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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO

FACULDADE DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO DE PERNAMBUCO


MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL
SUSTENTÁVEL

MARIA HELENA CAVALCANTI DA SILVA

ANÁLISE DA ATIVIDADE TURÍSTICA EM SERRA NEGRA


(BEZERROS, PERNAMBUCO) À LUZ DO DESENVOLVIMENTO
LOCAL SUSTENTÁVEL

RECIFE/PE
2010
MARIA HELENA CAVALCANTI DA SILVA

ANÁLISE DA ATIVIDADE TURÍSTICA EM SERRA NEGRA


(BEZERROS, PERNAMBUCO) À LUZ DO DESENVOLVIMENTO
LOCAL SUSTENTÁVEL

Dissertação apresentada como requisito parcial à


obtenção do grau de Mestre em Gestão do
Desenvolvimento Local Sustentável do Programa
de Pós Graduação em Gestão do
Desenvolvimento Local Sustentável – GDLS, da
Universidade de Pernambuco, tendo como
orientador o professor Dr. Fábio José de Araújo
Pedrosa.

RECIFE/PE
2010
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Biblioteca Leucio Lemos
Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco – FCAP/UPE

S586a Silva, Maria Helena Cavalcanti da.


Análise da atividade turística em Serra Negra (Bezerros,
Pernambuco) à luz do desenvolvimento local sustentável. / Maria
Helena Cavalcanti da Silva; orientador: Fábio José de Araújo
Pedrosa. – Recife, 2010.

144 f.: il., tab.

Dissertação (Mestrado Profissional em Gestão do


Desenvolvimento Local Sustentável) - Universidade de Pernambuco,
Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco, Recife,
2010.

1. TURISMO. 2. SUSTENTABILIDADE. 3. SERRA NEGRA. 4.


DESENVOLVIMENTO LOCAL. I. Pedrosa, Fábio José Araújo
(orient.) II Título.

CDU 504.06
Fabiana Belo CRB-4/1463
TERMO DE APROVAÇÃO
Maria Helena Cavalcanti da Silva

ANÁLISE DA ATIVIDADE TURÍSTICA EM SERRA NEGRA


(BEZERROS, PERNAMBUCO) À LUZ DO
DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL

Dissertação apresentada à Faculdade de


Ciências da Administração da
Universidade de Pernambuco como
requisito parcial para a obtenção do grau
de Mestre em Gestão do
Desenvolvimento Local Sustentável

Data da defesa: 16/11/2010 Resultado: APROVADA.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________________
Profa. Dra Carla Borba da Mota Silveira (Examinadora Externa)
Universidade Federal de Pernambuco - UFPE.

_______________________________________________________________
Prof. Dra. Andrea Karla Pereira da Silva (Examinadora Interna)
Universidade de Pernambuco - UPE.

______________________________________________________________
Profa. Dr. Múcio Luiz Banja Fernandes (Examinador Interno)
Universidade de Pernambuco - UPE.

ORIENTADOR
_____________________________________________________________
Prof. Dr. Fábio José de Araújo Pedrosa
Universidade de Pernambuco – UPE.
Para Ana Rosa Cavalcanti: irmã, mestra e amiga.
AGRADECIMENTOS

À minha mãe Ivanice Moraes Cavalcanti por incondicional doação à mim e minha
irmã Ana Rosa em todos os momentos de nossas vidas;
Ao Julio Cézar Borba pelos oito anos de amor, companheirismo e dedicação;
À Isabella Cavalcanti (Bellinha): minha inseparável amiga;
Ao meu orientador professor Fábio Pedrosa que me acolheu no momento em que
tanto precisei de apoio no Mestrado. Agradeço imensamente por sua paciência!
Aos meus queridos companheiros de trabalho da Secretaria de Ciência, Tecnologia
e Meio Ambiente de Pernambuco em especial à Arine Lyra, gestora que me
concedeu a oportunidade de estar presente nas aulas. Sua garra é contagiante e
agradeço imensamente por tudo que fez por mim;
À Adriana Higino, Ana Claudia Gouveia, Laís Mira, Mauro de Pinho Vieira e Jannine
Moreno pela amizade sincera;
Aos colegas de trabalho da Secretaria de Educação de Pernambuco por todo
carinho e paciência;
Aos amigos inseparáveis Mônica Bezerra, Itamugi Marques e Maria Marques: luz em
minha caminhada;
À ilustríssima sra. Célia Ximenes, mais que secretária do mestrado, uma importante
pessoa nesta caminhada;
Aos professores Carla Borba, Múcio Banja e Andrea Karla Pereira pelas valiosas
contribuições dadas em minha banca de qualificação;
Ao professor Sergio Dantas por toda atenção à minha pessoa;
À Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Cultura e Turismo de Bezerros, em
especial, a sra.Valquiria Lizandra de Lima que tanto contribuiu na construção desta
dissertação;
À comunidade de Serra Negra, notadamente aos participantes das entrevistas
realizadas, deixo registrado meu muito obrigada;
Aos meus alunos da Universidade Federal de Pernambuco dos cursos de Turismo e
Hotelaria das turmas: Metodologia do Trabalho Científico 2010.1 Planejamento e
Organização do Turismo 2 - 2010.1 e 2010.2, Metodologia da Pesquisa Aplicada ao
Turismo - 2010.1, Planejamento e Organização do Turismo 1 - 2010.2, Relações
Públicas 2010.2. Minhas inspirações!
Não existe nada permanente a não ser a mudança
Heráclito (540 a.C.- 470 a.C)
RESUMO

SILVA, M.H.C. da. Análise da atividade turística em Serra Negra ( Bezerros,


Pernambuco) à luz do desenvolvimento local sustentável. 2010. 144 f.
Dissertação (Mestrado em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável) –
Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco, Universidade de
Pernambuco, Recife, 2010.

Com a expansão da atividade turística, a busca por destinos não habituais passa a
fazer parte da rota dos viajantes e assim novos locais começam a atrair a atenção
do turista. É nesse contexto que o destino Serra Negra, distrito do município de
Bezerros (Pernambuco), começa a ser vislumbrado enquanto local de turismo
alternativo. Distante 10 quilômetros da sede de Bezerros, Serra Negra atrai
visitantes de diversas localidades que buscam em suas terras descanso e lazer. À
disposição destes está um clima ameno com temperaturas variando entre 9° e 25°
C, trilhas, cavernas, grutas e mirantes. Com tantos recursos de ordem natural, o
aumento gradativo de turistas, visitantes e consequentemente a organização e
realização de eventos de diferentes portes, começam a gerar problemas de ordem
estrutural que, se não forem bem administrados, poderão fadar o destino ao
insucesso. Assim, destacam-se as ações do Turismo de base local como forma de
trabalhar na própria comunidade, a articulação no processo de planejamento,
desenvolvimento e controle da atividade turística consonante com o poder público.
Destarte, o encaminhamento da atividade em questão adotando os princípios da
sustentabilidade local, são ações de relevância e oportunidades ao fazer turismo. A
partir de um estudo exploratório com a adoção do procedimento técnico estudo de
caso, teve a coleta de dados realizada in loco entre abril e setembro de 2010.
Baseando-se nos pilares da sustentabilidade, o documento ora apresentado propõe
expor uma diagnose do turismo realizado em Serra Negra em contraponto a um
modelo de atividade focado na localidade vista como única no que oferece e como
oferece. Assim, apontam-se meios para um melhor direcionamento das ações
turísticas com vistas a maximizar todo potencial intrínseco de Serra Negra,
sobretudo com a valorização de práticas sustentáveis pautadas na realidade local.

Palavras-chave: turismo. sustentabilidade.Serra Negra. desenvolvimento local.


ABSTRACT

With the expansion of tourism, the search for unusual destinations becomes part of
the route of travelers. Thus, new sites are beginning to attract the attention of
tourists. In this context, the route of Serra Negra, a district of Bezerros, in the
countryside of (Pernambuco), begins to be considered as a place for alternative
tourism. 10 km far from Bezerros, Serra Negra attracts visitors from several different
places, looking for rest and relaxation on its lands. At the disposal of these is a mild
weather with temperatures ranging between 9 ° and 25 ° c, trails, caves, caverns and
overlooks. With so many natural features, the gradual increase of tourists, visitors
and consequently the organization and holding of events of various different sizes,
begins to generate structural problems which, if not properly managed, may lead to
undesirable results. Thus, there are the actions of locally-based tourism as a way to
work in the community, the articulation in the planning process, development and
control of tourism in partnership with the government. This way, the routing of the
activity in question by adopting the principles of local sustainability, are actions of
relevance and opportunities for making tourism happen.From an exploratory study of
the technical procedure with the adoption of a case study, there was a data collection
performed in situ between April and September of 2010. Based on the pillars of
sustainability, the present document proposes to show a diagnosis of tourism held in
Serra Negra, in contrast to a model focused on the location of the activity seen as
unique in what it offers and in the way it is offered. Thus, ways for better targeting of
tourist activities in order to maximize the full potential inherent to Serra Negra,
especially with the appreciation of sustainable practices guided by the local reality
are pointed out.

Keywords: tourism. sustainability. Serra Negra. local development.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 01: Modelo Interdisciplinar de Jafari 19


Figura 02: Localização de Bezerros, Pernambuco 21
Figura 03: Gestão descentralizada do Ministério do Turismo brasileiro 57
Figura 04: Macroprogramas do Plano Nacional de Turismo 2007/2010 61
Figura 05: Vista do município de Bezerros (Pernambuco) 69
Figura 06: Mapa - vias de acesso a Bezerros 70
Figura 07: Distrito de Serra Negra, Bezerros 71
Figura 08: Mapa da Divisão Administrativa de Bezerros 72
Figura 09: Região de Desenvolvimento do Agreste Central de Pernambuco 75
Figura 10: Centro de Artesanato de Bezerros 77
Figura 11: Papangu de Bezerros 78
Figura 12: Sinalização turística da Praça Narciso Lima, Bezerros 79
Figura 13: Vista do distrito de Serra Negra, Bezerros 81
Figura 14: Vista do distrito de Serra Negra, Bezerros 82
Figura 15: Esquema - processo de pesquisa em Turismo 85
Figura 16: Esquema de representação dos efeitos positivos do turismo 101
Figura 17: Serra Negra, Bezerros 107
Figura 18: Aula no Auditório Ecológico de Serra Negra para alunos de Turismo 108
da UFPE
Figura 19: Produção de xilogravura 114
Figura 20: Xilogravura finalizada 117
Figura 21: Produção de máscaras 115
Figura 22: Estado atual da sinalização turística de Serra Negra, Bezerros 117
Figura 23: Acesso à Serra Negra, Bezerros 125
Figura 24: Placa explicativa localizada em meio de Hospedagem de Serra 128
Negra, Bezerros
Figura 25: Depósito de lixo de um meio de Hospedagem de Serra Negra, 128
Bezerros
LISTA DE QUADROS

Quadro 01: Entraves ao desenvolvimento sustentável 30


Quadro 02: As visões dos atores envolvidos no DLS 33
Quadro 03: Acontecimentos relacionados à sustentabilidade 39
Quadro 04: Enfoques do planejamento 47
Quadro 05: Abordagens do planejamento turístico 49
Quadro 06: Áreas de envolvimento dos governos no turismo 52
Quadro 07: Cronologia do Turismo Brasileiro 53
Quadro 08: Distritos e povoados de Bezerros 71
Quadro 09: Zonas de Atividades Especiais em Bezerros 73
Quadro 10: Perguntas direcionadas ao grupo A: comunidade do distrito de 88
Serra Negra/PE
Quadro 11: Perguntas direcionadas ao grupo B: esfera pública do município de 89
Bezerros /PE
Quadro 12: Relação entre perguntas da entrevista e pilares da 93
sustentabilidade
Quadro 13: Princípios de Ever x pilares da sustentabilidade 96
Quadro 14: Princípios do turismo sustentável 103
LISTA DE TABELAS

Tabela 01: Níveis de desenvolvimento e municípios indutores do 66


desenvolvimento
Tabela 02: Investimentos por polo e por setor, até 2020 (em R$ milhões) 68
Tabela 03: Oferta dos meios de hospedagem em Pernambuco 80
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco AD DIPER


Agência Estadual de Planejamento de Pesquisas de Pernambuco CONDEPE/
FIDEM
Área de Expansão Urbana AEU
Área de Preservação da Paisagem APP
Área de Proteção dos Recursos Hídricos APRH
Área Urbana AU
Arranjo Produtivo Local APL
Associação dos Artesãos de Bezerros AAB
Associação dos Proprietários de Bares, Restaurantes, Hotéis e ABRESPOH
Pousadas
Comissão Brasileira de Turismo COMBRATUR
Comitê de Ética em Pesquisa CEP
Conferências das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente CNUMAD
Conselho Mundial de Viagens e Turismo WTTC
Conselho Nacional do Turismo CNTUR
Desenvolvimento Local Sustentável DLS
Empresa Pernambucana de Turismo EMPETUR
Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da Universidade Federal de FADE/UFPE
Pernambuco
Fundo de Investimento Setorial do Turismo FISET
Fundo Geral de Turismo FUNGENTUR
Índice de Educação Básica IDEB
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE
Instituto Brasileiro de Meio Ambiente IBAMA
Instituto Brasileiro de Turismo EMBRATUR
Ministério do Meio Ambiente MMA
Ministério do Turismo MTUR
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio ODM
Organização das Nações Unidas ONU
Organização Mundial do Turismo OMT
Organização Não Governamental ONG
Organização Pan-americana de Saúde OPAS
Pernambuco PE
Plano Nacional de Turismo PNT
População Economicamente Ativa PEA
Produto Interno Bruto PIB
Programa de Aceleração do Crescimento PAC
Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste PRODETUR
NE
Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas PNUMA
Programa Nacional de Municipalização do Turismo PNMT
Região de Desenvolvimento RD
Secretaria de Turismo de Pernambuco SETUR
Secretaria Nacional de Políticas do Turismo SNPT
Secretaria Nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo SNPDT
Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SEBRAE
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural SENAR
Setor de Interesse Turístico SIT
Setor de Preservação Ambiental SPA
Setor de Preservação Cultural SPC
Síndrome da Imunodeficiência Adquirida AIDS
United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization UNESCO
Universidade de Pernambuco UPE
World Comission on Environment and Development WCED
Zona Especial de Atividades Múltiplas ZEAM
Zona Especial de Dinamização Econômica ZEDE
Zona Especial de Estruturação Turística ZET
Zona Especial de Interesse Agroecológico ZEIA
Zona Especial de Interesse Cultural ZEIC
Zona Especial de Serra Negra ZESN
Zona Especial de Uso Sustentável ZEUS
Zonas de Atividades Especiais ZAE
Zonas Especiais de Interesse Social ZEIS
SUMÁRIO

1 Introdução 15
1.1 Justificativa 19
1.2 Objetivos 24
1.2.1 Objetivo Geral 24
1.2.2 Objetivos Específicos 24
2 Referencial Teórico 25
2.1 Das práticas turísticas à necessidade de adequação: 25
sustentabilidade em pauta
2.2 Aspectos conceituais do turismo 25
2.3 Fundamentos sobre meio ambiente, sustentabilidade e turismo 28
2.4 A adequação do turismo à comunidade: um trabalho em prol do 31
desenvolvimento local sustentável
2.4.1 Contextualização do desenvolvimento local sustentável 35
2.5 Do planejar, organizar, dirigir e controlar às práticas do turismo: 44
premissas do planejamento turístico
2.5.1 Situando a natureza variável do planejamento turístico 47
2.6 Políticas de turismo e sua contribuição ao desenvolvimento 50
local sustentável
2.6.1 Políticas de turismo 50
2.6.1.1 Políticas de turismo no Brasil 52
2.6.1.2 Plano Nacional de Turismo 58
2.6.1.3 Pernambuco para o mundo: plano estratégico do turismo de 63
Pernambuco
3 Caracterização do espaço estudado 69
3.1 Indicadores sociais, econômicos e turísticos 75
3.2 Serra Negra 81
4 Metodologia 85
4.1 Classificação da pesquisa 86
4.2 Sujeitos da pesquisa 87
4.3 Perguntas da pesquisa 88
4.4 Coleta de dados 90
4.5 Análise dos dados 92
5 Análise da sustentabilidade turística aplicada em Serra Negra 94
5.1 Alternativas para a sustentabilidade e sua relação com o 98
turismo: o turismo sustentável
5.2 Sustentabilidade ambiental 107
5.3 Sustentabilidade econômica 111
5.4 Sustentabilidade sociocultural 112

5.5 Sustentabilidade político – institucional 116


5.6 Resultados 119
6 Recomendações e conclusões 129
Referências 135
15

1 Introdução

No presente estudo, a análise da atividade turística sob o viés dos atores


locais é predominante; partindo de tal premissa, o entendimento e posterior
avaliação de como se dá o turismo no Distrito de Serra Negra, agreste do Estado de
Pernambuco é fator chave para o entendimento dos apontamentos construídos no
decorrer desta dissertação. O percurso parte da significação do turismo enquanto
vetor de desenvolvimento, em uma gestão pública atrelado ao local, visto muitas
vezes como oportunidade de re-significação de um espaço.
É sob este olhar, que a atividade turística no Brasil, em diversas regiões se
encontra. O foco na regionalização, preservação e comunidade de base local são
algumas das premissas do Plano Nacional de Turismo – uma viagem de inclusão
2007-2010, plano este oriundo da Política Nacional de Turismo 1 instituído pelo
Ministério do Turismo brasileiro (BRASIL, 2007). Através da implementação de
macroprogamas e programas orientados por objetivos como o de estruturar
destinos, diversificar a oferta e dar qualidade ao produto turístico, nota-se uma
mudança de postura sob o olhar destinado ao turismo brasileiro de forma geral.
Conceitos e práticas atrelados ao viés da sustentabilidade figuram nas mais diversas
esferas do conhecimento turístico.

O conceito de sustentabilidade deve ser entendido como princípio


fundamental na reformulação do planejamento turístico nacional. Face à sua
relevância como elemento orientador do modelo de desenvolvimento turístico
desejado, as relações entre turismo e sustentabilidade devem ser abordadas
por meio dos princípios que norteiam o entendimento de seus distintos
campos. (BRASIL, 2009, p.39).

Neste contexto identifica-se que em um território ocorre a interação do


homem com o ambiente, podendo resultar em diversas maneiras de se organizar e
se relacionar com a natureza e a cultura transformando estes ativos em fonte de
lazer, entretenimento e conhecimento para visitantes e inserção socioeconômica da

1
Art. 4o A Política Nacional de Turismo é regida por um conjunto de leis e normas, voltadas ao
planejamento e ordenamento do setor, e por diretrizes, metas e programas definidos no Plano
Nacional do Turismo - PNT estabelecido pelo Governo Federal.
Parágrafo único. A Política Nacional de Turismo obedecerá aos princípios constitucionais da livre
iniciativa, da descentralização, da regionalização e do desenvolvimento econômico-social justo e
sustentável.
16

população local nas atividades relacionadas com o turismo (BARTHOLO,


et.al,2009).
Voltar o desenvolvimento para a escala humana e o turismo para benefício
local significa adotar políticas que possam ocasionar trabalho e ocupação
para todos, tanto quanto atuar no campo da proteção social, e de
programas emergenciais quando necessários; mas requer, sobretudo, o
homem no centro do poder, de forma que possa promover a sua realização.
(CORIOLANO, 2003, p. 30).

Ao longo do século XX, o turismo se transformou numa das atividades mais


importantes da humanidade (SILVA, M., H., 2003). Seu alcance envolve interesses
diversos, a exemplo de busca por lazer, por descanso, por novos conhecimentos,
por saúde e até pela realização de negócios.
O turismo, com efeito, é uma resposta aos anseios das pessoas por
atrativos. Objetivamente, as pessoas procuram conhecer e desfrutar do novo e do
diferente. E, diante dessa constatação, surge gradualmente a necessidade de um
tratamento mais cuidadoso à atividade, ora encarada como fenômeno econômico
(WAINBERG, 2003 apud SILVA, M.H.2003). De acordo com ROLIM (1999), a
grande importância econômica do turismo é devida ao seu papel benéfico para o
equilíbrio do balanço de pagamentos, a geração de emprego e renda e o aumento
da receitas do governo.
Mesmo com grandes efeitos econômicos relacionados à atividade, um
movimento contrário ao desenvolvimento de um turismo de massa é percebido.
Preocupações como sustentabilidade, equilíbrio, patrimônio e cultura são percebidos
e perseguidos por determinados tipos de turista. Segundo RUSCHMANN (1997), os
impactos do turismo referem-se à gama de modificações ou à seqüência de eventos
provocados pelo processo do desenvolvimento turístico nas localidades receptoras.
As variáveis que provocam os impactos têm natureza, intensidade, direções e
magnitudes diversas, porém, os resultados interagem e são geralmente irreversíveis.
Por maiores efeitos econômicos que possam surgir do turismo, a prática deste
apenas sob o viés do lucro pode fadar determinada localidade ao insucesso.

Tudo indica então, que quando uma prática social, aqui o turismo, constitui
o objeto do único paradigma econômico na sua concepção e na sua
gestão, periclita, além do seu limite de tolerância, e perde, assim, sua
validade. A curto prazo, o lucro mata o lucro. Todo sistema vivo, biológico
ou social, que se uniformiza e se especializa, desmorona. Este limite
estabelece então a necessidade de uma nova aproximação, integrando a
pluralidade dos aspectos de um dado sítio (cultura, natureza, arquitetura,
17

história etc.), conscientizando-se da importância do senso implícito das


práticas dos atores, visitantes e habitantes do sítio. (ZAOUAL, 2009, p.58).

A atividade turística passa necessariamente pela questão da cultura local e


regional. Reforça a necessidade em compreender as suas peculiaridades, admirar a
complexidade e estimular a participação em comunidade.
Como afirma SILVA, C.,L.(2006), a construção de um projeto de
desenvolvimento local não pode passar desapercebido das pessoas, pois é de todas
as pessoas, por todas as pessoas e para todas as pessoas. Os locais de turismo,
por sua vez, criam possibilidades para a revitalização da identidade cultural, da
preservação dos bens culturais e das mais ricas tradições.

Os princípios sobre os quais o turismo se baseia nas comunidades derivam


da visão do mundo (cosmovisão) que estas possuem, ou seja, uma visão
holística onde o homem e a natureza formam parte de uma unidade total e
indivisível. A terra e as pessoas são complementares e estão unidas por
um destino: garantir a harmonia do mundo que deve ser constantemente
recriada, transcendendo o tempo e as pessoas. (MALDONADO, 2009, p.
30).

Luzia Coriolano aponta que o desenvolvimento só ocorre de fato quando


todas as pessoas são beneficiadas, quando atinge a escala humana – quando elas
tiverem assegurado uma existência digna, um padrão de vida capaz de garantir a si
e a sua família saúde, bem estar, alimentação, vestuário, habitação, cuidados
médicos, segurança, repouso e lazer. (CORIOLANO, 2003).

Há que se considerar, também, que a maior parte do turismo que se faz no


mundo se dá em espaços previamente ocupados, ou seja, em lugares em
que populações historicamente se estabeleceram e nos quais vivem suas
vidas cotidianas. Apreender o papel do turismo na produção do espaço é
tarefa, portanto, metodologicamente bastante complexa. O turismo é uma
prática social e uma atividade econômica que, no mais das vezes, se impõe
aos lugares, mas ela não se dá sobre uma “tabula rasa”, sobre espaços
vazios e sem donos. Portanto, não são apenas Estado, mercado e turistas
que produzem os espaços relativos aos fazeres turísticos, mas também as
sociedades que vivem nesses lugares, parte delas transformada, por força
de novas contingências, em empreendedores turísticos ou, mesmo, em
muitos casos, atuando como contra-racionalidades às determinações
hegemônicas. A produção do espaço envolve seu uso e apropriação e,
neste caso, o conflito termina por ser imanente ao processo. (CRUZ, 2009,
p.96).

Sabe-se que o desenvolvimento do turismo pautado nos princípios da


sustentabilidade aponta não só para o governo bem como aos moradores a
18

responsabilidade em implementar um turismo de qualidade. Sendo assim o


engajamento entre os dois grupos deve ser estimulado através de um trabalho com
base local onde a responsabilidade pela preservação do patrimônio e do meio
ambiente sejam compartilhadas. Por tudo isso, é preciso levar em consideração a
fragilidade do ecossistema a ser explorado, pois a maioria não suporta grandes
fluxos de visitantes, fato que poderia vir a acarretar a degradação daquele ambiente.
19

1.1 Justificativa

Dado todo o campo do saber relacionado ao turismo, sua


interdisciplinaridade amplamente defendida pelo autor Jafar Jafari (1994),
promovendo assim uma troca entre as mais diversas áreas do conhecimento – o
autor defende pelo menos dezoito disciplinas base para o entendimento do turismo
(LOHMANN; PANOSSO NETTO, 2008), fez surgir o interesse em realizar um estudo
onde o foco central não fosse somente a prática do turismo em si e sim a forma
como a comunidade local, realizadora da atividade a faz.

Figura 01: Modelo Interdisciplinar de Jafari


Fonte: LOHMANN; PANOSSO NETO (2008).

O turismo em Pernambuco passa por um processo de interiorização. Regiões


como Zona da Mata, Agreste e Sertão começaram a ganhar força e é justamente
nesse cenário que se insere o caso de Bezerros. De acordo com o Pernambuco
20

para o Mundo: plano estratégico de Turismo de Pernambuco (2008), a expectativa é


que Pernambuco alcance 4,56 milhões de turistas em 2010, sendo 354 mil visitantes
internacionais. Para 2020, a previsão é de um fluxo global de 9, 925 milhões de
turistas, refletindo um impacto direto na economia com a geração de 487 mil
empregos diretos e indiretos. Além disso, como forma de dinamizar ainda mais o
turismo, foram instituídas rotas turísticas intituladas Moda e Confecção, Cangaço e
Lampião, do Vinho do Vale do São Francisco, Águas da Mata Sul, da Crença e da
Arte, Engenhos e Maracatus, Costa dos Arrecifes, da História e do Mar, Luiz
Gonzaga e Náutica Coroa do Avião em várias regiões de desenvolvimento do
Estado com considerável potencial turístico e com capacidade de atendimento em
termos de oferta e infraestrutura turística e hoteleira. Desta forma, os preceitos da
regionalização do turismo também são percebidos em esfera estadual, um dos
preceitos do PNT nacional.
Peculiaridades e saberes serão investigados no município de Bezerros,
situado no agreste de Pernambuco mais precisamente no Distrito de Serra Negra
que passa por um momento de efervescência no que tange ao turismo. Situado a 10
km da sede do município, o local atrai visitantes das mais diversas regiões e estados
brasileiros ávidos por suas belezas naturais. Trilhas ecológicas, grutas, açudes,
fontes além do clima, atrativo por si só, são alguns dos exemplares da natureza
disponíveis aos turistas, excursionistas e moradores.
Situado na mesorregião Agreste, Bezerros se apresenta como um dos
municípios interioranos de maior destaque em Pernambuco. Distante 102 km de
Recife, é cortado pela BR-232 - principal via de acesso às cidades do interior -.
Possui 58.675 (Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE)
e tem como principal atividade econômica a agropecuária. As demais são do setor
terciário, que conta, dentre as atividades de maior destaque, com o turismo e as
relacionadas (hospedagem e alimentação).
De acordo com informações contidas no portal eletrônico de Bezerros
(www.bezerros.pe.gov.br, 2010), o município possui clima do tipo semi-árido com
temperatura média anual de 24 °C e precipitação pluviométrica de 581 mm. É
banhado pelas bacias hidrográficas de Ipojuca e Capibaribe. Tem como vegetação
predominante a caatinga hiperxerófila e textura de solo arenoso. O relevo
predominante é do tipo suave ondulado. Ainda destaca-se a inserção de Bezerros
no Brejo de Altitude Serra Negra.
21

Os Brejos de Altitude representam áreas de exceção no contexto da Zona


do Agreste, favorecidos por condições naturais mais amenas que aquelas
das caatingas circundantes. Neste caso, o relevo executa função de barreira
aos ventos úmidos, os quais alcançam maiores altitudes, resfriando-se e
propiciando a formação de nevoeiros e chuvas O Brejo da Serra Negra,
localizado no município de Bezerros ocupa uma área aproximada de 20
km2. Esse brejo apresenta grande variação ambiental em termos de relevo,
drenagem, pedregosidade e tipos de solos (textura, profundidade,
fertilidade, entre outros). Os solos das classes dos Argissolos Vermelho-
Amarelos e Neossolos Litólicos são dominantes, além dos afloramentos
rochosos. Em menor quantidade ocorrem, ainda, Planossolos e Neossolos
Regolíticos. A vegetação original é constituída por floresta subcaducifólia,
floresta caducifólia e áreas de transição entre as florestas caducifólias e a
caatinga hipoxerófila. Alguns raros remanescentes dessa floresta úmida
ainda podem ser encontrados. (RODRIGUES, et al. 2008, p.21).

