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Medicina, Ribeirão Preto, Simpósio: TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA

33: 294-311, jul./set. 2000 Capítulo VI

ASPECTOS PSICOLÓGICOS E PSIQUIÁTRICOS


DO TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA

PSYCHOLOGICAL AND PSYCHIATRIC ASPECTS OF BONE MARROW TRANSPLANTATION

José Onildo Betioli Contel1; Alcion Sponholz Jr2.; Luciana M Torrano-Masetti3; Ângela C Almeida4;Érika A Olivei-
ra3; Jorge Silvandro de Jesus5; Manoel Antônio dos Santos6; Sonia R Loureiro7 & Júlio C Voltarelli8

1
Psiquiatra, docente do Depto. de Neurologia, Psiquiatria e Psicologia Médica da FMRPUSP, 2Psiquiatra, médico assistente do Depto. de
Neurologia, Psiquiatria e Psicologia Médica da FMRP-USP, 3Psicóloga do Serviço de Psicologia Médica do HCFMRP e Mestranda da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto-U SP, 4Psicóloga do Serviço de Psicologia do HCFMRP e mestre pela
FFCLRP-USP, 5Psiquiatra, ex-residente do Departamento de Neurologia, Psiquiatria e Psicologia Médica do HCFMRP, 6Psicólogo,
docente do Depto. de Psicologia e Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto-USP, 7Psicóloga, docente
do Departamento de Neurologia, Psiquiatria e Psicologia Clínica da FMRPUSP, 8Imunologista clínico, docente do Depto. de Clínica Médica
da FMRPUSP
CORRESPONDÊNCIA: Prof. Dr. José Onildo Contel, Depto. de Neurologia, Psiquiatria e Psicologia Médica da FMRPUSP, Av. Nove de Julho,
980, 14025-000, Ribeirão Preto-SP

CONTEL JOB; SPONHOLZ JR A; TORRANO-MASETTI LM; ALMEIDA AC; OLIVEIRA EA; JESUS JS; SANTOS MA;
LOUREIRO SR & VOLTARELLI JC. Aspectos psicológicos e psiquiátricos do transplante de medula óssea.
Medicina, Ribeirão Preto,33: 294-311, jul./set. 2000.

RESUMO: A intensidade e a complexidade envolvidas no transplante de medula óssea (TMO),


em seus vários níveis, produz profundos efeitos psicológicos no paciente, na família e na equipe
profissional. Ignorar esta realidade e reduzir os problemas do TMO a seus aspectos puramente
técnicos pode trazer consequências catastróficas para o paciente e seus familiares e ameaçar a
sobrevivência da equipe. Neste trabalho, são discutidos três aspectos muito importantes de
saúde mental no TMO, enfatizando a prática desenvolvida na Unidade de TMO do HCFMRP: 1) os
múltiplos papéis desempenhados pela assistência psiquiátrica na Unidade de TMO, desde a
prescrição de psicofármacos até o apoio à equipe multiprofissional em grupos de reflexão; 2)
uma análise dos sentimentos vivenciados pelo paciente submetido ao TMO nas diferentes fases
do transplante (pré, intra e pós-TMO) sob a perspectiva da esperança de cura; 3) uma avaliação
da qualidade de vida dos pacientes submetidos ao TMO, a curto e médio prazos, integrando
vários instrumentos de análise, incluindo técnicas projetivas.

UNITERMOS: Transplante de Medula Óssea. Psicologia. Psiquiatria. Estresse. Psicoterapia


de Grupo. Qualidade de Vida.

1- INTRODUÇÃO ses pacientes, tais como ansiedade, depressão,


irritabilidade, desorientação, perda do controle, medo
Os pacientes submetidos ao Transplante de de morrer e perda da motivação. Eles começam a en-
Medula Óssea (TMO) vivenciam alguns problemas frentar a dor, o desfiguramento, a perda das funções
singulares ao enfrentar o transplante, decorrentes do sexuais, a dependência, o isolamento, a separação e a
próprio estresse a que são submetidos, desde o diag- morte. Além disso, devem enfrentar a quimioterapia,
nóstico da doença, passando pelas várias fases do tra- a radioterapia, seus efeitos colaterais, idas freqüentes
tamento e suas complicações. São descritas na litera- ao hospital, grandes despesas e o estresse acumulado
tura várias alterações psicológicas e psiquiátricas nes- que esses desafios trazem à família(1).

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Aspectos psicológicos e psiquiátricos do TMO

Além das vivências e angústias do paciente, con- observados no Hospital das Clínicas da FMRPUSP
sidera-se o estresse que a equipe também enfrenta. (HCRP), onde, desde 1978, o Serviço de Interconsulta
Isto ocorre desde as primeiras reuniões com pacientes e Psiquiatria de Hospital Geral presta atendimento psi-
e familiares a respeito das informações sobre o procedi- quiátrico: 1) ao paciente individual, pela consultoria
mento do TMO, suas fases, suas possíveis complica- tradicional, 2) a grupos homogêneos de pacientes com
ções. Quando começam aparecer as primeiras manifes- patologias clínicas especiais, pela interconsulta com
tações colaterais da quimioterapia, assim como as com- grupos, 3) a grupos de apoio a profissionais que traba-
plicações decorrentes de quadros infecciosos, é preci- lham sob estresse intenso.
so que a equipe esteja bem estruturada, física e emo- Na Unidade de TMO do HCRP, essas três moda-
cionalmente, tanto para dar ao paciente segurança, tran- lidades de atendimento têm estado ativas desde a cria-
qüilidade e coragem para suportar cada fase, como ção da Unidade, contando com a participação impor-
para a própria equipe estar ciente das suas limitações. tante, além dos psiquiatras, de psicológos do Serviço
Brown & Kelly, citados por Wolcott et al. em de Psicologia Médica e dos outros membros da equipe
(2)
1986 , descrevem oito estágios psicológicos do paci- multiprofissional, como será discutido neste Capítulo.
ente submetido a TMO: 1) decisão de aceitar o trans-
plante, 2) avaliação da internação e planejamento de 2- PAPEL DO PSIQUIATRA NA EQUIPE DE
cuidados, 3) regime de isolamento/condicionamento, TMO
4) TMO propriamente dito, 5) pega da medula ou re-
jeição do enxerto, 6) possível desenvolvimento de O psiquiatra desempenha múltiplos papéis ao se
GVHD, 7) preparação para alta, 8) adaptação fora do integrar a uma equipe de transplante de medula óssea:
hospital. Em todos estes estágios, a atenção às neces- 1) funciona como triador de pacientes com alto risco
sidades emocionais do paciente é tão importante quanto emocional; 2) auxilia no acompanhamento destes pa-
os cuidados clínicos dirigidos aos problemas orgâni- cientes; 3) orienta e fornece apoio aos familiares; 4)
cos, para assegurar o sucesso do procedimento. examina com os demais médicos da equipe as opções
A Consultoria Psiquiátrica ou Psiquiatria de Li- terapêuticas mais indicadas em função das interações
gação vem sendo definida como a área da Psiquiatria medicamentosas com drogas psicotrópicas e possíveis
Clínica que procura introduzir, em áreas não-psiquiá- efeitos psiquiátricos de drogas de ação sistêmica; 5)
tricas de hospitais gerais, um enfoque biopsicossocial indica e realiza acompanhamento psicoterápico; 6) par-
na abordagem de doenças orgânicas. O termo ticipa, juntamente com os outros membros da equipe,
Consultoria refere-se à função de fornecer opinião es- dos esforços necessários para redução do estresse re-
pecializada a respeito do diagnóstico e manejo do pa- lacionado ao trabalho neste tipo de unidade (Tabela I).
ciente, considerando o seu comportamento e seu es- As avaliações pré-transplante consistem em
tado mental. O termo Ligação refere-se à função de colher história clínica da doença básica, investigando
unir grupos de profissionais com o propósito de cola- a presença de sintomas psíquicos que façam parte de
boração efetiva e eficaz através de mediação. O con- um transtorno psiquiátrico e as repercussões pessoais
sultor, portanto, funciona como um mediador entre o e familiares posteriores à descoberta da doença. Além
paciente e os membros da equipe e entre os profissio- disso, levantam-se os impactos pessoais e familiares
nais de saúde mental e os outros profissionais envolvi- sobre a indicação para o TMO, com ênfase nas ex-
dos no cuidado do paciente. Em sua ação, procura pectativas frente ao transplante (segurança/inseguran-
ativar o diálogo e a cooperação interprofissional, de ça, tranqüilidade/desespero frente às etapas do trans-
forma a evitar ou reduzir os sempre presentes confli- plante; medo de morrer, possibilidade de sucesso).
tos entre os vários agentes em atividade no hospital O psiquiatra deve considerar as preocupações
geral, desde o paciente e seus familiares, até os mem- do paciente, tais como sua saúde, a família, o relacio-
bros da equipe prestadora de assistência. namento conjugal, preocupações financeiras, a ativi-
O desenvolvimento de serviços de consultoria dade sexual e social e a auto-imagem em relação à
tem por base o reconhecimento de que a Psiquiatria doença propriamente dita. Na intervenção com os pa-
aplicada no hospital geral melhora a qualidade do tra- cientes, o psiquiatra precisa também avaliar como o
tamento médico, agiliza a utilização do hospital e eco- paciente enfrenta esses importantes problemas. Es-
nomiza o tempo do médico e dos demais membros da sas avaliações tornam-se a base para intervenções prá-
equipe multidisciplinar. Estes efeitos benéficos têm sido ticas para ajudar o paciente enfrentar sua doença(1).

