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I. INTRODUÇÃO
36 R.C.P. 3/86
2.4 O sisterp.a de crédito e a moeda no Brasil
38 R.C.P. 3/86
2.5 Estrutura atual do sistema financeiro nacional
Títulos de c~ito 39
"O título de crédito, documento necessano ao exerClClO do direito literal e
autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos
da lei."
a) existe sem o documento que, embora útil e às vezes necessário como prova,
não é imprescindível para a existência do direito;
b) pode transmitir-se o documento, que pode acompanhar ou não a cessão
do direito nele mencionado;
c) pode ser exigido sem a exibição do documento, valendo a quitação dada pelo
credor como prova oponível erga omnes da extinção do direito;
d) a respectiva cessão transmite um direito derivado de acordo com a regra
clássica: nemo plus jus ad allium transferri potest quam habet. O direito do
cessionário é o mesmo do cedente, podendo o devedor alegar contra aquele
as mesmas exceções que poderia opor a este.
Ora, a cessão dos títulos de crédito faz-se por via da mera tradição, ou do
endosso; e para a validade deste é suficiente a simples assinatura do próprio
punho do endossador ou do mandatário especial, no verso da letra (art. 8.0 da
Lei n. O 2.044 de 1908), dispensando-se assim qualquer outra formalidade.
a) cartularidade
b) ~utonQmia.
c) literalidade '
Títulos de crédito 41
também chamados requisitos ordinários, aos quais se devem acrescer outros de-
nominados extraordinários, não essenciais, a saber:
d) independência
e) abstração
Como possuidor legitimado do título, o credor, como terceiro de boa fé, está
imune às exceções decorrentes da relação fundamental, entre o seu cessionário
e o devedor. Esse fato, como é evidente, dá ampla garantia ao credor de boa fé,
permitindo assim a circulação dos títulos, com ampla aceitação.
A independência não é um requisito essencial aos títulos de crédito. Dela dizia
Vivante que não é nem essencial nem co-natural aos títulos de crédito, podendo
ou não ocorrer.
O título basta-se a si mesmo, sem necessidade de outro documento para com-
pletá-lo. Enquanto, por exemplo, a letra de câmbio e a nota promissória são,
em princípio, títulos independentes, pois não se remetem a qualquer documento
para completá-las, já outros títulos dependem de documentos ou, se não depen-
dem, estão estreitamente vinculados a outros documentos, inclusive, por dispo-
sição legal.
A dependência do título pode, segundo nosso parecer, decorrer:
Todos os títulos de crédito são emitidos por alguma razão; têm por isso uma
causa, a qual, na generalidade dos casos, decorre de um negócio como compra
e venda, mútuo etc. Essa causa poderá ou não ser declarada no título. Em alguns
casos ela não é mencionada no título de crédito, tomando-o completamente
abstrato em relação ao negócio fundamental que lhe deu origem. Exemplo tí-
pico são as letras de câmbio e a nota promissória, nas quais não é necessário
mencionar-se a razão, a causa da sua emissão ou criação, não podendo, por isso
mesmo, serem opostas exceções ao credor com base nelas. Não obstante, a abs-
tração não é essencial aos títulos de crédito, contrapondo-se os chamados títu-
los causais aos títulos abstratos, estes, basicamente, a letra de câmbio e a nota
promissória.
Em nosso direito são considerados títulos abstratos a cambial (nas suas duas
variantes, a letra de câmbio e a nota promissória), em que é dispensável a enun-
ciação da causa, e como títulos causais, uma série grande, como a duplicata (que
Títulos de crédito 43
só pode ser emitida em decorrência de uma entrega efetiva de mercadorias, ou
de efetivo serviço prestado, de acordo com a Lei n.O 5.474, de 18 de julho de
1968), e outros.
A abstração, como nota a doutrina moderna, foi construída não em favor do
credor de boa fé, mas para garantir a segurança da circulação. Ela atua basica-
mente, pois, em favor do terceiro que não foi parte da relação fundamental (o
negócio que deu origem à emissão ou criação do título). Entre as partes, obvia-
mente, a causa dessa emissão ou criação do título poderá ser invocada, proces-
sualmente, por via do direito pessoal do réu contra o autor ou em decorrência
da lei que os criou.
Necessário é, a propósito, distinguir-se a causa da relação fundamental (o
negócio jurídico entre as partes, ou seja, mútuo, compra e venda, doação etc.)
da causa da emissão ou criação do título (esta chamada pela doutrina, de con-
venção executiva, ou seja, negócio distinto da relação fundamental embora de-
corrente dele, como: pagamento, garantia, crédito, declaração etc.), daí por que
o negócio abstrato se caracteriza como um negócio de segundo grau, conseqüên-
cia de um negócio causal entre as mesmas partes.
:\. legalidade ou tipicidade consiste na impossibilidade, pela lei, de se emiti-
rem títulos de crédito que não estejam previamente definidos e disciplinados
por lei. Entre nós tem-se admitido essa orientação, e o projeto do Código Civil,
ora em trâmite no Congresso Nacional, dispõe que o título de crédito somente
produz efeito quando preencha os requisitos da lei (art. 923).
Começa Vivante por indagar como se explica a posição jurídica diversa en-
tre o devedor que emite o título de crédito e o credor que lhe está à frente, e
aquele a quem este transferiu o título.
Se se considera, comenta o autor, como fundamento da obrigação (do deve-
dor versus credor originário) o contrato, não se explica como o devedor perde
a faculdade de opor ao terceiro possuidor do título os vícios que suprimem a
obrigação; se for explicado como resultante da vontade unilateral do devedor,
não se explica por que pode opor ao seu credor todas as exceções procedentes
do contrato que deu origem ao crédito ...
