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FLUXO DE CARGA EM REDES CA

4.1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo será abordado o problema de fluxo de carga em regime permanente. Na


representação do sistema nesse tipo de problema, supõe-se, em geral, que a rede seja mod-
elada pela matriz Ybus. Adicionalmente, as cargas do sistema são conhecidas. Embora
seja uma abordagem determinística, a precisão dos resultados é aceitável.
Na realidade, a carga no sistema apresenta variação aleatória e por essa razão o que
se conhece são seus valores estimados médios para determinadas horas do dia. Por essa
razão, tais elementos podem ser interpretados como perturbações para o sistema.
As unidades geradoras fornecem potência para suprir as cargas e as perdas no sis-
tema. São, assim, elementos que atuam no sentido de assegurar o equilíbrio de potência
em cada barramento. Quando isso não é possível, torna-se necessário desconectar car-
gas a fim de restabelecer o equilíbrio. Em função dessas características, equipamentos
associados à geração de energia exercem a função de controle no sistema.
As tensões no sistema dependem de uma série de fatores e devem ser mantidas próx-
imas aos valores nominais a fim de manter o adequado funcionamento dos equipamentos,
em geral. Portanto, o controle das tensões, bem como o fluxo pelos equipamentos, devem
ser observados como parte fundamental na análise de um sistema em regime permanente.
A magnitude e a fase da tensão devem ser ajustadas, em cada barramento com a finalidade
de tornar possível a operação do sistema dentro de parâmetros satisfatórios. Essas duas
variáveis são os denominados estados do sistema, sendo essas grandezas objeto de ajuste
em problemas de fluxo de carga, considerando essencialmente

• o balanço de potência em cada barra;

• as restrições e a disponibilidade operacional dos equipamentos;

• o tipo de elemento conectado à barra (carga ou geração).

51
52 4. FLUXO DE CARGA EM REDES CA

4.2 DETERMINAÇÃO DAS EQUAÇÕES DO FLUXO DE CARGA

Considere que uma corrente I k seja injetada na barra k devido à presença de uma fonte
de potência nessa barra. A Figura 4.1 ilustra esse fato. Para essa situação, a potência que
é injetada se distribui pelas interligações km e k j conectadas à barra para que ocorra o
equilíbrio de potência, e, conseqüentemente atenda à lei de Kirchhoff de corrente nessa
barra.

Figura 4.1 Injeção de potência na barra k

Considere que as interligações com a barra k sejam linhas de transmissão - esta


hipótese vale também para outros tipos de equipamentos. Então a corrente que é injetada
pode ser calculada a partir da matriz Ybus, pegando-se a k-ésima linha dessa matriz e
multiplicando-a pelo vetor de tensões de barra. Isto é equivalente ao seguinte resultado:

NB
Ik = ∑ Y kmV m (4.1)
m=1

onde m no somatório somente deve ser computado, caso exista uma barra m que tenha
ligação com a barra k . Caso cotrário, a admitância Y km = 0.
4.2. DETERMINAÇÃO DAS EQUAÇÕES DO FLUXO DE CARGA 53

A equação (4.1) pode ser colocada em uma outra forma, a qual é mais adequada
para ser utilizada no cálculo da potência injetada na barra. Ou seja:
NB
Ik = ∑ (Gkm + jBkm)Vm∠θm (4.2)
m=1

onde Y km foi desmembrado nas suas respectivas componentes real e imaginária e a tensão
de barra foi colocada na sua forma complexa polar Vm ∠θm .
A injeção de potência na barra k é:

NB
∑ (Gkm − jBkm )Vm∠ − θm,

Sk = V k I k = V k k = 1, . . . , NB (4.3)
m=1

A expressão anterior pode ser rearranjada, ficando:

NB
Sk = Vk ∑ (Gkm − jBkm )Vm∠(θk − θm ), k = 1, . . . , NB (4.4)
m=1
resultando em

NB NB
Sk = Vk ∑ Vm [Gkm cosθkm + Bkmsenθkm ] + jVk ∑ Vm [Gkm senθkm − Bkmcosθkm ] (4.5)
m=1 m=1

onde θkm = θk − θm é a abertura angular entre as barras k e m .


