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FICHA DE TRABALHO INDIVIDUAL

Escola Secundária
Dr. Joaquim de Carvalho

TEMA 4. A CONVIVÊNCIA: ANÁLISE E COMPREENSÃO DA EXPERIÊNCIA CONVIVIENCIAL


O problema da natureza dos juízos morais
Filosofia | 10.º Ano | Ano Letivo 2019-2020
Tarefas:
Lê atentamente o seguinte artigo:

«Lisboa juntou-se, ontem à tarde, às 110 cidades


de todo o mundo para protestar contra o apedrejamento
até à morte de Sakineh Ashtiani, acusada pelas
autoridades iranianas de adultério e cumplicidade na
morte do marido. Mas a figura de Sakineh foi apenas
mais um pretexto para uma causa geral: lutar contra a
pena de morte, seja ela de que forma for.
O Largo do Camões foi o local marcado para a
manifestação autónoma contra a lapidação da iraniana.
Maria João Pires, uma das responsáveis pela
manifestação, explicou que a organização do protesto
ocorreu de forma muito espontânea. "Eu e um amigo vimos o link do evento internacional [Comité
Internacional contra as Execuções] e perguntámo-nos: "E se nós fizéssemos cá?" Disseminámos a
ideia no FACEBOOK e, ao fim de pouco tempo, já tínhamos cerca de 15 pessoas", contou. O certo é
que a ideia espalhou-se rápido, ou não fosse as cerca de 200 pessoas que por volta das 18h
estiveram no encontro. "A cidadania é algo que deve ser exercida sempre. Fiquei espantada com
tanta recetividade, pois há cerca de um ano, quando se realizaram as eleições presidenciais no Irão,
houve uma pequena vigília de estudantes iranianos e estavam bastante menos pessoas", revelou.
Contudo, a contestação não serviu somente para tentar persuadir as autoridades iranianas que
recuem na lapidação de Sakineh Ashtiani, e lhe dêem liberdade imediata e incondicional. O último
objetivo é a abolição da pena de morte e levar a julgamento todos os executantes da lapidação,
assim como banir dos corpos internacionais todos os Estados que pratiquem este género de
execuções. "Sim, precisamos talvez de uma ocasião assim, de uma causa, de um nome e um rosto
para nos sentirmos juntos e capazes, para sentir que não somos indiferentes. Precisamos de Sakineh
como ela de nós", declamou um dos intervenientes da ação. Para além destas exigências, o Comité
Internacional contra as Execuções pretende que o presidente do Irão, Mahmood Ahmadinejad, "seja
impedido de entrar na Assembleia Geral das Nações Unidas" em Setembro. Por cá, Maria João
Pires lamenta que o Governo português não se prenuncie sobre o assunto. "Também outro dos
objetivos da nossa manifestação é fazer com que o Governo expresse uma ação conjunta com outros
países da União Europeia e que exerçam formas de pressão para travar este ato horrendo", disse.
Recorde-se que Sakineh Ashtiani teve a sua primeira condenação em 2006 por "relação ilícita

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com dois homens", no qual coube-lhe um castigo de 99 chicotadas. Mas um tribunal conservador
reviu a sentença e puniu-a à morte por lapidação. Desde então, formaram-se vários grupos de apelo
à libertação da iraniana, incluindo de líderes governamentais. Ainda assim, Teerão diz que a
aplicação da pena foi suspensa e que o veredicto está "em fase de análise".»
In Jornal Público, 29/08/2010
Link:
https://www.publico.pt/2010/08/29/jornal/lisboa-juntouse-a-mais-110-cidades-do-mundo-para-
apelar-ao-fim-da-lapidacao-no-irao-20099368

1. O juízo moral assumido na notícia por Maria João Pires é: “a lapidação1 é um ato horrendo.”
Este juízo moral é uma mera opinião discutível ou equivale a um juízo de facto verdadeiro e
indiscutível? O que responderia um subjetivista a esta questão? E um relativista? E, por fim,
um objetivista? Justifica a tua resposta em cada um dos casos.

O que responderia um subjetivista:


Premissas:
Se os juízos morais são simples expressões de preferências pessoais;
Se qualquer comportamento é “bom” porque eu o aprovo ou “mau” porque eu o desaprovo;
Conclusão:
Então, o juízo moral “a lapidação é um ato horrendo” é uma mera opinião cuja verdade é discutível.

O que responderia um relativista:


Premissas:
Se os juízos morais são simples expressões de preferências determinadas pela pertença a uma dada
sociedade e cultura;
Se nenhuma sociedade ou cultura tem mais razão do que as outras, encontrando-se todas em pé de
igualdade em termos de legitimidade moral;
Se qualquer comportamento é portanto “bom” porque a minha cultura o aprova ou “mau” porque a
minha cultura o desaprova;
Conclusão:
Então, o juízo moral “a lapidação é um ato horrendo” é uma mera opinião cuja verdade é discutível.

O que responderia um objetivista:


Premissas:
Se há valores transubjetivos e transculturais, ou seja, aplicáveis a qualquer ser humano;
Se esses valores são encabeçados pela integridade e pela dignidade, as quais são redutíveis à
noção de bem-estar;
Se é portanto o bem-estar que devemos tomar como critério absoluto na avaliação de hábitos, usos
e costumes;
Conclusão:
Então, o juízo moral “a lapidação é um ato horrendo” equivale a um juízo de facto verdadeiro, ou
seja, aquilo que ele afirma é absoluto e indiscutível. Dito de outra forma: a lapidação é imoral.

O Professor: Jorge Rosete Bom trabalho!

1 Aplicação da pena de morte por apedrejamento.


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