No mapa de Pernambuco, destaca-se a localização do município em questão.

Figura 02: Localização de Bezerros, Pernambuco.


Fonte: www.webcarta.net (2010).

A partir de 1997, o município de Bezerros (PE) iniciou sua participação no


Programa Nacional de Municipalização do Turismo- PNMT, adotando os critérios do
Instituto Brasileiro de Turismo - EMBRATUR. Desenvolvido e coordenado pela
Instituição na década de 90, foi criado com o objetivo de implementar um modelo de
gestão descentralizada da atividade turística. O Programa visava a conscientização,
sensibilização, estímulo e capacitação dos agentes de desenvolvimento que
22

compunham a estrutura do turismo no município, tendo como fim a participação da


comunidade nas decisões, fazendo com que estes reconhecessem a importância do
turismo para o desenvolvimento local. A partir do fortalecimento do poder público
municipal por meio da descentralização propiciada pela municipalização, o programa
objetivava criar ferramentas para o desenvolvimento do turismo, estimulando
parcerias e mobilizando a comunidade à gestão da atividade turística. Dentre seus
objetivos gerais destacavam-se:
- a conscientização do cidadão para a importância do turismo;
- a descentralização;
- o poder normatizador, transferindo ao município a competência para equacionar e
ordenar soluções locais;
- a elaboração de instrumentos e métodos que ajudassem os municípios a
planejarem adequadamente a atividade turística;
- a formação de parcerias entre o poder público, a iniciativa privada e a sociedade
civil organizada na busca de caminhos e respostas;
- a otimização na prestação de serviços turísticos de forma a não só operacionalizá-
los com qualidade e segurança, mas também divulgar e vender melhor o produto.
Posteriormente, o município foi agraciado com o título de Cidade Modelo do
PNMT, graças, principalmente, às ações integradas de seus atores sociais
(comunidade, monitores municipais e poder público). Em 2002, Bezerros obteve da
EMBRATUR o Selo de Ouro turístico, dada a excelência da atividade turística local.
Em abril de 2008, a Prefeitura lança o Programa Municipal de Turismo, fazendo
parte deste a apresentação do Roteiro Histórico Cultural, do Roteiro de Arte, o plano
de marketing para a venda do turismo de Bezerros para Pernambuco bem como a
outros estados.
Tendo em vista a relevância da sustentabilidade turística, pautada na
melhoria da qualidade de vida e da inclusão social, a sustentabilidade do turismo é
apontada como uma possibilidade de fortalecimento da cidadania e da identidade
cultural dos brasileiros. Para tanto, é mister entendê-la como o princípio estruturador
de um processo de desenvolvimento centrado na eficiência econômica, na
diversidade cultural, na proteção, na conservação do meio ambiente e na eqüidade
social. Percebe-se que a implementação de programas que ajudem a desenvolver o
turismo, a exemplo do PNMT e do recém-criado Programa Municipal de Turismo,
23

contribuem para a formulação de estratégias mais adequadas à realidade de


Bezerros, equilibrando benefícios econômicos, sociais, culturais e ecológicos.

Em tese, desenvolvimento sustentável se resume como processo político


participativo que integra a sustentabilidade econômica, ambiental, espacial,
social e cultural, sejam elas coletivas ou individuais, tendo em vista o
alcance e a manutenção da qualidade de vida, seja nos momentos de
disponibilização de recursos, seja nos períodos de escassez, tendo como
perspectivas a cooperação e a solidariedade entre os povos e as gerações.
(SILVA, C.,,L., 2006, p.132).

Ao se estudar o viés da sustentabilidade com vistas à comunidade local, suas


formas de entender e estruturar a atividade turística que hoje ocorre em Serra
Negra, objetiva-se demonstrar não somente à esta comunidade bem como aos
demais atores envolvidos na cadeia do turismo as reais possibilidades envolvidas no
fazer turismo com vistas aos princípios de um turismo sustentável, com uma ampla
discussão onde interesses econômicos tenham o mesmo peso em relação aos
demais interesses (sociais, culturais, ambientais) em uma balança nem sempre
igualitária. Para que haja o desenvolvimento de um produto turístico sustentável é
necessário que a harmonia com o meio ambiente, com as comunidades e culturas
locais, seja sempre buscada de forma que estas se convertam em permanentes
beneficiárias e deixem de ser espectadoras de todo o processo de desenvolvimento
(BRASIL, 2009).
Face ao exposto, a base deste trabalho consiste em analisar: em que medida
a atividade turística ora desenvolvida em Serra Negra - PE tem participação na
endogeneização do desenvolvimento no âmbito da comunidade local?
Tendo em vista a relevância da sustentabilidade turística, pautada na
melhoria da qualidade de vida, percebe-se que a implementação de programas que
ajudem a desenvolver o turismo contribui para a formulação de estratégias mais
adequadas à realidade de Bezerros, equilibrando benefícios econômicos, sociais,
culturais e ecológicos.
A pretensão deste estudo é justamente demonstrar as potencialidades locais
oriundas do povo e inserir o turismo no contexto local, trazendo para seus atores
sociais os benefícios intrínsecos à atividade quando realizada de forma consciente e
com envolvimento de todos. Este estudo visa, enfim, contribuir para um melhor
entendimento do turismo com base local, admitindo, naturalmente, a realidade do
município.
24

1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo Geral

Analisar de que forma se dá o desenvolvimento da atividade turística no distrito de


Serra Negra, Bezerros - PE baseando-se nos princípios que norteiam a
sustentabilidade turística nas perspectivas ambiental, econômica, sociocultural e
político-institucional.

1.2.2 Objetivos Específicos

1. Investigar as principais ações relacionadas à atividade turística


desenvolvidas em Serra Negra - PE;
2. Identificar as conseqüências da intensificação do turismo em Serra Negra -
PE;
3. Propor, a partir do estudo local, formas de melhor aproveitamento do
potencial turístico existente em Serra Negra pautando-se na realização da
atividade de forma sustentável.
25

2 Referencial Téorico

2.1 Das práticas turísticas à necessidade de adequação:


sustentabilidade em pauta.

O turismo pode ser compreendido como uma atividade complexa, tendo início
marcado pelo deslocamento de pessoas para várias partes do mundo,
principalmente a partir do século XX, com a expansão dos conglomerados urbanos
(SILVA, M.,H.,2003).
Em especial, com o fim da Segunda Guerra Mundial, parcelas consideráveis
da população mundial tiveram como conquistas incrementos de tempo livre e
melhorias salariais, advindos da massificação dos mercados consumidores e do
aumento dos níveis de lucratividade das empresas. Por esta perspectiva, o turismo
está intrinsecamente relacionado ao progresso econômico, às concentrações
urbanas e às facilidades de comunicação.
No entendimento de (CRUZ, 2003), o turismo, é, antes de tudo, uma prática
social, que envolve o deslocamento de pessoas pelo território e que tem no espaço
geográfico seu principal objeto de consumo. Assim o turismo é:

o complexo de atividades e serviços relacionados aos deslocamentos,


transportes, alojamentos, alimentação, circulação de produtos típicos,
atividades relacionadas aos movimentos culturais, visitas, lazer e
entretenimento (ANDRADE, 2004, p. 38).

2.2 Aspectos conceituais do turismo

Por ser uma atividade complexa, o turismo atrai diversos estudiosos que
buscam estudar o fenômeno sobre vários primas da sociedade. Tal complexidade
atrai diversos autores interessados em conceituar este fenômeno da melhor forma
possível (GONDIM, 2004).
Desse modo, existem inúmeras definições para o turismo. Para (BENI, 2007)
as definições de turismo seguem três tendências: a econômica, a técnica e a
holística. Na tendência econômica, os estudiosos consideram em suas definições
26

apenas as implicações econômicas do turismo (GONDIM, 2004). De acordo com


Lage e Milone o turismo sob o viés econômico:

gera a produção de bens e serviços para o homem visando a satisfação de


diversas necessidades básicas e secundárias. Em se tratando de uma
manifestação voluntária decorrente da mudança ou do deslocamento
humano temporário, envolve a indispensabilidade de componentes
fundamentais como o transporte, o alojamento, a alimentação e,
dependendo da motivação, o entretenimento (lazer, atrações). (LAGE;
MILONE, 2000, p.26)

“Já a tendência técnica procura distinguir o turismo de outras atividades


semelhantes, o que poderia vir a gerar uma confusão, ao mesmo tempo em que
busca uma homogeneização das características do mercado turístico” (GONDIM,
2004, p.24). Apresenta-se como definição técnica a proposta pela Organização
Mundial de Turismo - OMT que define o turismo como o "deslocamento para fora do
local de residência, por período superior a vinte e quatro horas e inferior a sessenta
dias, motivado por razões não econômicas" (IGNARRA, 2001, p. 23).

Apesar da existência das tendências econômica e técnica, os conceitos


abordados neste trabalho seguem a tendência holística, por ser considerada a mais
completa, afinal procura abranger o assunto como um todo.

Seguindo tal tendência, Jafar Jafari (apud BENI, 1999, p. 38) define o turismo
como sendo o "estudo do homem longe do seu local de residência, da indústria que
satisfaz suas necessidades, e dos impactos que ambos, ele e a indústria, geram
sobre os ambientes físicos, econômico e sócio-cultural da área receptora".
É possível perceber que os três aspectos principais desta definição são: a
viagem, a satisfação das necessidades por meio dos equipamentos turísticos e os
impactos trazidos pela atividade (GONDIM, 2004, p.22).
Em 1963, na conferência sobre Viagens Internacionais e Turismo, realizada
em Roma e patrocinada pelas Nações Unidas, foram recomendadas as seguintes
definições para visitantes, turistas e excursionistas (IGNARRA, 2001):
I. Visitante: pessoa que visita um país que não seja o de sua residência, por
qualquer motivo, e que nele não venha a exercer ocupação remunerada;
II. Turista: visitantes temporários que permaneçam pelo menos vinte e quatro
horas no país visitado, cuja finalidade de viagem pode ser classificada sob
27

um dos seguintes tópicos: lazer (recreação, férias, saúde, estudo, religião e


esporte), negócios, família, missões e conferências;
III. Excursionistas: visitantes temporários que permaneçam menos de vinte e
quatro horas no país visitado.

Nesse sentido, Oscar de La Torre (apud IGNARRA, 2001, p. 24) também


dá sua contribuição:

Turismo é um fenômeno social que contribui no deslocamento voluntário e


temporário de indivíduos ou grupos de pessoas, que, fundamentalmente por
motivos de recreação, descanso, cultura ou saúde, saem de seu local de
residência habitual para outro, no qual não exercem nenhuma atividade
lucrativa nem remunerada, gerando múltiplas inter-relações de importância
social, econômica e cultural.

A definição apresentada pelo autor coloca o turismo como um fenômeno


social que interage com diversas áreas (GONDIM, 2004. p.22). Já há uma
especificação dos motivos que levam ao deslocamento e da importância de não
haver o exercício de atividades remuneradas durante esse deslocamento
ressaltando ressalta a interdisciplinaridade e multidisciplinaridade do turismo
(SILVA, 2003, p.20).
De acordo com Beni (2007, p.37 apud GONDIM, 2004, p.22), o turismo é:

[...] um elaborado e complexo processo de decisão sobre o que visitar,


onde, como e a que preço. Nesse processo intervém inúmeros fatores de
realização pessoal e social, de natureza motivacional, econômica, cultural,
ecológica e científica que ditam a escolha dos destinos, a permanência, os
meios de transporte e o alojamento, bem como o objetivo da viagem em si
para a fruição tanto material como subjetiva dos conteúdos de sonhos,
desejos, de imaginação projetiva, de enriquecimento existencial histórico-
humanístico, profissional, e de exploração de negócios.

A definição acima proposta por Mário Carlos Beni apresenta de forma a não
somente contemplar a definição do turismo bem como os fatores determinantes para
a escolha do local de visitação por parte do turista.
“Existem inúmeras outras definições acerca do tema, entretanto, mesmo que
todas fossem aqui apresentadas, ainda assim certos aspectos deixariam de ser
citados” (GONDIM, 2004. p.23). Desta forma destaca-se a multidisciplinaridade e a
sua interdisciplinaridade conforme citado anteriormente.
28

2.3 Fundamentos sobre meio ambiente, sustentabilidade e Turismo


De acordo com a Constituição Federal de 1988, outorgada em 1988, no
Brasil:

todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso


comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações”. (BRASIL.Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm,
acesso em 24 set.2010).

Baseando-se nos preceitos descritos na Constituição brasileira, a relevância


do meio ambiente tem sido cada vez maior; a atenção volta-se para a busca da
mitigação dos problemas de ordem ambiental em prol do bem comum. Desta
maneira, a abordagem de fundamentos relacionados ao meio ambiente e a
sustentabilidade são imprescindíveis para o turismo, uma vez que a atividade possui
uma estreita relação com os elementos natureza, cultura, sociedade e a interação
destes.
A Conferência de Estocolmo, em 1972, é considerada como um marco por ter
sido nela que a expressão desenvolvimento sustentável, foi amplamente discutida
como uma nova concepção de desenvolvimento que busca atender às necessidades
do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às
suas necessidades. As discussões e execuções em torno do meio ambiente a partir
de uma visão mais humanista procura estabelecer o desenvolvimento com
sustentabilidade em diversas áreas inclusive com o turismo.
As mudanças que vem ocorrendo desde os anos 60 são marcadas pela crítica
ao modelo de produção e de vida vigentes que se caracterizavam pelo consumismo,
a expansão do capitalismo e à degradação ambiental.
É a partir desta década que se percebe um aumento no número de
organizações não-governamentais. Um outro fato importante é o lançamento do livro
Silent Spring (Primavera Silenciosa) de autoria de Rachel Carson, 1962 que
denunciava os estragos causados pelo uso de agrotóxicos.
No ano de 1968, é criado o Clube de Roma, com o objetivo de discutir a crise
e o futuro da humanidade. Seu relatório intitulado Limits of Growth (Limites do
Crescimento) apresentou um alerta sobre o esgotamento dos recursos naturais
sendo este resultado do crescimento econômico desenfreado (PINTO, 2008).
29

A partir deste documento, que foi de grande contribuição no que diz respeito
às criticas, à concepção econômica que tratava a natureza como fonte
inesgotável de recursos à disposição da produção e consumo, pôde-se
discutir as variáveis e propostas para a implementação de um novo
desenvolvimento, baseado na compatibilização do crescimento econômico
com a conservação do meio ambiente. PINTO (2008 p. 36 apud
CAMARGO, 2003).

Na década de 70, várias discussões sobre questões ambientais iniciaram-se.


Um marco destas foi a Conferência Mundial sobre Direitos Humanos e Meio
Ambiente, realizada em Estocolmo, no ano de 1972. A partir deste momento,
estudiosos surgem com terminologias e conceitos como ecodesenvolvimento, e
ecologia profunda2 ampliando assim o campo conceitual de discussões sobre a
temática ambiental.

O conceito de ecodesenvolvimento, lançado por Maurice Strong em junho


de 1973, consistia na definição de um estilo de desenvolvimento adaptado
às áreas rurais do Terceiro Mundo, baseado na utilização criteriosa dos
recursos locais, sem comprometer o esgotamento da natureza, pois nestes
locais ainda havia a possibilidade de tais sociedades não se engajarem na
ilusão do crescimento mimético. Com a Declaração de Cocoyoc no México
em 1974, também as cidades do Terceiro Mundo passam a ser
consideradas no ecodesenvolvimento. Finalmente, na década de 80, o
economista Ignacy Sachs se apropria do termo e o desenvolve
conceitualmente, criando um quadro de estratégias ao ecodesenvolvimento.
Parte da premissa deste modelo se basear em três pilares: eficiência
econômica, justiça social e prudência ecológica. (LAYRARGUES, 20-?.
Disponível em http://material.nerea-
investiga.org/publicacoes/user_35/FICH_ES_32.pdf. Acesso em 24
set.2010).

Discussões sobre o uso de conceitos e terminologias envolvendo o


desenvolvimento sustentável ocorrem por deveras. Destaca-se que em seu escopo
as definições apresentadas se baseiam sob as esferas econômica, social e
ambiental ainda se incluindo a dimensão política atrelando-se a questões de
políticas de desenvolvimento (PINTO, 2008).
De acordo com CAMARGO (2003), devido à conceituação de
desenvolvimento sustentável ser relativamente recente, o seu uso e aceitação traz

2
A expressão ecologia profunda foi criada durante a década de 1970 pelo filósofo norueguês Arne
Naess, em oposição ao que ele chama de "ecologia superficial" – isto é, a visão convencional
segundo a qual o meio ambiente deve ser preservado apenas por causa da sua importância para o
ser humano. Disponível em:
http://www.nodo50.org/insurgentes/textos/ecoprofunda/02oqueecoprofunda.htm. Acesso em 24
set.2010.
30

consigo entraves quanto à sua aplicabilidade. A autora elenca em oito categorias


distintas impedimentos relacionados ao desenvolvimento sustentável. No quadro
abaixo, apresenta-se uma síntese das informações.

Entraves culturais Causas:


I. As diferentes formas dos povos se relacionarem com a natureza
e utilizarem seus recursos;
II. Os diferentes valores e crenças dos povos que influenciam o
modo de conceber os conceitos como qualidade de vida,
necessidade, prioridade, etc.

Entraves científicos Causas:


I. A grande quantidade de variáveis que não puderam ser
reveladas ou mensuradas nas muitas perguntas inerentes ao
desenvolvimento sustentável;
II. A dificuldade dos seres humanos em compreender inter-
relações complexas.

Entraves políticos – I. A diferença econômica entre os países e dentro dos países


quanto aos níveis de produção, consumo e renda per capita;
econômicos
II. O atual estilo de vida consumista;
III. A ‘impossibilidade’ de estabelecer um preço para os efeitos
causados ao meio ambiente;
Entraves sociais I. As questões relacionadas à pobreza (fome, endemias,
violência);
II. A pressão decorrente do crescimento populacional humano;
III. Os conflitos étnicos e religiosos;
IV. A desigualdade e a exclusão social;
Entraves éticos I. A noção de que o homem pode apropriar-se como quiser da
natureza;
II. O conformismo, a minimização e o desinteresse pelos
problemas socioambientais de nossa civilização.
Entraves ideológicos I. Os fanatismos e os extremismos de toda ordem;
II. A tendência humana em se opor a ideias novas;
III. A compreensão superficial e limitada do que realmente
significam desenvolvimento e progresso.

Entraves psicológicos I. As dificuldades dos seres humanos se sentirem integrados com


a natureza;
II. As conturbadas relações interpessoais;
III. A visão imediatista da vida;

Entraves filosóficos- I.Dilemas intrapessoais e coletivos sobre temas como a vida e a


morte, a natureza humana, a origem e o destino do homem,
metafísicos
quem somos no universo;
Quadro 01: Entraves ao desenvolvimento sustentável
Fonte: Adaptado de Pinto (2008 p. 37 apud CAMARGO, 2003).

Na década de 90 eventos impulsionados pela sensibilização / consciência


ambiental como a Rio 92 ou Eco 92, ou ainda Cúpula da Terra ocorrem. É também
nesta década que a preocupação ecológica vai aparecer nos discursos das
31

lideranças religiosas do mundo além de no ano de 1995 ocorrer a criação do


Ministério do Meio Ambiente brasileiro, Recursos Hídricos e Amazônia Legal.
Já no século XXI, a ocorrência de eventos a exemplo da reunião de Haia,
ocorrida em 2000, a execução da Rio +10 em Johanesburgo no ano de 2002
prosseguiram com as discussões acerca dos problemas ambientais. De acordo com
Pinto (2008 p. 36 apud CAMARGO, 2003) “No mesmo ano é declarado o Ano
Internacional do Ecoturismo pela ONU, por meio do Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente - PNUMA, com apoio da Organização Mundial do Turismo”.

2.4 A adequação do Turismo à comunidade: um trabalho em prol do


Desenvolvimento Local Sustentável

Para que a atividade turística efetivamente se converta em um elemento


propulsor de desenvolvimento local, é fundamental um alto grau de integração
horizontal, ou seja, entre os atores locais, mas não podemos obviar a integração
vertical, aquela entre os atores no destino e os de origem dos fluxos, sempre
considerando que todos devem ter benefícios e responsabilidades (MIELKE, 2009).
A busca pelo desenvolvimento local em uma comunidade passa não somente
por questões relacionadas À motivação desta comunidade em empreender o seu
desenvolvimento. De acordo com Mielke (2009, p.9) também é necessário “articular
a comunidade, fornecer fontes de financiamento, dar treinamento, organizar
cooperativas, ou seja, conformar instrumentos para que a comunidade possa
realmente, ser participante ativa no processo de desenvolvimento turístico”.
Nessa perspectiva, pode-se afirmar que a atividade turística está passando
por transformações, fenômeno relativamente recente. O turismo de massa, com
pacotes de serviços integrados, cede gradativamente, mais espaço, a um tipo de
turismo mais personalizado, cujas características são distintas na medida em que
ele está centrado na busca por um lazer mais ativo, por um produto autêntico bem
como uma melhor qualidade ambiental (MIELKE, 2009).
32

Em um sentido mais amplo, no plano global, novas tendências têm marcado


também a “resignificação” do turismo, como, por exemplo, uma mudança
sutil no perfil de turistas, conectados progressivamente com os temas da
responsabilidade social e ambiental, o que passou a influenciar operadoras
e agências internacionais, que, por sua vez, buscaram dar maior visibilidade
a destinos turísticos menos convencionais, mas capazes de viabilizar novas
experiências e descobertas para um “cidadão global”, em busca de
oportunidades de vivências e aprendizagens, para além do “cardápio” de
opções disponíveis. (IRVING, 2009, p.109).

É neste contexto que o turismo de base local ganha importância uma vez que
sua concepção está intrinsecamente ligada aos preceitos do desenvolvimento
sustentável (MIELKE, 2009). É válido destacar que a atividade turística local é
considerada de extrema importância para o alcance da sustentabilidade, o que
significa dizer, que ao mesmo tempo, enquanto promove o turismo deve se
beneficiar deste. De acordo com Coriolano, o turismo de base local pode ser
compreendido pelo:

[...] jeito diferenciado de trabalhar com o turismo. Trata-se de um eixo do


turismo centrado no trabalho de comunidades, de grupos solidários, ao
invés do individualismo predominante no estilo econômico do eixo
tradicional (CORIOLANO, 2006. Disponível em:
http://www.etur.com.br/conteudocompleto.asp?idconteudo=11164.Acesso
em 10 ago.2010).

A articulação dos atores sociais no processo de planejamento,


implementação, desenvolvimento, gestão e controle da atividade turística é um
elemento complexo, mas, que não deve deixar de ser levado em consideração nas
esferas responsáveis pelos planejamentos. Margarita Barretto (2005) pontua que o
planejamento participativo deve ser firme e claro em sua metodologia. Desta
maneira:
[O turismo] desenvolvido nas comunidades, é uma atividade muito
interessante, pois é uma das únicas em que peculiaridades locais e/ou
regionais são objetos de consumo, tornam-se produtos. Isso, na realidade,
abre um grande leque de possibilidades à estruturação de novos roteiros e
destinos turísticos de pequeno porte como alternativa de geração de
divisas. (MIELKE, 2009, p. 13).

Preparar uma comunidade para exercer a atividade turística é criar uma


ligação entre os interesses econômicos locais e os não locais, objetivando atribuir
uma relevante importância na valorização das questões culturais e ambientais
(MIELKE, 2009).Para Benevides (2002 apud IRVING; MENDONÇA, 2004), a
viabilidade de se realizar o desenvolvimento local através do turismo dependeria da
33

equalização de cinco objetivos: preservação/conservação ambiental; manutenção da


identidade cultural geração de ocupações produtivas de renda; desenvolvimento
participativo e qualidade de vida. Irving também discute a importância da valorização
cultural como parâmetro essencial ao turismo de base comunitária ao ser um “objeto
de afirmação de identidades e pertencimento” do grupo (IRVING, 2009, p.113). No
quadro a seguir, demonstram-se as diferentes visões dos atores envolvidos no
processo do DLS.

Quadro 02: As visões dos atores envolvidos no DLS.


Fonte: WWF – Brasil, (2004).

Estrategicamente, a inserção da população local é fundamental para a


atividade turística, devido à relação intrínseca que deveria existir entre
desenvolvimento social e desenvolvimento turístico. LESSA (2004 apud MELLO,
2007, p.44) destaca que o desenvolvimento social de uma comunidade é um
elemento importante como fator de atração do ponto de vista turístico, pois a
cordialidade, acessibilidade e tranquilidade serão características favoráveis para
atrair o interesse e a curiosidade dos visitantes.
34

Considerando que o turismo, em qualquer de suas formas de expressão e


intervenção, interfere na dinâmica sócio-ambiental de qualquer destino, o
turismo de base comunitária só poderá ser desenvolvido se os
protagonistas deste destino forem sujeitos e não objetos do processo. Neste
caso, o sentido de comunitário transcende a perspectiva clássica das
“comunidades de baixa renda” ou “comunidades tradicionais” para alcançar
o sentido de comum, de coletivo. (IRVING, 2009, p.111).

Diante do exposto, fatores como as condições sociais e as suas repercussões


se apresentam extremamente relevantes ao desenvolvimento do turismo, podendo
servir como estímulo ou inibição ao fluxo turístico LESSA (2004 apud MELLO, 2007,
p.44).
Destaca-se que a implantação de planos e programas devem levar em
consideração a adoção “de um modelo de desenvolvimento turístico que não esteja
direcionado tão somente ao atendimento dos desejos do turista (visando aspectos
econômicos da atividade)” (MELLO, 2007, p.44) e não seja baseado exclusivamente
em preceitos externos à esta comunidade e por conseguinte a sua exploração.
O fomento às iniciativas de turismo de base local, ao mobilizar, organizar e
fortalecer os atores locais residentes de destinos para a gestão e a oferta de
bens e serviços turísticos visa tanto atrair turistas que demandam
especificamente este segmento turístico, como agregar valor a destinos
turísticos de cunho mais tradicional, por meio da oferta deste segmento,
cujos elementos de preservação e valorização da cultura local, sua
identidade e produção são de interesse dos visitantes. A interação entre a
comunidade fortalecida em todos os aspectos da sustentabilidade e os
visitantes externos é que pode gerar ganhos de bem-estar para a população
local, assim como na experiência do visitante. O produto turístico de base
comunitária se diferencia por incorporar o modo de viver e de representar o
mundo da comunidade anfitriã. Desta forma, prevê na sua essência um
intercâmbio cultural com a oferta dos produtos e serviços turísticos, em que
há oportunidade para o visitante vivenciar uma cultura diferente da sua e à
comunidade local de se beneficiar com as oportunidades econômicas
geradas e também pelo intercâmbio cultural (BRASIL, 2009, p.10).

Para um efetivo turismo de base local, o Ministério do Turismo apoia


iniciativas que visem:
I. Contribuir para a geração de emprego e renda locais;
II. Fortalecer a governança local, em articulação com os demais atores
envolvidos na atividade turística;
III. Diminuir os vazamentos de renda e fomentar o adensamento do mercado
local,
IV. Estruturar este segmento turístico, face a crescente demanda turística em
níveis nacional e internacional,
35

V. Agregar valor a destinos turísticos, por meio da diversificação dos segmentos


a serem ofertados,
VI. Promover padrões de qualidade e de segurança da experiência turística, tanto
para a comunidade anfitriã quanto para os visitantes.

2.4.1 Contextualização do Desenvolvimento Local Sustentável

A busca em se estabelecer padrões ditos sustentáveis tem suscitado na


sociedade de forma geral uma maior atenção visto que a intensificação de
problemas de ordem social e ambiental vem conduzindo “uma intensa mobilização
de países desenvolvidos e em desenvolvimento, no sentido de se rever as
estratégias e políticas adotadas pela sociedade industrial” (SOUZA, 2006, p.21).

Neste contexto, é importante destacar conceitos e percepções acerca do


desenvolvimento sustentável e/ou sustentabilidade que muitas vezes são
mal interpretados e, por conseguinte mal utilizados. Existem diferentes
explicações e vários pontos de vista sobre o significado dos termos
desenvolvimento sustentável e sustentabilidade, sendo que estes podem ter
significados diferentes para pessoas diferentes. Ou seja, dependendo do
ponto de vista do analista, a forma de compreensão bem como emprego da
expressão sofrerão variações (SOUZA, 2006, p.21).