Da expressão (4.5), separando as partes real e imaginária de Sk = Pk + jQk , tem-se
as seguintes parcelas das potências ativa e reativa:

NB
Pk = Vk ∑ Vm [Gkmcosθkm + Bkm senθkm] (4.6)
m=1
NB
Qk = Vk ∑ Vm [Gkmsenθkm − Bkm cosθkm] (4.7)
m=1

A potência injetada Sk é a composição de uma demanda de carga na barra, SCk ,


e/ou de geração, SGk , tendo como resultado, então, a potência líquida Sk = SGk − SCk , já
comentada antes.
Essa relação com a potência injetada na barra é importante para o entendimento a
respeito dos tipos de barras que será visto a seguir.
54 4. FLUXO DE CARGA EM REDES CA

4.3 TIPOS DE BARRAS

As injeções de potência em uma barra k podem ser explicadas pela introdução de duas
variáveis Pk e Qk , que dependem das tensões das barra k e daquelas as quais essa barra
apresenta conexão. Em uma barra k pode haver tanto geração, quanto carga. Então, a
composição das potências pode ser interpretada como contribuições desses dois tipos de
injeção de potência. Para o caso de geração, a potência é convencionada como positiva.
Ao contrário, para a carga, que é um elemento que sempre absorve potência ativa, a
injeção é considerada negativa. Assim, na situação de uma barra que apresenta geração e
carga, a potência injetada na barra k é Pk = PGk − PCk , onde PGk é a potência ativa gerada e
PCk é a potência ativa absorvida pela carga. Por exemplo, se em uma barra dessa natureza
há geração de 50 MW e uma carga de 30 MW, a potência injetada na barra é +20 MW. O
mesmo raciocínio é aplicado ao caso da potência reativa. Ou seja, Qk = QGk − QCk , onde
QGk é a potência reativa gerada e QCk é a potência reativa absorvida pela carga (no caso
da carga ser capacitiva, ela fornece potência reativa para a barra e neste caso QCk < 0).
As equações básicas para o fluxo de carga são aquelas definidas em (4.6) e (4.7).
Como para cada barra só é possível tirar duas equações e o número de incógnitas
é superior a esse limite, algumas incógnitas na barra são fixadas, deixando evidente a
necessidade de caracterizar cada barra do sistema, conforme será definido mais adiante.
Para análise de um sistema elétrico de potência em regime permanente, são necessários
alguns dados básicos.

• Dados da rede - parâmetros de linhas de transmissão e de transformadores (R, X,


bsh , tap, potência nominal de transformadores e topologia da rede).

• Dados de carga - potência ativa e reativa de cargas em todos os barramentos (quando


não há carga, esses parrâmetros são nulos).

• Dados de geração - despacho de geração e tensão que se estabelece para o controle


da tensão da barra onde está o gerador ou outra indicada pelo usuário.

• Dados de barra - tensões nominais de todas as barras e outras informações de inter-


esse.

Para caracterizar a topologia da rede é necessário apresentar apenas os dados de se-


qüência positiva, pois tem-se interesse nos resultados considerando uma rede equilibrada.
A solução das equações básicas do fluxo de carga permite obter:
4.3. TIPOS DE BARRAS 55

• Tensões em toda a rede.

• Ajuste de taps dos transformadores.

• Carregamentos dos equipamentos e interligações.

• Perdas ativa e reativa.

• Potência reativa fornecida ou absorvida pelos geradores.

É usual em um sistema elétrico de potência se dividir as barras em três tipos, em


função de duas das variáveis que devem ser especificadas.

BARRA tipo 1 ou de carga ou PQ - são fixadas a potência ativa e reativa da carga. São
calculadas a magnitude da tensão de barra e a fase. Em cada barra de carga são
obtidas duas equações.

BARRA tipo 2 ou de geração ou PV - são fixads a potência ativa do gerador e a magni-


tude da tensão. A fase da tensão é a incógnita que se calcula. Nesse tipo de barra é
obtida uma única equação.

