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maio, 2010

Edição 41, Junho de 2009

Por Lívia Cunha

Criados para dar flexibilidade ao sistema de


distribuição de energia, estes barramentos, nascidos na indústria
automobilística americana, ganharam popularidade nos últimos dez anos e
hoje já são empregados em larga escala, inclusive, em instalações
residenciais
A história dessa radiografia data dos anos 1920. Nesse período, os Estados
Unidos experimentavam uma fase de prosperidade econômica como nunca vista
antes, que culminaria no final da década na grande crise de 1929, a maior
depressão econômica mundial até a crise financeira de setembro de 2008. Antes
da recessão, entretanto, o estilo de vida americano era difundido pelo cinema,
produtos e marcas que ganhavam cada vez mais espaço mundo afora. Enquanto
isso, a Europa se reconstruía do pós-guerra e o Brasil assistia a uma profusão
cultural com a semana de arte moderna de 1922.

Nessa época ainda, o modelo de produção em massa da indústria automobilística,


o fordismo, ganhava força e grandes investimentos tecnológicos permitiam que as
fábricas de Henry Ford (1863-1947) produzissem mais de dois milhões de carros
por ano durante a década de 1920. Este processo foi iniciado com o Ford Modelo
T, também conhecido no Brasil como Ford Bigode, veículo que revolucionou a
indústria automobilística, tornando os carros mais seguros, baratos e acessíveis à
população.

O que nos interessa é que foi neste período de grandes alterações econômicas e
estruturais que as linhas elétricas pré-fabricadas, também conhecidas como
barramentos blindados, surgiram na indústria automobilística americana. “Foi uma
especificação da Ford para um sistema de distribuição de energia, modular, aéreo
e que pudesse ser desmontado e remontado”, conta o engenheiro e especialista
no assunto, Eduardo Bomeisel.

O produto foi uma solução encontrada para dar flexibilidade à instalação, exigida
pelas constantes mudanças de layout das fábricas de automóveis, substituindo fios
e cabos, que deixavam essas constantes alterações mais complexas e caras.
Assim, os barramentos blindados constituem-se em elementos rígidos que fazem
um sistema flexível para transmitir e distribuir corrente por meio de derivações no
sistema.

Os primeiros barramentos blindados eram fabricados com barras de cobre


trefiladas com cantos arredondados e isoladores de cerâmica, montados em um
invólucro metálico aterrado. Sem sofrer grandes alterações estruturais das
primeiras décadas do século passado para cá, as linhas elétricas pré-fabricadas
elaboradas hoje em dia conservam uma seção transversal muito parecida com as
feitas na década de 1920. Os elementos que mais se desenvolveram foram os
materiais isolantes empregados, passando de materiais mais tradicionais e menos
maleáveis e flexíveis para outros com mais tecnologia agregada.

Compostos por três componentes principais, o invólucro, as barras e os isoladores,


os barramentos blindados podem ser usados quase que em qualquer aplicação,
seja industrial, seja predial residencial ou comercial, em tensões de até 36 kV.
Facilidade de instalação e flexibilidade para mudanças são os pontos fortes desse
produto.

Os barramentos blindados (conhecidos também como busway) podem ter barras


condutoras de cobre, como as desenvolvidas na indústria de Ford ou de alumínio.
O início da utilização do alumínio é incerto, mas Bomeisel relata que na edição de
1939 do livro “Copper for busbars”, lançado pelo Instituto Europeu do Cobre, já
havia a menção da existência de barramentos de alumínio. Nessa época, eles
eram utilizados somente para transmissão de energia. Hoje, barramentos feitos a
partir dos dois materiais podem tanto transmitir quanto distribuir energia.
No Brasil

As primeiras linhas elétricas pré-fabricadas começaram a ser produzidas no Brasil


no final da década de 1950, início dos anos 1960, também com isoladores de base
cerâmica. O engenheiro eletricista Felipe Mancini, da Maclux, empresa de projetos
de engenharia, conta que, no período em que os barramentos blindados
começaram a ser fabricados no país, eles eram feitos sob licença de uma empresa
americana. “Só depois, com o tempo, nós fomos desenvolvendo nossa própria
tecnologia em função dos materiais que nós dispúnhamos no Brasil”, diz.

