Você está na página 1de 33

A VISÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO NAS QUESTÕES DE

SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHADOR

Desenvolvimento do trabalho

O objetivo do presente trabalho é dar a conhecer aos participantes deste


seminário a visão da Justiça do Trabalho sobre questões afetas à
segurança e à saúde do trabalhador, de forma que ao final da exposição,
possam ser apreendidos os efeitos drásticos a que a empresa/empregador
se sujeitam nas hipóteses de descumprimento da legislação acerca do
tema. Assim, de forma breve, enfocarei os aspectos atinentes à
competência da Justiça do Trabalho, passando pela importância que o
trabalho desempenha na vida do ser humano, as normas que regem a
saúde e segurança do trabalhador, para finalmente apresentar ementas de
julgamentos proferidas no âmbito do TRT/3ª. Região, em demandas
envolvendo acidentes do trabalho.

Competência da Justiça do Trabalho

A competência da Justiça do Trabalho está prevista no art. 114 da


Constituição da República e foi ampliada por força da Emenda Constitucional no. 45,
competindo-lhe julgar as “ações oriundas da relação de trabalho...” e também as “ações
de indenização por dano moral ou patrimonial decorrentes da relação de trabalho” –
vide inciso VI do art. 114/CF.

Mesmo após a EC 45/2004, remanesceram dúvidas acerca da


competência da Justiça do Trabalho, para julgar demandas envolvendo danos morais,
estéticos e materiais, decorrentes de acidente do trabalho, o que foi definitivamente
resolvido após julgamento proferido pelo excelso Supremo Tribunal Federal, onde foi
reconhecida a competência desta Justiça especializada.

Foi ressalvada a competência da Justiça comum apenas para o


julgamento das reclamatórias lá ajuizadas, que, à época da edição da EC 45/2004, já
tivessem sentença de mérito prolatada. Todas as demais ações deveriam ser remetidas
imediatamente para a Justiça do Trabalho, o que está ocorrendo. Neste sentido, foi o
acórdão proferido no julgamento do Conflito de Competência 7.204-1, Minas Gerais,
em 29/06/05 pelo Supremo Tribunal Federal, tendo como Relator o Ministro Carlos
1
Brito, que, por razões de política judiciária, fixou, como marco temporal de
competência da Justiça do Trabalho, para conhecer e julgar as ações de indenização
fundadas em acidente do trabalho, a edição da EC 45/2004. Assim, os processos que já
se encontravam com sentença de mérito prolatada, prosseguem regidos pela antiga
competência da Justiça Comum Estadual, inclusive em sua instância recursal. Equivale
dizer que, para aqueles, restou prorrogada a competência da Justiça Comum.

Desta forma, hoje em dia, todas as ações movidas pelo empregado ou


trabalhador autônomo em face do empregador e tomador de serviços, respectivamente,
têm que ser ajuizadas perante a Justiça do Trabalho, que é a competente para a sua
apreciação.

O trabalho como fator de dignificação da pessoa

O primeiro direito fundamental do ser humano, consagrado em todas as


declarações internacionais, é o direito à vida, sendo necessário assegurar os pilares
básicos de sua sustentação, que são o trabalho e a saúde.
O trabalho é que garante ao homem o acesso aos bens necessários para a
manutenção da vida, sendo certo que em decorrência do trabalho não se pode admitir
que o homem perca a saúde, sendo esta a razão pela qual a legislação de todo o mundo
tem associado o trabalho humano à honra, à proteção jurídica, à dignidade, à
realização pessoal, ao valor e ao dever. Não se pode admitir que o trabalho se preste
como instrumento de subjugação ou desrespeito à pessoa humana.
Nessa linha de raciocíonio, cumpre ressaltar a legislação dos seguintes
países:
Estados Unidos: O trabalhador não deve sofrer prejuízo algum para sua
saúde, nem diminuição da capacidade de trabalho ou da expectativa de vida, em
decorrência do seu trabalho.
Noruega: A lei veda pagamento por produção em trabalho expostos a
risco, evitando que o trabalhador reduza sua atenção no aspecto da segurança.
Suíça: O empregador deve zelar para que o trabalhador não fumante não
seja prejudicado pela fumaça dos colegas fumantes, devendo ter vista para o exterior
do seu lugar de trabalho permanente. Proíbe utilização de sistemas de vigilância,
destinados a controlar o comportamento do empregado no local de trabalho,
preservando o direito à intimidade.
Cuba: O Código de Trabalho daquele país assegura que o trabalho é um
direito, um dever e um motivo de honra para o cidadão.
2
- Consolidação do conceito ampliado de saúde

Inicialmente, as normas trabalhistas visavam à proteção apenas da


integridade física dos empregados, sendo que depois passaram a contemplar os
fatores psicossociais, inclusive no que diz respeito à saúde mental do trabalhador,
atendendo, desta forma, ao conceito de saúde, estatuído pela OMS, que deixou de ser
apenas a ausência de doenças, para representar o completo bem-estar físico, mental e
social.
Neste sentido:
Estados Unidos: desde 1970, a lei determina que as investigações em
matéria de segurança e higiene do trabalho devem abranger os fatores psicológicos.
Venezuela: O trabalho deve ser prestado em condições que permitam o
desenvolvimento físico e psíquico normal dos trabalhadores, que deverão ter tempo
para descanso, cultivo intelectual, recreação e outros.
Paraguai: O Código do trabalho menciona a proteção da integridade
física, funcional ou psicológica dos trabalhadores.

- Adaptação do trabalho ao homem

A tendência inicial era o ajustamento do homem ao trabalho, sendo certo


que as necessidades de produção estavam sempre em primeiro lugar, sendo que o
homem não adaptado era facilmente substituído por outro.
Entretanto, as normas internacionais mais recentes apontam em outra
direção, pois o trabalho é que deve ser adaptado ao homem, como consta do art. 5o. da
Convenção 155 da OIT, no sentido de que a política nacional de saúde dos
trabalhadores deve adaptar o maquinário, os equipamentos, o tempo de trabalho, a
organização do trabalho e das operações e processos às capacidades físicas e mentais
dos trabalhadores, sendo a idéia repetida no art. 5o. da Convenção 161/OIT, no sentido
de que os serviços de saúde têm como função promover a adaptação do trabalho ao
homem. Nos diversos países, verifica-se esta tendência:
Noruega: desde 1977, o trabalho deve ser organizado, levando-se em
conta a idade, aptidão, perícia e outras características do trabalhador.
Canadá: a legislação faculta ao trabalhador, mediante atestado médico,
pedir remoção de uma atividade para outra, até que o estado de saúde permita o
retorno às atividades inicialmente contratadas.

3
Suécia: o empregador deverá considerar na planificação do trabalho que
as aptidões dos seres humanos são diferentes, devendo o trabalho adaptar-se a estas
diferentes aptidões físicas e mentais dos trabalhadores.
Espanha: as tarefas devem ser passadas aos trabalhadores de acordo com
as suas capacidades profissionais, devendo o empresário prever possíveis distrações
ou imprudências não temerárias que podem ser praticadas pelo trabalhador.

