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9 juLho 2017 n .

1311

O QUE
VAI MUDAR
NA COSTA
VEM AÍ UMA REVOLUÇÃO NO LITORAL E A
COSTA DE CAPARICA VAI SER A PRIMEIRA ZONA
DE PRAIAS A SENTIR ISSO: MENOS PESSOAS NOS
AREAIS, RESTAURANTES MAIS PEQUENOS,
ACESSO LIMITADO DE CARROS.

INCÊNDIOS
COMO EXPLICAR O
FOGO ÀS CRIANÇAS
CHOCOLATE
DE SÃO TOMÉ
PARA AVEIRO

A orla costeira
da Caparica,
da Trafaria
à Fonte da Telha
(na imagem),
é frequentada
por seis milhões
de pessoas/ano.

25
anos

SEMANAL, ESTA REVISTA FAZ PARTE INTEGRANTE DO DIÁRIO DE NOTÍCIAS N.º 54 136 E DO JORNAL DE NOTÍCIAS N.º 38/130. NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE

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Celebramos
ESPECIA
FAMÍLIAL os 25 anos
9 de julho de 2017 da Notícias
Magazine
com artigos
especiais
CAPA JORGE SIMÃO
sobre a família.

histórias da semana

A nova vida Aprender a O cacau Explicar o fogo


da Caparica fazer negócios de Aveiro às crianças
Praias com menos Todos os anos, centenas Em Aveiro, duas Como responder às
gente, menos carros a de estudantes do chocolateiras abriram perguntas que os filhos
circular, restaurantes secundário preparam uma pequena fábrica fazem sobre o incêndio
mais pequenos. Vem aí ideias de produtos ou com cacau de primeira de Pedrógão Grande
uma revolução na serviços num concurso qualidade. E já e as 64 mortes que
Costa de Caparica. nacional de criatividade. ganharam prémios. daí resultaram?
18 32 38 50
JORGE SIMÃO

Cerca de seis milhões de pessoas vão a banhos todos os verões na margem sul do Tejo. Em breve serão muito menos. PÁGINA 18

e ainda
ALMANAQUE LIÇÕES DE VIDA HOBBY BICÓRNIOS BEM-ESTAR BELEZA FLASHBACK
Viagem aos 22 A jornalista e O ambientalista A original vida, O excesso de Em tempo de No início da
anos do Festival escritora Dulce Francisco dedicada às transpiração praia, não é década de
Super Bock, Garcia fala Ferreira gosta artes, de Victor pode ser demais 1980, a
Super Rock, que sobre o que de caminhar Milheirão, embaraçoso, relembrar: use Caparica era,
começa esta a vida lhe na serra de o pintor sobretudo protetor solar, ainda mais, a
semana ensinou. Palmela de bicórnios. no verão. sempre! praia de Lisboa.
10 12 14 44 56 58 66

CRÓNICAS CATARINA CARVALHO 4 JOSÉ LUÍS PEIXOTO 8


RICARDO J. RODRIGUES 16 PAULO FARINHA 62

www.no ticiasmagazin e .pt


NOTÍCIAS MAGAZINE 3

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FORÇA ANÍMICA

O desastre
à beira mar?
Escondermos a cabeça na areia perante
o que se passa nas nossas praias não vai
ajudar nada. Que comece o debate sobre
a organização da costa.
CATARINA
CARVALHO
DIRETORA
NOTÍCIAS MAGAZINE

hora de carro ali estamos, entre as Portugal, está apenas à distância da


dunas, as arribas e o mar. Um mar nossa vontade. Quantos alemães po-
batido e fresco, um areal plano – deriam dizer o mesmo?
mesmo muito plano na maré baixa Faço aqui referência à minha cró-
– que convida a passeios interminá- nica neste mesmo espaço, há três
veis – ou que parecem sempre mais anos – foi o que citei no parágrafo
longos do que os nossos pés aguen- acima. A costa portuguesa é uma
tam. Uma sucessão de bares e res- das nossas maiores riquezas – tal co-
taurantes que oscilam entre o hip- mo a nossa floresta. Mas preservá-
pie chique, o pé na areia, o tasco de la implica mudar hábitos, por vezes
pescadores. Ou, para quem preferir, operar autênticas revoluções no es-
uma praia deserta. Tudo isto no es- tado normal das coisas como sem-
paço de alguns quilómetros. pre as conhecemos. Se nada foi feito
Deixem-me tornar isto um pou- na floresta portuguesa, é porque não
Se alguém quiser saber porque não co mais pessoal. Todos os anos an- é fácil fazê-lo. Porque não dá votos,
se faz nada para melhorar as condi- seio por esse momento em que rumo e pode mesmo granjear ódios. Não
ções da floresta portuguesa basta à margem sul. O rádio do carro toca ser popular não é coisa de que os po-
ler a reportagem que faz capa nesta um suave Michael Kiwanuka. Abro a líticos gostem muito – mesmo os que
edição. Não, não estou a confundir janela para que o ventinho suave, de não são populistas.
alhos com bugalhos. Nesta edição oeste, arrefeça o interior, com chei- A reportagem que hoje publica-
falamos de praias, e sobretudo des- ro a pinheiros marítimos. O Kiwa- mos fala sobre tudo isto. Sobre uma
se imenso areal da Caparica, não de nuka alerta-me de que vou de novo revolução que está a ser preparada
floresta. Mas estamos igualmente a para casa, e é isso mesmo. Todos os na nossa costa, e sobretudo na Cos-
falar de natureza, daquela que é pre- anos anseio por esses fins de semana ta de Caparica. Ouve razões dos vá-
ciso proteger e que um dia pode vol- de verão, em Lisboa. Depois, há tra- rios lados, explica prós e contras, vai
tar-se contra nós. E, sobretudo, es- balho, mas esses sábados e domingos ao fundo das questões. Há quem se
tamos a falar de acidentes à beira de à beira mar dão a sensação de férias. queixe de exagero, há quem anuncie
acontecer, de coisas que toda a gente Provavelmente, podia repetir o mes- a desgraça. O debate está lançado.
com o mínimo de imaginação con- mo texto substituindo a palavra Lis- A pior coisa que podia acontecer era
segue prever. E do que podemos fa- boa por muitas outras localidades, transformar desacordos em ódios, e
zer para o evitar. Porto, Ponta Delgada, Caminha, não debater com realismo. Ou dei-
A Costa de Caparica é uma das ra- Faro, Odemira, Setúbal, Coimbra… xar andar. Gostamos todos demais
zões por que Lisboa é uma das me- Para quase todos nós, a maioria de das nossas praias para deixarmos is-
lhores cidades para viver. A meia nós, os que vivem na bordinha de so acontecer.

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4 NOTÍCIAS MAGAZINE

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NOTÍCIAS MAGAZINE 5

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LUGAR ES POUCO COMUNS

6 NOTÍCIAS MAGAZINE

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É PARA ATESTAR?
Não é montagem ou (distritos do Sudoeste) o apartheid foram
brincadeira. É mesmo era a zona onde os negros surpreendidos por disparos da
uma carroça a sair de uma (e todos os considerados polícia. Houve dezenas de
bomba de gasolina, no não brancos, como indianos mortes, entre as quais a de
Soweto, na África do Sul. ou chineses) eram obrigados Hector Pieterson, de 13 anos,
O proprietário verifica a a viver, a partir de 1950, que se tornou a imagem da
pressão dos pneus e segue no auge da segregação luta. O apartheid terminaria
caminho. Este é mais um racial. O nome tornou-se em 1994, mas os contrastes
dia normal na cidade que conhecido pelas piores sociais mantêm-se até hoje.
foi um dos bairros razões, em 1976, com o
(tornou-se independente Massacre de Soweto,
de Joanesburgo em 1983) em que 20 mil estudantes ONDE?
mais simbólicos do apartheid. que se manifestavam Joanesburgo, África do Sul.
South Western Townships pacificamente contra Fotografia de Siphiwe Sibeko/REUTERS

NOTÍCIAS MAGAZINE 7

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crónica ilustrada

JOSÉ LUÍS PEIXOTO*


texto e fo tografia

Presença

A
penas sei que regressei a casa quando te pego ao colo. invisível e, no entanto, capaz de exercer força, mover objetos.
Tens muito para dizer-me e, por isso, os nossos olhos não Tento fixá-la como faço com os teus olhos, mas parece-me que
se separam. Podia ficar aqui para sempre, há um mun- lhe falta a tua clareza, que me falta a tua sinceridade.
do completo no interior dos teus olhos. Avanço nele e só encontro Às vezes, sem saber o que quero, tenho a certeza de como pos-
pureza. Comparo essa paisagem com os so alcançá-lo. Então, os movimentos
lugares por onde andei e, por momen- são mais rápidos do que o pensamen-
tos, acredito que nunca mais quero to, há uma vontade maior do que a mi-
sair daqui. Aspiro ao que vejo nos teus nha a dirigir a minha vontade. Há uma
olhos, quero essa candura transparen- voz distante que me chama, fico cego.
te para os meus gestos e para as minhas Agora, abraço-te. Em ti, protejo-me
intenções. Aprendo tanto contigo. do mundo e de mim próprio. Esperas-
Respiramos ao mesmo tempo. Agora, -te-me atrás da porta, não deixas-
por fim, estamos juntos no mesmo ins- te que este tempo perturbasse o nos-
tante, habitamo-lo. Passo as mãos pela so apego. Levei-te comigo em todos
tua cabeça, pescoço, costas, as minhas os momentos, foste ao lado do meu
mãos são enormes no tamanho do teu nome, do meu silêncio, do pouco que
corpo. Quando te habituas a esse ritmo realmente possuo.
e a esse calor, bocejas longamente. És tu, Estás ao meu colo, respiras e, ao
é a ternura, sorrio. mesmo tempo, sou eu que estou ao teu
Sinto o conforto do teu peso. Nele, há colo, respiro. Há um entendimento
uma segurança profunda, absoluta. que nunca perderemos, é maior do que
Nunca perguntas porque vou embo- as nossas vidas, é maior do que aqui-
ra, sou eu que coloco a questão a mim lo que somos capazes de ser. Eu sou
FOTOGRAFIA JOSÉ LUÍS PEIXOTO

próprio. Entre mistérios privados, se- um homem de 42 anos, tu és uma ca-


cretos, há um lugar onde permanece delinha de 11 anos, mas não é isso que
essa interrogação sem resposta, exa- importa.
la uma espécie de força magnética, * Escritor

NAS PRÓXIMAS SEMANAS: MANUEL JORGE MARMELO, AFONSO CRUZ E ANA BACALHAU
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8 NOTÍCIAS MAGAZINE

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ALMANAQU E RIC A RDO S A NTOS A S HIS T ÓRI A S DO S DI A S

22 anos de Rock
DIAS 13, 14 E 15 DE JULHO, DE QUINTA-FEIRA A SÁBADO, TODOS OS CAMINHOS APONTAM PARA O PARQUE
DAS NAÇÕES, EM LISBOA. A AVENTURA COMEÇOU EM 1995 ANOS E FORAM CENTENAS DE BANDAS A PASSAR
PELOS DIVERSOS PALCOS DOS VÁRIOS LOCAIS ONDE O FESTIVAL SUPER BOCK SUPER ROCK JÁ SE REALIZOU.
SE JUNTARMOS OS PRINCIPAIS NOMES ESTRANGEIROS QUE VISITARAM PORTUGAL PARA FAZER PARTE
DOS ALINHAMENTOS, TEMOS UMA SELEÇÃO AO ALCANCE DE POUCOS FESTIVAIS NO MUNDO.

1995-2003 2010-2014
Em 2004, no Parque Tejo, MUSE, Em 2015, depois de muitas
LINKIN PARK, LENNY KRAVITZ, queixas sobre o pó e o
PIXIES e FATBOY SLIM. Faltou cer- trânsito, a organização do
DE CASA ÀS COSTAS veja nesse ano, lembram muitos
festivaleiros. No ano seguinte o
UMA CASA À MEDIDA SBSR resolveu voltar à capita.
Novamente no Parque das
local manteve-se, a qualidade do Nações, subiram ao palco
cartaz também, com SYSTEM OF STING, BLUR ou FLORENCE AND
A DOWN, NEW ORDER, MOBY, IGGY THE MACHINE. E no ano
POP & THE STOOGES, MARILYN passado, a escolha de local
MANSON e AUDIOSLAVE. Em 2006 manteve-se, com destaque
e 2007, ainda no Parque Tejo, para os concertos de
houve KORN, PLACEBO, FRANZ KENDRICK LAMAR, DE LA SOUL
FERDINAND, THE CULT, 50 CENT, e BLOCPARTY, além dos
PHARRELL WILLIAMS, regressos de Iggy Pop e de
METALLICA, ARCADE FIRE, LCD Massive Attack.
SOUNDSYSTEM, UNDERWORLD e
INTERPOL. Lisboa e Porto
receberam os concertos de 2008
e 2009. No primeiro ano, ao sul,
brilharam IRON MAIDEN, SLAYER
ou DURAN DURAN. Ao norte,
JAMIROQUAI e MORCHEEBA. Em
2009, o s Depeche Mode O regresso a um só recinto

2015-2017
cancelaram e foram substituídos aconteceu em 2010 e num local
Primeira edição: 8 e 9 de julho de pelos Xutos & Pontapés e já mítico para quem andava nas
1995, Gare Marítima de Alcântara. brilharam os NOUVELLE VAGUE. lides dos festivais: a herdade do
JESUS AND MARY CHAIN,
THE CURE, FAITH NO MORE e
Os THE KILLERS estiveram no
estádio do Restelo.
Cabeço da Flauta, a caminho da
praia do Meco. Foi uma edição
RENDIDOS À CIDADE
MORPHINE foram os de luxo, de esplendor no pó,
cabeças-de-cartaz. Na segunda, onde brilharam, entre muitos
também em Alcântara, mas no outros, PET SHOP BOYS, VAMPIRE

2004-2009
Passeio Marítimo, DAVID BOWIE, WEEKEND, THE NATIONAL, LAU-
MASSIVE ATTACK e PRODIGY RENT GARNIER e o inesquecível
«rebentaram» com o recinto. É PRINCE. O concerto do génio de
uma das edições mais recordadas Minneapolis foi tão concorrido
por quem esteve presente. Em ENTRE LISBOA E PORTO que muita gente teve que o ouvir
1997, a revolução chegou pelos na longa fila de trânsito. Até 2014
RAGE AGAINST THE MACHINE e (inclusive), o SBSR esteve no seu
das canções orelhudas dos local mais em comunhão com a
SIMPLE MINDS. A quarta edição natureza. O sol, a praia e o rock
coincidiu com a realização da ‘n roll deram direito a atuações
Expo ‘98, por isso o festival de luxo: ARCTIC MONKEYS e THE
decorreu na Praça Sony. MIKE STROKES (2011), LANA DEL REY,
SCOTT, dos Waterboys, e o eterno M.I.A. e PETER GABRIEL (2012),
VAN MORRISON chamaram o BLACK REBEL MOTOCYCLE CLUB
público ao atual Parque das e QUEENS OF THE STONE AGE
Nações. De 1999 a 2003, o festival (2013) e EDDIE VEDDER e TAME
mudou para formato itinerante IMPALA (2014), para lá de uma
(Lisboa, Porto, Vigo, Coimbra, homenagem a Lou Reed, que
Gaia ou Madrid). morrera em outubro de 2013.

10 NOTÍCIAS MAGAZINE

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PUBLICIDADE
O QUE HÁ PARA VER
E OUVIR ESTE ANO?
A
edição deste ano traz alguns nomes conheci-
dos e outros que ainda não. O festival decorre
no Parque das Nações e há algumas curiosi-
dades a assinalar. No primeiro dia (quinta, 13), quando
subirem ao palco principal os RED HOT CHILI PEPPERS
E THE NEW POWER GENERATION (com Bilal) – a ines-
quecível banda que fez tantos anos companhia a Prin-
ce – comemorar-se-ão os 49 anos do dia de lançamento
de uma das malhas mais famosas do rock n’ roll: Born
to be Wild, dos Steppenwolf. Neste primeiro dia, des-
taque ainda para THE LEGENDARY TIGERMAN E ALE-
XANDRE SEARCH (Palco EDP), TUXEDO e XINOBI COM
MOULLINEX no Palco Carlsberg. No dia 14, sexta-feira,
passam 29 anos desde o primeiro concerto de Micha-
el Jackson em Inglaterra. Foi no Estádio de Wembley
e contou com Diana Ross e Boy George na assistência.
Nesse dia é possível poder ver e ouvir FUTURE, LON-
DON GRAMMAR e THE GIFT (Palco Super Bock), PUSH T
e LÍNGUA FRANCA (Palco EDP) ou dançar com os BE-
ATBOMBERS no Palco Carlsberg. Para dia 15, sábado,
estão guardadas belas cerejas neste bolo musical. Pela
Meo Arena passam os DEFTONES, FAT BOY SLIM e FOS-
TER THE PEOPLE. No palco EDP estará o brasileiro SEU
JORGE e o seu tributo a David Bowie. Quanto à dança,
todas as atenções para o DJ MAGAZINO. Nesse mesmo
dia, mas em 1966, Percy Sledge ganhou um disco de
ouro por When a Man Loves a Woman.

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LIÇõ ES D E VIDA

Dulce Garcia
«A idade tem de servir para alguma coisa»
TEXTO ANA PATRÍCIA CARDOSO
1
JANEIRO
O mês das mudanças.
Foi em janeiro que
começou a trabalhar
e que veio para Lisboa.

