celebração voltada para a parede’, não significava que o
sacerdote ‘voltava as costas ao povo’: ele não era pois considerado tão importante. De fato, como
na sinagoga todos olhavam juntos para Jerusalém, assim aqui se volviam juntos ‘para o Senhor’.
Para usar a expressão de um dos padres da constituição litúrgica do Concílio Vaticano II, J. A.
Jungmann, trata-se antes de uma mesma orientação do sacerdote e do povo, que sabiam estar
caminhando juntos para o Senhor. Eles não se fechavam em círculo, não se olhavam
reciprocamente, mas, como povo de Deus a caminho, estão de partida para o Oriente, para Cristo
que avança e que vem ao seu encontro… A orientação comum para o Oriente durante o Cânon
continua essencial. Não se trata de um elemento acidental da liturgia. Não é importante o olhar
voltado para o sacerdote, mas a adoração comum, o andar ao encontro dAquele que vem. A
essência do evento não se exprime pelo círculo fechado em si mesmo, mas a pertença comum, que
se exprime na direção comum” [190].

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30. A boa Música Sacra na Liturgia na forma tradicional.

Sobre a Música Sacra no atual período pós-conciliar, o então Cardeal Ratzinger fazia o seguinte
comentário: “Nos anos transcorridos desde então, se tornou patente um alarmante e crescente
empobrecimento, que surge quando se fecha a porta na Igreja à ‘beleza sem sentido’ [no sentir de
alguns] e se fica subordinado ao ‘útil’ [o Cardeal havia falado antes da distinção entre música sacra
no sentido estrito e música de uso]. Mas o estremecimento que provoca a liturgia pós-conciliar, que
perdeu o brilho, ou simplesmente o aborrecimento que cria com seu interesse pelo banal ou suas
poucas pretensões artísticas, não esclarecem nosso questionamento… Seja como for, uma coisa
ficou clara depois das experiências dos últimos anos: a volta do utilitário não fez a liturgia mais
aberta, senão mais pobre. A simplicidade necessária não se pode conseguir mediante um
empobrecimento” [191].

E o então Cardeal Ratzinger insistia: “Liturgia ‘simples’ não significa liturgia verrrrrrrrrrrrrrrrrrrr mísera
ou reles: existe a simplicidade que provém do banal e uma outra que deriva da riqueza espiritual,
cultural e histórica. Também nisso, deixou-se de lado a grande música da Igreja em nome da
‘participação ativa’, mas essa ‘participação’ não pode, talvez, significar também o perceber com o
espírito, com os sentidos? Não existe nada de ‘ativo’ no intuir, no perceber, no comover-se? Não há
aqui um diminuir o homem, reduzindo-o apenas à expressão oral, exatamente quando sabemos que
aquilo que existe em nós de racionalmente consciente e que emerge à superfície é apenas a ponta
de um iceberg, com relação ao que é a nossa totalidade? Questionar tudo isso não significa,
evidentemente, opor-se ao esforço para fazer cantar todo o povo, opor-se à música ‘utilitária’.
Significa opor-se a um exclusivismo (somente tal música), não justificado nem pelo Concílio nem
pelas necessidades pastorais” [192].

E mais: “A música sacra tem que ser humilde; seu objetivo não é o aplauso, mas sim a ‘edificação’.
O fato de o intérprete permanecer anônimo na disposição do coro da casa de Deus, diferentemente
de estar na sala de concertos, corresponde exatamente à natureza da música sacra” [193]. E ele
criticava “esse racionalismo banal da época pós-conciliar, que só considera digno da liturgia o que
se pode por em prática de modo racional para todo o mundo, chegando assim a uma proscrição da
arte e uma banalização progressiva da palavra”, acrescentando o comentário de Santo Tomás:
“Ainda que os ouvintes não entendam o que se canta, entendem sim para que se canta: para louvar
a Deus. E isso basta para despertar os homens para Deus” (Q. 91 a 2 opp. 5 e ad 5)” [194].

31. A riqueza e o valor do Latim na Liturgia.

Na Missa celebrada na forma antiga do Rito Romano se conserva predominantemente a língua


latina – uma língua fixa, não uma língua morta – que, no dizer de São Pio X, “é a língua própria da
Igreja Romana” [195]. Segundo o Papa Pio XI, “a Igreja, que agrupa em seu seio todas as nações,
que está destinada a viver até a consumação dos séculos… tem necessidade, pela sua própria
natureza, de uma língua universal, definitivamente fixada, que não seja uma língua vulgar” [196].
Além disso, como ensinava o Papa Venerável Pio XII, “o uso da Língua Latina é um claro e nobre
sinal de unidade e um eficaz antídoto contra todas as corruptelas da pura doutrina” [197]. Aliás, o
mesmo ressaltava a Congregação para o Culto Divino: “A unidade da Igreja é valorizada de uma
maneira particular pelo uso do latim e do canto gregoriano” [198]. E conservando-se
predominantemente o latim na forma antiga da liturgia, ganha-se muito em matéria de comunhão
eclesial, pois, como dizia o Papa João Paulo I, “o Latim exprime de maneira palmar e eficaz a
unidade e a universalidade da Igreja” [199].

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Na verdade, a forma antiga do Rito Romano segue exatamente a regra do Papa Beato João XXIII:
“Que o antigo e jamais interrompido uso da Língua Latina seja mantido, e onde houver caído quase
em abandono, seja absolutamente restabelecido” [200]. – “Ninguém por afã de novidade escreva
contra o uso da Língua Latina… nos sagrados ritos da Liturgia.” [201]. – “A língua latina, que com
todo o direito podemos chamar católica, pois é própria da Sé Apostólica, mãe e mestra de todas as
Igrejas, e consagrada pelo uso perene, deve ser mantida como tesouro de incomparável valor” [202].
E ele dava o motivo: “É necessário que a Igreja use uma língua não só universal, mas também
imutável. Se, de fato, as verdades da Igreja Católica fossem confiadas a algumas ou a muitas
línguas modernas, que estão sujeitas a contínua mudança, e, ainda, nenhuma delas tem sobre as
outras maior autoridade e prestígio, resultaria, sem dúvida alguma que, devido às suas variações,
não seria manifestado a muitos com suficiente precisão e clareza o sentido de tais verdades” [203].

