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1 SEDRES - A Atuação Política Na Formação Dos Estados de MS e Do TO e o Movimento Separatista No Pará PDF
1 SEDRES - A Atuação Política Na Formação Dos Estados de MS e Do TO e o Movimento Separatista No Pará PDF
Agosto de 2012
Rio de Janeiro - RJ - Brasil
Resumo:
A Constituição de 1988 impôs a democracia no Brasil, e com isso, os cidadãos brasileiros,
junto com os representantes políticos, começaram a participar do processo decisório no
país. O principal objetivo deste artigo é analisar de que forma este ambiente afeta a atuação
política dos separatistas estaduais. Para isso, resgata o processo histórico que moldou os
atuais recortes políticos no Brasil, concentrando a análise nas duas últimas unidades
implantadas: Mato Grosso do Sul e Tocantins. Apesar de se formarem em uma conjuntura
política diferente do que presenciado atualmente, a atuação política nestes dois estados,
comparando-se com o cenário político na qual Carajás e Tapajós estavam envolvidos,
podem apontar os caminhos para compreender melhor esta temática. Os resultados
comparativos mostram que o regime democrático impôs empecilhos para que uma nova
Unidade fosse criada, e as lideranças que defendem a emancipação devem atuar como
negociadoras, principalmente dialogando com os políticos do próprio estado afetado. Por
último, as forças separatistas devem elaborar novas formas de atuação, incorporando
estratégias na qual o regime democrático exige, além de atuar como negociadora ativa,
inclusive mantendo conversas com as lideranças locais opositoras.
Autores:
No Brasil Colonial dividido por capitanias, criado na metade do século XVI, funcionava
a partir de doações de terras para os funcionários de sua Alteza, ou para aqueles que
tinham enriquecido no Oriente. Porém, apenas algumas, como a de Pernambuco,
conseguiram prosperar, e com isso, sustentavam a Coroa através da atividade açucareira.
(AB´SABER, et al, 2003).
Com a queda de produção do açúcar nordestino, a pecuária e o extrativismo
começaram a se destacar e a interiorizar a produção, alcançando a Amazônia, que com o
governo de Pombal, criou no dia 3 de março de 1775 a Capitania de São José do Rio Negro,
a origem do estado do Amazonas. As atividades desenvolvidas nesta região eram as coletas
de especiarias vegetais, além da exploração de madeiras e pescados, e a própria defesa do
território amazônico contra os invasores estrangeiros.
No planalto Meridional, o bandeirismo iniciado na Capitania de São Paulo, desbravava
o interior do Brasil, para além da faixa de Tordesilhas. O objetivo era o aprisionamento de
índios para a escravidão e ouro. Estas excursões resultaram na criação das Capitanias de:
Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, no século XVIII.
No extremo Sul, após disputas incessantes entre portugueses e espanhóis pela
Colônia do Sacramento, Portugal, no ano de 1807, criou nesta região a capitania de São
Pedro do Rio Grande do Sul, fincando a sua dominação, apesar de certas indefinições em
respeito a limites territoriais (AB´SABER, et al, 2003).
Este era o retrato do Brasil antes de sua independência. O processo de formação dos
novos recortes territoriais era motivado pela consolidação do poder lusitano no continente
americano. Tanto no Norte, quanto no Sul, à rivalidade contra os estrangeiros forçavam a
Coroa a ocupar oficialmente estas regiões. No Norte, a participação junto com os habitantes
familiarizados com a terra, e no Sul, com a ajuda de expedicionários contratados pelo
Governo, dominaram as regiões além das Tordesilhas. Com a população instalada, restava
à metrópole fincar bases políticas através da criação destas novas capitanias,
desmembrados das mais antigas.
No inicio do século XIX, cresceu o sentimento separatista contra a Coroa. A Capitania
de Pernambuco conseguiu se rebelar durante dois meses, tendo a adesão da Paraíba e do
Rio Grande do Norte. Mas com o movimento sufocado, o Governo Real penalizou os
pernambucanos, que separou a foz do rio São Francisco, originando a Capitania Real de
Alagoas. (ALENCAR; RAMALHO; RIBEIRO, 1996).