DR

D 6
ulce Garcia, 46 anos, sou- coma, durante um mês. «É aí que tu
be que gostava de escrever percebes que as prioridades têm de
aos 7, quando descobriu a ser outras e que um dia podes atra-
biblioteca de Alcochete, a cidade vessar uma estrada e ficar ali es-
natal. «Vivia numa terra pequena, tendida.» Separou-se, dedicou-se
não tínhamos acesso a muita coisa. ao trabalho, aos filhos e à escrita. CASAMENTO
Setúbal era a nossa capital.» Op- Ainda há muita estrada pela frente Dulce casou a 2 de junho
tou pelo jornalismo por ser a pro- mas há camadas que ficaram para deste ano. Nunca tinha
fissão mais próxima das palavras trás. «Afinal, a idade tem de servir subido ao altar.
mas «sempre tive mais espírito de para alguma coisa, não é?»
escritora do que de jornalista». Foi
cofundadora da Sábado, em 2004,

5
2
onde chegou a subdiretora. Saiu da
revista este ano e hoje só pensa na
escrita. O primeiro livro, Quando
Perdes tudo Não Tens Pressa de Ir a
Lado nenhum (ed. Guerra & Paz), NÚMERO DA SORTE
foi publicado em fevereiro. «O pró- É o número preferido.
ximo vem já para o ano e é muito «Acontecem-me sempre
diferente.» Publicar uma obra em coisas boas nos dias 5.»
nome próprio demorou o seu tem-
po – foi escrita em quatro anos. «É LIVRO

18
um processo longo. Até aos 30, es- Está a escrever
a segunda obra
tamos a construir uma persona-
que deverá ser
gem. Seja pela influência dos pais, publicada no
dos professores, dos relacionamen- início do
tos, do trabalho. A partir daí, algu- próximo ano,
mas pessoas conseguem despir es- um ano após a
estreia como  
sas camadas, outras, nem por is- MATERNIDADE
so.» Se há lição que a experiência autora com o
livro Quando Há dezoito anos, no dia 18 de
lhe deu é que toda a vida muda nu- Perdes tudo Não setembro, nascia o primeiro
ma curva. Aos 34, a irmã mais ve- Tens Pressa de filho, Manuel. A filha Teresa
lha (com apenas 15 meses de dife- Ir a Lado nasceu quatro anos depois,
rença) teve um acidente e ficou em nenhum. a 10 de novembro.

12 NOTÍCIAS MAGAZINE

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COM O CARTÃO SAÚDA
ACUMULA PONTOS
EM 2000 FARMÁCIAS
PORTUGUESAS.
1€
=
1PONTO*

Com o Cartão Saúda, quando vai a uma Farmácia Portuguesa, sai de lá com pontos.
Depois, pode trocá-los por produtos ou poupar na conta da farmácia.
Saúda. O cartão que faz bem.
* Exclui medicamentos sujeitos a receita médica.

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HOBBY

Francisco Ferreira
Passear na natureza
OLHAR ATENTO
O ambientalista
gosta de

H
caminhar e ir
á 15 anos, desde que se mudou para Palme- assistindo às
la, que há sempre tempo para um passeio pe- mudanças das
la serra do Louro, no limite do Parque Natural da estações do ano
Arrábida. Uma ou duas vezes por semana, sozinho na fauna e flora.
ou acompanhado pela família. E há tanto para ver
durante hora e meia de caminhada sem pressas. «É
uma zona curiosa: tem moinhos, tem vinhas, tem
adegas, tem uma diversidade simpática», diz o pre-
sidente da associação ambientalista Zero e professor
universitário, que dá aulas sobre poluição do ar, ruí-
do e estatística ambiental. Pelo caminho, apanham-
se amoras e veem-se ovelhas que contribuem para os
queijos de Azeitão. «Tem uma vista fantástica para
Lisboa e para a serra de Sintra.» E ainda se consegue
ver um bocadinho de mar para os lados de Troia. «É
uma das caminhadas mais conhecidas e feitas pelas
pessoas de Palmela.»
Francisco Ferreira veste roupa desportiva e des-
contraída, calções e calçado confortável. Não para
correr, mas para apreciar. É um passeio higiénico
que tanto dá para desligar do mundo, não pensar em
muita coisa e ir apreciando as mudanças da nature-
za, como é um tempo que aproveita para pensar em
decisões ou estratégias com outra calma e com ar
mais puro nos pulmões. E, volta e meia, o ex-pre-
sidente da Quercus lá vai pensando em assuntos
que o corre-corre do dia-a-dia não permitem.
Um ambientalista sabe como são estas coi-
sas. Caminha, passeia, aprecia, absorven-
do o que tem ao redor. Assiste às mudan-
ças das estações do ano, percebe que ti-
po de pessoas opta por correr e os que
decidem fazer o percurso de bicicle-
ta. «Há vários ritmos engraçados
para ir observando», conta. E há outro
ar para respirar nessa serra.

TEXTO SARA DIAS OLIVEIRA FOTOGRAFIA PAULO SPRANGER / GLOBAL IMAGENS

14 NOTÍCIAS MAGAZINE

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A pr essa do caracol

RICARDO J. RODRIGUES
jornalista

Se calhar é altura de começarmos


a falar de dinheiro

E
u devia ter uns 13 ou 14 anos a primeira vez que fiz um pla- um orçamento. Nessa tarde, um e-mail dizia que tinham adorado o
no de poupança. Queria comprar uma máquina fotográ- projeto, mas precisavam de um orçamento cinco vezes mais baixo.
fica e estava a explicar o meu plano ao meu irmão mais ve- Há esta nacional circunstância que está institucionalizada e que
lho. No verão anterior, o meu tio tinha aparecido na praia com uma é uma calamidade: pedir trabalhos sem anunciar quanto se quer
Polaroid que tirava retratos à la minute e eu guardava na memó- gastar. Se aquela empresa que contactou a minha amiga dissesse
ria o espanto que me causara uma eternidade tão rápida. O meu imediatamente que podia gastar um determinado valor, ela iria
projeto começou por ser o óbvio: juntar as mesadas. Mas, fazen- apresentar um projeto adaptado àquele orçamento. A minha ami-
do as contas, isso só me permitiria comprar a câmara quando fos- ga passou umas boas horas a dar jeitinhos ao projeto. No final, dis-
se maior de idade – era espera demasiada. Então pensei vender a se-me que teria conseguido fazer melhor com o mesmo orçamen-
minha coleção de obras do Júlio Verne, e perguntei ao Hugo (que to se a empresa lhe tivesse dito à partida que era aquilo que queria
já duas ou três vezes tinha ido vender bugigangas para a Feira da gastar. Mas já estava em cima do relógio, tudo iria sair mais caro.
Ladra) quanto é que ele achava que me dariam por Alguém que pede um serviço a alguém devia es-
ela. Foi nisto que a minha avó interrompeu a con- tar obrigado por lei a dizer quanto está disposto a
versa, num tom de autoridade que não admitia dis- ESTA COISA DE pagar. Esta coisa de achar que falar de dinheiro é
cussão: «Meninos, não se fala de dinheiro à mesa.» uma falta de educação só causa atrasos e embara-
Todos devemos ter ouvido isto em alguma altura ACHAR QUE FALAR ços. No jornalismo também acontece muitas vezes,
da vida. Que não é de bom tom falar de dinheiro. Os DE DINHEIRO É UMA tenho demasiados amigos freelancers para não me
livros de etiqueta da era vitoriana já apontavam es- FALTA DE EDUCAÇÃO aperceber do fenómeno. «Faz-me aí um texto de 20
sa indicação, os manuais de instrução para rapazes
são bastante categóricos com o tema, e estou capaz
SÓ CAUSA ATRASOS E mil carateres sobre o tema tal para entregar na da-
ta tal.» Raras vezes este pedido termina com a fra-
de apostar que o mesmo se aplica aos guias de meni- EMBARAÇOS. ISTO FAZ se: «Posso pagar tal.» E isto faz toda a gente perder
nas respeitáveis. Esses mesmos manuais transmi- TODA A GENTE PERDER tempo, motivação e eficácia.
tem regras que hoje consideramos discriminatórias TEMPO, MOTIVAÇÃO Na mesma noite em que a minha avó me aconselhou
ou sexistas, mas este protocolo que nos impede de a não falar de dinheiro, eu conversei com o meu pai
falar de dinheiro prolongou-se estranhamente no E EFICÁCIA. ao jantar. Disse-lhe que queria uma Polaroid mas
tempo. E muito para além do desejável. precisava de arranjar fundos rapidamente. Então ele
Há dias, uma amiga atirou para o meio da mesa um palavrão que propôs que eu o ajudasse no trabalho dele durante umas semanas,
não rimava com o dia solar. Dias antes, ela tinha sido convidada pa- duplicando a mesada. Foi o meu primeiro emprego e, no final des-
ra apresentar um projeto de trabalho. «Quanto é que querem gas- se ano, lá comprei a câmara. Essa há muito que se perdeu, mas ho-
tar», perguntou na altura. A resposta do outro lado foi que ainda je, nas minhas estantes, conservo as obras completas de Júlio Ver-
não sabiam, apenas sabiam que queriam fazer um trabalho de gran- ne e considero-as um tesouro. A melhor coisa que eu podia ter feito
de alcance. Ela apresentou as ideias, uma lista de meios técnicos e aos 13 ou 14 anos foi falar, indelicadamente, de dinheiro.

NAS PRÓXIMAS SEMANAS: CATARINA PIRES E INÊS CARDOSO


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16 NOTÍCIAS MAGAZINE

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AGORA JÁ PODE DAR
A VOLTA AO MUNDO
NA TELEVISÃO.

CONSTANTINO LEITE

DESTINO DESTE MÊS:

Marrocos
AOS SÁBADOS E DOMINGOS NA RTP 3
EM JULHO A VOLTA AO MUNDO VOLTA A UM LOCAL ONDE COSTUMA SER FELIZ:
MARROCOS. E DESTA VEZ VAMOS DE CARRO, NUMA EXPEDIÇÃO EM PARCERIA
COM O CLUBE ESCAPE LIVRE, ATRAVÉS DE CIDADES E DESERTO.
TEMOS MUITAS HISTÓRIAS PARA CONTAR QUE VAI PODER LER, OUVIR
E VER NA NOSSA EDIÇÃO EM PAPEL, NO ONLINE E, TODOS OS FINS DE SEMANA,
NOS PROGRAMAS DE TELEVISÃO NA RTP. VENHA CONNOSCO POR ESTRADA,
PISTAS E DUNAS NUMA AVENTURA SEM IGUAL.

VO LTA AO M U N D O . P T

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Casas ilegais sobre a
areia, construções
expostas a tempesta-
des, um verdadeiro
atentado à arriba
fóssil. A Fonte da
Telha é um caso ímpar
de desordenamento

18 NOTÍCIAS MAGAZINE

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AMBI EN TE

O sol da Caparica mantém-se, mas...

...AS PRAIAS
VÃO MUDAR
O LITORAL PORTUGUÊS VAI MUDAR. O GOVERNO APROVOU SEIS NOVOS PROGRAMAS QUE
VÃO ALTERAR A ORLA COSTEIRA DE NORTE A SUL DO PAÍS. NA COSTA DE CAPARICA, UMA DAS
ZONAS BALNEARES MAIS PROCURADAS, QUE ATRAI CERCA DE SEIS MILHÕES DE PESSOAS
EM CADA VERÃO, A ORDEM É PARA REDUZIR A ÁREA DE BARES E ESTACIONAMENTOS, RECUAR
EDIFÍCIOS EM RISCO E DIMINUIR O NÚMERO DE PESSOAS NAS PRAIAS. AS MEDIDAS ESTÃO
A GERAR POLÉMICA.

NOTÍCIAS MAGAZINE 19

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AMBI EN TE

Texto Rita Garcia mais dois. E foi ficando na casinha de ma-


Fotografia Jorge Simão
deira, que, mais tarde, haveria de dar lugar
ao edifício de alvenaria que ainda perdura.
O tio Luís deixou o negócio pouco depois.
Ludovina, por pressão dos filhos, assumiu a
concessão. No início, partia de armas e ba-
gagens para a Costa em abril e só voltava a
Loures em outubro. Os dois rapazes ajuda-

A
vam a servir à mesa e, nas horas vagas, apro-
veitavam a praia. «Nessa altura, havia tanta
areia que demorávamos cinco ou dez minu-
tos a chegar ao mar», diz António Vieira, um
dos filhos de Ludovina que, com ela, traba-
lha a tempo inteiro no restaurante.
Não existia eletricidade, nem água cana-
lizada, muito menos esgotos. «Usávamos a
água do mar para tudo. As casas de banho
eram mais afastadas e a fossa sética tinha de
ser despejada por um trator», recorda Ludo-
vina. Tal como agora. Bebidas e alimentos
mantinham-se frescos à conta de enormes
blocos de gelo trazidos do mercado e, à noi-
te, comia-se sardinha e peixe espada à luz
das velas e do luar.

A ELETRICIDADE SÓ CHEGOU À PRAIA DO


CASTELO quando Ludovina descobriu que
a concessão do lado já tinha contrato com a
EDP. «Tivemos de comprar os postes, mas,
nesse ano, houve luz.» Os altos quadros da
Lisnave e da Setenave garantiam clientela
distinta, a que se juntavam muitas assisten-
tes de bordo da TAP. «Quando passámos
a ter telefone, ligavam da companhia pa-
ra convocar as hospedeiras que estavam de
prevenção para irem voar» conta António.
Ramalho Eanes passou por lá, Raul Solna-
do era cliente habitual.
AQUELE PEDIDO DO TIO LUÍS ERA IRRE- Os parques de estacionamento raramen-
CUSÁVEL. No tempo em que a Costa de Ca- te enchiam e nunca se via o caos que hoje to- O PLANO QUE ESTEVE EM
parica era um areal inexplorado e as praias ma conta deste lugar nos meses quentes.
da margem sul do Tejo um privilégio reser- Mas, atrás do balcão, não havia mãos a me-
DISCUSSÃO PÚBLICA ATÉ
vado à elite com carro para lá chegar, Luís dir. Ludovina ia pedindo apoio a familiares
da Costa Vieira, um agricultor da zona de e amigos. Os filhos fizeram-se homens aqui.
30 DE MAIO PREVÊ UMA
Loures, foi para lá tratar a asma. Instalou-­ Vieram os netos. «Dava-lhes banho em ci- REDUÇÃO DRÁSTICA DA ÁREA
-se em casa de um pescador, a quem, por ma de cadeiras num alguidar cheio de água
gratidão, ofereceu os comandos da conces- aquecida no fogão.» Uma dessas crianças DOS APOIOS DE PRAIA
são da praia do Castelo. Quis dar-lhe um ne- era Cláudia Vieira, modelo, atriz e a grande
gócio que o deixasse bem na vida. Só que a responsável pela popularidade da praia do E DOS PARQUES DE
amizade esmoreceu e Luís viu-se a braços Castelo entre gente da televisão.
com o restaurante. A única solução foi re- Quase meio século depois, Ludovina con-
ESTACIONAMENTO ENTRE A
correr à família para manter a casa aberta. tinua na cozinha, enérgica e desembara-
O convite apanhou Ludovina Silva já mu- çada. Ninguém lhe dá os 84 anos que tem.
COVA DO VAPOR E A FONTE
lher feita. Casada com um dos sobrinhos de A área do restaurante foi alargando para DA TELHA – UMA DAS ZONAS
Luís, trabalhava como cozinheira na Escola dar resposta à procura. Hoje ocupa seiscen-
Alemã, tinha dois filhos e a vida orientada, tos metros quadrados, incluindo a esplana- BALNEARES MAIS
nesse final da década de 1950. Mesmo as- da, e há 120 mesas para servir – um espaço
sim, comprometeu-se a tomar conta dos ta- demasiado grande para os parâmetros do MOVIMENTADAS DO PAÍS.
chos durante o mês de férias. Prolongou por novo Programa para a Orla Costeira (POC),

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Se as alterações na lei
avançarem, os 600 m2
e 120 mesas do
restaurante da praia
do Castelo, explorado
por António Vieira e a
mãe, Ludovina Silva,
terão de reduzir
para metade.

de Alcobaça ao cabo Espichel [ver mapa na


«As pessoas página 30], que deverá ser aprovado até ao
vêm à praia na final do ano. Se tudo o que está previsto for
mesma, com ou para a frente, o restaurante terá de encolher
sem condições»,
diz João para pouco mais de metade. E a paisagem da
Carreira, Caparica vai mesmo mudar.
dono dos O documento que esteve em discussão
restaurantes pública até dia 30 de maio prevê uma redu-
Borda d’Água
e Waikiki, ção drástica da área dos apoios de praia e dos
nas praias parques de estacionamento entre a Cova do
da Morena Vapor e a Fonte da Telha – uma das zonas
e Sereia. balneares mais movimentadas do país. Mas
há a intenção de investir no comboio Trans-
praia para melhorar o acesso aos areais.
De acordo com a Câmara Municipal de
Almada, seis milhões de pessoas frequen-
tam estas praias em cada verão, sujeitando
os areais e as dunas a uma carga que a Agên-
cia Portuguesa do Ambiente (APA) conside-
ra excessiva. Esse é um dos problemas a que
o novo POC quer dar resposta. Em vez de um

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número indeterminado de carros, encaixa-


dos desordenadamente sob uma nuvem de
terra batida, o programa prevê a criação de
estacionamentos organizados que, na tota-
lidade, terão capacidade para 4705 automó-
veis entre a Cova do Vapor e a Fonte da Telha
– um número muito inferior ao atual, que é
impossível de calcular.
A secretária de Estado do Ambiente não
tem dúvidas: para proteger o litoral, há sí-
tios onde é preciso reduzir a quantidade de
pessoas. «Pensamos na Caparica e nalgu-
mas áreas do Algarve, como Monte Gordo,
onde vai ser necessário fazer uma interven-
ção significativa», diz Célia Ramos. «O que
os POC fazem é um ordenamento, um plano
de pormenor para as áreas balneares. A ges-
tão é impopular, sobretudo em zonas onde o
afluxo é imenso. É cada vez mais importante
NA PRAIA DE SÃO JOÃO, APENAS O BAR LEBLON, DE RUI COSTA, encontrar alternativas noutras áreas de re-
creio balnear, sem ser apenas no litoral. Cada
CUMPRE AS NOVAS NORMAS. MARTA CANÁRIO FREQUENTA ESTAS vez temos mais praias no interior.»
O governo tem em cima da mesa seis POC,
PRAIAS HÁ ANOS E QUEIXA-SE SOBRETUDO DOS ACESSOS. «SE UM DIA que pretendem regulamentar, monitorizar,
proteger e ordenar todo o litoral português,
HÁ UM PROBLEMA NA FILA DE CARROS, DÁ-SE UMA TRAGÉDIA.» de Caminha a Vila Real de Santo António.

O novo Plano de
Ordenamento da
Costa prevê também
acesso limitado de
pessoas às praias
– logo, menos carros
estacionados na zona.