Assim como nos Estados Unidos, o desenvolvimento da indústria de barramentos


blindados se deu pela criação da indústria automobilística brasileira, implantada no
governo de Juscelino Kubitschek (1902-1976), presidente do Brasil entre 1956 e
1961.

Esses equipamentos pré-fabricados também tiveram outro grande destino durante


o governo de Juscelino, na área de energia elétrica. A Usina Hidrelétrica de
Furnas, por exemplo, que teve suas obras iniciadas em 1958, foi inaugurada na
década de 1960 com barramentos blindados de alumínio importados dos Estados
Unidos.

Profissionais acostumados a trabalhar com barramentos blindados afirmam, em


uníssono, que esse produto veio para ficar e já se estabeleceu no mercado
brasileiro. Prova disso é que as linhas elétricas pré-fabricadas ganharam
participação no mercado de instalações elétricas de baixa tensão nos últimos 15
anos. Isso porque, além de aplicações industriais, em que eram inicialmente
utilizadas, elas começaram a ser instaladas também em edificações prediais
residenciais e comerciais, o que ampliou significativamente o mercado consumidor
e deu ao fabricante um ímpeto novo para desenvolvimento do produto.
Assim, nos últimos 15 anos, o Brasil passou de usuário e importador para
importante fabricante e exportador do produto. Os principais importadores de
barramentos blindados do Brasil são países da América Latina, como Chile,
Argentina, Peru, Uruguai e México.
Tipos
Os barramentos blindados empregados em instalações elétricas são conjuntos de
barras chatas condutoras de eletricidade, geralmente de cobre ou de alumínio,
com cantos arredondados, elaborados para transmitir e distribuir correntes
elétricas elevadas, principalmente, de 100 A a 6.000 A. Eles são recobertos, em
geral, por invólucros metálicos retangulares, que comumente podem ser de aço
carbono zincado ou de alumínio. Existe um tipo de barramento que tem um perfil
diferente de condutores, que explicaremos logo mais.

Essas barras condutoras ficam suportadas nos isoladores – isoladas umas das
outras e do invólucro. Os materiais isolantes podem ser diversos, como fitas
especiais, resina epóxi, plástico reforçado, fibra de vidro, cerâmica, etc. Eles
podem ainda ser de mais de um tipo, misturando materiais. E foi nesse elemento
que se deu a principal evolução tecnológica do produto. Os materiais
desenvolvidos têm se tornado cada vez mais resistentes e maleáveis. A escolha
do isolador, entretanto, depende da aplicação do barramento, da tensão e do seu
fabricante.

Os barramentos de baixa tensão, até 1 kV, têm, em geral, o tamanho padrão de


três metros de comprimento e são divididos em dois tipos mais comuns: os
barramentos blindados de barras separadas e os de barras coladas.
Nos barramentos de barras separadas, as barras condutoras estão dispostas
paralelamente, de forma a manter uma isolação entre elas. Este é o tipo mais
comum para fazer derivação de corrente, também popularmente conhecido como
barramentos destinados a usar plugin. Isso porque os barramentos têm, com
espaçamentos regulares, tomadas pré-determinadas de conexão rápida,
chamadas de plugins. Eles são elementos de contatos, nas quais podem ser
ligados equipamentos como máquinas e motores ou ser transferida a corrente para
outro caminho por cabos, por exemplo.
Um barramento padrão de três metros tem, em geral, seis tomadas de derivação
rápida.

Esses barramentos podem ser usados em aplicações industriais, residenciais e


comerciais. Nos últimos 15 anos, as linhas elétricas pré-fabricadas deram um salto
em popularidade e utilização. Isso se deve, especialmente, ao mercado de
construção civil , que passou a empregar esses produtos. Muitos edifícios
residenciais começaram a ser construídos com barramentos blindados como forma
de distribuir a energia para os apartamentos, ao invés de utilizar fios e cabos na
prumada elétrica.

