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Ashura – Uma História não Contada

“As pessoas são as servas deste mundo, e a religião está somente em suas línguas. Elas a
mantêm enquanto elas encontrarem suas vidas confortáveis. Mas quando o teste vem, os
portadores da religião se tornam muito poucos”.

- Imam Hussain (as)

Uma vez que estamos nos aproximando dos dias de Ashura (os 10 primeiros dias de
Muharram) é nosso dever nos lembrarmos do martírio do Imam Hussain (as), neto do
Profeta Muhammad (s) e senhor dos jovens do Paraíso, o pilar dos crentes, que sacrificou
sua vida para que o Islam fosse preservado e pudesse chegar, sem máculas, até nós.
Louvado seja Allah (swt), Senhor do Universo!!!

A SITUAÇÃO POLÍTICA APÓS A MORTE DO PROFETA MUHAMMAD (S)

Apesar dos eventos ocorridos em Ghadir Khumm e das claras evidências fornecidas pelo
Profeta Muhammad (s) a respeito de sua sucessão, após a sua morte, aproveitando-se do
período conturbado pelo qual a Ummah passava e da ausência do Imam Ali ibn Abi Talib
(as), alguns dos companheiros do Profeta Muhammad (s) deram um golpe de Estado
forjando uma eleição entre cinco pessoas e usurpando assim os direitos de Ali (as) e Fátima
(as). Abu Bakr assumiu a posição de Califa e como o Imam Ali (as) e seus partidários se
recusaram a prestar juramento de fidelidade a Abu Bakr, teve início a perseguição à Ahlul-
Bayt e a seus partidários, culminando com o assassinato de Fátima (as) e da criança em seu
ventre (Muhsin) por Ummar ibn al-Khattab.

Após a morte de Abu Bakr, Ummar assumiu o Califado, nomeando como Governante do
Sham (a região hoje compreendida por Síria, Palestina e Líbano) Muawiyah ibn Abu
Sufian, que teve suas fronteiras expandidas pelo terceiro Califa, Uthman ibn Affan. Apesar
de estar sendo privado de seus direitos, o Imam Ali (as) permaneceu à disposição no
fornecimento de diretrizes, nas pregações, mantendo a harmonia entre o povo e a nação
islâmica, tentando dessa forma remediar a situação que se instalava sobre a sociedade.
Como conseqüência por não estar sendo governada por um Imam apontado por Allah (swt),
a sociedade começou a se degenerar e a corrupção a se espalhar. Uma série de eventos
culminou com o assassinato do terceiro Califa Uthman.

Somente então, vinte e cinco longos anos após a morte do Profeta Muhammad (s), no ano
35 H, o Imam Ali (as) tomou posse de seus direitos e assumiu o Califado, centralizando-se
na cidade de al-Kufah, no Iraque. O Imam Ali (as) impôs a justiça e puniu severamente o
suborno no governo e a fraudulência nos preceitos de Allah (swt), dizendo: “Por Allah, que
serei justo para com o oprimido e julgarei com justiça o seu opressor pela sua
insensibilidade, obrigando-o a cumprir pena, mesmo que desagrade quem quer que seja!”.
Isso não agradou sobretudo os gananciosos e corruptos e os espiritualmente fracos, que
passaram a armar todos os tipos de intrigas, instigando pessoas como Muawiyah ibn Abu
Sufian, Talha, al-Zubair e Aisha contra o Imam Ali (as). Muawiyah perseguia os
muçulmanos, incutindo em seus corações o medo e o terror, matando os inocentes,
tomando-lhes pela força as mulheres que lhe agradassem e se apropriando de seus bens e
jóias.

O governo do Imam Ali (as) durou quatro anos e nove meses, até que, na madrugada do dia
19 de Ramadhan de 40 H (661 d.C.), enquanto orava na Mesquita de Kufah, o Imam Ali
(as) foi covardemente golpeado por uma espada envenenada por Abdul Rahman ibn
Muljan, vindo a morrer dois dias depois, no dia 21 de Ramadhan.