Não é possível, pois, estabelecer critério unitário para dar explicação a ques-
tão tão complexa. Por isso Vivante desdobra a relação jurídica em duas partes,
formulando sua teoria baseada em um duplo sentido da vontade, o que lhe va-
leu a crítica de Bonelli. Mas tomamos de Vivante as suas próprias palavras:
"Para explicar ~ posição distinta do devedor, há que penetrar nos motivos de
sua vontade, fazer a análise desta vontade, que é o fundamento da obrigação, e
reconhecer que se ele, para obter o benefício do crédito, quis dar à outra parte,
seja vendedor ou mutuante, um título apto para a circulação, quis também, não
obstante, conservar intatas contra ele as defesas que o direito comum propor-
ciona. Mas a disciplina do título deve adaptar-se a essa diferente direção da
vontade que lhe deu origem, devendo a condição de devedor regular-se confor-
me a relação jurídica total que deu origem ao título, quando se encontra ante
aquele com quem o negociou; e deve, em troca, ajustar-se à sua vontade unHa-
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teral, tal como se manifestou no título,quando se encontra frente aos subse-
qüentes portadores de boa fé."
Assim, em relação ao seu credor, o devedor do título se obriga por uma rela-
ção contratual, motivo por que contra ele mantém intatas as defesas pessoais
que o direito comum lhe assegura; em relação a terceiros, o fundamento da
obrigação está na sua forma (do emissor), que expressa sua vontade unilateral
de obrigar-se, e essa manifestação não deve defraudar as esperanças que desper-
ta em sua circulação.
Essa teoria foi saudada como definitiva para a ciência por Bolaffio Segre.
Bonelli, como já enunciamos, a contestou, considerando-a ilógica - contrária
à lógica jurídica - devido a admitir o duplo sentido da vontade. Mas Vivante,
com vantagem, contraditou, demonstrando que na sociedade comercial e na re-
presentação é comum esse duplo sentido da vontade.
a) é veículo de promessa;
b) a promessa de pagamento é abstrata; independe da relação fundamental;
c) não se trata de contrato, mas de promessa unilateral. O título para esses
autores surge de uma promessa unilateral.
TífUlos de crédito 45
porém, ao patrimônio de ninguém. Amadurece quando deixa de circular. Vi-
vante a classificou como artificiosa, e pergunta: os milhões de títulos nas Bolsas,
objeto do comércio, não existem?
Diante destas análises pequenas das teorias, duas são das mais expressivas e
dividem as preferências da legislação dos países modernos: "a teoria da criação
e a teoria da emissão."
Essa teoria tem como paladinos Siegel e Kuntze, seguidos por Brauschettinni,
Bonelli, Navarrini e outros. O direito deriva da criação do título. O subscritor
dispõe de um elemento de seu patrimônio; fez para a vida o que, por testamen-
to, faria para efeitos post mortem: dispor dos próprios bens. O título é como
o testamento: tem valor próprio, dispensa e lhe repugna o acordo de vontades.
O emissor fica ligado à sua assinatura, e obrigado para o futuro portador, cre-
dor eventual e indeterminado. Mas só com o aparecimento desse futuro deten-
tor é que nasce a obrigação. Otávio Mendes criticou essa teoria, por confundir
criação do título com nascimento da obrigação. Assim, para Kuntze, com a en-
trada em circulação do título nasce a obrigação; com a concepção do escrito
nasce, apenas, o título.
A conseqüência da teoria da criação é severa e grave. O título roubado ou
perdido, antes da emissão, mas após a criação, leva consigo a obrigação do subs-
critor.
Essa teoria foi adotada em grande parte pelo Código Civil alemão. Como
comentou Pontes de Miranda, em mãos do subscritor, o título, segundo essa teo-
ria, já é um valor patrimonial e prestes a se tomar de direito de crédito. A von-
tade do devedor já não importa para tal efeito obrigacional: o título é que o
produz... É o título que cria a dívida. A única condição que se impõe à sua
eficácia é a posse pelo primeiro portador, qualquer que seja ela.
Foi defendida por Stobbe e Windscheid. Sustenta essa teoria que do ato da
criação, isto é, da assinatura do título, não pode surgir vínculo algum, porque
a redação e subscrição não patenteiam ainda a vontade de se obrigar. Só após
o abandono voluntário da posse, seja por ato unilateral, seja por tradição, é que
nasce a obrigação do subscritor. Sem emissão voluntária não se forma o vínculo.
Se o título foi posto fraudulentamente em circulação, não subsiste a obrigação.
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daração unilateral da vontade. Por isso alinha-os sob o título Das obrigações
por declaração unilateral da vontade, ao lado do capítulo Da promessa de re-
compensa.
A esse respeito Clóvis Beviláqua comentou: "Depois de longas, eruditas e
acaloradas discussões, chegou afinal a doutrina jurídica a fixar-se na explica-
ção do mecanismo do título ao portador pela eficácia da declaração unilateral
da vontade. Somente ela explica a relação direta entre devedor e o portador
do título, fazendo-se tábula rasa de todos os precedentes possuidores, de modo
a poder-se dizer que o direito de todos os portadores é igual e simultâneo, para
significar que a obrigação da parte do emissor permanece íntegra a todo o mo-
mento, perante quem quer que apresente o documento onde ela se incorpora;
ou para exprimir que a vontade do subscritor, depois de assumir obrigação, se
conserva em passividade receptiva, à espera de quem se lhe apresente a exigir-
lhe o cumprimento da promessa; ou para dar a entender que entre o obrigado
e o primeiro detentor do título não há vínculo obrigatório pessoal, nem tam-
pouco entre eles e os sucessivos portadores. O credor é uma pessoa incerta, que
se determina pela apresentação do título."