E foi isso o que foi preceituado pelo Concílio Ecumênico Vaticano II: “Seja conservado o uso da
Língua Latina nos Ritos Latinos… Providencie-se que os fiéis possam juntamente rezar ou cantar
em Língua Latina as partes do Ordinário que lhes competem… A Igreja reconhece como canto
próprio da liturgia romana, o canto gregoriano; portanto, na ação litúrgica, ocupa o primeiro lugar
entre seus similares” [204].

CONCLUSÃO

Os que procuram com retidão a verdade a encontrarão certamente. Não se deve ter medo da
verdade. A verdade é o reflexo de Deus. “Conhecereis a verdade e a verdade nos fará livres” (Jo 8,
32).

Livres de preconceitos, as conclusões do que ficou acima demonstrado se impõem por si mesmas.

Ficou, pois, claramente demonstrado que a Missa celebrada na forma ordinária do Rito Romano é
perfeitamente católica e legítima.

Ademais, por tudo o que temos explicado, o legítimo amor e preferência pela riqueza litúrgica do rito
tradicional e, portanto, pela sua conservação, são baseados em verdadeiros e sadios motivos, de
acordo com a doutrina católica.

Não é, pois, simplesmente porque somos saudosistas ou sentimentalmente apegados ao “folclore”,


às formas passadas da Liturgia. Não é por negarmos o poder do Papa de modificar e promulgar as
leis litúrgicas, pois isso seria contra o dogma do supremo poder do Papa. Mas sim por sérios
motivos teológicos, litúrgicos, históricos, estéticos e espirituais, legitimamente reconhecidos pela
Igreja.

Sendo assim, sem julgar os outros nem nos considerarmos melhores do que ninguém em nossa
família católica, nós conservamos a Santa Missa na forma antiga tradicional do Rito Romano, por
ser uma das riquezas litúrgicas católicas, exprimindo, através dela, o nosso amor pela Santa Igreja e
nossa comunhão com ela e contribuindo modestamente para o enriquecimento e sacralização da
Liturgia.

50
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51
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[1] Bento XVI, carta aos Bispos que acompanha o Motu Próprio Summorum Pontificum, 7-7-2007.

[2] João Paulo II, carta apostólica Vigesimus quintus annus, n. 16, 4/12/1988.

[3] Catecismo da Igreja Católica (C.I.C.) nn. 1407, 1409 e 1414.

[4] Código de Direito Canônico (C.D.C.), cânon 897

[5] Papa Venerável Pio XII, Encíclica Mediator Dei, n. 73.

[6] Cf. C.I.C. nº 1206.

[7] C.I.C. nº 1208.

[8] C.I.C. n. 1201.

[9] Paulo VI, Constituição Apostólica Missale Romanum, de 3/4/1969

[10] “… Nele também muitos santos alimentaram copiosamente a sua piedade para com Deus,
haurindo-a tanto das leituras da Sagrada Escritura como das suas orações, cuja parte principal fora
organizada por São Gregório Magno” (Paulo VI, Constituição Apostólica Missale Romanum, de
3/4/1969).

[11] Joseph Ratzinger, La mia vita, pag. 11-112).

[12] Ratzinger, La Fiesta de la Fe, Desclée de Brouwer, pág. 116 e 117.

55
[13] 2151 votantes, 2147 placet, 4 non placet.

[14] Com relação ao período pós Concílio Vaticano II, o Papa Bento XVI, fazendo uma analogia,
lembrou o comentário de São Basílio que descreveu o que aconteceu após o Concílio de Nicéia,
comparando aquele período a uma batalha naval na escuridão da tempestade, onde ‘o grito rouco
daqueles que, pela discórdia, se levantam uns contra os outros, os palavreados incompreensíveis e
o ruído confuso dos clamores ininterruptos já encheram quase toda a Igreja, falsificando, por
excesso ou por defeito, a reta doutrina da fé…’ (De Spiritu Sancto, XXX, 77; PG 32, 213 A; Sch 17
bis, pág. 524)” (Bento XVI, discurso à Cúria Romana, 22 de dezembro de 2005).

[15] “Por um lado, existe uma interpretação que gostaria de definir “hermenêutica da
descontinuidade e da ruptura”; Por outro lado, há a “hermenêutica da reforma”, da renovação na
continuidade… A hermenêutica da descontinuidade corre o risco de terminar numa ruptura entre a
Igreja pré-conciliar e a Igreja pós-conciliar. Ela afirma que os textos do Concílio como tais ainda não
seriam a verdadeira expressão do espírito do Concílio. À hermenêutica da descontinuidade opõe-se
a hermenêutica da reforma… ‘É necessário que esta doutrina certa e imutável, que deve ser
fielmente respeitada, seja aprofundada e apresentada de modo que corresponda às exigências do
nosso tempo. De fato, uma coisa é o depósito da fé, isto é, as verdades contidas na nossa
veneranda doutrina, e outra coisa é o modo com o qual elas são enunciadas, conservando nelas,
porém, o mesmo sentido e o mesmo resultado’ (Papa João XXIII)” (Papa Bento XVI – Discurso à
Cúria Romana, 22 de dezembro de 2005).

