Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O presente trabalho apresenta uma análise das práticas punitivas na sociedade. Os actos do
Homem, quando violadores de normas jurídicas, podem gerar diversos tipos de responsabilidade
consoante as normas violadas sejam de natureza cível, criminal, administrativa etc.; nesta senda
como se pode depreender a responsabilidade criminal constitui uma espécie do género a que
podemos designar por «responsabilidade jurídica» sendo certo que no âmbito desta a
responsabilidade criminal é a revestida de sanções um tanto quanto mais severas que as
responsabilidades dos demais ramos de Direito.
A responsabilidade jurídica pode ser definida como a situação originada por acção ou omissão de
um sujeito de Direito público ou privado que prevaricando i.é, violando, inobservando determinada
norma jurídica, se vê obrigado ou se lhe obriga heteronomamente5 a responder com sua pessoa ou
como seu património.
A responsabilidade jurídica como sabemos não se confunde com a responsabilidade moral, visto
esta não dispor de coercibilidade e não estar submetida aos ditames do Estado na medida em que
este não pode ou não poderá obrigar o seu cumprimento, a sua observância. Em suma,
responsabilidade para o Direito consiste na obrigação de assumir ou de se arcar com as
consequências jurídicas de um facto ilícito, seja ele cível, criminal, ou de outra natureza jurídica.
1
ENQUADRAMENTO GERAL
O conceito de punição
O sentido de uma punição atribuída a algum indivíduo, é o de ser uma resposta a uma agressão
pelo mesmo praticada. Tal ofensa pode ser material ou imaterial, pessoal ou coletiva. A punição
estava, no passado, vinculada a ideia de vingança. O progresso humano, ao longo da história, foi
alterando essa lógica e o que era a vingança pessoal, ou do clã, passou a ser a vingança do corpo
social: uma resposta à agressão que agora era sentida por toda a sociedade, por vezes representada
apenas por um indivíduo, ao ser desrespeitada uma norma de conduta.
As formas de punição baseadas na prisão dos corpos, estão fortemente influenciadas pela
problemática da justiça burguesa.
Os tribunais que têm, consigo, a ideologia da justiça burguesa e as formas de relação entre juiz e
julgado, juiz e parte, juiz e pleiteante, e aplica essa justiça, têm um papel fundamental na
dominação de classe.
A agressão física, a censura, o castigo e a ameaça são comumente empregados a fim de suprimir
comportamentos considerados “perigosos” ou “indesejáveis”. Desta forma, durante a ditadura
militar, a tortura foi largamente empregada para abolir comportamentos que se opunham aos
interesses do Estado autoritário, se constituindo, à luz da teoria skinneriana, como uma prática
punitiva. Mas, por que a punição é utilizada intensamente como método de controle? (SIDMAN,
1995).
A punição é aplicada com a finalidade de evitar determinados comportamentos e acredita-se na
funcionalidade deste método. Usualmente os indivíduos não gostam de ser punidos, e os que a
aplicam muitas vezes sentem desprazer. Mesmo assim este método de controle é largamente
utilizado nas sociedades modernas e para muitos é eficaz.
CIRCUNSTÂNCIAS MODIFICATIVAS ESPECIAIS
A moldura penal resultante do preenchimento de determinado tipo legal de crime pode vir a ser
modificada, por efeito das chamadas circunstâncias modificativas, agravantes ou atenuantes.
Segundo Figueiredo Dias, circunstâncias são "pressupostos ou conjuntos de pressupostos que, não
dizendo diretamente respeito nem ao tipo-de-ilícito (objetivo ou subjetivo), nem ao tipo-de-culpa,
nem mesmo à punibilidade em sentido próprio, todavia contendem com a maior ou menor
gravidade do crime como um todo e relevam por isso diretamente para a doutrina da determinação
da pena.”
As circunstâncias dividem-se em agravantes - alteram a moldura penal elevando-a num dos limites
ou em ambos - e atenuantes - alteram a moldura penal baixando-a num dos limites ou em ambos.
Também se dividem em comuns ou gerais - aplicam-se qualquer que seja o crime em causa (como
a tentativa, a cumplicidade, a reincidência...)
3
Em caso de concorrência de circunstâncias modificativas, ou só agravantes, ou só atenuantes, ou
agravantes e atenuantes, o juiz deverá fazer funcionar todas as circunstâncias modificativas que no
caso concorram. Nos dois primeiros casos, o juiz deverá fazê-las funcionar sucessivamente, desde
que cada circunstância modificativa possua um fundamento autónomo. Em caso de concorrência
de circunstâncias modificativas agravantes e atenuantes, o procedimento deverá, em regra, ser o
de azer funcionar primeiro as agravantes e depois, relativamente à moldura penal assim
provisoriamente determinada, as atenuantes. Quando se trate de reincidência, deverá funcionar
primeiro a circunstância modificativa atenuante e só depois a a circunstância modificativa
agravante, pois só assim é que é possível determinar a medida da pena independentemente da
reincidência e determinar assim se a agravação da pena se mantém nos limites legalmente
admissíveis.
Tais circunstâncias possuem duas características fundamentais: são genéricas, ou seja, aplicáveis
a qualquer fato criminoso, e obrigatórias, uma vez que devem atenuar ou agravar a pena, salvo
quando constituírem elementares do crime, qualificadoras ou causas de aumento ou diminuição de
pena, a fim de evitar a infração ao princípio do ne bis in idem.
Além de genéricas e obrigatórias, as agravantes são ainda taxativas, isto é, seguem o princípio da
legalidade (artigo 1º do Código Penal e artigo 5º, inciso XXXIX, da Constituição da República) e
só podem ser aplicadas quando expressamente dispostas em lei, por ser vedada a analogia in malam
partem.
As atenuantes, por outro lado, fazem parte de um rol exemplificativo, haja vista que, mesmo não
sendo necessário, tendo em conta que se admite a analogia quando em benefício do réu, a Lei Penal
Substantiva prevê em seu artigo 66 a possibilidade do magistrado promover a atenuação da pena
em razão de circunstância não prevista em lei, desde que relevante.
No entanto, excepcionando a característica de generalidade das agravantes, conforme dispõe
Nucci, estão os crimes culposos, sob os quais só recai a agravante da reincidência (artigo 61, inciso
I, do Código Penal). Apesar de existirem controvérsias10, a imensa maioria da doutrina e da
jurisprudência entende que as demais circunstâncias só encontram cenário propício de aplicação
quando se tratar de crimes dolosos, uma vez que o resultado do crime culposo é involuntário e por
isso absolutamente incompatível com quaisquer agravantes objetivas.
Por outro lado, excepcionando o caráter obrigatório das circunstâncias atenuantes, destaca-se que,
apesar do artigo 65 utilizar a expressão “sempre atenuam a pena”, essas
devem respeitar os limites mínimo da pena em abstrato. Neste sentido, o Superior Tribunal de
Justiça editou em 1999 a Súmula 231, que prevê que “a incidência da circunstância atenuante não
pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal”, valendo, por óbvio, o mesmo para as
circunstâncias agravantes, ainda que não haja súmula sobre o assunto.
“A dogmática penal e a jurisprudência dos tribunais têm a seguinte posição sobre limites de
agravação e de atenuação: as circunstâncias legais, agravantes ou atenuantes, não podem
exceder os limites máximos e mínimos da pena cominado ao tipo legal. Essa posição precisa ser
revista.
1. O limite de agravação da pena por circunstâncias legais é incontroverso: o princípio da
legalidade proíbe que as circunstâncias agravantes excedam o limite máximo da pena
cominada no tipo legal;
2. O limite de atenuação da pena por circunstâncias legais é controvertido:
a) a posição dominante na literatura e na jurisprudência brasileira adota como limite de
atenuação da pena o mínimo legal da pena cominada;
b) crescente posição minoritária admite atenuação da pena abaixo do mínimo da pena
cominada, por duas razões: primeiro, não existe nenhuma proibição legal contra
atenuar a pena abaixo do mínimo legal, porque o princípio da legalidade garante a
liberdade do indivíduo contra o poder punitivo do Estado - e não o poder punitivo do
Estado contra a liberdade do indivíduo; segundo, o critério dominante infringe o
princípio da igualdade legal (no concurso de pessoas, o corréu menor de 21 anos é
prejudicado pela fixação da pena no mínimo legal, com base nas circunstâncias
judiciais), porque direitos definidos em lei não podem ser suprimidos por aplicação
invertida do princípio da legalidade. Aliás, a proibição de reduzir a pena abaixo do
mínimo cominado, na hipótese de circunstâncias atenuantes obrigatórias, constitui
analogia em malam partem, fundada na proibição de circunstâncias agravantes
excederem o limite máximo da pena cominada - precisamente aquele processo de
5
integração do Direito Penal proibido pelo princípio da legalidade. Mais não é preciso
dizer”.