Não é fácil, por outro lado, situar a doutrina do Código entre as teorias da
criação ou da emissão. Clóvis, ao estudar a reivindicação dos títulos ao por-
tador, revela que "fundiram-se em nosso direito doutrinas divergentes". Em
face aos diversos dispositivos legais, com efeito, ora aparece-nos a teoria da
emissão, ora da criação. Tomemos como exemplo o dispositivo no art. 1.506,
que diz que "a obrigação do emissor subsiste ainda que o título tenha entrado
em circulação contra a sua vontade". Isso é pura teoria da criação, na qual
se integra a obrigação pela simples assinatura do subscritor no título, pouco
importando que o tenha feito circular. Os autores indicam o art. 794 do Código
Civil alemão, inspirado nessa teoria, como fonte do dispositivo de nossa lei:
"O emissor de um título ao portador se acha obrigado, ainda se lhe foi roubado,
se lhe foi extraviado ou de qualquer outro modo foi posto em circulação contra
sua vontade( ... )."
Mas, se assim é, a lei civil não impede o subscritor ou portador de reavê-lo
das mãos desonestas, o que lhe faculta o art. 1.509, embora nada possa intentar
contra terceiro de boa fé, a cujas mãos veio ter o título. A possibilidade de
reaver o título, posto a circular indevidamente nos aproxima da teoria da emis-
são ...
A conclusão a tirar é que o Código não se filiou puramente a nenhuma das
duas teorias, temperando os rigores da teoria da criação com nuanças da teoria
da emissão.
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8. Título de crédito não opera novação do crédito anterior
Um dos aspectos mais curiosos do direito relativo aos títulos de crédito re-
sulta da debatida questão de se saber se, incorporado um direito de crédito ao
título, esse direito se extingue pela novação, ou se subsiste de forma latente.
Essa questão, como observam os professores franceses Hamel, Lagarde e
Jauffret, apresenta diversos interesses práticos. E assim é, de fato, pois se o
crédito originário desaparecer, isso ocorrerá por efeito da novação da dívida;
o título substituirá o crédito antigo, que desaparecerá ao mesmo tempo que
suas garantias; e mais, se o crédito antigo desaparecesse, não poderia renascer
na hipótese de o título não ser pago ou em conseqüência de decadência ou
prescrição. Esses autores invocam a jurisprudência dos tribunais franceses, que
admitem que as garantias do crédito originário passam ao portador regular e
asseguram o crédito, e, ao mesmo tempo, permitem ao credor agir em virtude
do antigo crédito quando o título sobre ele emitido desaparecer pela decadên-
cia ou prescrição. E concluem que é forçoso, então, reconhecer que o crédito
antigo não desaparece pelo fato de sua incorporação no título.
Em nosso direito estabeleceu-se séria controvérsia. Sustenta Magarinos Tor-
res que a nota promissória - título de crédito a que dedica sua obra pelo seu
caráter de título de crédito completo - desempenhe as funções de dinheiro e
paga, como este, para os efeitos jurídicos, conquanto seja na realidade um adi-
antamento. "Ela leva o dinheiro", prossegue o autor, "representado apenas no
crédito das assinaturas, de um lugar para outro, de um mesmo ou de países di-
versos; e realiza por aí a extinção de uma dívida, quer seja o preço de uma com-
pra, ou de um serviço, ou o débito de uma conta, ou um empréstimo; ao mes-
mo tempo que retarda a entrega efetiva do dinheiro." O título de crédito, em
conseqüência, opera a novação do crédito antigo, pois a novação é a conser-
vação de uma obrigação em outra, que absorve a primitiva. O título de crédito
extingue, em virtude dessa doutrina, o crédito que lhe deu causa, novando-o;,
o crédito primitivo extingue-se, mas ressurge sob a roupagem e forma de título
de crédito. Como observa Inglez de Souza, que perfilha a mesma opinião, "o
indivíduo devedor de uma conta, e que emite uma nota promissória, deixa de
dever aquela conta que se considera paga pela novação operada com a emissão
do título".
Não é essa, porém, a corrente vitoriosa em nosso direito. J. X. Carvalho de
Mendonça, por exemplo, é conclusivo quando compara a moeda corrente aos
títulos de crédito, afirmando que "os pagamentos feitos com a primeira são
imediatamente operativos e extintos de débito, enquanto que os pagamentos
realizados com os segundos não extinguem absolutamente a obrigação; a extin-
ção fica dependente do pagamento no vencimento, da execução da prometida
prestação, causa única do valor desses títulos. Por outra, tais títulos só recebem
pro solvendo e não pro soluto.
Desse lado se alinham Paulo de Lacerda, Saraiva e Arruda. Para eles, o tí-
tulo de crédito não opera novação da obrigação subjacente, que lhe deu ori-
gem. E assim, com efeito parece ser o correto. Se o título de crédito engen-
drasse novação de crédito antigo, extiguind<K>, não se poderia cogitar da ação
de locupletamento ou de enriquecimento sem causa, a que expressamente alude
o art. 48 do Decreto n.O 2.044, quando permite que "sem embargo da desone-
ração da responsabilidade cambial, o sacador ou o aceitante' fica obrigado a res-
tituir ao portador, com os juros legais, a soma com a qual se locupletou à custa
Títulos de crédito 49
deste"; nem se admitiria a oponibilidade das exceções fundadas em direito pes-
soal do devedor contra o portador, que, como se estudou, podem ser opostas
nas relações diretas entre um e outro (Decreto n.O 2.044, art. 51). A inclinação
do Supremo Tribunal Federal é considerar o pagamento feito por título de cré-
dito como pro solvendo, como vê no julgamento do Recurso Extraordinário n.O
14.065, de 1951, relatado pelo Ministro Nélson Hungria (Revista Forense,
140/175).