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PUBLICIDADE
«Estamos perante uma costa onde há fenó-
menos de galgamento e queda de arribas,
que está muito exposta à ação de um mar
agitado. Todo o litoral está ameaçado, a não
ser nas áreas que já estão devidamente pro-
tegidas», diz a secretária de Estado.
«Quarenta por cento da costa portugue-
sa sofre riscos da erosão, e está sujeita aos
efeitos das alterações climáticas, subida do
nível do mar e degelo. Cada vez há menos
sedimentos trazidos pelos rios, devido às
barragens, e menos areia nas praias», re-
força Paulo do Carmo, da Quercus.
Para a APA e as outras entidades respon-
sáveis, a defesa do litoral passa por preservar
dunas e outras barreiras naturais existen-
tes, reforçar estruturas artificiais de defesa
e compensar a redução do volume de areia.
Além disso, é preciso travar ou demolir
construções demasiado próximas do mar.
O governo começou pela faixa mais sujeita
a intempéries e aprovou no início de junho o
POC que regula o troço entre Ovar e a Mari-
nha Grande [ver mapa na página 30]. Nes-
ta zona, por exemplo, foi barrada a constru-
ção de um hotel e de um parque de campis-
mo projetados para terrenos em risco. Mas
há muito mais medidas previstas para to-
da a costa portuguesa. Ao longo do próximo
ano, deverá haver luz verde para os restan-
tes Programas de Ordenamento. A aprova-
ção do documento dedicado à faixa Alcoba-
ça-Cabo Espichel, que inclui a Costa de Ca-
parica, deve acontecer nos próximos meses.

SÓ ESTE PROGRAMA PREVÊ UM INVES-


TIMENTO de mais de 200 milhões de euros,
145,5 dos quais serão geridos pela APA e cer-
ca de 60 serão entregues às autarquias. No
concelho de Almada deverão ser feitas alte-
rações na ordem dos cem milhões de euros.
Os empresários locais aplaudem o investi-
mento, mas questionam o programa. «Se o
POC for para a frente como está previsto, há
negócios que deixam de ser viáveis. Aqui no
[restaurante] Borda d’Água, por exemplo,
corre-se o risco de acabar com um estabe- Robot Cuisine Companion MOULINEX
lecimento de referência na Costa», diz João
Carreira, presidente da Associação de Con-
cessionários da Costa de Caparica. À chamada 650 atribuímos um Robot Cuisine
João é o único empresário com duas con- Companion da Moulinex.
cessões: praias da Morena e da Sereia. É o
dono do Borda d’Água e do Waikiki, dois dos
restaurantes mais trendy e bem cuidados da
zona. São também dois dos maiores. No pri-
meiro, as mudanças podem ser de grande
monta. O bar tem hoje quatrocentos metros
quadrados de área coberta distribuída por
dois pisos – um aberto ao público, o outro
utilizado para arrumos. A esplanada com
Ligue até 15 julho

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mesas, cadeiras, espreguiçadeiras e colmos No concelho de Almada, a praia que fica- sistema de canas espetadas na areia, conse-
estende-se por 1600 metros quadrados. rá com maior capacidade será a de São João guiu-se uma subida significativa do volume
«Caso o POC seja aprovado, só podemos de Caparica (5700 pessoas). A mais reserva- da duna junto ao restaurante.
ter duzentos metros quadrados de área co- da será a do Norte, que não deverá ultrapas- Nem todas concessões estão na mesma si-
berta e 150 metros quadrados de esplana- sar as 360 pessoas. João Carreira duvida da tuação que o Leblon. Para cumprir o POC,
da», diz João Carreira. O espaço é curto pa- eficácia dessas medidas: «As pessoas vêm à alguns bares terão de ocupar menos espaço
ra a enorme procura. No início de junho, o praia na mesma, havendo condições ou não. e outros de recuar para onde atualmente es-
movimento ainda é calmo durante a sema- Eles deviam ter noção de que aquilo que te- tão os parques de estacionamento. O mes-
na: há lugares vagos e o serviço é rápido. Ao mos no terreno hoje em dia é o que faz falta.» mo acontecerá com parques de campismo
fim de semana, no entanto, já só se consegue demasiado expostos nessa faixa. Apesar das
lugar ao almoço com reserva e os 30 empre- AS MUDANÇAS VÃO CHEGAR A TODO O LA- mudanças esperadas, «os concessionários
gados da casa custam a dar conta do recado. DO.NapraiadeSãoJoão,porexemplo,apenas da praia de São João não apresentaram pro-
Num dia de verão, a praia da Morena, tal um dos apoios deverá ficar intacto: o Leblon. postas na fase de consulta pública do POC»,
como as vizinhas, enchem tanto que é difícil É o único que cumpre todas as normas exigi- diz Rui Costa. Aguardam a decisão final.
encontrar uma nesga de areia livre. Nos últi- das pelo POC. «Nesta zona, o que eles dizem Até ao fim do século xviii, a Costa de Ca-
mos anos, com a crise económica, a afluên­ é que a duna tem de crescer e os bares de re- parica era sobretudo uma terra de pescado-
cia tornou-se ainda maior. No entanto, o cuar», diz Rui Costa, o proprietário. Há uns res oriundos da região de Aveiro. Os lisboe-
novo POC quer baixar o número de pes­soas anos, o areal à volta deste bar foi alvo da in- tas quase não apareciam, preferiam a linha
que vão para o areal para 715, no máximo. tervenção do programa Reduna e, com um de Cascais. O areal da Caparica só passou a

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estar no mapa balnear depois da construção junto à costa e 85% do PIB é gerado perto do
da ponte sobre o Tejo, em 1966. mar. Além disso, de acordo com a Agência
O destino tornou-se tão popular que mui- Europeia do Ambiente, Portugal foi o país
tos construíram ali casas de fim de sema- europeu que mais construiu a um quilóme-
na ou veraneio. De acordo com o projeto tro da costa entre 1995 e 2005. A defesa do
CHANGE (uma investigação conduzida litoral é, por isso, uma prioridade. Por isso,
por uma equipa do Instituto de Ciências So- segundo o CHANGE, de 1995 a 2010 foram
ciais e da Faculdade de Ciências da Univer- gastos 126 milhões de euros para o proteger.
sidade de Lisboa para determinar o impac- Mesmo sabendo que muitas casas foram
to das alterações climáticas no ordenamen- construídas em situações irregulares e que
to do território e na vida das populações que estão à mercê das intempéries, os proprie-
residem em zonas de risco de erosão costei- tários raramente entendem a necessida-
ra), entre 1950 e 2011, a população residen- de de as demolir. «Hoje o que está em causa
te na Costa aumentou 344%. Foi um acrés- – além da legalidade – é uma questão de ex-
cimo de 65% no número de pessoas que fre- posição ao risco. Das duas uma: ou se pro-
quentam aquela região, como assinala este tege ou se retira», diz a secretária de Esta-
estudo realizado por investigadores do Ins- do do Ambiente. «A retirada – sobretudo
tituto de Ciências Sociais para avaliar o im- em si­tuações de ilegalidade – tem mesmo
pacto das alterações climáticas na vida de de acontecer. Não vamos fazer esporões pa-
três comunidades do litoral: Vagueira, Cos- ra proteger um hotel, nem um aglomerado
ta de Caparica e Quarteira. O problema é construído ilegalmente», diz Célia Ramos.
que uma parte das novas casas foi feita clan- Na Costa de Caparica, quando se fala de
destinamente, em terrenos vulneráveis. situações críticas de ordenamento, todos os
O facto de o primeiro esporão de defesa ter caminhos vão dar à Fonte da Telha. Num
sido construído em 1959 demonstra bem que único sítio, há tudo: casas ilegais em cima da
a ameaça do mar começou ainda antes do areia, construções expostas a tempestades e
crescimento exponencial da localidade. Em galgamentos e um evidente atentado à arri-
1970, já fora necessário implantar sete espo- ba vizinha. Mas não é caso único. Tanto para
rões para defender a frente urbana. «As pes- «O QUE ESTÁ EM CAUSA, os concessionários como para os milhares de
soas mais velhas da Costa dizem que, quando veraneantes, há outra situação bastante gra-
eram novas, a praia era enorme e iam a pé até ALÉM DA LEGALIDADE, É ve: a estrada de terra batida que dá acesso às
ao Bugio. Era tudo areia até lá», diz a soció­ praias entre a da Princesa e a da Bela Vista.
loga Luísa Schmidt, coordenadora do Proje- UMA EXPOSIÇÃO AO RISCO.
to CHANGE. «Só que essa areia foi sendo re- DESDE OS 5 ANOS QUE MARTA CANÁRIO
tirada para se construir a ponte e a marginal DAS DUAS UMA: OU SE percorre este caminho. Sempre que vinha à
e acabou por se criar um défice que deixou o li- praia da Sereia, era a mesma confusão: ar-
toral mais vulnerável.» Outros fatores, como PROTEGE OU SE RETIRA», DIZ bustos brancos do pó, carros estacionados
as dragagens do porto de Lisboa e a constru- por todo o lado e condutores em apuros, a
ção de barragens no rio, contribuíram ainda A SECRETÁRIA DE ESTADO DO cruzarem-se com milímetros de distância
mais para o desequilíbrio.
O CHANGE menciona outras causas pa-
AMBIENTE, CÉLIA RAMOS. uns dos outros. «O que me surpreende é que
eu agora tenho 41 e não mudou quase na-
ra a erosão acentuada no troço entre a Tra- da. Os bares estão melhores, mas os aces-
faria e a Fonte da Telha, como «as práticas sos não. É um caos e há imensa gente selva-
agrícolas e a ocupação urbana na vasta pla- gem que estaciona sem se preocupar se ca-
nície entre a arriba fóssil da Costa de Capa- bem dois carros. Se um dia há um problema
rica e a linha de costa» que há décadas impe- na fila de carros, dá-se ali uma tragédia.»
dem a alimentação do litoral com sedimen- Nos dias de maior afluência, a partir das
tos provenientes da erosão da arriba. 15h00, o engarrafamento é compacto. «Não
Os números do avanço do mar são impres- sobra espaço para passar uma ambulância
sionantes. Entre 1999 e 2007, a linha de cos- se houver uma emergência», alerta. A Secre-
ta recuou em média 26 metros por ano, na taria de Estado do Ambiente garante que as
Cova do Vapor, na Vagueira perdeu 16 me- obras na Estrada Florestal da Costa de Ca-
tros por ano entre 1984 e 1990. A tendência parica estão aprovadas e nas mãos da Câ-
é para piorar. “Os cenários oficiais apontam mara Municipal. Contactada para comen-
para uma subida do nível médio do mar en- tar as mudanças que o POC trará ao conce-
tre 18 a 59 cm até 2100, o que representa um lho, a autarquia optou pelo silêncio.
risco para toda a vida social instalada nas Cada vez que vai à praia – o que acontece
áreas litorais”, diz o estudo. muitas vezes –, Marta depara-se com outras
A questão assume particular relevância dificuldades: a quase inexistência de aces-
quando 80% da população portuguesa vive sos para pessoas com mobilidade reduzida.

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PLANO DE
ORDENAMENT0
DA COSTA
ALCOBAÇA-CABO ESPICHEL
O programa prevê investir mais
de 200 milhões de euros para
requalificar esta faixa do litoral.
Em que vai ser gasto o dinheiro?

145,5 MILHÕES DE EUROS


INVESTIMENTO FEITO PELA APA

60 MILHÕES DE EUROS
ORÇAMENTO DESTINADO ÀS AUTARQUIAS

72 MILHÕES DE EUROS
ALIMENTAÇÃO ARTIFICIAL DAS PRAIAS

22 MILHÕES DE EUROS
PREVENÇÃO DO RISCO
DE QUEDA DE ARRIBAS

6,5 MILHÕES DE EUROS


VALORIZAÇÃO DOS APOIOS DE PRAIA
E DAS INFRAESTRUTURAS
DE TURISMO BALNEAR

20 MILHÕES DE EUROS
REQUALIFICAÇÃO URBANÍSTICA
DA FRENTE MARÍTIMA

1,5 MILHÕES DE EUROS


REQUALIFICAÇÃO DAS PRAIAS

779 MILHÕES DE EUROS


DEMOLIÇÕES

1,663 MILHÕES DE EUROS


Desde os 15 anos que é paraplégica e se deslo- deficiência, na maioria dos casos, tudo de- MELHORIA DOS ESTACIONAMENTOS
ca numa cadeira de rodas, mas nunca deixou pende da boa vontade de quem gere as con-
de fazer a vida normal. Ir à praia é mais um cessões. No novo POC Alcobaça - Cabo Es- 12,567 MILHÕES DE EUROS
dos muitos desafios que enfrenta num país
que ainda tem muito por fazer a este nível.
pichel estão previstas 78 ações para melho-
rar a qualidade dos acessos às praias para os 5,5
DOS QUAIS MILHÕES DE EUROS
«Nas praias da Morena, da Sereia e de São deficientes motores. SERÃO GASTOS NO CONCELHO DE ALMADA
João, como os bares são mais modernos, a Marta Canário entende as preocupa- VALORIZAÇÃO DE ACESSOS, ESTRADAS E
situação é menos má. No Waikiki (Sereia), ções ecológicas do POC que em breve de- TRANSPORTES PARA AS PRAIAS

422
há uma passadeira de madeira até ao últi- verá ser aprovado, mas tem reservas. «Em
FONTE: APA, POC ALCOBAÇA-CABO ESPICHEL

mo chapéu de sol, que me costumam reser- vez de olharem só para a questão ambiental, MILHÕES DE EUROS
var.» É também ali que fica guardado o tira- era importante que dessem atenção ao res- MELHORIA DOS ACESSOS E ESTRUTURAS
lô (cadeira adaptada) que os donos do bar lhe to. Faz falta um excelente acesso, equilibrado DE APOIO PARA PESSOAS
ofereceram para ela poder tomar banho no com a natureza, que resolvesse o problema COM MOBILIDADE REDUZIDA
mar. Como poucas praias do país têm a dis- aos milhares de pessoas que ali vão. E choca-­
tinção de locais acessíveis para pessoas com -me que ainda haja fossas séticas nos bares

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AMBI EN TE

DE ACORDO COM A AGÊNCIA EUROPEIA DO AMBIENTE, PORTUGAL FOI O PAÍS EUROPEU QUE MAIS
CONSTRUIU A UM QUILÓMETRO DA COSTA ENTRE 1995 E 2005. A DEFESA DO LITORAL É, POR ISSO,
UMA PRIORIDADE. DE 1995 A 2010 FORAM GASTOS 126 MILHÕES DE EUROS PARA O PROTEGER.

da Costa de Caparica.» Essa é uma questão de Caparica precisa», acrescenta António


que se resolverá à medida que houver dispo- Vieira, da praia do Castelo. O que faz fal-
nibilidade financeira, garante a secretária ta, diz, são parques maiores, apoios com
de Estado, Célia Ramos. maior qualidade e «uma estrada que não
«Os senhores do ambiente não veem as pareça uma picada em África». Tem a cer-
questões relacionadas com o emprego, por teza de que nem ele, nem os outros conces-
exemplo. E não deixa de ser curioso que a sionários terão capacidade para financiar
única área sempre afetada quando há tem- as alterações pedidas. «Há colegas a pen-
porais aqui seja a que foi intervencionada sar meter providências cautelares e nós
pelo programa POLIS», diz João Carreira. também vamos fazer o mesmo.» Se hou-
O presidente da Associação de Concessio- vesse dinheiro, António sabe bem o que fa-
nários refere-se à frente urbana da Costa, ria com a sua concessão: «Construía um
onde existem os pontões e o muro de betão restaurante cuja fisionomia estivesse de PASSADO: revisite a Caparica
que deverá aumentar ainda mais. acordo com o nome da casa e construía um de outros tempos na página 66
«Aquilo que estão a propor não con- castelo na praia.» Por agora, tudo o que lhe e na galeria de imagens em
diz em nada com aquilo de que a Costa resta é esperar para ver. www.noticiasmagazine.pt.

28 NOTÍCIAS MAGAZINE

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VILA PRAIA
DE ÂNCORA Caminha
1
VIANA
DO CASTELO ESPOSENDE
OFIR 2
3 ESPINHO
FURADOURO
Ovar O governo já começou
MIRA 4 a aprovar os seus
BARRINHA programas para a orla
costeira que deverão
regulamentar,
Marinha Grande monitorizar, proteger
Alcobaça e ordenar todo o litoral

PONTOS CRÍTICOS
português, de Caminha
a Vila Real de Santo
António. O primeiro
foi o de Ovar-Marinha
COSTA Grande, e o de
DE CAPARICA Alcobaça-cabo

NA COSTA PORTUGUESA
5 FONTA Cabo Espichel Espichel, que inclui
DA TELHA a Costa de Caparica,
tem aprovação
prevista até
ao fim do ano.

CERCA DE QUARENTA POR CENTO DO LITORAL


NACIONAL ESTÁ AMEAÇADO PELA EROSÃO. ESTES SÃO V. R. St.º Ant.º
RIA FORMOSA 7
OS LOCAIS QUE REQUEREM ATENÇÃO MAIS IMEDIATA. 6 QUARTEIRA
E VALE DO LOBO

FONTE: LUÍSA SCHMIDT (PROJETO CHANGE), QUERCUS E APA

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DE VILA PRAIA DE FURADOURO
DE ÂNCORA A VIANA OFIR, A ESPINHO DA BARRINHA
DO CASTELO ESPOSENDE RISCOS: GALGAMENTOS
À PRAIA DE MIRA
RISCOS: GALGAMENTOS RISCOS: GALGAMENTOS E INUNDAÇÕES RISCOS: INUNDAÇÕES
1 2 3 4

Volta e meia, há casas em risco e Erguidas a poucos metros da Cada vez que há temporal no mar, A forte agitação marítima já seria
é preciso demolir uma ou outra praia, com um total de cerca é frequente o Furadouro ser suficiente para tornar frágil esta
construção em perigo iminente, de duzentos apartamentos, notícia. «A construção de prédios faixa da linha de costa, mas a
como aconteceu com um antigo as três torres de Ofir estão em em cima do areal numa zona proximidade da ria de Aveiro,
restaurante em Afife, Viana do permanente risco quando há mau de mar muito energético faz que que corre numa linha paralela
Castelo, no final de junho. Em Vila tempo no mar – e em Ofir há haja problemas constantes», ao mar, tornam-na uma das
Praia de Âncora, no inverno, as algumas vezes. Quando foi diz Luísa Schmidt, coordenadora zonas mais complicadas do país.
investidas do mar chegam a levar ministro do Ambiente, José do Projeto Change, que investiga Se houver uma tempestade
vários metros de areia. Sócrates chegou a admitir o impacto das alterações simultânea em terra e no
mandar demoli-las devido climáticas no ordenamento mar, toda aquela área pode
ao risco de as suas fundações do território. ficarinundada.
serem destruídas pelo mar.