As discussões acerca do desenvolvimento sustentável e da sustentabilidade


podem ser estudados sob a ótica da economia. E é na história que sem encontram
os primeiros economistas clássicos como Malthus e Ricardo argumentado que em
longo prazo, a economia tenderia a convergir para um estado estacionário, sendo
que a maioria das pessoas viveria com um padrão mínimo de subsistência
(CORAZZA, 2005; SOUZA, 2006).
A partir de uma segunda geração de economistas clássicos, uma visão tida
por Souza (2006) como mais otimista relacionando-se ao desenvolvimento
econômico surge. Para a autora:

Esta corrente de economistas não refutava os argumentos usados pelos


primeiros clássicos, mas enfatizava que a descoberta de novas fontes de
recursos e o progresso tecnológico poderiam compensar os retornos
decrescentes, assim como, a imposição de limites para o crescimento
populacional poderiam ser uma arma eficiente para melhorar o nível de bem-
estar da sociedade (SOUZA, 2006, p.21).
36

Destaca-se que não apenas os economistas pesquisavam acerca das teorias


sobre o desenvolvimento e o crescimento. Paulatinamente, percebe-se o
afloramento da Ecologia3 como área do conhecimento relacionada a questões
ambientais. O termo deriva do grego oikos que significa casa e logos que significa
estudo. Literalmente, Ecologia é o “estudo da casa”, isto é, o “estudo do ambiente”,
que inclui todos os fatores químicos, físicos e biológicos do meio que afetam os
organismos.
De acordo com BROWN:

As políticas econômicas que geraram o crescimento extraordinário da


economia mundial são as mesmas que estão destruindo seus sistemas de
apoio. Por qualquer medida ecológica que se possa conceber, são políticas
fracassadas. Um manejo inadequado está destruindo florestas, pradarias,
pesqueiros e terras agrícolas, os quatro ecossistemas que fornecem nosso
alimento e, com exceção dos minerais, toda nossa matéria-prima também.
Embora muitos de nós vivamos numa sociedade urbana de alta tecnologia,
dependemos dos sistemas naturais da Terra da mesma forma que nossos
ancestrais caçadores-catadores dependiam. (BROWN, 2003, p.8).

A transformação da nossa economia ambientalmente destrutiva para uma que


possa dar alicerces ao progresso dependerá do planejamento de uma eco-economia
que respeite os princípios da ecologia. Para BROWN (2003, p, 23), uma economia
re-planejada pode ser integrada ao ecossistema, de forma que estabilize a relação
entre os dois, permitindo que o progresso econômico continue.

“(...) não se pode aceitar que a lógica do desenvolvimento da economia


entre em conflito com a que governa a evolução da biosfera, tal como tem
ocorrido na experiência dos últimos cinqüenta anos, o que induziu o físico
Henry Kendall (prêmio Nobel de Física), do MIT, a afirmar que os seres
humanos e o mundo natural estão numa rota de colisão” (CAVALCANTI,
1994, p.17).

Não é possível, por exemplo, aceitar projeções de taxas de crescimento da


economia que supõem um ritmo anual de aumento do PIB de, digamos, 8%
ao ano. Seguir nessa suposição equivaleria a admitir, por exemplo, que a
economia brasileira, em 32 anos, atingiria a dimensão atual da economia
americana. Isso pode ser desejável de um ponto de vista puramente
quantitativo (será mesmo?), mas é irrealizável como meta de longo prazo

3
Diversas definições são encontradas em escritos que tratam da ecologia. Destacam-se: “ estudo
das inter-relações entre as coisas vivas e seu ambiente físico, juntamente com todos os outros
organismos que vivem nesse ambiente” (Philllipson,1969); “ estudo da estrutura e função da
natureza”(Odum, 1977); “ ciência que estuda as condições de existência dos seres vivos e as
interações, de qualquer natureza, existentes entre estes seres vivos e seu meio” (Dajoz, 1978); “
estudo das inter-relações entre os organismos e seus ambientes” (Pianka, 1983); ou ainda, “ o estudo
das relações entre os organismos e a totalidade dos fatores físicos e biológicos que direta ou
indiretamente os afetam e/ou são afetados por eles” (Pianka, 1983). Disponível em
http://www.ufpa.br/npadc/gpeea/artigostext/resumoEcologia.pdf. Acesso em 26 set.2010.
37

consistente. Pensar que a economia chinesa possa crescer a mais de 10%


a.a., sustentavelmente, por mais uma década, é sonhar acordado. São
evidentes em toda parte que os caminhos trilhados estão esbarrando em
barreiras intransponíveis. (CAVALCANTI, 1994, p.19).

A partir de diversas perspectivas acerca do desenvolvimento, surgem várias


interpretações a conceituações acerca do desenvolvimento sustentável e ainda hoje
não se tem uma unidade em relação ao tema. Desta maneira, a partir da abordagem
a ser feita, a expressão desenvolvimento sustentável pode assumir tantas
interpretações dada a abordagem a ser relacionada ao assunto bem como sua
aplicabilidade.
A busca em se definir o que vem a ser desenvolvimento sustentável e o que
não é centram-se em distintas significações com vistas a entender e assim propor
definições adequadas àquilo que se relaciona com a temática em tela.
Assim, é importante compreender o termo desenvolvimento ou crescimento
continuado. Duas questões centrais podem colocar-se quando se reflete sobre a
possibilidade de existência de crescimento continuado, segundo (PERMAN, 1996).
Acerca da temática Marisa Souza dá sua contribuição:

A primeira diz respeito à economia positiva e pode ser assim colocada:


sabendo-se que o processo ambiental natural impõe limitados “stocks” de
recursos, que são finitos e exauríveis, será possível para uma economia, ao
longo de períodos indefinidos, atingir um estado em que produção e consumo
sigam trajetórias não declinantes, ou mesmo, com taxas de crescimento
positivas? A segunda questão é normativa: de que forma a utilização dos
recursos deve ser conduzida ao longo dos tempos? A problemática central é o
papel que o ambiente natural assume no desenvolvimento. O debate tem
crescido em torno das relações entre o ambiente natural e o ambiente
construído pelo homem, que como patrimônio edificado, terá de ser gerido
pelas gerações futuras, para suprirem as suas necessidades. Embora seja
largamente aceito que os ativos totais (bens patrimoniais) devem ser mantidos
ou aumentados, não existe consenso quanto à questão da expansão do
“ambiente criado” pelo homem em detrimento à natureza. (SOUZA, 2006,
p.23).

Sobre a questão em tela, apontam-se duas correntes que tratam a


sustentabilidade sob duas vertentes distintas. Uma é tida como a corrente da
sustentabilidade fraca HAUWERMEIREN (1998 apud DENARDIN; SULZBACK,
2002).

Segundo as concepções da escola neoclássica, o capital natural não


necessita receber tratamento diferenciado, é simplesmente considerado
outro tipo de capital. Destarte, o esgotamento do capital natural não é
obstáculo para a manutenção de um consumo sustentável ou, quiçá, que
38

apresente crescimento exponencial. ((HAUWERMEIREN, 1998, p. 7 apud


DENARDIN;SULZBACK, 2002, p.9

Feito essas considerações, Hauwermeire (1998, p.112 apud DENARDIN;


SULZBACK, 2002, p.12) apresenta os dois princípios da sustentabilidade fraca, a
saber: a possibilidade de substituição, quase perfeita, entre capital natural e
manufaturado; e o progresso técnico deve ser contínuo, devendo superar as
limitações que impedem o crescimento econômico devido à escassez de recursos.
Em se tratando do princípio da sustentabilidade fraca destaca-se que:

embora aceite que as considerações sobre o ambiente sejam levadas em


conta nas políticas e decisões, permite, todavia, a substituição do ambiente
natural pelo ambiente fabricado pelo homem, mesmo quando sejam
recursos não renováveis. Admite que o desenvolvimento poderia ser
equacionado com o crescimento econômico contínuo mantendo-se uma
atenção, ou ação mínima, das pessoas ou empresas para com o ambiente
natural (SOUZA,2006, p.23).

Já o princípio da sustentabilidade forte é defendido pelos cientistas naturais,


os conservacionistas e os economistas ambientais e de acordo com Souza (2006) o
meio ambiente deve ser defendido de maneira absoluta.

Indo de encontro ao princípio da sustentabilidade fraca, que reivindica a


manutenção do estoque total de capital, o critério de sustentabilidade forte
requer a manutenção dos diferentes tipos de capitais separadamente. Isto
implica que o princípio da sustentabilidade forte não aceita a substituição quase
perfeita do capital natural por manufaturado. Autores como Turner et al. (1994) e
Harte (1995) salientam que alguns serviços dos ecossistemas são
indispensáveis para a sobrevivência humana e não são substituíveis.
(DENARDIN; SULZBACK, 2002, p.12)

Ainda de acordo com Souza, a sustentabilidade forte pode ser entendida em


face:
da incerteza da possibilidade de reprodução de recursos naturais e da
possível irreversibilidade das decisões, deverá prevalecer o princípio da
precaução. Significa que não devem ser utilizados recursos naturais não
renováveis a níveis de consumo que comprometam equilíbrios naturais de
longo prazo, não sendo aceitável atribuir-lhes um valor econômico de troca
(SOUZA,2006, p.24).

Diante de tais considerações, O'Connor (2000 apud DENARDIN; SULZBACK,


2002, p.13) ressalta que:

preceitos devem ser aplicados para todos componentes do capital natural que
são considerados indispensáveis para dar suporte a atividade econômica
sustentável. Isto implica em considerar a importância significativa dos serviços
39

ecossistêmicos de suporte a vida: assimilação de dejetos, renovação da água e


recursos biológicos etc.

É a partir dos anos 80 que surgiram diversos relatórios, encontros e


manifestações preocupados com a saúde e o bem estar do planeta conforme afirma
Souza (2006). Diversos documentos são produzidos buscando contribuir para a
construção de uma nova ordem internacional. Destacam-se abaixo os principais
acontecimentos ocorridos com temática central sustentabilidade.

O Relatório “Limites do Crescimento”, do Clube de Roma (1971);


A Conferência Mundial de Estocolmo (1972);
O World Conservation Strategy, em 1980, que abordou a necessidade de se criar
sustentabilidade na utilização dos recursos naturais;
A Comissão Brandt (Independent Comission on International Development Issues) que, no
mesmo ano, destacou a necessidade de incluir o “cuidado ambiental” no desenvolvimento;
A Declaração de Manila (OMT, 1981), que assinalou a realidade dos recursos naturais serem
uma herança comum;
O acordo UNEP/OMT de 1982, que se referia à necessidade de ajustar o desenvolvimento
turístico às preocupações ambientais;
O Relatório “O Nosso Futuro Comum” (1987), também conhecido pelo Relatório Bruntland;
A Eco92 e a Agenda 21, da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro (1992);
A Conferência Mundial Rio + 10, em Joanesburgo (2002).
Quadro 03: Acontecimentos relacionados à sustentabilidade
Fonte: Adaptado de CAMARGO, (2003), SOUZA, 2006 p.24.

A Conferência Mundial de Turismo Sustentável ocorrida em Lanzarote no ano


de 1995 apresentou a carta para um Turismo Sustentável – Declaração de
Lanzarote. De acordo com (SOUZA, 2006), a mesma foi organiza em princípios
orientadores para:

I. Apoiar o desenvolvimento turístico em critérios de sustentabilidade, ou seja,


ecologicamente sustentáveis a longo prazo, economicamente viáveis, social e
eticamente equitativo para as comunidades locais;
II. Considerar os efeitos do turismo nos ambientes frágeis, no patrimônio cultural
e nos elementos tradicionais, atividades e dinâmica da comunidade local,
características de muitos dos destinos turísticos;
40

III. Existência de solidariedade, respeito mútuo e participação de todos os atores,


públicos e privados, no processo de sustentabilidade do turismo;
IV. Adoção de critérios de qualidade como objetivos prioritários na formulação de
estratégias de turismo;
V. Adoção de medidas que promovam a diversidade de oportunidades
oferecidas pela economia local e uma distribuição mais equitativa dos custos
e benefícios do turismo;
VI. Promoção de formas alternativas de turismo compatíveis com os objetivos do
desenvolvimento sustentável e de sistemas de gestão turística
ambientalmente compatíveis;
VII. Adoção de programas e práticas preventivas, designadamente no domínio
dos transportes, da energia renovável e da reciclagem e minimização de
resíduos;
VIII. Adoção e implementação de códigos de conduta;
IX. Promover a informação e sensibilização de todos os parceiros a nível local,
regional, nacional e internacional.

Dentre todos os encontros, assume particular importância a reunião de 1987,


de onde emanou o Relatório “O Nosso Futuro Comum”. De fato, os princípios
e as práticas do desenvolvimento sustentável foram pela primeira vez
enunciados de forma sistematizada, pela World Comission on Environment
and Development - WCED, com a publicação do relatório final. A presidente
da Comissão era a então Primeira-Ministra da Noruega Gro Harlem
Brundtland, sendo o documento então intitulando por Relatório Brundtland
(SOUZA, 2006, p.25).

Elaborado a partir da contribuição dos diferentes atores participantes do


Evento, o documento tem sua relevância pautada na preocupação mundial com os
riscos e a degradação sofrida pelo meio ambiente e com a necessidade de criação
de medidas que tenham como perspectiva um melhoramento na qualidade de vida
da população, a proteção do meio ambiente, e que se reconciliem as atividades
humanas com a preservação da vida no planeta e com uma sociedade mais justa e
equitativa (SOUZA, 2006).
Assim, a definição apresentada para desenvolvimento sustentável contida no
Relatório Brundtland (Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento,
1991, p.29) atesta: “o desenvolvimento que vai ao encontro das necessidades do
41

presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas


próprias necessidades.”
O mesmo documento apresentava também, os cinco pilares que conduzem a
um desenvolvimento sustentável (SOUZA, 2006):

I. Planejamento estratégico holístico;


II. Importância de preservar os processos ecológicos essenciais;
III. Necessidade de proteger simultaneamente a herança humana e a
biodiversidade;
IV. Necessidade de desenvolvimento de tal modo que a produção possa ser
mantida através dos tempos pelas futuras gerações, evidenciando equidade
entre as gerações
V. Alcançar um melhor equilíbrio de justiça e oportunidades entre nações.

De acordo com MARTINS (2002 apud SOUZA, 2006, p. 26), “o Relatório


apresentou também algumas sugestões de políticas públicas que poderiam
promover o desenvolvimento sustentável. Para tanto, as seguintes medidas
deveriam ser adotadas”:
- Limitação do crescimento da população;
- Garantia de segurança alimentar a longo prazo;
- Preservação da biodiversidade e dos ecossistemas;
- Diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias que
incorporassem o uso de fontes renováveis de energia;
- Satisfação de todas as necessidades básicas das pessoas;
- Aumento da produção industrial nos países não-industrializados à base de
tecnologias que fossem ecologicamente limpas;
- Controle da urbanização desenfreada das populações
- Promoção de uma maior e melhor integração entre os meios rurais e urbanos.
Com o conceito formatado no Relatório Brundtland, a noção de
desenvolvimento humaniza-se, e passa a incluir a preocupação com as gerações
futuras. Considerando o desenvolvimento sustentável como um processo, o
documento vem exaltar a reorientação de uso dos recursos naturais, da tecnologia,
de investimentos, das instituições e das leis, bem como a adoção de novos valores
nos quais o respeito à equidade, à justiça e à vida, prevaleçam. Coloca-nos
42

igualmente, a necessidade de transformar a avaliação da sustentabilidade em


prioridade no diálogo entre nações (MARTINS, 2002). “Portanto, para ser
sustentável, o desenvolvimento deve ser contínuo ao longo do tempo, gerando
aumento do produto, melhoria dos indicadores sociais e preservação ambiental”
(SOUZA, 2006, p.27). Ainda de acordo com a autora:

Fica claro o conflito entre dois paradigmas: o do desenvolvimento


sustentável e o do desenvolvimento puramente econômico em que todos os
recursos sem exceção têm um valor de troca mesmo quando já se tenham
perdido as condições de equilíbrio ambiental (SOUZA, 2006, p.27).

A partir da ECO92 no Rio de Janeiro, surgem novas reflexões, consagrando-


se a noção de sustentabilidade ampliada e de sustentabilidade como um processo
(MARTINS, 2002).
De forma geral, o desenvolvimento sustentável pode ser sintetizado como “um
processo de mudança para o desenvolvimento, quando indica a necessidade de
reorientação de uso dos recursos naturais, da tecnologia, dos investimentos, da leis
e das instituições, e a adoção de novos valores pela sociedade” (SOUZA,2006,
p.29).
De acordo com Beni (2006, p.98):

O conceito de sustentabilidade que estamos propondo envolve a


compreensão de uma série de dimensões e cenários de sustenatbilidade,
cujo alcance do conjunto possibilita o desenvolimento racional da atividade
de maneira a torná-la efetivamente sustentável.

Baseado em (SOUZA, 2006), três dimensões ou pilares aplicáveis ao


desenvolvimento sustentável podem ser reconhecidos:

- Sustentabilidade Ambiental: “conservar e gerir recursos, especialmente aqueles


que não são renováveis ou que são preciosos em termos de suporte de vida”
(SOUZA, 2006, p.28). Inclui questões relacionadas à gestão de recursos naturais
como manejo sustentável dos recursos, a preservação, a reciclagem, a reutilização,
o combate ao desperdício e a conservação dos recursos finitos (SACHS, 2000)

- Sustentabilidade Social: De acordo com Chambers e Conway (1992 apud BENI


2006, p. 104) “a sustentabilidade social não se refere somente ao que o ser humano
43

pode ganhar, mas à maneira como pode ser mantida decentemente sua qualidade
de vida”. “Tem ênfase nas comunidades locais, mantendo e reforçando os seus
sistemas de suporte de vida, reconhecendo e respeitando as diferentes culturas e
evitando qualquer forma de exploração” (SOUZA, 2006, p.29).

- Sustentabilidade Econômica: “gerar prosperidade nos diferentes níveis da


sociedade, reconhecendo o custo efetivo de toda a atividade econômica. Trata-se da
viabilidade das empresas e atividades e a sua habilidade de se manterem a longo
prazo” (SOUZA,2006, p.29).
Para fins deste estudo, adotar-se á ainda dois outros pilares da
sustentabilidade: a sustentabilidade cultural e a político-institucional. Para
operacionalizar o conceito de sustentabilidade nas atividades relacionadas ao
turismo, Beni propõe uma estrutura dividida em dimensões - objetivos e dimensões -
instrumento.

Por meio de uma visão da atividade que tem como foco sua principal razão
de ser, bem como os benefícios culturais, ecológicos, sociais e econômicos
que é capaz de trazer para os municípios que se desenvolve, define-se que
as dimensões objetivos são: sustentabilidade ambiental, sustentabilidade
econômica, sustentabilidade político-institucional e sustentabilidade social e
cultural (BENI.2006, p.98)

Já as dimensões-instrumentos são aquelas não consideradas a finalidade dos


esforços do desenvolvimento e sim ferramentas de alcance das dimensões objetivo.
As mesmas dividem-se em: sustentabilidade mercadológica, espacial, financeira,
administrativa, organizacional e jurídica (BENI, 2006).
44

2.5 Do planejar, organizar, dirigir e controlar às práticas do turismo:


premissas do planejamento turístico

As relações existentes entre as políticas públicas e o planejamento podem ser


vistas sob os aspectos relacionados à organização legal e econômica dos estados,
bem como às diferentes abordagens do planejamento sejam estas físicas,
econômicas ou turísticas. A tomada de decisão é a ação recorrente em todo o
planejamento seja esta nas esferas política ou administrativa.

O planejamento turístico tem como metas: responder as exigências da


atividade, minimizar impactos negativos e receber as recompensas da
mesma. O processo de planejamento pode ser essencial para forçar um
governo a refletir sistematicamente sobre o impacto total do Turismo. Como
o desenvolvimento turístico geralmente exige que os setores público e
privado desenvolvam grandes projetos de capital, a falta de planejamento
pode resultar em erros onerosos. (OMT 2003, p.194)

De acordo com Miguel Acerenza (1984), estudioso do turismo e de suas


manifestações, definir o que é planejamento público traz as ideias de racionalização
à administração de forma a organizar, e coordenar os recursos disponíveis
buscando a satisfação das necessidades e o progresso da sociedade. O autor ainda
enfatiza as relações do turismo e planejamento público por estas tratarem da gestão
dos recursos e os efeitos advindos destas em seus aspectos positivos ou negativos.
A necessidade de intervenção pública nos processos do turismo reforça-se,
por exemplo, quando se verifica um aumento em termos de demanda de uma
localidade, as contribuições que muitos esperam que a atividade turística possa
causar a uma determinada destinação bem como o desenvolvimento de um turismo
dito sustentável. A política pública de Turismo estabelece metas e diretrizes que
orientam o desenvolvimento sócio-espacial da atividade, tanto no que tange à esfera
pública como no que se refere à iniciativa privada (CRUZ, 2002).
No ano de 1994, a OMT, organizou um compêndio de informações (listadas
abaixo) acerca do planejamento turístico focando principalmente os objetivos
relacionados a este.

I. Estabelecer os objetivos de desenvolvimento turístico e as políticas para


conseguir os objetivos que não se circunscreverem aos meramente turísticos,
45

mas também que englobam outros de diversas naturezas: econômicos,


ambientais, sociais e culturais, etc;
II. Garantir a conservação atual e futura dos recursos turísticos, ao tempo de
assegurar seu uso no presente;
III. Integrar os objetivos de turismo com políticas restantes de desenvolvimento
socioeconômico e favorecer as relações do turismo com outros setores;
IV. Oferecer uma informação rigorosa e útil na tomada de decisões pública e
privada.
V. Fazer possível a coordenação do amálgama de elementos que interferem no
setor turístico;
VI. Otimizar os benefícios econômicos, ambientais e sociais do turismo,
favorecendo uma boa distribuição social dos benefícios e minimizando os
possíveis problemas derivados do turismo;
VII. Estabelecer as diretrizes básicas para a elaboração de planos detalhados,
favorecendo sua coordenação e reforçando uns com os outros;
VIII. Facilitar o marco institucional e organizativo para o desenvolvimento do
planejamento e a gestão turística permanente;
IX. Favorecer a coordenação efetiva do setor público e do setor privado;
X. Gerar avaliação contínua da gestão turística.

Dada a gama de componentes de um planejamento voltado ao viés turístico,


percebe-se o quão mutante este pode ser variando tanto em sua composição como
em sua hierarquia em função dos fins perseguidos e do enfoque utilizado.
Nos estudos sobre planejamento, verificam-se as mais diversas abordagens
do assunto, haja vista sua amplitude e variedade, que produzem diferentes
percepções do mesmo tema. De forma geral, o planejamento pode ser
compreendido como um conjunto de atividades que almejam criar condições para se
alcançar objetivos pré-determinados.
De acordo com Estol e Albuquerque (1987 apud RUSCHMANN, 2001, p.
67), planejamento é:

(...) um processo que consiste em determinar os objetivos de trabalho,


ordenar os recursos materiais e humanos disponíveis, determinar os
métodos e as técnicas aplicáveis, estabelecer as formas de organização e
expor com precisão todas as especificações necessárias para que a
conduta da pessoa ou do grupo de pessoas que atuarão na execução dos
46

trabalhos seja racionalmente direcionada para alcançar os resultados


pretendidos.

Seguindo essa linha de raciocínio, Mota (2001, p. 113) dá sua contribuição:

O planejamento corresponde a um conjunto de providências a serem


tomadas para um futuro, no qual as situações serão inusitadas, exercendo
influências sobre algumas variáveis, o que pressupõe a necessidade de um
processo decisório antes, durante e depois de sua implementação na
empresa.

Outros autores do turismo, a exemplo de Petrocchi (1998) abordam o


planejamento sob a ótica do futuro almejado e do que se faz necessário para seu
alcance. A ênfase nos objetivos, a ordenação dos recursos necessários e marco
temporal também são componentes do planejamento.
Constata-se a relação existente entre planejamento, tomada de decisão e
espaço temporal. Assim, o planejamento trata das decisões tomadas pelas
empresas e de suas implicações futuras, levando em consideração as mudanças
que possam vir a ser implementadas no decorrer do planejamento.
47

2.5.1 Situando a natureza variável do planejamento turístico

As questões teóricas e práticas relacionadas ao planejamento quando


relacionadas ao turismo, trazem consigo um certo grau de complexidade uma vez
que a evolução natural da atividade e os distintos contextos econômicos, sociais e
político das comunidades trazem mudanças ao ato de planejar o turismo. Planos,
projetos e programas precisam estar em sintonia com a realidade do local no qual
será implementado. Aos planejadores cabe o olhar acurado para as mudanças
possíveis no cenário estudado, o monitoramento e a avaliação das ações colocadas
em prática. A evolução da política turística constitui um elemento essencial, mesmo
que não seja o único, para identificar o gênesis e as características dos principais
enfoques do planejamento turístico.
Hall (2004) em seus estudos dispõe o planejamento turístico observando não
somente o viés econômico, o mais observado na maioria dos estudos do turismo.
Alerta também para os enfoques físicos (territoriais e ambientais) e o enfoque
comunitário como descrito no quadro a seguir:
Enfoque econômico no Enfoque físico no Enfoque comunitário no
planejamento planejamento (território e planejamento
ambiente)
 Concebe o turismo  Incorpora a dimensão  Deve promover um
como instrumento para territorial com o controle local de
alcançar determinados objetivo de alcançar desenvolvimento
objetivos econômicos; uma adequada turístico com o objetivo
 Reforça o potencial de distribuição das que a população
contribuição do turismo atividades turísticas no residente seja a máxima
ao crescimento espaço e usando beneficiada com a
econômico, racionalmente o solo; atividade;
desenvolvimento  Deve centrar-se,  Identificar o contexto o
regional e sobretudo na qual se encontra o local
reestruturação conservação dos a ser planejado com
produtiva; recursos naturais e na vistas à utilização
 A intervenção pública diminuição dos racional do espaço;
em primeira instância impactos ambientais
outorga prioridade aos oriundos da prática
fins econômicos turística.
 O paradigma da
sustentabilidade e da
percepção dos
problemas ambientais
como resultado da
relação homem-meio
tem contribuído para
ampliar o espectro do
planejamento físico do
turismo para os
elementos
socioculturais
Quadro 04: Enfoques do planejamento
Fonte: Adaptado Hall, (2004).
48

O viés econômico do planejamento trata da atividade sob a perspectiva do


alcance dos objetivos econômicos. Conforme Hall (2004), a intervenção pública em
seu papel de regulação prioriza o enfoque econômico sobre os demais, ainda que
atenda aos fatores quem venham a interferir na eficiência econômica do turismo
como, por exemplo: estimativas dos impactos econômicos, os custos para o
desenvolvimento do turismo, a escolha dos segmentos mais lucrativos da atividade.
Entretanto, esta orientação de planejamento não pode somente analisar como
se distribui economicamente os benefícios do turismo. Desde uma perspectiva crítica
em relação aos modelos tradicionais, Burns (1999 apud MARTINS, 2002) considera
que os países do terceiro mundo ainda não experimentaram uma evolução
significativa nos enfoques do planejamento e que se mantém a prioridade dos fins
macroeconômicos do turismo sobre outras considerações do tipo social ou
ambiental.
O viés físico do planejamento trabalha sob a perspectiva do território, ou seja,
o espaço onde a atividade turística será trabalhada levando-se em consideração o
uso racional do solo, De acordo com Hall (2004), os aspectos sociais e culturais do
espaço turístico quando trabalhados sob os preceitos da sustentabilidade
contribuem para que o planejamento físico traga as benesses ao território
trabalhado. Por fim, o planejamento ligado a questões de ordem comunitária coloca
sobre a população residente a maximização dos benefícios tanto para o uso turístico
atual como sua viabilidade futura.
Dada a multiplicidade de abordagens no planejamento do turismo, a
heterogeneidade de suas ações podem ser encontradas nas obras de autores como
Hall (2004), Beni (2006), Ruschmann (2001), dentre outros, conforme sintetiza-se no
quadro a seguir:
49

Tipo de abordagem Premissas Autores / entidades que


defendem a abordagem
Contínua e flexível O plano deve ser suscetível a Reinaldo Dias.
circunstâncias variáveis, mas qualquer Marta Irving,
modificação necessária deve ser feita John Swarbrooke
dentro dos parâmetros do alcance dos
objetivos e dos conceitos de turismo
sustentável.
Abrangente Todos os aspectos do desenvolvimento do Mario Carlos Beni
turismo precisam ser considerados no C. Michael Hall
processo de planejamento de forma
sistêmica.
Integrada O turismo integra-se em si mesmo Mario Carlos Beni
enquanto sistema; o setor turístico está
integrado nas políticas e nos planos de
desenvolvimento geral da área em
questão.
Ambiental e O turismo é planejado de maneira John Swarbrooke
Sustentável ambientalmente sensível, fazendo com Luzia Coriolano
que os recursos naturais e culturais sejam Marta Irving
conservados, que os benefícios do Doris Ruschmann
turismo sejam amplamente estendidos à Margarita Barreto
sociedade e os níveos de satisfação Organização Mundial do
mantidos. Turismo
WWF – Brasil

Baseada na Envolvimento da comunidade local no Luzia Coriolano


comunidade planejamento e no desenvolvimento do Organização Mundial do
turismo, acumulando assim os benefícios Turismo
à própria comunidade. WWF - Brasil
Quadro 05: Abordagens do planejamento turístico
Fonte: adaptado de DIAS (2003), IRVING;AZEVEDO (2002), BENI (2006), SWARBROOKE (2000),
HALL (2004), CORIOLANO (2003), RUSCHMANN (2001), OMT (1994), WWF-BRASIL (2004),
BARRETO (2005).
50

2.6 Políticas de Turismo e sua contribuição ao Desenvolvimento


Local Sustentável

Ao pensarmos no surgimento das primeiras manifestações políticas, temos os


gregos como precursores de tal ação. Para este povo, a palavra politika originava-se
de polis ou sociedade organizada, composta por cidadãos políticos. Naturalmente, a
participação do homem na política vem evoluindo no decorrer do tempo (SANTOS
2008). Para Lobato (2007, p.109) a política é “a ciência dos fenômenos referente ao
Estado, sistema de regras, conjunto de objetivos, princípios doutrinários, posição
ideológica, habilidade no trato das relações humanas”.
O foco no atendimento das necessidades da população bem como a ação
humana que produza efeito sobre a organização, o funcionamento de uma
sociedade são percebidos por Dallari (1999 apud SANTOS, 2008, p.18) “como parte
da política, ou seja, o atendimento dos poderes públicos em prol da sociedade é o
foco da ação política”.