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2. Os títulos de crédito impropriamente ditos, nos quais, ainda que não repre-
sentem uma operação de crédito, se encontram, a par da sua literalidade e auto-
nomia, id quod quacumque causa debetur.
• nominativos
• à ordem e
• ao portador
observando que cada título nasce com a sua lei de circulação, dependente da
vontade da lei ou de seu emitente.
Titulas de crédito 51
9.2.1 Títulos ao portador
52 R.C.P. 3/86
• Decreto n Q 2.044, de '31 de dezem-
{
Cambiais • 'Letra de câmbio
bro de 1908, alterado pelo Decreto n Q
57.603, de 24 de janeiro de 1966 -.Lei
{ Uniforme de Genebra
• Nota promissória
{
• Cheque • Decreto nQ 2,591', de 7 de agosto de
1912, alterado pelo Decreto n Q 57.595,
{ de 7 de janeiro de 1966 - Lei Unifor-
me de Genebra
Penhor
{ • Warrants - Decreto nQ 1.102, de 21 de. novembro de 1903
(Continua)
(Conclusão)
·
I
Cédula de crédito industrial - Decreto-Iei nQ 413, de 9 de janeiro
Industriais de 1969
• Nota de crédito industrial
Comerciaís
! • Cédula de crédito comercial -
.
• Nota de crédito comercial
Mercadorias
Lei nQ 6.840, de 4 de novembro
de 1969
• Ações
• Certificado de depósito de ações
• Partes beneficiárias
• Certificado de depósito de
Sociedade por partes beneficiárias • Lei nQ 6.104, de 15 de de-
ações • Debêntures zembro de 1976
• Certificado de dep6sito de \
debêntures
• Cédula pignoratícia de debênture
• Bônus de subscrição de ações
1. Origem hist6rica
54 R.C.P. 3/86
1. A diversidade de moedas existentes, tanto nas repúblicas italianas como
nas várias regiões da Europa;
2. As dificuldades e os perigos para o transporte de moedas de uma região
para outra.
Neste caso a Igreja não pôde opor-se à letra de câmbio, embora proibisse
com penas severas a usura (juros exorbitantes vedados pela lei ou pela moral),
inclusive o ganho decorrente da troca de moedas na mesma praça.
Nos seus inícios, portanto, a cambial está estreitamente ligada ao contrato de
câmbio, servindo como seu instrumento.
Genericamente, câmbio significa troca, e mais especificamente, troca de di-
nheiro realizada pelos banqueiros (cambiadores, campsores).
Dois tipos de câmbio eram utilizados:
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o direito da letra de câmbio derivado tem caráter:
a) real - só quem tenha a posse legítima do título:
b) formal - sua validade depende rigorosamente de uma forma determinada;
c) autônomo - porque subsiste por si, sem ligação necessária com qualquer
outro contrato.
4. Conceito
A letra de câmbio é uma ordem de pagamento à vista ou a prazo. Sendo uma
ordem de pagamento que alguém dirige a outrem para pagar a terceiro, importa
numa relação entre pessoas que ocupam três posições no título: a de sacador,
a de sacado e a de tomador ou beneficiário da ordem.
C (tomador)
5. Requisitos comerciais
A Lei n.O 2.044, de 1908, em seu art. 1.0, diz o que a letra deve conter como
requisitos, mas o art. 2.° permite que algumas menções sejam suprimidas. Assim,
Títulos de crédito 57
os requisitos básicos, combinando as normas do Decreto n.O 2.044 com os da
Lei Uniforme de Genebra, que as letras de câmbio deve conter são seis:
Item 1. A lei enfatiza que figure a expressão letra de câmbio; assim, qualquer
pessoa, por mais despercebida que seja, verifica que se trata de um título de
crédito com rigor cambiário.
Item 2. Na letra de câmbio deve constar ou vir expresso o que e quanto deve
ser pago. O objeto da ordem é o pagamento em dinheiro, não podendo ser em
outra espécie de riqueza. Portanto, deve designar a moeda e sua quantidade
em forma clara e precisa. No caso de existir alguma divergência entre a indi-
cação numérica e a alfabética do valor a pagar, prevalece a alfabética, que é
feita por extenso. Porém se a indicação alfabética e numérica divergem, pre-
valecer a que se achar com menor quantia (art. 6.° da Lei Uniforme). A letra de
câmbio que foi sacada por devedor ou credor que resida fora do Brasil pode
determinar o pagamento em moeda nacional ou estrangeira. O art. 5.° da lei ad-
mite a cláusula de juros, porém só se limita às letras de câmbio pagáveis à vis-
ta ou a um certo tempo de vista.
Item 4. Neste caso, trata-se de indicar o nome do beneficiário. Pode ser emi-
tida à ordem do próprio sacador e, antes do reconhecimento da vigência entre
nós da Lei Uniforme de Genebra, permitia a Lei Saraiva a emissão ao portador.
Pode ser também emitida em favor de dois ou mais tomadores, caso em que
terão de agir conjuntamente. Sendo a letra de câmbio um título eminentemente
à ordem, dispensa-se, por inútil, a inserção de tal cláusula.