FONTE RIA
DA TELHA FORMOSA
QUARTEIRA
COSTA DE CAPARICA RISCOS: EROSÃO,
E VALE DO LOBO RISCOS:
RISCOS: GALGAMENTOS GALGAMENTO, INUNDAÇÃO, RISCOS: ARRIBAS INSTÁVEIS DESTRUIÇÃO DE HABITAÇÕES
E INUNDAÇÕES RISCO PARA HABITAÇÕES DESTRUIÇÃO DE HABITAÇÕES POR TEMPESTADES
5 5 6 7

A construção nas dunas É um problema antigo e, apesar A construção da marina Antes do 25 de Abril, poucas
e o impacto humano sobre das várias tentativas para de Vilamoura roubou areia a casas existiam junto à ria
a arriba fóssil são apontadas o solucionar, as casas erigidas jusante e obrigou à criação de um Formosa. Mas as construções
há muito como atentados clandestinamente em cima da campo de esporões na frente ilegais tomaram conta da
ambientais. O Plano de duna e junto à arriba fóssil marítima de Quarteira, nos anos paisagem – que ainda por cima
Ordenamento da Costa prevê têm-se mantido na paisagem. 1970. Mais para leste, as arribas é protegida, pelas caraterísticas
apoios de praia mais pequenos O POC prevê demolir as já frágeis de Vale do Lobo ambientais da zona. Na Fuzeta
nesta zona e uma medida construções implantadas tornaram-se ainda mais (Olhão), uma série de casas
controversa: menos pessoas em zonas de risco crítico vulneráveis. Apesar dos vários clandestinas foram destruídas
nos areais. de galgamento e inundação, enchimentos de areia entretanto por uma tempestade em 2010.
transferindo-as para outro local. realizados, já caíram casas
perto da praia.

NOTÍCIAS MAGAZINE 31

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EMPR EEND EDORISMO

Leandro Macedo, Natacha


Macedo e Dinis Pereira, da
Escola Secundária Martins
Sarmento, em Guimarães,
desenvolveram uma caixa
de armazenamento de
medicamentos com um
alarme programável e um
sinal sonoro.

O FUTURO
COMEÇA AQUI
Depois de um ano (letivo) de
preparação, depois de muitas
sessões de aperfeiçoamento,
depois de mais de oitocentos
alunos terem ficado pelo
caminho, uma equipa de três
estudantes representa esta
semana Portugal na final
europeia do Junior Achievement,
uma competição internacional
que tenta formar jovens
empreendedores
para negócios de sucesso.
Em Bruxelas, Leandro, Natacha
e Dinis, de 16 e 17 anos, poderão
ser considerados a melhor
miniempresa europeia do ano.
Texto Ana Patrícia Cardoso

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NUNO PINTO FERNANDES / GLOBAL IMAGENS

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EMPR EEND EDORISMO

P
almas, gritos e abraços
quando é anunciado o pri-
mercado, acreditamos que temos um pro-
duto superior», diz Natacha. O dispositivo
O QUE É O
meiro lugar. A Beauto, da alerta o utilizador para o horário do medi- JUNIOR
Escola Secundária Mar-
tins Sarmento, em Gui-
camento e avisa caso a toma não seja feita.
Este foi o culminar vitorioso de um dia lon-
ACHIEVEMENT
Trata-se de uma
marães, foi considerada a go e de um ano de muito trabalho. No audi- organização sem
melhor miniempresa portuguesa do ano tório do Museu da Fundação Oriente, no iní- fins lucrativos que
e vai representar Portugal na final da Ju- cio de junho, as cadeiras estavam ocupadas trabalha com jovens
nior Achievement Europe, em Bruxelas. com ideias para futuras empresas em mer- do ensino secundá-
Leandro Macedo, 16 anos, Natacha Mace- cados muito diferentes. Cartazes de apoio e rio e universitário,
do, 17, e Dinis Pereira, 16, desenvolveram grupos vestidos com T-shirts iguais. Vieram promovendo o
empreendedorismo
uma caixa de armazenamento de medica- os professores, os familiares, colegas de tur-
e as competências
mentos com um alarme programável e um ma e amigos para apoiar cada projeto. para o mercado de
sinal sonoro. «Ainda não acreditamos que Esta é a décima edição da competição trabalho. A primeira
Para chegarem isto aconteceu», diz Natacha. «Agora é tra- nacional do programa A Empresa. O desa- competição
à final, todas as balhar ainda mais para representar Portu- fio não é pequeno e sente-se no ar a vonta- europeia ocorreu
ideias passaram gal da melhor maneira.» de de vencer. Chegaram até aqui 120 estu- em 1989 e, desde
por etapas de então, a iniciativa
seleção nas Com a ajuda de Sónia Torrinha e Teresa dantes, entre os 15 e 21 anos, alunos do en-
já chegou a 41
Feiras Ilimitadas Abreu, professoras de Sistemas de Infor- sino secundário. De certa forma, está aqui países e contou
em sete cidades mação e de Projeto e Produção Multimé- representado todo o país, através de 17 loca- com cerca de 3,5
do país, onde dia e Design, Comunicação e Audiovisuais, lidades: Braga, Guimarães, Lamego, Porto, milhões de alunos.
os alunos Chegou a Portugal
apresentaram
os três jovens deram aqui o primeiro pas- Gaia, Viseu, Entroncamento, Peniche, Tor-
so para o seu futuro profissional. «O ob- res Vedras, Santarém, Lisboa, Almada, Se- em 2007 e já envol-
os projetos
ao público. jetivo sempre foi colocar a nossa caixa no túbal, Cascais, Portalegre, Loulé e Faro. veu 37 mil alunos.

JUNIOR ACHIEVEMENT PORTUGAL

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?????? NUNO PINTO FERNANDES / GLOBAL IMAGENS

Ao longo do ano letivo, os estudantes envolvidos Nas sessões perante os jurados, com representantes
vão começando a criar uma rede de contactos de empresas e instituições de renome, os alunos
e de troca de experiências. têm de vender a ideia e o plano de negócio.

Os jovens ocupam os corredores, en- Esta é a décima edição produto escolhido, foi necessário estudar
saiam vezes sem conta o texto de apresen- o mercado e, sobretudo, desenvolver um
tação. Não pode falhar nenhum pormenor, da competição plano de negócios que também é tido em
há um júri exigente para impressionar. São nacional. O desafio conta na avaliação. As escolas tiveram um
dez jurados de empresas e instituições de não é pequeno e sente- papel de apoio e incentivo determinantes
renome (Citi, Banco CTT, ING, Global Me- -se no ar a vontade de neste processo. Amanda Chohfi, professo-
dia Group, Douro Azul, Vieira de Almei- vencer. Chegaram até ra de Business Studies e Economics no Co-
da & Associados, CEiiA, Herdade Ma- légio Luso-Internacional de Braga, já par-
ria da Guarda, MetLife e Embaixada dos
à final 120 estudantes, ticipa na competição há cinco anos (inclu-
Estados Unidos) que não só analisam as entre os 15 e 21 anos, sive já acompanhou uma equipa vencedora
apresentações gerais de todas as equipas, alunos do ensino à Bélgica, em 2013) e sabe o que envolve to-
da parte da manhã, como também têm a secundário. De certa do este esforço. «Às vezes os alunos focam-
oportunidade de fazer todas as perguntas forma, está aqui -se muito nos prémios, querem ganhar,
difíceis em sessões individuais de dez mi- representado todo claro, mas o mais importante é esta expe-
nutos com cada uma, à tarde. riência incrível, sem dúvida. É um projeto
Este é o dia para o qual trabalharam du- o país, através de que não é igual a uma sala de aula. São eles
rante muitos meses e é um projeto que não 17 localidades: Braga, que decidem estratégias, pesquisas, leitu-
está incluído no programa curricular das Guimarães, Lamego, ras. Eles sentem-se capazes e desenvolvem
escolas. Ou seja, dedicaram tempo extra, Porto, Gaia, Viseu, muitas competências importantes para o
sacrificaram horas de estudo ou tempos li- Entroncamento, mercado. «Às vezes ainda fico surpreen-
vres, fins de semana e atividades para lutar dida com as ideias incríveis que os alunos
pelo lugar em Bruxelas.
Peniche, Torres desenvolvem.»
Tudo começou com uma ideia. Os alu- Vedras, Santarém, Entre as equipas deste ano houve de tu-
nos interessados em participar formaram Lisboa, Almada, do um pouco. Desde soluções para a cozi-
equipas e tentaram desenvolver um con- Setúbal, Cascais, nha (Bip Cook, de uma escola de Lisboa),
ceito inovador. Tinha de ser algo que não Portalegre, apps para os estudos (Leaders of Tomor-
esteja à venda ou que fosse uma versão Loulé e Faro. row, de Carcavelos), copos reutilizáveis
melhorada do que já possa existir. Com o (Easy Cup, também de Carcavelos) ou

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EMPR EEND EDORISMO

FOTOGRAFIAS DE NUNO PINTO FERNANDES / GLOBAL IMAGENS


A equipa Alien Drinks, do Entroncamento, trouxe um projeto de gelatina para comer quando se sai à noite. A Miss Fixit,
de Braga, criou um site para mulheres desempregadas aprenderem canalização, pintura ou reparações elétricas.
Também havia ideias de apps para estudos, copos reutilizáveis ou soluções para cozinha. A criatividade não faz gazeta.

gelatina para comer quando se sai à noite Chegou o dia para Para chegarem à final portuguesa, no
(Alien Drinks, do Entroncamento). Entre o qual trabalharam Museu da Fundação Oriente, todas estas
as mais equipas com apresentações mais ideias passaram por etapas de seleção, ao
entusiastas está a Miss Fixit, do Colégio durante muitos longo de sete Feiras Ilimitadas, realiza-
Luso-Internacional de Braga. Rita Coim- meses, num projeto das ao longo de meses em Lisboa, Coim-
bra, uma das representantes, revela que que não está bra, Vila Real, Porto, Cascais, Évora e Fa-
a ideia que desenvolveram teve um forte incluído no ro. Foi aí que as equipas tiveram a oportu-
cariz feminista. «Quisemos entrar num programa nidade para apresentar as suas ideias ao
mercado destinado aos homens e criar público. «Estas 24 miniempresas são as
oportunidades de trabalho para nós.» No
curricular das melhores dos melhores», diz João Pedro
site da Miss Fixit, mulheres desemprega- escolas. Ou seja, Tavares, presidente da Junior Achieve-
das podem inscrever-se para aprender a dedicaram tempo ment Portugal. «Temos aqui jovens com
desempenhar funções nas áreas de cana- extra, sacrificaram um futuro muito promissor. Nota-se que
lização, pintura, eletricidade. Assim que horas de estudo querem chegar longe.»
completam o treino, estão aptas para an- ou tempos livres, A Beauto está a poucos dias da final
gariar trabalhos. «Abrimos um novo ca- e, com a determinação de quem tenta
minho e damos a hipótese para elas come- fins de semana e não se deixar intimidar pela dimensão do
çarem de novo.» Todas as participantes da atividades para evento (são mais de trinta equipas de toda
equipa estão com cintos de ferramentas. lutar pelo lugar a Europa), garante: «Vamos para tentar
Cada pormenor pode fazer a diferença. em Bruxelas. ganhar.»
Outros projetos surgem no balneário. É
o caso da HSports, que desenvolveu uma
garrafa com duas palhinhas. António
Ferreira, membro da equipa do Agrupa-
mento de Escolas Rodrigo de Freitas, do
Porto, conta que o negócio surgiu da ten-
COMO PARTICIPAR
tativa para resolver um problema. «No- Todos os anos, em setem- competição A Empresa), formulário que consta do
bro, a Junior Achievement com o objetivo de informar e-mail e reenviar. Podem
támos que muitas vezes as pessoas par- envia um convite geral que as vagas para a participar alunos do ensino
tilhavam a mesma garrafa. Com a nossa para todas as escolas competição estão abertas. secundário, entre os 15 e
ideia, já o podem fazem de forma mais hi- públicas (e privadas que As escolas interessadas os 21 anos. Informações
giénica.» já tenham participado na devem responder ao em www.japortugal.org.

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N EGÓCIO

AS CHOCOL ATEIR AS
DE AVEIRO
Tomoko Suga veio a Portugal
tentar aprender fado e
gastronomia. A japonesa gostou
tanto, que ficou. Susana Tavares
perdeu o emprego e queria ser
feliz. Uma viagem a São Tomé
e Príncipe mudou-lhes a vida.
Abriram a Feitoria do Cacao, em
Aveiro, e garantem que são as
únicas no país a fazer chocolates
desde o grão à tablete. Há duas
semanas ganharam um prémio
de qualidade.
Texto Sara Dias Oliveira
Fotografia Maria João Gala/Global Imagens

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N EGÓCIO

É
quarta-feira de manhã e porque não há em Portugal: o forno veio
Tomoko Suga acaba de Na roça Diogo da Austrália, o triturador dos Estados
abrir a porta da Feito- Vaz, na ilha de Unidos, os moinhos da Índia, a máquina
ria do Cacao, uma loja São Tomé, onde de temperar da Itália. Uma avaria é uma
começou esta
transformada em oficina aventura de dor de cabeça.
de chocolates na estrada fazer chocolate É preciso pesar ingredientes e contro-
de São Bernardo, em Aveiro. No balcão, a partir de cacau lar a temperatura da moagem. Susana é
feito com paletes de madeira, a japone- de qualidade. minuciosa. «A temperatura ambiente e a
sa vai colocando amostras de nove cho- humidade podem arruinar um dia de tra-
colates em pequenas terrinas vermelhas balho», avisa. «Se há muitas cascas, alte-
– chocolate de leite de ovelha com 60% de ra a textura», diz Tomoko. «A nossa sorte
cacau da Tanzânia, chocolate negro com
72% de cacau de São Tomé e flor de sal de
Aveiro, chocolate negro com 92% de ca-
cau da Costa Rica, chocolate branco com
chás japoneses matcha e tokujou sencha.
Atrás estão as embalagens com os ingre-
dientes, origens e percentagens do cacau
que é comprado diretamente aos produ-
tores. São chocolates feitos de forma ma-
nual desde o grão de cacau cru à tablete
– bean-to-bar é a expressão internacional
que se ajusta ao que fazem. E mais nin-
guém faz isto em Portugal, garantem.
O cheiro não engana, cheira a cacau
logo que se entra. Numa parede casta-
nha, da cor do chocolate, está o proces-
so de fabrico desenhado à mão por To-
moko. A colheita, a fermentação, a seca-
gem feitas nas roças, a chegada à Feitoria
do Cacao. A partir daí, mãos preparadas,
olhos abertos, máquinas a funcionar, pa-
ladar apurado. Os grãos são selecionados
à mão, torrados, triturados, e moídos du-
rante trinta horas consecutivas. Depois,
o chocolate é temperado, moldado e em-
balado. Uma semana, no mínimo, para
tudo isto. «O processo de fazer chocolate
é muito simples, mas dá muito trabalho.
Não existe um livro, não existe um ma-
nual para fazer chocolate, ninguém ensi-
na receitas», diz Tomoko enquanto con-
tinua a organizar as amostras no início de
mais um dia de trabalho. Também aqui,
nesta oficina, por marcação prévia, par-
tilha-se o fabrico de chocolate com gru-
pos de mais de dez pessoas que compen-
sam esse tempo com a compra de uma ta-
blete de 5,5 euros.
Susana Tavares está na cave a prepa-
rar mais um dia de fabrico, a torrar grãos
de cacau, a tirar cascas que a máquina
deixa passar. Nesse piso inferior estão as
matérias-primas, os cacaus de diferen-
tes origens divididos em caixas, as indi-
cações escritas a marcador nos azulejos
brancos, prateleiras de inox com amos-
tras, chocolate à espera de ser temperado,
e a maquinaria comprada no estrangeiro

40 MAGAZINE

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é que temos gostos semelhantes», acres- Enquanto não regressam moda, que não exerceu, começou a escre-
centa. Não apreciam sabores ácidos e é no ver artigos de astrologia e psicologia pa-
tempo de moagem que fazem mais ajus-
a São Tomé, enviam para ra revistas e jornais. À noite, cantava em
tes nas texturas e nos aromas. Provam e lá os chocolates que clubes. Falaram-lhe no fado, não sabia o
apuram o produto final. Não são neces- fazem cá. Para que que era, comprou um CD da Amália e fi-
sários muitos ingredientes: cacau de al- quem colhe o fruto possa cou rendida. Em 1996, com 29 anos, via-
ta qualidade, açúcar, manteiga de cacau, saborear o produto final. jou pela primeira vez para Portugal para
pouco mais. Susana garante que «menos, «É o mínimo que podemos conhecer a terra daquela canção. Ficou 11
neste caso, é mais». «A graça é que de um dias e apaixonou-se pelo país. Voltou a Tó-
cacau fazemos 50 chocolates diferentes», fazer», diz Susana. quio, o trabalho tornou-se mais pesado,
diz. E lá torce o nariz quando ouve uma mais intenso. «Sentia-me muito cansada,
certa palavra. «A palavra artesanal está não tinha vida, tinha mais de 30 anos, e
tão gasta, é usada abusivamente, tão sem só pensava "mas vou ficar velha assim, só
controlo. Não é por se moldar um choco- O cacau chega à Feitoria da Nicarágua, trabalhando"?» Se cozinhava bem por-
late que ele é artesanal.» de São Tomé e Príncipe, da Colômbia, da que não abrir um restaurante português
Tomoko e Susana ganham prémios, fa- Costa Rica, da Tanzânia e, em média, fa- em Tóquio? E se gostava de cantar por que
zem o que mais gostam, e garantem que zem mil tabletes por mês. Mas o número não experimentar o fado? Voltou a Portu-
são felizes. Abriram a Feitoria do Cacao varia consoante as encomendas. O negó- gal em 1999. «Vou aprender fado e cozi-
em dezembro de 2015 e têm, neste mo- cio começou com pouco dinheiro, sem dí- nha portuguesa.» Esteve um mês em Lis-
mento, 19 pontos de vendas em Portugal, vidas contraídas, e o prato da balança vai boa num curso de verão a aprender portu-
entre lojas gourmet e mercearias moder- estando equilibrado. guês na Faculdade de Letras. E foi então
nas, e exportam cerca de 80% do que fa- que percebeu uma coisa: «O fado não se
bricam para o Japão, Espanha, Bélgica e Quioto-Tóquio-Portugal aprende, não havia nenhum professor pa-
Inglaterra – os seus chocolates estão, por Tomoko e Susana deram muitas voltas até ra me ensinar.»
exemplo, em Londres na Cocoa Runners, se encontrarem. Aos 18 anos, a japonesa Acabou por trabalhar à distância com
uma das lojas mais conceituadas do mun- fez as malas e mudou-se de Quioto para um pé no Japão, ficou em Lisboa num
do do reputado crítico Spencer Hyman. Tóquio. Tinha formação em estilismo de curso anual de português na mesma

CHOCOLATE PREMIADO
O chocolate negro com 76% de
cacau Nicalizo da Nicarágua, da
Feitoria do Cacao, acaba de
ganhar uma medalha de prata
num dos concursos do género
mais conceituados do mundo, o
Academy of Chocolate Awards
2017, em Londres. É o primeiro
chocolate português premiado
entre mais de 600 concorrentes
de vários países. E é o segundo
prémio que este chocolate
conquista. Este ano já tinha
arrecadado a medalha de ouro
no Concurso Nacional de Cho-
colates Tradicionais, promovi-
do pelo Centro Nacional de
Exposições e Mercados Agríco-
las, tal como o chocolate de
leite de ovelha com cacau da
Tanzânia, que tamvém fabri-
cam. O chocolate duplamente
premiado só leva três ingre-
dientes: cacau, manteiga de
cacau e açúcar, mas o seu
paladar é complexo. Viaja pelos
«Por que razão não produzem
frutos secos, ameixa preta,
chocolate em Portugal»,
damasco, passas, tâmaras,
perguntaram-lhes naquela viagem
com um travo a madeira tosta-
em julho de 2014. «Porque não
da que lembra um vinho do
sabemos.» Foi o ponto de partida.
Porto tawny.