2.6.1 Políticas de Turismo

As relações existentes entre a atividade turística e a criação de políticas


públicas faz com que diversos autores estudem a temática. De acordo com Padilla
(1994, p.74 apud SANTOS, 2008), as políticas públicas para o turismo definem- se
como o “conjunto de atitudes e estratégias que uma comunidade organizada adota
frente ao fenômeno turístico”.
Os estudos sobre as políticas públicas no turismo tornam-se de grande
relevância dada a dimensão da atividade. De acordo com Dye (1992, p. 27 apud
HALL, 2004, p. 18), ”as políticas públicas podem ser estudadas para se
compreender as causas e consequências das decisões políticas e melhorar o
conhecimento sobre a sociedade”.
Relacionando a políticas às questões do turismo, ou seja, as políticas do
turismo, (CRUZ, 2002) relata que esta deveria, teoricamente, ser um documento
público que reunisse o pensamento do(s) poder (es) público(s) em todos os níveis
(estadual, local e federal) com vistas à organização do setor turístico em um dado
local instituindo os objetivos,metas, diretrizes e estratégias a serem seguidas
51

(SANTOS, 2008). Para a autora em questão, as ações que integram o setor


turístico, majoritariamente de ordem pública, precisam relacionar – se integralmente
com a Política Nacional de Desenvolvimento vigente, sendo esta composta por um
conjunto de ações, diretrizes, procedimentos e estratégias criadas no âmbito do
poder público.
Para uma boa execução das políticas de turismo, as mesmas podem e devem
ser executadas em três diferentes níveis: o federal, o estadual e o municipal (local).
A integração e por conseguintes a ausência de uma dessas políticas pode dificultar
o andamento da atividade turística bem como a falta de integração desta com outras
políticas pode ocasionar problemas na execução do processo.
Para Goeldner, Ritchie e McIntosh (2002 apud SANTOS, 2008 p.18)

as políticas do turismo são um conjunto de regulamentações, regras,


diretrizes, diretivas, objetivos e estratégias de desenvolvimento e promoção
que fornece uma estrutura na qual são tomadas as decisões coletivas e
individuais que afetam diretamente o desenvolvimento turístico e as
atividades diárias dentro de uma destinação.

Ainda sobre as políticas voltadas ao turismo, a autora Karina Solha (2004


apud SANTOS 2008), apresenta como finalidades das mesmas:
I. A definição dos termos nos quais as operações turísticas devem
funcionar;
II. O estabelecimento das atividades e comportamentos aceitáveis;
III. O fornecimento de uma direção comum e a orientação para todos os
interessados no turismo de uma destinação;
IV. O fornecimento de estrutura para discussões públicas e privadas sobre
o papel e as contribuições do setor turístico para a economia e a
sociedade em geral;
V. A permissão para que a atividade turística estabeleça interfaces com
outros setores da economia de forma mais eficaz.

De forma geral, as políticas do turismo envolvem (quadro a seguir):


52

Área envolvida Atuação


Coordenação A coordenação de implantação de uma política de turismo envolve um
conjunto diversificado de atores que nem sempre apresentam
identidade de interesses. E cabe ao Estado traduzir os interesses
específicos num interesse geral, coletivo, que beneficie toda a
comunidade
Planejamento O planejamento tem como objetivo estabelecer as linhas gerais para
que o desenvolvimento aconteça de modo ordenado e previamente
escolhido. O Estado como representante do interesse geral, deve
manter sob sua responsabilidade definir os rumos do desenvolvimento
seja de um país, região ou município.
Legislação e As leis, decretos e resoluções, ou seja, as normas codificadas no direito
regulamentação são um importante instrumento para a realização de políticas públicas.
Elas estabelecem regras, limites, impõem condições que são
fundamentais para a organização turística.

Empreendimentos O Estado pode exercer uma função empresarial quando para iniciativa
privada não há. Em determinado momento, retorno financeiro e
determinada atividade é considerada fundamental e suplementar a
outras que se desenvolvem em torno das atividades turísticas.
Incentivo Os incentivos que podem ser patrocinados pelo Estado para o
desenvolvimento do setor privado do turismo podem ser de vários tipos:
empréstimos ao setor privado para investimentos em determinadas
regiões, incentivos fiscais, como a diminuição da carga tributária sobre
determinados investimentos, isenções de taxa, etc.

Atuação social O Estado pode promover o turismo em camadas sociais menos


favorecidas, contribuindo para a expansão da atividade e para a
ampliação do exercício do direito ao lazer, no caso turístico
Promoção do Um dos papéis mais importantes do Estado é a promoção do turismo
Turismo em regiões emissoras de turistas. A promoção do destino turístico é
uma importante função das administrações públicas e que tende a
acentuar-se devido ao aumento da competição global pelo fluxo de
viajantes.
Quadro 06: Áreas de envolvimento dos governos no turismo.
Fonte: IUOTO, 1974; HALL, 2004; OMT, 2003; BENI, 2007; SOUZA, 2002 apud DIAS, 2003.

2.6.1.1 Políticas de Turismo no Brasil

Com o turismo, percebe-se que as políticas públicas possuem uma estreita


relação com outras políticas como transporte, saneamento, educação, segurança,
dentre outras. A concepção /execução das políticas públicas a nível nacional, é de
responsabilidade do Ministério do Turismo. É mister destacar que o fomento do
turismo pelo Estado Nação passou por diversas mudanças ao longo do tempo. Na
tabela abaixo, apresentam-se as principais ações e acontecimentos do turismo
brasileiro no período de 1937 a 2008. De acordo com Beni (2006) e Trigo (2002)
mesmo que nem todas as ações representem uma intervenção governamental
53

direta, todas foram significativas na formação das diversas políticas públicas da


área.
As políticas públicas de turismo no Brasil sempre tiveram impactos sobre o
setor propriamente dito e sobre os Estados e municípios, o que poderia
justificar em parte, desacertos acerca da ausência constante de uma
orientação maior que indicasse explicitamente objetivos, metas prioridades
e metodologia na elaboração de projetos e programas. (BENI, 2006, p.18)

Período Marcos de intervenção governamental

1937/1945 As poucas políticas indiretamente relacionadas ao turismo destinavam-se à


proteção dos bens históricos e artísticos nacionais e a fiscalização de
agências e vendas de passagens.

1938 A primeira menção à atividade do turismo no Brasil ocorreu através do


decreto-lei n°406, de 04 de maio de 1938, que dispunha sobre a entrada de
estrangeiros em território nacional. Instituição do Decreto-lei n° 406, de 4 de
maio de 1938 que previa a autorização governamental para a atividade de
venda de passagens para viagens aéreas, marítimas ou rodoviárias.

1946/1947 O turismo ficou sob responsabilidade do Ministério da Justiça.

1946 Proibição dos jogos de azar no Brasil. Os principais cassinos eram o


Copacabana, Urca e Atlântico, no Rio de Janeiro; Icaraí, em
Niterói;Quitandinha, em Petrópolis;Atlântico e Balneário em
Santos;Pampulha, em Belo Horizonte;Grande Hotel, em Recife e Central,
em Salvador.
1953 Fundação da Associação Brasileira de Agentes de Viagem,no Rio de
Janeiro, em 28 de dezembro.
1958 Criação da Comissão Brasileira de Turismo (COMBRATUR) através do
Decreto-lei n° 44.865.

1966 Através do Decreto-lei n° 55, de 18 novembro foi definida a Política


Nacional do Turismo, criou-se o Conselho Nacional de Turismo e a
Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR). O decreto lei n °58.843 de
23 de maio regulamentou as agências de viagem e turismo.
1967 Realização do I Encontro Oficial do Turismo Nacional, no Rio de Janeiro.
Esta foi a primeira iniciativa da Embratur.

1968 Início da sistematização dos dados estatísticos sobre turismo receptivo no


Brasil.
1971 Criação do Fundo Geral de Turismo -FUNGENTUR

1976 Suspensão das autorizações para remessas destinadas ao pagamento de


serviços terrestres no exterior. A medida foi tomada pelo Banco Central
para tentar equilibrar a balança de pagamentos.

1980 Através do Decreto n° 84.451 instituiu-se a nova regulamentação ao


passaporte brasileiro e extinguiu-se o visto de saída.

1885/1986 Liberação do mercado para o exercício e a exploração de atividades


turísticas e conseqüente redução da clandestinidade e aumento do número
de agências registradas.
continua na próxima página
54

1985 A EMBRATUR iniciou o projeto “Turismo Ecológico”, criando dois anos


depois a Comissão Técnica Nacional constituída em conjunto com o
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente - IBAMA
1987 Incorporação das leis ambientais na formulação das políticas públicas.
Lançamento do Turismo Ecológico como novo produto da Embratur.

1988 Citação do turismo na Constituição Brasileira em seu artigo 180 no qual se


atribuiu responsabilidades iguais a todos os níveis governamentais da área.
1992 O Turismo é integrado ao Ministério da Indústria e Comércio. É
apresentado o Plano Nacional de Turismo. Criado o Programa de
Desenvolvimento do Turismo e o Programa de Desenvolvimento do
Turismo no Nordeste - PRODETUR NE

1993/1994 Implantação do Prodetur NE, lançamento de diretrizes para uma Política


Nacional do Ecoturismo.

1994 Publicação das Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo pela
Embratur e Ministério do Meio Ambiente.

1994 Lançamento do PNMT

1996/2002 Criação do Ministério do Esporte e Turismo. Apresentação da nova Política


Nacional de Turismo (1996 -1999)

1997 Crescimento da oferta em serviços destinados ao lazer, turismo,


gastronomia, hotelaria.

2003 Criação do Ministério do Turismo, da Política do Turismo e do primeiro


Plano Nacional de Turismo com vigência de 2003 a 2007.

2007 II Plano Nacional de Turismo com vigência de 2007 a 2010.

2008 Criação da Lei Geral do Turismo n°11.771 de 17 de setembro de 2008.


Quadro 07: Cronologia do Turismo Brasileiro
Fonte: BRASIL, 2009; FERRAZ, 2000.

A expansão da atividade turística brasileira é recente, porém as condições


que possibilitaram sua evolução inserem-se na história nacional ao longo da
estruturação do setor de transportes, dos serviços urbanos, da organização dos
setores de alimentos e hospedagem que em conjunto deram condições de
atendimento a viajantes e turistas (BRASIL, 2009). Fatos marcantes como a abertura
dos portos brasileiros às nações amigas de Portugal em 1808 e a consequente
expansão e modernização dos demais portos brasileiros; o primeiro vôo entre os
Estados do Rio de Janeiro e São Paulo em 1914, a implantação da indústria
automobilística brasileira no governo de Juscelino Kubitschek afetararm
indiretamente o turismo brasileiro. Percebe-se também o viés das políticas públicas
voltadas aos setores rodoviários e aéreos nos fatos destacados.
55

Acerca do governo Juscelino Kubistchek, a economia sofreu manifestações


diversas. A industrialização tem seu momento áureo com a substituição das
importações, o que incrementa a infraestrutura do país e consequentemente a malha
rodoviária. Percebe-se também o início dos padrões de consumo de uma pequena
elite brasileira, e a atividade turística insere-se nesse contexto (BRASIL, 2009).

Nesse contexto de modernização nos setores público e privado e de


desenvolvimento de setores da economia, como comércio de serviços,
surge a iniciativa pioneira em desenvolver o setor do turismo no Brasil. Tal
ação ocorreu em agosto de 1963, com o I Simpósio Nacional de Turismo
[...] .Entretanto, foi no final da década de 1960, durante o regime militar
(1964 -1985) que o país pela primeira vez, obteve uma organização formal
no âmbito federal. (BRASIL, 2009, p. 37).

Costuma-se dividir o estudo do turismo brasileiro em fases para uma


compreensão (BENI, 2006). A primeira etapa até meados de 1966 foi marcada por
problemas políticos, repressão, centralismo administrativo. O turismo também foi
diretamente afetado dado o contexto negativo pelo qual o país de certa forma
passava. Por cerca de vinte anos, o Brasil passou por um período de estagnação em
relação ao turismo. No decorrer deste primeiro período do turismo brasileiro
destacam-se as seguintes ações: em 1938, é sancionado decreto-lei sobre a
autorização estatal para a exploração da atividade de venda de passagens para
viagens aéreas, marítimas ou rodoviárias, em 1958, é criada a COMBRATUR,
atribuindo-lhe a função do planejamento turístico para toda nação.
O segundo período ocorre a partir do Decreto-lei 55, de 1966, que implanta o
Sistema Nacional de Turismo o qual institui o Conselho Nacional do Turismo -
CNTUR e a EMBRATUR tendo sua sustentação com a criação dos fundos de
financiamento de projetos turísticos: FUNGETUR e Fundo de Investimento Setorial
de Turismo – FISET. Em 1977, a Lei 6505 trata das atividades e serviços turísticos,
as condições para seu funcionamento e fiscalização, enquanto a Lei 6513 aborda a
política de conservação do patrimônio natural e cultural com valor turístico,
acompanhando a Convenção do Patrimônio Mundial da United Nations Educational,
Scientific and Cultural Organization - UNESCO, de 1972.
Em 1980 inicia-se o processo de regulamentação da Lei 6505/77 com o
Decreto 84910, que trata dos meios de hospedagem de turismo, restaurantes e
acampamentos turísticos e o Decreto 84934, sobre as atividades e serviços das
agências de turismo. Em 1982, o Decreto 87348, trata das condições de prestação
56

de serviço de transporte turístico de superfície e , em 1984, o Decreto 89707 aborda


as empresas de organização de eventos.
A partir do decreto lei 2294/86 com texto que tornava livre o exercício da
atividade turística no país e a promulgação da constituição da República Federativa
do Brasil em 1988 que considera o turismo como fator de desenvolvimento social e
econômico encaminham o turismo brasileiro para o terceiro período no que tange
sua regulamentação. Ainda são fatos importantes na história do turismo brasileiro o
ano de 1991 e a lei 8181 que trata da mudança de nomenclatura da então Empresa
Brasileira a de Turismo para Instituto Brasileiro de Turismo e o ano de 1993 com a
regulamentação da profissão do guia de turismo através da lei 8623 regulamentada
pelo decreto 946. Finalizando o ciclo da regulamentação jurídica no país no governo
de Luis Inácio Lula da Silva é instituído em 2003 o Ministério do Turismo. A partir
daí, são elaborados os Planos Nacionais de Turismo 2003/ 2007 e o atual, 2007/
2010.
Criado em 2003, o Ministério é composto por duas secretarias nacionais, a
saber: Secretaria Nacional de Políticas do Turismo – (SNPT – MTUR) e a Secretaria
Nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo – (SNPDT - MTUR) além
da EMBRATUR (BRASIL, 2004a). É responsabilidade da SNPT – MTUR atuar na
política nacional relativa ao setor de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo
Conselho Nacional do Turismo bem como responder pela promoção interna e pelas
questões relacionadas à qualidade da prestação do serviço turístico brasileiro
(SANTOS, 2008).
Compete à SNPDT - MTUR o desenvolvimento da infraestrutura em locais
turísticos ou com potencial bem como a melhoria da qualidade dos serviços
prestados no âmbito da atividade turística. De acordo com Santos (2008), a
EMBRATUR, antiga Empresa Brasileira de Turismo a partir da criação do MTUR
passa a ser responsável pela promoção, criação de estratégias de marketing e apoio
à comercialização do destino turístico Brasil no exterior. Na figura a seguir, é
apresentada a estrutura em vigor do Ministério do Turismo brasileiro.
57

Figura 03: Gestão descentralizada do Ministério do Turismo brasileiro


Fonte: Brasil, (2009).

De acordo com a OMT (2001), para que efetivamente se alcance a gestão


responsável das políticas ligadas ao turismo, se faz necessária a integração de
todos os segmentos envolvidos. Cabe ao poder público o papel de incentivar e
apoiar o processo, estimulando a participação da sociedade por meio de construção
de consensos almejando assim a construção de produtos turísticos consonantes
com o meio ambiente e com as culturas locais (SANTOS, 2008).
Para o MTUR (BRASIL, 2008, p.70) o princípio da parceria, “diz respeito ao
estabelecimento de ligações e associações que permitam aos parceiros conhecer e
compreender melhor as necessidades dos outros”. Isso mostra os novos rumos de
pensamento na contemporaneidade, em relação à competição, expansão e
dominação, que abre precedente para a cooperação e tolerância entre os setores
envolvidos no processo (SANTOS, 2008). Desta forma, cabem aos governos o
estímulo e a incorporação dos preceitos constantes nas teorias do turismo de forma
que a prática possa acontecer, para, com isso, incorporar aspectos fundamentais
que levem a melhoria da qualidade de vida e a construção de uma visão em longo
prazo para o desenvolvimento do turismo (BRASIL, 2008).
58

2.6.1.2 Plano Nacional de Turismo

Dentre as ações empreendidas pelo MTUR, o Plano Nacional de Turismo


(PNT) apresenta-se como destaque desde a criação do referido Ministério. Em sua
segunda etapa, corresponde à execução entre os anos de 2007 a 2010 – o primeiro
PNT ocorre entre 2003 a 2007, é visto como uma continuidade das ações
empreendidas em sua primeira versão. Baseando em cinco pilares, o PNT está
centrado de acordo com o Ministério do Turismo em seu documento intitulado “Plano
Nacional de Turismo” e em Santos (2008) nas seguintes ações:

1. O Programa de Aceleração do Crescimento e o turismo – PAC (propõe ações,


metas e investimentos em infraestrutura na atividade, a fim de propiciar seu
desenvolvimento sustentável);
2. Diagnóstico turístico no contexto internacional;
3. A gestão descentralizada do turismo nos três níveis governamentais em conjunto
com a iniciativa privada e a sociedade civil;
4. A execução de 4 metas para o turismo: a efetivação de 217 milhões de viagens no
mercado interno, 1,7 milhão de novos empregos e ocupações, estruturação dos 65
destinos turísticos com padrão de qualidade internacional e geração de US$7,7
bilhões em divisas. (BRASIL, 2007, p. 59-79)
5. Macroprogramas e Programas (realização de 8 macroprogramas e 23 programas
estratégicos para o desenvolvimento de projetos, monitoramento e parcerias).
Dentro das cinco estratégias propostas pelo governo para a implantação do
PNT, a utilização de macroprogramas e programas, merecem destaque.
Majoritariamente foram elencadas as áreas de interesse a serem trabalhadas pelo
Ministério sendo delimitados oito macroprogramas e 23 programas distribuídos de
acordo com a relação existente em cada macroárea desdobrando-se em ações,
atividades e projetos com vistas ao alcance do objetivo definido em cada área de
atuação. Para uma melhor compreensão, apresenta-se abaixo a divisão existente
entre os macroprogramas e, por conseguinte os programas relacionados a estes.

I. Macroprograma: Planejamento e Gestão


Programa de Implementação e Descentralização da Política nacional de Turismo
Programa de Avaliação e Monitoramento do Plano Nacional de Turismo
59

Programa de Relações Internacionais


Preceitos: é a articulação de todos os outros macroprogramas, bem como dos
diversos stakeholders4 envolvidos;
II. Macroprograma: Informação e Estudos Turísticos
Programa Sistema de Informações do Turismo
Programa de Competividade do Turismo Brasileiro
Preceitos: refere-se à produção e gestão de informações nos diversos âmbitos, tanto
para o embasamento de decisões, como a produção de indicadores para a análise
do setor e seus impactos socioeconômicos, culturais e ambientais.
III. Macroprograma: Logística de Transportes
Programa de Ampliação da Malha Aérea Internacional
Programa de Integração na América do Sul
Programa de Integração Modal nas Regiões Turísticas
Preceitos: refere-se à importância dada ao setor de tranportes para o turismo na
condição básica de deslocamento dos turistas necessitando de ações específicas
para o êxito dos modais de transporte existentes no país;
IV. Macroprograma: Regionalização do Turismo
Programa de Planejamento e Gestão da Regionalização
Programa de Estruturação dos Segmentos Turísticos
Programa de Estruturação da Produção associada ao Turismo
Programa de Apoio ao Desenvolvimento Regional do Turismo
Preceitos: envolve desde a gestão descentralizada das regiões turísticas do país ao
ordenamento dos arranjos produtivos;
V. Macroprograma: Fomento à Iniciativa Privada
Programa de Atração de Investimentos
Programa de Financiamento para o Turismo
Preceitos: a atividade turística é executada pela iniciativa privada que requer a
disponibilização de crédito compatível com os diversos perfis de negócios. Por outro
lado, também deve ser contemplado o financiamento ao consumidor final para
facilitar o incremento das viagens internas;
VI. Macroprograma: Infraestrutura Pública
Programa de Articulação Interministerial para Infra-Estrutura de apoio ao Turismo

4
Termo usado na administração de empresas refere-se a qualquer pessoa ou entidade que afeta ou é
afetada pelas atividades de uma empresa; partes interessadas.
60

Programa de Apoio a Infra-Estrutura Turística


Preceitos: os destinos turísticos requerem infra-estrutura de apoio ao turismo que
demandam recursos financeiros de grande valor, gerenciados por órgãos públicos
não ligados ao turismo, o que exige ação inter setorial, a ser replicada nos estados e
municípios, bem como a busca de parcerias público-privadas;
VII. Macroprograma: Qualificação dos Equipamentos e Serviços turísticos
Programa de Normatização do Turismo
Programa de Certificação do Turismo
Programa de Qualificação Profissional
Preceitos: o padrão de qualidade desejado deve ter por base a satisfação dos
consumidores e os pressupostos do turismo sustentável, o que implica em
capacitação e treinamento contínuo, bem como no mapeamento do mercado de
trabalho em turismo;
VIII. Macroprograma: Promoção e Apoio à Comercialização
Programa de Promoção Nacional do Turismo Brasileiro
Programa de Apoio a Comercialização Nacional
Programa de Promoção Internacional do Turismo Brasileiro
Programa de Apoio à Comercialização Internacional
Preceitos: refere-se à promoção do turismo brasileiro tanto para o mercado interno
como para o mercado externo, incluindo ações de marketing, de comunicação e
divulgação.

De forma ilustrativa, apresenta-se abaixo a disposição dois oito programas em vigor


no MTUR:
61

Figura 04: Macroprogramas do Plano Nacional de Turismo 2007/2010


Fonte: Ministério do Turismo, (2009).

Ainda são contemplados no PNT onze produtos turísticos a serem


trabalhados no decorrer do período 2007 / 2010. Assim, baseando-se em elementos
identificadores de cada região turística do país foram definidos: Turismo Cultural,
Turismo Rural, Ecoturismo, Turismo de Aventura, Turismo de Esportes, Turismo
Náutico, Turismo de Saúde, Turismo de Pesca, Turismo de Estudos e Intercâmbio,
Turismo de Negócios e Eventos e Turismo de Sol e Praia (SANTOS, 2008).
Desse modo o governo tem como premissa a estruturação dos destinos
turísticos valorizando suas diversidades regionais. Além disso, o PNT 2007/ 2010
defende a função social do turismo por meio da inclusão social, além da prática
pautar-se pela ética nos moldes daqueles defendidos pela OMT. Nessa linha, o
turismo é entendido como:

uma importante ferramenta para o alcance dos objetivos de


desenvolvimento do milênio, particularmente com relação à erradicação da
extrema pobreza e da fome, à garantia de sustentabilidade ambiental e ao
estabelecimento de uma parceria mundial para o desenvolvimento.
(BRASIL, 2007, p.15)

Para fins deste estudo, merece destaque o macroprograma de número 4. O


mesmo foi subdividido em quatro áreas, a saber: programa de planejamento e
gestão da regionalização; programa de estruturação dos segmentos turísticos;
programa de estruturação da produção associada ao turismo e programa de Apoio
62

ao Desenvolvimento Regional do Turismo. A partir de uma nova estruturação, o


MTUR a partir de parcerias, lança o Programa de Regionalização do Turismo.

Este [programa] tem assessoramento do Núcleo Estratégico de Turismo


(Conselho Nacional de Turismo e Fórum Nacional de Secretários e
Dirigentes de Turismo) a nível federal; nos Estados tem apoio dos Órgãos
oficiais de turismo / Fórum Estadual de Turismo e parceiros e local, através
da unidade de Turismo do município, com o apoio de representatividade dos
segmentos sociais, econômicos e políticos locais. Propõe-se estratégias de
ação e gestão compartilhada, planejamento integrado e participativo e a
promoção e apoio à comercialização (SANTOS,2008 p.39).

Situado no macroprograma que trata do Plano Nacional de Turismo, baseia-


se em trabalhar o território como espaço de trocas e interações entre os homens
bem como incorpora o conceitos de se trabalhar a partir dos arranjos produtivos
locais (APL’S). Ainda se propõe a atividade turística sob o viés da segmentação haja
vista uma melhor organização da atividade com fins relacionado ao planejamento e
gestão. (SANTOS,2008)
63

2.6.1.3 Pernambuco para o mundo: plano estratégico do Turismo de


Pernambuco

Em 2006, ocorre a criação da Secretaria de Turismo - SETUR em


Pernambuco. Outrora atrelada a outras secretarias de Governo como a de
Desenvolvimento Econômico, a SETUR inicia seus trabalhos na busca de criar sua
identidade e acima de tudo posicionar Pernambuco em lugar de destaque e de
destino turístico consolidado no Nordeste, Brasil e no mundo. No ano de 2008, a
Política de Turismo estadual é contemplada com o Plano Pernambuco para o Mundo
com metas e diretrizes para o desenvolvimento do setor turístico de 2008 a 2020.