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JOB Contel; A Sponholz Jr; LM Torrano-Masetti; ÂC Almeida; ÉA Oliveira; JS Jesus; MA Santos; SR Loureiro & JC Voltarelli

Tabela I - O papel do psiquiatra consultor no TMO

Papel desempenhado Objeto de intervenção Instrumento de intervenção

Triagem pré-transplante Pacientes candidatos ao TMO Anamnese psiquiátrica com ênfase na adaptação
prévia, diagnósticos psiquiátricos anteriores e risco
de suicídio

Acompanhamento Pacientes com alterações do Diagnóstico diferencial entre condições


durante a internação comportamento durante o TMO desencadeadas ou agravadas por alterações em
outros aparelhos e sistemas ou ação direta de
medicações e estados “funcionais”. Uso de
psicoterapia e/ou psicofarmacoterapia

Apoio aos familiares Familiares de pacientes do TMO, Psicoterapia


com particular atenção ao doador

Apoio à equipe Equipe multiprofissional Discussão de casos difíceis, orientação em


situações especiais, participação em grupos de
reflexão

Wolcott et al.(2) mostraram, já em 1986, que 15% tas situações, o psiquiatra pode estimular o paciente a
a 25% dos pacientes submetidos ao TMO manifes- falar sobre seus medos, preocupações e perdas, esta-
tam estresse emocional, baixa auto-estima, menor sa- belecer metas para o desenvolvimento de atividades
tisfação pessoal, menor atividade vocacional e menor e ocupação do tempo e sugerir que sejam trazidos
relacionamento íntimo. Na experiência destes auto- alguns objetos de casa para aumentar o seu conforto.
res, durante o longo período de isolamento que se Baker et al.em 1997(3) relataram um estudo com
segue ao transplante, os pacientes apresentam an- uma grande amostra de pacientes adultos candidatos
siedade, sentimentos de depressão com crises de cho- ao TMO e encontraram sintomas depressivos em um
ro, sentem dificuldades em se concentrar, em estruturar terço dos pacientes. Jacobsen et al., por sua vez, em
e manter suas atividades diárias, mesmo as mais sim- 1998(4) examinaram a prevalência e correlação de sin-
ples como leitura, piorando a sensação de isolamento tomas do Transtorno de Estresse Pós-Traumático
e desenvolvendo sentimentos de tédio e irritabilidade. (TEPT) entre 43 mulheres submetidas a TMO por
Durante esse período, tendem a se focalizar apenas câncer de mama. Observaram que 12% a 19% das
em sua contagem de leucócitos e em sua alta anteci- pacientes apresentavam critérios para diagnóstico de
pada, evitando conversar sobre sua doença ou suas TEPT e a intensidade da sintomalogia correlacionou-
chances de sobreviver. Durante o condicionamento e se com maior tempo de internação, baixo nível edu-
a fase precoce do TMO, o paciente vivencia um ce- cacional e doença avançada. Além dos sintomas de
nário bem estruturado, com visitas freqüentes da equipe TEPT, as pacientes referiam uma saúde mental e fí-
e está preocupado principalmente com os efeitos sica bastante comprometida e problemas de sono.
colaterais da quimio/radioterapia, como mucosite, ná- Klapheke em 1999(5) destacou que alguns cen-
useas, vômitos, anorexia, fraqueza, sedação, alopécia, tros de transplante de órgãos sólidos consideram uma
febre e dor. Neste período, em que espera os valores contra-indicação relativa ao transplante a presença
de contagem de leucócitos atingirem um número se- de um transtorno afetivo ou de personalidade. Obser-
guro e satisfatório, os pacientes costumam desenvol- vou, ainda, que um diagnóstico de esquizofrenia, na
ver problemas de comportamento ou ansiedade/depres- fase ativa da doença, ou a presença de ideação suici-
são e sentimentos de perda de controle. da ou uma história de múltiplas tentativas de suicídio,
Mesmo após a estabilização das contagens de levavam a uma contra-indicação absoluta ao trans-
leucócitos e plaquetas, eles vivenciam ansiedade, de- plante. Os pacientes portadores de um transtorno de
corrente da longa estadia hospitalar, tornando-se de- ansiedade, ainda segundo esse autor, não possuem uma
pendentes do hospital e dos amigos para satisfazer as contra-indicação ao transplante, mas devem receber
suas necessidades físicas e emocionais. Frente a es- o tratamento adequado para controle dos sintomas

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Aspectos psicológicos e psiquiátricos do TMO

antes do início do procedimento. Por analogia, esta depressão, apatia, hostilidade) e 3) problemas de com-
orientação pode ser empregada no TMO, uma vez que portamento (dependência, falta de colaboração, com-
não há estudos específicos sobre contra-indicações psi- portamento manipulativo ou hostil).
quiátricas ao TMO. A psicoterapia indicada para problemas com
A presença de uma doença grave, com piora da a cognição consiste no reconhecimento da natureza
qualidade de vida, associada a dor crônica e sentimen- do prejuízo à cognição e, tanto quanto possível, na aju-
tos de desesperança (vide secção 2) são fatores de da ao paciente para recuperar este déficit. Alterações
risco para suicídio comumente presentes nos pacien- da consciência, da percepção e da capacidade em
tes candidatos ao TMO. Outros fatores de risco que manter a atenção, além de falhas na memória, podem
precisam ser avaliados são: a presença de um diag- estar relacionadas a uma série de eventos presentes
nóstico psiquiátrico, principalmente abuso de substân- durante a internação para o TMO, desde o isolamento
cias, transtornos afetivos (depressão e transtorno durante um longo período de tempo, a rotina das ativi-
bipolar) e de personalidade, esquizofrenia, solidão (ser dades e horários, até o efeito tóxico de determinadas
solteiro ou viúvo), estar desempregado ou com a situ- medicações como fenitoína, ciclosporina ou aciclovir,
ação financeira comprometida e apresentar uma his- por exemplo(9,10). O uso de objetos para orientação,
tória de tentativas de suicídio prévias. Pacientes que como relógio e calendário, o contato com familiares e
apresentam estas condições devem ser investigados o cuidado com a orientação clara e objetiva antes de
de forma aberta e compreensiva sobre a ocorrência qualquer procedimento, são intervenções terapêuticas
de ideação suicida atual(6,7) antes de serem transplan- num sentido amplo e eficaz nessas situações. Em um
tados. sentido mais estrito, o emprego da negação como o
Um paciente que esteja sendo submetido ao predominante mecanismo de defesa do paciente deve
TMO e que desenvolva um distúrbio psiquiátrico deve ser avaliado cuidadosamente pelo psiquiatra consul-
ser identificado precocemente e iniciado acompanha- tor, que poderá intervir, usando o esclarecimento e o
mento psicoterápico e psicofarmacológico, como será apoio como facilitadores para modificação do com-
descrito a seguir. portamento e aceitação da realidade.
Goves & Kucharski(8) apontam que os afetos
1.2 Abordagem psicoterapêutica no TMO tornam-se um problema ao longo da internação de
Com relação ao acompanhamento psicoterápi- um paciente quando eles são inapropriados, demasia-
co, vale lembrar que a clarificação, explicação e damente intensos ou autônomos, ou seja, estão além
reasseguramento, embora fazendo parte das técnicas da capacidade do indivíduo ou do meio em modificá-
psicoterápicas, não são exclusivas desta prática e de- los. Assim, a base de uma psicoterapia voltada para
vem ser ativamente estimuladas em toda a equipe, pois distúrbios do afeto está no reconhecimento das causas
apresentam grande poder de tranqüilização sobre o deste distúrbio e na adequação desses sentimentos com
paciente. relação à intensidade e expressão. Para tanto, é fun-
Goves & Kucharski(8) referem-se à psicotera- damental que, uma vez descartada a possibilidade das
pia como sendo tanto um procedimento tanto contínuo alterações afetivas estarem relacionadas a uma con-
e processual, quanto uma interação de poucos minu- dição médica geral ou ao efeito tóxico de alguma me-
tos, na qual apenas umas poucas frases são trocadas, dicação, o psiquiatra consultor realize uma investiga-
desde que elas exerçam sua função terapêutica. O ção psicodinâmica para formulação de uma hipótese
psiquiatra consultor na unidade de transplante deve compreensiva e estabeleça uma intervenção psicote-
saber ouvir e responder em três níveis: médico, social rápica. Essa formulação se dá a partir do conhecimento
e psicológico, simultaneamente. O sucesso dessa in- da história de vida do paciente e das correlações
tervenção depende da habilidade em compreender, ra- afetivas que o paciente realiza a partir do seu
pidamente, como a personalidade do paciente está adoecimento e da forma como encara o tratamento. O
interagindo com o adoecimento e com os procedimen- trabalho psicoterápico consistirá em reconhecer essas
tos terapêuticos propostos. Os autores apontam que correlações de forma a devolver ao paciente sua con-
esse trabalho se inicia com a compreensão do por dição de compreender e expressar de forma mais cla-
que a intervenção psicoterápica está indicada e ra e apropriada suas emoções. Muitos pacientes apre-
dividem essas indicações em três grandes categorias: sentam dificuldades em aceitar ou compreender seus
1) problemas com a cognição (delírio, psicose, nega- sentimentos de raiva, tristeza e frustração e reagem
ção excessiva); 2) problemas com o afeto (ansiedade, negativamente às tentativas de abordagem afetiva e,