Após a morte de seu pai, o Imam al-Hassan (as) tomou posse do Califado, que perdurou por
dez anos. Entretanto, Muawiyah começou a maquinar formas de lograr a fé das pessoas,
chegando a se utilizar do terror quando se tornava necessário, perseguindo os partidários e
simpatizantes do Imam Ali (as), principalmente os moradores de Kufah, tomando-lhes os
bens, boicotando-lhes os negócios, mandando-lhes torturar e/ou matar, insultando
declaradamente a memória do Imam Ali (as), determinando que ele fosse injuriado durante
as oratórias nos púlpitos, visando fortalecer seu governo. Como se não bastasse, Muawiyah
passou a subornar os oficiais do Imam Hassan (as) com valores exorbitantes, para causar
dissensão e para que lhe entregassem as estratégias do Imam (as), e a corromper alguns dos
amigos do Imam (as) para difamar seu prestígio e sua moral.

Diante das evidências de uma política astuciosa, e da hipocrisia que Muawiyah utilizava em
seus vis artifícios e politicagens, o Imam Hassan (as) se viu obrigado a formar um acordo
com Muawiyah, que por meio da transferência do Califado para Muawiyah, compreendia o
cumprimento dos seguintes itens:

1. Que Muawiyah procedesse de acordo com o Alcorão e a Sunnah autêntica do Profeta


Muhammad (s);

2. Que cessassem as ofensas e injúrias ao Imam Ali (as), principalmente durante as


oratórias nos púlpitos;

3. Que a segurança do povo fosse respeitada, principalmente a dos partidários do Imam Ali
(as);

4. Que ninguém senão o Imam Hassan (as) e, na ausência dele, o Imam Hussain (as) fosse
nomeado Califa após a morte de Muawiyah.

Após aceitar essas condições e firmar o acordo, Muawiyah conseguiu se apoderar do


Califado, indo posteriormente para o Iraque, onde declarou publicamente a todos os
muçulmanos a nulidade das condições estabelecidas e firmadas com o Imam al-Hassan (as),
acirrando as perseguições aos descendentes de Ahlul-Bayt e seus partidários e
simpatizantes.

Depois de várias tentativas infrutíferas de eliminar o Imam Hassan (as), Muawiyah decidiu
subornar Jaada bint al-Ashat, esposa do Imam Hassan (as), com riquezas e um vantajoso
casamento com seu filho Yazid, para que ela ministrasse veneno na comida do Imam (as),
que acabou falecendo em decorrência disso em Madina, no ano 50 H (671 d.C).

AL-HUSSAIN, SENHOR DOS MÁRTIRES

Al-Hussain (as), o segundo filho de Ali (as) e Fátima (as), nasceu no ano 4H, e após o
martírio do seu irmão mais velho, al-Hassan (as), se tornou seu sucessor. Hussain (as) foi
Imam por dez anos durante o reinado de Muawiyah, exceto os últimos seis meses, que
coincidiram com o reinado de Yazid. Imam Hussain (as) viveu sob as mais difíceis
condições de supressão e perseguição, pois as leis religiosas tinham perdido muito de seu
peso e crédito, e os decretos do corrupto governo Omíada tinham ganhado completa
autoridade e poder. Além disso, Muawiyah e seus admiradores usaram de todos os meios
possíveis para acabar com a Ahlul-Bayt do Profeta (s) e tirá-los de seu caminho. Acima de
tudo, Muawiyah queria fortalecer as bases do futuro reino de seu filho, Yazid, dominado
pelos vícios da bebida e da luxúria e que, por causa de sua falta de princípios e escrúpulos,
atraiu para si a oposição de um grande número de muçulmanos. Para subjugar toda e
qualquer oposição, Muawiyah usou dos mais severos meios até que morreu em 60H e seu
filho Yazid assumiu o seu posto.