- Direito à informação e participação dos trabalhadores

Esse direito passou a existir e a ser levado em conta nos últimos tempos,
quando se percebeu que a participação ativa dos destinatários diretos da tutela jurídica
(trabalhadores e seus representantes) era imprescindível para uma melhor e mais
efetiva proteção legal, em termos de saúde do trabalhador.
A legislação dos diversos países assim refletiu a tendência:
Estados Unidos: o empregador deve se utilizar de formas de advertência
necessárias para dar ao trabalhador o conhecimento dos riscos a que está exposto, os
sintomas correspondentes e o tratamento de urgência apropriado.
Itália: o empregador tem a obrigação de elaborar o mapeamento do
estabelecimento, informando substâncias presentes no ciclo da produção,
características toxicológicas e efeitos sobre o ser humano. A Lei n. 300 permitiu que o
trabalhador, através de suas representações, tenha o direito de controlar a aplicação
das normas para a prevenção de acidentes do trabalho e das doenças profissionais.
Noruega: foi criado o cargo de Delegado de Segurança, com formação
propiciada pelo empregador, tendo poder para interromper o trabalho, quando julgar
que há perigo imediato para a vida e a saúde dos trabalhadores.
Tais normas, no sentido de se dar a informação aos trabalhadores sobre
os riscos a que estão expostos, além de serem eles consultados sobre normas de
segurança e saúde, também existem na Holanda, Turquia, Portugal, Venezuela,
Paraguai e Suíça.

- Propósito de eliminar os riscos na origem

A tendência universal neste ponto é no sentido de que os riscos devem


ser eliminados na origem, sendo conhecida a resistência que os trabalhadores têm de
utilizar os EPIS, que dificultam a percepção do ambiente, são incômodos, dentre
outros.

4
Canadá: em 1979, foi publicada lei sobre higiene e segurança do
trabalho, onde constou: “A presente lei tem por objetivo eliminar na raiz os problemas
que ameacem a saúde, a segurança e integridade física dos trabalhadores”.
Holanda: em 1980, foi estabelecido que os perigos para a segurança ou
saúde dos trabalhadores deverão, na medida do possível, com caráter prioritário,
prevenir-se na origem ou limitar-se, o quanto seja possível.
Paraguai: o código do trabalho do Paraguai, de 1993, estabelece que o
empregador deverá avaliar, evitar e combater os riscos na sua própria origem.

- Jornada reduzida para trabalhos insalubres

A tendência moderna é a redução da jornada de trabalho para as


atividades insalubres, perigosas ou penosas, concedendo-se maior tempo de descanso
e recuperação para os trabalhadores em tais atividades. A monetização do risco vem
sendo repelida pelos trabalhadores, com o argumento de que saúde não se vende,
sendo certo que a dignificação do trabalho repele a política de remunerar as agressões
à saúde.
Itália: no fim dos anos 60, os italianos iniciaram o movimento pela
melhoria das condições de saúde, rejeitando a troca de saúde por dinheiro.
Alemanha: na década de 70, os sindicatos empreenderem o mesmo
movimento, quando ficou assentado em Congresso realizado pela Confederação dos
Sindicatos Alemães, que o trabalho em condições agressivas à saúde ou mesmo as
horas extras devem ser compensados com maior tempo de descanso e férias adicionais
e não com adicionais ou reajustes em dinheiro.
Irã: o código do trabalho de 1990 consagra proteção mais ampla para
trabalhos penosos ou insalubres, limitando a jornada a 6 horas por dia e 36 na semana,
proibindo a realização de horas extras em tais atividades e aumentando as férias
anuais para 5 semanas em tais atividades.

- Responsabilidade pela aplicação das normas de saúde

Neste ponto, as normas internacionais impõem referida responsabilidade


ao empregador, sendo que a atuação dos serviços de saúde e a colaboração dos
empregados não eximem o empresário desta obrigação.
Em face da terceirização de serviços, as normas passam a atribuir ao
beneficiário dos serviços a responsabilidade pela aplicação das regras de segurança e
saúde, mesmo que, formalmente, o trabalhador esteja vinculado a outro empregador.
5
Noruega: nos locais em que trabalham 2 ou mais empregados, a
responsabilidade pela coordenação das questões relacionadas com segurança e meio
ambiente do trabalho é da empresa principal.
Suíça: empresários que têm trabalhadores atuando no mesmo local
devem estabelecer acordo de cooperação para as questões de higiene no trabalho;
quando o empregador utilizar serviços contratados, sua responsabilidade estende-se
aos trabalhadores da empresa fornecedora.

NORMAS JURÍDICAS SOBRE SAÚDE DO TRABALHADOR NA


LEGISLAÇÃO BRASILEIRA.

a) Constituição da República de 1988:


Art. 7º, XXII : "São direitos dos trabalhadores... XXII: redução dos
riscos inerentes ao trabalho por meio de normas de saúde, higiene e segurança";
Art. 196: "A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua
promoção, proteção e recuperação";
Art. 198: As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes
diretrizes: II) "atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas,
sem prejuízo dos serviços assistenciais".

b) Lei orgânica da saúde - 8.080, de 19 de setembro de 1990:


Art. 2º: A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o
Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.
§ 1º: O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e
execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças
e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso
universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e
recuperação.

6
§ 2º: O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das
empresas e da sociedade.

c) Lei 8.213, de 24 de julho de 1991 (Planos de benefícios da


Previdência):
Art. 19, § 1º: A empresa é responsável pela adoção e uso das medidas
coletivas e individuais de proteção e segurança da saúde do trabalhador; (...) § 3º: É
dever da empresa prestar informações pormenorizadas sobre os riscos da operação a
executar e do produto a manipular.

d) Consolidação das Leis do Trabalho – CLT - Responsabilidade na


proteção à saúde do trabalhador
. Estado:
. Instituição de normas de cumprimento obrigatório;
. Inspeção do Trabalho;
.Aplicação de penalidades pelo descumprimento das normas;
. Empregador:
. Medidas Coletivas e individuais de proteção (Art. 19 da Lei
8.213/91).

“Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do


trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos
segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando
lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a
perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o
trabalho.

§ 1º. A empresa é responsável pela adoção e uso das medidas


coletivas e individuais de proteção e segurança da saúde do
trabalhador.

§ 2º. Constitui contravenção penal, punível com multa, deixar a


empresa de cumprir as normas de segurança e higiene do trabalho.
7
§ 3º. É dever da empresa prestar informações pormenorizadas sobre
os riscos da operação a executar e do produto a manipular.

§ 4º. O Ministério do Trabalho e da Previdência Social fiscalizará e


os sindicatos e entidades representativas de classe acompanharão o
fiel cumprimento do disposto nos parágrafos anteriores, conforme
dispuser o Regulamento.”

. Informações pormenorizadas sobre os riscos (idem)


. Normas do artigo 157 da CLT.

“Artigo 157 - Cabe às empresas:

I - cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do


trabalho;

II - instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às


precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou
doenças ocupacionais;

III - adotar as medidas que lhe sejam determinadas pelo órgão


regional competente;

IV - facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente.”

. Mapeamento de riscos - Previsto agora como obrigação da CIPA.


Além da criação da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de
Acidentes) e dos SESMT (Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e
Medicina do Trabalho), a legislação instituiu também o PPRA (Programa de
Prevenção de Riscos Ambientais) – NR-9 da Portaria 3.214/78, que tem por
finalidade antecipar, reconhecer, avaliar e controlar a ocorrência de riscos
ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho – agentes
físicos, químicos e biológicos, suscetíveis de causar danos à saúde do trabalhador.
A partir deste levantamento devem ser adotadas medidas que gerem a eliminação
ou redução da utilização ou formação de agentes prejudiciais à saúde; medidas que
previnam a liberação ou disseminação de tais agentes no ambiente de trabalho e,

8
finalmente, medidas que reduzam os níveis ou a concentração de tais agentes no
ambiente de trabalho.

O PPRA deverá constar de documento-base, que deve ser guardado


por 20 anos, devendo ser discutido com a CIPA.
Também nesse campo de prevenção, a NR 7 da Portaria 3214/78
previu o PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional), cujo
objetivo é a promoção e preservação da saúde do conjunto dos trabalhadores,
estabelecendo os parâmetros mínimos a serem observados. O PCMSO será
executado por um médico-coordenador, indicado dentre os integrantes do SESMT.
Caso a empresa não esteja obrigada a constituir o SESMT o médico poderá ser
contratado apenas para executar o PCMSO, cujo documento-base também deverá
ser guardado por 20 anos.
Referidos documentos podem demonstrar a realidade laboral do
ambiente de trabalho, facilitando a prova do empregado quanto à culpa patronal na
prevenção do risco a que foi exposto.