NOTÍCIAS MAGAZINE 41

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CAB EÇA AR TIGO

42 MAGAZINE

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N EGÓCIO

universidade. E nunca mais voltou ao seu Compram cacau na «Esta viagem mudou a nossa vida. É uma
país. Casou-se, foi tradutora, guia turís- ilha muito rica, o povo tem uma vida mui-
tica, morou em Lamego, mudou-se pa-
Nicarágua, São Tomé to difícil e ficámos chocadas com essa di-
ra Aveiro, conheceu Susana, separou-se, e Príncipe, Colômbia, ferença económica do lado do consumi-
e embarcou na aventura dos chocolates. Costa Rica e Tanzânia. dor do chocolate e do lado de quem o pro-
«Quando surgiu a ideia de fazer chocola- Exportam chocolate duz. Essa viagem fez-nos pensar muito»,
tes, lembrei-me da paixão e do sonho que para Espanha, lembra Tomoko.
deixei de ter há muito tempo. Sempre gos- Bélgica, Reino Unido Não há data marcada, mas há a certe-
tei, desde pequena, do trabalho criativo, za do regresso. E enquanto esse dia não
manual, de fazer coisas diferentes. Sinto e Japão. A Feitoria chega, enviam chocolates para São Tomé
que regressei à infância. Estou a divertir- abriu em 2015 e já tem com o cacau que vem de lá para quem co-
me imenso neste projeto, mas com mui- 19 pontos de venda lhe o fruto saboreie o produto final. «É o
ta seriedade.» em Portugal, apesar mínimo que podemos fazer», diz Susana.
Susana Tavares cresceu com o cheiro de oitenta por cento Em São Tomé, Tomoko e Susana ouvi-
característico do cacau que a fábrica de ram coisas que nunca mais esquecerão.
chocolates Avianense torrava duas a três
da produção ir Ali ninguém sabia fazer chocolate e isso
vezes por semana em Viana do Castelo. para o estrangeiro ficou-lhes nos ouvidos. Será que era as-
Um cheiro que não esquece, mas que há sim tão difícil? Foi ali que as suas vidas se
muito desapareceu daqueles lados. Mas entrelaçaram, que quiseram perceber co-
não do seu nariz. «Com alguma graça, mo afinal se faz chocolate. Um ano e cin-
cresci com esse cheiro.» Tirou o curso co meses depois da viagem, abriram um
de Biologia e Geologia na Universidade negócio único em Portugal que começa
do Porto, queria seguir a via de ensino, a destacar-se internacionalmente, com
ser professora, dar aulas. No fim do cur- prémios conquistados.
so, mudou-se de Viana para Aveiro. Tra- Antes da viagem a São Tomé, Susana
balhou meio ano numa loja de animais, estava inscrita num curso online na Esco-
entrou numa empresa de telecomunica- la do Chocolate do Canadá. Quando vol-
ções, teve várias tarefas. Era auditora tou focou-se nessa formação. Ouviu, tirou
interna quando ficou sem trabalho em dúvidas, experimentou cacau de vários
2013, ao fim de 12 anos de casa. E res- países, fez relatórios. Tomoko acompa-
pirou. «Tive tempo para escolher, que- nhou todos os passos. Três meses numa
ria uma coisa boa, que me fizesse feliz e formação, mais cinco noutra, de chocola-
que deixasse os outros felizes», recorda. te maker e professional chocolatier. Estu-
E teve um sonho. «Sonhei que tinha um daram juntas, pesquisaram, desenharam
tabuleiro na mão, que não sabia o que ti- um negócio. Até chegarem a um produ-
nha, mas quando o pousei tirei chocola- to que «privilegia o caráter único e espe-
tes e dei-os à Tomoko», lembra. Na ma- cial que cada cacau» pode oferecer, res-
nhã seguinte, perguntou-lhe se gostava peitando a sua natureza e dando atenção
de chocolates. Tomoko disse que sim, Su- a todos os detalhes do processo de fabri-
sana ficou a pensar no assunto, longe de co do chocolate.
imaginar que era possível fazer chocola- NEGÓCIO TRANSPARENTE Tomoko e Susana não param. Andam
A Feitoria do Cacao faz questão
te desde o grão à tablete. Ainda pesqui- em experiências para acrescentar mais
de conhecer as histórias dos
sou algumas coisas sobre bombons e de- produtores de cacau, defende chocolates aos nove do cardápio da Fei-
cidiu. «Não queria fazer bombons, que- e segue as linhas do comércio toria. Há um cacau do Peru, de uma casta
ria fazer chocolate.» justo, paga o preço adequado que se pensava desaparecida há cem anos
pela matéria-prima, para e que entretanto foi recuperada, que an-
Nas roças de São Tomé garantir a qualidade e motivar da em testes e que muito provavelmen-
Nas paredes da Feitoria do Cacao, estão os produtores, para compensar te dará origem a mais um chocolate feito
a dedicação e o esforço. Não
fotografias da viagem que fizeram a São usa cacau que tenha marcas em Portugal desde o grão à embalagem.
Tomé e Príncipe em julho de 2014. Um do trabalho infantil ou de maus- Em outubro vão lançar uma nova embala-
dia, é certo, vão voltar para ensinarem o -tratos. «O nosso negócio tem gem desenhada pelas mãos de uma desig-
que sabem, para explicarem aos santo- de ser transparente, temos de ner japonesa. Uma embalagem com uma
menses como podem fazer chocolate com saber como vivem as pessoas imagem de um azulejo, que remete para a
as próprias mãos. Susana não tem dúvi- que produzem o cacau. O mais época em que apareceram as feitorias, sé-
importante do chocolate não
das. «Há coisas que têm de ser dadas. Um é o chocolate, são as pessoas.
culo XV, início do século XVI.
dia regressaremos e vamos devolver-lhes E é importante termos uma A meio de mais um dia de trabalho, a
aquilo que eles nos proporcionaram.» cadeia de pessoas felizes», energia não abranda. «É a nossa vida, is-
Foi nesta ilha que vende cacau e compra diz Susana Tavares. to não é trabalho. E não há dinheiro que
chocolates que nada ficou como dantes. pague isso.»

NOTÍCIAS MAGAZINE 43

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Sempre desenhou
e foi um dos
melhores alunos
de Belas-Artes.
Restaurador,
cartoonista e
pintor, Victor
Milheirão, 81 anos,
fez dos bicórnios
(chapéus de dois
bicos) o seu tema
de eleição.

44 NOTÍCIAS MAGAZINE

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PERFIL

O PINTOR
E OS SEUS
CHAPÉUS DE
DOIS BICOS
Criou os laparotos, uns coelhinhos
que faziam peripécias, para a
revista Fungagá da Bicharada,
de Júlio Isidro, restaurou
livros e gravuras no museu da
Gulbenkian, ganhou um prémio
de humor livre, ajudou a montar
uma exposição de Almada
Negreiros, e andou pelo mundo
a ver arte. Victor Milheirão tem
81 anos e pinta bicórnios.
Texto Sara Dias Oliveira
Fotografia Gonçalo Villaverde/Global Imagens

NOTÍCIAS MAGAZINE 45

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PERFIL

«QUANDO COMEÇO
A DESENHAR OS
BICÓRNIOS, O RESTO
VEM A SEGUIR. DEU-ME
PARA FAZER CHAPÉUS
DE DOIS BICOS E AGORA
NÃO ME SAI DAS
ENTRANHAS.»

N
a terceira classe, fazia e voltou a Ovar, terra onde nasceu, com das luzes. «Os homens levantaram as abas
bonecos sem parar nos uma exposição cheia de bicórnios. É uma dos chapéus e assim nasceram os bicór-
cadernos da primária obsessão, não doentia, mas persistente, nios – o Napoleão usava um. O bicórnio
e não tinha boa nota a que se colou à pele. Não há quadro sem bi- faz que o nosso horizonte seja mais abran-
desenho. «Não gosta- córnio. É o ponto de partida, o elemento gente, sem aquele peso das abas caídas.
va de fazer os desenhos que tudo une. É um chapéu mais arejado», diz.
que me obrigavam a fazer», recorda. Jar- «Quando começo a desenhar os bicór- Pinta com spray, tinta-da-china, agua-
ras com flores? Nem pensar. No liceu, en- nios, o resto vem a seguir.» Porquê? «Há rela, pastel, acrílicos. Adora Picasso e há
chia páginas de banda desenhada e as no- razões que a própria razão desconhece. uma outra pincelada que mostra esse gos-
tas a desenho continuavam a não ser gran- O bicórnio marca uma presença muito to. Nos títulos, a influência das leituras, da
de coisa. Aos 24 anos, estudou pintura, pessoal nos meus quadros. Deu-me para semântica de Aquilino Ribeiro, de Camilo
depois de uma passagem por uma repar- fazer bicórnios e agora o bicórnio não me Castelo Branco. «Gosto muito das expres-
tição de finanças, onde atendia pessoas e sai das entranhas», responde. Há outras sões que utilizam, gosto de recuperar es-
vendia valores selados, e terminou o cur- explicações. Logo a seguir ao 25 de Abril, sas ruínas da fala», revela. Fazem-se Gaio-
so como um dos melhores alunos da Esco- falava-se nos caceteiros, a gente que que- las por Encomenda, Em Espírito Chega-se
la Superior de Belas-Artes de Lisboa. ria fazer política à custa de cacetadas. Lá, Histórias Que Não Foram Contadas,
Fez arte gráfica, banda desenhada e de- Victor Milheirão recuou então ao tem- A Estratégia da Raposa, Passarolando, e
senho humorístico. E continua a pintar. po dos caceteiros de D. Miguel e dos cha- Pacto Ibérico, o quadro com um porco de
Victor Milheirão, 81 anos, vive em Lisboa péus de dois bicos que marcaram a época madeira que é uma tábua para pousar os

UMA VIDA É óbvia na pintura de


Victor Milheirão a influên-
cia dos grandes pintores

DEDICADA espanhóis do início do


século XX. Assume-se

ÀS ARTES
grande admirador de
Picasso e tem milhares
de quilómetros de exposi-

GRÁFICAS E ções, que visitou ou aju-


dou a montar, em todo
o mundo. Uma vida
PLÁSTICAS dedicada às artes
gráficas e plásticas.

46 NOTÍCIAS MAGAZINE

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tachos, são alguns dos batismos que es- Bicharada, dirigida por Júlio Isidro. «Te-
colheu para os seus quadros. «As minhas Victor Milheirão nasceu em ve um certo êxito, na altura, depois a re-
Ovar, mas cresceu em
pinturas nunca transmitem momentos de Lisboa. Dedicou a vida vista acabou e nunca mais fiz.» Publicou
angústia, não sou uma pessoa angustiada, às artes plásticas e ao cartoons na Parada da Paródia, no Diário
não permito grandes depressões morais, restauro gráfico. de Lisboa. Na década de 1990, ganhou um
não sou depressivo. Há uma certa alegria Foi o último a sair da prémio de humor livre no Salão Nacional
oficina de restauro gráfico
de viver, uma certa bonomia. Não sou um da Gulbenkian, onde de Caricaturas de Oeiras com um desenho
pintor pesado». E isso nota-se. Não hesita trabalhou 34 anos. em que colocou Van Gogh a pintar a cama
em evidenciar a sua costela humorística e do famoso quarto onde vivia.
a interpretação fica à consideração. «Não Deu aulas de desenho e pintura na Es-
quero dizer quem sou, quero que me des- cola de Artes Decorativas António Ar-
cubram. Não sou isto nem aquilo, quero Entrou no museu da Gulbenkian como roio durante dois anos. Não era por aí. No
que as pessoas façam leituras.» técnico de restauro, chegou a responsável ano em que terminou o curso de Pintura,
Tem quilómetros de exposições nas per- pelo departamento de restauro de docu- em 1967, Lisboa foi fustigada com gran-
nas. Viu Gauguin em Tóquio, retrospeti- mentos gráficos, saiu ao fim de 34 anos. des inundações. O Palácio de Pombal, em
vas de Stanley Spencer em Inglaterra, e de Sem nunca deixar de pintar, de desenhar, Oeiras, onde a Gulbenkian tinha provi-
Picasso e Matisse em Paris, e muitas expo- de ver exposições. Criou os laparotos, ban- soriamente o seu museu, sofreu bastan-
sições em museus do Brasil, Itália, Espa- da desenhada com coelhinhos que faziam te. A água entrou pelos postigos e estra-
nha. Por esse mundo fora. peripécias, para a revista Fungagá da gou muitas peças. Estavam à procura de
pessoal, Victor Milheirão concorreu e en-
trou na equipa responsável por recuperar
peças gráficas: estampas japonesas e eu-
ropeias, livros islâmicos, livros ociden-
tais em pergaminho, gravuras nipónicas.
Chegou a responsável pelo departamen-
to de restauro de documentos gráficos do
museu da Gulbenkian, geriu uma equipa
de 12 pessoas. Em 1980, inscreveu-se no
curso de conservador de museus no Mu-
seu Nacional de Arte Antiga.
Chegou a ter nas mãos um livro avalia-
do num milhão de dólares para restau-
rar. E fez muita coisa nos tempos da Gul-
benkian. Ajudou a montar vários núcleos

NOTÍCIAS MAGAZINE 47

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PERFIL

Além de
bicórnios,
as pinturas
de Victor
Milheirão
têm muitas
vezes títulos
inspirados na
literatura
portuguesa de
que o pintor é
admirador.

na 17.ª Exposição Europeia no Palácio da


Ajuda. Pendurou grandes quadros de uma
rodeado de uma biblioteca com cerca de
cinco mil livros, muita banda desenhada BICÓRNIOS
exposição de Almada Negreiros no Cen-
tro Cultural de Belém. Desenhou um pro-
– que deixou de fazer porque dá-lhe cabo
dos olhos –, centenas de livros de cartoons, EM OVAR
jeto para uma oficina de restauro aquan- muitos de arte. «Bicórnios em Parada»
do da transferência de peças do duque de Ovar, onde tem agora as suas obras ex- é o nome da terceira
Wellington da British Library para a Uni- postas, é a terra que viu Victor Milheirão exposição de Victor
versidade de Southampton. Deu um cur- nascer, na casa do avô materno, mesmo Milheirão em Ovar,
so de restauro no Museu do Ipiranga em no centro da cidade, na Praça da Repú- terra natal. Vários
São Paulo durante um mês. Esteve no Ja- blica, frente à Câmara Municipal. O avô, quadros do pintor estão
pão e no Canadá a levar e trazer peças de Alves Cerqueira, era figura de proa. Foi o expostos no Museu
pintura de museus. Escreveu sobre a téc- primeiro comandante dos bombeiros de Júlio Dinis até 15 de
julho. Em 1983, expôs
nica de desenho de Amadeo Sousa Car- Ovar, tendo sido, aliás, em sua casa que
desenhos e aguarelas
doso que não chegou a ser publicado pe- foi feita a primeira reunião para a cons-
na Cooperativa Cultu-
la Gulbenkian. Ao fim de 34 anos, saiu. tituição da corporação. Era comerciante,
ral Sem Margem em
Foi o último a sair da oficina de restau- tinha uma loja de fazendas, e foi ele que Ovar e 17 anos depois,
ro de documentos gráficos. Foi ele que fe- fundou uma grande tradição de Ovar, em 2000, regressou à
chou a porta. o cantar dos Reis. Gostava de tocar vio- cidade para mais uma
Os tempos do restauro de pergaminhos la, compunha umas canções para as fes- exposição, desta vez
iluminados, encadernações, livros me- tas. «Ovar tem uma rua com o seu nome, na biblioteca municipal,
dievais, não lhe saem das pontas dos de- era uma pessoa muito estimada.» Aos altura em que lança
dos. Continua na arte, tem um ateliê de 3 anos, Victor Milheirão deixou Ovar e foi o livro Bicórnios. Está
restauro de tudo o que seja papel ou per- viver para Lisboa com os pais, mas nas fé- representado com
gaminhos – desenhos, gravuras, leques, rias regressava a casa do avô. Em criança, desenhos humorísticos
biombos – com duas colegas no jardim das dizia aos pais que queria ser músico. Ain- num espaço dedicado
Amoreiras, em Lisboa. Em casa, continua da aprendeu a tocar piano, mas foi a pin- a cartoons em Basileia,
a pintar os seus quadros num estirador e tura que lhe agarrou o coração. Até hoje. Suíça.