Item 5. O art. 4.° do Decreto n.O 2.044 estatui mandato ao portador para inse-
rir a data e o lugar do saque, na letra que não os contiver; o art. 20, § 1.° dis-
põe que será pagável à vista a letra que não indicar a época do vencimento, e
que será no lugar mencionado ao pé do nome do sacado a letra que não indicar
o lugar do pagamento. Esclarece ainda o citado § 1.° do art. 20, na sua segunda
alínea, que "é facultada a indicação alternativa de lugares de pagamento, tendo
o portador o direito de opção. A letra pode ser sacada sobre uma pessoa, para
ser paga no domicílio de outra, indicada pelo sacador ou pelo aceitante".
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Item 6. Para que se verifique efetivamente o saque, é indispensável a assi-
natura do sacador; esta deverá ser lançada abaixo do contexto, pois se enten-
de que os requisitos lançados o foram no momento da emissão, e que, portanto,
o sacador os subscreveu ou ratificou. Por ela, garante o sacador tanto o aceite
como o pagamento.
6. Falta de requisitos
Permite o art.3.0 da Lei Uniforme (2.a alínea) que a letra possa ser sacada
contra o próprio sacador. Como alude Rubens Requião (1977), "o sacador pode,
Títulos de crédito S9
vale repisar, indicar-se como sacado ou como beneficiário. No primeiro caso,
a letra de câmbio assume o efeito de nota promissória, pois o aceite por parte
do sacador o toma devedor direto do beneficiário, como ocorreria se se tivesse
obrigado por nota promissória, prometendo ao beneficiário efetuar o pagamento
em determinada época. Pode ocorrer, por outro lado, que o sacador deseja
desde logo assegurar-se de que o sacado aceitará a ordem, sem que ele, sacador,
tenha decidido a favor de quem irá expedi-la. Por isso, admite-se ao sacador
indicar-se, a ele próprio, como beneficiário, e obtendo o aceite, transmitir pos-
teoriormente a letra a favor de terceiro, por meio de endosso".
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todos os requisitos lançados ao tempo da sua etnlssao, e só eventualmente, se
houver fraude ou abuso, é que essa circunstância poderá ser relevante.
9. Capacidade cambial
1. O aceite
1.1 Noção
Títulos de crédito 61
como se sabe, foi reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal (Proc. n.O 71.154/
77) e se contém no bojo do Decreto n.O 57.633, sobre letras de câmbio e notas
promissórias. Com respeito ao aceite da duplicata (de mercadorias ou de ser-
viços), rege a Lei n.O 5.474, de 18 de julho de 1968 (com as modificações do
Decreto-lei n.O 436, de 27 de janeiro de 1969). Menção também deve ser feita
ao aceite das chamadas letras de câmbio das financeiras, previstas na Lei n.O
4.727, de 1965.
O aceite deve ser dado na própria letra. E o que dispõe o art. 25 da Lei Uni-
forme de Genebra, aliás, disposição encontrada também no Decreto n.O 2.044,
de 1908. (Art. 11: "Para a validade do aceite é suficiente a simples assinatura do
próprio punho do sacado ou do mandatário especial no anverso da letra.")
Não há, em nosso direito, aceite em ato ou papel separado que, lançado,
terá os efeitos de obrigação ordinária.
62 R.C.P. 3/86
1 . 6 Aceite por intervenção
O aceite poderá ser dado, contudo, com modificações. Para Pontes de Mi-
randa, trata-se afinal de aceite sob condição, tanto o limitado como o modifi-
cado, ambos equivalentes à recusa, pois o aceite deve ser incondicionado.
O aceite limitado é aquele em que o sacado aceita, mas por quantia menor
do que aquela indicada no título.
Neste caso há um duplo efeito: para o portador do título, esse tipo de
aceite equivale a uma recusa (art. 11 do Decreto n.O 2.044; art. 43, I e art. 51
da Lei Uniforme), sendo eficaz, porém, em relação ao credor, que poderá
exigir a soma pela qual se responsabilizou o aceitante; todavia, como equi-
vale a uma recusa, deverá o portador do título protestá-lo para assegurar o
Titulas de crédito 63
direito de regresso contra os demais coobrigados, exigindo desde logo (mesmo
antes do vencimento normal do título, pois já ocorreu o vencimento extraordi-
nário em relação à diferença da quantia aceita e da que consta do título) dos
coobrigados a importância não-aceita.
1 . 10 A irretratabilidade do aceite
1 . 12 Aceite datado
Nas letras a tempo certo de vista o aceite deve ser datado, pois é a partir
da data do aceite que se contará o prazo do vencimento (art. 25, alínea 2 da
Lei Uniforme).
64 R.C.P. 3/86
1.13 O aceite nas duplicatas
"Art. 7.° A duplicata, quando não for à vista, deverá ser devolvida pelo
comprador ao apresentante dentro do prazo de 10 (dez) dias, contado da data
de sua apresentação, devidamente assinada ou acompanhada de declaração por
escrito, contendo as razões da falta do aceite.
§ 1.° Havendo expressa concordância da instituição financeira cobradora,
o sacado poderá reter a duplicata em seu poder até a data do vencimento, desde
que comunique à apresentante o aceite e a retenção.
§ 2.° A comunicação de que trata o parágrafo anterior substituirá, quando
necessário, no ato do protesto ou na ação executiva de cobrança,a duplicata
a que se refere."
Neste caso, segundo a Lei n.O 6.458, de 1 de novembro de 1971, que ajus-
tou a cobrança das duplicatas ao sistema do C6digo de Processo Civil de 1973,
caberá ação ordinária para o credor ilidir as razões invocadas pelo devedor
para o não-aceite do título, nos casos previstos no art. 8.° (art. 16).
2. O endosso
2.1 Noção
A letra de câmbio é endossável pela sua própria natureza, ainda que não
conste essa exigência na cláusula desse título de crédito.
