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O livro explora o que o autor denomina uma “epistemologia do saber docente”, ou seja,
as noções que perpassam a natureza daquilo o que um professor sabe. O que é esse
saber? Como ele é adquirido? De onde ele advém? São estas as questões fundamentais
que guiará o percurso do livro.
Fica evidente ao longo da leitura que se trata de uma coletânea de ensaios, mais do que
uma obra escrita organicamente. Não por falta de coerência; pelo contrário, vê-se
claramente a especialização do autor em torno do tema tratado. Porém, por isso mesmo,
o texto se torna por vezes repetitivo, quando retorna a pressupostos da concepção
central de Tardif sobre a questão do saber docente como se deles já não se houvesse
falado. Há ganhos e perdas nesse sentido: por um lado, acredito ser possível ler os
capítulos de maneira isolada sem maiores prejuízos; por outro, as repetições tendem a
cansar.
Nesse sentido, acredito que a leitura da introdução e do primeiro capítulo são as mais
importantes para se familiarizar com a obra. Gosto também do oitavo capítulo, que traz
uma reflexão sobre as reformas que ocorrem há décadas no ensino canadense e norte-
americano, no que diz respeito à formação docente. De certa maneira, fornece pistas do
que o autor considera como sendo um programa interessante para a preparação
profissional de um professor.
A primeira noção central da obra de Tardif é a de que os saberes docentes – aquilo o que
um professor sabe e que lhe é exigido no exercício da profissão – são plurais,
heterogêneos e construídos no tempo e socialmente. Não é um saber individual,
tampouco impessoal: na verdade, trata-se de um saber altamente pessoal, mas de
pessoas imersas em um contexto social. A segunda ideia que me parece importante na
leitura da obra é a importância, na opinião dos próprios professores, dos saberes
adquiridos, forjados e aplicados na prática docente – chamado pelo autor de saberes
experienciais.
Sobre estes saberes, o que me chamou atenção ao longo da leitura foi a ideia de que os
experienciais são os mais valorizados pelos próprios professores e, por isso, têm espaço
privilegiado na discussão empreendida por Tardif. Nas pesquisas do autor, demonstra-
se que os conteúdos tratados nas faculdades (em especial nos cursos de Educação e
Pedagogia) não fornecem tanto suporte à prática docente quanto os saberes adquiridos,
testados e consolidados no próprio exercício da profissão. Duas consequências
importantes são: torna-se necessário melhor valorizar o saber específico dos
professores, cujo dia a dia constitui o principal campo de reflexão e geração de
conhecimento sobre o que é ser professor; é imprescindível que se repense os modelos
atuais de formação de professores, centrados muitas vezes em saberes que não
contribuem de maneira efetiva para a prática docente.