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neste contexto, a psicoterapia pode contribuir para riência, temos preferido o uso de lorazepam 2 mg ad-
aproximar os pacientes de suas necessidades de ex- ministrados preferencialmente nos períodos identifica-
pressão afetiva. dos como de maior ansiedade. De fato, Cassem &
De forma semelhante, pacientes com altera- Hackett(11) salientam a importância do uso do loraze-
ções do comportamento necessitam de que o psi- pam neste tipo de situação por apresentar meia vida
quiatra consultor compreenda as relações entre seu curta, não ter subproduto ativo mielotóxico e nem
comportamento mal adaptado, os afetos presentes e o metabolização hepática. O manejo de sintomas de-
seu entendimento (cognição) acerca do seu estado, da pressivos deve ser feito levando-se em conta a situ-
doença e do tratamento proposto. Muitas vezes, um com- ação do transplante, a programação terapêutica para
portamento agressivo resulta de sentimentos de raiva o paciente e sua responsividade afetiva à terapia. Um
ou frustração que são alimentados por idéias de de- paciente com humor não responsivo ao acompanha-
sesperança acerca da sua possibilidade de recupera- mento psicoterápico, persistentemente deprimido por
ção ou adaptação. mais de duas semanas, com situação clínica estável,
Outra alteração de comportamento freqüente- pode se beneficiar do uso de antidepressivos. Os inibi-
mente observada é a dependência patológica, que dores de recaptação da serotonina, como a fluoxetina
apresenta as seguintes manifestações: uma intensa e e a sertralina, podem ser a medicação preferencial nes-
constante necessidade de atenção e reasseguramento, tes casos, pelo baixo perfil de efeitos colaterais, fácil
solicitações freqüentes de medicações ansiolíticas e administração, e efeito sobre a ansiedade. O cuidado
analgésicas, solicitações manipulativas e ambivalentes maior relacionado a esses agentes está na inibição das
de demonstração afetiva e comportamento caótico, enzimas do complexo de metabolização farmacológica
desorganizado, destrutivo ou passivo-agressivo. De do citocromo P450, o que pode levar a uma interação
uma forma menos intensa, estas manifestações são medicamentosa prejudicial com outras drogas que o
relativamente comuns, mesmo em pacientes emocio- paciente esteja em uso A ciclosporina, por exemplo,
nalmente saudáveis, que são submetidos a longos pe- tem seu nível sérico aumentado quando interage com
ríodos de internação. A dependência patológica na sua a fluoxetina, o mesmo não acontecendo com a sertrali-
forma mais intensa é própria de pacientes com trans- na. Assim, a administração de antidepressivos deve ser
tornos de personalidade. Eles habitualmente apresen- cuidadosamente estudada pelo conjunto da equipe mé-
tam sentimentos de vazio interior e baixa auto-estima, dica(12).
mesmo na ausência de doença física, apresentam um Outra classe de psicofármacos que, por vezes,
grande desejo de proximidade, ao mesmo tempo em é usada nos pacientes do TMO são os neurolépticos.
que temem o desenvolvimento de intimidade. A abor- Habitualmente, são indicados em duas situações: no
dagem psicoterápica desses pacientes exige uma co- controle de sintomas psicóticos e comportamentais re-
municação clara entre os membros da equipe e o pa- sultantes dos estados confusionais agudos ou do esta-
ciente, de modo a não desafiar sua postura defensiva do de delirium. Os estados confusionais agudos são
e, por vezes, arrogante e um acompanhamento contí- caracterizados por: capacidade reduzida para manter
nuo pela equipe, procurando um distanciamento óti- a atenção, pensamento desorganizado, nível reduzido
mo: nem muito perto, desafiando a necessidade de da consciência, perturbações perceptivas, perturbação
privacidade, nem muito longe, alimentando as fantasi- do ciclo sono-vigília, psicomotricidade aumentada ou
as de abandono. Além disso, quando necessário, deve- diminuída, desorientação e prejuízo da memória. Estes
se recorrer ao uso de medicações tranqüilizantes para sintomas se instalam em curto período de tempo e flu-
diminuir as “explosões” emocionais do paciente e ser tuam ao longo do dia, geralmente com piora à noite. O
firme na colocação de limites quanto a comportamen- surgimento destes estados confusionais pode estar re-
to auto ou heteroagressivo, usando da contenção físi- lacionado a desordens sistêmicas, neurológicas, tóxi-
(8)
ca e sedação se necessário . cas, farmacológicas, metabólicas ou a causas múlti-
plas e seu tratamento está centrado na identificação
1.3 Abordagem psicofarmacológica no TMO da causa básica e correção da mesma. Quando isto
Quanto ao uso de psicofármacos, observamos que não for possível e o paciente apresentar intensa alte-
grande parte dos pacientes submetidos ao TMO apre- ração do comportamento, com agitação psicomotora,
senta, em algum momento do transplante, sinais de o haloperidol pode ser usado para controle da mani-
ansiedade intensa, que podem ser controlados com o festação comportamental, em doses tituladas a partir
uso de ansiolíticos benzodiazepínicos. Em nossa expe- de 0,5 a 1mg a cada 30 minutos(13).

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Aspectos psicológicos e psiquiátricos do TMO

1.4 Grupos de apoio para a equipe de TMO gatoriedade; 4) ambiente facilitador da livre discussão
circulante entre os técnicos presentes, sem barreiras
Nos grupos de apoio a profissionais da saúde, hierárquicas entre eles; 5) temática restrita a assuntos
segundo Vinogradov & Yalom(14), queixas de estar internos que mobilizaram a Unidade durante a sema-
assoberbado pelo trabalho a ponto de ficar “à na, enfocando o relacionamento interpessoal, segundo
beira de um ataque de nervos” são comuns e po- percebido no grupo ou no ambiente de trabalho; 6) pre-
dem incluir as seguintes causas: 1) frustração e sença constante e ativa das chefias médica e de en-
irritabilidade devidas à carga de trabalho excessiva, fermagem e da equipe médica, mas apenas ocasional
número insuficiente de profissionais e apoio adminis- dos profissionais paramédicos, incluindo a enfermagem.
trativo precário; 2) inconformidade, ou mesmo raiva, O líder do grupo encoraja os membros a dividir seus
pela inadequada distribuição, real ou imaginária, do po- pontos de vista e focar sua atenção nos problemas do
der na equipe; 3) sentimentos de insegurança e dia-a-dia da Unidade, trata os componentes do grupo
inadequação derivados de enormes responsabilidades como seus colegas e não como seus pacientes. Assim,
profissionais; 4) desconforto provocado pela pressão as interpretações transferenciais são evitadas e, quan-
constante para o desempenho profissional sob estresse do praticadas, são explicadas de onde derivam e apre-
e 5) atritos pessoais entre profissionais da mesma ou sentadas como colaboração do psicoterapeuta para
de diferentes especialidades. ajudar o grupo a entender melhor seus conflitos.
Nas Unidades de TMO, principalmente naque- Desde a sua criação, a Unidade de TMO do
las em que predominam os transplantes alogênicos, HCFMRP tem sofrido persistentemente situações co-
estes fatores são agravados pela significativa mortali- muns a outros serviços públicos de saúde do país: re-
dade pós-transplante de pacientes que, muitas vezes, cursos limitados para manutenção e expansão, conge-
são admitidos em condições aparentes de perfeita saúde lamento de salários do pessoal técnico e redução drás-
física e mental, como os portadores de leucemia mie- tica do seu número, decorrente de dificuldades de
lóide crônica em fase crônica e de leucemias agudas em contratação e mudanças nas condições hoteleiras, com-
remissão completa. De fato, o envolvimento técnico em prometendo o conforto e segurança da equipe e dos
procedimentos médicos de alto risco e que podem re- pacientes. Estes fatores, na maioria das vezes fora do
sultar na morte de 50% ou mais dos pacientes, depen- alcance da intervenção da equipe, potencializam dra-
dendo das suas condições, tem o poder de gerar um maticamente o estresse vivido por ela no cuidado aos
estresse contínuo nos profissionais em todos os níveis, pacientes transplantados.
não raro percebido como incontornável e definitivo. O trabalho na Unidade de TMO gera ele-
A Unidade de TMO do HCFMRP foi instalada vado grau de estresse na equipe multidiscipli-
em 1992 e, no seu início, teve suas atividades inter- nar. O alto índice de mortalidade entre os pacientes,
rompidas três vezes, tanto pela falta de pessoal técni- cuja repetição, ao longo do tempo, tem o poder de cau-
co treinado, principalmente de enfermagem, para su- sar um efeito estressante cumulativo, exige atenção e
prir as desistências, como pela persistência, na equipe elaboração. O sofrimento físico dos pacientes, instala-
remanescente, de níveis de estresse percebidos como do agudamente e inflingido a eles pelo depauperamento
insuportáveis. Ocorreu como que um colapso mental físico e pelas complicações do TMO, que provocam
da equipe, que inviabilizou o trabalho multidisciplinar. dor e desconforto físico e emocional, têm um enorme
Em resposta a esta situação, instalou-se em novem- poder de contagiar, tanto a equipe, como familiares e
bro de 1994 um grupo de apoio aos profissionais acompanhantes, trazendo consequências arrasadoras
da equipe de TMO, com o objetivo inicial de reduzir para a coesão da equipe. Neste contexto, são comuns
o estresse oriundo, principalmente, da elevada taxa de conflitos interpessoais intensos e exasperantes, perce-
mortalidade entre os pacientes tratados pela equipe. bidos como sugadores da energia da equipe e vistos
O grupo de apoio psicológico à equipe de TMO como insuperáveis entre seus membros. A equipe de
do HCFMRP funciona há cerca de 6 anos com as TMO costuma responder a esta situação com momen-
seguintes características: 1) encontro semanal de uma tos de fragmentação interna, de grau variável, que
hora de duração, às 6as. feiras, das 12:30 às 13:30 h; compromete o cuidado do paciente e ameaça a estabi-
2) coordenação de psicoterapeuta de grupo experi- lidade da equipe. O exame destes conflitos, por si só,
mentado(15) 3) aberto a todos os profissionais da equi- justifica a existência do grupo de apoio psicológico aos
pe, que são encorajados em participar, mas sem obri- profissionais da Unidade de TMO.