“Antigamente para se fazer a alimentação dos andares dos edifícios eram usados
cabos. Então, juntava-se um monte de cabos ou colocava-os dentro de uma calha
e levava para os andares. Hoje tudo isso é substituído por um único barramento”,
ilustra Felipe Mancini.

Em edifícios residenciais, os barramentos são dispostos na vertical, no espaço de


construção, do qual é derivada a energia para os andares e de onde será
distribuída a eletricidade para cada apartamento e, na horizontal, desde o quadro
de proteção até a base da prumada. Barramentos na horizontal podem ser
também encontrados em indústrias e comércios, como shoppings centers, para
facilitar a distribuição da energia para cada loja abaixo da linha elétrica.

Os barramentos blindados de baixa tensão podem ainda ter as barras coladas uma
à outra, sem espaço de isolação. Nesse caso, é comum que os fabricantes façam
o isolamento com fita, encapsulando as barras. Este tipo de barramento é mais
utilizado para transmissão de energia. Na distribuição de energia, apesar de
possível, não é usual, dada a complexidade apresentada, pois, para derivar
corrente no tipo barra colada, é preciso separar as barras antes de acoplar uma
caixa plugin que irá distribuir energia. Isso torna o processo mais caro também.

Acima de 1 kV e até 36 kV, na faixa chamada de média tensão, os barramentos


blindados podem ser de três outros tipos, destinados principalmente à condução
de grandes quantidades de energia. São eles: barramentos de fases isoladas, de
fases segregadas e de fases não-segregadas. As respectivas destinações estão
relacionadas não só de acordo com a tensão e a corrente a ser transportada, mas
também ao nível de curto-circuito e o grau de proteção (IP) dos produtos.

Os barramentos blindados de fases isoladas se destinam a conduzir correntes


muito elevadas (de 20.000 A a 25.000 A, em média) e tem cada fase dentro de um
invólucro redondo, isolado e geralmente de alumínio. O condutor, nesse tipo de
barramento, é um tubo de alumínio redondo, que fica apoiado em três isoladores
que formam um triângulo de segurança.

A espessura do condutor aumenta à medida que se aumenta a corrente, isso


porque é necessário dispor de mais massa condutora já que o tubo é vazado no
meio e a corrente alternada tende a se concentrar na periferia do condutor, por
conta do chamado “efeito peculiar”, o que implica uma diminuição da área efetiva
do condutor e, logo, um aumento da sua resistência aparente. Os barramentos de
fase isolada podem ser utilizados como circuitos principais de usinas hidrelétricas,
por exemplo.

Na média tensão é comum ter invólucros e condutores em alumínio, porque se


consegue um barramento mais rígido e leve, ponto importante, já que o invólucro
passa a ser mais pesado por conta dos barramentos, que são muito grandes,
assim o ganho no peso é representativo.

No barramento de fases segregadas, as fases são separadas, mas dentro de um


mesmo invólucro. São condutores em barras chatas suportadas em isoladores. E,
por fim, o barramento de fases não-segregadas, o tipo mais comum, não tem
nenhuma separação entre os condutores e se destinam a conduzir correntes
pequenas em tensão de até 36 kV. São compostos também de condutores em
barras chatas, acomodados dentro de um invólucro metálico.
Elementos 
A distribuição de energia por derivações é feita em barramentos de baixa tensão.
Além das caixas de derivação, ou caixas plugins, os barramentos blindados podem
ter uma série de outros elementos que vão além das próprias barras, como a caixa
de alimentação ou de ligação. Como o barramento não existe sozinho e ele precisa
ser alimentado, a função dessas caixas é mandar a energia de um ponto para
outro.
“Geralmente essa energia sai de um transformador que alimenta o barramento e
vai para um quadro de distribuição, ou é proveniente de um quadro de distribuição
para o barramento”, explica o engenheiro eletricista e mestre em energia pela
Universidade de São Paulo (USP), Ricardo Santos d’Ávila.