[16]Teologia da Liturgia – Conferência do Cardeal Joseph Ratzinger nas “Journées liturgiques de


Fontgombault, 22-24 de julho de 2001, na Abadia Notre-Dame de Fontgombault, França.

[17] Conferência de 24 de outubro de 1998, em Roma.

[18] João Paulo II, Audiência de 26 de outubro de 1998.

[19] Bento XVI, carta aos Bispos que acompanha o Motu Próprio Summorum Pontificum.

[20] Idem, ibidem.

[21] Seu título é: ”Constituição Apostólica Missale Romanum pela qual se promulga o Missal
Romano, restaurado segundo o Decreto do Concílio Ecumênico Vaticano II, para perpétua
memória”.

[22]Tradução da Santa Sé – cf. http: //www.vatican.va/holy father /paul_vi/apost


_constitutions/documents/hf_pvi_apc_19690403_missale-romanum_po.html).

[23] Cf. Bento XVI, Carta aos Bispos que acompanha o Motu Proprio Summorum Pontificum.

[24] Idem ibidem.

[25] O ato verdadeiramente do magistério, e que merece a assistência do Espírito Santo, é o texto
em sua plena formulação objetiva, promulgado pelo Papa, não interessando a opinião particular que
tenham podido sustentar Mons. Aníbal Bugnini ou os membros do Consilium. Casos semelhantes já
ocorreram na história, quando o redator de uma encíclica papal emitiu opinião interpretativa da
encíclica que discordava do texto formulado objetivamente e promulgado pelo Papa, único
evidentemente válido como ato do magistério, não importando a idéia do redator. O mesmo se aplica
56
ao Concílio Vaticano II, do qual “o ato verdadeiramente conciliar, como ato da Igreja, e que merece a
assistência do Espírito Santo, é o texto em sua plena formulação objetiva, aprovado por ato
definitivo da Assembléia Conciliar e do Soberano Pontífice, não interessando a opinião particular
que tenham podido sustentar certos Padres conciliares a respeito” (Pe. Julio Meinvielle, livro De
Lamennais a Maritain, apêndice II A declaração conciliar sobre liberdade religiosa e a doutrina
tradicional, Ediciones Theoria, Buenos Aires, 1967).

[26] Constituição Dogmática Pastor Aeternus – Denzinger-Shönmetzer (D-S 3060).

[27] Concílio de Trento, sessão XXI, cap. 2 (D-S 1728)

[28] Pio XII, Encíclica Mediator Dei, n. 44 e 45.

[29] Cânon 841: “Já que os sacramentos são os mesmos para toda a Igreja e pertencem ao depósito
divino, compete unicamente à suprema autoridade da Igreja aprovar ou definir os requisitos para sua
validade, e cabe a ela ou a outra autoridade competente, de acordo com o cân. 838, §§ 3 e 4,
determinar o que se refere à sua celebração, administração e recepção lícita, e à ordem a ser
observada em sua celebração”.

[30] C.I.C. nº 820.

[31] Concílio Ecum. Vaticano I, Const, Dog. “Pastor Aeternus”, sobre a Igreja de Cristo, D-S 3070 e
3071

[32] Idem, ibidem.

[33] C.I.C. n.º 2035.

[34] Pio XII, Encíclica Mediator Dei, n. 43.

[35] Quod. IX, q.8, a.1. “Si vero consideretur Divina Providentia, quae Ecclesiam suam Spiritu Sancto
dirigit ut non erret, sicut ipse promisit, (Ioann. XIV,26), quod Spiritus adveniens doceret omnem
veritatem, de necessariis scilicet ad salutem; certum est quod iudicium Ecclesiae universalis errare in
his quae ad fidem pertinent, impossibile est. Unde magis est standum sententiae Papae, ad quem
pertinet determinare de fide, quam in iudicio profert, quam quorumlibet sapientum hominum in
Scripturis opinioni…” Corpus Thomisticum Sancti Thomae de Aquino – opera omnia – Quodlibet IX,
q. 8 co – Versão Leonina – Fundación Tomás de Aquino – 2000-2009 – Universidad de Navarra –
site: HTTP://www.corpusthomisticum.org/index.html

[36] Papa Pio VI, Const. Auctorem fidei, condenação dos erros do Sínodo de Pistóia, jansenista: “A
prescrição do Sínodo… depois de ter dito que ‘em qualquer artigo se é preciso distinguir o que
pertence ao fim ou à essência da religião daquilo que é próprio da disciplina’, acrescenta que ‘nessa
mesma (disciplina) é preciso distinguir daquilo que é necessário ou útil que os fiéis guardem no
espírito, o que é inútil ou pesado demais para que a liberdade dos filhos da nova aliança o suporte, e
mais ainda, o que é perigoso ou nocivo, por induzir à superstição ou ao materialismo; dado que pela
generalidade das palavras abraça e expõe ao exame acima descrito também a disciplina instituída e
aprovada pela Igreja , como se a Igreja, que é conduzida pelo Espírito de Deus, pudesse
estabelecer uma disciplina não somente inútil e pesada demais para que a liberdade cristã a
suporte, mas também perigosa, nociva e induzindo à superstição e ao materialismo; é falsa,
temerária, escandalosa, perniciosa, ofensiva aos ouvidos pios, injuriosa para a Igreja e para o
57
Espírito de Deus por quem ela é conduzida, no mínimo errônea” (Denzinger-Hünermann, 2678).

[37] “Seria verdadeiramente reprovável e muito alheio à veneração com que devem ser recebidas as
leis da Igreja condenar por um afã caprichoso de opiniões quaisquer a disciplina por ela sancionada
e que abrange a administração das coisas sagradas, a norma dos costumes e os direitos da Igreja e
seus ministros, ou censurá-la como oposta a determinados princípios do direito natural ou
apresentá-la como defeituosa ou imperfeita, e submetida ao poder civil.” (Gregório XVI, Encíclica
Mirari Vos, 9 (1932).