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Nos seus seis anos de funcionamento, a psico- tanto, aparentemente, maior prevalência de sintomas
terapia de grupo de apoio à equipe de TMO do ansiosos nos pacientes transplantados, com queixas
HCFMRP tem desempenhado as seguintes funções: de insônia inicial e angústia. Notamos também que os
1) servir de assessoria permanente para o exame da pacientes que se mostram calmos, tranqüilos, com certo
relação médico/técnico-paciente; 2) educar os mem- conhecimento prévio da sua doença e da terapêutica,
bros da equipe multidisciplinar em relação aos aspec- sem alterações da personalidade, apresentam boa res-
tos psicodinâmicos e psicossociais do transplante, aos posta adaptativa durante a fase de internação e segui-
modelos úteis e às estratégias particulares de manejo mento ambulatorial, enquanto aqueles com alterações
de cada paciente e de enfrentamento de estresse intra- significativas na personalidade necessitam de acom-
equipe; 3) ajudar a equipe a se adaptar ao estresse do panhamento psiquiátrico ambulatorial mais freqüente,
dia-a-dia no trabalho; 4) melhorar o desempenho indi- com introdução de psicofármacos para tratamento dos
vidual no ambiente de trabalho; 5) aprimorar a moral e sintomas depressivos e ansiosos. Infelizmente, por falta
a coesão da equipe multidisciplinar e diminuir a exclu- de um protocolo de acompanhamento propectivo, não
são, o abandono e a rotatividade dos membros da equi- foi possível correlacionar estes perfis comportamen-
pe; 6) patrocinar um melhor tratamento médico aos tais com complicações ou resultados globais do TMO.
pacientes. Esta experiência foi relatada em eventos Esta correlação foi feita na literatura (17a,b,c) e corrobo-
científicos nacionais e internacionais de TMO(16) e na ra nossa impressão de que, quanto mais o paciente
literatura psiquiátrica especializada(17). consegue compreender o que está ocorrendo com ele
Não seria exagerado afirmar que o funciona- e quanto mais participativo se torna no tratamento, mai-
mento contínuo do grupo de apoio à equipe da Unida- ores são suas chances de ter um resultado favorável
de de TMO do HCFMRP, desde as suas primeiras no transplante.
crises, tem contribuído, não só para aperfeiçoar suas
atividades e seu ambiente de trabalho, mas, sobretu- 2- ENFOQUE PSICOLÓGICO DO TMO DO
do, para permitir sua sobrevivência. Adaptado às con- PONTO DE VISTA DO PACIENTE
dições locais de cada Unidade, este modelo poderá
desempenhar o mesmo papel em outros centros do O Transplante de Medula Óssea (TMO) re-
país, a maioria dos quais enfrenta situações muito se- presenta para o paciente uma perspectiva de cura após
melhantes às apresentadas nesta secção. o diagnóstico de uma doença grave e potencialmente
fatal, como as leucemias agudas, a mielóide crônica,
1.5 Conclusão: Acompanhamento psiquiátrico os linfomas, o mieloma múltiplo e a anemia aplástica
no TMO grave, dentre outras.
Encontramos na literatura uma diversidade de Essa possibilidade de cura instila esperan-
experiências em relação ao acompanhamento psiquiá- ça no paciente e na família, amenizando os senti-
trico na unidade de TMO. Apesar da heterogeneidade mentos dolorosos provocados pelo impacto do diag-
de abordagens, este acompanhamento é recomenda- nóstico. A despeito dos avanços recentes no tratamento
do, quase unanimemente, para ser realizado desde o oncológico, não há garantias de que a intervenção terá
início do procedimento, não somente com o paciente, êxito, já que há sempre a possibilidade de que, mesmo
mas também com os familiares e com a equipe. Inter- que o transplantado sobreviva à fase precoce mais
venções psicoterápicas individuais ou grupais auxiliam complicada do procedimento, a doença básica recaia
muito nesse processo, sendo que as técnicas cognitivo- ou surjam novas doenças, como a do enxerto-contra-
comportamentais e de relaxamento mostraram ser efe- hospedeiro (DECH), que tem significativa mortalida-
tivas para o alívio do sofrimento e angústia experimen- de e, principalmente na forma crônica, diminui sensi-
tados pelo paciente. Nesta secção, discutiu-se a im- velmente a qualidade de vida do paciente. Nesse con-
portância da presença do psiquiatra dentro da unidade texto de incertezas quanto aos resultados da interven-
de TMO, suas contribuições potenciais e as estratégi- ção, a esperança contribui para que o paciente
as terapêuticas que podem ser adotadas frente às difi- oncológico e seus familiares suportem as difíceis fa-
culdades dos pacientes e dos membros da equipe. ses da experiência de tratamento e recuperação.
A prevalência de depressão/angústia referida na Normalmente, há uma espera de semanas a me-
literatura para pacientes submetidos ao TMO é condi- ses entre o diagnóstico da doença básica, a investigação
zente com outros estudos sobre populações gerais de possíveis doadores e o início do TMO. Quando o
de pacientes com câncer. Temos observado, entre- paciente chega ao hospital para submeter-se ao proce-