BARRA tipo 3 ou swing ou V θ - são fixadas a magnitude da tensão e a fase. Assim,


nenhuma equação deve ser utilizada para fins de cálculo das tensões de barra.
Adota-se uma única barra swing em um sistema síncrono. É o gerador localizado
nessa barra que absorve os desvios de potência necessários para atender a rede.
Por isso, essa barra deve ser escolhida de modo que nela haja uma usina que tenha
elevada disponibilidade de potência.

Seja o caso em que um sistema elétrico apresente 100 barras, das quais 70 são de
carga. Neste caso, a quantidade de equações necessárias para calcular todas as tensões no
sistema será 2 × 70 + 29 = 169.
Caso em uma mesma barra do sistema houver geração e carga, e a tensão nessa barra
é controlada pelo gerador (magnitude constante), então essa barra é caracterizada como
de geração. Os valores da potência ativa e reativa da carga devem ser convenientemente
agregados aos respectivos valores de potência de geração.
56 4. FLUXO DE CARGA EM REDES CA

4.3.1 Aplicação ao Problema de Fluxo de carga

considere o exemplo descrito a seguir.

EEMPLO 4.5.1
O sistema abaixo de três barras (Figura 4.2) opera em regime permanente. Apre-
sente as equações do problema do fluxo de carga e indique as variáveis que devem ser
calculadas em cada barra, considerando tensões e potências injetadas na barra. Os da-
dos do sistema são fornecidos a seguir. Impedância das interligações: z12 = j0, 1 pu;
z23 = 0, 05 + j0, 10 pu. Dados das cargas - carga 2: 50 MW e 30 MVar indutivo; carga 3:
60 MW e 30 MVar indutivo. Geração ativa fixada na barra 3 em 80 MW, operando com
1,05 pu. A barra 1 é a swing e sua tensão é fixada em 1,0 pu e fase 0o . Considere base
100 MVA de potência.

Figura 4.2 Sistema exemplo com três barras

SOLUÇÃO
1
As admitâncias da interligação são: g12 = j0,1 = − j10 pu e g23 = 0,05+1 j0,1 = 4 −
j8 pu. Não foi indicado nenhuma admitância shunt. Logo é possível montar a matriz
de admitância nodal com apenas as duas admitâncias das duas interligações. Além dos
elementos próprios Y11 , Y22 , e Y33 , a matriz YBUS terá os seguintes elementos não-nulos:
Y12 e Y23 . O cálculo desses elementos ocorre como segue.
4.3. TIPOS DE BARRAS 57

Y11 = − j10 pu; Y22 = − j10 + (4 − j8) = 4 − j18 pu; Y33 = 4 − j8 pu

Y12 = j10 pu; Y23 = −4 + j8 pu

Descreve-se agora o procedimento para obtenção das equações e incógnitas de in-


teresse. Inicialmente, o objetivo é calcular a magnitude e a fase da tensão, em cada barra
do sistema, a menos daquelas grandezas já fixadas.
Barra 1: é a barra swing do sistema. Por essa razão devemos especificar a magni-
tude e fase da tensão. Neste caso, V 1 = 1, 0∠0o. Portanto, nenhuma equação precisa ser
gerada para fins de cálculo de tensão.
Barra 2: é uma barra de carga. É especificada tanto a potência ativa, quanto a
potência reativa da carga. Precisa ser gerado um conjunto de duas equações de balanço
de potência. A barra contribui com as incógnitas magnitude da tensão V2 e a fase θ2 .
Barra 3: é uma barra de geração. Neste caso, é especificada a potência ativa e a
magnitude da tensão V3 . Embora uma carga esteja ligada na barra, a tensão nessa barra
é controlada pelo gerador, caracterizando assim uma barra de geração. A injeção de
potência ativa na barra é P3 = PG3 − PC3 . Como a magnitude da tensão nesse tipo de barra
é fixada, a única incógnita a ser determinada é o ângulo θ3 da tensão. Desse modo, uma
única equação nessa barra é formada.
As equações para o sistema do exemplo são as seguintes:
Barra 2