[38] (Pio XII, Encíclica Mystici Corporis, 65).

[39] Essa aceitação da nova liturgia da Missa por toda a Igreja docente (Papa e todos os Bispos em
comunhão com ele) durante 40 anos fala em favor da sua legitimidade. Existe um paralelo: Santo
Afonso de Ligori afirma que, se um Papa tiver sido eleito de modo ilegítimo ou por fraude, basta que
ele em seguida seja aceito por toda a Igreja para se tornar verdadeiro pontífice (Verità della fede, in
Opere…, vol. VIII, p. 720, n. 9).

[40] Controversiarum de conciliis, Liber III qui est de Ecclesia Militante…, cap XIV: Ecclesiam non
posse errare, in Opera omnia, éd. J. Fèvre, Vives, 1870, t. II, p. 351.

[41] Dom Antônio de Castro Mayer – Monitor Campista, 26/1/1986.

[42] Const. Auctorem Fidei, Papa Pio VI, Denz-Sho 2601.

[43] Cf. Joaquín Salaverri, S.J., Sacrae Theologiae Summa, t. I, De Ecclesia Christi, Tese XXI (BAC,
Madrid).

[44] J. M. Hervé, cônego, “Manuale Theologiae Dogmaticae”, vol. I, p. 508.

[45] Joseph Haegy, C. S. SP., “Manuel de Liturgie” t. I, p 2..

[46] “Ius Canonicum”, tom. II, p. 410; ver também tom. I, p. 278. Ver tb. Hervé, o.c. pág. 510.

[47] Adolphe Tanquerey, P.S.S.,Synopsis Theol. Dogm. Fundamentalis, n. 932.

[48] Hermannm, Institutuiones Theologiae Dogmaticae Roma, 4 ed., Roma: Della Pace, 1908, vol. 1,
p. 258.

[49] John P.M. van der Ploeg, O P., doutor e mestre em Teologia, doutor em Sagrada Escritura,
professor emérito da Universidade de Nimega, membro da Academia Real de Ciências da Holanda,
no prefácio do Livro “I am with you allways” (Eu estou convosco sempre) de Michael Davies, escritor
tradicional, presidente da Una Voce internacional.

[50] Pio IX, Ep. Tuas Libenter (1863), Denz-Sho 2879.

[51] Pio IX, Ep. Tuas Libenter (1863), Denz-Sho 2880.

[52] Joseph Ratzinger, LA SAL DELA TIERRA, quién es y como piensa Benedicto XVI”, Ediciones
Palabra, Madrid, 10ª edição, pág 195.

58
[53] Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Dei Verbum, 8 e 10.

[54] CIC n. 85.

[55] Discurso na Assembléia Plenária da Congregação para a Doutrina da Fé, em 15 de janeiro de


2010.

[56] Alocução “Cum vera soddisfazione”, de 10/5/1909.

[57] Encíclica Humani Generis, n. 18.

[58] Carta do Santo Ofício ao Arcebispo de Boston, Denz-Sho 3866.

[59] Conc. Ecum. Vat. II, Const. Dogmática Dei Verbum, 10 e Catecismo da Igreja Católica, n. 100

[60] Conc. Ecum. Vat. II, Const. Dogmática Dei Verbum, 10

[61] Cf Leão XIII, Encíclica Satis Cognitum, 13.

[62] Dom Antônio de Castro Mayer, Carta Pastoral sobre a preservação da Fé e dos bons costumes,
inciso “O Magistério não invalível”, de 2 de fevereiro de 1967.

[63] Dom Antônio de Castro Mayer, Veritas abril-maio/1980, pág 8.

[64] Summa Theologica, II-II, q. 10, a.12,

[65] “Ego vero Evangelio non crederem, nisi me catholicae Ecclesiae commoveret auctoritas” –
Contra epistulam Manichaei quam vocant fundamenti, 5,6: PL 42,176 – Apud C.I.C. 119.

[66] Congregação para a Doutrina da Fé, Instrução Donum Veritatis sobre a vocação eclesial do
Teólogo, nn 28 e 38, de 24 de maio de 1990, assinada pelo Cardeal Joseph Ratzinger, aprovada e
mandada publicar pelo Papa João Paulo II. Essa Instrução (nn. 25 e ss) explica muito claramente as
condições de uma justa crítica do Magistério. Ela supõe, de partida, uma verdadeira competência da
parte da pessoa que manifesta uma oposição, que deve ser dirigida a Roma sem publicidade nem
polêmica, num espírito de pedido de explicações e de se submeter antecipadamente às respostas
dadas.

[67] Por exemplo a Encíclica Ecclesia de Eucharistia (17/4/2003), onde o Santo Padre o Papa João
Paulo II, além de ressaltar os dogmas da presença real e do sacerdócio ministerial distinto do
sacerdócio dos fiéis, fala 48 vezes no caráter sacrifical da Santa Missa. O Catecismo da Igreja
Católica (de 1997) ensina com clareza o caráter sacrifical da Missa (n. 1330, 1365-1367),
enfatizando o seu aspecto propiciatório (n. 1367). Veja-se também a última precisão doutrinária a
respeito da tradução do “pro multis”, feita pela Congregação para o Culto Divino em 17/10/2006.

[68] Encíclica Satis Cognitum, 20.

[69] Constituição Dogmática Pastor Aeternus (D-S 3056).

[70] Constituição Dogmática Pastor Aeternus (D-S 3070).