7
personalidade do agente o aconselharem, a um aumento de pena igual à duração da pena
aplicada na condenação anterior.
2. Se a pena aplicável for de prisão até 2 anos, a agravação consiste em aumentar o máximo e
mínimo da pena de metade da duração máxima da pena aplicável.
3. A medida da pena é ainda elevada com metade do aumento assim determinado, no caso de
segunda reincidência.
4. Nas contravenções não há lugar à aplicação das regras de agravação especial referidas no
número anterior.
RESPONSABILIDADE CRIMINAL
Conceito
Para se falar de extinção da responsabilidade criminal é indispensável delimitar previamente aquilo
que se vai extinguir, isto é, o objecto da extinção. Assim sendo, questiona-se, o que é ou em que
consiste a responsabilidade criminal?
O nosso Código Penal no seu artigo 27.° define-a nos seguintes termos “A responsabilidade
criminal consiste na obrigação de reparar o dano causado na ordem moral da sociedade, cumprindo
a pena estabelecida na lei e aplicada por tribunal competente» e acrescenta o artigo 28.° que « a
responsabilidade criminal recai única e individualmente nos agentes de crimes ou de
contravenções”. A responsabilidade criminal tem portanto como fundamento a prática de um crime
e/ou uma contravenção penal.
Segundo Silva, a responsabilidade criminal consiste na adstrição do agente do crime a suportar a
sanção que constitui o seu efeito jurídico necessário, a consequência jurídica da violação da norma
incriminadora.
A responsabilidade criminal consiste na obrigação imposta pela lei penal ao agente de uma
infracção de suportar as consequências jurídicas resultantes da mesma infracção. Este conceito
«infracção penal» é portanto um conceito abrangente pois como sabemos o Código Penal
moçambicano, distingue as infracções penais em crimes e contravenções e define o crime ou delito
no artigo 1.° e a contravenção no art.º 3.°, adoptando-se assim uma classificação bipartida das
infracções penais.
1. Sem prejuízo do direito de regresso, as pessoas que ocupem uma posição de direcção são
subsidiariamente responsáveis pelo pagamento das multas e indemnizações em que a pessoa
colectiva ou entidade equiparada for condenada, relativamente aos crimes:
b) Praticados no período de exercício do seu cargo, sem a sua oposição expressa;
c) Praticados anteriormente, quando a decisão definitiva de as aplicar tiver sido notificada
durante o período de exercício do seu cargo e lhes seja imputável a falta de pagamento.
2. Entende-se que ocupam uma posição de direcção os órgãos e representantes da pessoa
colectiva e entidade equiparada e quem nela tiver autoridade para exercer o controlo da sua
actividade.
3. Se as multas ou indemnizações forem aplicadas a uma entidade sem personalidade jurídica,
responde por elas o património comum e, na sua falta ou insuficiência, solidariamente, o
património de cada um dos associados.
Do ponto de vista material, a infracção penal é um facto lesivo de bens ou interesses fundamentais
da sociedade, um facto que põe em perigo as condições de existência, de conservação e
desenvolvimento da sociedade.
Cingindo-nos ao "crime" em particular, importa frisar que «a lei penal não contém uma definição
material do crime que permita ao juiz considerar como tal todo o acto que apresente estas ou
aquelas características. Crime não é todo o facto que reúna as características tais e tais, mas só
aqueles actos e factos que o legislador descreve, de uma forma típica, na parte especial do CP (ou
em legislação extravagante). O próprio art. 1.° do CP dá uma definição meramente formal de
crime: «crime é o facto voluntário declarado punível pela lei penal».