Dar o voto de fidelidade era uma antiga prática árabe que foi mantida em importantes
práticas como o governo. Pessoas bem conhecidas davam seus votos de fidelidade como
um sinal de concordância e obediência a seus reis, mostrando a eles suporte em suas futuras
ações. Quebrar a concordância após o voto de fidelidade era considerado um crime
definitivo.

Durante seu tempo de vida, Muawiyah tinha pedido a pessoas bem conhecidas para darem
seu voto de fidelidade a Yazid, mas não impôs esse pedido sobre o Imam Hussain (as). Ele
particularmente disse a Yazid em seu último pedido que, se o Imam Hussain (as) se
recusasse a dar seu voto de fidelidade, ele deveria ter calma, porque ele sabia das más
conseqüências de forçá-lo àquilo. No entanto, por causa de seu egoísmo e precipitação,
Yazid negligenciou o conselho de seu pai, e imediatamente após assumir o poder, ordenou
ao Governador de Madina que tomasse a garantia de fidelidade do Imam Hussain (as), ou
enviasse sua cabeça para Damasco, na Síria.

Após o governador de Madina informar sua demanda para o Imam Hussain (as), ele pediu
um prazo para pensar sobre o assunto, e partiu com sua família para Makka na calada da
noite. Ele buscou refúgio no santuário de Allah (swt) em Makka, que é o lugar oficial de
refúgio do Islam. Isso aconteceu no início do mês de Shaban, 60H. O Imam Hussain (as)
ficou em Makka por aproximadamente quatro meses.

Essas notícias se espalharam pelo mundo islâmico, e muitas pessoas que estavam cansadas
das desigualdades durante o reinado de Muawiyah e ainda mais perturbadas quando Yazid
o sucedeu, se corresponderam com o Imam Hussain (as) e expressaram sua simpatia por
ele. Por outro lado, uma torrente de cartas começou a chegar, especialmente do Iraque e
particularmente da cidade de Kufa, convidando o Imam (as) a ir para lá e formar um
governo. Obviamente tal situação era perigosa para Yazid.
A estadia do Imam Hussain (as) em Makka continuou até a época da peregrinação, quando
muçulmanos de todo o mundo islâmico se dirigiam até Makka para realizar a Hajj. O Imam
(as) descobriu que alguns dos seguidores de Yazid tinham entrado em Makka como
peregrinos com a missão de matá-lo durante as cerimônias da Hajj com as armas que eles
carregavam por debaixo de suas vestes de peregrinação, profanando assim o Santuário
Sagrado.

Para resguardar o Grande Santuário de Makka, o Imam (as) decidiu partir para o Iraque
antes de completar a cerimônia da Hajj. Quando perguntaram ao Imam (as) a razão de tal
partida misteriosa, o Imam Hussain (as) disse que ele iria realizar a peregrinação
daquele ano no Deserto de Karbalah, não oferecendo o sacrifício de animais, mas o
dele próprio, sua família e amigos. Transmitindo um curto discurso para a vasta multidão
de pessoas, ele anunciou que ele estava indo para o Iraque, e disse que ele seria martirizado.
Ele pediu às pessoas para se juntarem a ele a fim de atingir a meta de oferecerem suas
vidas no caminho de Allah (swt), para preservarem o Islam.

O Imam Hussain (as) estava determinado a não dar sua fidelidade a Yazid e sabia muito
bem que seria morto. Mas aquela não era a hora de salvar a sua vida. Aquele momento era
o momento certo para regar a então desvanecida lei do Islam com seu sangue e fazê-la
novamente florescer. Algumas das pessoas que estavam fora de Makka ficaram no caminho
do Imam Hussain (as) e o avisaram do perigo do rumo que ele estava tomando. Mas ele
respondeu que ele se recusava a jurar fidelidade e a dar sua aprovação a um governo
de injustiça e tirania. E acrescentou que, para onde quer que ele fosse, seria morto e que
então ele deixaria Makka para preservar o respeito pela Casa de Allah (swt), ao invés de
deixar esse respeito ser destruído pelo derramamento de seu sangue.