. Empregado – art. 158 da CLT:

“Cabe aos empregados:

I - observar as normas de segurança e medicina do trabalho,


inclusive as instruções de que trata o item II do artigo anterior;

II - colaborar com a empresa na aplicação dos dispositivos deste


Capítulo.

Parágrafo único - Constitui ato faltoso do empregado a recusa


injustificada:

a) à observância das instruções expedidas pelo empregador na forma


do item II do artigo anterior;

b) ao uso dos equipamentos de proteção individual fornecidos pela


empresa.”

9
8) ACIDENTES DE TRABALHO E SITUAÇÕES
EQUIPARÁVEIS
Falar na guerra civil silenciosa existente no país – número de
excluídos do mundo do trabalho por mês e por dia.
Na segunda tabela, verifica-se que a despeito de ter havido aumento
no número de trabalhadores formais, o total de acidentes diminuiu muito – sub-
notificação (empresas passam a não mais emitir a CAT). Além do mais, muitas
doenças, originadas do trabalho são diagnosticadas e tratadas como doenças
comuns.
O número de doenças ocupacionais disparou, uma vez que hoje o
trabalho é mais denso e tenso, sendo que o número de micro-decisões por minuto é
muito superior às do passado.
O número de mortes permaneceu estabilizado, porque a realidade
impera sobre o desejo de esconder os acidentes – não é possível esconder
cadáveres.
A doença grave pede remédio mais forte. A realidade social
demonstrada pelos gráficos analisados, pede leis mais severas.
Antes de passar à análise do acidente do trabalho e conseqüências
legais, devemos analisar as agressões a que se sujeita o trabalhador, no exercício de
suas atribuições e que, potencialmente, podem gerar danos à sua saúde e/ou
integridade física e mental.
As principais obrigações do contrato de trabalho são, de um lado, a
entrega da força de trabalho, por parte do trabalhador, e, de outro, o pagamento do
salário, por parte do empregador, sendo certo que entre o fornecimento da mão-de-
obra e o pagamento do salário está a pessoa física do trabalhador, não sendo
possível separar a força de trabalho da pessoa do trabalhador. E esse trabalhador
deve sair íntegro do ambiente de trabalho, devendo o empregador cuidar para que
seja-lhe assegurada a saúde física, mental e social.
Faremos a análise dos principais agentes agressivos, que podem gerar
danos à saúde do trabalhador:
1 – HORAS EXTRAS
O corpo humano tem necessidade do descanso para recompor o
equilíbrio físico, em decorrência das calorias consumidas na execução do trabalho.
10
O cansaço é uma das notas que demonstram a necessidade de descanso para a
referida recomposição, sendo certo que a continuidade da prestação do trabalho
implicará em fadiga crescente, sinalizando para a interrupção do trabalho, como
mecanismo de conservação da vida.
Um processo prolongado de fadiga induz à instalação da fadiga
crônica, que não cede nem mesmo como repouso diário, o que compromete o
sistema imunológico, deixando o indivíduo mais vulnerável a doenças, além de
produzir insatisfação com o trabalho, baixa produtividade, aumento no número de
acidente de trabalho e absenteísmo.
A fadiga física e a fadiga mental estão muito próximas, sendo certo
que empregado sujeito a carga pesada de trabalho diário, com longo tempo
consumido no trajeto residência-trabalho e vise versa, com pouco espaço para
descanso e lazer, acabam por gerar quadro de insatisfação recorrente, perda da
auto-estima, apatia, depressão, levando ao aparecimento de doenças.
Há uma tendência universal de redução da jornada de trabalho, sendo
certo que não adianta limitar a jornada de trabalho, sem controlar, com rigor, o
trabalho extraordinário, sendo certo que a só oneração do custo do trabalho
extraordinário, acrescido de 50% ou mais, não tem sido suficiente para evitar a sua
prática.
Os malefícios que a ciência vislumbra hoje no trabalho extraordinário
foi enunciado doutrinariamente pela encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII,
que conclamou os povos no sentido de Justiça social, censurando os abusos dos
empregadores, nos seguintes termos: “Não é justo nem humano exigir do homem
tanto trabalho a ponto de fazer pelo excesso de fadiga embrutecer o espírito e
enfraquecer o corpo. A atividade do homem, restrita como a sua natureza, tem
limites que se não podem ultrapassar. O exercício e o uso aperfeiçoam-na, mas é
preciso que de quando em quando se suspenda para dar lugar ao repouso. Não
deve, portanto, o trabalho, prolongar-se por mais tempo do que as forças
permitem. Assim, o número de horas de trabalho diário não deve exceder a força
dos trabalhadores, e a quantidade de repouso deve ser proporcionada à qualidade
do trabalho, às circunstâncias do tempo e do lugar, à compleição e saúde dos
operários.”
Nas atividades perigosas e insalubres, deveria haver a redução da
jornada, com vedação do trabalho em regime extraordinário. Na verdade, o art.
60/CLT permite o trabalho extraordinário, desde que antecedidos de licença prévia
11
do Ministério do Trabalho. Não é o que se verifica na prática, em que o trabalho
extraordinário é efetuado normalmente sem o atendimento a esse requisito, sendo o
comportamento respaldado pelo c. TST, nos termos do enunciado 349, que valida
acordo de compensação de jornada em atividade insalubre, mesmo sem prévia
inspeção da autoridade competente em matéria de higiene do trabalho.
A primeira convenção da OIT, de 1919, não ratificada pelo Brasil,
previu jornada máxima de 8 horas, sendo a prorrogação admissível apenas em
casos de acidente ou grave perigo de acidente, ou de trabalhos urgentes ou em caso
de força maior, mas apenas no período necessário para evitar uma grave
perturbação no funcionamento da empresa.
A prática de horas extras continua sendo normal, mas tem sido
considerado fator que caracteriza a culpa patronal pelo advento de doenças
profissionais ou do trabalho.
Para harmonizar a legislação infra-constitucional com os arts. 7o e 170
da CF e demais princípios que regem o direito do trabalho, as horas extras só
poderiam ser admitidas nas hipóteses previstas na primeira convenção da OIT.
Mas, ao contrário, a MP 1952-31, com acentuado teor flexibilizante,
instituiu o chamado banco de horas, desde que previsto em acordo ou convenção
coletiva, podendo a compensação de horas ocorrer no espaço de um ano.
Houve priorização da atividade econômica, em detrimento da
valorização do trabalho.
2 – TRABALHO NOTURNO E EM TURNOS
A adaptação dos seres vivos aos ritmos da natureza, com períodos
alternados de atividade e inatividade, obedece a ciclos perfeitamente delimitados,
reservando-se o dia para a atividade e a noite para o período do descanso-sono.
A inversão deste padrão causa fadiga e malefícios para a saúde do
trabalhador, que, muitas vezes não consegue se alimentar bem no horário noturno e
muitas vezes não consegue dormir o necessário (quantidade e qualidade) durante o
dia, em função da claridade e barulho. Os trabalhadores reclamam que o sono do
dia não sustenta, isso porque não são cumpridos todos os ciclos do sono, não sendo
completadas ou sequer atingidas as duas últimas etapas – sono profundo, quando
há o descanso físico, com reconstituição da fadiga muscular e sono paradoxal, que
é onde ocorre o sonho, com reparação da fadiga mental.

