Responder essa pergunta é essencial para se entender porque as ciências humanas são ciência. As sociedades humanas são construídas através do conhecimento, seja ele em forma de lendas, de tarefas domésticas, do trabalho, da própria linguagem e forma de se comunicar. Tudo na nossa construção social, é conhecimento, nós aprendemos e apreendemos conhecimentos todos os dias, mas isso necessariamente significa ciência? A ciência tem como princípio fundamental o experimento, ou seja, para que um conhecimento seja científico é necessário que se tenham provas empíricas (ver, viver, registrar) de que algo existe. Por exemplo, é um fato científico das ciências humanas que existe um conflito de classes. Como isso é provado cientificamente? Através de levantamento de dados de greves de trabalhadores por melhores condições de trabalho, ou seja, através de uma pesquisa quantitativa, que levanta por estatísticas, averiguar um fato. Também é possível que essa luta de classes seja comprovada através de entrevistas com trabalhadores, da narrativa sobre suas vidas, suas dificuldades, o que chamamos de pesquisa qualitativa, uma metodologia que dá maior atenção a qualidade da entrevista, e não a quantidade. É possível também que se perceba esse conflito de classes através de notícias de jornais sobre greves, demissões em massa, atuação de sindicatos, ou mesmo buscando nas próprias empresas documentos sobre problemas com funcionários, etc. A isto chamamos de pesquisa bibliográfica e documental, de onde os fatos são levantados através de documentos, reportagens, livros, etc.
Qual, então, a diferença de conhecimento científico e senso
comum? O senso comum é todo o conhecimento popular, que pode ou não ser científico. Há alguns casos de senso comum que são comprovados pela ciência, como por exemplo o efeito medicinal dos chás caseiros. Mas há senso comum que não tem respaldo científico, e portanto não é um conhecimento científico, como por exemplo afirmarmos que se comermos manga e ingerirmos leite logo após, poderemos morrer. Nas ciências humanas é ainda mais difícil diferenciar senso comum de conhecimento científico, pois há um pensamento popular que apenas as ciências objetivas são ciência, além do fato de que nas Ciências Humanas os fatos podem ter diversas interpretações que variam de acordo com o modo como cada pesquisador vê o mundo. Por exemplo, é um fato histórico-científico que houve uma ditadura no Brasil, porém há divergências se esta ditadura foi unicamente militar ou se houve apoio de segmentos da sociedade civil aos militares. Por tratar das relações humanas, os cientistas desta área se veem o tempo todo lidando com subjetividades, ou seja, com diferentes formas de ver o mundo, de agir, de pensar, com a própria complexidade do que é ser humano, que se estende a todo o corpo social.
Qual o papel das Ciências Sociais nisto?
As Ciências Sociais nasceram no século XIX, em um período de intensas perturbações político-sociais em toda a Europa, em um momento de transformações não só sociais mas também culturais. Desde a Revolução Francesa, em 1789 e de sua carta dos direitos do homem e do cidadão, bem como o crescimento do pensamento burguês pelo mundo e sua ideia de igualdade e liberdade, as estruturas tradicionais encontravam-se em profundo abalo, com movimentos sociais crescendo cada vez mais e exigindo os direitos igualitários que a nova ordem ocidental tanto falava. Neste momento Augusto Comte começa a desenvolver uma nova forma de conhecimento, pela qual propunha o estudo das relações sociais através das metodologias das ciências exatas, ou seja, método de observação, que deveria fornecer conhecimento científico afim de buscar soluções para “desordem” social que prevalecia neste novo mundo. Ainda que Comte seja considerado o pai da Sociologia, não foi ele que alçou esta ao status de Ciência, já que não era possível aplicar a metodologia das ciências exatas, que estudam os fenômenos da natureza (objetivos e observáveis), ao estudo das sociedades (subjetivos e nem sempre observáveis). Os primeiros a desenvolver um método nas ciências sociais foram Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber.