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DADOS DO DOCUMENTO
Nº do Documento: 2020.02902593-66
CONTEÚDO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ
COMARCA DE SANTARÉM
1ª VARA CRIMINAL
Processo n° 0011104-05.2019.8.14.0051
Medida Cautelar
Assunto: Crime contra a Flora e Associação Criminosa
Representados:
JOÃO VICTOR PEREIRA ROMANO e outros
Advogados:
Fernando da Nóbrega Cunha OAB/SP n. 183378
Natalia Costa Bezerra dos Santos OAB/PA n. 22.760-B
Vistos, etc.
A defesa dos representados peticionou ao juízo requerendo a revogação das medidas cautelares outrora aplicadas em substituição a
prisão preventiva, sob o argumento de excesso de prazo e da atual desnecessidade e inadequação.
Instado, o Ministério Público manifestou-se contrário ao pedido, porém assentiu em flexibilizar as medidas cautelares existentes.
É o relatório. Decido.
A prisão preventiva dos representados foi revogada e substituída por medidas cautelares diversas no dia 28/11/2019, sendo a eles
concedida liberdade provisória.
Com efeito, sem contrariar a natureza complexa da investigação e ignorar o atual cenário da pandemia do novo corona vírus, é fato
que desde a supracitada data os representados têm contra si medidas que, não obstante serem de menor rigor em comparação com
a segregação cautelar, ainda privam parte do direito à liberdade individual.
Por outro lado, o procedimento investigatório não foi concluído, perfazendo um lapso temporal de mais de 1 (um) ano de andamento.
É cediço que nesse ínterim a Autoridade Policial encaminhou relatório final do IPL contendo indiciamentos, porém o Ministério
Público, usando da prerrogativa que possui, entendeu restarem insuficientes os elementos indiciários para eventual oferecimento de
denúncia, requerendo o cumprimento de novas diligências, que até o presente momento não foram totalmente atendidas pela
Autoridade Policial.
O novel sistema de medidas cautelares pessoais trazido pela Lei nº 12.403/11 evidencia que as medidas cautelares diversas da
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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ
CONSULTA DE PROCESSOS DO 1º GRAU
prisão são preferíveis em relação à prisão preventiva, dentro da ótica de que sempre se deve privilegiar os meios menos gravosos e
restritivos de direitos fundamentais. É a característica que a doutrina denomina de preferibilidade das medidas cautelares diversas da
prisão (BADARÓ, Gustavo Henrique. Medidas Cautelares no processo penal: prisões e suas alternativas – comentários à Lei
12.403/11 ed. RT, 2011). O principal corolário disso é que, diante da necessidade da tutela cautelar, a primeira opção deverá ser
sempre uma das medidas previstas nos artigos 319 e 320.
As medidas cautelares são regidas por princípios, dos quais destaco a revogabilidade, ou seja, sua razão de ser irá flutuar sempre ao
sabor da presença ou ausência dos elementos que autorizariam a sua decretação/substituição, assim, se a situação das coisas se
alterarem no caso concreto, revelando que a(s) medida(s) não é(são) mais necessária(s), é de rigor a revogação, eis a regra rebus
sic stantibus.
Os critérios da necessidade, adequação e proporcionalidade em sentido estrito devem pairar a decretação de medida cautelar
diversa, homenageando o princípio da razoabilidade.
Ademais, impende destacar ainda o princípio da temporariedade, no sentido da medida cautelar, ante sua precariedade, não deve
ser destinada a durar para sempre, sendo intolerável o seu uso permanente com o fito de submeter o investigado/acusado a controle
ilimitado no tempo.
Ante todo o exposto, revogo todas as medidas cautelares aplicadas em face dos representados.
Por derradeiro, aproveito a oportunidade para autorizar os causídicos habilitados nos autos a terem acesso total e irrestrito aos autos
da presente medida cautelar e do inquérito policial que lhe é vinculado, como lhes é devidamente de direito.
Intimem-se.
ALEXANDRE RIZZI
Juiz de Direito Titular da 1ª Vara Criminal
Comarca de Santarém