A8sim, o endosso é nada mais que o ato unilateral de declaração de vontade
que impõe forma escrita, ou seja, o endosso é materializado pela assinatura
da própria pessoa (art. 11 da Lei Uniforme).
O endosso não pode ser lavrado em documento à parte, pois, como é um
meio cambiá rio de transferência do título, há de constar, de ser inserido, no
documento necessário para o exercício do direito literal e autônomo nele cons-
tante. Porém, se falta espaço no verso do título, pode ser escrito numa folha
de extensão, ligada ao corpo do título (isto é admitido no direito brasileiro).
A Lei Uniforme, no art. 3.°, faz referência a isto. A folha da extensão é cha-
mada alongue ou folha de alongamento.
O endosso deve ser puro e simples; não pode ser, uma vez concedido, res-
tringido por quaisquer condições, pois a cláusula restritiva será considerada
inexistente, não-escrita. Segundo o art. 12 da Lei Uniforme, o endosso parcial
é vedado.
2 . 2 Modalidades
66 R.C.P. 3/86
No endosso em branco, o endossatário, para se assegurar contra a perda
ou roubo, pode inserir acima da assinatura do endossante o seu nome, ou da
pessoa a quem deseje transferir o título, não ficando, por isso, vinculado à
obrigação cambiária como endossante, pois nesta hipótese não apôs sua assi-
natura.
O endossante, como o sacado, está vinculado cambiariamente ao endossatário;
que pode dirigir contra ele a ação cambial. Como expressa a Lei Uniforme,
o endossante é garantia tanto da aceitação como do pagamento (art. 15).
2 . 3 Espécies
Existem várias espécies de endosso.
2 . 3 . 1 Endosso-procuração
E a inserção no endosso de cláusula que expresse a sua finalidade. Exem-
plo: por procuração, valor a cobrar, para cobrança. Transmite-se ao manda-
tário endossatário, assim investido de mandato e da posse do título, o poder
de efetuar a cobrança, dando quitação de seu valor. Assim se transfere a
posse da letra, mas não a disponibilidade de seu valor, cujo crédito pertence
ao endossante.
O endossatário mandatário pode exercer todos os direitos emergentes da
letra, mas só pode endossá-la na qualidade de procurador, de vez que ele não
tem disponibilidade do valor do crédito.
2 . 3 . 2 Endosso-caução
O art. 19 da Lei Uniforme permite o endosso com a cláusula valor em
garantia, valor em penhor, ou qualquer outra menção que implique uma cau-
ção. Nesse caso, o portador pode exercer todos os direitos emergentes da letra,
mas o endosso feito por ele vale apenas como endosso-procuração. O endosso-
caução pode ser utilizado, por exemplo, no caso em que o endossante deseje
transferir a letra de câmbio ao endossatário apenas como garantia de outra
obrigação assumida.
2. 3 . 3 Endosso fiduciário
A Lei n. 4.728, de 1965, que regula o mercado de capitais, no seu art. 66
O
diz: "seja alienação fiduciária em garantia, que se refere aos bens móveis,
quando o credor tem o domínio da coisa alienada, até a liquidação da dívida
garantida." E como a letra de câmbio é uma coisa, e se inscreve entre os bens
móveis, ela pode ser objeto de alienação fiduciária em garantia. E o endosso
pode se revestir, intrinsecamente, do aspecto de endosso fiduciário.
3. O aval
3.1 Noção
3 .2 Modalidades
4. Vencimento e pagamento
Para que ocorra o vencimento normal, é necessária, se a letra não tem ven-
cimento em data previamente fixada, a apresentação ao sacado (letra à vista
e a tempo certo de vista). A falta de apresentação ao sacado ou ao aceitante
(ou sendo feriado no primeiro dia útil imediato) acarreta a perda do direito
de regresso do portador contra o sacador, endossadores e avalistas (art. 2.°,
Decreto n.O 2.044, de 1908).
Já para que ocorra o vencimento extraordinário, é indispensável que a letra
seja levada a protesto. Se o portador da letra de câmbio quiser exigir o pa-
gamento de qualquer dos coobrigados, deverá fazer o protesto (por motivos
ou de recusa do aceite ou de falência do aceitante) provocando assim o seu
vencimento antecipado e tomando-a legível de todos os devedores.
Títulos de crédito 69
4.3 Pagamento - noção, apresentação
70 R.C.P. 3/86
5. A ação cambial
5.1 Noção
6. A prescrição
6.1 Noção
Cuida o Decreto n.O 2.044, de 1908, da prescrição, nos art:;. 52 e 53, e a Lei
Uniforme, nos arts. 70 e 71. A prescrição, na tradicional definição de Clóvis
Beviláqua, "é a perda da ação atribuída a um direito, e de toda a sua capacidade
defensiva, em conseqüência do não-uso delas durante um determinado espaço
de tempo".
A Lei Uniforme reduziu os prazos de prescrição previstos no Decreto n.O
2.044. Assim é que:
1. Ação contra aceitante: segundo o art. 7.°, 1.a alínea da Lei Uniforme, pres-
creve em três anos a contar do vencimento (o art. 52, do Decreto n.O 2.044, fi-
xava-o em cinco anos).
2. Ação do portador contra o endossante e sacador: pe!o art. 70, 2.a alínea, da
Lei Uniforme, prescreve em um ano, a contar da data do protesto ou da data do
vencimento, se contiver a cláusula sem despesas ou sem protesto.