12
O acúmulo diário da insuficiência de sono provocam sintomas
crescentes de fadiga psíquica e o conseqüente aparecimento de doenças.
Também a vida familiar, afetiva e social do trabalhador fica
comprometida em função do trabalho noturno. Há relatos de trabalhadores, no
sentido de que o contato com a família e o cônjuge, nos cruzamentos dos horários
de fusos confusos caracterizam-se mais pelo atrito e menos pelo afeto, sendo
comuns as desagregações familiares.
A nova lista das doenças ocupacionais do INSS, relacionada no anexo
II do Decreto 3048/99 indica os transtornos e os distúrbios do ciclo vigília-sono
devido à má adaptação do horário daquele que trabalham em turnos ou à noite.
Algumas medidas são sugeridas pelos especialistas na área de saúde
ocupacional, para minimizar os danos causados pelo trabalho noturno:
- redução da jornada e duração semanal do trabalho noturno (uma
jornada de 6 horas noturnas equivale a uma jornada de 8 horas
durante o dia);
- no caso de turnos de revezamento deve ser seguida a rotação
horária – manhã – tarde e noite.
- Depois do período de trabalho à noite, deve ser concedida uma
folga de 48 horas, cujo objetivo é a recuperação qualitativa e
quantitativa do sono, com preservação do fim de semana livre, para
a integração social.
E a legislação, o que prevê?
Foi criado adicional de 20% e 25% para a hora noturna, trabalhador
urbano e rural, respectivamente, além de estabelecer previsão da hora ficticiamente
reduzida de 52 min e 30 seg.. Para o trabalhador que cumpre turnos de
revezamento foi prevista jornada de 6 horas, sendo certo que para se furtar ao
cumprimento do turno reduzido, os empregadores têm fixado o trabalhador em um
único turno, sendo certo que os especialistas têm indicado que o revezamentos
mais freqüentes são menos danosos que um longo período de trabalho noturno.
Outra previsão importante seria a proibição de horas extras em
trabalho noturno, salvo nas estritas hipóteses de força maior e conclusão de
serviços inadiáveis, com folga compensatória.

13
Deve ser afastada a política de pagamentos de adicionais para
compensar as agressões do trabalho em turno de revezamento, como tem ocorrido
em alguns acordos coletivos, em que é previsto o pagamento de adicional de turno,
em troca da manutenção da jornada de 8 horas.

3 - TRABALHO INSALUBRE
Nos termos do art. 189/CLT “serão consideradas atividades ou
operações insalubres aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de
trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites
de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo
de exposição aos seus efeitos.”
Cabe ao Ministério do Trabalho aprovar o quadro de atividades ou
operações insalubres, nos termos do art. 190/CLT, sendo que não basta a conclusão
do laudo pericial indicar a presença de agente nocivo à saúde, sendo necessário que
a atividade esteja relacionada como tal pelo Ministério do Trabalho.
Há três blocos diferenciados de agentes insalubres:
- agentes físicos (ruído, calor, radiações, frio, vibrações e umidade);
- agentes químicos (poeiras, gases e vapores, névoas e fumos);
- agentes biológicos (microorganismos, vírus e bactérias).
O conceito adotado pelo Ministério do Trabalho acerca da saúde é
ultrapassado, pois só levou em conta a dimensão física do conceito de saúde.
Os agentes insalubres foram caracterizados em 3 graus, quais sejam:
mínimo – adicional de 10%, médio – adicional de 20% e máximo – adicional de
40%, sobre o salário mínimo.
O que mais preocupa em termos de insalubridade é que a monetização
do risco, ou seja, pagamento de adicional de insalubridade acabou por consistir em
autorização para expor o trabalhador a risco, sendo mais barato pagar o adicional
do que investir para tornar o ambiente de trabalho saudável.
Entretanto, a exposição dos trabalhadores a risco por insalubridade,
sendo que tais agentes atuam lentamente, pode gerar o aparecimento de doenças
ocupacionais, com oneração do empregador em elevadas indenizações por
responsabilidade civil.

14
4 – TRABALHO PERICULOSO
O agente periculoso atua instantaneamente, com efeitos danosos
imediatos, sendo certo que o trabalho em ambientes perigosos aumenta o desgaste
pela constante vigilância, além da possibilidade concreta da ocorrência de
acidentes.
Foram considerados periculosos os trabalhos em contato permanente
com inflamáveis, exploxivos, bem como para aqueles que trabalham com o risco
de energia elétrica, e, finalmente, para os trabalhadores expostos a radiações
ionizantes ou substâncias radioativas.
Não há definição legal para o trabalho periculoso, sendo assim
consideradas aquelas atividades assim previstas pela legislação.
O trabalho em ambiente periculoso gera direito ao pagamento de 30%
do salário do trabalhador, o que deveria ser substituído pela redução da jornada.
Ex.: Falar no trabalho na construção civil, em andaimes altos.
Também aqui, caso ocorra o acidente do trabalho, haverá
conseqüências danosas para o empregador, com pagamento de indenizações
decorrentes da responsabilidade civil.
5 – TRABALHO PENOSO
Não há uma definição do que seja o trabalho penoso, sendo certo que,
neste caso, o agente agressivo é o próprio trabalho, que, a despeito de não provocar
diretamente doenças, provocam desgastes e até envelhecimento precoce, em razão
da natureza do serviço, da forma de execução, do esforço requerido, da intensidade
das tarefas, do caráter repugnante, incômodo ou desagradável.
O pagamento do adicional de penosidade, previsto na CF, está
dependendo da edição de lei prevendo o que seja o trabalho penoso.
A legislação previdenciária prevê algumas atividades como sendo
penosas, para fins de aposentadoria com tempo especial. São elas: trabalho
permanente em subsolo em operações de corte, furação, desmonte e carregamentos
nas frentes de trabalho (15 anos) ou afastado destas frentes (20 anos); professores –
25 anos; motorneiros e condutores de bonde, motoristas e cobradores de ônibus,
motoristas e ajudantes de caminhão 925 anos); telefonista ( 25 anos).

15
Também neste caso, o melhor caminho não é a instituição de
adicionais, mas sim a redução de jornada e concessão de repousos prolongados,
para garantir a recuperação do indivíduo.
5 – AGRESSÕES PSÍQUICAS
As mudanças experimentadas pela atividade econômica, imperando
um ambiente competitivo, refletiram na saúde mental do trabalhador, acarretando
ansiedade, irritação, angústia, frustração, depressão, dentre outros, que podem
evoluir para inúmeras doenças psicossomáticas. Além do mais a violência no
ambiente de trabalho aumentou muito, afetando especialmente as mulheres.
Na União Européia foi realizada pesquisa em 1996, em que ficou
constatado que 4% dos trabalhadores tinham sido vítimas de violência no trabalho
no ano anterior, 3% de assédio sexual e 8% haviam sofrido algum tipo de
intimidação ou coação.
A exigência de atividade cerebral dos empregados está trazendo uma
diminuição da fadiga física, mas trazendo outro tipo de fadiga, que é a mental, cuja
recuperação é muito mais lenta e complexa.
Nessa medida, tem-se o estresse como um dos mais graves problemas
de saúde do século XX, cujo custo de recuperação é muito superior ao da sua
prevenção.
O estresse decorre tanto pela sub-utilização, quando o trabalhador,
que é dotado de certa estrutura psíquica vive poucas exigências psíquicas -
estresse da monotonia, quanto pela sobrecarga, que se dá quando o grau de
exigência estiver acima das potencialidade físicas ou mentais do trabalhador.
No texto constitucional, a proteção à saúde mental é apenas implícito,
enquanto que a legislação ordinária prevê expressamente o direito à saúde mental,
como se vê do parágrafo 3o. da Lei 8.080/90, que é a lei orgânica da saúde, onde se
vê: “Dizem respeito também à saúde as ações que, por força do disposto no artigo
anterior, se destinam a garantir às pessoas e à coletividade condições de bem-
estar físico, mental e social”.
Também a CCT 155 da OIT, ratificada pelo Brasil, previu, dentro do
conceito de saúde, os elementos físicos e mentais que afetam a saúde e estão
diretamente relacionados com a segurança e a higiene no trabalho.