− PC2 = V2V2 (G22 ) +V2V1 (G21 cosθ21 + B21 senθ21 ) +V2V3 (G23 cosθ23 + B23 senθ23 )
(4.8)
− QC2 = V2V2 (−B22 ) +V2V1 (G21 senθ21 − B21 cosθ21 ) +V2V3 (G23 senθ23 − B23 cosθ23 )
(4.9)
Barra 3

PG3 − PC3 = V3V3 (G33 ) +V3V2 (G32 cosθ32 + B32 senθ32 ) (4.10)

Para a situação dos dados fornecidos no exemplo, temos as seguintes equações:


Barra 2

− 0, 5 = 4V22 +V2 × 1, 05(−4cosθ23 + 8senθ23 ) +V2 × 1(0 × cosθ2 + 10senθ2 ) (4.11)

− 0, 3 = 18V22 +V2 × 1, 05(−4senθ23 − 8cosθ23 ) +V2 × 1(0 × senθ2 − 10cosθ2 ) (4.12)


58 4. FLUXO DE CARGA EM REDES CA

Barra 3

0, 8 − 0, 6 = 4 × 1, 052 + 1, 05 ×V2 (−4cosθ32 + 8senθ32 ) (4.13)

Diante dos resultados anteriores, obtém-se um sistema de equações não-linear com


três equações e três incógnitas. O sistema de equações é o apresentado a seguir.

− 0, 5 = 4V22 − 4, 2V2 cos(θ2 − θ3 ) + 8, 4V2 sen(θ2 − θ3 ) + 10V2 senθ2 (4.14)


−0, 3 = 18V22 − 4, 2sen(θ2 − θ3 ) − 8, 4V2 cos(θ2 − θ3 ) − 10V2 cosθ2 ) (4.15)
0, 2 = 4, 41 − 4, 2V2cos(θ3 − θ2 ) + 8, 4V2 sen(θ3 − θ2 ) (4.16)

Evidentemente, a solução do sistema de equações (6.1) a (6.3) não é trivial, visto


que se trata de sistema não-linear. Para solucioná-lo, são utilizados métodos iterativos,
onde o mais empregado é o método de Newton-Raphson. Mesmo esse método precisa
de uma solução inicial adequada (ponto de partida inicial) para que o resultado convirja
para uma solução. A convergência pode vir a falhar para esse "chute"inicial. Aconte-
cendo tal situação, pode-se tentar um outro ponto inicial. Não havendo convergência,
ou o ponto de partida está muito distante da solução que se almeja, ou simplesmente a
convergência é inviável. Nessa situação, pode ser que o sistema esteja inadequadamente
ajustado, ou parâmetros incorretos para o sistema em análise estão sendo utilizados. Por
exemplo, passagem de fluxo de potência por um transformador ou linha cuja capacidade
foi exageradamente ultrapassada (sobrecarga excessiva).
Um ponto de partida usualmente adotado para as tensões nos barramentos é o que
considera magnitude 1,0 pu nas barras de carga (flat starting) e fase 0o . Uma outra alter-
nativa utilizada é considerar algumas iterações que servem como refinamento do ponto de
partida inicial. O método utilizado nesse caso é o de Gauss-Seidel. O resultado do proced-
imento iterativo do método de Gauss-Seidel é utilizado pelo método de Newton-Raphson
como ponto de partida.
Na seção que se segue será vista a técnica de Newton-Raphson para a solução de
um sistema não-linear de equações e em seguida a sua aplicação ao problema de fluxo de
carga.
4.3. TIPOS DE BARRAS 59