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ESPECIA
COMPOR TAM EN TO FAMÍLIAL

Como explicar o fogo


– e as mortes – às crianças?
COMO É QUE AS CRIANÇAS ASSISTIRAM ÀS IMAGENS DO INCÊNDIO DE 17 DE
JUNHO EM PEDRÓGÃO GRANDE? QUE PERGUNTAS FIZERAM? COMO É QUE
OS ADULTOS ANGUSTIADOS COM AQUELAS NOTÍCIAS PODEM RESPONDER
ÀS DÚVIDAS DOS MAIS NOVOS SEM LHES AUMENTAR A PREOCUPAÇÃO E A
ANSIEDADE? PISTAS PARA LIDAR COM ESTA E OUTRAS SITUAÇÕES DIFÍCEIS
LIGADAS À MORTE – E À EXPLICAÇÃO QUE TEMOS SEMPRE DE DAR.
Texto Cláudia Pinto Ilustração Sérgio Condeço/WHO

P
odia ser uma segunda-
-feira normal. Com o
regresso ao trabalho e à
escola, dependendo das
idades. Mas não foi. Foi
o primeiro dia laboral ou escolar de-
pois do terrível incêndio de Pedrógão
Grande. A tragédia tinha chegado
sem aviso prévio no sábado anterior
e a confirmação das consequências
deixou o país em suspenso no do-
mingo. Com o aumento do número
de mortes, a velocidade das notícias
na comunicação social, e a perceção
do que tinha realmente acontecido,
surgiram as perguntas acompanha-
das de incredulidade.
Ilda Cunha, professora do pri-
meiro ciclo numa escola do
Feijó, em Almada, sabia que
aquele começo de semana se-
ria diferente. Com 26 alunos
entre os 8 e os 10 anos, curio-
sos e ávidos de respostas, a do-
cente admite que respondeu o
melhor que sabia às muitas questões
que lhe foram colocadas. «Já sabia
que isto ia acontecer mas deixei-os
começar a abordar o assunto.»
Foram duas horas de explicações e
de perguntas, muitas perguntas. Il-
da refere que «apesar de estas crian-
ças ainda serem pequenas, têm ma-
«OS RAIOS
turidade suficiente para entender es- DA TROVOADA
tes assuntos». O que fazer em caso de SECA TAMBÉM PODEM
tragédia com os nossos filhos, sobri-
nhos, netos, com as crianças em ge- CAIR AQUI PERTO
ral? Dizer a verdade? Esconder? Pro- DE NÓS?»
tegê-los da tragédia? Não existem re- PEDRO, 9 ANOS
gras universais, mas os especialistas
concordam que há um caminho que
pode ser seguido. O da verdade.

50 NOTÍCIAS MAGAZINE

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mesa, de conversar em família, de ter
tempo para rir, dizer disparates mas
também falar de temas do quotidia-
«AS PESSOAS no mesmo que não sejam fáceis.» «QUANDO
QUE FICARAM Acontecimentos trágicos como os FORMOS DE FÉRIAS,
SEM NADA VÃO que ocorreram naquele fatídico fim TAMBÉM NOS PODE
de semana podem ser também um
PARA ONDE?» pretexto para falar de outros temas ACONTECER ISTO?
ANA SOFIA, 9 ANOS essenciais ao desenvolvimento cog- MAXIM, 9 ANOS
nitivo das crianças, como por exem-
plo o ciclo de vida e a morte. «Pode-
mos falar sobre prevenção de incên-
dios ou acidentes, por exemplo», diz
a psicóloga. Recorrer a exemplos con-
«Os meus alunos estão comigo cretos, como as flores e os animais, tragédia como esta. Acrescentei que
desde o primeiro ano e já sabem que por exemplo, pode ajudar. «É impor- os incêndios se propagam de uma for-
lhes conto os factos, ainda que pos- tante ir explicando que todos os seres ma muito rápida e intensa.»
sa procurar associar a alguma ma- vivos nascem, crescem, amadurecem Recorrer a histórias é uma forma
téria da escola ou a alguma histó- e morrem. Por outro lado, há que su- de agilizar o tema ou fomentar a pe-
ria lúdica, daí que não se intimidem blinhar que, por vezes, pode haver dagogia. «Os alunos aprendem a pre-
em questionar.» Nem sempre os pais uma interrupção neste ciclo noutro venção dos incêndios na disciplina de
aceitam esta postura, e não raras ve- período anterior à velhice. A criança Estudo do Meio, faz parte dos seus re-
zes, recusam-se a responder, reme- deve ir interiorizando que o fim do ci- quisitos, e fazemos também simula-
tendo para a escola. «As crianças são clo de vida é imprevisível e ninguém cros regularmente», diz a professora.
muito curiosas e ficam a pensar nos sabe quando acontece.» Um dos desafios de abordar os te-
assuntos. Têm acesso à informação, No âmbito das suas aulas, Ilda mas difíceis é que nem sempre os
ouvem conversas dos adultos, por aproveita estes momentos para in- adultos se sentem, eles próprios, con-
mais que estes pensem que estão a tegrar alguns conceitos, relembrar fortáveis com os mesmos. «Às vezes,
brincar e não sabem do que se trata. a matéria dada e alertar para temas a ansiedade é tão grande que se per-
Acredito que os pais devem respon- importantes, tendo a pedagogia co- dem no discurso. Defendem-se do
der a todas as perguntas sem fugir mo principal alicerce. No primeiro stress e não querem vulnerabilizar-
dos temas, sejam eles quais forem. dia de aulas após o incêndio, começou -se perante as crianças», acrescenta a
Esconder os assuntos não é protegê-­ por abordar uma história do Manual psicóloga Maria de Jesus Moura.
-los. Podem poupá-los de alguns de Português que já tinha planifica- Relativamente à tragédia de Pe-
pormenores, adaptando o discurso do para aquela semana e que achou drógão, a estupefação das crian-
a cada idade, e se não quiserem apro- por bem adaptá-la ao contexto. «Era ças teve várias vertentes. «Esta não
fundar demasiado, podem remeter um texto que falava dos sapadores flo- é uma situação comum e deveu-se a
para a escola e para a professora, mas restais, de qual era o seu trabalho nas um fenómeno da natureza. É preci-
sem se demitirem do seu papel.» matas e a história até referia que al- so focar que está tudo bem e que não
A professora tem tentado respon- gumas pessoas tinham-nos confun- nos encontramos nesse local», diz
sabilizar os pais para fazerem a sua dido com incendiários. Comecei por a psicóloga. Sendo natural que «as
parte, mas nem sempre é bem- explicar que é importante que as ma- emoções estejam ao rubro perante
sucedida. «O meu papel prin- tas sejam limpas, que os incêndios são as sucessivas notícias que inquietam
cipal é gerir comportamen- muito perigosos, e que no nosso país, crianças e adultos, o acontecimen-
tos na sala e cumprir o currí- não tínhamos vivido, até à data, uma to é útil para falar de aspetos funda-
culo escolar. Caso não saibam mentais da existência humana, como
como abordar determinado tó- o facto de não sermos indiferentes ao
pico, estou disponível para os sofrimento alheio – e ainda bem – e
aconselhar. A escola já tem uma também para fomentar a solidarie-
parte considerável relativamente «SE AS PESSOAS dade». Este foi, aliás, um dos aspetos
à educação dos filhos.» IAM NOS CARROS, difundidos no meio de toda a tragé-
Maria de Jesus Moura, psicólo- dia. Os alunos de Ilda Cunha questio-
ga infantil e da saúde, especialis- PORQUE É QUE NÃO naram como poderiam ajudar as ví-
ta em luto infantil, acredita que es- CONSEGUIRAM timas. «Sugeri que falassem com os
ta é uma postura dos tempos atuais.
«Os pais passam a responsabilida-
FUGIR?» pais e se deslocassem aos Bombeiros
da Trafaria para doar bens alimenta-
de para a escola e demitem-se do DIANA, 8 ANOS res para as pessoas e os animais.»
seu papel, que é o processo de edu- Associado à dúvida, surge o medo.
cação. Há a necessidade de sentar à Medo que lhes aconteça a elas e aos

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COMPOR TAM EN TO

UM DOS DESAFIOS DE ABORDAR OS TEMAS DIFÍCEIS É QUE NEM SEMPRE OS ADULTOS SE SENTEM CONFORTÁVEIS
COM OS MESMOS. «ÀS VEZES, A ANSIEDADE É TÃO GRANDE QUE SE PERDEM NO DISCURSO. DEFENDEM-SE
DO STRESS E NÃO QUEREM VULNERABILIZAR-SE PERANTE AS CRIANÇAS», DIZ A PSICÓLOGA MARIA DE JESUS MOURA.

«COMO É QUE «AS PESSOAS «COMO É QUE


PODEMOS AJUDAR MORRERAM SE DIZ AOS PAIS
AQUELAS PESSOAS LOGO TODAS QUE OS FILHOS
E OS BOMBEIROS?» QUEIMADAS?» MORRERAM?»
PRÍNCIPE, 9 ANOS PEDRO, 8 ANOS MADALENA, 9 ANOS

familiares, receio de ir de férias pa- dos locais onde tipicamente os incên- cumprir o nosso próprio processo de
ra as aldeias dos avós. Foi o que a pro- dios se dão e, aparentemente, as ques- luto. E isso ajuda-nos a crescer. Con-
fessora Ilda sentiu naquela manhã. tões estão sob controlo», diz a profes- seguir passar esta dimensão de evo-
«Dois ou três miúdos também dis- sora. «Não é por acaso que as esco- lução para uma criança pode ser uma
seram que perto de suas casas exis- las investem em simulacros. Há que boa estratégia.
tem terrenos que não estão limpos, aproveitar para dar recursos à crian- Mais do que as palavras a utilizar,
inquietos com a ideia de também ser ça e pegar em temas que ela própria as respostas a dar e as informações a
possível incendiarem. Expliquei que já aprendeu, de forma a relembrá-los. passar, é importante estar disponí-
temos para-raios e que existem estru- E há que confirmar o direito que to- vel e não deixar às crianças à deriva.
turas no meio das cidades que permi- das as crianças têm de se inquieta- Mostrar interesse, ter tempo para ou-
tem que as trovoadas se deem sem rem, de ficarem tristes e chorarem.» vir as dúvidas, responder e conversar
grandes estragos. Nas cidades, nun- Perante a questão de uma das alu- sobre tudo com uma função pedagó-
ca se ouviu uma tragédia relacionada nas que queria saber para onde é que gica é o modelo mais indicado. Em si-
com isso. Foquei que nas zonas urba- iam as pessoas que ficaram sem na- tuações em que as crianças se possam
nas, os bombeiros estão mais perto e da, Ilda reforçou a importância de sentir muito inseguras, «os pais de-
chegam mais rápido a qualquer tipo ajudar os outros. «Remeti para a vem também selecionar a informa-
de incidente. Ao mesmo tempo, expli- questão da esperança que os gover- ção e dar colo, o que ajudará os mais
quei que estas situações são imprevi- nantes iriam tomar medidas, e que o pequenos a restaurar a segurança»,
síveis e podem acontecer em qualquer apoio dos amigos, família mas tam- diz a psicóloga.
lugar, para não pensarem que estão bém de desconhecidos, a nível nacio- Dentro daquilo que são temas di-
libertos das mesmas, mas que exis- nal, era essencial.» fíceis, compete então aos pais «dizer
tem recursos de segurança e de de- Trabalhar as questões da esperan- que tudo está bem, que a família es- As perguntas
fesa. Selecionei alguns aspetos mais ça pode ser um passo essencial num tá ali e em segurança, independente- foram recolhidas
positivos para que eles ficassem mais processo de luto. Ao reconhecermos mente de não se saber o dia de ama- por Ilda Cunha,
tranquilos e menos assustados.» que alguém teve importância na nos- nhã. Há que promover a segurança professora
do primeiro ciclo
Nas cidades e em zonas urbanas, as sa vida e que o seu legado tem uma para que a criança consiga arranjar numa escola
explicações relativas ao tema ficam relevância significativa no nosso estratégias para lidar com as situa- do Feijó,
facilitadas. «Estamos mais afastados percurso estamos, de certa forma, a ções difíceis». em Almada.

O QUE FAZER?
• Dizer a verdade adaptando mas sem se demitir do papel de tornar a conversa mais simples desfechos felizes
os factos e os pormenores pai/mãe e percetível • Explicar que as pessoas
consoante a idade das crianças • Pedir ajuda à escola ou a um • Aproveitar estes momentos atingidas pelo incêndio, e que
• Não esconder nem proteger especialista quando tiver dúvidas para falar de temas relacionados sobreviveram, mas que
demasiado sobre a melhor forma de abordar com a prevenção de acidentes perderam familiares ou os seus
• Estar disponível para ouvir e determinado tema e com atitudes a ter para se bens, vão ser ajudadas por várias
responder a todas as questões • Recorrer a histórias lúdicas, protegerem pessoas de todo o país e
• Preparar os temas em casa, a exemplos práticos e a conheci-­ • Reforçar que houve pessoas acompanhadas de perto por
abrir espaço para a comunica­ mentos que as crianças já que se salvaram no meio da especialistas, médicos indicados
ção e remeter para a escola, aprenderam na escola, para tragédia e que também houve para estes casos.

52 NOTÍCIAS MAGAZINE

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Vamos ao fim da rua,
vamos ao fim do mundo
vamos à PRAIA
consigo
DE 2 DE JUlHO A 27 DE AGOSTO, A TSF ANIMA AS PRAIAS DE PORTUGAL COM RITMOS LATINOS,
RUNNING E MUITO MAIS! AO VIVO E EM DIRETO, TODOS OS DOMINGOS NUMA PRAIA PERTO DE SI.

02 JULHO Praia da Figueirinha | Setúbal 06 AGOSTO Praia da Areia Branca | Lourinhã


09 JULHO Praia Fluvial Malhadal | Proença-a-Nova 13 AGOSTO Praia da Lomba | Gondomar
16 JULHO Praia do Farol | Odemira 20 AGOSTO Praia Grande | Sintra
23 JULHO  1SBJBEP$BCFEFMP]7JBOBEP$BɕFMP 27 AGOSTO Praia do Ouro | Sesimbra
30 JULHO Praia do Quião | Póvoa de Varzim

APOIO: tudo o que se passa, passa na tsf.


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SOLIDARI EDAD E

Dar a palavra a quem nunca falou


Têm paralisia cerebral, doenças neurológicas e outras patologias que os limitam,
nomeadamente ao nível da comunicação verbal. Têm vontade própria e querem escolher,
como qualquer pessoa. Com a ajuda de uma associação de Vila Real, agora será mais fácil.
Texto Cláudia Pinto Fototografia Rui Ferreira/Global Imagens

A
vida é assim. Perante o

A. ROQUE
que me aconteceu, ou ia
abaixo e entrava em de-
pressão ou seguia em
frente.» Ondina Ribeiro escolheu a
segunda opção. Aos 53 anos, resu-
me desta forma a história de para-
lisia cerebral da filha. Ondina e Ca-
tarina Amélia vivem em Vila Real.
O diagnóstico foi a consequência do
nascimento prematuro da rapariga
de 23 anos, quando tinha 29 sema-
nas de gestação. «Caiu-me o chão,
não sabia como lidar com isto. Cho-
rei muito. Tenho dias em que ques-
tiono, em que penso por que é que
me aconteceu a mim. Mas depois
volto a ganhar forças.»
Os dias são passados entre o tra-
balho, como escriturária, e os cuida-
dos com a filha (Catarina está ves-
tida de amarelo, na fotografia). «É
uma menina simpática, gosta de
passear e de novas tecnologias. Ten-
to proporcionar-lhe o maior bem-
estar possível e acho que acaba por
ser feliz, à maneira dela.»
Ondina nunca deixou de traba-
lhar. Conseguiu conciliar a desa-
fiante função de cuidadora com a os dias, criou o projeto (D)Eficiên- Elas fazem o que os outros que-
de profissional. É no trabalho que cia na Comunicação, premiado em «Estas pessoas rem, nunca o que desejam. O meu
encontra um escape para os dias di- dezembro passado com uma men- têm direitos», diz filho com 3 anos consegue pedir o
Sofia Borges,
fíceis. E o apoio do filho mais velho, ção honrosa no Prémio BPI Capa- psicóloga da que quer beber. Temos utentes com
João Miguel, de 28 anos, é essencial. citar 2016. «Ninguém faz ideia do Associação de 40 anos que nunca o fizeram. Nós
«Tive muita sorte, ele sempre acei- que estas pessoas sentem. Num am- Paralisia Cere- achamos que querem água mas e se
tou bem a situação. Gosta imenso da biente estranho, não conseguem so- bral de Vila Real preferirem sumo ou leite?»
(em pé, segunda
irmã e são muito cúmplices.» licitar pedidos básicos, como um a contar da direi-
O projeto tem várias fases. Pri-
Os momentos mais complicados copo de água ou ir à casa de banho», ta). «Fazem o que meiro é feita uma avaliação pelos
surgem quando não é possível sa- explica Sofia Borges, psicóloga e di- os outros que- técnicos, em equipa (terapeutas
ber o que a filha quer ou sente. «Fi- retora técnica da APCVR. Com os rem, nunca o que ocupacionais, psicólogos, terapeu-
co muito frustrada e triste quando trinta mil euros do prémio, foi pos- desejam. O meu tas da fala e monitor de informá-
filho com 3 anos
não consigo entender o que me quer sível comprarem tablets, compu- consegue pedir o tica), para saber que tipo de equi-
transmitir. E ela fica zangada quan- tadores e telemóveis com softwa- que quer beber. pamentos se adapta a cada uten-
do não a percebo.» Apesar de se ex- re adaptado às necessidades de Temos utentes te. Segue-se o período de testes,
pressar a nível facial e de emitir al- cada um. com 40 anos que para ter a certeza de que determi-
nunca o fizeram.
guns sons, a barreira da comunica- O objetivo passa por humanizar e Nós achamos que
nado equipamento é ou não o mais
ção traz alguma ansiedade. proporcionar melhor qualidade de querem água indicado, sendo necessário testar
A pensar nisto, a Associação de Pa- vida aos 154 utentes. «Devido às li- mas e se preferi- outro(s). «Temos equipamentos su-
ralisia Cerebral de Vila Real (APCVR), mitações deles, as escolhas são pou- rem sumo ou ficientes que podem ser empres-
onde há vinte anos Catarina passa cas, mas estas pessoas têm direitos. leite?» tados para que os utentes possam

54 NOTÍCIAS MAGAZINE

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Com o apoio

experimentá-los no seu ambiente


familiar e para termos a certeza de A APCVR
que são os mais indicados.» comprou tablets,
computadores e
Sofia começou por desenvolver telemóveis com
esta estimulação mas de uma for- software
ma simples. «Eram usados cader- adaptados às
nos com símbolos têxteis cortados necessidades
e plastificados para comunicar com de cada um.
O objetivo passa
cadeirantes [pessoas que se deslo- por humanizar e
cam em cadeiras de rodas]. Eles proporcionar
emitem sons ou gritos mas não co- mais qualidade
municam verbalmente.» de vida aos
utentes,
«Vamos treinando ao longo do que assim
tempo», continua a psicóloga. «Por conseguem
exemplo: colocamos à frente deles comunicar
um copo de leite, outro de água e melhor.
também de sumo. Damos-lhe a pro-
var e para os que não têm qualquer
capacidade de movimentação, co-
locamos os símbolos frente ao com-
putador para que seja possível in-
dicar o que pretendem. A partir do MAIS AUTONOMIA
momento em que reconhecem os António Teixeira (em para trabalhar mas tem que me percebam.»
símbolos, estão prontos para passar cima) tem 41 anos, um dificuldade em manusear Frederico Alves (em
à próxima fase. Ao fim de várias ses- diagnóstico de paralisia utensílios.» Agora, Antó- baixo) tem 36 anos e
cerebral espástica bila- nio sente que este projeto tetraparesia espástica.
sões, serão capazes de explicar que
teral e move-se em veio facilitar-lhe a vida. É um dos mais entusias-
têm sede e que bebida preferem.» cadeira de rodas elétrica. «Gosto das novas tecno- tas do projeto. «Sinto-me
No final do projeto, serão aproxi- «Tem alguma capacidade logias», explica por mais livre», escreve.
madamente 450 os beneficiários, cognitiva, não se conse- escrito. «Por vezes, não «Os novos equipamentos
alguns deles indiretos, uma vez que gue exprimir verbalmen- me entendem e agora permitem-me comunicar
a equipa da APCVR desloca-se a vá- te, mas sabe ler e escre- posso usar o computador com as pessoas mais
rias escolas de Vila Real, intervindo ver», diz a psicóloga Sofia para escrever ou esco- próximas sem ajuda de
Borges. «Usa as mãos lher uma imagem para terceiros.»
junto de crianças com necessidades
educativas especiais, colegas, pro-
fessores e funcionários. Os técnicos
apresentam estas soluções tecnoló-
gicas de forma a sensibilizar para os
seus benefícios, até porque «muitos
deles não conheciam estas respos-
tas. Levamos alguns equipamen-
tos que ficam nas escolas para se-
rem testados».
A Catarina e muitos outros vão
poder escolher. Ondina e outros
cuidadores agradecem. «Imagine-
-se a diferença que este projeto fa-
rá na vida de uma mãe que tem um
filho que nunca falou e que passa-
rá a ter como comunicar com ele»,
conclui Sofia Borges.