300
Aspectos psicológicos e psiquiátricos do TMO

dimento, diversas etapas já foram percorridas neste ca- modo peculiar de responder às solicitações desafiado-
minho, que implicam em uma série de importantes ex- ras do meio e da própria realidade psíquica está inscri-
periências vividas pelo então candidato ao transplante. to em seu repertório de defesas psicológicas, moldado
Para compreender a perspectiva do paciente, é ao longo do processo de desenvolvimento de cada in-
necessário, em um primeiro momento, deixar de lado divíduo. É por isso que a maneira do paciente en-
os saberes técnicos a respeito da doença, do tratamento tender as orientações e informações médicas não
e de suas conseqüências. Esses saberes, sistematiza- depende apenas de suas habilidades cognitivas,
dos pela ciência onco-hematológica, são fundamentais mas passa necessariamente por sua individuali-
para o embasamento da prática profissional da equipe dade, seu sistema de valores e normas culturais
de saúde, contudo, também podem contribuir para que internalizadas. Assim, cada paciente exigirá uma es-
o profissional lance um olhar mais distanciado para o tratégia única de abordagem e da sua comunicação e
paciente, focalizando sua atenção sobre a doença em seu sofrimento.
detrimento do sujeito. É preciso considerar que, ape- Esta situação nos coloca, enquanto profissio-
sar da especificidade da intervenção oncológica, exis- nais de saúde, constantemente frente ao novo, ao inu-
tem respostas subjetivas do paciente ao diagnóstico e sitado de cada encontro, já que, para cada indivíduo,
ao tratamento que interferem no seu resultado. A abor- devemos criar uma maneira de nos comunicar com
dagem psicológica do paciente oncológico mostra os seu mundo interno para que possamos atingir juntos –
perigos de se tomá-lo somente como um ser doente, e paciente e profissional – o objetivo que nos une: o bom
não como uma pessoa portadora de uma doença, andamento do tratamento. Vamos examinar esta
esquecendo-se de que muitas de suas potencialidades aboradagem nas três fases do transplante (antes, du-
não foram comprometidas pelo adoecer. rante e depois do procedimento).
A perspectiva do paciente, quando entra em con-
tato com o ambiente hospitalar, é marcada por senti- 2.1 Antes do transplante
mentos de estranheza e perplexidade. Afinal, ele está Frente ao diagnóstico, o paciente pode experi-
fora de seu habitat doméstico, momentaneamente ex- mentar uma diversidade de reações, com nuances que
cluído de seu território familiar e atravessará momentos variam de acordo com seu padrão de enfrentamento
de intenso sofrimento físico e emocional, em situações de situações estressantes. Pode sentir medo do sofri-
que podem prolongar ou abreviar sua vida nesse novo mento físico, raiva por necessitar de um tratamento
e desconhecido ambiente. Ao chegar à unidade hospi- tão arriscado que não lhe garante a cura, ou então
talar, já fragilizado pela doença e impactado pelo diag- pode sentir-se perplexo e chocado, impossibilitado de
nóstico, o paciente se vê diante do desconhecido. De- pensar no futuro(18). O desencadeamento desses sen-
corrido algum tempo, é comum ouvir deles que se sen- timentos ameaçadores pode ser ilustrado pela percep-
tiram “perdidos” nesse momento, como se tivessem ção do momento do diagnóstico elaborada por uma
caído “numa terra de estrangeiros”. O segundo cho- paciente com leucemia aguda bifenotípica:
que que experimentam é ver o próprio corpo manipulado “Naquele momento em que a médica falava
por instrumentos e procedimentos invasivos, coman- as palavras sobre a doença, eu senti um buraco
dados por pessoas estranhas portadoras de estranhos escuro se abrindo no meu peito. Ela me falava das
códigos e todo um aparato técnico inassimilável do células e do tratamento e eu queria sair correndo
ponto de vista do paciente, do qual se espera que se da sala.” (Sonia, 23 anos, amasiada).
submeta docilmente às intervenções. Uma paciente, Avaliações psicológicas pré-transplante têm
por exemplo, relata a experiência de horror e de- evidenciado correlações entre estilo de enfrentamento
samparo que vivenciara nesse momento. Os senti- passivo com distúrbios de afeto e outras psicopa-
(18a)
mentos de medo, horror e desalento só foram tologias e a possibilidade de prever a ocorrência de
abrandados no momento em que ela pôde reco- problemas emocionais pós-transplante com o uso de
(18b)
nhecer um rosto familiar em meio aos desconheci- escalas de rastreamento .
dos que dela se acercavam.
Para minimizar esse sentimento de estranheza 2.1.1 Trabalhando com a esperança
que o paciente vivencia frente ao desconhecido, é im- Se, por um lado, diante do diagnóstico de uma
portante compreender o modo como foi constituída sua doença potencialmente fatal, o sentimento do pacien-
subjetividade, ou seja, sua maneira peculiar de se co- te é mediado pela incerteza quanto ao futuro, por ou-
locar no mundo e enfrentar as situações adversas. Esse tro lado, coexiste a capacidade de depositar esperan-

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JOB Contel; A Sponholz Jr; LM Torrano-Masetti; ÂC Almeida; ÉA Oliveira; JS Jesus; MA Santos; SR Loureiro & JC Voltarelli

ça na possibilidade de cura, mesmo que esta exija per- cia do paciente e as suas necessidades suscitam. Ou-
correr um longo processo de tratamento. Essa situa- tra maneira complementar foi promover o intercâm-
ção envolve as dimensões afetiva, social, física e espi- bio de informações entre pacientes que se encontra-
(25)
ritual, reunidas nos fundamentos da bioética(18). vam na mesma situação de vida .
A esperança é particularmente importante para Na Unidade de TMO do HCFMRP-USP, ob-
pessoas diagnosticadas com doenças limitantes da qua- servou-se que, apesar dos médicos fornecerem, du-
lidade de vida (vide secção 3). Clínicos e pesquisado- rante as consultas preliminares, repetidas e detalha-
res descrevem a esperança como favorecedora da qua- das informações sobre todo o processo, seus riscos e
lidade de vida, influenciando positivamente o curso da conseqüências, após a internação muitos pacientes ma-
doença ou da desordem somática. Assim, segundo a nifestavam dúvidas e desconhecimentos que prejudi-
American Cancer Society (19), o câncer é uma das cavam sua adesão ao tratamento e, por consegüinte,
doenças em cuja evolução a esperança de cura de- comprometiam sua colaboração nas fases mais com-
sempenha papel fundamental. A esperança pode ser plicadas do TMO. Através de um levantamento, exe-
definida como sendo o ponto mais profundo dirigido cutado pelo serviço de psicologia da Unidade, consta-
ao enriquecimento do ser, conseguindo mobilizar no tou-se que, mesmo informados de maneira sistemáti-
indivíduo uma força de vida que facilita a perseveran- ca, os pacientes deixavam de expor suas dúvidas e
ça no alcance do objetivo esperado(20,21). O indivíduo fornecer informações importantes sobre suas condi-
que tem esperança parece agir com mais otimismo, o ções clínicas e psicossociais. Pensou-se, então, que
que facilita a compreensão de suas necessidades e talvez isso pudesse ser transformado, oferecendo-se
deveres. ao paciente, na etapa pré-TMO, um contato mais in-
A falta de esperança é uma das quatro formas tenso com a instituição de saúde e seu profissionais.
de enfrentamento apresentadas por paciente portado- Unindo essa constatação aos achados da litera-
res de melanoma, sendo considerada a menos tura(23,24), optou-se por introduzir, em caráter experi-
adaptativa delas(22). As outras três formas de enfren- mental, uma nova modalidade de atendimento psicoló-
tamento são: a negação, o estoicismo e o espírito de gico, tendo o dispositivo grupal como eixo norteador.
luta, sendo esta última a mais adaptativa. Observou- Constituiu-se um grupo de pacientes que aguardavam
se em um estudo que pacientes que exibiam o espírito o procedimento do TMO, visando intensificar o pre-
de luta como mecanismo principal de enfrentamento paro para a internação e a melhoria da qualidade de
apresentaram prolongamento da sobrevida e que, dos vida antes, durante e depois do transplante.
pacientes que freqüentavam um grupo de auto-ajuda, Uma análise sistemática dos resultados obtidos
66% apresentaram esse mecanismo de forma prepon- evidenciou que o grupo de pacientes emergiu como
derante, o que redundava em uma busca mais ativa de uma estratégia adequada para responder às necessi-
tratamento para si e maior questionamento dos proce- dades do indivíduo em situação de espera do TMO.
dimentos utilizados. Dentro desse grupo, foi verifica- Esse procedimento de intervenção parece favorecer
do que 31% dos pacientes que não utilizavam o espíri- a integração com a equipe de saúde durante a interna-
to de luta passaram a empregá-lo após a freqüência ção e a adaptação inicial pós-TMO, mobilizando a
ao grupo(23). busca de recursos pessoais na resolução dos proble-
mas deflagrados pela situação de crise, colaborando
2.1.2 Grupo de pacientes que aguardam o TMO assim para que os pacientes procurem antecipar sua
A literatura tem salientado a importância de se volta às atividades produtivas e sociais(25).
proporcionar, ao paciente com indicação ao TMO, um Os resultados da intervenção foram percebidos
trabalho de preparação mais intensivo no período pré- pela enfermagem e pela equipe médica, sobretudo,
transplante, visando a informar, identificar, prevenir e através da mudança de atitude dos pacientes, que se
intervir precocemente nas complicações que podem tornaram mais ativos durante seu período de
resultar das mudanças drásticas na situação de vida hospitalização e mais conscientes de suas limitações e
desses pacientes(24). Essa intervenção deve buscar mei- de suas possibilidades de reabilitação após o trans-
os de integrar o paciente à equipe, com o objetivo de plante. Nessas condições, o grupo da fila de espera
torná-lo simultaneamente parte e sujeito de seu trata- destaca-se como uma boa opção de intervenção, que
mento. Uma das maneiras encontradas para que essa atua tanto no sentido psico-profilático, prevenindo o
integração passasse a ocorrer foi o fornecimento de surgimento, agravamento ou cronificação de proble-
informações adequadas às questões que a experiên- mas psicológicos, como no sentido de criar formas de