16
A NR 17, da Portaria 3214/78, estabeleceu parâmetros para permitir a
adaptação das condições de trabalho às “características psicofisiológicas dos
trabalhadores”.
Finalmente, consta da nova lista das doenças ocupacionais do INSS,
relacionada no anexo II do Decreto 3048/99, o grupo dos “Transtornos mentais e
do comportamento relacionados com o trabalho (Grupo V do Cid-10)”. São
relacionadas como causas de tais doenças, dentre outros, problemas relacionados
com o emprego e desemprego, condições difíceis de trabalho, ritmo de trabalho
penoso, reação após acidente grave ou assalto no trabalho, discussões entre patrão
e colega de trabalho, circunstâncias atinentes às condições do trabalho,
organização do horário de trabalho, assédio sexual, violência no trabalho, dentre
outros.
Também aqui é mais inteligente e proveitoso investir em programas
de prevenção, de higiene mental, de qualidade de vida no trabalho, do que arcar
com os problemas profissionais decorrentes, inclusive com ações judiciais,
postulando indenizações por danos civis e morais.
ACIDENTE DO TRABALHO
8.1. Lei 8.213 de 25 de junho de 1991, que foi promulgada no bojo
do Plano de Benefícios da Previdência Social, de acordo com as diretrizes da
Constituição Federal. É a sexta lei de acidentes do trabalho no Brasil.
Art. 19: Acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do
trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados
referidos no inciso VII do artigo 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou
perturbação funcional que cause morte ou a perda ou redução, permanente ou
temporária, da capacidade para o trabalho.
Art. 20: Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo
anterior, as seguintes entidades mórbidas:
Vê-se aqui o acidente do trabalho por equiparação – A lei pode fazer
isso. As doenças ocupacionais se subdividem em doenças profissionais e do
trabalho.
I: doença profissional, assim entendida a produzida ou
desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e
constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério da Previdência Social;
ex: a silicose do mineiro
17
II: doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou
desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e
com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I;
(forma de prestação do trabalho – ex. ler, dort, etc).

§ 1º: Não são consideradas como doença do trabalho:


a) a doença degenerativa; (ex. artrose)
b) a inerente a grupo etário; (ex. pressão alta)
c) a que não produza incapacidade laborativa;
d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de
região em que ela se desenvolva, salvo comprovação de que é resultante da
exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho.
§ 2º Em caso excepcional, constatando-se que a doença não
incluída na relação prevista nos incisos I e II deste artigo resultou das condições
especiais em que o trabalho é executado e com ele se relacione diretamente, a
Previdência Social deve considerá-la acidente do trabalho. (ex.: provador de
cerveja – alcoolismo)
Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para
efeitos desta Lei:
I- acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa
única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou
perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção
médica para a sua recuperação; (CONCAUSA – a concausa é como o afluente de
um rio, se somando a ele para formar um caudal maior. A pessoa ia adoecer de
qualquer forma em decorrência de suas próprias condições físicas ou de vida, mas
o trabalho atuou como concausa para o agravamento da doença. A concausa pode
ser preexistente, concomitante ou superveniente. Ex. trabalhador que tem pressão
alta e é colocado para trabalhar em ambiente de extremo calor.)
II- o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho,
em conseqüência de:
a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou
companheiro de trabalho;

18
b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de
disputa relacionada com o trabalho;
c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou
de companheiro de trabalho;
d) ato de pessoa privada do uso da razão;
e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou
decorrentes de força maior;
III- a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no
exercício de sua atividade;
IV- o acidente sofrido pelo segurado, ainda que fora do local e horário
de trabalho:
a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade
da empresa;
b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe
evitar prejuízo ou proporcionar proveito;
c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando
financiado por esta dentro de seus planos para melhor capacitação de mão-de-obra,
independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de
propriedade do segurado;
d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para
aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade
do segurado. (pequenas paradas não impedem a caracterização do acidente do
trabalho, como por exemplo uma entrada em uma padaria ou farmácia).
§ 1º Nos períodos destinados a refeição ou descanso, ou por ocasião
da satisfação de outras necessidades fisiológicas, no local de trabalho ou durante
este, o empregado é considerado no exercício do trabalho.
§ 2º Não é considerada agravação ou complicação de acidente do
trabalho a lesão que, resultante de acidente de outra origem, se associe ou se
superponha às conseqüências do anterior.
Art. 22. A empresa deverá comunicar o acidente do trabalho à
Previdência Social até o 1º (primeiro) dia útil seguinte ao da ocorrência e, em
caso de morte, de imediato, à autoridade competente, sob pena de multa variável

19
entre o limite mínimo e o limite máximo do salário-de-contribuição,
sucessivamente aumentada nas reincidências, aplicada e cobrada pela Previdência
Social.
§ 1º Da comunicação a que se refere esse artigo receberão cópia fiel o
acidentado ou seus dependentes, bem como o sindicato a que corresponda a sua
categoria.
§ 2º Na falta de comunicação por parte da empresa, podem formalizá-
la o próprio acidentado, seus dependentes, a entidade sindical competente, o
médico que o assistiu ou qualquer autoridade pública, não prevalecendo nestes
casos o prazo previsto neste artigo. (Não é fácil emitir a CAT, que é um formulário
de preenchimento bastante complexo, com inúmeros campos, com dados da
empresa, a que, muitas vezes o trabalhador não tem acesso.)
§ 3º A comunicação a que se refere o § 2º não exime a empresa de
responsabilidade pela falta de cumprimento do disposto neste artigo.
§ 4º Os sindicatos e entidades representativas de classe poderão
acompanhar a cobrança, pela Previdência Social, das multas previstas neste artigo.

AINDA SOBRE A CAT


- art. 169/CLT – “Será obrigatória a notificação das doenças
profissionais e das produzidas em virtude das condições especiais de trabalho,
comprovadas ou objeto de suspeita, de conformidade com as instruções expedidas
pelo Ministério do Trabalho”.
Referida comunicação é feita através da CAT, sendo certo que a NR 7
da Portaria 3214/MTB, assim prevê:
“7.4.8 Sendo constatada a ocorrência ou agravamento de doenças
profissionais, através de exames médicos que incluam os definidos nesta NR; ou
sendo verificadas alterações que revelem qualquer tipo de disfunção de órgão ou
sistema biológico, através dos exames constantes dos Quadros I (apenas aqueles
com interpretação SC) e II, e do item 7.4.2.3 da presente NR, mesmo sem
sintomatologia, caberá ao médico-coordenador ou encarregado:
. solicitar à empresa a emissão da Comunicação de Acidente do
Trabalho – CAT;

20
. indicar, quando necessário, o afastamento do trabalhador da
exposição ao risco, ou do trabalho;
. encaminhar o trabalhador à Previdência Social para estabelecimento
de nexo causal, avaliação de incapacidade e definição da conduta
previdenciária em relação ao trabalho.”