Yazid ordenou ao Governador do Iraque, Ubaidallah ibn Zyad, a tomar providências mais
drásticas contra o povo de Kufah, caso houvesse qualquer oposição ao seu arbítrio,
executando todo aquele que tentasse fazer Imam Hussain (as) triunfar, e a preparar um
poderoso exército comandado por Ummar ibn Saad para investir contra o Imam (as), caso
ele se recusasse novamente a apoiá-lo.

Quando estava a caminho de Kufah, ele recebeu as estarrecedoras notícias de que, sob a
pressão dos agentes de Yazid, o povo de Kufah não havia suportado seus representantes e
tinha voltado atrás em suas promessas, algumas pessoas tendo se juntado ao exército de
Yazid para matar os representantes do Imam (as) em Kufah. Os pés daqueles mártires
foram amarrados e eles foram arrastados pelas ruas de Kufah. A cidade de Kufah e seus
arredores estavam sob lei marcial muito estrita, por incontáveis soldados do inimigo que
estavam esperando para enfrentar o Imam (as). Não havia escapatória para o Imam (as), a
não ser marchar em frente e enfrentar a morte.

No dia 1º de Muharram, há aproximadamente 44 milhas de Kufah, em um deserto chamado


Karbalah às margens do Rio Eufrates, Imam Hussain (as) e seus seguidores foram cercados
pelo exército de Yazid. O Imam (as) tentou por várias vezes dialogar com os adversários,
alertando-os de sua posição e parentesco com a filha do Profeta Muhammad (s),
questionando-os acerca dos motivos que os levaram a combatê-lo e tentar assassiná-lo junto
com os seus. Eles cortaram o fornecimento de água para a Descendência do Profeta
Muhammad (s), seus companheiros e familiares, dentre os quais havia mulheres e crianças.
Por oito dias, eles ficaram naquele lugar sob o calor do Sol, o cerco ao redor deles se
estreitando e o número do exército inimigo aumentando para um número de 30.000
soldados bem equipados.

Na noite seguinte, o Imam (as) juntou seus companheiros e fez um breve discurso dizendo
que não havia nada adiante senão o martírio. E acrescentou que uma vez que o inimigo se
importava somente com sua pessoa, ele os liberava de todas as obrigações em relação a ele,
para que quem assim desejasse pudesse escapar na escuridão da noite e salvar sua vida.
Então, ele ordenou que as luzes fossem apagadas, e a maioria de seus companheiros, que
tinham se juntado a ele por vantagens pessoais, dispersou. Somente aqueles cujos corações
eram testados por Allah (swt) permaneceram, totalizando cerca de 40 companheiros, sendo
alguns do Bani Hashim (seus parentes).

Uma vez mais, o Imam (as) reuniu aqueles que permaneceram para colocá-los em teste. Ele
dirigiu a seus companheiros e parentes Hashimitas, repetindo que o inimigo somente se
importava com ele e que eles podiam escapar do perigo nas trevas da noite. Mas daquela
vez os fiéis companheiros responderam, cada um da sua forma, que eles não se desviariam
da Senda da Retidão e que nunca o deixariam sozinho. Eles disseram que eles defenderiam
a Ahlul-Bayt do Profeta Muhammad (s) até a última gota de seu sangue, enquanto eles
pudessem segurar uma espada.

O inimigo tencionava começar a guerra ao anoitecer do nono dia de Muharram, mas o


Imam (as) pediu um prazo até a manhã seguinte, para que pudesse passar a noite toda em
adoração pela última vez. Durante a noite, cerca de 30 soldados do inimigo se juntaram a
ele, dentre os quais Hurr, que era um dos generais do exército inimigo. Eles finalmente
haviam feito suas escolhas de estar com o Imam (as), e o Imam (as) aceitou seu
arrependimento. Dessa forma, o número de seus seguidores se aproximou dos 90,
consistindo de 72 companheiros e 18 membros homens de sua família e parentes, enquanto
o inimigo então alcançava o número de mais de 45.000 soldados.