3. Ação do endossante contra endossante ou sacador; pelo art. 70, 3.a alínea
da Lei Uniforme, prescreve em seis meses a contar do dia em que o endossante
pagar a letra ou em que ele próprio foi acionado, enquanto o art. 52 do Decre-
to n.O 2.044, previa o prazo de um ano.
v. NOTA PROMISSORIA
1. Noção
2. Requisitos essenciais
72 R.C.P. 3/86
à que estabelece o art. 5.° para a letra de câmbio. E a nota promiss6ria incom-
pleta ou em branco estará sujeita à mesma disciplina da letra em branco ou
incompleta, presumindo-se em favor do terceiro de boa fé, que a nota pro-
missória nasceu completa, isto é, com os requisitos comerciais lançados ao tempo
da emissão, admitindo-se prova em contrário no caso de má fé do portador
(art. 54, § 4.° Lei Uniforme). "Quem emite nota promissória em branco celebra
o que se costuma chamar de 'contrato de preenchimento'" (Revista dos Tribu-
nais, 270/350).
A Lei Uniforme dedica apenas quatro artigos à nota promissória (54 a 57).
É que, quanto aos institutos cambiais em geral, manda que os da letra de câm-
bio (endosso, aval, protesto, vencimento, execução etc.) sejam aplicáveis à nota
promissória. ..
A exemplo do saque da letra de câmbio, a emissão de nÇ>ta promissória está
sujeita a registro, na forma do Oecreto-Iei n.O 427/69.
3. Figuras intervenientes
4._ Vencimento
5. Prbséf~ção ~
VI. CHEQUE
1. Conceito e características
o cheque é uma ordem de pagamento à vista sobre -um banqueiro. COnfun-
dido no passado com a letra de câmbio, hoje o cheque distingue-se em razão
do sacado ser sempre uma instituição financeira; requer provisão de fundos
no momento da emissão, só podendo ser emitido à vista e .não comportando
o aceite.
J. X. Carvalho de Mendonça conceitUou como sendo "título provido de rigor
cambial na sua forma. no seu conteúdo -e na sua execUção íudicial".
Tem éonio característica principal ser por natureza pagável à vista~
Títilfos de crédito
2. Utilidade
3. Legislação
4. Natureza jurldica
74 R.C.P. 3/86
câmbio - se responsabiliza pessoalmente pelo pagamento que o sacado deixar
de efetuar.
Pouco importa que o sacado seja o Banco do Brasil ou modesta casa bancá-
ria: quem garante o pagamento do cheque é o seu emitente.
eassim, de extrema simplicidade, o mecanismo do cheque, que na prática
bancária, na doutrina e nas legislações adquiriu feição própria, que o toma in-
confundível com outros contratos - mandato, cessão de crédito, delegação,
estipulação em favor de terceiro etc. - nos quais os velhos autores costuma-
vam vislumbrar a natureza jurídica do cheque.
Como a letra de câmbio, é o cheque título formal ~ abstrato, não se refletindo
nele a causa determinante de sua emissão - pagamento, empréstimo, doação
etc. E, na emissão e no pagamento do cheque, concorrem, -permanecendo incon-
fundíveis, duas séries de relações.
tura de pessoa capaz cria obrigações para O signatário, mesmo que o cheque
contenha assinaturas de pessoas incapazes de se obrigarem por cheque, ou as-
sinaturas falsas, ou assinaturas de pessoas fictícias, ou assinaturas que, por
Títulos de crédito 75
qualquer outra razão, não poderiam obrigar as pessoas que assinaram o cheque,
ou em nome das quais ele foi assinado".
A responsabilidade pelo pagamento do cheque com assinatura falsa, em prin-
cípio, é do sacado (banqueiro), mas o Supremo Tribunal Federal vem abran-
dando esse entendimento para admitir a concorrência de culpa (Súmula n.O 28
do STF).
Consideram-se supríveis o local do pagamento e o local onde o cheque é pas-
sado. A data é requisito necessário, mas não indispensável, punindo a lei a
omissão, com pena de multa de 10% sobre o respectivo montante.
6. Cheque irregular
Bem explica Eunápio Borges (1983) sobre a diferença entre a validade e irre-
gularidade do cheque: "Não se confunda, porém, a regularidade com a validade
do cheque ou com a eficácia das obrigações de seus subscritores. Como a letra
de câmbio, a nota promissória, o cheque é um documento formal que há de
conter necessariamente todos os requisitos exigidos pela lei. A falta de qualquer
desses requisitos essenciais desnatura o cheque, ao contrário da irregularidade
de sua emissão que, podendo acarretar penalidades para os seus subscritores,
não afeta o título nas relações cambiais que dele derivam." Dispõem os arts.
2.° e 3.° da Lei Uniforme, respectivamente: "O título a que faltar qualquer dos.
requisitos enumerados no artigo. precedente não produz efeito como cheque,
salvo nos casos determinados nas alíneas seguintes etc." "O cheque é sacado
sobre um banqueiro que tenha fundos à disposição do sacador e em harmonia
com uma convenção expressa ou tácita, segundo a qual o sacador tem o direito
de dispor desses fundos por meio de cheque. A validade do título como cheque
não fica, todavia, prejudicada no caso de inobservância destas prescrições."
7. Cheque pós-datado
1. ao portador;
2. nominativo com a cláusula à ordem;
3. nominativo sem a cláusula à ordem;
4. sem cláusula à ordem.
76 RC.P. 3/86
Dispõe o art. 3.° do Decreto n.O 2.591, de 1912: "O cheque pode ser ao por-
tador, nominativo, com ou sem a cláusula à ordem. O cheque ao portador,
transfere-se pela simples tradição e é pagável a quem o apresentar. O nomina-
tivo com a cláusula à ordem é transmissível por via de endosso, que pode ser
em branco, contendo somente a assinatura do endossante. Se o cheque não in-
dicar o nome da pessoa a quem deve ser pago, considerar-se-á ao portador."