EXERCÍCIOS PROPOSTOS

1) Considere um transformador trifásico com tap no lado de baixa tensão, cuja


potência nominal é igual a 300 MVA e que apresenta nominalmente relação de tensões
de linha 13,8kV/500kV. A sua reatância para o tap nominal é igual a 8 % na base do
transformador. Considerando uma base de potência igual a 100 MVA e 13,8 kV no lado
de baixa tensão, responda os itens a seguir.
a) Calcule o modelo equivalente do transformador, em pu da base apresentada, con-
siderando que o tap foi ajustado para operar 12 % abaixo da tensão nominal. Neste caso,
se o transformador operar a vazio, e for aplicada uma tensão de 13,2 kV no lado de baixa
tensão, determine a tensão no lado de alta.
b) No item a), calcule a corrente no lado de baixa tensão e a tensão de operação
necessária para alimentar uma carga conectada no lado de alta com tensão nominal, que
absorve potência ativa igual a 200 MW com fator de potência indutivo igual a 0,92.
c) Refazer os itens a) e b) considerando que o tap do transformador foi ajustado para
operar 10 % acima do seu valor nominal.
2) Considere que três barras em um sistema que opera em 60 Hz estão interconec-
tadas da seguinte forma: entre a barra 1 e 2, existe uma linha de transmissão cujos
parâmetros são R=0,05 ohm/km, X=0,2 ohm/km e C=0,5 nF/km. Entre a barra 2 e a
3, foi conectado o transformador descrito no problema 1, com o tap ajustado em 10 %
acima do valor nominal. Considerando que em todas as barras exista uma carga conec-
tada, responda os itens a seguir.
a) Considere que a linha apresenta valores nominais para a tensão de 500 kV e
que tem 150 km. Supondo uma base comum de tensão 13,8 kV no lado de baixa do
transformador e de potência igual a 100 MVA, determine o circuito elétrico equivalente
da rede elétrica em pu da base fornecida.
b) Considere as informações do item a) para responder os subitens que se seguem.
b.1) Determine a matriz de admitância nodal (Ybus) do sistema elétrico.
b.2) Determine a capacidade máxima de transmissão da linha de transmissão e do
transformador.
b.3) Considerando que a linha apresenta tensão nominal nas duas extremidades,
calcule a potência reativa que ela gera nessas condições.
b.4) Suponha que as tensões nos barramentos são as seguintes: barra 1, 500 kV e
fase -35 graus; barra 2, 520 kV e fase -12 graus; barra 3, 13,4 kV e fase igual a 2 graus.
Calcule as distribuições de fluxo de potência ativa e reativa no transformador e na linha.
60 4. FLUXO DE CARGA EM REDES CA

Determine as correntes que saem de cada equipamento nessa condição de operação.


Considere o sistema elétrico esboçado na Figura 4.3 para responder os exercícios
adiante.

Figura 4.3 Sistema exemplo com seis barras

Os dados do sistema são os seguintes:

• Transformador T1: 150 MVA, x = 10%. Este transformador apresenta tap;

• Transformador T2: 100 MVA, x = 10%

• LT1: R = 2 Ω, C = 100 nF, reatância série X = 18 Ω;

• LT2: R = 1 Ω, C = 0, reatância série X = 8 Ω;

• LT3: R = 0, 5 Ω, C = 0, reatância série X = 4 Ω;

• Carga da barra 3: 90 MW e 40 MVar indutivo

• Carga da barra 4: 60 MW e 30 MVar capacitivo


4.3. TIPOS DE BARRAS 61

• O gerador G1 está conectado à barra swing e apresenta tensão V = 1 pu e fase zero


graus. O gerador G2 opera com V = 1, 02 pu e fornece potência ativa de 70 MW.

Suponha que o sistema funcione à freqüência de 60 Hz e considere base de potência


igual a 100 MVA para conversão dos dados em pu.
3) Considerando o transformador T1 operando com tap nominal, determinar:
a) as grandezas e parâmetros em pu da rede. Adote tensão base igual a nominal em
todas as barras.
b) a matriz de admitância de barra (Ybus) para o sistema.
c) as tensões de operação (magnitude e fase) em cada barra do sistema;
d) as potências ativa e reativa fornecidas pelos geradores, bem como os fluxos ativo
e reativo na entrada de cada linha e de cada transformador.
Considerar a representação em pu do sistema obtida no item a) para desenvolvi-
mento dos cálculos.
4) Repetir os cálculos do exercício 3), mas agora considerando outras duas situações
de operação do transformador T1 (supostas dentro da faixa de taps mínimos e máximo):
a) tap ajustado em 0,95 pu;
b) tap ajustado em 1,03 pu.
5) Calcular a capacidade máxima de transmissão da linha 2, considerando apenas
sua reatância e tensões nominais nas suas duas extremidades.
62 4. FLUXO DE CARGA EM REDES CA