É preciso ressaltar que em nenhum momento pretende se sobrepor as


ações já em curso ou planejadas para o estado, o que deixa claro durante o
processo de construção das estratégias, quando sinaliza isso. Nesse
sentido, a SETUR e a EMPETUR tornam-se importantes protagonistas de
ações em curso e planejadas, bem como algumas outras secretarias
específicas, como aquelas relacionadas a ações de caráter infra-estrutural.
(PERNAMBUCO, 2008, p.01)

No plano em vigor, apresenta-se a importância da interiorização do turismo


em Pernambuco, meta esta consonante com os preceitos de desenvolvimento das
diferentes RDs do Estado. Dentro dessa dinâmica, o planejamento estratégico do
turismo em Pernambuco teve como mote a integração. Dessa forma, vai em direção
às diretrizes do atual governo do estado contemplando a necessidade de incremento
do número de destinos turísticos efetivamente comercializados, em todo o estado,
o que é fundamental, inclusive, para que a interiorização possa acontecer de
forma bem sucedida.
O documento apresenta-se dividido em três partes. Na primeira, é realizada
uma diagnose de como se dá a atividade turística no Estado. A segunda parte
contempla a visão de futuro e o cenário almejado para a ampliação da atividade do
turismo. Por fim, são elencadas as diretrizes estratégicas necessárias para a
consecução e, por conseguinte o êxito do planejamento.
Para fins deste estudo, será focado o plano em vigor, uma vez que o mesmo
apresenta ações voltadas ao implemento do Turismo em Bezerros – PE, município
onde localiza-se o distrito de Serra Negra. É válido e oportuno registrar a
importância da EMPETUR, enquanto órgão também responsável pelas políticas de
turismo do Estado.
64

Acompanhando as diretrizes estabelecidas pelo Governo brasileiro na década


de 60, é criada a Empresa de Turismo de Pernambuco no dia 3 de novembro de
1967, ligada à então Secretária de Indústria e Comércio. A principal finalidade
destinada à EMPETUR era a de executar uma política estadual de turismo, regida
pela Política Nacional de Turismo. A empresa é uma sociedade de economia mista,
regida pela Lei das Sociedades por Ações (Lei nº 6.404 de15/12/1976), pela
legislação específica à sua atividade e pelo presente Estatuto (KOVACS; SOUZA,
2009).
Dentre as premissas do Plano, destaque para o posicionamento do destino
turístico Pernambuco. É notório o grande apelo ao turismo de sol e mar amplamente
divulgado no país e no exterior colocando em evidência destinos já consolidados
como Fernando de Noronha e a praia de Porto de Galinhas. Do ponto de vista da
sustentabilidade da atividade em tais locais, a capacidade de carga dos destinos
encontra-se no limite de recebimento de turistas/visitantes. O plano prevê a inserção
do segmento cultural para equilibrar a visitação a outros destinos turísticos em fase
de crescimento no Estado a exemplo de Bezerros, Garanhuns e Brejo da Madre de
Deus. Some-se ao turismo cultural, a ampla possibilidade de trabalho com os
segmentos turísticos de eventos e negócios, natureza, segunda residência e rural.

O elemento cultura deve ser agregado ao sol e praia. O diferencial deste


elemento, ao contrário das tentativas feitas anteriormente, deve estar na
cultura popular imaterial, seja ela composta por manifestações
permanentes ou esporádicas. A cultura popular material, especialmente
identificada pelo artesanato, deve ser agregada como elemento
complementar a esse diferencial. Pernambuco deve utilizar como elemento
diferencial a conjugação “sol e praia com cultura”, para um público
específico de sol e praia com interesse complementar em cultura,
mantendo o primeiro elemento ainda como principal oferta. Por outro lado,
também deve se focar em um público interessado majoritariamente no
aspecto cultural com a oferta “cultura agregada a sol e praia”, sendo a
primeira o elemento de atração, mas a última, o grande diferencial
complementar de outros destinos “culturais”. (PERNAMBUCO, 2008, p.7).

A implantação das estratégias do Plano Estratégico do Turismo


pernambucano leva em consideração 11 pressupostos, a saber, (PERNAMBUCO,
2008, p.6):

I. Preservação da natureza e manutenção da biodiversidade.


II. Valorização da diversidade cultural tangível e intangível das comunidades.
65

III. Incentivo à construção de equipamentos e estruturas físicas economicamente


viáveis e integradas à paisagem (natural ou urbana) em que se situam.
IV. Incentivo à criação de produtos turísticos voltados para diferentes públicos,
considerando turistas locais, regionais, nacionais e internacionais.
V. Incentivo ao desenvolvimento de nichos de mercado alternativos ao turismo
de massa.
VI. Fomento à ampliação espacial dos destinos turísticos do estado, visando à
interiorização e desconcentração da atividade.
VII. Expansão das possibilidades de emprego e renda para a população do
estado.
VIII. Investimento nos recursos humanos como forma de desenvolvimento do
turismo.
IX. Busca pela qualidade na prestação dos serviços turísticos.
X. Cooperação entre setores público, privado e terceiro setor em nível municipal,
regional, estadual e nacional.
XI. Atuação conforme marcos regulatório e legal do estado, considerando
peculiaridades locais e regionais.

Para o desenvolvimento de um turismo de forma equilibrada para todo o


estado, o plano estratégico prevê a divisão dos municípios com potencial turístico
em áreas prioritárias para o desenvolvimento. Nesta divisão, Bezerros enquadra-se
no nível de desenvolvimento III.

Composto por destinos que já têm algum fluxo turístico e apresentam algum
potencial turístico, mas que não possuem um desenvolvimento organizado.
São destinos que atraem um fluxo majoritariamente local e/ou regional, mas
que tem potencial para se consolidar junto a este público e, eventualmente,
até mesmo atingir público nacional/internacional. O tipo e o nível de
desenvolvimento destes municípios são bastante diversos, inclusive em
função do tipo de atratividade de cada um deles, indo desde segunda
residência até negócios. Entretanto, todos têm em comum a necessidade de
uma grande estruturação, tanto em termos de estrutura física e
desenvolvimento de atrativos, quanto em termos de organização
estratégica. As áreas que englobam este nível de desenvolvimento são:
municípios do Agreste 1 (Caruaru, Gravatá, Garanhuns, Bezerros,Bonito,
Brejo da Madre de Deus) e Petrolina. (PERNAMBUCO, 2008, p.09).

O quadro a seguir apresenta os municípios envolvidos em cada área de


desenvolvimento e os municípios indutores do turismo. Destaca-se que em relação
66

ao nível de desenvolvimento em que Bezerros foi enquadrado, o mesmo não foi


elencado como município indutor sendo Caruaru e Gravatá escolhidos para tal ação.

Tabela 01: Níveis de desenvolvimento e municípios indutores do desenvolvimento


Fonte: Pernambuco, (2008).

O plano estratégico apresenta os segmentos do turismo encontrados no


Estado ou aqueles com potencial possibilidade de ocorrência. São elencados os
segmentos de sol e praia, cultura, eventos e negócios, segunda residência, natureza
e meio rural (PERNAMBUCO, 2008). Em se tratando de Serra Negra é plenamente
plausível a execução destes dois últimos segmentos.

[turismo de natureza] é o segmento motivado pelo contato com a natureza,


seja ele possibilitado pela realização de atividades pró-ativas, tais como
trilhas e mergulho, ou pela simples observação de paisagens. O principal
fator de atração é um ambiente natural singular, com diferenciais latentes.
Trata-se de um público especializado, cujo interesse central não é apenas o
descanso, mas também a interação com o meio ambiente. O segmento
ainda é pouquíssimo explorado em Pernambuco, que conta com diversos
recursos relacionados à biodiversidade marinha, sertão e caatinga, entre
outros. [o turismo de meio rural] È caracterizado por possibilitar contato
entre o visitante e o meio rural, comumente contemplando a visitação de
áreas produtivas. Um dos traços marcantes da atividade é o contato que
proporciona entre receptor e visitante, que interagem no espaço da
propriedade rural. É grande o cunho pedagógico deste segmento, ainda
pouco desenvolvido em Pernambuco, apesar de já vislumbrado por alguns
tipos de empreendimentos, como os engenhos.(PERNAMBUCO, 2008,
p.12).
67

Quanto os cenários de desenvolvimento propostos, Bezerros por se


enquadrar no nível de desenvolvimento III e participar da área Agreste I, teve suas
ações prioritárias enquadradas no período 2011 -2015. O plano focou-se em
delimitar as ações em três níveis distintos: curto prazo (2008/2010) abrangendo os
locais prioritários para o turismo do estado (Fernando de Noronha, Região
metropolitana do Recife, Ipojuca, Litoral Sul, Litoral Norte e Mata Norte; médio prazo
(2011 /2015), agrupando as mesmas destinações contempladas a curto prazo
somando-se as cidades do agreste I e Petrolina e para as ações de longo prazo
(2016/2020) enquadram-se as localidades já elencadas somando-se ao agreste II e
ao Sertão I.

Em médio prazo, até o final do ano de 2015, serão empreendidas no estado


de Pernambuco ações que possibilitem que os principais destinos turísticos
do estado, já razoavelmente estruturados, se posicionem adequadamente
frente a seus mercados emissores. Neste período também será observado
um completo reposicionamento do Litoral Norte, em termos mercadológicos
e, principalmente, estruturais. Ações com vistas ao resgate do destino serão
empreendidas de modo que, ao final do médio prazo, seja possível sua
comercialização efetiva. Também será visível, em médio prazo, maior
estruturação para o turismo nos municípios do Litoral Sul, Agreste 1 (grifo
da autora) e para o município de Petrolina. Estes municípios se constituem
em destinos turísticos de algum destaque em âmbito estadual, porém têm
notável potencial para ampliação de seu desenvolvimento, o que deve ser
vislumbrado nas ações relativas a ele. pleno desenvolvimento de um
destino.(PERNAMBUCO, 2008, p. 24).

No tocante ao êxito de tais ações, o Plano Estratégico de Turismo de


Pernambuco prevê o aporte de aproximadamente R$ 19 bilhões no turismo estadual
até o ano de 2020 (tabela 02), sendo este valor divididos entre os setores público e
privado. O cenário observado ao final de 2020 será decorrente de todas as ações
traçadas pelo presente plano, em curto, médio e longo prazo. Neste ano será
possível visualizar o turismo em Pernambuco equivalente àquele planejado no ano
de 2007, ainda que com ações a serem abrangidas em prazos mais extensos
(PERNAMBUCO, 2008).
68

Tabela 02: Investimentos por polo e por setor, até 2020 (em R$ milhões)
Fonte: Pernambuco, (2008).

Parte deste investimento será utilizado em obras de infraestrutura a exemplo


de saneamento básico e intervenções urbanas. Com isto, espera-se um aumento
gradativo no número de turistas em Pernambuco com a intenção de no ano de 2020
o estado receber mais de nove milhões de pessoas. Percebe-se que com o
investimento primariamente em ações voltadas para questões básicas, não somente
os turistas, mas os moradores dos municípios serão beneficiados e desta forma se
poderá ter um aumento em termos de visitação e por conseguinte de renda em
Pernambuco.
69

3 Caracterização do espaço estudado


Inserido na Região de Desenvolvimento (RD) do Agreste Central, segundo
divisão territorial adotada pela Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de
Pernambuco - Condepe Fidem (2010), microrregião Vale do Ipojuca, Bezerros se
apresenta como um dos municípios interioranos de maior destaque em Pernambuco,
por conta de suas vocações econômicas e naturais, a exemplo dos municípios
vizinhos Caruaru e Gravatá.
A formação do agrupamento que resultou na atual configuração da cidade de
Bezerros remonta ao ano de 1740, a partir da subdivisão das terras pertencentes
aos irmãos José e Francisco Bezerra. O povoamento ocorreu ao redor da Capela de
São José, gerando o núcleo urbano de maior expressão, atual sede do município,
com uma área de, aproximadamente, sete quilômetros quadrados (PLANO DE
DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DE BEZERROS, 2006). Limita-se, ao Norte,
com Cumaru e Passira; ao Sul, com São Joaquim do Monte e Agrestina; ao Leste,
com Gravatá, Sairé e Camocim de São Félix e, por fim, ao Oeste, com Riacho das
Almas e Caruaru. O clima predominante é o semiárido, com temperatura média
anual de 24ºC e precipitação pluviométrica de 581 milímetros (PLANO DE
DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DE BEZERROS, 2006).

Figura 05: Vista do município de Bezerros (Pernambuco).


Fonte: http://www.lenilson.com.br/wp-content/uploads/2010/05/4301_bezerros.jpg.
Acesso em 17 jul.2010.
70

Com distância de 102 quiliômetros (km) do Recife, 31 km de Caruaru e 23 km


de Gravatá e possuindo altitude de 471 metros, latitude 08 graus 14 min 00 seg e
longitude 35 graus 47 min 49 seg, o município, de acordo com IBGE possui 58.675
habitantes em 2010, sendo deste total 84,78 % residentes na área urbana e 15,22%
na área rural.
A população bezerrense se divide pelos 545,7 quilômetros quadrados (km²)
que formam o município, área que representa 5,4% da RD, sendo o sétimo
município em superfície de Pernambuco. Da área total, 35 km², o equivalente a
6,41%, correspondem à área urbana definida legalmente pele Lei Municipal nº. 540,
de 30 de novembro de 1998, a chamada Lei do Perímetro Urbano. Por esta
legislação e pela Lei Municipal nº 541 de 30 de novembro de 1998, o perímetro
urbano está dividido em Unidades Espaciais denominadas Bairros e Loteamentos.
Dessa área legal, 7,2 km² (20,6%) está efetivamente ocupada, correspondendo ao
núcleo urbano real. (PLANO DE DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DE
BEZERROS, 2006).

Figura 06: Mapa - vias de acesso à Bezerros


Fonte: http://www.bezerros.pe.gov.br/BezerrosCaracteristicas.aspx.2010. Acesso em 10
ago.2010
71

Outra divisão é a que elenca o território bezerrense em distritos e povoados,


de acordo com o Decreto Municipal nº. 460, de 30 de agosto de 2005 (PLANO DE
DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DE BEZERROS, 2006). Os núcleos de
ocupação na área rural, distritos e povoados têm características físico-ambientais
diversas, mas seus aspectos morfológicos e tipológicos os qualificam com
características da ambiência rural. Dessa forma, tem-se:

Distritos Povoados
Sede Areias
Boas Novas Jurema
Sapucarana Poção
Cajazeiras Varzinha
Sítio dos Remédios
Serra Negra
Encruzilhada de São João

Quadro 08: Distritos e povoados de Bezerros


Fonte: Adaptado do Plano de Desenvolvimento Integrado de Bezerros, (2006)

Figura 07: Distrito de Serra Negra, Bezerros


Fonte: a autora, (2010).
72

Outra forma de ilustrar a divisão espacial do município de Bezerros é através


da ilustração abaixo, onde é possível identificar os limites entre os distritos e
povoados, no âmbito intramunicipal, bem como os municípios vizinhos.

Figura 08: Mapa da Divisão Administrativa de Bezerros


Fonte: Plano de Desenvolvimento Integrado de Bezerros, (2006).

A Planta Diretora do Município de Bezerros, Lei Municipal nº 700, foi instituída


como documento preliminar do Plano Diretor de Desenvolvimento, no dia 30 de
dezembro de 2003. Foi ela quem norteou a ação pública reguladora sobre os
processos de parcelamento, uso e ocupação do solo dos espaços urbanos do
município (Artigo. 30). No Artigo 20, ficou previsto que o Plano Diretor
complementaria os estudos e propostas da Planta Diretora. (Plano DE
DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DE BEZERROS, 2006)
No Capítulo III do plano, que trata da Organização Territorial e do
Zoneamento, foi determinada a divisão de Bezerros nas seguintes áreas: Área
Urbana (AU); Área de Expansão Urbana (AEU); e Área Rural (Art. 50). A partir dos
artigos 60, 70, 80, 90 e 100 são apresentadas as subdivisões de cada uma dessas
áreas em zonas, setores, regiões e núcleos. Por essa metodologia, chega-se às
Zonas de Atividades Especiais (ZAE), áreas cuja conformação ambiental e/ou
atividades existentes as caracterizam para fins específicos. As ZAEs, por suas
características, se dividem em três setores:
73

Setor Finalidade

Compreende o pólo turístico de Serra Negra e


seu entorno imediato (raio de 150,00 m).
Nele, deverá ser consolidado o uso de apoio
a eventos turísticos, e complementada a
Setor de Interesse Turístico (SIT) infraestrutura, levando em consideração a
singularidade ambiental e paisagística da
área.

Corresponde ao arruado principal do povoado


de Serra Negra, que emoldura o acesso ao
Setor de Preservação Cultural (SPC) pólo turístico. Por tal situação, propõe-se a
preservação da morfologia atual com a
manutenção da volumetria e das fachadas,
garantindo a permanência da ambiência
singular. Também se prevê o incentivo à
instalação de serviços de apoio turístico, que
envolvam os hábitos culturais da comunidade.

Constituído por faixas de amortecimento entre


as áreas urbanizadas e os cursos d’água.
Setor de Preservação Ambiental (SPA) Para tais áreas, almeja-se a manutenção da
ambiência, com tratamento para utilização
como espaços de lazer e convívio da
comunidade, e equipamentos de apoio
turístico.

Quadro 09: Zonas de Atividades Especiais de Bezerros


Fonte: Plano de Desenvolvimento Integrado de Bezerros, (2006).

Sobrepostas às regiões definidas no quadro acima, “correspondendo às


faixas altimétricas mais elevadas, há uma zona com vegetação mais densa e de
porte mais elevado, típico de mata serrana, disjunções da floresta tropical atlântica”
(PLANO DE DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DE BEZERROS, 2006). Por tal
situação, delimitou-se essas faixas de Área de Preservação da Paisagem-APP.
Embora não constitua uma zona específica, o poder público municipal recomenda,
nesta área, ações, usos e ocupação que promovam a conservação e o manejo
adequado do ecossistema.

Em toda a Área Rural deverão ser observadas as áreas de proteção


permanente, aqui chamadas de Área de Proteção dos Recursos Hídricos
(APRH), ao longo das margens dos riachos e açudes, conforme o Código
Florestal Brasileiro (Lei Federal nº 4.771/1965). (PLANO DE
DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DE BEZERROS, 2006, p. 113)

Segundo o Plano de Desenvolvimento Integrado de Bezerros: texto base do


plano diretor (2007, p. 15), as “Zonas Especiais compreendem áreas do território
que exigem tratamento especial na definição de parâmetros reguladores de usos e
74

ocupação do solo, sobrepondo-se ao zoneamento”. Por critérios de agrupamentos,


tem-se:

Zonas Especiais de Interesse Social – ZEIS;


Zona Especial de Atividades Múltiplas - ZEAM;
Zona Especial de Interesse Cultural - ZEIC;
Zona Especial de Dinamização Econômica – ZEDE;
Zona Especial de Uso Sustentável - ZEUS.
Zona Especial de Estruturação Turística – ZET;
Zona Especial de Serra Negra – ZESN.
Zona Especial de Interesse Agroecológico – ZEIA

A Zona Especial de Serra Negra (ZESN) “compreende o polo turístico de


Serra Negra e seu entorno, delimitado, preliminarmente, a partir da cota altimétrica
de 750 m, e as margens da estrada vicinal de acesso ao povoado de Serra Negra”.
(PLANO DE DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DE BEZERROS: TEXTO BASE
DO PLANO DIRETOR, 2007, p.23). São objetivos da ZESN:

I - Incentivar a implantação de pousadas, condomínios rurais e equipamentos de


apoio ao agro-eco-turismo;
II – Promover investimentos em infra-estrutura, levando em consideração a
singularidade ambiental e paisagística da área, para eventos turísticos;
III - Promover a conservação e recuperação ambiental de áreas indevidamente
ocupadas;
IV – Compatibilizar o uso dessas áreas com os objetivos de conservação dos
sistemas ambientais;
V – Desenvolver atividades de educação e interpretação ambiental;
VI - Promover adequação das condições de saneamento ambiental e de mobilidade;
VII – Elaborar Plano de Desenvolvimento Sócio-econômico Sustentável.
75

3.1 Indicadores sociais, econômicos e turísticos

A RD do Agreste Central (figura 10), que reúne 26 municípios, está localizada


na mesorregião do Agreste Pernambucano, é caracterizada pela exploração
agrícola, pela pecuária e pelas atividades de comércio e serviços associados aos
centros urbanos. Tais centros são caracterizados, também, por sua função comercial
com a existência de pequenas indústrias, agroindústrias, comércio em geral e
fábricas de artesanatos que atraem grande fluxo turístico. O grande indutor do
desenvolvimento econômico é o Pólo de Confecções, cujo maior ícone na produção
de vestuário e produtos têxteis é Caruaru.

Figura 09: Região de Desenvolvimento do Agreste Central de Pernambuco


Fonte: Plano de Desenvolvimento Integrado de Bezerros, (2006).

Com a duplicação da BR-232, a principal via de acesso ao interior


pernambucano, no sentido leste-oeste, o deslocamento rodoviário ficou mais rápido,
facilitando o incremento no fluxo de turistas e visitantes. Seguindo a rota a partir da
capital Recife, rumo ao Agreste, Bezerros se posiciona estrategicamente entre
Gravatá, um centro de repouso e lazer, além de um pólo moveleiro, e Caruaru,
grande polo comercial da região, fator que tende a transformar o município em
“Vitrine Regional”. (Plano de Desenvolvimento Integrado de Bezerros, p. 10).
76

O Município possui uma posição territorial estratégica no contexto regional,


e grandes potenciais turístico-culturais, que destacam o município na
dinâmica regional. O Pólo Turístico de Serra Negra, o Pólo Gastronômico
de Encruzilhada de São João, as manifestações culturais (Papangú, doces
e bolos artesanais, Xilogravura, entre outros) além da crescente produção
agrícola do Distrito de Sapucarana e a produção apícola de Serra Negra, e
estrutura disponível no Distrito Industrial, abrem um grande leque de
possibilidades de desenvolvimento, se devidamente estimulados e
articulados.” (PLANO DE DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DE
BEZERROS, 2006, p. 11).

Segundo estudo dos impactos socioeconômicos e espaciais do Projeto de


Duplicação da Rodovia elaborados pela Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da
Universidade Federal de Pernambuco – FADE/UFPE a BR-232 apresenta-se como
um fator potencial ainda não devidamente explorado para a dinamização econômica
urbana municipal.
Somente para o município dos Bezerros, as novas faixas introduzidas pela
obra na rodovia poderiam gerar uma taxa de crescimento da renda pessoal
disponível de 15,79 %, sendo o segundo em termos de impacto, perdendo apenas
para Pombos. Segundo este mesmo estudo, haveria um crescimento de 11,79 % na
taxa de emprego para Bezerros, sendo o quarto município em taxa de crescimento,
após Vitória, Gravatá e Pombos. A renda per capta teria um crescimento de 3,14%.
(PLANO DE DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DE BEZERROS, 2006)
Em virtude das características macro da RD Agreste Central, Bezerros possui
um grande potencial de crescimento e desenvolvimento pautado na dinamização
das atividades agrícolas caracterizada pela expressiva produção do tomate no
Distrito de Sapucarana, pela produção de mel em Serra Negra e também de outras
culturas tais como couve-flor, repolho, milho e feijão, além da produção pecuária
(caprinos, bovinos, ovinos, suínos e aves), do comércio (confecções, panificadoras,
lojas de artesanato e produção agrícola), das pequenas e médias indústrias
(cerâmicas, plástico, pré-moldados, serrarias) e agroindústrias (doces, bebidas) e
pelo potencial turístico cultural e as relacionadas (hospedagem e alimentação).
(PLANO DE DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DE BEZERROS, 2006).
Atualmente, os principais atrativos de Bezerros são o Centro de Artesanato de
Pernambuco (figura 11), empreendimento administrado pela Agência de
Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (AD Diper) que oferece uma vasta
exposição de obras de artistas regionais e que também é um espaço onde se
77

realizam encontros, oficinas, exposições, e o distrito de Serra Negra, com suas


riquezas naturais.

Figura 10: Centro de Artesanato de Bezerros


Fonte: http://www.bezerros-pe.hpg.ig.com.br/. Acesso em 27 jul.2010.

A partir de 1997, o município iniciou sua participação no Programa Nacional


de Municipalização do Turismo - PNMT, adotando os critérios do Instituto Brasileiro
de Turismo – EMBRATUR. Um dos objetivos do PNMT se pautava na promoção do
desenvolvimento dos municípios brasileiros, a partir de estímulos à cidadania, à
participação social nos processos decisórios e nas atitudes sustentáveis,
aproveitando como instrumento a atividade turística (BRASIL, 1998, apud SILVA,
M.H.,2003).
Com o advento do PNMT, naturalmente, Bezerros intensificou investimentos
em melhorias para a população, abrangendo, sobretudo, aspectos culturais,
econômicos, estruturais e ecológicos. Os papangus, figuras marcantes do município,
por exemplo, passaram a ser divulgados e valorizados com maior intensidade,
reforçando a identidade cultural (figura 11).
78

Figura 11: papangu de Bezerros


Fonte: http://www.carnavaldebezerros.com.br/2010/. Acesso em 10 ago.2010.

Concomitantemente, foram criadas as Associações dos Artesãos de Bezerros


(AAB) e Associação dos Proprietários de Bares, Restaurantes, Hotéis e Pousadas
(ABRESPOH), com o propósito de auxiliar seus associados nas tomadas de
decisão, visando a um melhor aproveitamento e retorno de suas atividades (SILVA,
M.H.2003).
Com vistas a implantar uma sinalização turística especial para as praças do
município, a adoção de placas em talha foi uma das ações executadas por artesãos
locais (figura 12). Ainda foram confeccionadas sinalizações para as ruas e as
avenidas e a instalação de tambores de lixo pintados pelos artistas da cidade dando
ênfase a figuras de papangus (SILVA, M.H.2003).
79

Figura 12: Sinalização turística da praça Narciso Lima, Bezerros.


Fonte: http://bezerrosonline.com/localizacao.php. Acesso em 10 ago.2010.

Em 1999, cria-se o Conselho Municipal de Turismo. O estado possuía um


total de 10 municípios com conselhos de turismo formados. Posteriormente e ainda
dentro das ações do PNMT, o município recebe o título de cidade modelo do PNMT,
“graças, principalmente às ações integradas de seus atores sociais, a saber,
comunidade, monitores municipais, poder público, dentre outros”. (SILVA, M.H.2003,
p.54).Em 2002, o recebimento do Selo de Ouro Turístico através da EMBRATUR
destaca mais uma vez o município em termos de excelência na atividade turística.
Com a finalização do PNMT, as atividades turísticas locais passaram a
pautar-se no Plano Nacional de Turismo – PNT. Bezerros teve ampliada a
quantidade de meios de hospedagem e a oferta de leitos, na tentativa de suprir a
crescente demanda turística visitante (tabela 03). Hoje, adicionalmente, no período
de carnaval, a Secretaria de Turismo Municipal efetua o cadastramento de casas a
serem alugadas, por conta do esgotamento das hospedagens nos hotéis da cidade.
80

Tabela 03: Oferta dos meios de hospedagem de Pernambuco


Fonte: Empresa de Turismo de Pernambuco – EMPETUR, (2009).
81

3.2 Serra Negra

O Distrito de Serra Negra destaca-se dos demais por ter uma vocação
turística, devido ao patrimônio ambiental e paisagístico representativo do seu
entorno (figuras 13 e 14). Localizado a 10 km da Sede, numa altitude aproximada de
960 m, é uma região montanhosa do Planalto da Borborema, com deslumbrantes
paisagens típicas do Agreste e do ecossistema brejo de altitude, cercada de floresta
tropical com vestígios de Mata Atlântica, onde se encontram espécies raras de fauna
e flora. É nele que está a nascente do riacho Cacimba do Gato.

O município possui um dos ecossistemas mais ricos do Planeta, que são


os brejos de altitude. Os brejos, ecossistemas associados à Mata Atlântica,
são “áreas de exceção” dentro do domínio do semi-árido (Lins, 1998).
Quando comparado a regiões semi-áridas, os brejos possuem condições
privilegiadas quanto à umidade do solo e do ar, temperatura e cobertura
vegetal (Andrade – Lima 1996). Nesses ecossistemas, a relação floresta –
água é marcante, onde o equilíbrio do ciclo hidrológico depende da
conservação simultânea de ambos (Braga et al 2004). (PLANO DE
DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DE BEZERROS, 2006, P 40).

Figura 13: Vista do distrito de Serra Negra, Bezerros


Fonte: a autora, (2010).
82

Figura 14: Vista do distrito de Serra Negra, Bezerros


Fonte: a autora, (2010).

Segundo o Plano de Desenvolvimento Integrado de Bezerros, os brejos de


altitude:
foram reconhecidos pela Unesco, pelo Programa da Reserva da Biosfera da
Mata Atlântica, como ecossistemas prioritários para a manutenção da
biodiversidade. Tal documento também aponta que “a ação antrópica e a
ausência de medidas protecionistas têm contribuído para a degradação
ambiental dos brejos de altitudes. (PLANO DE DESENVOLVIMENTO
INTEGRADO DE BEZERROS, 2006, P 40).