Seguido por lutas, inclusive em anos posteriores, a proclamação do Brasil
Independente foi realizada em 1822. Entretanto, as outras nações precisavam reconhecer a
independência, o que significa assinar acordos comerciais vantajosos com os países
dominantes, tal como Inglaterra e Estados Unidos, e angariar empréstimos para cobrir
financeiramente os custos de guerras e as indenizações para Portugal. Neste período
turbulento pós-independência, as capitanias foram transformadas em províncias.
No Brasil Império, as tentativas de separatismo diante as forças imperiais resultaram
em conflitos. Aquele que de fato resultou em desmembramentos aconteceu na Província de
São Pedro do Rio Grande do Sul, no ano de 1837, com a criação da República Rio
Grandense. Outro movimento, liderado por Garibaldi, proclamou a República Juliana em
1839, na Província de Santa Catarina, que durou dois meses. Ambas estas revoltas fazem
parte da Revolução Farroupilha, iniciado em 1835. No ano de 1845, entretanto, o movimento
foi extinta, e as províncias rebeldes do Sul voltaram a ser absorvido pelo Império brasileiro
(LUVIZOTTO, 2009).
Exceto a Província de Cisplatina, que originou a República Oriental do Uruguai, as
forças imperiais conseguiram sufocar todas as rebeliões. A insatisfação por partes dos
governantes provinciais, o multiculturalismo, e o sentimento republicano, eram os
propulsores dos projetos de emancipação.
As únicas alterações foram a criação da Província do Rio Negro em 1850,
desmembrado do oeste paraense, e a do Paraná em 1853, sendo esta resultado de
questões pendentes referentes as Revoltas Liberais de 1842, que apesar de sua história de
criação antever aos tempos de D. João VI, apenas foi inserido na configuração política no
ano de 1853, como resultado de punição a Província de São Paulo, que perdeu a sua parte
sul com a criação do Paraná (MARTINS, 2008).
Nesta fase da história brasileira, a preocupação dos governantes eram consolidar a
dominação territorial iniciado no período colonial. Por isso, não houve alterações
significativas até a proclamação da República no ano de 1889, quando as divisões políticas
foram elevadas à categoria de estados, ganhando certa autonomia. Os novos recortes
surgidos eram resultados de punições impostas pelo poder central, como no caso de
Pernambuco-Alagoas e São Paulo-Paraná, do que aclamação por parte da população.
O regime Imperial brasileiro teve o mérito de centralizar as regiões revoltosas em um
país. Mas o desgaste sofrido era inevitável, e as forças imperiais foram substituídas pelos
republicanos. Durante o Brasil República, as províncias passaram a serem estados da
Federação. Nas primeiras décadas deste regime ocorreu a ultima expansão territorial do
país, conduto, desta vez através das vias diplomáticas com a compra da região do Acre da
Bolívia. No primeiro momento, esta localidade se tornou um Território, recebendo ordens
diretas do Governo Federal. Não apenas o Acre recebeu esta denominação: Amapá,
Guaporé, Rio Branco, Ponta Porã, Iguarassú e Fernando de Noronha. Exceto a ilha de
Fernando de Noronha, estes Territórios foram criados durante o Governo de Getúlio Vargas
para assegurar as suas fronteiras (SOLA, 2001).
Nos anos finais da Grande Guerra, os Territórios de Ponta Porã e Iguarassú foram
dissolvidos. Com a promulgação da Constituição de 1988, Amapá se elevou a condição de
estado, assim como Guaporé, que tinha mudado de denominação para Rondônia, e Rio
Branco, que também mudou de nome para Roraima. Neste mesmo período, Fernando de
Noronha passou a ser um distrito estadual do estado de Pernambuco.
Sob a prerrogativa de ocupar e proteger o interior, Juscelino Kubitschek, presidente do
Brasil nos anos 1960, iniciou o processo de deslocamento da sede do governo no Rio de
Janeiro para o interior do Brasil, criando Brasília. Para Diniz (2001, pág.14): “foi o elemento
de maior impacto na integração econômica do território brasileiro”.