Art. 23. Considera-se como dia do acidente, no caso de doença


profissional ou do trabalho, a data do início da incapacidade laborativa para o
exercício da atividade habitual, ou o dia da segregação compulsória, ou o dia que
for realizado o diagnóstico, valendo para este efeito o que ocorrer primeiro.
10.4. Direito Civil/Trabalhista: (Art. 7º, XXVIII/CF).
Indenização a cargo do empregador, decorrente do acidente do trabalho.
. Pilares fundamentais da responsabilidade civil: Ato ilícito -
> culpa-> dano-> prejuízo-> necessidade de reparação-> responsável pela
reparação.
RESPONSABILIDADE NO DIREITO CIVIL

Caio Mário da Silva Pereira1 inicia o capítulo atinente à


responsabilidade civil com a seguinte assertiva: “O ato ilícito tem correlata a
obrigação de reparar o mal.”
Verifica-se, assim, que a teoria da responsabilidade civil está
erigida sobre a idéia de que quem causa dano a outrem, mediante conduta
antijurídica, tem o dever de indenizá-lo. Para que alguém possa ser
responsabilizado por indenizar outrem, é necessária a presença de três requisitos,
sem os quais não se cogita da obrigação de indenizar, sendo eles: aferição de uma
conduta antijurídica, existência de dano e, finalmente, o nexo de causalidade entre
a referida conduta antijurídica e o dano decorrente.
Referido civilista sustenta que, apesar dos progressos da
corrente objetivista, a regra geral continua no sentido de ser a culpa, lato sensu,
fundamental na definição da responsabilidade.
A culpa pode decorrer do descumprimento de contrato (culpa
contratual) ou do descumprimento de dever jurídico independente de vinculação

1 PEREIRA, Caio Mário da Silva, Instituições de direito civil. Rio de Janeiro, Forense, 1.982, vol. I,
págs. 566/572.
21
obrigacional (extracontratual ou aquiliana), sendo desta culpa que se fala, em se
tratando de ato ilícito.
A idéia de culpa vem sofrendo ampliações, para englobar a
responsabilidade por ato de terceiros, como ocorre, por exemplo, com os pais em
relação a atos dos filhos menores, com o patrão pelos atos de seus prepostos e
empregados, dentre outros. Nesta hipótese, o conceito de culpa é elastecido, para
abranger a culpa in eligendo, que se refere à má-escolha que uma pessoa faz de
prepostos para atuarem em seu nome, bem como a culpa in vigilando, que é o
dever que uma pessoa ou empresa tem de fiscalizar a execução de determinada
atividade, com observância das prescrições legais aplicáveis.
Nessa hipótese de responsabilização por ato de outrem, o ato
ilícito é praticado por terceiros, gerando conseqüências jurídicas na esfera do
contratante, sendo o fundamento da responsabilidade a culpa aquiliana, nas
modalidades de culpa in eligendo ou in vigilando, ou de ambas.

O atual CCB rege a matéria no art. 186, que assim dispõe:

“Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

O art. 927 do CCB, inserido no capítulo que trata da


obrigação de indenizar, assim dispôs:

“Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei,
ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor
do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de
outrem.”
O novo código civil manteve a responsabilidade civil
assentada na idéia de culpa, sendo certo que inovou ao prever a responsabilidade
sem culpa, nas hipóteses legalmente especificadas, ou então quando a natureza da
atividade habitual implicar em risco para direitos de outrem.
Exemplo de responsabilidade objetiva é aquela prevista no
parágrafo 6o. do art. 37 da Carta Magna, quando tratou da responsabilidade das
22
pessoas jurídicas de direito público ou de direito privado prestadoras de serviços
públicos pelos danos causados por seus agentes, nessa condição, a terceiros.

. Evolução da Responsabilidade civil no acidente de trabalho


. Decreto 24.637/34 (2ª Lei acidentária) : Excluía a RC no art. 21.
.Decreto 7.036/44: Admite a responsabilidade civil quando o acidente
resultava de dolo do empregador ou de seus prepostos.
. Súmula 229/STF ampliou: "A indenização acidentária não exclui a
do direito comum, em caso de dolo ou culpa grave do empregador".
. Constituição da República de 1988: Ampliou mais ainda, prevendo
a indenização quando o empregador incorrer em dolo ou culpa (sem
indicar o grau).
. Art. 121 - Lei 8.213/91: Esclareceu que o pagamento, pela
Previdência Social, das prestações por acidente de trabalho não exclui
a responsabilidade civil da empresa ou de outrem.
. Código Civil Brasileiro: Art. 927. Parágrafo único. Haverá
obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para
os direitos de outrem.

.CULPA:
. Formas de exteriorização: negligência, imperícia e imprudência
. Graus de culpa: grave -> grosseira falta de cautela
leve -> falta de diligência média
levíssima -> falta de quem age com extrema
diligência
. Fatos praticados por terceiro: -> Culpa in eligendo, in vigilando, in
omittendo ou in custodiando.
. Ônus da prova: por se tratar de culpa subjetiva, cabe ao autor da
ação, isto é, ao que postula indenização.
23
PRESSUPOSTOS DA INDENIZAÇÃO

1 - DANO 2 – NEXO CAUSAL 3 - CULPA OU DOLO

. Qualquer prejuízo . O que causou o dano . Qualquer ato ilícito

. Material . Relação com o trabalho . Violação legal

. Moral . Relação causa/efeito . Convencional

. Estético . Admite concausas . Ato normativo

1 + 2 = RESPONSABILIDADE OBJETIVA

1 + 2 + 3 = RESPONSABILIDADE SUBJETIVA

HIPÓTESES INDENIZAÇÃO
1.Culpa patronal – grave, Cabe indenização total do prejuízo
leve ou levíssima
2. Culpa exclusiva da vítima
Não cabe indenização alguma: "Art. 936. O dono, ou
detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado,
se não provar culpa da vítima ou força maior".
3. Culpa concorrente no novo
Art. 945: “Se a vítima tiver concorrido culposamente
Código Civil para o evento danoso, a sua indenização será fixada,
tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto
com a do autor do dano”.

Observação: Haverá culpa se não forem observadas as normas legais,


convencionais, contratuais ou técnicas de segurança, higiene e saúde do trabalho:
"O fornecimento de equipamentos de proteção ao trabalho não exime
o empregador de responder pelos danos sofridos por seus empregados no
24
desempenho da atividade laborativa, cumprindo-lhe exigir sua utilização por parte
destes, sob pena de restar caracterizada a culpa in vigilando". (Apelação Cívil n.
168.353/8. Rel. Juiz Guimarães Pereira, 3ª Câm. Civil do TAMG).

Tendência atual: Responsabilidade sem culpa (Teoria do risco) - Art.


21, XXIII, "c" e 225, § 3º/CF. É o que Maria Helena Diniz chama de processo de
"humanização e objetivação da teoria da responsabilidade civil".
- Ex.: dano nuclear, ambiental, código do consumidor,
transporte aéreo, etc.
- Novo código civil – art. 927 “Haverá obrigação de
reparar o dano, independentemente de culpa, nos
casos especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano
implicar, por sua natureza, riscos para os direitos de
outrem.”
- Vantagens da culpa objetiva: estimula a prevenção,
facilita a reparação para a vítima, pois basta a
comprovação do dano.
. Deveres da empresa:
- promover a "redução dos riscos inerentes ao trabalho" (art. 7º,
XXII/CF)
- Cumprir e fazer cumprir as normas de segurança (157/CLT - Súmula
289/TST)
- prestar informações pormenorizadas sobre os riscos da operação a
executar e do produto a manipular (Art. 19, § 3º da Lei 8213/91).
- Eliminar os riscos quando possível, ou neutralizá-los (NR 4.12)

REPARAÇÃO DE DANOS DECORRENTES DOS ACIDENTES


Danos Materiais . Danos emergentes (O prejuízo imediato)
. Lucros Cessantes ( O que deixará de ganhar)
Danos Morais . Acumula c/ dano material- Súmula 37/STJ
. Arbitrado pelo Juiz (Função compensatória e punitiva)

25
Danos Estéticos . Mudança morfológica que cause afeiamento.

ESPÉCIE NATUREZA FORMA DE CÁLCULO


. Repõe as perdas e os ganhos futuros são pagos em forma de
pensionamento (Art. 950)
Dano material Indenizatória
. Lógica: equivalência matemática
. A vítima poderá optar pelo pagamento de uma só vez
(Art. 950, parágrafo único).
Dano moral e Compensatória . Paga-se de uma só vez, como forma de dar a compensação
imediata para acalmar a dor e a revolta do lesado, bem como
dano estético Punitiva
para inibir o réu e de novas práticas.
. Lógica: Arbitramento pelo juiz, sopesando as duas finalidades:
compensatória e punitiva.
Projeto Dep. Fiúza: Art. 944, § 2º: "A reparação do dano
moral deve constituir-se em compensação ao lesado e
adequado desestímulo ao lesante”. (NR)

RESPONSÁVEIS PELA REPARAÇÃO: (Quem usufrui dos bônus,


suporta os ônus)

1 – O empregador

2 - Súmula 341/STF – 1963: É presumida a culpa do patrão ou


comitente pelo ato culposo do empregado ou preposto.