302
Aspectos psicológicos e psiquiátricos do TMO

enfrentamento para o paciente diante de sua zes, incompreensível para a equipe de saúde, que nem
vulnerabilidade física e emocional provocada pela sempre está preparada para aceitar a fragilidade ou a
quimio/radioterapia em altas doses e suas conseqüên- força demonstrada por alguns pacientes diante do so-
cias. frimento.
Para melhor ilustrar essa intervenção, destaca- Nessas situações, o apoio psicológico deve ser
mos a fala de um paciente entrevistado acerca de sua intensificado, visando abarcar o paciente, a família e a
participação no grupo acima apresentado(26). equipe de saúde, incluindo o psicólogo. As opções de
“Acho que foi muito bom ver as pessoas jo- intervenção psicológica nessa fase devem basear-se
vens como eu esperançosas e com força para en- numa avaliação clara das necessidades e possibilida-
frentar a barra do TMO. Ficava um pouco triste des do paciente e devem ser individualizadas confor-
por saber que, daquelas pessoas, umas não iriam me o quadro clínico. O atendimento psicoterápico no
resistir. Mas é bom receber as informações, saber leito constitui uma boa alternativa para os pacientes.
o que vai acontecer na internação, saber que o Para os familiares, opta-se por atendimentos sistemá-
TMO é complicado. Se a pessoa vai achando que ticos em grupo e, dependendo da necessidade, o fami-
vai ficar boa logo, é aí que não dá certo.” (Geral- liar é atendido individualmente. No caso de crianças e
do, 29 anos, casado, portador de leucemia mielóide adolescentes, sugere-se que a família seja atendida
aguda). com a freqüência mínima de uma vez por semana.
2.2 Durante o transplante 2.3 Após o transplante
Apesar da sua simplicidade e brevidade, do ponto Depois de realizado o transplante, observa-se
de vista técnico, a infusão da medula óssea (ou de que a qualidade de vida dos pacientes sofrerá as im-
outro produto transplantado) é um dos momentos mais plicações decorrentes do procedimento. Eles são
significativos de todo o procedimento, para o paciente obrigandos a enfrentar as limitações físicas, a dor, a
e sua família. Eles experimentam, naquelas poucas sensação de distorção da imagem corporal e as con-
horas da infusão, intenso grau de emoção, que é gera- seqüências dos efeitos colaterais dos tratamentos,
do, principalmente, pela esperança de cura produzida como queda de cabelo, escurecimento da pele, ema-
pela transferência física das células do doador ao re- grecimento ou edema, além das alterações nos seus
ceptor. Membros da equipe não devem minimizar hábitos de vida, tais como a perda ou prejuízo da ca-
o significado simbólico do ato de infusão das cé- pacidade produtiva (no trabalho e na escola), das fun-
lulas, mas aproveitá-lo para influir positivamente no ções sexuais e da fertilidade (como efeito colateral de
ânimo e na colaboração do paciente. algumas modalidades de quimio ou radioterapia), bem
O isolamento protetor (utilizado para proteger o como a perda da independência e de alguns papéis
(
paciente de infecções), os efeitos colaterais da quimio/ sociais 28). Alguns casos podem evoluir para o quadro
radioterapia (náuseas, vômitos, fraqueza, alterações clínico da doença do enxerto-contra-hospedeiro
corporais, mucosite, dentre outros), somados à moro- (DECH), aguda ou crônica, com alta morbi-mortali-
sidade do tratamento e da melhora física, trazem uma dade e prejuízo da qualidade de vida.
realidade de sofrimento emocional, psíquico e físico As dificuldades de adaptação fora do contexto
ao paciente e seus familiares. O paciente precisa do hospitalar impõem a necessidade de uma continuida-
máximo de ajuda possível para que possa cooperar de do cuidado integral, que inclui uma intervenção
com seu próprio tratamento diante dessa experiên- psicológica após a alta da enfermaria. Essa inter-
cia(27). venção ocorre, em nosso contexto, através de suporte
O estresse físico e emocional é desencadeado psicológico fornecido em nível ambulatorial. Esse su-
por diversos fatores. Em primeiro lugar, um tratamen- porte corresponde a atendimentos individuais, que vi-
to tão doloroso, que é suportado pela esperança de sam a manter a continuidade do atendimento da en-
cura, não garante que o sofrimento seja recompensa- fermaria até completados os cem dias pós-TMO. Es-
do ao final, ou seja, o paciente passa por todo o pro- ses atendimentos são realizados ambulatorialmente e
cesso sem a garantia da cura. Essa incerteza colabo- sua freqüência varia em função da necessidade de
ra para o aumento da ansiedade frente aos sintomas cada paciente. Encerrado o período dos cem dias, quan-
desagradáveis e o temor de que o “pior possa aconte- do o paciente geralmente retorna a seu lar, opta-se
cer”. A capacidade de suportar situações de estresse pela alta do atendimento psicológico, pelo retorno livre
metabólico e emocional é muito variável e, muitas ve- (no qual o paciente pode recorrer ao atendimento quan-

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do sentir necessidade) ou por um encaminhamento gicos, bem como a escassez de pesquisas que utilizam
para outro serviço que preste assistência psicológica. técnicas projetivas como métodos de avaliação, inves-
Um paciente fez o seguinte relato, durante um tigamos as condições psicológicas e a qualidade de
atendimento psicoterápico, quando se encontrava pres- vida de dez pacientes adultos submetidos ao TMO no
tes a receber alta da enfermaria, após ser submetido HCFMRP, através de entrevistas, escalas e técnicas
ao TMO: projetivas, considerando dois momentos distintos de
recuperação - adaptação inicial (seis ou sete meses
“Quando entrei no hospital para fazer a pri-
pós-TMO, Grupo 1) e adaptação a médio prazo (21-
meira quimioterapia, senti que precisava escalar
53 meses, pós-TMO, Grupo 2). Todos os pacientes
uma montanha com as mãos. Depois de todo o tra-
realizaram transplante alogênico, sendo seis pacientes
balho que nós realizamos, o grupo, o atendimento
transplantados com diagnóstico inicial de Leucemia
aqui no quarto, o apoio que você deu para a mi-
Mielóide Crônica e quatro pacientes com Anemia
nha mulher, eu senti que pude escalar a mesma
Aplástica Severa. Observou-se um predomínio de bai-
montanha com equipamentos de alpinismo.” (Ge-
xo nível de escolaridade, bem como atividades profis-
raldo, 29 anos, casado, portador de leucemia mielóide
sionais de pouca qualificação, estando a maioria inati-
aguda).
va no momento da avaliação(35).
Esse relato é capaz de demonstrar, em poucas Para a coleta de dados, foram utilizados os se-
palavras, o efeito do suporte psicológico como um ele- guintes instrumentos: a) Questionário de História Vi-
mento coadjuvante no tratamento e na reabilitação tal, abordando dados de identificação, situação clínica
psicossocial do paciente oncológico submetido ao atual, dados familiares e desempenho social;
TMO. Os resultados dos estudos disponíveis ofere- b) Questionário sobre Qualidade de Vida e Recu-
cem evidências empíricas que reforçam a importân- peração, com base nas proposições de Haberman et
cia desse trabalho na melhoria da qualidade de vida al.(36), abordando questões relativas ao estado geral
dos pacientes(29), que inevitavelmente necessitam de de saúde, à execução de atividades diárias, à adapta-
passar por transições psicossociais (30) para ção social e às expectativas quanto ao futuro; c) Ques-
potencializar seus recursos de enfrentamento da nova tionário de Auto-Avaliação - IDATE (Ansiedade
condição introduzida pela enfermidade e seu tratamen- Traço - Estado) - Parte I/II, traduzido e padronizado
to. para o nosso meio por Biaggio et al.(37) ; d) Escala
Multidimensional de Locus de Controle de
3- AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA Levenson, que busca explicar a percepção das pes-
APÓS O TMO soas sobre a fonte de controle dos acontecimentos em
que são envolvidas, tendo sido traduzida e padroniza-
Em geral, as pesquisas realizadas sobre quali- da por Dela Coleta(38); e) Escala de Ansiedade e
dade de vida pós-TMO têm estudado grupos extensos Depressão para Hospital Geral, desenvolvida
de sujeitos avaliados através de instrumentos especí- para estimar a prevalência de transtornos do humor
ficos como escalas, questionários e entrevistas(31/34). em pacientes adultos com afecções físicas, em ambi-
Estes estudos têm apontado para padrões adaptativos entes não psiquiátricos, traduzida e adaptada por
gerais, avaliando principalmente os indicadores exter- Botega et al.(39); f) Técnica de Rorschach, instru-
nos de adaptação, que poderiam refletir as condições mento projetivo que permite uma avaliação mais pro-
internas e os recursos pessoais dos sobreviventes de funda da personalidade. Utilizou-se a nomenclatura
TMO. Não foram encontrados na literatura estudos francesa de Traubenberg(40) e os padrões normativos
que avaliem os recursos pessoais internos para a adap- de Augras(41); g) Técnica do Desenho da Figura Hu-
tação, combinando instrumentos variados, incluindo téc- mana (DFH), conforme as proposições de Van
nicas projetivas. Elas envolvem conteúdos diferencia- Kolck(42). Através da representação gráfica do DFH,
dos que permitem uma compreensão ampla e buscou-se apreender a imagem corporal que pacien-
aprofundada das características de personalidade de tes transplantados de medula óssea possuem de si, bem
pacientes submetidos ao TMO. como identificar suas necessidades e conflitos.
Com base nestes instrumentos de avaliação, pro-
3.1 Técnicas de avaliação(35) cedemos a uma análise dos aspectos psicológicos e
Considerando-se a importância do ajustamento da qualidade de vida dos pacientes, buscando-se com-
desses pacientes sob o enfoque dos recursos psicoló- preender a maneira como os sujeitos, ora analisados,