59
[71] O Cardeal Castrillón, presidente da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, lembrou isso no dia 30 de
maio de 2008, nos Estados Unidos, no sermão da Missa de Ordenação de padres da Fraternidade
São Pedro: “Irmãos, mostrai um profundo respeito pela forma ordinária do Rito Romano
concelebrando com vosso Bispo na Missa Crismal da Quinta-Feira Santa; é conveniente de modo
particular este sinal de comunhão sacerdotal” (La Croix de 2 de junho de 2008).

[72] Ratzinger, La Fiesta de la Fe, Ensayo de Teologia Litúrgica, Desclée de Brouwer, p. 118.

[73] A forma litúrgica que conservamos em nossa Administração Apostólica, como nas comunidades
em geral ligadas a essa forma ritual, é a de 1962, como diz o decreto “Animarum bonum”, de
fundação da Administração Apostólica: “… segundo o rito e a disciplina litúrgica, conforme as
prescrições de São Pio V, juntamente com as adaptações introduzidas por seus sucessores até o
Bem-aventurado João XXIII”. A liturgia tradicional não ficou, pois, fixa no Concílio de Trento nem em
São Pio V.

[74] Ratzinger, La Fiesta de la Fe, Desclée de Brouwer, pág. 116 e 117.

[75] Idem, ibidem, pág. 113-114.

[76] Alocução “Cum Vera Soddisfazione, 10/5/1909.

[77] João Paulo II, Carta Apostólica Vigesimus quintus annus, de 4/12/1988, n. 10, 11, 23 e 24.

[78] Carta Dominicae Cenae, 24/2/1980, n.º 12.

[79] Vittorio Messori, no prefácio ao livro “La Riforma di Benedetto XVI” de Nicola Bux.

[80] Joseph Ratzinger, Préface à «La Reforme liturgique en question », de Mgr. Klaus Gamber,
Éditions Sainte-Madeleine, 1992, pag. 6 e 7.

[81] Joseph Ratzinger, “La Eucaristía centro de la vida”, pág. 72-76, Edicep, 2005.

[82] Idem, ibidem, pag. 76 e 77.

[83] Ambrósio de Milão, Explicação do Símbolo, IV Livro, 25, Paulus 1996, Patrística.

[84] Teologia da Liturgia – Conferência do Cardeal Joseph Ratzinger nas “Journées liturgiques de
Fontgombault, 22-24 de julho de 2001, na Abadia Notre-Dame de Fontgombault, França. Na
audiência de 19 de novembro de 1969, o Papa Paulo VI afirmara que a reforma “é um passo avante
na linha da sua tradição autêntica”, insistindo: “Que fique bem entendido que nada mudou na
substância de nossa Missa tradicional… porque como o novo rito a Missa é e permanece a de
sempre”. E na audiência de 26 de novembro de 1969, ele confirmava: “Se se examina bem, se verá
que a Missa guardou fundamentalmente sua linha tradicional, não somente no seu sentido teológico,
mas também no seu sentido espiritual”.

[85] Michael Davies, 31 de maio de 1997, Introdução à segunda edição do seu livro “I am with you
always” (Eu estou convosco sempre), The Newman Press. Michael Davies (*1936- +2004) foi
presidente internacional da UNA VOCE, movimento em defesa da Missa Tradicional, existente em
mais de 40 países, sendo seu presidente efetivo de 1995 a 2003 e presidente de honra de 2003 a
2004. Ele é autor de dezenas de livros em defesa da Tradição, sobretudo da liturgia tradicional.
60
[86] Summa Theologica, I-II, q. LXIV.

[87] Encíclica Mystici Corporis, n. 40.

[88] “Extra Ecclesiam catholicam totum potest praeter salutem. Potest habere honorem, potest
habere Sacramenta, potest cantare Alleluia, potest respondere Amen, potest Evangelium tenere,
potest in nomine Patris et Filii et Spiritus sancti fidem habere et praedicare: sed nusquam nisi in
Ecclesia catholica salutem poterit invenire” – Sermo ad Caesariensis Ecclesiae plebem, 6, PL 43.

[89] Encíclica Ecclesia de Eucharistia, n. 35.

[90] Smyrn., 8,1. Cf. também todo o n. 1369 do Catecismo da Igreja Católica.

[91] Michael Davies, introdução à primeira edição do seu livro citado acima “I am with you allways” –
Eu estou convosco sempre”, 19/7/1986, pag. 13.

[92] Summa Theologica, 2a-2ae, q. 39, art. 1.

[93] “Bilan et perspectives – Conferência do Cardeal Joseph Ratzinger nas “Journées liturgiques de
Fontgombault, 22-24 de julho de 2001, na Abadia Notre-Dame de Fontgombault, França.

[94] Santo Tomás de Aquino, Decem praec. 6 (apud C.I.C. 1759).

[95] João Paulo II, carta apostólica Vigesimus quintus annus, n. 16, 4/12/1988.

[96] Bento XVI, carta aos Bispos que acompanha o Motu Proprio Summorum Pontificum.

[97] Esta nossa religiosa submissão leva em conta a qualificação teológica de cada documento,
como foi estatuída pelo próprio Concílio (Notificação dada na 123a Congr. Geral, 16 nov.1964). Cf.
Carta da Congregação para a Doutrina da Fé, de 23 de dezembro de 1982, assinada pelo então
Cardeal Joseph Ratzinger.

[98] Ou seja, doutrina “compreendida à luz da santa Tradição e referida ao perene Magistério da
própria Igreja” (S. S. João Paulo II, Alocução ao Sacro Colégio, 5 nov. 1979).

[99] “Dado o caráter pastoral do Concílio, ele evitou pronunciar de uma maneira extraordinária
dogmas que comportassem a nota da infalibilidade, mas ele dotou seus ensinamentos da autoridade
do magistério ordinário supremo; esse magistério ordinário e manifestamente autêntico deve ser
acolhido dócil e sinceramente por todos os fiéis, segundo o espírito do concílio concernente à
natureza e os fins de cada documento” – Paulo VI, audiência geral de 12 de janeiro de 1966.