No décimo dia de Muharram do ano de 61H (680 d.C.) a inevitável guerra começou.
Naquele dia, eles lutaram desde o amanhecer até seu último suspiro, e todos os
companheiros e parentes foram martirizados. Entre aqueles que foram mortos estavam dois
filhos do Imam Hassan (as), de somente treze e onze anos de idade, e um filho de cinco
anos do Imam Hussain (as).

Quando o próprio Imam (as) estava pronto para lutar, ele viu que seu bebê de seis meses de
idade estava morrendo de sede. O Imam (as) levou seu filho para perto do inimigo, pedindo
um pouco de água para o bebê, dizendo: “Vocês querem a mim, mas não a este bebê, então
levem-no e dêem a ele um pouco de água!”. O Imam (as) ainda não tinha finalizado suas
palavras quando o inimigo lançou uma flecha envenenada que decapitou a cabeça do bebê e
a fixou no braço do Imam (as). O Imam (as) lançou um pouco do sangue dele para o céu,
dizendo: “Oh Senhor! Seu Hussain tem Te oferecido qualquer coisa que tens dado a ele.
Abençoe-me pois pela aceitação deste sacrifício”. Finalmente, o Imam foi para o campo de
batalha e lutou por um longo tempo, até que foi martirizado. Tendo matado o Imam (as), o
exército inimigo cortou sua cabeça e a ergueu em uma lança.
O exército do inimigo, após terminar a guerra, queimou as tendas das mulheres e crianças
que acompanhavam o Imam (as) e seus companheiros (ra) e saquearam aquelas pobres
mulheres (ra). Eles decapitaram os corpos dos mártires, os desnudaram e os jogaram ao
chão sem qualquer enterro. Então, eles levaram as mulheres e as crianças acorrentadas, e os
poucos homens que havia dentre os prisioneiros, entre os quais o futuro Imam Ali ibn
Hussain (as) - que escapou do massacre por se encontrar doente e incapacitado de lutar no
dia da batalha – juntamente com as cabeças dos mártires, para Kufah, onde desfilaram com
os prisioneiros pelas ruas até o palácio do Governador, Ubaidallah ibn Zyad. Os corpos dos
mártires ficaram sob o sol por três dias, até que o Imam Ali ibn Hussain (as), por um
milagre, juntamente com um grupo de homens dos Bani Assad, que viviam perto de
Karbalah trataram do sepultamento do Imam Hussain (as) e dos outros mártires (ra) naquela
mesma localidade sagrada, reservando um lugar especial para as sepulturas de seu pai al-
Hussain e de seu tio al-Abbas ibn Ali ibn Abu Talib.

De Kufah os prisioneiros foram levados de cidade em cidade até Damasco, na Síria, para o
palácio do tirano Yazid ibn Muwaiyah. Yazid pediu para que colocassem a cabeça do Imam
Hussain (as) em uma bandeja de ouro diante dele, e começou a cutucar com uma vara a
boca e os dentes da cabeça decapitada. Sem o mínimo de respeito, todo ufano e exaltado de
alegria, tal como se procedia no tempo do pré-Islamismo, aspirando que seus ancestrais
pagãos pudessem presenciar o que estava acontecendo com a descendência do Mensageiro
(s) de Allah (swt), dizia: “Este dia é pelo dia de Badr!”, aludindo a uma vingança em favor
dos seus ancestrais idólatras que pereceram pela espada do Islam na Batalha de Badr (2H /
624 d.C.).