304
Aspectos psicológicos e psiquiátricos do TMO

têm investido seus recursos pessoais para responder mento e estereotipia, são reforçadas pelos dados da
às complexas demandas do meio frente à situação de história vital. Assim, é possível hipotetizar que faltam aos
TMO. Para atingir estes objetivos, resumiremos a se- sujeitos, ora analisados, elementos para elaboração e
guir as principais contribuições de cada instrumento. integração de tais experiências, observando-se uma
As entrevistas, além de terem favorecido esta- construção emocional frágil, caracterizando a vivência
belecer o vínculo pessoal pessoal com o paciente de uma situação de crise com um certo grau de insa-
(rapport), permitiram o conhecimento, referido pelos tisfação frente a não canalização afetiva das necessi-
sujeitos, da sua história de vida e dos padrões dades. Dessa forma, pode-se supor que, se forem
adaptativos prévios, instrumentando melhor as inter- motivados adequadamente, estes pacientes poderão
pretações das outras técnicas. As escalas, por sua vez, usufruir melhor de sua energia psíquica em favor de
possibilitaram a identificação dos recursos disponíveis uma adaptação mais efetiva com o ambiente, bem como
à capacidade adaptativa dos sujeitos, comparativamen- auferir maior satisfação pessoal. Não se observam,
te aos grupos controles, bem como a identificação de através da técnica de Rorschach, diferenças
dificuldades no momento atual, sugerindo que os pa- marcantes entre os dois grupos estudados (de
cientes com mais tempo pós-TMO se percebem com curto e médio prazos após o TMO), apesar dos
mais recursos de controle sobre os eventos. As téc- dados não terem sido analisados estatisticamente.
nicas projetivas de Rorschach e do desenho da Outro ponto a ser destacado diz respeito à auto-
figura humana destacaram-se como instrumen- imagem. Os estudos relativos aos aspectos clínicos e
tos que permitiram uma compreensão psicossociais em pacientes pós-TMO têm identifica-
aprofundada da personalidade em suas múltiplas do, como áreas principais de deficiência potencial, o
dimensões, como será discutido abaixo. desempenho em atividade física vigorosa e a insatis-
fação com a aparência física(43,44,45). Considerando as
3.2 Análise dos testes projetivos possíveis complicações físicas e psicossociais enfren-
Pode-se observar, através da Técnica de tadas por pacientes pós-TMO, partimos, inicialmente,
Rorschach, que a percepção dos sujeitos frente ao da hipótese de que os pacientes do Grupo 1 apresen-
ambiente tende a ser generalista, com limitações na tariam uma maior alteração na auto-imagem, devido
verificação dos elementos essenciais dos fatos, evi- ao TMO ser mais recente, cuja condição impõe uma
tando que aspectos mais pessoais e indesejados inter- maior vulnerabilidade a infecções e uma certa limita-
firam na sua conduta. É provável que a necessidade ção ao funcionamento físico, associada com altera-
de se estabelecer um contato mais superficial com o ções da aparência pessoal, remanescentes, ainda, do
ambiente esteja relacionada a uma intensa sensibilida- tratamento quimioterápico e imunossupressor. Em
de aos estímulos afetivos intrínsecos, que parecem não contrapartida, os pacientes do Grupo 2 teriam uma
estar sendo elaborados, tendendo, assim, à pouca uti- auto-imagem menos comprometida, pelo fato de, ge-
lização dos recursos pessoais. Esta situação se ex- ralmente, não apresentarem debilidade física e terem
pressa por indicadores que denotam sentimentos de superado as alterações na aparência pessoal. Nesse
angústia e ansiedade frente às situações vitais, acom- sentido, a técnica gráfica do DFH parece confirmar a
panhados por sentimentos de inadequação e descon- hipótese de que os pacientes do Grupo 1 estariam mais
forto emocional, associados a uma franca dificuldade afetados pelo transplante do que os pacientes do Gru-
em se confrontarem com conteúdos conflitivos. po 2, uma vez que os pacientes do Grupo 1 remete-
Como hipótese, pode-se pensar que tal funcio- ram-se a figuras mais jovens, ao representá-las grafi-
namento afetivo esteja associado ao fato de a maioria camente. (Figura 1)(46). Nesse sentido, o distanciamento
dos pacientes aqui avaliados não haverem superado, das vivências atuais e o voltar-se para vivências pré-
por inteiro, o impacto psicológico trazido pela experi- vias - mais presente no Grupo 1 - sugere que o tem-
ência de TMO, a qual, possivelmente intensificou as po constituiu-se em uma variável que interfe-
características prévias de inibição da personalidade re no processo adaptativo, favorecendo-o de
como forma de garantir uma maior capacidade adap- forma a garantir uma auto-imagem mais pre-
tativa. Desse modo, os recursos intelectuais não se servada e integrada nos pacientes com segui-
encontram disponíveis para a criatividade e constru- mento mais longo (grupo 2) e que a represen-
ção, estando voltados, essencialmente, para a manu- tação gráfica da figura humana mostrou-se sen-
tenção do funcionamento da personalidade. Tais limi- sível para refletir estas mudanças clínicas. É
tações, expressas por atitudes de isolamento, fecha- importante destacar ainda que a variável temporal,

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Figura 1: Desenho da figura humana feito pelo paciente B do grupo 1, do sexo masculino, solteiro, com 19 anos de idade e
escolaridade de segundo grau incompleto, procedente do interior da Bahia, vendedor, inativo no momento da avaliação, transplantado
há 6 meses para leucemia mielóide crônica em fase crônica. Neste teste, o paciente é solicitado a desenhar a própria figura e outra
do sexo oposto. Nota-se a predominância de aspectos infantis e imaturos (figuras muito jovens, presença de botões, ênfase no
contorno da roupa), sugerindo a instabilidade do sujeito ao nível de suas vivências mais profundas (figura nas pontas dos pés, linha
do solo acentuada). Apresenta ainda alguns indicadores de conflito, denotando sentimentos de angústia e ansiedade frente a situações
vitais (sombreamento, pernas longas e finas), bem como insatisfação quanto à auto-imagem (sexo oposto desenhado em primeiro
lugar). Mostra dificuldade nos relacionamentos interpessoais (sombreamento e reforço no contorno facial, pupila sem óbita no olho),
experimentando sentimentos de inadequação e dependência (mãos pequenas, queixo bem pronunciado, braços curtos, fracos e
finos, pendentes ao longo do corpo). A integração desta análise sugere uma imaturidade afetivo-social, experimentando frustração
e fraqueza na manipulação do ambiente, o que pode estar relacionado ao impacto da experiência do TMO sobre o seu momento atual
de vida, dificultando o seu amadurecimento. Reproduzida da ref (46).

analisada nesse estudo, sugere que pacientes clinica- TMO como uma restauração completa da saúde, com
mente bem sucedidos trazem, implicitamente, a idéia um retorno conseqüente à normalidade, sugere uma
de terem recursos psicológicos relativamente bem ajus- atitude basicamente defensiva frente à situação de
tados, mas não é possível dissecar a relação de causa ameaça na qual se encontram, em que a negação do
e efeito entre o sucesso do transplante e o ajustamen- risco de mortalidade os protegeria de uma realidade
to psicológico. difícil de aceitar. Nesse sentido, Andrykowski(45) sali-
enta a dificuldade de se avaliar a influência real das
3.3 Análise integrada da qualidade de vida expectativas no processo de se submeter ao TMO,
Na avaliação da qualidade de vida, as expecta- dadas as circunstâncias em que tal decisão é tipica-
tivas dos pacientes, antes da realização do TMO, as- mente feita.
sumem um papel relevante no seu ajustamento psico- O conceito de qualidade de vida precisa ser adap-
lógico(36,45). No presente estudo, pôde-se observar que tado ao contexto social e à história vital de cada paci-
todos os sujeitos - exceto um do Grupo 2 - relataram ente, bem como aos seus recursos potenciais para ob-
expectativas bastante otimistas em relação ao TMO, ter uma maior satisfação pessoal. Nessa perspectiva,
percebendo-o como sua única chance de cura. Entre- buscou-se avaliar a capacidade adaptativa do pacien-
tanto, alguns sujeitos pareceram subestimar o risco te, considerando-se as diferenças individuais, a partir
desse procedimento, ao afirmarem que “nunca tive- das quais foi possível contextualizar o impacto da
ram dúvida” de que ele daria certo. Essa visão do experiência de TMO na vida de cada sujeito, toman-

306
Aspectos psicológicos e psiquiátricos do TMO

do-se como referência a integração das diferentes téc- No presente estudo, a maioria dos pacientes va-
nicas de avaliação. Esta integração foi realizada de lorizava a saúde como o fator mais importante na qua-
acordo com Wellish & Wolcott(47), os quais, visando lidade de vida, reportando problemas reais, como efei-
predizer a adaptação psicológica e o enfrentamento tos colaterais de drogas e complicações do transplan-
no processo de TMO, desenvolveram medidas siste- te e o medo de recidiva da doença ou de uma sobrevi-
máticas para classificar o ajustamento psicossocial dos da mais curta, como decorrência do tratamento. Nes-
pacientes em três níveis, bom (nível I), regular (nível se sentido, a análise integrada dos dados sugeriu que
II) e pobre (III) (Tabelas II e III). o impacto negativo do TMO é mais atribuído à