As linhas elétricas pré-fabricadas podem ter ainda acessórios como cotovelos,


“tês” (T), “xis” (X) e desvios. São elementos adicionais para mudança de percurso,
mas o seu emprego depende também da destinação do barramento. Existem
barramentos que são projetados para ficarem apenas em linha reta.

Em aplicações que precisam mudar o percurso da energia no barramento, utiliza-


se, por exemplo, um cotovelo, um acessório com ângulo de desvio de 90° ou
próximo a isso. O tê (T) é utilizado para fazer a divisão em três pás e o “xis” (X) em
quatro direções diferentes. Os desvios podem ser usados, por exemplo, quando é
necessária uma alteração de percurso muito curta, no qual não cabe um cotovelo.

Há ainda os chamados elementos de conexão, que podem ligar um dado


barramento a outros, conectando e aumentando o comprimento do percurso, ou a
outros equipamentos, como transformadores ou painéis. Outro tipo de elemento de
conexão é o elemento de dilatação, também conhecido como junta de dilatação.
Esta peça permite a dilatação térmica, compensando a diferença de dilatação
térmica dos diferentes materiais que compõem a instalação.

Como em situações de calor ou frio intenso, os materiais utilizados na construção


– aço, cobre, alumínio, concreto – não dilatam igualmente, é necessário
compensar esse efeito para não desregular o barramento, mexendo os contatos,
por exemplo. Esse movimento dos contatos pode gerar aquecimento e trazer
problemas futuros à instalação. Para evitar isso, utiliza-se o elemento de dilatação,
que pode ser flexível ou rígido, dependendo da instalação.
Instalação
Os barramentos blindados são equipamentos que se tornam economicamente
compensatórios quando utilizados para transportar grandes correntes, além de
agregar outros benefícios como a flexibilidade de alteração da instalação e da
rapidez de instalação, por já vir pré-fabricado, por exemplo. Isso
independentemente de que tipo de aplicação.

Conforme a norma NBR IEC 60439-2/ 2004 – Conjunto de manobras e controle de


baixa tensão – Parte 2: Requisitos particulares para linhas elétricas pré-fabricadas
(sistemas de barramentos blindados), válida a partir de 2007, os barramentos
blindados têm que ser instalados seguindo certos cuidados para que o produto
seja bem adequado e não apresente problemas. A atenção deve-se,
principalmente, devido ao grande emprego do produto fora da indústria, em que há
muitos usuários operando na instalação sem serem efetivamente especialistas em
eletricidade.

Para evitar problemas no barramento devido a uma má instalação ou conservação


incorreta do produto, muitos fabricantes indicam equipes de instalação ou realizam
eles mesmos a instalação do barramento. [A revista O SETOR ELÉTRICO, atenta
a essa questão, publicou na sua edição 23, de dezembro de 2007, na seção Passo
a Passo, dez dicas para uma boa instalação desse produto].
As dicas, que permanecem atuais, dizem respeito à aplicação, ao manuseio e à
conservação:, tais como: instale no momento certo, siga as instruções do
fabricante, mantenha a integridade da embalagem e do local de armazenamento,
cuidado no manuseio dentro da obra, evite as interfe

rências nos trechos horizontais, impeça a penetração de objetos durante a


instalação das prumadas, verifique a integridade mecânica antes dos testes
elétricos, meça a resistência de isolação, faça um ensaio de tensão aplicada a 60
Hz e não energize o barramento em caso de dúvidas.
Cobre  versus  alumínio
Praticamente todos os tipos de barramentos blindados podem ser fabricados com
condutores de cobre ou alumínio. É comum a utilização de barramentos de
alumínio nos barramentos de média tensão, nos quais não serão feitas derivações.
A condutividade do material é boa, não é um metal pesado e é mais barato que o
cobre. Em baixa tensão, ambos podem ser selecionados.

O alumínio tem uma resistividade 60% maior do que a do cobre, o que significa
que a seção do condutor de alumínio será 60% maior do que a do cobre. Isso,
entretanto, não quer dizer que o barramento será mais pesado, visto que o
alumínio tem densidade menor do que o cobre. Assim, a escolha deve ser feita a
partir do projeto de utilização do barramento, analisando cada instalação
individualmente.

Há, porém, certa resistência do mercado ao alumínio ainda hoje, não só no Brasil.
Historicamente há uma experiência muito boa e antiga de utilização do cobre como
condutor, por isso, os engenheiros entrevistados para esta radiografia consideram
que essa resistência ao alumínio se daria por mero desconhecimento e por mitos
que se formaram em torno do material.

Ricardo Santos d’Avila, do Laboratório de Altas Correntes do Instituto de


Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (IEE/USP), conta que foi
nos Estados Unidos, na década de 1970, que nasceu o mito de que o alumínio
pode ser perigoso. Lá, até esse momento, todos os condutores e conectores para
outros dispositivos, como tomadas e interruptores, eram de cobre. Em uma
situação de aumento de demanda por cobre, o preço do metal subiu, dificultando a
utilização e a reposição em instalações. Nesse momento, buscaram-se outros
metais que pudessem substituir o cobre neste papel. Foi quando surgiu o alumínio
aplicado em instalações residenciais.

Os americanos começaram a usar o alumínio, mas não trocaram os conectores de


tomadas e interruptores, que eram próprios para ligações de cobre. Cabos de
alumínio começaram a ser utilizados sem qualquer adequação na instalação. Com
o passar do tempo, conexões que eram específicas para cobre não suportavam a
conexão do alumínio, gerando um subproduto , uma eletrodeposição de material
por diferenças de eletronegatividade dos dois metais, que atrapalhava a
resistência de contato. Nos contatos afetados ocorria o aumento das resistências
de contato com consequente aumento de temperatura e, assim, seguiam-se de
modo recorrente. O mau contato fez muitas isolações de cabos se romperem e
muitos cabos não resistirem, gerando curtos-circuitos e incêndios que destruíram
casas inteiras.
Ricardo d’Avila conta ainda que nesse período empresas de seguros começaram a
se recusar a segurar habitações com condutores de alumínio porque pensavam
ser perigosos. Dessa forma, o alumínio ficou como o vilão da história. Para
contornar essa situação, “desenvolveram uma conexão especial tanto para cobre
quanto para alumínio sob pressão. Era uma conexão que tinha um metal
intermediário que entrava um cabo de cobre de um lado e um de alumínio do outro
sem que um cabo encostasse ao outro”, conta.

Hoje, sabe-se que o problema não era o alumínio, mas as conexões de alumínio e
cobre sem tratamento. Para evitar problemas, atualmente, se utilizam inibidores ou
um terceiro metal que tenha uma boa conexão tanto com o cobre e com o alumínio
para fazer a interligação entre eles. Mas esse cuidado é necessário em
barramentos que, por exemplo, vão fazer uma derivação estabelecendo o contato
com os dois metais. Quando os condutores e conectores são todos de alumínio
não há problemas. Hoje os barramentos blindados de alumínio podem ser tão bons
quanto os de cobre, tanto para transmissão quanto para distribuição, sendo
somente necessário tomar o cuidado devido nas instalações.
(Des)centralizando a medição 
No mesmo período em que os barramentos blindados começaram a ser utilizados
para fazer a instalação elétrica principal de edifícios residenciais, começou a haver
uma popularização de outro processo, o de descentralização da medição da
energia. Apesar de não ser permitida apenas pela utilização de barramentos
(medição não centralizadas podem ser realizadas também em edificações com
instalação de cabos), a questão veio à tona com as linhas elétricas pré-fabricadas,
que facilitaram a utilização de medidores por andar.