O Mapa de Áreas Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade da Mata


Atlântica, também indica o Brejo da Serra Negra como de extrema importância
biológica. Essa avaliação foi resultante de estudos elaborados por especialistas e
pesquisadores brasileiros em workshops realizados pelo Ministério do Meio
Ambiente - MMA, estando registrada no documento Avaliação de Áreas Prioritárias
para a Conservação da Biodiversidade da Mata Atlântica e Campos Sulinos, de
2000.
Serra Negra tem clima diferenciado, com temperatura entre 9 ºC a 25 ºC,
possui raras espécies da flora e fauna. Por tais singularidades, apresenta interesse
antrópico turístico, com destaque para os seguintes pontos de visitação: Caverna do
Deda, Pedra Pintada, Pedra do Tubarão, Mirante São Francisco, Capela São
Francisco Xavier, Mirante Antena, Pólo Cultural, Pedra Cortada e Pedra do Amor,
entre outros. (PLANO DE DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DE BEZERROS,
2006).
83

A Caverna do Deda é um dos locais mais visitados em Serra Negra. Tem seu
nome originário de uma homenagem ao já falecido herdeiro Major Manuel
Laurentino que adquiriu as terras nos meados do século XVII, para o cultivo do café
e da Banana. Na década de 80, o local já recebia pessoas que tomavam banho de
açude, além de apreciarem a beleza cênica do local. A gruta, na realidade um
grande afloramento em rocha cristalina, destaca-se por seu mirante localizado em
um dos pontos mais altos de Serra Negra, com cerca de 960m de altitude e de
aproximadamente 400m de altura em relação à cidade de Bezerros.
A vegetação e marcada por trechos de mata de altitude, árvores e arbustos
espaçados, ocorrendo ainda vegetação rasteira, cactáceas e bromélias. No entorno
da serra aparecem longos trechos de caatinga arbustiva complementando o
interessante atrativo da Gruta do Deda, que é formada por superposições de rochas
graníticas, apresentando formação estreita e alongada, com vários pequenos blocos
de rochas no interior. (www.laurentur.com.br. Acesso em 20 ago.2010.). Sua largura
é de aproximadamente 5 metros e sua extensão de 25metros. A abertura que lhe
acessa conta com aproximadamente 1metro de altura chegando a 7 metros em seu
interior. Na caverna localizada abaixo do bloco rochoso que dá origem ao mirante, é
possível, por exemplo, praticar esportes de aventura, como o rapel. Por se tratar de
um brejo de altitude em transição a Serra Negra tem um clima ameno sendo
registradas temperaturas de nove graus.
A região apresenta-se como importante trilha do turismo ecológico, possuindo
grutas, cavernas, mirantes e um rico potencial hídrico, com açudes e fontes de água
cristalina. O povoado também é objeto de estudo para a implementação do turismo
rural cooperativo, atividade já desenvolvida por algumas famílias do local. No
entanto, nesses aglomerados ressalta-se a inadequação de infraestrutura,
“requerendo estas áreas investimentos, principalmente, de saneamento ambiental e
de mobilidade e o ordenamento dos processos de transformações e ocupações de
modo a evitar inadequações infra-estruturais e ambientais”. (PLANO DE
DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DE BEZERROS, 2006).
Tal cenário pode ser exemplificado com a visitação descontrolada, a
ocupação por habitações muitas vezes não licenciadas, edificações de hotéis e
pousadas, e a extração predatória de recursos naturais para fins comerciais. Some-
se a isso o fato de que Serra Negra apresenta, também, forte ação antrópica para
fins agrícolas.
84

Mesmo com a implantação do Parque Ecológico Serra Negra, Decreto Lei


036/89, transformando parte da área da Serra Negra em Unidade de Conservação
Municipal, medida tomada pelo poder público, a área encontra-se em processo de
degradação e descaracterização, em virtude da especulação imobiliária e de
diversas atividades agrícolas.

Existe um processo de descaracterização da ambiência natural com perda


da biodiversidade de ecossistemas importantes como os brejos de altitude,
onde se localizam a Serra Negra, a Serra das Vertentes e a Serra da
Camaratuba, incluindo nesse contexto a área do Parque Ecológico Serra
negra, induzido pela ocupação desordenada do solo por construções de
imóveis para segunda residência e pousadas, nem sempre licenciadas.
Somando-se ao uso para fins agrícola. (PLANO DE DESENVOLVIMENTO
INTEGRADO DE BEZERROS: RELATÓRIO DOS EIXOS
ESTRATÉGICOS, 2007, p. 30).
85

4 Metodologia

Os procedimentos metodológicos ora adotados foram escolhidos a partir da


delimitação dos objetivos e da definição da proposta de estudo. Some-se a isto a
escolha mais adequada dos instrumentos de coleta de dados junto à amostra a ser
estudada dada a importância destes na construção do presente documento.
Dessa forma, a dissertação desenvolvida no Distrito de Serra Negra ocorreu
através da execução de diversas etapas na busca de um resultado satisfatório como
descrito na figura 15:

Figura 15: esquema - processo de pesquisa em Turismo


Fonte: Organização Mundial do Turismo, (2006).
86

Percebe-se que a partir do viés da dedução, método de abordagem a ser


utilizado no presente estudo, parte-se de teorias e leis mais gerais para que se
verifique a ocorrência do fenômeno particularmente. Em seguida, definem-se os
processos de pesquisa a serem utilizados. O uso de referencial bibliográfico acerca
do tema trabalhado disponível em livros, teses, dissertações, artigos científicos
acerca da temática bem como leis nacionais, estaduais e municipais serviram como
embasamento teórico para a estruturação do presente trabalho.

4.1 Classificação da pesquisa

Vale salientar que para fins de um melhor entendimento, este estudo de


acordo com a classificação dos tipos de pesquisa proposta por GIL (2002) adotará
os preceitos que mais se aproximem de seus objetivos e da proposta apresentada.
Define-se para esta dissertação uma pesquisa aplicada ,uma vez que, tem
por objetivo a geração de conhecimentos para uma aplicação prática dirigida à
solução de um problema específico, quer seja o apontamento de possíveis
estratégias a serem realizadas em Serra Negra no tocante a um melhor
aproveitamento do local bem como a apresentação de proposições pautadas no viés
turístico atrelado às questões da sustentabilidade.
Quantos aos objetivos do estudo, a pesquisa será do tipo descritiva por ter
como objetivo maior a descrição de características de determinadas populações ou
fenômenos. Vale salientar que este tipo de pesquisa tem como base o uso de
técnicas padronizadas de coleta de dados como a observação sistemática também
conhecida por observação estruturada, planejada ou controlada. A pesquisa
exploratória visa proporcionar uma maior aproximação com o problema estudado
com vistas a torná-lo explícito ou construir hipóteses. “Envolve o levantamento
bibliográfico, entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o
problema pesquisado e análise de exemplos que estimulem a compreensão”. (GIL,
2002).
No que concerne a estratégia de pesquisa, foi adotado o estudo de caso. De
acordo com GODOY (1995), o estudo de caso objetiva proporcionar a vivência da
87

realidade por meio da discussão, análise e tentativa de solução de um problema


extraído da vida real. Ainda complementa que, a adoção do enfoque exploratório por
parte do pesquisador necessita que este esteja atento aos novos elementos e
dimensões que podem surgir no decorrer do trabalho, sendo esta multiplicidade de
informações e o contexto em que estas surgem tão importantes para a efetivação do
estudo.
Neste tipo de pesquisa, conforme GODOY (1995), os dados não são
analisados por meio de instrumentos estatísticos, pois a mensuração e a
enumeração não são o foco deste tipo de pesquisa. O ambiente natural é a fonte
direta da coleta de dados e a participação do pesquisador imprescindível. As
pesquisas qualitativas assumem em sua maioria o caráter exploratório. Adequando-
se ao estudo em questão utilizou-se a pesquisa qualitativa, pelo fato de ser
considerada a mais adequada para estudos sobre o turismo, pelo caráter subjetivo
que busca captar ao máximo a realidade. Procedimentos qualitativos focalizam as
peculiaridades e as relações entre os elementos. A interpretação dos resultados
pode ser realizada por meio do emparelhamento ou a construção interativa das
explicações (LAVILLE; DIONNE, 1999).

4.2 Sujeitos da pesquisa

No tocante à execução da pesquisa em si, no que diz respeito à escolha dos


sujeitos participantes, uma das preocupações deste estudo foi submeter a um
equilíbrio em termos de quantidade os atores pesquisados. Tal fato é relevante no
que diz respeito à apuração dos dados obtidos o que influenciaria diretamente as
assertivas estudadas.
Assim, os atores escolhidos foram aqueles que executam, atuam e participam
de forma direta ou indireta de atividades relacionadas ao turismo no Distrito de Serra
Negra. A partir deste corte, os atores foram divididos em dois grupos: comunidade
local – grupo A (sociedade civil, proprietários de estabelecimentos ligados ao turismo
– restaurante, bar, pousada, hotel, agência de receptivo turístico, ambulantes), e os
atuantes na esfera pública notadamente àqueles ligados à Secretaria de
88

Desenvolvimento Econômico, Turismo e Cultura do município de Bezerros – grupo B


totalizando 20 participantes.
Vale ressaltar que no decorrer da execução do estudo, o cargo destinado ao
gestor de Meio Ambiente do município estava vago, sendo esta a razão da não
participação do representante da área citada.

4.3 Perguntas da pesquisa

Considerando os objetivos geral e específicos do estudo em tela, as


perguntas elaboradas foram distribuídas em dois grupos visando colher distintas
visões acerca da temática pesquisada. Desta forma foram elaboradas as seguintes
perguntas em relação à Serra Negra:

Questões da pesquisa

Em sua opinião o que é turismo?

O que fez o senhor decidir trabalhar com turismo?

Qual a importância do turismo para Serra Negra?

Em sua opinião, como está o desenvolvimento do turismo em Serra Negra?


O O sr(a) acredita que há um envolvimento da população do Distrito de Serra Negra quanto ao
desenvolvimento do turismo na localidade?

Como o Sr (a) analisa o uso de Serra Negra com a finalidade turística?

O sr(a) percebe o envolvimento da população e da esfera pública em prol do desenvolvimento do


turismo em Serra Negra?
O O sr (a) acha que o distrito de Serra Negra está preparado estruturalmente para receber turistas e
visitantes permanentemente?

Em sua opinião o que Serra Negra apresenta de atrativos ao visitante?

O que é necessário para que a comunidade de Serra Negra possa se beneficiar com as práticas do
turismo?

Em sua opinião, o turismo ora desenvolvido em Serra Negra, enquadra-se como turismo
sustentável? Por quê?

Quadro 10: Perguntas direcionadas ao grupo A: comunidade do distrito de Serra Negra/PE.


89

Questões da pesquisa

Em sua opinião o que é turismo?


Qual a importância do turismo para Serra Negra?
Em sua opinião, como está o desenvolvimento do turismo em Serra Negra?
O Sr(a) acredita que há um envolvimento da população do Distrito de Serra Negra quanto o
desenvolvimento do turismo na localidade? Exemplifique.
Como o Sr (a) analisa o uso de Serra Negra com a finalidade turística?

O Sr (a) acha que o distrito de Serra Negra está preparado estruturalmente para receber turistas e
visitantes permanentemente? O que o Sr(a) destaca em termos de infra estrutura local concebida
para uso turístico?
Em sua opinião o que Serra Negra apresenta de atrativos ao visitante?

O que é necessário para que a comunidade de Serra Negra possa se beneficiar com as práticas do
turismo?

Cite as ações desenvolvidas pela Prefeitura de Bezerros focadas no distrito de Serra Negra que
estão diretamente ligadas ao turismo.

Quais ações foram desenvolvidas pela Prefeitura de Bezerros com vistas à sensibilização da
comunidade em relação à atividade turística?
Em sua opinião, o turismo ora desenvolvido em Serra Negra, enquadra-se como turismo
sustentável? Por quê?

Quadro 11: Perguntas direcionadas ao grupo B: esfera pública do município de Bezerros /PE.

De forma geral, as perguntas feitas aos dois distintos grupos possuíam


assertivas semelhantes, pois, o que se buscava obter eram as diferentes visões que
poderiam ser geradas por mais que a colocação fosse a mesma.
90

4.4 Coleta de dados

Nesta etapa destinada à coleta, são escolhidos os instrumentos a serem


utilizados para a obtenção dos dados. Entrevistas estruturadas, entrevistas não
estruturadas, documentos e materiais visuais podem ser utilizados como formas de
registro culminado com o arquivamento das informações.
De acordo com YIN, (1995), as fontes de dados se complementam não
existindo uma única fonte que possa suprir as necessidades do estudo. Assim,
foram escolhidos como fonte de dados, ou seja, o conteúdo a ser trabalhado,
aqueles coletados através da análise de documentação, entrevistas pessoais com
gestores públicos, proprietários e trabalhadores do turismo e a comunidade de Serra
Negra, além da observação direta.
No que concerne a utilização de documentos, para (GODOY, 1995), deve
haver um entendimento de forma ampla, uma vez que, documentos aplicam-se a
materiais escritos (revistas, jornais, livros, artigos científicos, leis, decretos), às
estatísticas e os elementos iconográficos. No estudo em tela, os documentos
utilizados e analisados dividiram-se em três segmentos (no tocante a leis, planos,
programas e projetos): os federais, relacionados ao Ministério do Turismo: Lei Geral
do Turismo (11.771 de 17 de setembro de 2008), Plano Nacional de Turismo (2007 -
2010), o Programa de Regionalização do Turismo e o Programa Nacional de
Municipalização do Turismo (1996 – 2002). Em esfera estadual, o Pernambuco para
o mundo: planejamento estratégico do turismo de Pernambuco (2008 -2020) e na
esfera municipal, o Plano de Desenvolvimento Integrado do município de Bezerros
(2006). Em especial, à fonte de coleta de dados sobre Bezerros e Serra Negra, a
busca em portais eletrônicos foi demasiadamente utilizada devido o não acesso a
documentos oficiais sobre o objeto de estudo.
Somando-se aos dados acima, também serviram como fontes de
informações: artigos científicos, obras literárias e técnicas que versassem sobre a
temática trabalhada. Também foram utilizadas as entrevistas e a observação. Neste
estudo, a observação pode ser classificada como direta e não participante, visto que,
o intuito maior da pesquisadora foi o de observar in loco as ações de cunho turístico
e suas relações com os eixos balizadores da sustentabilidade ou a falta deles.
91

Quanto às entrevistas pessoais, a disposição das perguntas obedeceu a uma


sequência lógica de forma que o entrevistado tivesse a oportunidade de discorrer
sobre uma temática geral (turismo) e ao final das perguntas relacionasse esta
temática e sua relação com a sustentabilidade.
No tocante às ações e percepções dos sujeitos pesquisados, foram realizadas
vinte entrevistas com uma relação fixa de onze perguntas. É válido salientar que em
determinadas colocações dos entrevistados, foram feitas novas perguntas
aproveitando a oportunidade de se obter mais informações acerca do objeto
estudado. O trabalho apresenta um corte transversal com coleta de dados realizada
no decorrer do mês de setembro de 2010, no distrito de Serra Negra, bem como na
sede do município de Bezerros. É oportuno registrar que desde o mês de abril de
2010 foram realizadas incursões ao local, sendo este momento de grande relevância
na construção da pesquisa, pois, foram realizadas conversas informais e
estabelecidos os primeiros contatos junto aos agentes a serem pesquisados.
No que concerne às proposições contidas na entrevista realizadas neste
estudo, as mesmas foram submetidas ao Comitê de Ética em Pesquisa – CEP da
Universidade de Pernambuco – UPE, tendo aprovação em sua totalidade quanto o
conteúdo a ser pesquisado. Com a aprovação do referido Comitê, as entrevistas
foram iniciadas no município tendo estas também aprovadas pela Secretaria de
Desenvolvimento Econômico, Turismo e Cultura. Todas as entrevistas foram
realizadas com a autorização dos participantes, salvaguardando sua identidade e
utilizando os dados tais quais foram explanados no momento da entrevista. Os
dados foram registrados através do uso do gravador e complementados com
anotações realizadas no decorrer das entrevistas.
92

4.5 Análise dos dados

Esta pesquisa utilizará distintas categorias de análise as quais reúnem


elementos agrupados sobre determinados títulos específicos. Estes agrupamentos
se darão a partir de elementos em comum presentes nas respostas dos
entrevistados. Para tanto os preceitos da análise de conteúdo de Bardin (2009) e
Vergara (2005) serão utilizadas. De acordo com Bardin:

A análise de conteúdo é um conjunto de instrumentos metodológicos cada


vez mais sutis em constante aperfeiçoamento, que se aplicam a discursos
(conteúdos e continentes) extremamente diversificados. (BARDIN, 2009,
p.11)

Em consonância com a análise de conteúdo, Vergara trabalha com os


conteúdos através de categorias (grades) do tipo aberta, fechada e mista. A grade
aberta refere-se a pesquisas em que as categorias são definidas no decorrer da
pesquisa, caracterizando as pesquisas exploratórias, pois permitem-se alterações
até o resultado final do estudo. Já a grade fechada, tem por princípio a definição das
categorias de estudo realizadas a partir da literatura existente. Este modelo de
análise mostra-se seguro de acordo com LAVILLE; DIONE, (1999), uma vez que o
pesquisador não precisa inventar instrumentos de análise a medida que sua
pesquisa avança pois estas foram definidas previamente.
Por fim, a categoria do tipo mista envolve aspectos comuns às grades
anteriores: categorias definidas no princípio do estudo, porém mutáveis até o
resultado final da pesquisa.
Para fins deste estudo do tipo descritivo, optou-se em utilizar a grade mista
para a determinação das categorias de análise dos conteúdos apresentados,
conforme quadro a seguir:
93

Questões da pesquisa Pilares da


sustentabilidade
envolvidos /
categorias de análise

Em sua opinião o que é turismo? Sustentabilidade


econômica, ambiental,
sociocultural e político
institucional
Qual a importância do turismo para Serra Negra? Sustentabilidade
econômica, ambiental,
sociocultural e político
institucional

Em sua opinião, como está o desenvolvimento do turismo em Serra Sustentabilidade


econômica, ambiental,
Negra?
sociocultural e político
institucional
O Sr(a) acredita que há um envolvimento da população do Distrito de Sustentabilidade
sociocultural,
Serra Negra quanto o desenvolvimento do turismo na localidade?
econômica
Exemplifique.

Como o Sr (a) analisa o uso de Serra Negra com a finalidade turística? Sustentabilidade
econômica, ambiental,
sociocultural e político
institucional
O Sr (a) acha que o distrito de Serra Negra está preparado Sustentabilidade
econômica, ambiental,
estruturalmente para receber turistas e visitantes permanentemente? O
e político institucional
que o Sr(a) destaca em termos de infra estrutura local concebida para
uso turístico?
Em sua opinião o que Serra Negra apresenta de atrativos ao visitante? Sustentabilidade
sociocultural e
ambiental
O que é necessário para que a comunidade de Serra Negra possa se Sustentabilidade
político institucional,
beneficiar com as práticas do turismo?
sociocultural

Cite as ações desenvolvidas pela Prefeitura de Bezerros focadas no Sustentabilidade


político institucional
distrito de Serra Negra que estão diretamente ligadas ao turismo.

Quais ações foram desenvolvidas pela Prefeitura de Bezerros com vistas Sustentabilidade
político institucional e
à sensibilização da comunidade em relação à atividade turística?
sociocultural

Em sua opinião, o turismo ora desenvolvido em Serra Negra, enquadra- Sustentabilidade


econômica, ambiental,
se como turismo sustentável? Por quê?
sociocultural e político
institucional

Quadro 12: Relação entre perguntas da entrevista e pilares da sustentabilidade.


94

5 Análise da sustentabilidade turística aplicada em Serra


Negra

Na utilização dos pilares do desenvolvimento sustentável, entendidos neste


estudo como quatro: sustentabilidade ambiental, econômica, política – institucional e
sociocultural, a formulação de um quadro integrador de objetivos para estas
vertentes se fez necessário, pois a utilização dos indicadores voltados para o
turismo destinam-se a realizar uma medição do desenvolvimento da atividade e
estimar as implicações econômicas, naturais e socioculturais no meio.
Concretamente para o setor turístico, o uso de indicadores da
sustentabilidade suscita diversos estudos dada a amplitude deste campo de
pesquisa. Destacam-se estudos da OMT (1996) baseados nos pilares da
sustentabilidade e uma demasiada centralização da atividade turística visando
salvaguardar os interesses do próprio negócio (SOUZA, 2006).
Ao longo do tempo, a utilização de indicadores especialmente no cerne das
ciências sociais aplicadas, mantém o debate sobre a existência de fórmulas ideais
capazes de resumir em um único instrumento as informações de caráter técnico e
científico. Paulatinamente, a procura por metodologias eficazes que respondam às
necessidades dos estudos relacionados aos pilares da sustentabilidade ainda não se
encontra padronizada, afinal, para cada área do conhecimento existem estudos
específicos capazes de suprir a necessidade desta. De acordo com Souza (2006, p.
107) “existe consenso acerca da necessidade de aplicação de metodologias
capazes de sintetizar a informação, para que esta possa servir de suporte às ações
de gestores, sociedade civil, investidores, grupos de interesse e público em geral”.
Assim, em se tratando da atividade turística, diversos estudos acerca da
temática turismo sustentável são encontrados. Entretanto, nesta pesquisa,
destacam-se os princípios de Ever dada a gama de conceitos, atores e ações
envolvidas em prol de um turismo sustentável (1992 apud SERRANO, 2000, p.218-
219) descritos abaixo:
95

I. Uso sustentável dos recursos. “A conservação e o uso sustentável dos


recursos – naturais sociais e culturais – são cruciais e viabilizam negócios a
longo prazo”;
II. Redução do consumo supérfluo e desperdício: “A redução do consumo
supérfluo e do desperdício evita os custos, a longo prazo, da recuperação de
danos ambientais e contribui para a qualidade do turismo”;
III. Manutenção da diversidade natural e cultural: “Manter e promover a
diversidade natural, social e cultural é essencial para um turismo sustentável
e cria uma base estável para a indústria”;
IV. Integração do turismo no planejamento: “O desenvolvimento turístico que se
integre numa estrutura de planejamento nacional e local e que estabeleça
taxações para impactos ambientais, aumenta a viabilidade a longo prazo do
turismo”;
V. Apoio às economias locais: “O turismo que apoia um amplo espectro de
atividades econômicas locais e que considera os custos e valores ambientais
tanto protege tais economias quanto evita danos ambientais”;
VI. Envolvimento das comunidades locais: “O envolvimento total das
comunidades locais no setor turístico não apenas as beneficia e ao ambiente
em geral, mas também melhora a qualidade da experiência turística”;
VII. Consulta ao público e a atores envolvidos: “O diálogo entre a indústria
turística e as comunidades, organizações e instituições locais é essencial
uma vez que eles trabalharão juntos e deverão resolver potenciais conflitos
de interesse”;
VIII. Capacitação de mão - de - obra: “O treinamento de pessoal que integre a
idéia de sustentabilidade nas práticas turísticas, aliado ao recrutamento de
pessoas do local de todos os níveis melhora a qualidade do produto
turístico”;
IX. Marketing turístico responsável: “O marketing que provê os turistas de
informações completas e responsáveis aumenta o respeito pelo ambiente
natural, social e cultural das áreas de destino e aumenta a satisfação do
cliente”;
X. Desenvolvimento de pesquisas: “As pesquisas e monitoramentos realizados
pela indústria, usando bancos de dados e análises confiáveis são essenciais
96

para ajudar a resolver problemas e trazer benefícios para os destinos,


indústria e consumidores”.

Através do estudo dos princípios para um turismo sustentável, podemos


encontrar indicadores que permitam medir a sustentabilidade do setor, ou
de um destino turístico. Existe uma relação forte entre estes vários
princípios de sustentabilidade, o que não surpreende dada a complexidade
do turismo, a inter-relação entre os diferentes componentes do
desenvolvimento sustentável e a necessidade de uma abordagem holística
(SOUZA, 2006, p.108).

De acordo com a autora Marisa Souza (2006) “alguns princípios são


analisados juntamente já que estão inter-relacionados conceitualmente e indicadores
similares podem ser usados ao medir-se a sustentabilidade”. Como exemplo os
princípios “Integração Turismo-Planejamento” e “Marketing responsável do turismo”
podem ser estudados de forma conjunta. A autora ainda ressalta os princípios
“Envolvimento das comunidades locais” e “Consulta ao público e a atores
envolvidos” também passíveis de serem estudados conjuntamente. Por fim destaca-
se que os indicadores apresentados devem ser aplicados em escala local.
“Diferentes indicadores têm importância a diferentes escalas, embora alguns deles
possam ser utilizados tanto em nível local, como regional e até nacional” (SOUZA,
2006, p.109). No estudo em tela, as relações feitas se dão em nível local objetivando
facilitar a adoção de práticas sustentáveis tanto pela comunidade de Serra Negra
como pelos demais envolvidos na atividade realizada no Distrito. Assim, a partir do
Princípio de Ever são realizadas leituras de forma que para cada princípio
estabeleça-se uma relação prática com o estudo. Agrupando-se os 10 princípios e
estabelecendo relações com os pilares da sustentabilidade destacados nesta
pesquisa temos:

Sustentabilidade Sustentabilidade Sustentabilidade Sustentabilidade


Ambiental Sociocultural Econômica Político Institucional

Princípios I e II Princípios III VI e VII Princípio V Princípios IV, IX e X


Quadro 13: Princípios de Ever x pilares da sustentabilidade
Fonte: a autora, (2010).

Este trabalho procura ser uma primeira abordagem à medição e avaliação da


sustentabilidade no destino turístico Serra Negra. É imperativo fazer compreender a
97

todas as entidades com responsabilidades no setor turístico, e no desenvolvimento


de uma região em geral, que a sustentabilidade não é um fim em si mesmo. De fato,
não é possível afirmar que determinado local ou região será sempre um destino
sustentável. O é ou não em um determinado momento, a partir das inferências
colhidas quando da pesquisa realizada.
Deste fato, resulta a relevância de se procurar atingir padrões de
sustentabilidade e mantê-los focando-se no bem estar da população e daqueles que
venham a visitar o destino. Procurou-se estudar a sustentabilidade em suas quatro
dimensões já referidas. No entanto, e uma vez que estas dimensões estão
intimamente relacionadas, muitos dos indicadores perpassam por dimensões
distintas, não podendo exclusivamente apontar determinado fato estudado
pertencente apenas a um indicador. Serviu neste momento de análise a definição
constante no Plano Diretor de Bezerros (2007, p. 01-02) acerca da sustentabilidade
atrelada à qualidade de vida das populações atuais e futuras do local. Desta
maneira:
O Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado dos Bezerros rege-se pelos
seguintes princípios fundamentais:
I - sustentabilidade ambiental e econômica compreendida como desenvolvimento
local, socialmente justo, ambientalmente equilibrado, economicamente viável,
culturalmente diversificado e política e institucionalmente democrático, visando
garantir qualidade de vida para as presentes e futuras gerações, pautado na:
a) promoção da cidadania e luta contra a exclusão e desigualdades;
b) valorização dos espaços públicos, da habitabilidade e da acessibilidade para
todos;
c) ampliação das oportunidades através da educação;
d) defesa da vida na promoção da saúde pública e do saneamento básico;
e) proteção, preservação e recuperação dos ambientes, natural e construído;
f) proteção, preservação, conservação e recuperação do patrimônio cultural,
histórico, artístico e paisagístico;
g) potencialização da criatividade e do empreendedorismo para o desenvolvimento
da economia, da cultura, do turismo, do lazer e dos esportes;
h) incentivo à participação social nos processos de gestão municipal, como
instrumentos de construção de cidadania e meio legitimo de manifestação das
aspirações coletivas.
98

5.1 Alternativas para a sustentabilidade e sua relação com o


turismo: o turismo sustentável

As contribuições originadas acerca do estudo e da prática da sustentabilidade


podem não somente ser úteis às gerações atuais mas também às gerações futuras
que podem se valer da benesses relacionadas à alimentação, saúde, a própria
garantia da existência da água pronta para o consumo e por que não falar do
turismo como atividade consonante com os preceitos da sustentabilidade.Atividade
esta realizada de forma harmônica com o meio onde insere-se.
A partir de uma maior sensibilização às causas ambientais, os consumidores
do turismo passam a ser mais exigentes no que concerne a preservação dos
recursos de ordem natural e cultural bem como acerca da qualidade do serviço
ofertado pelo fornecedor turístico. É nesse contexto que o turismo insere-se não
somente como fonte geradora de renda, voltando-se exclusivamente as questões
econômicas, passando também a ser estudado como uma ferramenta de
conservação ao meio ambiente.
Por já vim sendo executada a anos, nos dias atuais a atividade do turismo
relacionada à natureza vem chamando uma maior atenção da sociedade.
Notadamente, temos uma maior preocupação atualmente com as discussões e
ações acerca da relação desenvolvimento do turismo e conservação do meio em
que a atividade se realiza. No bojo destas discussões e execuções percebe-se uma
visualização mais humanista em relação ao meio ambiente.
A busca por um modelo de vida baseado numa ideologia de defesa de um
ambiente menos efêmero, com diminuição do consumo e produção e de uma
relação maior com o meio natural, provocou uma demanda por roteiros turísticos
ditos como alternativos.
De acordo com Gondim (2004, p.25) “o turismo é uma atividade que
apresenta uma íntima relação com a natureza e com o meio ambiente”. Para Conti
(1997, p.18 apud GONDIM, 2004, p.25):

O conceito de natureza [...] é muito diversificado, conforme o período


histórico ou o contexto em que é tratado, indo desde e visão mítica dos
tempos primitivos até a holística que considera a natureza como o conjunto
dos elementos bióticos e abióticos, incluindo, portanto, o homem.
99

Já Ferretti (2002, p. 4 apud GONDIM, 2004, p.25), afirma que:

O termo meio ambiente provém do latim médium (meio), que se refere ao


lugar onde qualquer ser vivo pode ser encontrado e ambiere (ambiente),
que se relaciona a tudo que envolve esse lugar. Portanto, o ambiente
reforça o conceito de meio, repassando-nos a idéia de entorno ou da
realidade física que envolve todos os seres vivos.