Após a construção da nova capital, as mudanças mais significativas na configuração
política no Brasil foi o surgimento dos estados de Mato Grosso do Sul (1979) e Tocantins
(1989). Com o retorno à democracia através da Constituição de 1988, criaram-se leis sobre
as questões relativas os novos recortes regionais. As propostas de formação do estado do
Carajás e Tapajós foram submetidas de acordo com esta Carta Magna, diferente do que foi
aplicada em outros casos. Entretanto, os antigos processos de criação podem indicar
algumas características a serem levadas em consideração. Por isso, a formação das duas
últimas unidades – Mato Grosso do Sul e Tocantins, será analisada de forma mais
aprofundada.
A região do atual estado de Mato Grosso do Sul foi descoberta primeiramente pelos
espanhóis, nos séculos XVI e XVII. Antes disso, os índios, principalmente os caiapós e
paiguás, habitavam as faixas de terras que compreendiam o então território castelhano. O
ouro encontrado no rio Cuiabá aumentou o interesse dos bandeirantes paulistas, acelerando
o processo de ocupação desta região, retirando do domínio da Espanha estas terras
pertencente. A faixa ao sul, não servia de atrativo imediato, sendo ocupado pelos militares
através de fortes e guarnições com o propósito de defender as fronteiras da Colônia em
frente ao poderio espanhol (GUIMARÃES, 1999).
Com a queda da atividade mineradora, começaram a explorar os campos ao sul da
capitania através da pecuária. Contudo, com a Guerra do Paraguai no século XIX, cidades e
vilas estavam destruídas. O ressurgimento se obteve através da exploração de ervais, do rio
Paraguai para fins comerciais, e de campos pastorais para o gado.
Os ideais de emancipação iniciaram pelos pecuaristas da região, que devido à
aproximação com mercado consumidor de São Paulo através da Ferrovia Noroeste do
Brasil, fortaleceu a cidade de Campo Grande, que além de ser um polo pecuarista, passou a
desempenhar o principal papel de distribuidor de gêneros na região (QUEIROZ, 2008).
A integração do sul de Mato Grosso com o Sudeste pode ser percebida com o
episódio histórico: a Revolta Constitucionalista de 1932. Este levante liderado por São Paulo
exigia uma Constituição. Os políticos do sul de Mato Grosso apoiaram a iniciativa paulista, e
fundou o estado de Maracaju, cuja capital era Campo Grande. Com a falta de apoio de
outros estados, a revolta deflagrou-se, e logo Maracaju foi extinto (GUIMARÃES, 1999).
Esta decisão foi tomada porque os separatistas viram uma oportunidade de obter
apoio aos seus anseios juntando se com as forças de São Paulo. Se obtesem êxito, os
lideres do levante de 1932 poderiam recompensar a elite sul mato grossense com a
emancipação. Contudo, com a Revolta Constitucionalista esmagada pelas tropas getulinas,
o desejo não se concretizou.
Apesar deste fracasso, a elite sul mato grossense não abandonou os seus ideais
separatistas. Em 1963, tentava mais uma vez desmembrar o estado de Mato Grosso. Mas o
golpe militar de 1964, novamente, terminava o sonho sul mato grossense. O processo de
desmembramento apenas concretizou na década de 1970, quando os militares, parte de sua
estratégia política de contar com uma região favorável ao regime, criou o estado de Mato
Grosso do Sul (AMARILHA, 2006).
A elite ruralista liderado pelos campos grandenses esteve na frente deste processo,
apesar da inatividade da Liga Sul Mato Grossense desde a década de 1930. De fato, esta
representação estava tão presente na formação do estado sul mato grossense, que antes
de formular o nome da nova unidade federativa, os militares batizaram de estado do Campo
Grande, enfurecendo as elites locais do restante do futuro estado (MORO, 2009).
Finalmente, com um nome mais apropriado, o Sul se desmembrou do Estado de
Mato Grosso oficialmente, no dia onze de outubro de 1977, através da Lei Complementar nº
31, de 11 de outubro de 1977, sendo posteriormente efetivado em 1979. Assim o estado de
Mato Grosso do Sul se torna a mais nova unidade da federação.