No sistema convencional, a medição de energia é feita em um centro de medição,


em uma área comum do edifício, no nível da rua ou no subsolo. Nesse caso, a
queda de tensão, uma perda de corrente corriqueira provocada pela passagem da
eletricidade pelo condutor, não pode passar de um valor estipulado pela
concessionária de energia, em torno de 1%, do ponto de entrega até a medição, e
de 3% do ponto de entrega até o quadro de distribuição da unidade.

Com o aumento da utilização de barramentos blindados com medição


descentralizada, ou por andar, a medição passa a não ser mais localizada no nível
da rua. O aumento do percurso da corrente, até o medidor, poderia gerar uma
queda de tensão maior, assim como uma perda Joule por aquecimento do
condutor ainda maior. O custo dessa perda ficaria com a concessionária de
energia. Para evitar perdas financeiras significativas, ela estabelece um limite de
queda de tensão para o barramento: máximo de 2% entre o ponto de entrega e o
ponto de medição.

“A queda de tensão está ligada à perda por aquecimento, mas não é só ela.
Quanto maior é o barramento, maior é essa perda por queda de tensão. Então as
concessionárias querem diminuir a perda. Afinal, se ela vai pagar a energia, ela
tende a querer a menor perda possível. Então ela diz ‘eu quero perda da ordem de
1%’. Mas se for com cabo, às vezes ela aceita 5%, 6%, com medição
centralizada”, explica d’Avila.

Mas para as concessionárias de energia, perdas financeiras mais significativas,


que preocupam mais do que a questão da queda de tensão dos condutores, que
são chamadas perdas técnicas, consideradas inevitáveis, são as chamadas perdas
não-técnicas, que podem ser evitadas, a exemplo de furto de energia ou eventuais
erros na medição.

A introdução dos barramentos blindados com mais representatividade nas


instalações fez a questão sobre a queda de tensão ser mais comentada, mas as
perdas ou ganhos por uma medição descentralizada ou centralizada não estão
restritos a esses condutores. Outros fatores devem também ser levados em
consideração. Como os próprios barramentos são produtos customizados, cada
instalação deve ser considerada de acordo com sua própria especificidade.

Barramento ou cabo?
Os barramentos, assim como fios e cabos, têm a função de conduzir corrente
elétrica. Entretanto, quando usar um ou outro? Quais são as reais diferenças entre
eles? Enquanto os cabos vendem massa de material condutor, medidos em mm²
na seção do cabo, os barramentos vendem capacidade de condução de corrente,
em ampères.

Além desta diferença, os fios e cabos são elementos flexíveis que montam uma
instalação rígida, sem possibilidades de muitas mudanças. Quando é exigida uma
alteração constante de organização da instalação, os barramentos são mais
recomendados. No entanto, se o caminho da instalação não ocorrer em trechos
retos, os fios e cabos são mais recomendados, por exemplo, dentro de uma
residência, em que o percurso de tomadas e iluminação não segue um único
trecho contínuo e reto.

Grau de Prot
eção (IP)
Para escolher um barramento para uma aplicação, deve-se considerar a tensão da
instalação, a corrente nominal do barramento e das derivações, se existirem, o
nível de curto-circuito presumível, os valores máximos de queda de tensão e o
grau de proteção, identificado pelas letras IP, do inglês grau de proteção
internacional. Ele determina qual é o nível de proteção do barramento, e de uma
série de outros produtos, para penetração de água e corpos sólidos. O produto
pode ser encontrado desde completamente desprotegido até protegido contra
submersão (o mais protegido), de acordo com norma NBR IEC 60529. Assim, a
concepção da instalação determinará o grau de proteção que o barramento deve
ter para funcionar adequadamente, dependendo da aplicação e do projeto.
Barramentos blindados: assim a eletricidade viaja por uma
“autoestrada” – Parte I
abr, 2014
Edição 98 – Março de 2014
Aula prática – Barramentos blindados –Parte I
Por Nunziante Graziano*

Em forte expansão, esse sistema elétrico de distribuição apresenta uma enorme


conveniência e grande capacidade de carga com reduzidas dimensões. Vamos
analisar aqui algumas das características técnicas e normativas que possibilitam
essas afirmações.