3 - Art. 932 C. Civil: "São também responsáveis pela reparação


civil:... III) o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e
prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;

4 - Art. 933 C. Civil: As pessoas indicadas nos incisos I a V do


artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos
praticados pelos terceiros ali referidos.

26
5 - Código de defesa do consumidor: Art. 28. O juiz poderá
desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do
consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato
ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será
efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou
inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.
§ 5º. Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que
sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos
causados aos consumidores".
6. Enunciado 331/TST - Responsabilidade subsidiária na
terceirização.
A responsabilidade patronal pela indenização dos danos
decorrentes do acidente do trabalho é estabelecida em função do dolo ou culpa
patronais, nos termos do que dispõe o inciso XXVIII do art. 7o. da Constituição
Federal. O empregador responde também por ato de seus prepostos ou
empregados, nos termos do inciso III do art. 932 do CCB, que praticamente
reproduziu o inciso III do art. 1.521 do CCB de 1.916.
Estabelecida a culpa lato sensu da empresa terceira, o dano
causado e o nexo de causalidade entre ambos, responderá a empregadora pela
indenização devida em decorrência do acidente de trabalho, envolvendo danos
morais, materiais e estéticos, cabendo ao tomador de serviços a responsabilidade
subsidiária, em caso de inadimplemento da obrigação pela empresa contratada.
Após profunda análise dos efeitos perversos que a
terceirização de serviços pode acarretar, em face da fragilização das empresas,
concorrência desleal, margens de lucro reduzidas, com sacrifício, em nome da
sobrevivência, de despesas necessárias para a garantia da segurança, higiene e
saúde dos trabalhadores, o emérito professor e magistrado Sebastião Geraldo de
Oliveira2 assim se manifestou sobre o tema:“Se é indiscutível o fenômeno atual da
terceirização, é também certo que essa prática empresarial não pode servir de
desvio improvisado ou artifício engenhoso para reduzir ou suprimir direitos dos
trabalhadores, sobretudo daqueles que foram vítimas de acidente do trabalho ou
doenças ocupacionais.
O art. 1.518, do Código Civil, estabelece a solidariedade na
reparação dos danos dos autores e cúmplices pela ofensa ou violação do direito

2 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de, Proteção jurídica à saúde do trabalhador – 3a. ed. – São
Paulo : LTr, 2.001, págs. 261/266.
27
de outrem, valendo tal preceito para o acidente ocorrido por culpa ou dolo do
empregador, fundamento esse sempre invocado nos julgamentos para estender a
solidariedade passiva ao tomador dos serviços. No caso da solidariedade, o
credor tem direito de exigir e receber de um ou alguns dos devedores, parcial ou
totalmente, a dívida comum, preferindo, naturalmente, cobrar daquele que estiver
em melhores condições financeiras.”
Verifica-se que no caso de o dolo ou culpa, em sentido
estrito, ser imputável ao tomador de serviços, haverá a responsabilidade solidária,
nos termos do art. 1.518 do CCB de 1916, que foi praticamente reproduzido, com
ligeira modificação, pelo art. 942 do atual CCB.

. Constituição de capital cuja renda assegure o cumprimento da


sentença: “Toda vez que a indenização por ato ilícito incluir prestação de
alimentos, o juiz, quanto a esta parte, condenará o devedor a constituir um capital,
cuja renda assegure o seu cabal cumprimento” (Art. 602/CPC).

EXEMPLOS DE JULGADOS PROFERIDOS PELA JUSTIÇA


DO TRABALHO EM MINAS GERAIS
Processo 00010-2006-131-03-00-9 RO
Data de Publicação : 14/04/2007
Órgão Julgador : Oitava Turma
Juiz Relator: Desembargadora Denise Alves Horta
Juiz Revisor: Juiza Convocada Maria Cecilia Alves Pinto

EMENTA: MORTE DO EMPREGADO - INDENIZAÇÃO POR ACIDENTE


DO TRABALHO - AÇÃO MOVIDA PELA MÃE, ÚNICA HERDEIRA DO
"DE CUJUS" - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO - Em
razão da morte do empregado, o exame e o julgamento
dos danos sofridos por sua mãe, única herdeira
necessária e dele dependente financeiramente,
inserem-se na competência da Justiça do Trabalho,
haja vista que o acidente que ceifou a vida do
trabalhador ocorreu no âmbito de uma relação de
trabalho, a teor do artigo 114, VI, da CR/88.

Processo: 00257-2006-038-03-00-1 RO
Data de Publicação: 22/09/2006
Órgão Julgador: Primeira Turma
Juiz Relator: Desembargador Marcio Flavio Salem Vidigal
Juiz Revisor: Desembargador Manuel Candido Rodrigues

28
EMENTA: ACIDENTE DO TRABALHO. TRAJETO. EQUIPARAÇÃO
PARA FINS PREVIDENCIÁRIOS. LIMITES. RESPONSABILIDADE
CIVIL DO EMPREGADOR. IMPROCEDÊNCIA. Ainda que a lei
previdenciária estenda o benefício securitário
àquele trabalhador que se acidenta no trajeto para o
trabalho ou quando no gozo de intervalo
intrajornada, a equiparação há de ser lida com
restrição, apenas e tão-somente perante o INSS -
"equiparam-se também ao acidente do trabalho, para
efeitos desta lei" (art. 21, da Lei 8.213/91,
com destaque acrescido). Em sede de responsabilidade
civil reparatória, o exame é feito à luz dos art.
186 e 927, do CCB, dispositivos legais que
regem a espécie; assim, o empregador jamais
responderá por infortúnios para os quais não
concorreu, com dolo ou culpa ou por ofertar ambiente
laboral "naturalmente" de risco. O sinistro que
apanha o empregado no percurso ou no momento de sua
pausa para refeição e descanso, fora do local de
trabalho e longe batuta empresarial, não gera
qualquer obrigação de reparação para o
empregador.

Processo: 00309-2006-072-03-00-0 RO
Data de Publicação: 10/02/2007
Órgão Julgador: Oitava Turma
Juiz Relator: Juiz Convocado Paulo Mauricio R. Pires
Juiz Revisor: Desembargador Marcio Ribeiro do Valle

EMENTA: ACIDENTE DO TRABALHO – CULPA EXCLUSIVA DA


VÍTIMA – NÃO CONFIGURAÇÃO DA RESPONSABILIDADE DA
EMPREGADORA. Comprovado que o acidente ocorreu por
culpa exclusiva do reclamante, indubitável é a
descaracterização da responsabilidade civil da
empregadora, que para o infortúnio não contribuiu
com o erro de sua conduta, inexistindo, na hipótese,
nexo de causalidade entre o dano e a alegada
antijuridicidade da ação da ré.