O esforço que a elite sulista teve em procurar por meios disponíveis, através da
rebelião como no caso da Revolução de 1930, ou alianças políticas com o governo militar,
uma via de concretização de sua autonomia estadual. Além disso, as produções intelectuais
voltadas ao menosprezo dos governantes de Cuiabá, e a valorização da identidade e do
progresso sul mato grossense, contribuíram para disseminar os ideais separatistas dentro
do estado de Mato Grosso.
Entretanto, apesar dessas atitudes, apenas sob o interesse de uma força política
superior, sediada em Brasília, que através de meios na qual não existia o risco de surgir
uma oposição liderada pelas elites do centro e norte de Mato Grosso, impulsionou o
surgimento do estado do Mato Grosso do Sul. Por isso, a conjuntura política brasileira na
década de 1970, que vislumbravam vantagens de criar uma nova unidade da federação, e
onde o ambiente democrático era ínfimo, o ato ditatorial deu origem a esta configuração
regional.
6. Análise e discussão
UF Atuação do
UF surgida Mesa de negociação Área a ser cedida
remanescente governo
Representantes de
Mato Grosso
Mato Grosso Ditadura militar Campo Grande x 28 % da área total
do Sul
Governo militar
Representantes do Norte
Transição -
de Goiás x
Tocantins Goiás Ditadura para a 45 % da área total
Constituinte/Congresso x
Democracia
Presidência
Representantes de
Democracia e Carajás e Tapajós x
Carajás e
Pará Novo Congresso x Eleitorado 81 % da área total
Tapajós*
Federalismo do Pará x Assembleia
Estadual x Presidência
*Unidades não implantadas.
Fonte: Elaboração própria.
O que se pode constar é que sob a iminência de uma grande perda territorial, este
fator pode ter influenciado na escolha do eleitor paraense que moram na Região
Metropolitana de Belém e intermediações, que correspondem a mais da metade do
eleitorado do Pará. O desejo de ter o seu estado de origem unido, forte e consolidado, que
não se pode ceder a ameaças internas que fragmentem as suas origens geográficas, foram
utilizados pelas lideranças políticas de Belém durante a campanha eleitoral na rádio e
televisão como forma de influenciar a população a votar pelo não.
Entretanto, não apenas pelo lado do Pará unido que utilizou este artifício. As frentes
pró-separação também criaram argumentos emotivos que favoreça o eleitor para a sua
causa, menosprezando uma averiguação mais profunda que embasem para a criação de
proposições mais convincentes. Esta situação também foi verificada na formação do Mato
Grosso do Sul e Tocantins. Grupos de trabalhos, reuniões da elite intelectual, e encontros
políticos fizeram parte do cenário no processo de formação destas Unidades. O objetivo
destas discussões era criar entre os habitantes um sentimento de identidade própria, que o
projeto de criação tenha viabilidade, e por isso, seja necessário implantar. Além disso,
ambos os estados tiveram figuras política presente, que levantou a bandeira do separatismo
e defendia esta causa. Ter um líder reconhecido nacionalmente é uma peça necessária para
que o processo seja consolidado.
Atualmente, a atuação política trabalha em um cenário de grande dificuldade, onde
as estratégias anteriores não surtem mais o resultado esperado. Por isso, pode surgir uma
frente política que pede a alteração deste processo, ou seja, que a Constituição seja
alterada. A história mostra que desde a independência do Brasil, os brasileiros revoltosos
tiveram que sucumbir à vontade de Portugal, que apenas depois do pagamento de uma
indenização de dois milhões de libras estrelinas, a Coroa reconhecera a sua ex-Colônia
americana como uma nação independente. Desde aquele período, as negociações sempre
existiram como uma importante componente no processo de formação das configurações
políticas no território brasileiro. Propor mudar esta nova forma de obter a separação é
aniquilar a democracia no país, uma das maiores conquistas alcançadas após o término do
governo ditatorial. Este é um cenário político que as frentes separatistas devem estar
preparadas para atuar.
7. Considerações finais
8. Referências bibliográficas
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