Os recentes desenvolvimentos tecnológicos na construção civil, cada vez mais


orientada na premissa de utilização de elementos pré-fabricados, vem deixando
cada vez menos opções para o sistema elétrico de distribuição. Excluindo-se as
instalações aparentes, nem sempre exequíveis devido à falta de paredes ou
estruturas úteis para que se instalem eletrocalhas (e às vezes por causa do custo
considerável da mão de obra), não restam muitas possibilidades, tais como:
distribuição subterrânea ou de piso, eletrocalhas presas ao teto (onde o pé-direito
permitir) ou a distribuição pré-fabricada por barramentos blindados.

Distribuição subterrânea ou de piso: largamente difundida no setor


terciário, utiliza os espaços entre as lajes e os pisos elevados, forros do andar
inferior ou enterradas quando o layout de utilização já está previsto no projeto do
edifício. Este sistema é muito útil como complemento para a instalação dos
circuitos terminais de distribuição, no caso de circuitos com pequenas cargas ou
quando a proteção e/ou controle são centralizados num único painel de
distribuição, enquanto, para a distribuição principal centralizada em um único
quadro geral de distribuição com grande quantidade de circuitos alimentadores,
pode ser considerado definitivamente obsoleto, especialmente para as dificuldades
de alterações de cargas ou de layout após a conclusão da obra.
Distribuição pelo teto: apresenta praticamente as mesmas características de
distribuição enterrada, mas presume a existência de um pé-direito baixo, sem
interferências móveis como talhas ou pontes rolantes no ambiente industrial, ou de
forro para ambientes de escritório. Quanto ao tipo de distribuição, convém
considerar outros aspectos não negligenciáveis. Tal como é conhecido, o sistema
tradicional de distribuição radial (feito a partir de um único quadro com uma linha
dedicada) tem seus pontos fortes e fracos. As principais vantagens são:
 Maior continuidade de serviço, pois a operação exclusiva possibilita o
desligamento de uma única carga;
 A maior facilidade na fase de projeto para o cálculo das correntes de
carga e de defeito;
 Seletividade fácil de conseguir, pois, se o sistema for bem concebido,
pode-se obter a intervenção exclusiva da proteção em circuitos individuais.

As desvantagens, as quais são preponderantes nas plantas com um número


elevado de circuitos, podem ser:
 Um grande número de circuitos e grandes volumes de cabos devido a
grandes distâncias e relevantes quedas de tensão (muitas vezes
acompanhada por maiores dificuldades e custos de projeto);
 Um grande número de dispositivos de proteção nos quadros;
 Maior complexidade (sempre acompanhado por um custo mais elevado)
do painel de distribuição;
 A necessidade de adotar linhas longas e de grandes seções para cargas
de pequenas potências;
 Um baixo índice de utilização do cobre, pois como os cabos de
distribuição para circuitos terminais são de pequenas ou médias seções,
sempre calculadas com fator de simultaneidade unitário, ao invés disso, nas
eletrocalhas são amontoados e então deve-se corrigir o fator de
agrupamento conforme recomenda a ABNT NBR 5410, reduzindo até
metade a eficiência da utilização de um cabo em eletrocalhas cheias.

Seria irrelevante dizer que estas desvantagens estão intrinsecamente ligadas a


aumentos consideráveis dos custos de instalação.

Dessa maneira, a distribuição por elementos pré-fabricados ou barramentos


blindados pode ser uma alternativa viável, pois:
 apresenta um número de linhas substancialmente reduzido;
 apresenta número de dispositivos de proteção substancialmente
reduzido nos quadros;
 geralmente tem uma menor complexidade, muitas vezes acompanhada
de custo menor.

Nota 1: Os disjuntores instalados nos quadros geralmente são de grandes


capacidades, nem sempre garantindo custos e dimensões dos quadros menores
quando comparados com o sistema de distribuição radial.