4.4 O MÉTODO DE NEWTON-RAPHSON

Considere um conjunto de equações do tipo:

f1 (x1 , x2 , ..., xn) = 0


f2 (x1 , x2 , ..., xn) = 0
..
.
fn (x1 , x2 , ..., xn) = 0

O mesmo conjunto de equações pode ser colocado em uma forma matricial como:

f (x) = 0 (4.17)

A expressão de f (x) na equação (4.17) pode ser expandida em uma série de Taylor
em torno de um ponto de operação x(0) . Considere nessa aproximação apenas a parte
linear, sendo, portanto, desprezados os termos de ordem superior da série. Assim, a
expressão (4.17) é apresentada como:

∂ f (x)
f (x(0) + ∆x) ≈ f (x(0) ) + | (0) ∆x = 0 (4.18)
∂x x

∂ f (x)
O termo ∂ x |x(0) na equação (4.18), quando f (x) é uma função multivariável, é
uma matriz quadrada n × n denominada matriz Jacobiana.
Calcular as raízes da equação (4.17) consiste em se determinar incrementos ∆x na
equação linear (4.18), em um processo iterativo, cujo ponto de partida é x(0) .
O método de Newton-Raphson possibilita o cálculo das raízes do conjunto de equações,
a partir do ponto x(0) , que é inicialmente estipulado pelo usuário. Caso a função em x(0)
seja nula, o ponto x(0) é o próprio conjunto solução de (4.17). No entanto, tal chute di-
ficilmente acontece dessa forma. O mais provável é que f (x(0) ) seja diferente de zero.
O valor f (x(0) ) é chamado de resíduo (mismatch). Se ele for diferente de zero, pode ser
utilizado para o cálculo futuro do desvio ∆x da raiz em relação ao ponto x(0) , suposto
anteriormente como raiz. Então, uma raíz atualizada é calculada em um novo ponto de
operação, designado como x(1) , a partir do cálculo de x(1) = x(0) + ∆x(0) . Caso nova-
mente o valor absoluto do resíduo f (x(1) ) resulte não-nulo, e uma determinada tolerância
foi alcançada, nova iteração deve ser efetuada. Agora, considerando x(1) como ponto
de operação. Desse modo, um novo ponto de operação x(2) seria buscado através de
x(2) = x(1) + ∆x(1) . O procedimento continua até que uma soluçaõ seja encontrada ou o
método divirja, mediante observação de critéiro de parada do algoritmo, o qual pode ser
monitorado através do valor absoluto do resíduo do maior elemento de f (x), durante a
4.4. O MÉTODO DE NEWTON-RAPHSON 63

iteração. Ou monitorando-se a convergência por meio do valor absoluto do desvio ∆x,


também em cada iteração.
Em resumo, o método de Newton-Rapson consiste em se efetuar os seguintes pas-
sos:

i) estabelecer um ponto de operação inicial x(0) , fixar k = 0 (k é um contador


de iterações) e definir uma tolerância de convergência ε > 0, suficiente-
mente pequena;
ii) calcular o valor da função f (x(k) ) da iteração k;
iii) caso a norma de f (x(k) ) seja inferior a uma tolerância ε , o processo con-
vergiu e x(k) representa a solução de (4.17) e o processo iterativo é con-
cluído. Caso contrário, ir para o passo iv).
iv) calcular o incremento ∆x(k) por meio da expressão (4.18) da seguinte
forma:  −1
∂f
∆x = −
(k)
|x(k) f (x(k) )
∂x
e determinar x(k+1) como

x(k+1) = x(k) + ∆x(k)

v) verificar se δ = ||x(k+1) − x(k) || < ε . Caso isto ocorra, x(k) é admitida


como raíz e o processo iterativo pára. Senão, incrementar k e retornar
ao passo ii), se o número de iterações estabelecido pelo usuário não foi
ultrapassado.
h i
(k) (k) (k) T
A norma euclidiana de um vetor de dimensão n (ou seja, x = x1 x2 ... xn ,
q
(k) (k) (k) (k)
onde xi é um elemento do vetor) é dada por ||x||2 = (x1 )2 + (x2 )2 + ... + (xn )2 .
Antes da aplicação do método de Newton-Raphson ao problema de fluxo de carga,
considere um exemplo que consiste em se determinar a solução de um sistema não-linear
de equações que é representado pelas equações a seguir.