Tabela II- Níveis de Ajustamento Psicossocial de Pacientes Pós-TMO*

Características Nível I Nível II Nível III


Psicossociais Bom Regular Pobre
1- História Nenhuma Alguma história de depressão, História de dependência
psiquiátrica ansiedade ou trauma; traços de química; perdas múltiplas ou
anterior distúrbio de personalidade; significativas; grave distúrbio
alguma história de perda de personalidade; grave
significativa. distúrbio de ansiedade ou
fobias;depressão maior.
2- Qualidade de De bom a excelente: De bom a regular: alguma Disfuncional: envolvimento
suporte membros da família/ meio dificuldade de separação; algum limitado; conflitos intensos; foco
familiar/ social social presentes e conflito e problemas de nas necessidades individuais
disponíveis; dispostos a dependência. dos familiares às custas do
reconhecerem as paciente.
necessidades do paciente.
3- História prévia De boa a excelente: De boa a regular: alguma De regular a pobre:
de enfrentamento capacidade de adaptação aos flexibilidade no repertório de descompensação em situações
problemas e mudanças; enfrentamento, ou seja, algumas de estresse; padrões
repertório de variações nas respostas de negativistas; estilo rígido;
comportamentos de enfrentamento, com limitações história de comportamentos
enfrentamento. gerais; algum padrão negativista auto-destrutivos; repertório
de respostas em situações de pobre de enfrentamento;
estresse respostas impulsivas ou
agressivas.
4- Enfrentamento Resolução de sentimentos Negação; ambivalência na Negação extrema; confusão no
da doença e relacionados ao diagnóstico; escolha do tratamento. curso da doença; grave
tratamento considerar opções de ambivalência quanto ao
tratamento baseando-se na tratamento.
realidade.
5- Qualidade do Sentimentos de medo e Sentimentos de medo e Ansiedade generalizada;
afeto tristeza apropriados; alguma ansiedade moderados; depressão moderada ou
ansiedade. depressão moderada. severa; intensos sentimentos
de medo e raiva.
6- Estado mental Nenhum prejuízo cognitivo; Alguma história, passada ou Distúrbio global das funções
(passado e ciclo de sono preservado; atual, de prejuízo na função cognitivas
presente) nível normal de atividade. cognitiva, atenção, ciclo de sono, (percepção, pensamento,
nível de atividade, memória, orientação); atenção;
responsividade. ruptura severa do ciclo de
sono; nível de atividade
aumentado ou reduzido
(movimentos, fala).
7- Predisposição Nenhuma Moderada ou alta; ansiedade tem Grave ansiedade antecipada;
para ansiedade início no dia da quimioterapia/ náuseas e vômitos começam
antecipada irradiação. antes do dia de quimioterapia/
irradiação.
*Adaptada da ref. 47

307
JOB Contel; A Sponholz Jr; LM Torrano-Masetti; ÂC Almeida; ÉA Oliveira; JS Jesus; MA Santos; SR Loureiro & JC Voltarelli

Tabela III – Análise integrada dos níveis de ajustamento psicossocial ao transplante de medula óssea

Níveis de ajustamento
Características psicossociais Nível I Nivel II Nivel III
Bom Regular Pobre

1. História psiquiátrica anterior B , C* A, D, E -


3, 5 1, 2 4

2. Qualidade de suporte familiar/social C, B, E D A


1, 3, 5 4 2

3. História prévia de enfrentamento E A, B, C, D -


5 1, 3 2, 4

4. Enfrentamento da doença e tratamento E B, D A, C


4, 5 1, 2 3

5. Qualidade do afeto - B, C, D, E A
- 1, 2, 4, 5 3

6. Estado mental (passado e presente) B, C, D, E - A


1, 3, 5 2 4

7. Predisposição para ansiedade B, C D, E A


antecipatória
2 1, 3, 5 4

*Casos A-E: 6-7 meses pós-TMO (Grupo 1) Casos 1-5: 21-53 meses pós-TMO (Grupo 2)

sua repercussão sobre a atividade física e fun- importância que o trabalho exerce na reinserção soci-
cionalidade do paciente, em decorrência da re- al e no sentimento de identidade pessoal, lembrando
dução do nível de energia, força e vigor, en- que todos os pacientes estudados neste trabalho eram
quanto as relações sociais e afetivas, por sua do sexo masculino, onde ocorre uma maior cobrança
vez, não são apontadas pela maioria como uma de atividade remunerada, relacionada ao papel de pro-
área de dificuldade. Assim, a auto-avaliação da qua- vedores de suas famílias. Ao trabalho também é facul-
lidade de vida atual parece centrar-se nos aspectos tada a possibilidade de uma organização da dinâmica
físicos, em detrimento dos aspectos psicossociais. Tal psicológica interna(48), constituindo um aspecto funda-
atitude, provavelmente, está associada à própria con- mental no processo de adaptação, representando, para
cepção de que esses pacientes têm a cerca do que alguns sujeitos, na condição de engajar-se num relaci-
vem a ser qualidade de vida, lembrando que a condi- onamento afetivo, o que sugere que a auto-estima tam-
ção sócio-econômica da maioria é bastante precária, bém está associada a uma atividade produtiva e remu-
mesmo antes do surgimento da doença, provavelmen- nerada. Nesse contexto, a preocupação, relatada pe-
te favorecendo a percepção da qualidade de vida, de los sujeitos, referente ao trabalho e à situação econô-
forma restrita, resumindo-se a ter saúde física. mica, é um dado que converge com os da literatura,
É possível que a não retomada das atividades onde pesquisas realizadas com pacientes pós-TMO
profissionais após o transplante, documentada na mai- descrevem, como um dos significados do termo "qua-
oria dos sujeitos, que se encontrava ociosa e não bus- lidade de vida", o de ser capaz de trabalhar e obter
cava tarefas alternativas, reforce o sentimento de de- sucesso financeiro(36,45,47,49), enfatizando-se ainda o fato
pendência dos familiares. Deve-se ressaltar, ainda, a de a qualidade de vida estar diretamente relacionada à

308
Aspectos psicológicos e psiquiátricos do TMO

conservação de papéis sociais(17). Por outro lado, é e dinâmico, observando-se, como principal dificuldade
interessante notar que a maioria dos sujeitos não se dos sujeitos, a expressão de suas emoções de forma
reportam às atividades recreativas enquanto um as- franca e direta. Todavia, apresentaram indícios su-
pecto básico na qualidade de vida; sendo possível su- gestivos de uma de personalidade preservada,
por, pela baixa condição sócio-econômica do grupo possibilitando-lhes efetuar esforços de adapta-
estudado, que essas atividades não eram uma preocu- ção. De um modo geral, dentro dos limites da casuís-
pação premente, mesmo antes da realização do TMO. tica e dos instrumentos de avaliação, pode-se concluir
Quanto aos recursos de enfrentamento pós- que, através de uma análise integrada de diferentes
TMO, a maioria dos sujeitos mostrava um estilo mais testes de avaliação psicológica, foi possível caracteri-
voltado à aceitação passiva dos limites impostos pelo zar o padrão atual de adaptação de pacientes pós-TMO
tratamento, com atitudes de resignação sobrepon- como diretamente relacionado aos recursos adaptativos
do-se a atitudes de luta. No entanto, pode ser ob- prévios. Além disso, frente ao impacto do TMO, os
servada também uma postura de colaboração ativa mecanismos defensivos com base na inibição e
e uma boa adesão ao tratamento, bem como senti- restrição foram exacerbados como forma de ajus-
mentos de otimismo e esperança associados a uma te, possivelmente protegendo os pacientes de
avaliação positiva do TMO, o que pode ser um pre- outras vivências mobilizadoras de ansiedade e
núncio de boa adaptação. estresse. Nesse sentido, os dados obtidos podem fa-
A adaptação social dos pacientes avaliados pa- cilitar práticas de intervenção e orientação que propi-
rece efetivar-se pela superficialidade dos contatos in- ciem uma melhor qualidade de vida aos pacientes sub-
terpessoais, evitando um envolvimento pessoal, ativo metidos ao transplante de medula óssea.

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ABSTRACT: The intensity and complexity involved in all levels of bone marrow transplantation
(BMT) causes profound psychological effects on the patient, family and professional team. Ignoring
this fact and reducing BMT issues to purely technical aspects may be catastrophical to the patients
and his/her family and may challenge the survival of the program. In this work, three very important
aspects of mental health in BMT are discussed: 1) multiple roles played by psychiatric assistance
in BMT, from drug prescription through support of the team by group reflexion; 2) an analysis of
emotions experienced by BMT patients in the different phases of transplantation (pre, intra- and
post-) under the perspective of hope for cure ; 3) an evaluation of quality of life of patients submitted
to BMT at medium and long terms, integrating various psychological instruments including
projective techniques.

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