[100] O “pernicioso espírito do Concílio”, que, conforme dizia Bento XVI quando Cardeal, “é o
antiespírito, segundo o qual se deveria começar a história da Igreja a partir do Vaticano II, visto
como uma espécie de ponto zero. Quantas antigas heresias reapareceram nestes anos
apresentadas como novidade!” (Joseph Ratzinger, Rapporto sulla Fede, cap. II).

[101] “Por um lado, existe uma interpretação que gostaria de definir “hermenêutica da
descontinuidade e da ruptura”; Por outro lado, há a “hermenêutica da reforma”, da renovação na
continuidade… A hermenêutica da descontinuidade corre o risco de terminar numa ruptura entre a
61
Igreja pré-conciliar e a Igreja pós-conciliar. Ela afirma que os textos do Concílio como tais ainda não
seriam a verdadeira expressão do espírito do Concílio. À hermenêutica da descontinuidade opõe-se
a hermenêutica da reforma… ‘É necessário que esta doutrina certa e imutável, que deve ser
fielmente respeitada, seja aprofundada e apresentada de modo que corresponda às exigências do
nosso tempo. De fato, uma coisa é o depósito da fé, isto é, as verdades contidas na nossa
veneranda doutrina, e outra coisa é o modo com o qual elas são enunciadas, conservando nelas,
porém, o mesmo sentido e o mesmo resultado’ (Papa João XXIII)” (Papa Bento XVI – Discurso à
Cúria Romana, 22 de dezembro de 2005).

[102] Cf. Nota da Secretaria de Estado da Santa Sé, de 4 de fevereiro de 2009.

[103] “Obviamente, para viver a plena comunhão, também os sacerdotes das comunidades que
aderem ao uso antigo não podem, em linha de princípio, excluir a celebração segundo os novos
livros. De fato, não seria coerente com o reconhecimento do valor e da santidade do novo rito a
exclusão total do mesmo” (Carta do Papa Bento XVI aos Bispos apresentando o Motu Próprio
Summorum Pontificum, 7 de julho de 2007).

[104] Cf. Carta da Congregação para a Doutrina da Fé, de 23 de dezembro de 1982, assinada pelo
então Cardeal Joseph Ratzinger.

[105] Bento XVI, carta aos Bispos que acompanha o Motu Próprio Summorum Pontificum.

[106] Bento XVI, Motu próprio Summorum Pontificum, de 7/7/2007.

[107] Entrevista à revista americana Latin Mass , maio de 2003.

[108] Essa mesma consternação e estupefação com a interdição da Missa de São Pio V atingiu
também muitos padres e fiéis, pelo mundo afora.

[109] Joseph Ratzinger, La mia vita, Edizioni San Paolo, pág. 111 e112.

[110] Cardeal Joseph Ratzinger, O Sal da Terra, Imago, pág. 141-142.

[111] Ratzinger, Voici quel est notre Dieu. Croire e vivre aujourd’hui, conversations avec Peter
Seewald, Plon-Mame, 2001, p. 291.

[112] Cardeal Joseph Ratzinger, O Sal da Terra, Imago, pág. 141-142.

[113] Ratzinger, Voici quel est notre Dieu. Croire e vivre aujourd’hui, conversations avec Peter
Seewald, Plon-Mame, 2001, p. 291.

[114] Papa João Paulo II, Carta Apostólica – Motu próprio – Ecclesia Dei Adflicta, 2/7/1988.

[115] Motu Proprio Summorum Pontificum, artigos 2 e 4.

[116] Motu Proprio Summorum Pontificum, artigo 5, § 1.

[117] Idem, ibidem, artigo 5, §§ 3 e 5.


62
[118] Idem, ibidem, art. 7.

[119] Idem, ibidem, art. 10.

[120] João Paulo II, Motu Próprio Ecclesia Dei Adflicta de 1o de julho de 1988.

[121] Homilia pronunciada na Missa celebrada no rito de São Pio V, na Basílica de Santa Maria
Maior, em Roma, no dia 24 de maio de 2003, em ação de graças pelo 25oaniversário do pontificado
do Papa João Paulo II, na presença de cinco cardeais e milhares de sacerdotes e fiéis. Esta Missa
começou com a leitura de uma Mensagem do Papa, que agradecia e se unia a todos os presentes.

[122] Cardeal Castrillón Hoyos, Entrevista à revista americana Latin Mass, 5 de maio de 2004.

[123] Bento XVI, Carta Apostólica “motu próprio” Summorum Pontificum, de 7/7/2007.

[124] Idem, ibidem.

[125] Bento XVI está consciente de que a Missa na forma antiga atrai almas ávidas de uma liturgia
mais “vertical”, quer dizer, mais fundamentada sobre o aspecto mistérico do culto, e particularmente
os jovens.

[126] Carta aos Bispos que acompanha o Motu Proprio Summorum Pontificum.

[127] Entrevista à revista americana Latin Mass, 5 de maio de 2004.

[128] Idem, ibidem.

[129] Carta ao Sr. Glen Tattersal, presidente da Ecclesia Dei Society da Austrália, em 11 de maio de
1990.

[130] Bento XVI, carta aos Bispos que acompanha o Motu Próprio Summorum Pontificum.

[131] Carta aos bispos americanos, 19 de abril de 1991, distribuída na reunião da Conferência
Episcopal dos EEUU.

[132]Joseph Ratzinger, La mia vita, San Paolo, pág. 112 e 113.

[133] Conferência aos Bispos chilenos, Santiago, 13 de julho de 1988

[134] Paulo VI, Alocução de 29 de junho de 1972

[135] Cardeal Virgílio Noé, mestre das celebrações litúrgicas de Paulo VI, João Paulo I e João Paulo
II – Entrevista a “Petrus”, quotidiano on-line sobre o Pontificado de Bento XVI, em 14 de maio de
2008.