Os conceitos sobre natureza e meio ambiente apresentam uma forte


relação entre si. Sob o meio ambiente encontram-se os elementos constituintes
da natureza, assim, podendo se entender meio ambiente como algo que é mais
amplo justamente por abarcar a natureza e as espécies que habitam o planeta
terra.

O turismo passa a fazer parte desta relação devido ao fato de ser uma
atividade que tem como matéria-prima os espaços com seus diferentes
ambientes, ou seja, os destinos que são visitados sejam estes naturais,
culturais ou transformados. Os ambientes naturais são aqueles com
ecossistemas ainda íntegros ou pouco alterados. Já os ambientes culturais
envolvem a cultura em seu sentido mais amplo, desde o patrimônio histórico
até as crenças e valores da sociedade. E o ambiente transformado trata-se
de espaços alterados pelo homem para que ele possa desenvolver as suas
diversas atividades, como por exemplo as plantações utilizadas pela
agricultura, as construções existentes nas cidades, dentre outras.
(GONDIM, 2004, p.25)

Pratica a atividade turística a partir da contemplação de paisagens e


belezas cênicas para Gondim (2004) envolvem aspectos relacionados à
interações com a natureza e com as populações locais haja vista a busca do
equilíbrio entre a conservação do patrimônio e a sua exploração.

Desde o advento do turismo há um maior consumo dos espaços naturais,


principalmente por estes apresentarem belezas cênicas e pela crescente
busca por uma fuga do lugar comum, da rotina das cidades. Todavia, com as
premissas do capitalismo imperando, esse consumo foi se dando de uma
maneira bastante voraz, por assim dizer, pois não havia o mínimo
planejamento das atividades, nem uma preocupação com a degradação dos
recursos naturais. O que importava era que o turismo gerasse a maior
quantidade de lucros possíveis, no menor espaço de tempo. (GONDIM, 2004,
p.26)

Assim a atividade turística passa a ser tida como impactante em relações


especialmente aos aspectos ligados à natureza e à cultura dada a transformação
ocorrida nas localidades receptoras. É neste cenário que surgem as
100

preocupações de ambientalistas e da sociedade de forma geral em se trabalhar o


turismo de uma forma alternativa (GONDIM, 2004).
De acordo com Wearing; Neil (2001, p. 4 apud GONDIM 2004, p.27):

[...] o turismo alternativo pode ser definido como formas de turismo que
demonstram ser coerentes com os valores natural, social e comunitário e
que permitem que tanto hospedeiros quanto hóspedes desfrutem uma
interação positiva e conveniente, e que compartilhem experiências.

Na mesma linha de pensamento, a autora Rita de Cássia Cruz, disserta sobre


turismo alternativo:

é uma modalidade de turismo que, do ponto de vista de seu objeto de


consumo e da sua forma de consumo do espaço, se contrapõem ao
chamado turismo de massa. As modalidades ditas alternativas de turismo,
tal como turismos de natureza, comunitário, ecoturismo, têm nos espaços
naturais seu principal objeto de consumo e, ao contrário do turismo de
massa, requerem uma gama restrita de infra-estrutura e serviços (CRUZ,
2003, p. 48).

Ainda sobre o turismo alternativo, encontram-se as relações existentes entre


a qualidade e a quantidade da experiência do turista em face à este segmento.

no turismo denominado como alternativo não há uma preocupação com


quantidade, mas sim com a qualidade da experiência que o turista vai
vivenciar. Entretanto, essa modalidade de turismo não se restringe apenas
às viagens para áreas naturais, engloba todo tipo de viagem. Trata-se mais
de uma filosofia de como fazer turismo do que de uma mera tipologia.O
turismo alternativo pode ser avaliado também como um modo de
desenvolver a atividade sempre pautada na sustentabilidade e nos valores
locais. Ou seja, desenvolver um turismo que ofereça menos impactos para o
meio ambiente natural, buscando conservá-lo para a utilização das
gerações futuras, ao mesmo tempo em que envolve as comunidades das
localidades receptoras na implementação da atividade, possibilitando a esta
não só o acesso aos benefícios que o turismo pode trazer como também
tornando-a parte integrante do processo . (GONDIM, 2004, p.24)

Nesta linha de pensamento, a noção de desenvolvimento sustentável


expandiu-se e alargou-se a outras formas de desenvolvimento e atividades incluindo
o turismo. A partir do crescimento que se verifica no setor observando dados a
níveis locais, estaduais e federais, percebe-se a necessidade da sustentabilidade e
as mudanças nas formas de atuação com vistas ao prosseguimento da atividade.
O crescimento do setor turístico oferece excelentes oportunidades para
prosperar, porém em paralelo, pode apresentar ameaças à comunidade e ao meio,
101

caso não ocorra uma boa gestão com vistas à mitigação dos efeitos negativos
atrelados à atividade.
Todavia, existe paralelamente um reconhecimento generalizado sobre o
potencial papel do turismo na mitigação da pobreza, proporcionando fontes de
rendimento às comunidades mais necessitadas.
Em contrapartida aos efeitos negativos do turismo, podem ser elencados
diversos aspectos positivos da atividade, sendo estes demonstrados na figura
abaixo:

Figura 16: Esquema de representação dos efeitos positivos do turismo


Fonte: a autora (2010).

Somando-se aos efeitos positivos listados, ainda encontramos: a oferta de


moeda estrangeira, o aumento do Produto Interno Bruto - PIB, o fomento ao
desenvolvimento de infraestrutura (incentivo ao comércio e indústria locais), o
fomento à proteção ambiental, o aumento de receitas governamentais, a criação de
instalações turísticas que podem ser utilizadas pela população local.
De acordo com Souza (2006, p.32):

O turismo apresenta-se, numa posição especial na contribuição que pode


dar para o desenvolvimento sustentável e os desafios do presente. Primeiro,
pelo dinamismo e crescimento do setor bem como pela contribuição que
oferece às economias de muitos países e destinos locais. Segundo, porque
102

é uma atividade que envolve uma relação especial entre os visitantes, o


setor, o ambiente e as comunidades locais. Neste aspecto, é mister
destacar as relações existentes entre o fazer turismo e a comunidade
receptora do turista:
Interação: a experiência de conhecer novos locais envolve uma interação
considerável direta e indireta, entre visitantes, comunidades locais e
ambientes naturais;
Conhecimento/ sensiblização/conscientização: Permite que os turistas se
tornem mais conscientes das questões ambientais e das diferenças entre
nações e culturas, o que pode afetar e alterar atitudes e preocupações com
a sustentabilidade, não só durante as viagens, mas também no dia-a-dia
das pessoas;
Dependência: Os turistas procuram áreas naturais atrativas, com tradições
culturais e históricas autênticas, bem como, anfitriões hospitaleiros que
saibam receber e estabelecer uma boa relação.

A Organização Mundial do Turismo (2003) postula que para a ocorrência do


desenvolvimento turístico sustentável, deve-se acontecer o encontro das
necessidades dos turistas e das regiões de acolhimento enquanto protege e
incrementa oportunidades futuras (SOUZA, 2006).
Face ao exposto, destaca-se que tornar o turismo sustentável não se
relaciona somente controlar e gerir os impactos negativos do setor. A atividade está
em igual posição quanto os benefícios às comunidades locais tanto a nível
econômico como social, bem como a sensibilização para as questões relacionadas à
preservação do meio ambiente. Assim, proteção ambiental e desenvolvimento
econômico não deverão ser considerados antagônicos, mas sim cooperantes.

Várias convenções internacionais e declarações têm apontado as linhas


mestras e os princípios do turismo sustentável. A importância do turismo e a
sua sustentabilidade foram debatidas, por exemplo, em 2002, na
Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio +10). Nessa
ocasião, muitos países declararam que adotariam ou pretenderiam adotar
políticas que promovessem a sustentabilidade da atividade turística. No
entanto, ainda existe a incerteza de até que ponto estas medidas foram
colocadas prática. Entre os diversos relatórios e declarações da OMT
relacionados com o Turismo Sustentável, destacam-se a Declaração de
Manila sobre Turismo Mundial (1980), Declaração da Haia sobre o Turismo
(1989), Conferência Mundial de Turismo Sustentável (1995) /redação da
Carta de Lanzarote, Código de Ética Mundial para o Turismo de 1999. No
bojo dos documentos citados, é clara a preocupação de promover um
turismo que traga contribuições não somente à balança de pagamentos dos
países, bem como a observância dos direitos dos seres humanos sem
distinção (raça, sexo, língua e religião), que assegure uma experiência
turística de elevada qualidade ao turista e o desenvolvimento de uma
atividade turística próspera e que melhore a qualidade de vida da
comunidade receptora (OMT, 1993). (SOUZA, 2006, p.30).

Trabalhar o turismo sob o viés da sustentabilidade compreende acima de tudo


uma nova visão política e um novo contexto de referência. O desenvolvimento
103

sustentável do turismo pressupõe a adoção de estratégias políticas que garantam a


manutenção dos elementos indispensáveis ao alcance dos objetivos para
consecução de um desenvolvimento turístico.
No ano de 1992, ps princípios do direito sustentável são elaborados conforme
o quadro abaixo:

1. Utilização sustentável dos recursos;


2. Redução do sobre-consumo e do desperdício;
3. Manutenção da diversidade;
4. Integração turismo – planejamento;
5. Suporte de economias locais;
6. Envolvimento das comunidades locais;
7. Consulta dos vários grupos de interesse, incluindo o público;
8. Formação de funcionários da indústria turística;
9. Marketing responsável do turismo;
10. Investigação
Quadro 14: Princípios do Turismo Sustentável
Fonte: www.unesco.org.uy/mab/documentospdf/Turismo-caderno30.pdf. Acesso em 15 ago.2010.

Para RUSCHMANN (1997), os conceitos de turismo sustentável e


desenvolvimento sustentável apresentam-se interligados à própria sustentabilidade
do meio ambiente com destaque aos países menos desenvolvidos. Para a referida
autora, isto ocorre porque:

o desenvolvimento e o desenvolvimento do turismo em particular dependem


da preservação da viabilidade de seus recursos de base. Encontrar o
equilíbrio entre os interesses econômicos que o turismo estimula e um
desenvolvimento da atividade que preserve o meio ambiente não é tarefa
fácil, principalmente porque seu controle depende de critérios e valores
subjetivos e de uma política ambiental e turística adequada
(RUSCHMANN,1997, p.44)..

Segundo Swarbrooke (2000, p.19) o turismo sustentável “é aquele que ocorre


em harmonia com a natureza e que visa a conservação dos recursos naturais para
as gerações futuras”. O autor ainda destaca sobre a terminologia:

Formas de [práticas do] turismo que satisfaçam hoje as necessidades dos


turistas, da indústria do turismo e das comunidades locais, sem
comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazerem suas
104

próprias necessidades.

Indo mais além, o mesmo autor tece comentários acerca dos benefícios
advindos com a execução do turismo sustentável.

ele [o turismo] estimula uma compreensão dos impactos do nos ambientes


natural, cultural e humano; incorpora planejamento e zoneamento
assegurando o desenvolvimento do turismo adequado à capacidade de
carga do ecossistema; demonstra a importância dos recursos naturais e
culturais e pode ajudar a preservá-los. (SWARBROOKE, 2000, p.14).

Conforme a OMT, o turismo sustentável é:

a atividade que satisfaz as necessidades dos turistas e as necessidades


socioeconômicas das regiões receptoras, enquanto a integridade cultural, a
integridade dos ambientes naturais e a diversidade biológica são mantidas
para o futuro” (BRASIL, 2008, p.48).

Já de acordo com Kinker (2005, p. 17), o turismo sustentável pode ser


definido como:
aquele que é desenvolvido e mantido em uma área (comunidade, ambiente)
de maneira que, e em uma escala que, se mantenha viável pelo maior
tempo possível, não degradando ou alterando o ambiente de que usufrui
(natural e cultural), não interferindo no desenvolvimento de outras atividades
e processos, não degradando a qualidade de vida da população envolvida,
mas pelo contrário servindo de base para uma diversificação da economia
local.

Em vistas da realidade e da necessidade do turismo sustentável, o


documento intitulado "Agenda 21 para a Indústria de Viagens e Turismo para o
Desenvolvimento Sustentável" apresenta as áreas prioritárias para o
desenvolvimento de programas e procedimentos para a implementação do turismo
sustentável.
O documento elaborado pela OMT, Conselho Mundial de Viagens e Turismo
– WTTC e pelo Conselho da Terra teve como inspiração a Agenda 21 global
aprovada durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento - CNUMAD, realizada no Rio de Janeiro em 1992.
O documento apontou oito áreas dirigidas a governos e representações das
organizações do turismo, indicando:
105

I. A avaliação da capacidade do quadro regulatório, econômico e voluntário


para apoiar o desenvolvimento de políticas que viabilizem a implementação
do turismo sustentável;

II. Avaliação das implicações econômicas, sociais, culturais e ambientais das


operações da organização/instituição, no sentido de examinar sua própria
capacidade para atuar na direção da perspectiva de desenvolvimento
sustentável;

III. Treinamento, educação e formação da consciência pública, no sentido do


desenvolvimento de formas mais sustentáveis de turismo e com o objetivo de
viabilizar a capacidade necessária para execução de tarefas nessa direção;

IV. Planejamento para o turismo sustentável a partir do estabelecimento e


implementação de medidas que assegurem o planejamento efetivo do uso do
solo, que maximizem benefícios ambientais e sociais, e minimizem danos
potenciais à cultura e ao meio ambiente;

V. Promoção de intercâmbio de informações, conhecimento e tecnologias entre


países desenvolvidos e em desenvolvimento que viabilizem o turismo
sustentável;

VI. Fomento à participação de todos os setores da sociedade;

VII. Monitoramento para avaliação dos progressos alcançados frente as 4 metas


de turismo sustentável através de indicadores confiáveis, aplicáveis a nível
local e nacional;

VIII. Estabelecimento de parcerias que facilitem iniciativas responsáveis.

Além disso, estabeleceu oito áreas prioritárias dirigidas às empresas de


viagem e turismo visando o estabelecimento de procedimentos sustentáveis, a
saber:
I. Minimização do desperdício através da diminuição do uso de recursos e
aumento da qualidade;

II. Gerenciamento do uso de energia visando a redução do consumo e emissão


de substâncias potencialmente poluentes da atmosfera;
106

III. Gerenciamento do uso da água com vistas à manutenção da qualidade e


eficiência no consumo;

IV. Gerenciamento de águas servidas e esgoto visando a conservação dos


recursos hídricos e proteção da flora e fauna;

V. Gerenciamento de produtos tóxicos e/ou perigosos promovendo a sua


substituição por produtos menos impactantes ao meio ambiente;

VI. Gerenciamento do sistema de transportes com o objetivo de controlar


emissões perigosas para a atmosfera e outros impactos ambientais;

VII. Planejamento e gerenciamento do uso do solo, no contexto da demanda de


uso múltiplo e eqüitativo, tendo em vista o compromisso com a preservação
ambiental e cultural, assim como com a geração de renda;

VIII. Envolvimento de staff, clientes e comunidades nas questões ambientais.

As diretrizes contidas no documento ainda apresentam orientações relevantes


com vistas à promoção do desenvolvimento do turismo sustentável e devem ser
utilizadas tanto pelo poder público como pela iniciativa privada em seus processos
de desenvolvimento.
107

5.2 Sustentabilidade ambiental

Para o turismo, o ambiente compreendido como atrativo em primeiro lugar diz


respeito às belezas cênicas de áreas naturais (figura 17), os diversos componentes
dos ecossistemas devidamente interpretados, a qualidade do ar, o silêncio e o
próprio contato com a natureza. A sustentabilidade ambiental não deve e nem pode
responder apenas a questões de curto prazo, uma vez que a continuidade do
ambiente é fator preponderante às futuras gerações (BENI,2006).

Figura 17: Serra Negra, Bezerros


Fonte: a autora (2010)

Dada a gama de recursos de ordem natural existentes em Serra Negra, um


dos principais motivos que levam os visitantes e turistas ao local é o encontro com a
natureza. Em diferentes pontos do destino, estão à disposição dos visitantes, grutas,
mirantes, cavernas, trilhas e açudes. O forte apelo ao ecoturismo e ao turismo
pedagógico são tendências já em uso em Serra Negra. Ademais, o local visto como
ideal para descanso e fuga da rotina para muitos proporciona um verdadeiro
encontro do indivíduo com a natureza. Destacam-se as ações realizadas pelos
108

próprios moradores de Serra Negra que atuam como condutores locais, recebendo
os visitantes e inserindo-os dentro do contexto do Distrito. Os mandamentos do
Ecoturismo são divulgados inclusive no início das atividades de reconhecimento do
local (http://www.ibimm.org.br/ecoturismo_6.html, acesso em 08 out.2010.)

Da natureza nada se tira a não ser fotos; nada se deixa a não ser pegadas;
nada se leva a não ser recordações; andar em silêncio e em grupos
pequenos e respeitar a distância dos animais, evitando gerar stress).

Figura 18: Aula no Auditório Ecológico de Serra Negra para alunos de Turismo da
UFPE.
Fonte: a autora (2010)

No que diz respeito aos resíduos sólidos a coleta de lixo no Distrito acontece
de forma quinzenal através de um caminhão que vem da sede do município para
recolher os resíduos. Na ocorrência de eventos no local, a coleta passa a ter um
menor hiato de tempo dada a grande quantidade de lixo acumulada. Não existe
coleta seletiva, assim todo o material é depositado em sacos plásticos sem uma
devida separação do que poderia ser encaminhado para aproveitamento e
reciclagem.
No quesito saneamento básico, parte das residências não possui saneamento
adequado. A água utilizada para banho é proveniente de um riacho e em períodos
de seca, as casas que não possuem cisternas ficam dependentes da ação da
Prefeitura para que haja o abastecimento.
109

Quanto à polução sonora e poluição visual não se detectou no decorrer das


atividades de pesquisa ocorrências relacionadas aos fatos em questão.
À luz do Plano Diretor do Município de Bezerros (2007), destacam-se as
seguintes ações de cunho regulatório acerca de Serra Negra.
Artigo 14: Trata das ações estratégicas no campo da sustentabilidade ambiental,
volatdas ao apoio e incentivo do desenvolvimento do turismo ecológico na Serra
Negra, da Camaratuba e Verdejante; além da elaboração e implantação de um
Plano de Manejo do Parque Serra Negra;

Art. 77: Delimita Serra Negra como Zona Especial (ZESN) do território do município
As Zonas Especiais compreendem áreas do território que exigem tratamento
especial na definição de parâmetros reguladores de usos e ocupação do solo,
sobrepondo-se ao zoneamento;

Subseção VII: Trata das ações relacionadas à ZESN:


Art. 110: A Zona Especial de Serra Negra – ZESN compreende o pólo turístico de
Serra Negra e seu entorno, delimitado, preliminarmente, a partir da cota altimétrica
de 750 m, e as margens da estrada vicinal de acesso ao povoado de Serra Negra.
Art. 111: O poder público terá um prazo de 2 (dois) anos para proceder a delimitação
definitiva da ZESN, respeitando como limite máximo o disposto nesta Lei.
Art. 112: São objetivos da Zona Especial de Serra Negra – ZESN:
I. Incentivar a implantação de pousadas, condomínios rurais e equipamentos de
apoio ao agro- eco-turismo.
II. Promover investimentos em infra-estrutura, levando em consideração a
singularidade ambiental e paisagística da área, para eventos turísticos.
III. Promover a conservação e recuperação ambiental de áreas indevidamente
ocupadas;
IV. Compatibilizar o uso dessas áreas com os objetivos de conservação dos
sistemas ambientais;
V. Desenvolver atividades de educação e interpretação ambiental;
VI. Promover adequação das condições de saneamento ambiental e de
mobilidade;
VII. Elaborar Plano de Desenvolvimento Sócio-econômico Sustentável.
110

Art. 113: Deverão ser aplicados na Zona Especial de Serra Negra – ZESN,
principalmente, os seguintes instrumentos:
I. Planos de manejo;
II. Planos de gestão;
III. Estudo de impacto de ambiental;
IV. Outorga Onerosa do Direito de Construir;
V. Operação Urbana Consorciada.

As ações acima descritas precisam de fato serem executadas, dado o


aumento gradativo de visitantes, construção de residências, equipamentos hoteleiros
na localidade. A manutenção das características orginais do Distrito por si só trazem
destaque ao local. De acordo com os apontamentos relacionados com a
sustentabilidade ambiental, apontam-se possíveis linhas de ação para a mitigação/
possibilidades de melhor uso:
I. Proteção de ecossistemas: destaque em especial às ações constantes no
artigo 113 do Plano Diretor do Município;
II. Estímulo à criação de redes de áreas protegidas objetivando a proteção da
biodiversidade de forma que o sistema possa suportar as atividades turísticas;
III. Apoio aos condutores locais quanto sua atuação junto aos grupos de
visitantes, oportunizando cursos que tratem especialmente das questões ambientais,
conhecimento das espécies encontradas em Serra Negra bem como formas de
condução de grupos;
IV. Apoiar pesquisas relacionadas ao inventário da oferta ambiental disponível
em Serra Negra;
V. Discutir amplamente o sistema de coleta pública em voga no Distrito visando
atender as necessidades da comunidade e por conseguintes dos visitantes;
VI. Adoção de práticas de coleta seletiva, podendo até instituir cooperativas no
próprio local oportunizando emprego e, por conseguinte renda aos moradores;
VII. Adoção de medidas emergenciais relacionadas ao armazenamento de água;
VIII. Respeito à capacidade de carga para o esgotamento sanitário
IX. Valorização da paisagem existente, bem como estimular o senso de
pertencimento perante os moradores de Serra Negra.
111

5.3 Sustentabilidade econômica

A adoção de medidas sustentáveis relacionadas à economia são de extrema


relevância para uma localidade. Ser capaz de produzir, distribuir e utilizar de forma
equilibrada as riquezas produzidas trarão benefícios para toda comunidade. A
sustentabilidade econômica inclui não somente a economia formal, como também as
atividades informais que proveem serviços para os indivíduos e grupos e aumentam,
assim, a renda monetária e o padrão de vida dos indivíduos.
A sustentabilidade econômica pode ser alcançada pela alocação eficiente dos
recursos e pelas modificações dos atuais mecanismos de orientação dos
investimentos. Como potenciais linhas de ações voltadas ao desenvolvimento da
sustentabilidade econômica em Serra Negra, destacam-se:
I. A ampliação de oferta de crédito associado a projetos de pequenos
empreendedores notadamente àqueles relacionados à vocação do distrito (
agricultura e turismo);
II. Adoção de incentivos para projetos de geração de renda oriundos da
comunidade local;
III. Valorização de iniciativas locais – a exemplo de cooperativas – para a
construção de cadeias produtivas de bens e serviços;
IV. Estímulo a pequenos empreendedores no que concerne disponibilização de
linhas de crédito para a construção e reforma de empreendimentos de cunho
turístico;
V. Valorização do trabalhador local;

Consonante às ações voltadas à sustentabilidade econômica de Bezerros e,


por conseguinte, de Serra Negra, práticas relacionadas à economia solidária são
valorizadas e reconhecidas como importantes no Plano Diretor do Município (2007).
Em seu artigo 6º, destaca-se:

A economia solidária entendida como prática alicerçada em relações


solidárias, regida por valores culturais que colocam o ser humano como sujeito e
finalidade da atividade econômica, privilegiando a autogestão, o desenvolvimento
112

comunitário, a justiça social, o proteção ao meio ambiente e a responsabilidade com


as gerações futuras, segundo os seguintes valores:
I. Apoio à agricultura familiar e a reforma agrária como forma de
democratização do acesso e uso da terra;
II. Luta pela Reforma Urbana, pela gestão coletiva dos espaços urbanos e da
moradia digna.
III. Participação popular no controle dos orçamentos e na definição das políticas
públicas;
IV. Desenvolvimento sustentável, focado na preservação e conservação dos
recursos naturais e ecossistemas;
V. Preservação da identidade cultural;
VI. Combate à discriminação de gênero e raça;
VII. Solidariedade e cooperação;
VIII. Valorização do trabalho.

5.4 Sustentabilidade sociocultural

A relação existente entre a atividade turística e a sustentabilidade


sociocultural pode ser entendida como a realização de ações que busquem
satisfazer as necessidades básicas humanas como alimentação, saúde, segurança,
emprego. Além das condições de acesso a serviços e uma infraestrutura básica, o
turismo pode contribuir com a dimensão social quando oportuniza uma melhor
distribuição de renda, com redução de desigualdades sociais e por fim ao
empoderamento dos destinos (BENI, 2006).
Atrelado ao fator social, a cultura como marca de um povo, diz respeito à
notadamente à manutenção das raízes do local. Sobre este aspecto, Bezerros e
naturalmente Serra Negra carregam consigo as figuras emblemáticas dos papangus
como sua maior manifestação cultural. Reconhecidos internacionalmente, a
valorização dos artesãos e de suas obras são destacadas nas ações de divulgação
da localidade.
Bezerros também apresenta uma grande diversidade de artesãos que
trabalham com xilogravuras, outra marca cultural do local. Em Serra Negra, existe
113

um Centro de Artesanato que abriga exclusivamente peças de artistas locais. Os


valores arrecadados com a venda das obras são destinados em sua totalidade aos
artesãos. No local, são encontrados bordados, xilogravuras (figuras 19,20 e 21),
máscaras em papel machê, cachaças produzidas em Serra Negra, souvenirs além
de os fabricantes de mel de abelha da localidade também terem a oportunidade em
vender sua fabricação. Percebendo o forte apelo cultural do município como um
todo, a sugestão de um Plano Municipal de Desenvolvimento de Cultura e Arte é
encontrado no artigo 30 do Plano Diretor Municipal (2007). A cadeia produtiva de
Bezerros tem na cultura um grande fonte de renda e assim, as ações de apoio à
consecução da atividade se fazem presentes. São pressupostos do plano a ser
criado:
I. A Cultura, estendida como direito social básico e ferramenta para o
desenvolvimento econômico e a inclusão social;
II. A elaboração de um diagnóstico da cultura local, para definição de
ações estratégicas;
III. A universalização e a democratização do acesso aos equipamentos,
aos serviços e às ações culturais, visando à integração intramunicipal;
IV. A valorização da cultura popular local;
V. A consolidação de Bezerros como Vitrine da Cultura Pernambucana;
VI. A viabilização de uma política cultural ampla e integrada com a Região
de Desenvolvimento do Agreste Central;
VII. O desenvolvimento de ações voltadas para a população de baixa
renda na criação, produção e fruição dos bens culturais;
VIII. A democratização da gestão da cultura, a partir do estimulo a
participação dos segmentos responsáveis pela criação e produção
cultural nos processos decisórios, garantindo a formação e informação
cultural;
IX. A estruturação de espaços para formação, produção e difusão cultural;
114

Figura 19: produção de xilogravura


Fonte: a autora, (2010)

Figura 20: xilogravura finalizada


Fonte: a autora, (2010)
115

Figura 21: produção de máscaras


Fonte: a autora, (2010)

De acordo com os apontamentos relacionados com a sustentabilidade


sociocultural, apontam-se possíveis linhas de ação para a ampliação de
possibilidade e por conseguinte um melhor uso de todo potencial existente em
termos culturais e sociais em Serra Negra:

I. Ampliação da oferta de crédito associado aos projetos desenvolvidos


pelos pequenos produtores;
II. Valorização de cadeias produtivas locais privilegiando as vocações da
localidade,
III. Contratação de mão de obra nativa em empreendimentos locais
(notadamente os relacionados ao turismo);
IV. Capacitação de prestadores de serviços em atividades que dependem
do conhecimento local a exemplo de guias turísticos;
V. Incorporação dos costumes locais nos processos relacionados aos
visitantes;
VI. Maior integração entre as entidades culturais com a gestão pública
turística;
VII. Estabelecimento de normas do uso do patrimônio para sua
preservação;
116

5.5 Sustentabilidade político – institucional

A existência da sustentabilidade pressupõe atenção aos interesses da


coletividade e aos processos de tomada de decisão atrelados à capacidade
institucional enquanto responsável por proferir as normatizações e implementar os
caminhos escolhidos de maneira democrática.
Os marcos regulatórios são essenciais para oferecer referências e criar
condições de previsibilidade para os investimentos. Ao conjunto de leis, decretos,
planos, projetos e programas ligados ao turismo há todo um conjunto de ações
normatizadoras distintos às mais diversas áreas de uma gestão relacionadas à
atividade em questão.
Desta maneira, são elementos essenciais à sustentabilidade político-
institucional a identificação de lacunas existentes e consequentemente pontos a
serem melhorados nos marcos regulatórios relacionados à atividade do turismo, a
proposição, através do diálogo e/ou consulta participativa junto à comunidade, dos
mecanismos a serem utilizados em prol da atividade turística, adoção de
mecanismos de acompanhamento e avaliação das ações executadas baseadas em
indicadores de sustentabilidade, evitando desta forma desperdício de dinheiro
público, criação de mecanismos de envolvimento e participação dos setores da
economia relacionados com o turismo estabelecendo relações de integração e união
de esforços em prol da localidade e por fim, o fortalecimento dos instrumentos de
controle e fiscalização dos serviços públicos que venham a coibir práticas ilícitas
(BENI,2006).
Em referência ao Plano Diretor do Município (2007) destaca-se como princípio
relacionado à sustentabilidade político-institucional: a gestão democrática entendida
como a democratização dos processos decisórios e o controle social sobre a
implantação da política urbana, estabelecendo mecanismos transparentes,
conhecidos e legitimados pelos diferentes setores da sociedade para a gestão
urbana, tendo como base a identificação das forças sociais existentes no cenário do
município e seus respectivos interesses quanto ao desenvolvimento local e a
construção de um pacto social em torno dos direitos e garantias individuais e
coletivos.
117

A atuação do poder público notadamente em Serra Negra é percebida através


de ações de ordem estrutural principalmente. A Secretaria de Desenvolvimento
Econômico, Turismo e Cultura de Bezerros tem em Serra Negra um local com alto
potencial para a realização de eventos, recebimento de turistas, hospedagem e
gastronomia. A recuperação, por exemplo, dos camarins do Anfiteatro de Bezerros
transformando-os em hospedagem a preços populares é uma das ações já
implementadas no local.