Em conclusão, tem-se, pois, que o cheque nominativo à ordem é transmissível
por endosso (em branco ou em preto); o que contiver a cláusula não à ordem
(ou equivalente) não se transfere por endosso, e se este for lançado, valerá
apenas como cessão civil.
Se no cheque for lançada a; cláusula ao portador, ou se for deixado em branco
o espaço reservado para lançar o nome do beneficiário ou tomador, tem-se o
cheque ao portador.
10. Endosso
Títulos de crédito 77
4. Endosso posterior ao protesto ou após findo o prazo de apresentação. Se-
gundo o art. 24 da Lei Uniforme, tal endosso não produz senão os efeitos de
cessão civil; mas, salvo prova em contrário, presume-se lançado antes do pro-
testo ou de expirado o prazo de apresentação.
11. Aval
o Decreto n.O 2.591, de 1912, ao dispor que é aplicável ao cheque tudo o que
for cabível às disposições do Decreto n.O 2.044, de 1908, admitiu o aval nos
cheques. A Lei Uniforme cuida do aval, especificamente nos arts. 25 a 27, re-
produzindo as normas estabelecidas na Lei Uniforme sobre cambiais (arts.
30-32).
Por seu turno, o Projeto da Lei ao Cheque, na esteira da Lei Uniforme, tam-
bém disciplina especificamente o aval, dispondo:
- com multa de 10% sobre o valor da emissão (arts. 6.° e 7.° do Decreto n.O
2.591, de 1912);
- com sansão penal (art. 171, § 2.°, VI, do Código Penal);
- e com sanções administrativas e fiscais (Circular n.O 58, de 12 de novembro
de 1965, revogada pela Circular n.O 162, de 26 de agosto de 1971, cancelamento
de conta por uso indevido do cheque, na segunda apresentação; e ainda multa
de 3% do maior salário mínimo vigente no país por cheque devolvido; Carta
Circular n.O 68, de 31 de agosto de 1972, que faz cessar o impedimento, após
seis meses de encerramento. Circular n.O 237, de 19 de novembro de 1974, sobre
cobertura pelo banco de saque a descoberto).
78 R.C.P. 3/86
março de 1967. Segundo essa circular, eventuais saldos devedores em contas
de depósitos, que perdurem sem regularização até quatro dias úteis após sua
ocorrência, estarão sujeitos à multa de 10% do respectivo montante; igual inci-
dência será derivada em cada período subseqüente de cinco dias úteis, sobre
o maior saldo devedor. A Circular n.O 237, de 19 de novembro de 1974, no fim,
regulou o assunto ao admitir a concessão, pelos bancos comerciais, de adianta-
mento ao seus depositantes, por saques a descoberto, na forma que anuncia."
13. Modalidades
"Se o portador consentir que o sacado marque o cheque para certo dia, exo-
nera todos os outros responsáveis."
Caracteriza-se assim, plenamente, a concessão pelo portador de um prazo
ao banco para que pague o cheque, o que, tratando-se de uma ordem de paga-
mento à vista, como é o cheque, acarreta a desoneração dos demais responsá-
veis, ficando apenas como responsável.
Não confundir, contudo, a marcação como aceite, o que perante a Lei Uni-
forme é inadmissível (art. 4.°).
Apesar do sacadó, na marcação, passar a ser responsável pelo pagamento,
vai diferir do aceite porque enquanto este transforma o sacado no devedor prin-
cipal do títUlo, mantém íntegra a responsabilidade dos devedores de regresso,
e
e 'a' marcação libera totalmente o eniitente demais signatários do cheque, fican-
do 'somente o sacado como único responsável pelo pagamento.
15. Cheque cruzado
o art. 12 do Decreto n.O 2.591, de 1912, dispõe: "isto é, atravessado por dois
traços paralelos só poderá ser pago a um banco, e se o cruzamento contiver o
nome de um banco, só a este poderá ser feito o pagamento."
O cheque cruzado derivou do crossed check, prática costumeira das clearing
houses, inscrevendo-se o nome dos bancos entre as linhas paralelas para per-
muta na compensação. Foi este cheque reconhecido entre nós pela Lei n.O
2 . 591, o qual apresenta duas modalidades: geral (ou em branco), apenas com
as duas linhas paralelas, podendo ser pago em qualquer banco; especial (ou em
preto), com o nome do banco inscrito entre as linhas paralelas, só pagável ao
banco mencionado.
Se entre os dois traços for escrita a frase para levar em conta, o numerário
passará de conta a conta, sendo vedado pagamento direto, nos termos do art.
39 da Lei Uniforme.
17. Protesto
18. Prescrição
80 R.C.P. 3/86
pagamento de um cheque contra os demais prescreve no prazo de seis meses,
contados do dia em que ele tenha pago o cheque ou do dia em que ele pro-
prio foi acionado." E a interrupção da prescrição s6 produz efeito em relação
à pessoa para a qual a interrupção foi feita.
1. Noção geral
Títulos de Crédito 81
VIII. CONHECIMENTO DE DEPÓSITO E WARRANT
1. Noção geral
1. Noção geral
a) o recebimento da mercadoria;
b) a obrigação de entregá-la no lugar do destino.
Re/erêncÍ1J3 bibliográficas
Borges, João Eunápio. Títulos de crédito. 2. ed., Rio de Janeiro, Forense, 1983.
8ulgarelli, Waldírio. Títulos de crédito. 3. ed. rev. e atual. São Paulo, Atlas, 1984.
Requião, Rubens. Curso de direito. 8. ed. São Paulo, Saraiva, 1977.
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