NOTÍCIAS MAGAZINE 55

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B EM­‑ ESTAR

Excesso de transpiração.
Como combater?
Manchas que alastram na roupa por baixo dos
braços, gotículas na testa, palmas das mãos
frias e húmidas, meias molhadas. A hiperidrose A QUANTIDADE
– excesso de transpiração – causa muitos NORMAL DE SUOR
constrangimentos e pode ter um impacto LIBERTADA PELO CORPO É DE
negativo na vida pessoal e profissional. Mas CERCA DE UM LITRO POR DIA, MAS
é possível controlar o problema com alguns
gestos simples ou tratamentos disponíveis. UMA PESSOA COM HIPERIDROSE
Texto Sofia Teixeira Fotografia Shutterstock
(QUE ATINGE APROXIMADAMENTE
3% DA POPULAÇÃO) PODE
CHEGAR A OITO LITROS
DIÁRIOS.

56 NOTÍCIAS MAGAZINE

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P
or muito incómodo qualidade de vida e no bem-estar BOTOX 4 PASSOS
que seja, o suor é um de quem sofre com ele. As pes­soas A toxina botulínica tipo A, (mais
mecanismo neces- que mudam de camisa várias ve- conhecida pelo nome comercial PARA EVITAR
sário para dissipar zes por dia, que pegam numa folha de uma das marcas, o Botox) po- PROBLEMAS
o calor gerado pelo e a deixam molhada, que não con- de ser aplicada por um dermatolo-
nosso metabolismo, seguem usar sandálias porque elas gia e funciona com inibidores das
DE ODORES
As axilas
uma espécie de regulador de tempe- escorregam, acabam por desenvol- glândulas sudoríparas localmente,
depiladas não
ratura que ajuda a manter o corpo ver ansiedade social. Por isso, quem no sítio onde é aplicada, com efeitos evitam a
dentro dos 36,5 graus habituais. Na sofre da condição deve discuti-la que duram entre sete meses e um transpiração,
realidade, estamos quase sempre a sem preconceitos com o médico de ano. O efeito não é uniforme em to- mas previnem
transpirar, mas como o fazemos em família ou com um dermatologista da a gente, mas em muitos casos maus odores, já
quantidades pequenas, o suor eva- porque não é uma fatalidade e há elimina totalmente a produção de que são criadas
pora rapidamente e não se nota. Já várias hipóteses para minimizar o suor, noutros reduz muito signifi- condições menos
boas para as
quando o calor é muito, estamos a problema. cativamente. Não costuma apre- bactérias se
fazer desporto, ficamos nervosos ou sentar efeitos secundários e pode multiplicarem;
sofremos de uma condição benigna ser aplicada nas mãos, pés, axilas e
chamada hiperidrose ou hipersu- ANTITRANSPIRANTES na região frontal do rosto. É necessário
dorese, a velocidade com que eva- O desodorizante normal não previ- ter cuidado com
pora não é suficiente para evitar as ne a transpiração, mas há no mer- a esfoliação na
manchas que nos deixam embara- cado várias marcas de antitranspi- LASER zona das axilas
porque a pele é
çados. As teorias mais consen­suais rantes, produtos específicos para É umas das hipóteses de trata- sensível, mas
atribuem o excesso de transpiração bloquear a transpiração nas axilas mento mais recentes e, como tal, ela deve ser feita
a uma hiperatividade no sistema (formato roll-on) e nas mãos e pés menos estudadas. É usada na zona com um produto
nervoso simpático, responsável en- (formato creme ou loção). Têm por das axilas onde, depois de um es- suave para
tre outros, pela reação do corpo a si- base o cloreto de alumínio na com- tudo prévio que determina a loca- remover restos
de pele morta
tuações de stress aumentado. posição e para pessoas cujo proble- lização das glândulas sudoríparas
e resíduos de
O suor é produzido pelos três mi- ma não seja grave resultam. Em- axilares mais ativas, estas são eli- desodorizante
lhões de glândulas sudoríparas que bora sejam de venda livre, podem minadas através do procedimen- que podem
temos no corpo, e é liberado sobre- deixar a pele sensível, por isso é con- to a laser minimamente invasi- bloquear
tudo na zona das axilas, mãos, viri- veniente ler bem as instruções antes vo. Os resultados também não são os poros;
lhas e pés. A quantidade normal li- de usar e procurar opinião médica. definitivos.
bertada pelo corpo é de cerca de um As roupas de
fibras naturais,
litro por dia, mas uma pessoa com como o algodão,
um problema de hiperidrose – que CIRURGIAS são as mais
atinge aproximadamente 3% da po- Para casos muito graves de hiperi- amigas da pele:
pulação – pode chegar a oito litros AS TEORIAS MAIS drose primária é possível fazer uma permite-lhe
diários. Apesar disso, acredite ou de duas cirurgias: a simpatecto- respirar
não, o suor não cheira mal porque CONSENSUAIS ATRIBUEM mia torácica endoscópica e a sim- melhor e uma
é constituído por cerca de 99% O EXCESSO DE TRANSPIRAÇÃO patectomia lombar endoscópica,
evaporação do
suor mais rápida;
de água. O que acontece é que ao A UMA HIPERATIVIDADE NO que corta o nervo dentro do tó-
atingir a superfície da pele, ou rax ou os bloqueia com grampos. A comida
seja, o exterior do corpo, fica su- SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO, O procedimento é feito com picante eleva
jeito à ação das bactérias que lhe RESPONSÁVEL, ENTRE OUTROS, anestesia geral, geralmente tem a temperatura
do corpo, logo,
conferem odor. bons resultados, mas pode de-
Raras vezes o suor em exces- PELA REAÇÃO DO CORPO A sencadear mecanismos compen- cria mais
transpiração.
so é um problema do ponto de vis- SITUAÇÕES DE STRESS satórios de excesso de suor noutros
ta clínico, mas é-o do ponto de vis- sítios, além de ter os riscos ineren-
ta pessoal e social, interferindo na
AUMENTADO. tes a uma anestesia e cirurgia.

Tratando-se de uma condição física que pode requerer acompanhamento médico, é conveniente aconselhar-se
com um médico de família ou dermatologista sobre qualquer destas opções.

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B ELEZA

Bronzeado
perfeito e seguro
Nesta altura do ano, o destino dos fins de semana e férias
é quase sempre a praia. Mas nunca é demais reforçar:
não se esqueça do protetor solar. Não facilite. As lesões
de pele, por mais insignificantes que possam parecer,
podem resultar em complicações graves. VERDADES
Texto Margarida Brito Paes Produção Rute Cruz Fotografia Reinaldo Rodrigues/GI
SOBRE
O SOL

O
s raios solares têm as- escaldões em zonas inusitadas .É importante
petos positivos pa- é aplicar a proteção solar em casa proteger todas as
ra a nossa pele, já que antes de vestir o fato de banho. Não partes do corpo,
nos ajudam a sinteti- deverá esquecer-se de pôr creme até as orelhas!
zar a vitamina D. Mas nas orelhas (local onde são deteta- São muitos os
cancros da pele
os raios UVA e UVB são malignos e dos muitos melanomas), nos pés e que surgem
são uma das principais causas das nas zonas laterais do corpo. em zonas como
queimaduras cutâneas e os grandes O rosto deve ter uma atenção es- esta por falta de
responsáveis pelo cancro da pele. pecial, sendo preferível usar um proteção solar.
É imprescindível que se prote-
ja do Sol com o fator de proteção
creme específico para esta zona
mais sensível do corpo. Existem op-
.A areia reflete
15% da radiação
adequado. O mais elevado, de ní- ções com cor, que dão um ar bron-
solar.
vel 50, deve ser utilizado por todas zeado de forma instantânea, ideal
HORÁRIO
ACONSELHADO
as pessoas, podendo depois ser re- para as primeiras fotografias de ve- .A água reflete
duzido gradualmente quando a pe- rão. Também não se deve esquecer 25% da radiação
Segundo o Insti- le já está bronzeada, mas manten- de proteger as mãos, que são uma solar, por isso
tuto Português do num mínimo um fator de prote- zona do corpo muito exposta e que, é que se queima
do Mar e da At- mais quando está
ção SPF30. No entanto, se tem uma como tal, apresenta sinais de enve-
mosfera, o perío- a tomar banho
do com maior pele muito clara, deve manter uma lhecimento mais depressa. ou à beira-mar.
incidência de proteção elevada até ao fim da épo- Por todas estas razões, é muito
raios UV é entre ca balnear. importante que se proteja do Sol e .O protetor solar
as 11h00 e as O creme deve ser reaplicado de que tenha consciência de que o pro- deve ser aplicado
16h00. É conve- duas em duas horas independen- tetor solar não impede a pele de se 30 minutos antes
niente evitar a temente do fator de proteção. Um bronzear, por isso pode usar e abu- da exposição ao
exposição solar sol e reaplicado a
neste horário. bom truque para não apanhar sar desta barreira protetora. cada duas horas.
. As nuvens
filtram apenas
1 4 7 10 20% dos raios,
VICHY COLLISTAR ANNE MÖLLER AVÈNE por isso deve
Leite fluido Para pele hiper- Proteção com cor Creme anti-idade proteger-se até
antiareia SPF 30 sensível SPF 50+ SPF 30,50 ml e antioxidante SPF 50+, nos dias nublados. 
200 ml, 22 euros 150 ml, 35,80 euros 24,95 euros 50 ml,15,99 euros
.
Fonte: Daniela Cunha, dermatologista

A roupa molhada
2 5 8 11 aumenta a
EUCERIN LIERAC BIOTHERM LANCASTER penetração
Para pele sensível Creme anti-idade Leite registente Stick para o rosto para da radiação.
SPF 50+, 200 ml
19,99 euros
SPF 50+, 40 ml,
28,99 euros
à água SPF 30
200 ml, 34,95 euros
as zonas sensíveis
SPF 30, 34,40 euros
.É recomendado
o uso de protetor
3 6 9 12 diariamente
BIODERMA URIAGE FILORGA BEBÉ de fevereiro
Creme para pele Stick para lábios Fluido anti-idade Pode aplicar-se no a novembro.
sensível SPF 50+ SPF 30 SPF 50+, 40 ml, corpo molhado, 200 ml
40 ml, 15,29 euros 8,94 euros 24,99 euros SPF 50, 23 euros

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11

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Fonte: Daniela Cunha, dermatologista

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R ECEI TAS

Sabor de Itália em pão tostado


Tostar o pão na grelha. Esfregar com alho. Regar com azeite. Cobrir com
ingredientes a gosto. A bruschetta é uma das mais famosas e práticas entradas
italianas e permite tantas variações quanto a imaginação deixar. Também pode
fazer parte de uma refeição ligeira ou aperitivo.
Receitas Adriana Freire Fotografia Daniela Quintela/Global Imagens

Crostini de requeijão e fruta


8 fatias de baguete, 1 requeijão de ovelha, 2 nectarinas, mel e manjericão.

P ode usar nectarina, pêssego ou morangos. Corte a nectarina


em fatias finas e coloque-as numa frigideira antiaderente.
Em lume brando deixe por dois ou três minutos e retire-as com a
ajuda de uma espátula. Torre o pão e, por cima, coloque um peda-
ço de requeijão e uma ou duas fatias de fruta. Regue com um fio
de mel e sirva com folhinhas de manjericão a decorar.

4 PESSOAS 15 MINUTOS ECONÓMICO

Bruschetta de mozzarella,
pesto e tomate
8 fatias de pão, 1 mozzarella. Para o pesto: 1 ramo de manjericão,
3 c. de sopa de pinhões, 1 dente de alho, 1 dl de azeite extra virgem,
4 c. de sopa de queijo parmesão ralado e sal.

P ara o pesto: coloque no copo misturador o manjericão, os pi-


nhões, o dente de alho, o azeite e o sal e triture tudo grosseira-
mente. Por fim misture o queijo parmesão, de preferência acaba-
do de ralar. Torre o pão e barre com o pesto, por cima, coloque uma
fatia de queijo e leve ao forno (grill) por dois ou três minutos até o
queijo começar a derreter. Sirva de imediato.

4 PESSOAS 20 MINUTOS ECONÓMICO

Bruschetta de tomate seco,


parmesão e rúcula
8 fatias de pão, 1 chávena de tomate seco em azeite, 2 dentes de alho,
3 c. de sopa de miolo de amêndoa, parmesão e rúcula.

P ara o pesto: coloque no copo misturador o tomate seco e o azei-


te do mesmo, os dentes de alho, as amêndoas, o sal e triture tu-
do grosseiramente. Torre o pão e barre com o pesto, por cima, colo-
que lascas de queijo parmesão e folhas de rúcula.

4 PESSOAS 20 MINUTOS ECONÓMICO

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Bruschetta
de queijo
e romã
8 fatias de pão, 1 queijo
camembert, cebolinho e azeite
extravirgem. Para o xarope de
romã: 2 romãs e 2 c. de sopa
de açúcar.

E scolha um bom pão,


de preferência casei-
ro, mas compacto. Corte as
romãs ao meio no sentido
transversal e reserve algu-
mas sementes. Com a ajuda
de um espremedor de citri-
nos extraia o sumo das ro-
mãs. Misture o sumo com o
açúcar e leve ao lume, cerca
de dez minutos, até reduzir
para metade. Reserve. Tor-
re o pão, regue-o com um fio
de azeite. Coloque uma fa-
tia de queijo e leve ao forno
(grill) por dois ou três mi-
nutos até o queijo começar
a derreter. Regue com um
fio de xarope de romã e, por
cima, coloque algumas se-
mentes e cebolinho picado.
Sirva de imediato.

4 PESSOAS 20 MINUTOS ECONÓMICO

NOTÍCIAS MAGAZINE 61

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vida em comum

PAULO FARINHA
jornalista

E quando formos nós a apanhar


o susto de uma vida?

A
história está cheia de histórias destas. A nossa história. choraríamos? A quem podíamos dizer que não, que não está tudo
Cheia de histórias dos outros. De vez em quando, alguma bem, que estamos mal e não sabemos o que fazer, como sair disto,
nos toca a nós mais diretamente, mas somos capazes de an- como reagir, que estamos cansados de nos fazer fortes pelos outros?
dar uma vida inteira sem nos cruzarmos diretamente com uma as- Para que porra de lado nos iríamos nós virar se a vida nos atirasse as-
sim. A ouvir falar, alguém que conta que um tio de um vizinho, ou sim com um camião para a frente dos olhos?
mesmo um amigo de raspão no Facebook teve um susto. Um aba- É nessa altura que vamos passar menos horas no trabalho? Será a
não. Um abre-olhos. Mas a coisa está lá longe. Só acontece aos ou- partir daí, quando ainda não somos nós no olho do furacão, mas es-
tros. A nós não. Nós sempre tivemos uma sorte da- tamos suficientemente perto para lhe sentir o vento,
nada, um bom karma, uma mão amiga. O destino, o SE FOSSE CONNOSCO? que vamos passar a comer melhor? A fazer exercício?
universo, Deus, o Divino, seja o que for que regula is-
to – até mesmo o nosso livre arbítrio, cada um acredi-
E SE FOSSEMOS NÓS, Étocom a mudança de vida dos outros, mas com o sus-
que isso nos prega a nós, que vamos finalmente fa-
ta no que quer – sempre nos protegeu. NAQUELA CAMA zer uma lista dos amigos com quem queremos mar-
Até ao dia. Até ao momento em que vemos o susto DE HOSPITAL, COM car almoços que andamos a adiar? É com esses sinais
de frente, o abanão, o abre-olhos. Chegou perto. Ain- AQUELE RELATÓRIO de alerta que vamos mesmo – mas mesmo, à séria –
da não nos tocou a nós. Ainda não chegou cá. Já está
mais próximo, mas ainda não fez mossa direta. Só no NAS MÃOS, NAQUELE meter na cabeça que temos de passar horas de quali-
dade com os filhos todos os dias? E que se não o faze-
choque em cadeia. Agora foi a colega da frente, a quem VELÓRIO? A QUEM mos à terça-feira, devemos compensar à quarta, por-
morreu o marido, assim de repente, um dia não acor- TELEFONÁVAMOS? que há um dia em que vão crescer tanto que serão eles
dou, finou-se. Foi o vizinho do 2.º F, que perdeu a ca- A QUE BOIA NOS a já não ter dias da semana para nós.
sa e o terreno e as poupanças de uma vida, quando foi Andar sempre bem com a vida e com os outros,
tudo engolido pelo fogo lá na terra. Foi o chefe, que re- AGARRÁVAMOS? equilibrado por dentro e por fora, a ser grato pelo que
cebeu o relatório daquela biópsia e ficou a saber que se tem, a lutar por ter mais mas apenas o suficiente, a
tem um cancro. Foi o primo, tão saudável e desportista, que come- ser ambicioso mas não ganancioso, a mudar a vida dos outros para
çou a sentir tudo enevoado e acordou dois dias depois numa cama melhor, a ver os filhos crescer e evoluir também como pessoa... Isso
de hospital sobrevivente de um AVC que o vai mudar para sempre. dá uma trabalheira danada e nem sempre conseguimos. Passamos
Foi o amigo, que perdeu o filho, atropelado por um bêbado que saiu mais tempo a correr atrás do prejuízo e a fazer figas para não levar
da faixa e nem soube bem o que fez com o camião de frente do que a apreciar os momentos em que con-
Aí paramos. Abrandamos um pouco. E se fosse connosco? E se seguimos mesmo ser um pouco do que almejamos. Mas de tempos
fossemos nós, naquela cama de hospital, com aquele relatório nas a tempos, quando o susto passa perto, é bom pararmos para pen-
mãos, naquele velório? Como é que fazíamos? A quem telefonáva- sar. E enquanto desejamos que não nos toque a nós, vamos aprecian-
mos? A que boia nos agarrávamos para não ir ao fundo? Com quem do o que temos. E corrigindo o caminho sempre que for preciso.