Processo: 00356-2006-081-03-00-5 RO
Data de Publicação: 16/09/2006
Órgão Julgador: Oitava Turma
Juiz Relator: Desembargadora Denise Alves Horta
Juiz Revisor: Juiza Convocada Olivia Figueiredo Pinto Coelho

29
EMENTA: ACIDENTE DO TRABALHO NO PERCURSO PARA O
TRABALHO EM CONDUÇÃO FORNECIDA PELO EMPREGADOR.
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. Ainda que o acidente
tenha ocorrido no percurso para o trabalho (art. 21,
IV, letra "d", da lei 8.213/91), o foi em condução
fornecida pelo empregador que, portanto, assumiu os
riscos relativos à segurança e à manutenção da
incolumidade física de todos os passageiros
transportados. Assim, tendo o acidente ocorrido por
imperícia do motorista e não estando a reclamante
usando cinto de segurança, configura-se a culpa do
empregador que, aliada à comprovação do dano e do
nexo de causalidade,atrai a sua responsabilidade
pela reivindicada reparação por dano moral sofrido
pela laborista.

Processo: 00381-2006-085-03-00-4 RO
Data de Publicação: 28/04/2007
Órgão Julgador: Quinta Turma
Juiz Relator: Des. Lucilde D'Ajuda Lyra de Almeida
Juiz Revisor: Juiz Convocado Emerson Jose Alves Lage

EMENTA: DANOS MATERIAIS E MORAIS. DECORRENTES


DE ACIDENTE DO TRABALHO. CULPA DO EMPREGADOR. A
teor do disposto no artigo 157 da CLT, cabe às
empresas cumprir e fazer cumprir as normas
de segurança e medicina do trabalho, bem
como instruir os empregados quanto às
precauções a serem tomadas para evitar
acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais.
Configura culpa grave da empregadora, por
violação à norma básica de segurança do
trabalho, a permissão para que o empregado
desempenhasse função para a qual não tinha
treinamento, o que surge como fator propiciador
do acidente em comento.

Processo: 00839-2005-094-03-00-5 RO
Data de Publicação: 07/02/2007
Órgão Julgador: Segunda Turma
Juiz Relator: Des. Sebastiao Geraldo de Oliveira
Juiz Revisor: Juiz Convocado Fernando Luiz G.Rios Neto

EMENTA: ACIDENTE DO TRABALHO. CULPA DA EMPREGADORA.


ART. 157 DA CLT. INOBSERVÂNCIA. DEVER DE INDENIZAR -
A lei incumbe a empregadora de zelar pela
integridade física dos seus empregados; nesse
30
passo, a empregadora deve orientá-los e treiná-los
quanto a medidas de prevenção de acidentes no
trabalho, conscientizando-os e explicando os
procedimentos operacionais seguros, especialmente
quando utilizem equipamentos que ofereçam risco. O
trabalhador tem direito à informação sobre os riscos
a que está exposto, às formas de prevenção e ao
treinamento adequado para o desempenho de suas
tarefas. Nesse sentido, o art. 157 da CLT
determina às empresas: "I - cumprir e fazer cumprir
as normas de segurança e medicina do trabalho; II -
instruir os empregados, através de ordens de
serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de
evitar acidentes do trabalho ou doenças
ocupacionais; III - adotar as medidas que lhes
sejam determinadas pelo órgão regional competente;
(...)" Assim também dispõe o §1º. do art. 19 da
Lei n. 8.213/91, depois de definir o acidente do
trabalho: "A Empresa é responsável pela adoção e
uso das medidas coletivas e individuais de proteção
e segurança da saúde do trabalhador". O risco do
negócio é sempre da empregadora; assim sendo, quanto
mais perigosa a operação, quanto mais exposto a
risco estiver o empregado, tanto mais cuidado se
exige daquela quanto à prevenção de acidentes.
Comprovado que a empregadora negligenciou seu dever
legal, contribuindo com culpa para a ocorrência de
acidente fatal, deve prevalecer a sentença judicial,
que deferiu a indenização por danos morais.

Processo: 01005-2006-142-03-00-7 RO
Data de Publicação: 04/05/2007
Órgão Julgador: Segunda Turma
Juiz Relator: Des. Sebastiao Geraldo de Oliveira
Juiz Revisor: Dês. Anemar Pereira Amaral

EMENTA:INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E


MATERIAIS.ACIDENTE DO TRABALHO. CUMULAÇÃO COM
BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. POSSIBILIDADE - Os
proventos recebidos mensalmente do INSS não excluem
o direito da vítima à indenização pelos danos
materiais e morais sofridos. A cumulação entre o
seguro acidentário e a indenização por
responsabilidade civil atribuída ao empregador
encontra-se assegurada pela Constituição da
República, que estabelece, no artigo 7º, inciso
XXVIII, que a cobertura do seguro acidentário não
exclui o cabimento de indenização, nos casos de
31
dolo ou culpa do empregador. O artigo 121 da Lei
nº.8.213/91 prevê que o pagamento, pela previdência
Social, das prestações por acidente do trabalho, não
exclui a responsabilidade civil da empresa ou de
outrem. Além dos fundamentos legais, a matéria
também se encontra solucionada pelo STF por
intermédio da Súmula 229. Ademais, esse entendimento
está uniformemente pacificado na doutrina mais
autorizada a respeito e na torrencial jurisprudência
do STJ e dos Tribunais de Justiça dos Estados.
Com efeito, o chamado seguro acidentário não oferece
qualquer cobertura além da que já é concedida
normalmente pela Previdência Social. O valor que o
empregado recolhe, atualmente, a título de seguro de
acidente do trabalho apenas financia os benefícios
previdenciários em geral, aos quais qualquer
trabalhador segurado tem direito, dentro da
amplitude da seguridade social, para a qual também
o empregado contribui com sua parte. Assim, não se
recolhe, a rigor, seguro de acidente de trabalho,
mas uma parcela adicional para financiar os
benefícios previdenciários concedidos pelo INSS,
dentre eles, aqueles decorrentes dos infortúnios do
trabalho. O seguro de acidente do trabalho da
Previdência Social não indeniza, no sentido
técnicoda palavra. Basta mencionar que os danos
materiais, morais ou estéticos nem são cogitados na
legislação previdenciária, o que torna o acidentado
vítima de real prejuízo. O benefício de natureza
alimentar, concedido pelo INSS, garante apenas um
mínimo de subsistência, porém distante de
atender ao princípio da restitutio in integrum,
ou mesmo de assegurar a manutenção do padrão de
vida que a vítima desfrutava antes do evento
danoso, ainda mais que na maioria das vezes o
acidentado passa a ter mais despesas com
medicamentos, assistência médica em geral ou
ajuda necessária de outra pessoa para os cuidados
pessoais.

Processo: 01301-2006-047-03-00-1 RO
Data de Publicação: 12/05/2007
Órgão Julgador: Oitava Turma
Juiz Relator: Juiz Convocado Jose Eduardo de R.C.Junior
Juiz Revisor: Juiza Convocada Maria Cecilia Alves Pinto

32
EMENTA: ACIDENTE DO TRABALHO. CULPA EXCLUSIVA DO
EMPREGADOR.INDENIZAÇÕES POR DANO MORAL E MATERIAL.
Não há que se falar em culpa concorrente da vítima,
quando evidenciado que, no dia do sinistro, a
empresa descuidou-se da observância das medidas de
segurança necessárias, de forma a evitar o acidente
sofrido pelo laborista e que resultou na sua morte.
Não se pode exigir atenção permanente e especial
do empregado, mormente em se considerando que a
escada, onde estavam sendo feitos reparos, era
travessia habitual dos empregados, porquanto se
tratava de único acesso ao local de trabalho. Logo,
a retirada do degrau para manutenção daquele
equipamento não era fator que pudesse ser previsto
pelo trabalhador, exigindo, sim, cuidado mais
acentuado da empresa para a realização do
procedimento.

33

Você também pode gostar