[136] João Paulo II, Encíclica Ecclesia de Eucharistia, nn 10, 52, 61

[137] Algumas das razões aqui apresentadas, referindo-se negativamente à nova liturgia, não se
aplicam exatamente ao novo rito da Missa celebrado tal qual foi promulgado pela Santa Sé e
63
segundo suas normas litúrgicas, Missas no rito novo celebradas correta, respeitosa e piedosamente,
mas sim às Missas como são muitas vezes celebradas, onde os abusos litúrgicos são freqüentes.

[138] Homilia de 21 de julho de 1996.

[139] “Integrismo e conservatismo” – Entrevista com o Cardeal Gagnon, “Offerten Zitung –


Römisches”, nov.dez. 1993, p.35.

[140] Expressão usada pelo então Cardeal Ratzinger na Introdução ao livro La Réforme Liturgique,
de Mgr. Klaus Gamber, pag. 6 e 8).

[141] A Missa na forma antiga do Rito Romano ou Missa dita de São Pio V, chamada pelo Papa
Bento XVI de forma extraordinária do Rito Romano, é às vezes chamada de Missa Tradicional,
embora essa expressão não seja perfeitamente conveniente, pois leva a entender que ela seria a
única Missa tradicional, com a conseqüente errônea exclusão dos ritos orientais ou da Missa de
Paulo VI, como se essas não tivessem também direito a serem chamadas missas tradicionais, como
veremos no curso da argumentação. Quando, portanto, usamos essa expressão, não é
absolutamente com esse significado de exclusividade.

[142] “Quo fit ut in re liturgica vel ipsae conferentiae Episcopales quandoque proprio marte plus
aequo procedant. Fit etiam, ut experimenta ad arbitrium saepe habeantur et ritus inducantur, qui
normis ab Ecclesiae statutis aperte repugnant. Nemo est qui non videat hanc agendi rationem non
solum Christi fidelium conscientiam graviter offendere, sed nocere ipsi ordinatae renovationis
liturgicae executioni, quae prudentiam, vigilantiam, ac praesertim disciplinam ab omnibus postulat”
Discurso de S.S. Paulo VI na XI Plenária do Consilium, 14 de outubro de 1968.

[143] Conferência pronunciada em Roma, em 24 de outubro de 1988, na peregrinação pelo 10º


aniversário do Motu Próprio Ecclesia Dei.

[144] Cardeal Joseph Ratzinger, O Sal da Terra, Imago, pág. 140

[145] Cardeal Joseph Ratzinger, O Sal da Terra, Imago, pág. 142.

[146] Ratzinger, L’Esprit de la liturgie, p. 133, 135-136.

[147] Ratzinger, La Fiesta de la Fe, ensaio de Teologia Litúrgica, Desclée de Brouwer, pág. 84 e 85.

[148] Ratzinger, La Fiesta de la Fe pág. 114-115.

[149] Ratzinger, Rapporto sulla Fede – A Fé em crise? O cardeal Ratzinger se interroga – E.P.U.
tradução do Pe. Fernando José Guimarães CSSR, pág. 94-95.

[150] Joseph Ratzinger, LA SAL DELA TIERRA, quién es y como piensa Benedicto XVI”, Ediciones
Palabra, Madrid, 10ª edição, pág 186; no Brasil, Imago editora, pág. 140.

[151] Entrevistas à agência I. Media, em 22 de junho de 2006, e ao jornal La Croix, em 25 de junho


de 2006 (cf. tb. Artigo “Desvios na Liturgia”, de Dom Fernando Rifan, Folha da Manhã de 12/7/2006).
[152] Joseph Ratzinger, LA SAL DELA TIERRA, quién es y como piensa Benedicto XVI”, Ediciones
Palabra, Madrid, 10ª edição, pág 187; no Brasil, Imago editora, pág. 141.

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[153] Idem, ibidem.

[154] Bento XVI, carta aos Bispos que acompanha o Motu Próprio Summorum Pontificum.

[155] A maneira como o Novo Ordo, promulgado em 1969, foi aplicado provocou uma brutal ruptura
na prática litúrgica, ruptura simbolizada por algumas mudanças que modificaram profundamente a
fisionomia da celebração da Missa: mudança na posição do altar para que o padre ficasse virado
para o povo, desaparecimento total do latim e do canto gregoriano, o cânon lido em vernáculo e em
voz alta, mudanças essas não necessariamente impostas pelo Novo Ordo, mas quase que tornadas
obrigatórias na prática, com a permissão de inovações litúrgicas lamentáveis, demonstrando
infelizmente na reforma litúrgica, como ela foi concretamente aplicada, um espírito de ruptura com o
passado (Cf. Christophe Geffroy, “Benoît XVI et la Paix Liturgique”, pág. 14). Foi o que constatou o
Papa no Motu Próprio Summorum Pontificum, como citamos acima: “em muitos lugares, se
celebrava não se atendo de maneira fiel às prescrições do novo Missal, antes se consideravam
como que autorizados ou até obrigados à criatividade, o que levou frequentemente a deformações
da Liturgia no limite do suportável”.

[156] Entrevista do Cardeal Castrillón no DVD da Fraternidade São Pedro, editado na primavera de
2008 sobre a missa na forma antiga.

[157] Prefácio às Atas do Colóquio 2002, intituladas A Liturgia e o Sagrado, do CIEL, Centro
Internacional de Estudos Litúrgicos.

[158] Idem, ibidem.

[159] Cardeal Joseph Ratzinger, conferência aos Bispos chilenos, Santiago, 13/7/1988.