Leia todas as crónicas em www.noticiasmagazine.pt.

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HORÓSCOPO POR PAULO CARDOSO WWW.PAULOCARDOSO.COM D E 9 A 15 D E JULHO D E 2017

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Diretor Diário de Notícias Paulo Baldaia


Diretor Jornal de Notícias Afonso Camões
CARNEIRO TOURO GÉMEOS CARANGUEJO
Diretora Catarina Carvalho
21 de março 21 de abril 22 maio 22 de junho Editor executivo Paulo Farinha
a 20 de abril a 21 de maio a 21 de junho a 23 de julho Editora Catarina Pires
Direção de arte Rui Leitão,
Momento propício ao Período caracterizado As suas atividades Poderá ter nestes dias Pedro Botelho (adjunto)
enriquecimento men- por uma energia men- quotidianas serão mais oportunidade de mos- Editor multimédia Bruno Contreiras Mateus
tal. Notará, mesmo ao tal exuberante. É espe- intensas e variadas. trar aos outros as suas Redação Ana Pago, Ricardo J. Rodrigues
praticar ações com o cialmente útil se tiver Aproveite para se verdadeiras qualida- Arte Ana Faleiro, Carla Oliveira, Rute Cruz, Miguel
Vieira Assistente editorial Madalena Marques
mero intuito de distra- de se dedicar a um reorganizar e ocupar- des e capacidade de Pinto Cronistas: Afonso Cruz, Ana Bacalhau, José
ção, uma maior agili- estudo ou trabalho que -se das suas necessi- ação. Apesar de ser, Luís Peixoto, Manuel Jorge Marmelo, Ferreira
dade intelectual, criati- requeira grande esfor- dades imediatas. Bom nesta altura, bom para Fernandes Nesta edição: Alexandra Tavares-
vidade acrescida e ço intelectual. Tente momento para fazer si dedicar-se a alguma Teles; Ana Patrícia Cardoso, Catarina Guerreiro,
maior desejo de trans- não ser demasiado pequenas viagens, atividade física deve Cláudia Pinto, Catarina Vasques Rito, Ricardo
Santos, Sara Dias Oliveira, Sofia Teixeira (texto),
mitir aos outros a sua egocêntrico e rígido na novos relacionamentos evitar exigir de mais do Fernando Marques, Mário Ribeiro (fotografia),
energia. Não terá, defesa dos seus pontos ou ainda reestruturar seu corpo. Não seja Helena Ferreira, Rita Bento (copy desk),
talvez, tanta recetivi- de vista ou poderá as ligações com aque- impulsivo e impaciente Paulo Cardoso (Horóscopo)
dade em relação à arranjar conflitos com les com quem lida mais pois isso poderá fazê- Copy desk Elsa Rocha (coord.), Ângela Pereira
influência dos outros. os seus interlocutores. frequentemente. -lo correr riscos. Diretor de qualidade Diogo Gonçalves
Ed. digital de imagem Nuno Espada (coordenador),
Pedro Nunes Diretor-geral comercial Luís
Ferreira Direção comercial Paulo Pereira da
Silva, Susana Azevedo (diretora comercial Sul),
Vítor Cunha (diretor comercial Norte) Publicidade
(Sul) Alexandra Moura (diretora conta), Paula
Duarte (gestora conta), Luís Costa (gestor conta)
LEÃO VIRGEM BALANÇA ESCORPIÃO Publicidade (Norte) Fernanda Ally (diretora
conta), Sofia Silva (gestora conta)
24 de julho 24 de agosto 24 de setembro 24 de outubro SUL Rua Tomás da Fonseca, Torre E, 3º piso,
a 23 de agosto a 23 de setembro a 23 de outubro a 22 de novembro 1600-209 Lisboa, Tel.: 213187400.
NORTE Edifício Jornal de Notícias, R. Gonçalo
Aproveite este período Nesta altura está Sentirá, nesta fase, Esta é uma fase Cristóvão, 195, 4049-011 Porto, Tel.: 222096172.
para expressar e de- com falta de paciência maior necessidade de em que não convém Direção de Marketing e Comunicação Ana
fender os seus pontos para suportar a conviver e conversar desafiar a lei. Tenha Marta Heleno (diretora), Direção de Produção
de vista. Verá que a disciplina no trabalho com os seus amigos. cuidado se tem algum António José Carvalho (diretor), Jaime Mota,
clareza mental e luci- e para tudo o que Aliás, o debate de um processo a decorrer João Pires, José Gonçalves e Juvenal Carvalho
Direção de Circulação Nuno Ramos (diretor),
dez, que o atual mo- limite a sua liberdade. problema com eles com a justiça. Raúl Tavares (diretor adjunto),
mento proporcionam, Este é um bom mo- poderá ser meio cami- Tendência para Paula Guerreiro e Martinho Ferreira
são de molde a conferir mento para se relacio- nho andado para a sua conflitos com a lei Impressão Lisgráfica, SA – Est. Consiglieri
objetividade e fluência nar com grupos, resolução. A opinião podendo mesmo Pedroso, Casal de Santa Leopoldina. 2745-553
para fazer novos das pessoas que estão acabar em tribunal. Barcarena Distribuição Vasp, Distribuidora
ao que pretende trans-
de Publicações Lda. MLP, Quinta do Grajal,
mitir, cativando os amigos que tenham fora do problema é A nível intelectual Venda Seca – 2739-511 Agualva Cacém;
interlocutores. Evite novas formas de sempre menos parcial está num período Tel.: 214337000/Fax: 214326009
envolver-se em dis- pensar e para desen- e poderá ser o ponto de muito criativo. Vai Depósito legal n.º 55418/2001
cussões demasiado volver projetos partida para novas querer mostrar a Tiragem deste número 150 000 exemplares
inovadores. iniciativas. todos as suas ideias. Propriedade Global Notícias – Media
acaloradas.
Group, S.A., matriculada na Conservatória
do Registo Comercial de Almada, Capital
social 20.000.007,50 euros NIPC 502535369
Sede Rua Gonçalo Cristóvão, 195-219,
4049-011 Porto / Tel. (+351) 222 096 100
Fax: (+351) 222 096 200 Filial Rua Tomás
da Fonseca, Torre E, 3.º piso, 1600-209 Lisboa
SAGITÁRIO CAPRICÓRNIO AQUÁRIO PEIXES Tel. (+351) 213 187 500 / Fax: (+351) 213 187 501

23 de novembro 23 de dezembro 21 de janeiro 20 de fevereiro


a 22 de dezembro a 20 de janeiro a 19 de fevereiro a 20 de março
Assuntos legais pen- A sua energia pessoal Grande necessidade de Época propícia à afir-
dentes e projetos que estará mais voltada diálogo, o que será mação pessoal e criati-
tem em mãos têm para o exterior, em oportuno para sanar va, o que trará grande Conselho de Administração
Daniel Proença de Carvalho (presidente), Vítor
agora oportunidade de especial para a relação certos mal-entendidos satisfação. Uma paixão
Ribeiro, José Carlos Lourenço, Rolando Oliveira,
alcançar bons resulta- com as outras pesso- ou dificuldades que forte poderá surgir Luís Montez, Jorge Carreira e Teresa Graça
dos. As suas ideias as. É um período propí- têm gerado um clima nesta altura e a sexua- (administradores)
estarão mais claras. cio ao esclarecimento de fricção e reticên- lidade poderá ser Detentores de 5% ou mais do capital da empresa
Aproveite para organi- de situações mal resol- cias. O esclarecimento vivida de forma inten- Controlinveste Media, SGPS, S.A. – 27,5%
Gam Holdings – 27,5%
zar-se. Os relaciona- vidas no passado e de situações está sa. Escoe o excesso de Banco Comercial Português, S.A. – 15%
mentos com o estran- geradoras de alguma grandemente favoreci- energia praticando Novo Banco, S.A. – 15%
geiro estão também tensão. Tenha alguma do. Será também uma desporto ou partici- Grandes Notícias, Lda. – 15%
favorecidos: poderá cautela com todos os altura de maior roman- pando em atividades
surgir a oportunidade assuntos que se pren- tismo e intimidade, de lúdicas. Procure envol-
de uma viagem. dam com a justiça. empatia com os outros. ver os seus filhos.
Suplemento dominical do Jornal de Notícias e do Diário
Informação cedida pelo canal de astrologia do Sapo http://astrologia.sapo.pt de Notícias Não pode ser vendido separadamente.

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para a fadiga fabricado a partir da arnica.

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gora disponível num formato familiar, mais económico. Arnigel®
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lar... Para uma utilização no quotidiano: Durante a prática desportiva inten-
siva ou menos habitual: Arnigel® 120 g permite à aplicação numa zona extensa
(coxas, braços, abdominais, etc.) Ápos uma mudança de casa, regresso à práti-
ca desportiva, sessão de jardinagem ou bricolagem e para as crianças que co-
meçam a descobrir o mundo que as rodeia e como tal têm pequenos acidentes.

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INTEMPORAL ONE
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Entre 11 e 20 de agosto todos os caminhos
vão dar à praia fluvial de Pampilhosa
Porque os dias são da Serra, cenário privilegiado para um
maiores e as noites eco-festival que alia a melhor músiceletrónica a atividades
serão quentes, de pura interação com a natureza. É o Seaside Sunset
roupas leves Sessions 2017, já na sua 4.ª edição e que se afirma, mais
e coloridas marcam do que um festival, como uma experiência única de
a tendência entretenimento e lazer. Promovido pela Câmara Municipal
da estação. de Pampilhosa da Serra, com o patrocínio oficial da
SEASIDE, é organizado pela LusoEvents, tem entrada livre
e promete superar o número de visitantes do ano passado
– mais de 16 mil festivaleiros de variadas idades. Em cima
de um palco flutuante sobre o rio Unhais, vão atuar alguns
A Benamôr foi fundada no ano de 1925 em dos maiores nomes da atualidade no universo da música
Lisboa por um farmacêutico que criava eletrónica, para noites com muita energia, numa envolvente
pomadas milagrosas num pequeno natural de eleição.
laboratório no n.º 189 do Campo Grande.
Todas as suas receitas de beleza eram
elaboradas com ingredientes naturais
e acondicionadas em deliciosas bisnagas
PELE HIDRATADA
art déco. Foi um sucesso imediato entre Neutrogena®, marca líder em hidratação corporal, lança
as beldades da sociedade lisboeta e até em Portugal Hydro Boost®, a sua primeira linha de cuidado
Com menos pressa facial que hidrata a pele. Neutrogena® quer mostrar
a rainha D. Amélia, em exílio, se tornou do que durante o melhor de cada mulher e, por isso, continua a apostar
adepta da marca a que ficou sempre fiel. o ano, não deixa de na inovação e a demonstrar o que é
Mais do que uma marca pioneira, Benamôr ser importante possível fazer com o cuidado da pele.
faz parte da história da beleza em Portugal saber Com o objetivo de ajudar as mulheres
no último século. Depois do sucesso dos a que horas a mostrarem ao mundo o seu rosto,
começa a próxima enquanto perseguem os seus sonhos,
deliciosos cremes de mãos, sabonetes
festa ou maré. a marca, perita em hidratação graças
e creme de rosto, chegam as primeiras Prático à fórmula norueguesa, introduz-se
maravilhas de corpo: Cremes leite de corpo! e leve, aposta no mercado de cuidado
O cuidado do creme e a fluidez do leite no branco com facial em Portugal.
declinados nas quatro bisnagas icónicas, motivos da Este lançamento está
agora em formato gigante.Enriquecido com natureza, que em já marcado pelo êxito nos Estados
extrato de alantoína e glicerina, o creme rosa ou azul-claro Unidos, onde Hydro Boost® se
dão vida a um posicionou como a opção ideal
corporal Alantoíne tem uma textura adereço versátil para mulheres entre os 25
incrivelmente fluida, que penetra e sóbrio, que e os 45 anos que procuram
instantaneamente, como um leite. transmite reforçar a hidratação da pele,
Dá uma nova vida à sua pele, tornando-a tranquilidade durante todo o dia, para ficar
suave, reequilibrada e revigorada. e alegria. mais suave e saudável.

64 NOTÍCIAS MAGAZINE

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DO LEI TOR

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EDUCAÇÃO PARA O FEMINISMO
É de louvar que este assunto seja abordado nas suas diver-
sas vertentes, sendo certo que a educação é talvez a mais
importante. Desde cedo que as crianças apreendem valores
que ficam o resto da vida. Cinco famílias, cinco exemplos
distintos de como é possível falar e alimentar o feminismo
de forma consciente e criativa.
Elisa Ferreira, SANTARÉM

FLASHBACK
O Flashback de 2 de julho é magnífico. O texto de Ana Pago
e a fotografia de Antoine de Saint-Exupéry do Arquivo DN
são bater do mesmo coração, espelhando o que escreveu:
«Depois de ter caminhado durante muito tempo e de só ter
encontrado areia, rochas e neve, o principezinho acabou
por descobrir uma estrada. E as estradas vão dar aos ho-
mens.»
Ademar Costa, PÓVOA DE VARZIM

A GERAÇÃO QUE NÃO DESLIGA


Todas as semanas, a revista Notícias Magazine presenteia
os seus leitores com variados tipos de temas, e qual deles
o melhor. Difícil a escolha. Como tal, esta semana, de 25 de
junho, pela «magia» do texto de Cláudia Pinto, leva-nos até
às novas tecnologias. É uma verdade e uma constante ver-
-se quanto o vício em demasia do uso do telemóvel, espe-
cialmente às refeições, em que não escapam novos e menos
novos, que são os principais maus exemplos para os jovens.
Há um velho ditado… Avanço e evolução nas novas tecno-
logias, atraso nas mentes.
Mário da Silva Jesus, LISBOA

INSTRUÇõ ES D E U TILIZAÇÃO
Esta página é para os leitores. Para que protestem, deem ideias
e opiniões, refilem e se façam ouvir. Mas há condições: é preciso
que não excedam as 200 palavras ou os mil carateres. E tendo
consciência de que a revista se reserva o direito de editar
as cartas de forma que fiquem mais curtas e mais claras.
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FLASHBACK

1982 De Lisboa vou fugir

No final da década de 1970 e início da de 1980, a Costa de Caparica afirmou-se em


definitivo como o lugar onde Lisboa ia a banhos. Ergueu-se o betão em cima das dunas,
normalizaram-se filas na ponte e nos cacilheiros, as praias que antes eram só de
pescadores passaram a ser invadidas por banhistas. Memória dos ícones do passado.
Texto Ricardo J. Rodrigues Fotografia Arquivo DN

A
o chegar à Caparica vin- O grande eixo da povoação, nesses
DE PASSAGEM
do da Ponte 25 de Abril, anos ainda vila, era a Rua dos Pesca-
A urbanização da Caparica começa no final dos anos 1960,
das três uma: ou se segue dores. Pedonal, passagem e paragem com a inauguração da Ponte 25 de Abril. Uma década depois,
em frente para o centro de toda a massa humana. Começava afirma-se como destino de veraneio da capital.
da cidade, ou se vira à direita em di- no mercado, à frente do qual se fazia fi-
reção às praias de São João, ou se op- la a primeira hamburgueria do país (o AMBI EN TE

ta pela esquerda rumo à Fonte da Te- Sandwich Bar, aberto há 43 anos). As O sol da Caparica mantém-se, mas...
lha. Há 35 anos, quando esta foto-
grafia foi tirada, os caminhos eram
geladarias no eixo enchiam-se ao fim
da tarde, mas os miúdos tentavam fu- ...AS PRAIAS
mais ou menos os mesmos, mas as gir para a casa de máquinas de jogos, VÃO MUDAR PROGRAMAS QUE

nomenclaturas diferentes. Ia-se, há muito extinta. Ao fundo, as praias


O GOVERNO APROVOU SEIS NOVOS
O LITORAL PORTUGUÊS VAI MUDAR.NORTE A SUL DO PAÍS. NA COSTA DE CAPARICA, UMA DAS
VÃO ALTERAR A ORLA COSTEIRA DE DE PESSOAS
QUE ATRAI CERCA DE SEIS MILHÕES TOS, RECUAR
ZONAS BALNEARES MAIS PROCURADAS,
REDUZIR A ÁREA DE BARES E ESTACIONAMEN
EM CADA VERÃO, A ORDEM É PARAO NÚMERO DE PESSOAS NAS PRAIAS. AS MEDIDAS ESTÃO
EDIFÍCIOS EM RISCO E DIMINUIR

respetivamente, em direção à Bo- onde se juntavam barcos e banhistas A GERAR POLÉMICA.


Texto Rita Garcia Fotografia
Jorge Simão

la Nívea, ao CCL (Clube de Campis- – que ao fim da tarde compravam pei-


mo de Lisboa) ou à Torre das Argo- xe fresco aos pescadores que o traziam
las. Eram ícones incontornáveis e do mar. Adiante o restaurante Barbas Casas ilegais sobre a
areia, construções

toda a gente os conhecia. Muitos re- (hoje remodelado e numa localização


expostas a tempesta-
des, um verdadeiro
atentado à arriba NOTÍCIAS MAGAZINE 19
fóssil. A Fonte da
Telha é um caso ímpar
de desordenamento 04-07-2017 22:27:27

18 NOTÍCIAS MAGAZINE

sistem ao tempo, a maioria foi desa- diferente), do outro lado a Bola Nívea. NM1311_18_28_Costa
da Caparica ok LB.indd
18-19

parecendo. E mar até perder de vista.

OUTROS TEMPOS: veja na página 18 o que poderá vir a ser a Caparica no futuro. E mais imagens do passado em www.noticiasmagazine.pt.

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