O PAPEL DA MULHER NA REVOLUÇÃO DO IMAM HUSSAIN (AS)

Além de terem bravamente enfrentado os acontecimentos do massacre de Karbalah e se


oposto à opressão, as mulheres que acompanharam o Imam Hussain (as) tiveram um papel
fundamental em propagar e desmascarar o crime hediondo praticado pelos Omíadas contra
o neto do Mensageiro de Allah (s), fazendo com que o povo lamentasse e chorasse tão
preciosa perda. Zaynab (as) e Umm Qulthum (as), filhas do Imam Ali e de Fátima (as) e o
Imam Ali ibn al-Hussain (as) se destacaram nessa justa divulgação, mantendo viva a
lembrança do Imam Hussain (as).

Zaynab (as) teve posição corajosamente confirmada na cidade de al-Kufah, quando


enfrentou com altivez e dignidade o Governador do Iraque, Ubaidallah ibn Zyad, que a
questionou sarcasticamente: “O que me dizes do feito de Allah sobre o teu irmão e o
infortúnio que recaiu sobre a cabeça dos teus?”. Ativa e firme, ela lhe respondeu: “Só vejo
coisas lindas do que ocorreu àqueles homens e lhes foi prescrito serem mártires, pois
eles se revelaram e confirmaram suas raízes! Oh filho de Morgana, virá o Dia em que
Allah nos reunirá com eles e vos pedirá prestação de contas, e então sentirás na própria
alma qual de nós ficará paralisado e despojado da ternura da própria mãe, oh filho de
Morgana!” – pronunciando o nome da sua mãe com desprezo, pois o pai dele, Zyad, era
filho de uma serva de idólatras de Taif chamada Sumaya, e quando Zyad cresceu,
Muawiyah o declarou ser seu irmão, nomeando-o depois Governador do Iraque e casando-o
com uma escrava adoradora do Sol chamada Morgana, que dele concebeu um filho que foi
chamado Ubaidallah.

Entretanto, foi quando se defrontou com Yazid ibn Muawiyah que, diante de todos, Zaynab
(as) se revelou com maior energia e vigor, surpreendendo-o, pois o tirano usurpador do
poder imaginava deparar-se com uma mulher frágil, totalmente arrasada por ter sido
despojada de seus três filhos e dos entes queridos, todos barbaramente massacrados no
campo de batalha de Karbalah. Zaynab (as), pela coragem e pela justiça, tal como seu pai,
em seu longo discurso, lançou a Yazid todo o seu desprezo, diminuindo-o e o ameaçando
ao dizer: “... e por Allah, oh Yazid! Tu na verdade cortaste a própria pele e feriste a
própria carne, e terás que responder ao Mensageiro de Allah com coerência tudo o que
praticaste ao derramar o sangue da descendência dele e profanar a moral das mulheres
de sua casa e de sua prole, que é sangue de seu sangue e carne de sua carne e,
certamente, Allah os reunirá e fará justiça com eles... Apesar de passar por mim o
destino, eis que me encontro diante de ti, para que eu possa te minimizar na condição de
tua categoria posicional e proclamar diante do mundo a tua infâmia e aumentar a tua
desmoralização, porém, naturalmente, com os olhos mergulhados na tristeza e com o
peito vazio por pretenderdes tomar-nos por ovelhas. É deveras de se surpreender
preterirdes e dizimardes o Partido de Allah, favorecendo o ímpio partido de Shaitan! E
estas tuas mãos estão pingando com o nosso sangue, e as bocas devorando nossa carne
por tomar-nos como ovelhas e isto, podes crer, vos custará pesado tributo, quando
somente encontrarás aquilo que as tuas mãos ofereceram e vagarás em densas trevas e,
por mais que te empenhardes em tua astúcia e te impugnardes com todo o teu poder,
jamais conseguirás apagar a nossa memória e os atos vergonhosos que praticastes
contra nós. Pensas que escaparás do Julgamento do Convocador no dia de tua morte?
Sim, Ele te convocará! Saibas, oh criatura vil, que a maldição recai sobre os tiranos e
opressores!”.

MILAGRES OCORRIDOS ONDE A SANTIFICADA CABEÇA PASSOU

Muitos fatos ocorreram, alusivos à magnificente nobreza da cabeça decapitada do Imam


Hussain (as) durante o trajeto de Karbalah para al-Kufah e depois para Damasco, dentre os
quais alguns são relatados a seguir.