[160] Joseph Ratzinger, La mia vita, San Paolo, pag. 17.

[161] Cardeal Dario Castrillon, prefeito da Congregação para o Clero, na homilia durante a Missa de
São Pio V por ele celebrada em Chartres, em 4 de junho de 2001.

[162]Mensagem à Assembléia Plenária da S. Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos


Sacramentos, sobre o tema “Aprofundar a vida litúrgica entre o povo de Deus”, em 21/9/2001.

[163] Idem, ibidem, pág. 101-102.

[164] Ratzinger, L’Esprit de la liturgie, p. 153.

[165] Ratzinger, Rapporto sulla Fede – A Fé em crise? O cardeal Ratzinger se interroga – E.P.U.
tradução do Pe. Fernando José Guimarães CSSR, pág. 97 e 98.

[166] Ratzinger, La Fiesta de la Fe, ensaio de Teologia Litúrgica, Desclée de Brouwer, pág. 99-101.

[167] Conferência em Roma, pelos 10 anos do Motu Proprio, em 24/10/1998

[168] Entrevista à revista americana Latin Mass, 5 de maio de 2004.

[169] Ratzinger, Rapporto sulla Fede – A Fé em crise? O cardeal Ratzinger se interroga – E.P.U.
tradução do Pe. Fernando José Guimarães CSSR, pág. 100.
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[170] Motu próprio Summorum Pontificum, de 7/7/2007.

[171] Idem, ibidem.

[172] Idem, ibidem, pág. 112

[173] Ratzinger, La Célébration de la Foi, p. 84, 114-115.

[174] Joseph Ratzinger, Préface à «La Reforme liturgique en question », de Mgr. Klaus Gamber,
Éditions Sainte-Madeleine, 1992, pag. 8 e 6.

[175] Ratzinger, La Fiesta de la Fe, ensaio de Teologia Litúrgica, Desclée de Brouwer, pág. 110 e
117-118.

[176] Joseph Ratzinger, La mia vita, San Paolo, pág. 112.

[177] Teologia da Liturgia – Conferência do Cardeal Joseph Ratzinger nas “Journées liturgiques de
Fontgombault, 22-24 de julho de 2001, na Abadia Notre-Dame de Fontgombault, França.

[178] Constituição Apostólica Missale Romanum, de 3/4/1969.

[179] Idem, ibidem.

[180] Idem, ibidem

[181] Ratzinger, La Fiesta de la Fe, ensaio de Teologia Litúrgica, Desclée de Brouwer, pág. 83 e 101
nota 9.

[182] Ratzinger, Un Chant nouveau pour le Seigneur. La foi dans le Christ et la liturgie aujourd’hui.
Desclée-Mame, 1995, p. 49. (apud Christophe Geffroy, “Benoît XVI et la Paix Liturgique”, p. 37-38).

[183] Joseph Ratzinger, “La Eucaristía centro de la vida”, pág. 72-76, Edicep, 2005.

[184]Dom Paulo Tirot, O.S.B., monge de Solesmes, Histoire des prières d’offertoire dans la liturgie
romaine du VIIe au XVIe siècle, pág. 77-78 – Edizioni Liturgiche-Roma, 1985.

[185] Joseph Ratzinger, “La Eucaristía centro de la vida”, pág. 72-76, Edicep, 2005.

[186] Instrução Memoriale Domini, da Congregação para o Culto Divino, de 29/5/1969, Instrução
sobre a maneira de distribuir a comunhão. “Esta instrução, redigida por mandato especial do
Soberano Pontífice Paulo VI, foi aprovada por ele mesmo, em virtude de sua autoridade apostólica,
no dia 28 de maio de 1969, e ele decidiu que ela fosse levada ao conhecimento dos bispos por
intermédio dos presidentes das Conferências Episcopais. Não obstante todas as disposições
contrárias”.

[187] Idem, Ibidem: Instrução Memoriale Domini, da Congregação para o Culto Divino, de 29/5/1969,
Instrução sobre a maneira de distribuir a comunhão.

[188] Idem, Ibidem: Instrução Memoriale Domini, da Congregação para o Culto Divino, de 29/5/1969,
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Instrução sobre a maneira de distribuir a comunhão.

[189] Joseph Cardinal Ratzinger, prefácio do livro “Tournés vers le Seigneur!” de Mgr. Klaus Gamber
Éditions Sainte-Madeleine.

[190] Ratzinger, Introduzione allo spirito della liturgia, Edizioni San Paolo 2001, p. 73, 74, 76-77.

[191] Ratzinger, La Fiesta de la Fe, ensaio de Teologia Litúrgica, Desclée de Brouwer, pág. 135.

[192] Ratzinger, Rapporto sulla Fede – A Fé em crise? O cardeal Ratzinger se interroga – E.P.U.
tradução do Pe. Fernando José Guimarães CSSR, pág. 96.

[193] Ratzinger, La Fiesta de la Fe, ensaio de Teologia Litúrgica, Desclée de Brouwer, pág. 162-163.

[194] Idem, ibidem, pág. 162.

[195] Papa São Pio X, Inter Pastoralis Officii, 22/11/1903).

[196] Pio XI, Epist. ap. officiorum omnium.

[197] Papa Pio XII – Encíclica Mediator Dei, n. 53.

[198] Sagrada Congregação para o Culto Divino, prefácio do livreto Jubilate Deo.

[199] João Paulo I, Discurso ao Clero Romano.

[200] Papa Beato João XXIII – Const. Apost. Veterum Sapientia, n. 10.

[201] Papa Beato João XXIII – Const. Apost. Veterum Sapientia, n. 11, §2.

[202] Idem, ibidem, n. 8.

[203] Idem, ibidem., n. 6

[204] Constituição Sacrossanctum Concilium, n. 36 e 54.

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