Figura 22: Estado atual da sinalização turística de Serra Negra, Bezerros


Fonte: a autora, (2010)

Um estudo para a instalação de sinalização turística (figura 22) em Serra


Negra também já foi contratado visando proporcionar ao visitante melhores
condições de localização. São também ações já executadas pela Secretaria em
questão o melhoramento do acesso à Serra Negra - hoje parte da via não é
pavimentada - apenas pontos de curvas acentuadas e descidas/ subidas de grande
declive ( os recursos para a pavimentação do acesso à Serra Negra haviam sido
liberados pelo Governo do Estado no decorrer desta pesquisa), restauração do
parque ecológico de Serra Negra e melhoras estruturais no acesso à Caverna do
Deda, restauração do auditório ecológico. Também se destaca de acordo com a
Secretaria responsável pelas ações relacionadas à atividade turística a parceria com
118

a Associação de moradores de Serra Negra. As ações executadas no local são


discutidas entre as partes para que assim haja o benefício para os participantes.
Como marco político – institucional, destaca-se o artigo 30 do Plano Diretor
Municipal (2007) no que concerne a elaboração de um Plano de desenvolvimento do
turismo sustentável, contendo:

I. A elaboração de um diagnóstico econômico das potencialidades


turísticas do Município e atualização do inventário turístico municipal;
II. A definição de projetos estratégicos de melhoria da infra-estrutura
turística;
III. A definição do produto turístico da cidade;
IV. A conservação e preservação do Meio Ambiente;
V. A valorização da cultura popular local;
VI. A estruturação das áreas não consolidadas, mas aptas ao
desenvolvimento de atividades turísticas;
VII. O fortalecimento do Conselho Municipal de Turismo;
VIII. A criação do Fundo Municipal do Turismo;
IX. A elevação dos níveis de qualidade, eficiência e eficácia dos serviços
voltados para as atividades turísticas;
X. O fomento à capacitação técnica dos profissionais que prestam
serviços ao setor turístico;
XI. O planejamento de Marketing;
XII. A regionalização do turismo;
XIII. A identificação da capacidade de carga nos territórios turísticos
estratégicos do município;
XIV. A atração de investimentos do setor privado.
119

5.6 Resultados

Para um melhor aproveitamento das respostas por partes dos entrevistados do


estudo, destacam-se abaixo as considerações extraídas a partir da análise dos
conteúdos apresentados. Destaca-se que grande parte das perguntas realizadas
aos grupos em questão foram as mesmas, porém a variação nas respostas foram
consideráveis.

Pergunta 01: Em sua opinião o que é turismo? (pergunta realizada aos dois
grupos)

Os entrevistados responderam com palavras soltas o questionamento.


Nenhum deles formulou uma frase que conseguisse responder à colocação.
Foram elencadas as seguintes palavras relacionadas ao que é turismo:

Lazer, população, turista, conhecimento, desenvolvimento, infraestrutura,


satisfação, visitante, organização, emprego, trabalho, oportunidade, renda,
comunicação, relacionamento.

É oportuno registrar que independente do grupo ao qual a pergunta foi feita,


em um primeiro momento, os entrevistados mostraram-se preocupados em
falar palavras de efeito como, por exemplo, conhecimento e relacionamento.
De fato, as expressões ditas fazem parte de diversas conceituações utilizadas
no contexto da atividade turística e nenhuma delas foge à temática
pesquisada.

Pergunta 02: Qual a importância do turismo para Serra Negra? (Pergunta


realizada aos dois grupos)
Nesta pergunta houve uma variação nas respostas efetuadas pelos grupos
pesquisados. Em relação ao grupo composto por profissionais da esfera
pública, as respostas dadas estavam mais focadas em apresentar
120

determinada preocupação com as esferas ambientais, sociais e econômicas.


Abaixo, transpõem-se as respostas ditas pelo grupo:
“É uma forma de trazer desenvolvimento à Serra Negra”
“É preservar o ambiente natural”
“É realizar uma exploração consciente do local”
“É se preocupar em preservar a vila de Serra Negra para que os visitantes
vejam a importância dela para o turismo”
“É mostrar ao turista as belezas naturais”
“É proporcionar oportunidades de trabalho para a comunidade”
Em relação ao grupo composto pela comunidade, a variação de respostas foi
relevante uma vez que, alguns dos repondentes preferiram definir em uma
palavra a importância do turismo em Serra Negra, sendo a expressão
desenvolvimento respondida por oito entrevistados e a palavra dinheiro dita
por uma respondente. Chama a atenção a resposta de um dos entrevistados,
transcrita na íntegra a seguir.
“Muitos não ligam para o turismo. Sabe por quê? Por que não enxergam
oportunidade, não tem empreendimento que possa ser utilizado... tem
vergonha”.

Pergunta 03: Em sua opinião, como está o desenvolvimento do turismo em


Serra Negra? Grupo B: Esfera pública (pergunta realizada aos dois grupos).

No tocante às respostas informadas pelo grupo composto por entrevistados


da esfera pública municipal, todas as respostas enquadraram-se no viés da
expansão e nas possibilidades de apresentar “para fora” o distrito de Serra
Negra.
“Estamos lutando para que Serra Negra não vire Gravatá”
“Bezerros será mais conhecida ainda, pois estará no carnaval do Rio de
Janeiro na escola de samba Império da Tijuca. Imagine a quantidade de
pessoas que virão para cá?”
“Está melhorando a cada dia, nossos eventos são realizados em Serra Negra
e assim a quantidade de visitantes aumenta a cada dia”
121

“Cada vez melhor. Estamos recuperando o acesso à Serra Negra, realizando


eventos, reestruturando a sinalização turística e cuidando das belezas
naturais”
A preocupação em fazer com que o turista permanecesse mais tempo no
distrito também foi informada pelos entrevistados, sendo citados diferentes
projetos que estão sendo realizados em Serra Negra. Já, em relação às
respostas oriundas da comunidade de Serra Negra, houve uma grande
variação nas respostas, sendo estas listadas abaixo:
“Muito devagar, o calçamento é muito ruim”;
“Está bom pois gera emprego para a população e valoriza o local”;
“Não está bom, falta entrosamento na comunidade”;
“Falta apoio da Prefeitura”;
“Está se desenvolvendo”;
“Está melhorando”;
“Está vindo muita gente de fora”
“Precisa melhorar para receber mais público e que ele fique mais tempo aqui”
“Está ótimo, eu não trabalhava e hoje estou empregada”
“Muito bom, pois cada vez mais chega gente de fora”
Na maioria das respostas, o viés positivo foi destacado sendo o fator
empregabilidade ressaltado pelos entrevistados. Alguns deles inclusive,
relataram que estava, há um certo tempo desempregados e com a abertura
de novos postos de trabalho puderam se empregar e assim sustentar a
família.

Pergunta 04: O Sr (a) acredita que há um envolvimento da população do


Distrito de Serra Negra quanto o desenvolvimento do turismo na localidade?
(Pergunta realizada aos dois grupos)

Esta pergunta também realizada junto ao grupo de atores da comunidade de


Serra Negra teve no grupo relacionado à esfera pública respostas voltadas ao
conjunto de ações já desenvolvidas ou em desenvolvimento em Serra Negra.
Todos os entrevistados afirmaram positivamente que a população se envolve
em projetos. Para tanto foram citadas as ações de oferta de cursos de
122

gastronomia e a continuidade deste, a participação de moradores que hoje


trabalham em meios de hospedagem do local, dada a expansão deste, a
realização de eventos e a possibilidade de trabalho para os nativos, a
consulta à população quando da realização de atividades turísticas no Distrito
também foram respostas informadas pelos entrevistados. No tocante às
respostas recebidas da comunidade local, parte acredita que a população se
envolve no desenvolvimento do turismo, pois foi a partir deste que conseguiu
um trabalho. Os proprietários de empreendimentos relacionados ao turismo
afirmam que não há envolvimento da população e que sozinhos colocaram
seus negócios adiante sem apoio da esfera política.

Pergunta 05: O que é necessário para que a comunidade de Serra Negra


possa se beneficiar com as práticas do turismo? (Pergunta realizada aos dois
grupos).

Em relação às respostas originárias da esfera pública, os entrevistados foram


enfáticos em afirmar que a população precisa participar das atividades
propostas como cursos, oficinas e seminários realizados com o apoio do
poder público; além de se conscientizarem da importância do turismo para
Serra Negra. Em contrapartida, a comunidade local em suas respostas afirma
que é necessário que o poder público esteja mais próximo da população e
que possam realizar junto as ações voltadas ao turismo no Distrito.

Pergunta 06: Em sua opinião, o que Serra Negra apresenta de atrativos ao


visitante? (Pergunta realizada aos dois grupos).

Todos os entrevistados dos dois grupos enalteceram as belezas naturais da


localidade. Abaixo, são transpostas as respostas:
“A Caverna do Deda é maravilhosa, vale a pena ir até lá”;
“Todas as trilhas, o ar puro e o clima maravilhoso chamam a atenção de
quem vem pra cá”;
“As belezas naturais que tem aqui não existem em lugar nenhum!”
123

“O povo”
“O auditório ecológico e as trilhas”
“Todos os mirantes, o clima e a vegetação. Quem vem para cá volta sempre”
“A temperatura, as festas, e o povo”;
“As belezas naturais chamam a atenção de quem vem. Tem gente que chega
e não quer voltar pra cidade grande”;
“A cidade é muito calma e as pessoas sabem receber bem”;
“A natureza é o maior atrativo que temos e a preocupação em mantermos os
exemplares intocáveis é ação constante. Não queremos que Serra Negra se
transforme em Gravatá”.

Pergunta 07: Como o Sr (a) analisa o uso de Serra Negra com a finalidade
turística? (Pergunta realizada aos dois grupos).

Por parte do órgão gestor responsável pelo turismo, as respostas obtidas


relacionaram-se a questões de ordem estrutural. Para tanto foram informadas
as ações que já foram realizadas e as que estão em vigor no tocante ao
ordenamento de Serra Negra para adequar-se ao fluxo contínuo de visitantes.
Para a gestão pública, a maior preocupação diz respeito à vegetação do local
pois, de acordo com os entrevistados, existem plantas raras no local.
O grupo composto pela comunidade local, em suas assertivas afirmou que o
que precisa melhorar é o acesso ao local e a sinalização turística que hoje
está precária.

Pergunta 08: O Sr (a) percebe o envolvimento da população e da esfera


pública em prol do desenvolvimento do turismo em Serra Negra? (Grupo A:
comunidade do distrito de Serra Negra/PE).

Os entrevistados afirmaram que há um pequeno envolvimento mais que este


não é contínuo. Inclusive em uma das respostas recebidas foi dita que não há
apoio da Prefeitura quando o morador decide instalar um negócio. Chamou
atenção uma das respostas “Só uma vez veio gente aqui, foi na época do
carnaval. Vieram decoram meu estabelecimento e nada mais”
124

Pergunta 08: Quais ações foram desenvolvidas pela Prefeitura de Bezerros


com vistas à sensibilização da comunidade em relação à atividade turística?
(Grupo B: Esfera pública governantes do município de Bezerros /PE)

A resposta para o questionamento acima foi a oferta de cursos nas mais


diferentes áreas do conhecimento em parceria com instituições públicas e
privadas como EMPETUR e o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas – SEBRAE além do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural -
SENAR. Já foram ofertados cursos de culinária, trabalhador em turismo rural
– acolhida no meio rural, trabalhador na oleicultura básica: preparo e
instalação de horta, tratos culturais, colheita e comercialização, sensibilização
turística.

Pergunta 09: O Sr (a) acha que o distrito de Serra Negra está preparado
estruturalmente para receber turistas e visitantes permanentemente? (Grupo
A: comunidade do distrito de Serra Negra/PE).
As respostas recebidas são transcritas abaixo:

“Sim, mas sempre pode melhorar”;


‘”Se asfaltar vai melhorar e muito”;
“Em parte, pois não temos muitas opções em termos de hotel”;
“Está, mas pode ficar ainda melhor”
“Claro!”;
“Sim, pois, é um lugar aconchegante”;
“Sim, pois, o que o turista encontra aqui não tem em lugar nenhum”;
“Ainda não”
“A cada dia melhora”
“Está sim”

Percebeu-se que uma das preocupações é a pavimentação total da via de


acesso à Serra Negra. Por ser uma pista onde grande parte é composta por
barro, em períodos de chuva o acesso além de perigoso torna o trajeto de 10
km longo e cansativo (figura 23).
125

Figura 23: acesso à Serra Negra, Bezerros


Fonte: a autora, (2010).

Pergunta 09: O Sr (a) acha que o distrito de Serra Negra está preparado
estruturalmente para receber turistas e visitantes permanentemente? O que o
Sr(a) destaca em termos de infra estrutura local concebida para uso turístico?
(Grupo B: Esfera pública governantes do município de Bezerros /PE)

As respostas colhidas por parte dos entrevistados foram de encontro ao


conjunto de obras de reforma, revitalização de espaços já existentes bem
como a melhoria de acesso à determinados atrativos. A restauração dos
camarins do anfiteatro e a transformação em meio de hospedagem,
melhoramento no acesso à Caverna do Deda,restauração do Parque
Ecológico; restauração do Auditório Ecológico.

Pergunta 10: O que fez o senhor decidir trabalhar com turismo? (Grupo A:
comunidade do distrito de Serra Negra/PE).
126

As respostas focaram-se nas questões de oportunidade e mudança de vida.


Parte dos entrevistados tornou-se proprietário de um empreendimento
turístico, conforme registro a seguir:
“Eu decidi trabalhar com turismo pois apareceu uma oportunidade. Eu
trabalhava como feirante vendendo as hortaliças do meu sítio e várias
pessoas começaram a dizer que eu deveria transformar o sítio em hotel por
que ia dar certo. Hoje tudo que é servido para os hóspedes vem da minha
terra e meu ponto é muito bom para o turismo”;
“Eu trabalhava como cozinheira em um hotel e via o quanto de pessoas iam
no hotel atrás de refeição já que não tinha nenhum restaurante em Serra
Negra. Daí juntei meu dinheiro e decidi abrir meu negócio próprio. Hoje sirvo
café e almoço e jantar e abro de manhã, de tarde e de noite”.

Àqueles que não possuem o próprio negócio, porém trabalham com turismo,
destacaram em suas respostas a oportunidade de emprego surgida com a
inauguração de diferentes meios de hospedagem e do Centro Cultural de
Serra Negra.

Pergunta 10: Cite as ações desenvolvidas pela Prefeitura de Bezerros


focadas no distrito de Serra Negra que estão diretamente ligadas ao turismo.
(Grupo B: Esfera pública governantes do município de Bezerros /PE)

Elencam-se abaixo as respostas recebidas:


- Restauração dos camarins do anfiteatro
- Criação da feira de artesanato;
- Melhoramento no acesso à Caverna do Deda;
- Melhoramento da sinalização turística;
- Restauração do Parque Ecológico;
- Restauração do Auditório Ecológico;
- Melhoramento nas vias de acesso ao local.

Pergunta 11: Em sua opinião, o turismo ora desenvolvido em Serra Negra,


enquadra-se como turismo sustentável? Por quê? (Pergunta realizada aos
dois grupos).
127

Culminado com a finalização das entrevistas, a pergunta em questão foi


realizada aos dois grupos na tentativa de se colher o entendimento destes às
questões relacionadas à sustentabilidade. O que se pode perceber é que as
respostas em sua maioria apontaram para ações relacionadas a práticas
sustentáveis e não em responder o que é um turismo sustentável. Um dos
entrevistados, por exemplo, afirmou que não construiu mais chalés em seu
negócio, pois a área disponível para tal possuía árvores centenárias e o
mesmo não quis derrubá-las. No mesmo empreendimento destaca-se a
reutilização da água para a jardinagem e a disposição de coletores de lixo
contendo frases informativas aos frequentadores do local. A proprietária de
um estabelecimento do setor de alimentos utiliza a casca das verduras como
adubo para as plantas; a instalação de placas educativas em um meio de
hospedagem com avisos sobre a degradação ambiental são alguns dos
dados colhidos através da observação direta e das respostas recebidas. Em
períodos de festa como o São João de Bezerros, Serra Negra recebe um
expressivo quantitativo de visitantes e no decorrer do evento são instalados
diversos depósitos para o recolhimento de latas para o processo de
reciclagem. Chama a atenção uma das respostas obtidas de um dos
entrevistados que afirma que o turismo de Serra Negra é sim sustentável, pois
“é inovador e a cada dia surge algo diferente que nós podemos aproveitar e
mostrar aos visitantes”.
128

Figura 24: placa explicativa localizada em um meio de Hospedagem de Serra Negra,


Bezerros
Fonte: Julio Belchior, (2010)

Figura 25: depósito de lixo de um meio de Hospedagem de Serra Negra, Bezerros


Fonte: Julio Belchior, (2010)
129

6 Recomendações e conclusões

As recomendações apresentadas ao destino turístico de Serra Negra estão


focados na maximização dos efeitos do turismo bem como daqueles relacionados às
questões de ordem política, social, econômica, cultural e ambiental prioritariamente
com vistas ao melhoramento da qualidade de vida do morador da localidade e por
conseguinte do turista. Sobre as recomendações a seguir, destaca-se que as
mesmas foram planejadas para uma execução a curto prazo e que naturalmente
necessitam de um processo de concepção, organização, direcionamento,
monitoramento e controle.

I. Os impactos advindos do turismo e sua mensuração através de mecanismos


de medição relacionados à economia, a qualidade de vida e ao ambiente
focados em aferir de forma qualitativa e quantitativa o impacto sobre a
população residente.

Desta forma sugere-se por exemplo o acompanhamento do morador com


vistas a analisar a percepção deste acerca do desenvolvimento da atividade
turística em seus aspectos positivos e negativos, o impacto advindo da
criação de postos de trabalhos, a expansão e especulação imobiliária e a
inclusão de equipamentos turísticos bem como as modificações estruturais no
distrito merecem ser registradas. Tal ação poderá ser realizada através da
Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Cultura e Turismo de Bezerros.

II. Proteção ao meio ambiente com vistas ao desenvolvimento turístico


sustentável:

A proteção ao meio ambiente além de perpassar pelo viés do turismo deve


abranger naturalmente a proteção ambiental de forma macro, ou seja,
interagindo com as demais esferas do destino – social, econômica, cultural,
130

político institucional. As medidas propostas devem incluir notadamente o


recolhimento sistemático de resíduos sólidos, a preocupação com o
armazenamento de água bem como a adequação dos planos turísticos
propostos pelo órgão público municipal de acordo com a realidade e a
capacidade de suporte da destinação.

III. Análise da situação de Serra Negra frente ao desenvolvimento do Turismo:

A realização de um estudo aprofundado da real situação do turismo em Serra


Negra é base para a adoção de medidas condizentes ao local. Em linhas
gerais, o estudo deverá conter: análise da situação existente; a definição dos
objetivos e das linhas gerais orientadoras à intervenção turística, a análise do
ambiente externo e interno focando-se sobretudos nas questões relacionadas à
sustentabilidade, capital humano e ações de formação para os profissionais do
turismo tão necessárias para um bom desenvolvimento da atividade; definição
de uma política coerente e coordenada no setor do turismo e dos outros
serviços responsáveis pelo desenvolvimento do destino, que contribuam
gradativamente para a qualidade da experiência do visitante quando no destino
Serra Negra; estudo da capacidade de suporte do local determinando os limites
de tolerância do uso de capacidade de carga do atrativo turístico.

IV. Instrumentos de medição da satisfação do turista:

A criação de questionários de satisfação dos turistas e consequentemente os


dados apurados a partir destes, é uma das principais ferramentas utilizadas na
criação de estratégias no mercado turístico no que diz respeito ao planejamento
da atividade. Devem ser criados vários tipos de indicadores que devam
responder às seguintes questões: identificação dos perfis dos visitantes e os
seus comportamentos; descobrir as expectativas dos visitantes (se foram
atendidas ou não), aspectos que mais agradaram e/ou desagradaram no
decorrer da permanência em Serra Negra; avaliação dos atrativos local; avaliar
em que medidas foram correspondidas as expectativas do visitante e qual o seu
131

grau de satisfação; avaliar a imagem do destino Serra Negra de acordo com


cada visitante.

V. Envolvimento comunitário nas atividades turísticas:

A cooperação entre poder público e sociedade torna-se vital no somatório de


esforços em prol da execução do turismo em Serra Negra. A adoção de medidas
integradoras aos grupos em questão parte da necessidade de dotar o espaço de
condições de atuar de forma sustentável frente ao turismo. Assim, a articulação
dos diferentes atores sociais no processo de planejamento, implementação,
desenvolvimento, gestão e controle da atividade turística é um elemento
complexo que pode ser trabalhado em parceria entre o poder público e a
sociedade local. Esse envolvimento, sinônimo de comprometimento é um dos
indicativos de êxito do processo de parcerias para o êxito do turismo local.

O turismo é uma atividade que tem um grande potencial de melhorar as


condições de vida de uma localidade. Mas, não pode ser encarado como único meio
capaz de prover renda a esta. Toda atividade possui suas limitações e isto também
acontece com o turismo. Em contrapartida, a atividade em questão pode contribuir e
muito para uma sensibilização e, por conseguinte uma consciência comunitária mais
sólida, o que resulta muitas vezes em ganhos imensuráveis, mas, que ao longo do
tempo serão percebidos.
Podem – se demorar anos, mas chegará a hora em que as benesses
advindas do turismo estarão à disposição da localidade. Sem dúvida, o processo de
envolvimento comunitário é uma das grandes possibilidades de sucesso para a
atividade turística. Porém deve-se ter muito claramente exposto e entendido que o
turismo não irá resolver todos os problemas sociais da comunidade. A atividade
poderá ser um meio e não um fim, por exemplo, no aporte de recursos de ordem
financeira e estrutural para a comunidade.
Em se tratando de Serra Negra, organizar a comunidade para o turismo é
estabelecer acima de tudo uma aliança entre os interesses econômicos locais e não
locais, objetivando atribuir uma relevante importância na valorização das questões
culturais e meio ambientais.
132

Assim, responder à pergunta inicial deste estudo: em que medida a atividade


turística ora desenvolvida em Serra Negra - PE tem participação na endogeneização
do desenvolvimento no âmbito da comunidade local foi poder ter tido a oportunidade
de observar diretamente o que faz Serra Negra ser cada vez mais buscada por
visitantes.
Por um lado, o aumento gradativo de pessoas no local faz com que o frágil
ecossistema comece a sentir o peso das visitações; o crescente aumento de
construções, que, se não controladas por parte do poder público municipal poderão
acarretar perdas irreparáveis à localidade é um fator preocupante no que diz
respeito às ações de contenção dos impactos da atividade turística.
O acúmulo de resíduos é outra preocupação relacionada à localidade haja
vista o quantitativo expressivo de visitantes no local, principalmente nos finais de
semana. A expansão da coleta de lixo e a inclusão de coleta seletiva também se
tornam necessários para um melhor aproveitamento do local, haja vista as
conseqüências diretas relacionadas ao acúmulo de lixo: doenças, proliferação de
animais, contaminação local. Serra Negra hoje pode ser vista como o local de maior
atenção do poder público municipal no que concerne a adoção de medidas de cunho
turístico. A execução de um Plano Municipal do Turismo Sustentável, constante no
plano Diretor do Município aprovado em 2007, é uma das ações mais fortes no que
diz respeito à execução de medidas que venham de encontro aos anseios políticos e
da população do município como um todo.
Percebe-se que a partir de formas peculiares de se fazer realizar a atividade
turística, Serra Negra e seus atores sociais conseguem realizar um turismo
condizente com os recursos disponíveis.
Destaca-se inclusive o viés da sensibilização extremamente presente em
todos os entrevistados uma vez perguntados sobre as questões de turismo e
sustentabilidade. Pode-se não ter em mente um conceito formado sobre o que vem
a ser turismo sustentável – na academia, por exemplo, diversos conceitos são
encontrados, mas, o que se faz necessário para a execução de uma atividade com
padrões sustentáveis foram percebidos nas falas dos atores entrevistados
consonantes com o contexto local.
Logicamente, a possibilidade de se modificar comportamentos, muitas vezes
executados pela falta do conhecimento, poderão ainda mais valorizar e salvaguardar
Serra Negra e seus exemplares de fauna e flora.
133

Quando se fala em atores sociais, é importante ter em mente que todos têm
seus próprios interesses e somente irão engajar-se em um projeto coletivo
se houver um benefício. [...] Mudar essa visão de negócio turístico é uma
obrigação e deve estar em qualquer oportunidade de trabalho de que todos
os interessados estejam participando ao mesmo tempo e num mesmo lugar
(MIELKE, 2009, p.38).

O poder público, notadamente a Secretaria Municipal responsável pela


atividade turística sabe da importância da localidade e cria instrumentos legais de
ação direta sobre o Distrito. Ações estas registradas no Plano Municipal do
Município e comprovadas por meio da observação no decorrer deste estudo. A
preocupação existente na localidade hoje é a construção cada vez maior de
residências destoantes das casas simples do vilarejo de Serra Negra o que afeta
diretamente a paisagem da localidade. A esta ação cabe um maior controle por parte
dos órgãos responsáveis em coibir construções irregulares e/ou desproporcionais
aos padrões encontrados – sendo inclusive registrado no momento da pesquisa, a
obrigatoriedade de se manter o padrão estético das casas do vilarejo de Serra Negra
(informação colhida no órgão de turismo municipal). A ampliação cada vez maior de
construções no distrito vem de encontro às características da localidade, o que
destoa e muito do padrão local.
A capacitação e qualificação de mão-obra, a integração dos vários parceiros
do processo de desenvolvimento turístico, a importância da conservação do meio
ambiente e a ocupação real do poder municipal como gestor deste processo são
elementos identificados como indispensáveis para alavancar o turismo em Serra
Negra.
É essencial o engajamento da comunidade aos demais segmentos, no
sentido de traçar uma política que, além de valorizar o turismo regional, trabalhe
pela preservação dos mananciais, “guardando” para as futuras gerações o que há
de mais importante no município: suas riquezas naturais, culturais e históricas.
Por fim, registra-se que este estudo pretendeu de uma forma simples
demonstrar a partir de uma realidade única os componentes relacionados ao turismo
e suas relações com a sustentabilidade. Sabe-se que a proposição e execução das
ações ora propostas necessitam a priori ser compreendidas e aceitas pelos que
trabalham em prol de um turismo baseado nos princípios de envolvimento,
cooperação, sinergia e respeito mútuo. Porém, de qualquer forma, de antemão, tem-
134

se ciência de que o estudo é mais uma contribuição acadêmico-científica ao


desenvolvimento do turismo local, pautado em suas singularidades, trabalhando o
turismo a partir das riquezas locais.
135

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