Quando exibiram a cabeça do Imam Hussain (as) diante de Ubaidallah ibn Zyad,
Governador de al-Kufah, no Palácio do Governo, ele, com olhar cheio de sadismo e
satisfação, não tirava os olhos da cabeça santificada. De repente, começou a escorrer
sangue pelas paredes e a saírem labaredas de fogo dos cantos do Palácio, como se
quisessem alcançar Ubaidallah ibn Zyad que, apavorado, tentava inutilmente fugir dali,
paralisado pelo terror. Tanto ele quanto os presentes ouviram a cabeça falar-lhes em voz
alta: “Para onde foges? Jamais escaparás nesta vida, pois estás presenciando vossa
morada na Eternidade!”. A cabeça só se calou quando o fogo se extinguiu.

Zayd ibn Arqam certa vez falou: “Eu ouvi a cabeça de al-Hussain recitar versículos do
Sagrado Alcorão em Kufah, extraídos da Suarata al-Kahf: “Acaso pensaste que os
ocupantes da Caverna e da Inscrição foram algo assombroso dentre Nossos Versículos?”
(18:9). E prosseguindo com sua narrativa, Zayd falou impressionado: “Nisso, senti todo o
meu corpo se arrepiar e, surpreso, exclamei: ‘Por Allah, oh filho do Mensageiro de Allah,
que a vossa cabeça é muito mais assombrosa!’ E não só isso! A cabeça continuou
recitando outros versículos do Alcorão, tais como: ‘Eram jovens que creram em seu
Senhor e Nós os iluminamos... a aos injustos lançaremos à destruição’ (18:13)... Depois
disso, penduraram a cabeça sagrada em praça pública, em al-Kufah mesmo, o povo
curioso foi se aglomerando ao seu redor, e todos viram sair dela uma luz brilhante e a
ouviram recitar as Palavras do Supremo: ‘E os injustos saberão em qual metamorfose se
transformarão!’”. Muitos outros versículos também foram pronunciados pela cabeça
sagrada.

Durante o trajeto para Damasco, em certo lugarejo, levantaram a cabeça decapitada do


Imam Hussain (as) perto da ermida de um monge, onde os algozes pousaram naquela noite.

Horas mais tarde, o monge começou a ouvir uma voz enaltecendo a glória de Allah
(tasbih), celebrando em aleluia (Tahlil). Ao sair para averiguar de onde vinha o cântico, viu
que a cabeça purificada estava plena de luz e a voz saudando: “A Paz esteja convosco, oh
Abi Abdullah!”. O monge desconhecia os fatos do hediondo crime e, pela manhã, foi se
informar com as pessoas, que lhe contaram que se tratava da cabeça de al-Hussain ibn Ali
(as), filho de Fátima (as), a filha do Profeta Muhammad (s). Pasmado, exclamou: “Oh, que
fatalidade, senhores! Eis que se confirmaram os noticiários e, por ter sido assassinado, os
céus lançarão chuvas de sangue!”. Pouco depois, o monge foi ter com a sentinela e pediu-
lhes permissão para beijar a honrada cabeça, o que lhe negaram, só permitindo depois que o
monge lhes ofereceu certa quantia de dinheiro.

Quando o grupo partiu com os prisioneiros verificaram o dinheiro que o monge lhes pagou,
notando que nas moedas estava escrito: “Os injustos saberão em qual metamorfose se
transformarão!”.

Depois disso, Yazid ordenou que a cabeça sagrada fosse retirada dali e pendurada no portão
do Palácio. Mas quando Hind bint Ummar ibn Suhayl, uma das esposas de Yazid, viu a
cabeça de al-Hussain (as) pendurada no portão de sua casa e uma luz saindo dela, o sangue
ainda gotejante e não coagulado, exalando um aroma agradável, não mais se conteve e,
revoltada, entrou na sala de audiência sem o hijab, gritando e chorando: “A cabeça do neto
do Mensageiro de Allah está pendurada no portão de nossa casa, oh Yazid!”. A partir de
então, aquela mulher passou a desprezar Yazid ibn Muwaiyah por seus crimes e atos vis.