Essa sujeição à sanção pode por um lado extinguir-se pelo seu cumprimento, e será o caso normal,
como pode por outro lado extinguir-se por outras causas: ou porque se verifica um impedimento
9
de prossecução do procedimento para aplicação da sanção criminal, extinguindo-se assim o
procedimento criminal que acarreta a extinção da responsabilidade criminal porque não se pode
aplicar uma sanção criminal a não ser pela via do procedimento (nulla poena sine judicio), ou
porque se extingue a sanção aplicada e consequentemente não pode mais ser aplicada. Num e
noutro caso, por vias diversas, verifica-se a extinção da punibilidade do facto criminoso e da
responsabilidade criminal do agente.
Não confundir no entanto estas com as causas de exclusão da responsabilidade, isto é, quando
ocorre algumas das circunstâncias previstas na lei que justifique a ilicitude do facto ou que exclua
a culpa na sua produção, uma vez que para um facto ser punível como crime é necessário que este
seja cumulativamente, típico, ilícito e culposo. Pois se, por um lado, estas excluem a
responsabilidade, as que nos propomos tratar extinguem-nas, ou seja, a responsabilidade cessa a
partir daquele momento.
A responsabilidade penal, que é materialmente subjectiva – o princípio nulla poena sine culpa é
enformador e regulador de toda a responsabilidade penal, ao reportar-se à sujeição e aplicação de
uma pena, relaciona-se, intimamente, com as finalidades da punição. Com isto não queremos dizer,
porém, que o fundamento da sujeição a uma pena é a culpa46, antes pensamos, seguindo a lição
de Figueiredo Dias, que a culpa, que deriva da essencial dignidade da pessoa humana, é limite
irrenunciável da sua aplicação e da sua medida.
A extinção da responsabilidade remete-nos, portanto, para a não responsabilização
criminal do agente.
O Capítulo VI do Título III do Livro I (Disposições Gerais) do nosso Código Penal tem por
epígrafe «Da extinção da responsabilidade criminal», este capítulo contém três artigos relativos à
matéria da extinção do procedimento criminal, das penas e medidas de segurança (artigo 125.°);
da extinção das penas e medidas de segurança (artigo 126.°); e da extinção dos efeitos penais da
condenação (artigo 127.°).
Em teoria (pelo menos entre nós), a matéria das causas extintivas da responsabilidade criminal
permanece polémica e subordinada a critérios contraditórios de classificação. O ainda em vigor
Código Penal reflecte o sistema predominante no século XIX que lhes atribuía a natureza
processual. As causas de extinção da responsabilidade criminal distinguir-se-iam consoante se
reportassem à acção penal e, em consequência também à pena, ou exclusivamente à pena como
conteúdo da condenação penal; assim sendo são causas anteriores à condenação ou posteriores à
condenação penal.
Todavia, a própria denominação de «extinção da responsabilidade criminal» é significativa da sua
pertença ao direito substantivo e, sendo assim não deveriam incluir-se entre as causas extintivas
aquelas que tivessem natureza processual como as que respeitam à perda do direito de acção. O
reconhecimento da natureza substantiva das causas extintivas vingou no Código Penal italiano, o
qual distinguiu as causas de extinção do crime das causas de extinção da pena ou medida de
segurança. Mas também esta ordenação das causas extintivas foi objecto de crítica porque,
verdadeiramente, as causas apontadas como extintivas do crime não extinguem o facto criminoso
e tão-só anulam a sua punibilidade.
A responsabilidade criminal, como ficou dito respeita ao agente do crime e enquanto referida ao
crime como susceptível de dar origem a responsabilidade, constitui a punibilidade do crime.
A distinção lógica seria então entre, causas extintivas da punibilidade e causas extintivas da pena
ou medidas de segurança aplicadas.
Neste estudo sobre causas extintivas da responsabilidade criminal mostra-se mais conveniente
manter-se fiel a enumeração do Código Penal, anotando-se individualmente cada uma das causas
que constam da sua classificação e enumeração. Mas como além das causas gerais de extinção da
responsabilidade criminal enumeradas nos artigos 125.° e 126.°, constam outras do Código Penal,
relativas a alguns crimes em especial, ou, pelo menos, como tais podem ou têm de ser consideradas,
reservamos um breve subcapítulo para tratar das mesmas.
11
CONSIDERAÇÕES FINAIS
13