No entanto, o sistema com barramentos blindados tem desvantagens, como:


 uma menor continuidade de serviço, pois o desligamento de uma linha
pode exigir, em princípio, a exclusão de todos os usuários;
 a dificuldade de calcular as reais correntes de carga e defeito, ainda na
fase de projeto, especialmente para cargas não lineares;
 a calibração difícil das proteções, devido às correntes presumidas e não
efetivas – especialmente se as cargas individuais não têm proteção
dedicada;
 a dificuldade de solução de defeitos, pois a localização se torna mais
difícil.

Nos últimos anos tem havido, entretanto, diferentes realizações das ditas soluções
“mistas”. Elas consistem de alimentação tipo radial primária e uma distribuição por
barramentos blindados terminal (ou vice-versa), de modo a mitigar as
desvantagens de ambos os sistemas em nível local.

Amplamente usados no passado nos Estados Unidos, os barramentos blindados


são constituídos de um sistema de barramento, em cobre ou alumínio, espaçados
e apoiados por isoladores e contidos em um invólucro fechado. O invólucro é
normalmente feito de chapa de aço galvanizado ou pintado que pode, se
necessário, ser usado como um condutor de terra (PE).

A grande conveniência do barramento blindado em comparação com os cabos é a


capacidade de condução muito maior nos barramentos blindados comparando-se
a mesma secção condutora, além da baixa taxa de envelhecimento do isolamento,
constituído por resinas ou ar, com ótimas características dielétricas e térmicas.
Outra vantagem significativa é a possibilidade
de utilização total e reutilização das peças do barramento blindado no caso de
alterações de layout, mesmo depois de longos períodos de operação. Os
barramentos blindados são sempre bem vistos para aplicação na distribuição em
grande escala na indústria, devido às grandes correntes transportadas (da ordem
de algumas centenas de Àmperes).

Recentemente, no entanto, cada vez mais vem se difundindo significativamente a


utilização de condutores por barramentos como fonte de alimentação de
equipamentos de iluminação, por unidade de ramificação do tipo conector.

A alternativa entre a distribuição radial e por barramentos blindados é, em última


análise, negligenciando as adaptações, a escolha entre cabos e barramentos. A
distribuição radial com barramentos blindados compreende a utilização muito mais
eficiente do condutor que seria na mesma aplicação com cabos. De fato, o fator de
agrupamento (que na maior parte dos casos são baixos) resultam em utilização de
seções de condutores substancialmente menores que àquelas dos cabos. No
estado atual da técnica, os barramentos podem ser preferidos aos cabos nos
seguintes casos:
 As instalações têm potência relevante e são dotadas de dispositivos de
proteção capazes de proteger, como retaguarda, as derivações;
 A instalação é sujeita a frequentes mudanças de layout e de localização
das cargas;
 A qualidade da energia (notadamente à queda de tensão admissível no
circuito) não é negligenciável, especialmente quando se trata de distribuição
de energia não medida e da localização do ponto de entrega da
concessionária ao consumidor, como em edifícios residenciais e/ou
comerciais com medição de tarifação nos andares.

Na próxima edição, apresentaremos as características técnicas normativas


relativas a barramentos blindados, para que seja possível realizar de forma
eficiente a tipologia de condutor e a tecnologia adequada para a linha elétrica pré-
fabricada para cada aplicação.

*Nunziante Graziano é engenheiro eletricista, mestre em Energia pelo Instituto de


Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (IEE/USP), pós-graduado
em Política e Estratégia da Associação dos Diplomados da Escola Superior de
Guerra ADESG-SP. É membro da ABNT/ CB-3/CE:03:17.03 – Conjunto de
Manobra e Controle em Invólucro Metálico para tensões acima de 1 kV até e,
inclusive, 36,2 kV; e membro do conselho diretor do   IEE/USP. Atualmente, é
diretor de engenharia da Indústria, Montagem e Instalações Gimi Ltda.

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