O SUPLÍCIO DO ASSASSINO DO IMAM HUSSAIN (AS)

Em várias tradições se mencionou o sofrimento do assassino do neto do Mensageiro de


Allah (s) e sua gente, dentre as quais citamos algumas:

- De acordo com o relato do Imam al-Ridha (as), o Mensageiro de Allah profetizou o


seguinte:

“O Assassino de Hussain ibn Ali sofrerá no fogo a metade reunida dos sofrimentos de
todos os pecadores do mundo inteiro, e suas mãos e pés serão atados em correntes
queimando em brasas e os condenados ao fogo do Inferno sentirão repulsa e asco dele, por
causa de sua própria fedentina, e ele permanecerá lá eternamente, provando o sofrimento
mais cruel juntamente com todos os seus cúmplices e, toda vez que se desfizer suas peles,
sentirão os golpes do açoite que os fulminará até experimentarem o pior dos suplícios,
padecendo assim eternamente, pois ai deles nos martírios do Fogo Infernal!”.

Em outro relato sobre o Imam Hussain (as), o Mensageiro de Allah (as) vaticinou: “Há um
grau no Fogo que ninguém merece, senão os assassinos de Hussain ibn Ali e de Yahia ibn
Zakariah (João Batista, as)”.

CONSEQÜÊNCIAS DE ASHURA

O evento de Karbalah foi o maior fator na derrubada da Dinastia Omíada, embora seu efeito
tenha sido atrasado. Entre seus efeitos imediatos estiveram revoltas e rebeliões, combinadas
com guerras sangrentas que continuaram por doze anos. Durante aquelas desordens civis
nenhum dos participantes do massacre de Karbalah conseguiu escapar da vingança e
punição, nem mesmo Yazid.

A Ahlul-Bayt (as) é como a Arca do Profeta Nuh (as), e quem está com ela, está a salvo. O
Imam Hussain (as), tal como um salva-vidas estende a mão para um náufrago se afogando,
estendeu a mão para a Nação Islâmica, para que ela pudesse sair das trevas para a Luz e a
Verdade brilhar como a gloriosa luz da manhã, preservando assim o Verdadeiro Islam e
mantendo-o a salvo das distorções que surgiram ao longo do tempo. Com um exemplo de
resistência à tirania, nos mostrou que devemos lutar até o fim de nossas vidas pela Verdade,
ainda que estejamos em minoria e a ameaça às nossas vidas seja eminente.

POR QUE CHORAR PELO IMAM HUSSAIN (AS) DURANTE ASHURA?

1- Todos os Mensageiros (as) de Allah (swt) choraram por ele;

2- Todos os Imams da Ahlul-Bayt (as) choraram por ele;

3- Nós o amamos mais do que amamos nossos pais e nossos queridos;

4- Ele é um símbolo de resistência contra a tirania e o líder dos mártires para nós;

5- Nós queremos jurar fidelidade a ele e a seu caminho e nos mantermos distantes de seus
inimigos;

6- Suas metas ainda não foram totalmente atingidas e seu sangue ainda não foi vingado.
Assim, nós mantemos esse evento com toda a sua emoção vivo até a hora em que o Imam
Mahdi (as) retornar, livrando a superfície da Terra de toda espécie de tiranos;

7- Por condolência ao Profeta Muhammad (s) e aos membros da Ahlul-Bayt (as);

8- Por seguir as instruções da Ahlul-Bayt em relembrar esse evento e buscar a recompensa


associada a isso.
E há muitas mais razoes que você encontrará se folhear os livros sobre o tema à sua
disposição e estudar alguma literatura Shiita referente ao Imam Hussain (as).

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