f1 (x1 , x2 ) = 10x21 − 10x1 cos(x2 ) + 0, 5 = 0


f2 (x1 , x2 ) = 10x1 sen(x2 ) + 0, 3 = 0

Para esse sistema de equações, supõe-se como ponto de partida para o método de
(0) (0)
Newton-Rapson x1 = 1 e x2 = 0. O valor de x2 , para efeito de cálculo, deve ser con-
siderado em radianos. Ou seja o vetor inicial é x(0) = [1 0]T . Os valores das funções no
ponto x(0) são f1 (x(0) ) = 0, 5 e f2 (x(0) ) = 0, 3. Logo, o resíduo f (x(0) ) é diferente de zero.
64 4. FLUXO DE CARGA EM REDES CA

Deve-se buscar uma nova aproximação para a raíz, utilizando a equação (4.18). Para
essa finalidade, é necessário calcular a matriz Jacobiana. Essa matriz para as equações
referentes a f1 (x) e f2 (x) é:

  " ∂ f1 (x) ∂ f1 (x)


#
∂ f (x) ∂ x1 ∂ x2
J= = ∂ f2 (x) ∂ f2 (x)
∂x ∂ x1 ∂ x2

Considerando o exposto, a matriz Jacobiana para o nosso exemplo será:


   
∂ f (x) 20x1 − 10cos(x2 ) 10x1 sen(x2 )
=
∂x 10sen(x2) 10x1 cos(x2 )

A avaliação de J no ponto inicial x(0) ,


   
∂ f (x) 10 0
J= =
∂x 0 10

Diante desse resultado, ∆x(0) = −J −1 f (x(0) ). Então

   −1    
∆x1 10 0 0, 5 −0, 05
=− =
∆x2 0 10 0, 3 −0, 03

(1) (1)
Assim, encontra-se x1 = 1, 0 + (−0, 05) = 0, 95. A outra variável será x2 = 0, 0 +
(−0, 03) = −0, 03. Busca-se então reavaliar a função f (x) nesse novo ponto de operação.
(1) (1)
Verifica-se que nessa nova condição, f1 (x1 ) = 0, 0293 e f2 (x1 ) = 0, 015. Esses dois
valores são diferentes de zero. Desse modo, o processo iterativo deve continuar, porque a
tolerância esperada não foi atingida.
Deve-se calcular a nova Jacobiana, considerando agora o ponto x = [0, 95 − 0, 03]T .
A nova matriz Jacobiana é:
 
9, 0045 −0, 2850
J=
−0, 3000 9, 4957

O incremento em x para essa iteração será:

   −1    
∆x1 9, 0045 −0, 2850 0, 0293 −0, 0033
=− =
∆x2 −0, 3000 9, 4957 0, 0150 −0, 0017
4.4. O MÉTODO DE NEWTON-RAPHSON 65

(2)
Assim, os valores atualizados das variáveis são: x1 = 0, 95 + (−0, 033) = 0, 9467
(2)
e x2 = −0, 03 + (−0, 0017) = −0, 0317. Recalculando os valores de f (x) nesses novos
valores, são encontrados: f1 (x) = 1, 21 × 10−4 e f2 (x) = 5, 62 × 10−5 . Observe-se que
esses valores já são inferiores em relação a uma tolerância ε = 10−3 , mesmo considerando-
se o pior resíduo. Por outro lado, efetuando-se nova iteração, será obtido um refinamento
 T
que resulta em ∆x = −0, 13 × 10−4 − 0, 064 × 10−5 , que leva a um valor de x com
maior precisão.
Seja novamente o conjunto de equações não-lineares resultante do fluxo de carga no
sistema de três barras abordado antes, considerando o despacho de geração dos geradores
e das cargas.
As funções f (x) associadas ao sistema de três barras são:

f1 (x) = 4V22 − 4, 2V2 cos(θ2 − θ3 ) + 8, 4V2 sen(θ2 − θ3 ) + 10V2 senθ2 + 0, 5


f2 (x) = 18V22 − 4, 2V2 sen(θ2 − θ3 ) − 8, 4V2 cos(θ2 − θ3 ) − 10V2 cosθ2 + 0, 3
f3 (x) = −4, 2V2 cos(θ3 − θ2 ) + 8, 4V2sen(θ3 − θ2 ) + (4, 41 − 0, 2)

Resta agora calcular a matriz Jacobiana associada ao sistema, matriz essa que será
utilizada no processo iterativo.
As derivadas parciais para o sistema são as seguintes:

∂ f1 (x)
∂ V2 = 8V2 − 4, 2cos(θ2 − θ3 ) + 8, 4sen(θ2 − θ3 ) + 10sen(θ2)
∂ f1 (x)
∂ θ2 = 4, 2V2 sen(θ2 − θ3 ) + 8, 4V2 cos(θ2 − θ3 ) + 10V2 cos(θ2 )
∂ f1 (x)
∂ θ3 = −4, 2V2 sen(θ2 − θ3 ) − 8, 4V2cos(θ2 − θ3 )

∂ f2 (x)
∂ V2 = 36V2 − 4, 2sen(θ2 − θ3 ) − 8, 4cos(θ2 − θ3 ) − 10cos(θ2)
∂ f2 (x)
∂ θ2 = −4, 2V2 cos(θ2 − θ3 ) + 8, 4V2sen(θ2 − θ3 ) + 10V2sen(θ2 )
∂ f2 (x)
∂ θ3 = 4, 2V2 cos(θ2 − θ3 ) − 8, 4V2 sen(θ2 − θ3 )

∂ f3 (x)
∂ V2 = −4, 2cos(θ3 − θ2 ) + 8, 4sen(θ3 − θ2 )
∂ f3 (x)
∂ θ2 = −4, 2V2 sen(θ3 − θ2 ) − 8, 4V2cos(θ3 − θ2 )
∂ f3 (x)
∂ θ3 = 4, 2V2 sen(θ3 − θ2 ) + 8, 4V2 cos(θ3 − θ2 )

Seja o vetor x definido como x = [V2 θ2 θ3 ]T . Seja também o vetor correspon-


dente ao valor das funções em um determinado ponto de operação x da seguinte forma
66 4. FLUXO DE CARGA EM REDES CA

f = [ f1 f2 f3 ]T . Para o vetor x(0) da iteração inicial, "chuta-se"os seguintes valores:


(0) (0) (0)
V2 = 1, 0 pu; θ2 = 0o e θ3 = 0o . Enfatiza-se que os valores dos ângulos, para efeito
de cálculo, devem ser considerados em radianos (transformar um valor de graus para radi-
π
anos, consiste em se multiplicar o valor em graus pelo fator 180 . No caso da transformação
inversa, que é mais adequada para a apresentação dos resultados, basta multiplicar o valor
em radianos por 180 π .
Para efeito de apresentação dos resultados, será mostrado a seguir um programa em
Matlab para realizar os cálculos referentes à resolução do sistema não-linear de equações.
Os resultados são exibidos de modo seqüencial, tal como eles surgem na execução da
rotina numérica descrita a seguir.

% Rotina para cálculo da solução de um sistema não-linear


% pelo método de Newton-Raphson
clear all
x1 = 1.0; x2 = 0.0; x3 = 0.0; % ponto de operação de partida (chutado)
x0 = [x1; x2; x3];
% Estamos chamando x1 = V 2; x2 = teta2; e x3 = teta3;
epson = 1.0e − 4; % tolerância para convergência
delta = 1; % parâmetro para controle da convergência
maxiteracoes = 10; % número máximo de iterações admitidas
iteracao = 0;
while delta > epson
%——– calcular as funções f1 f2 e f3 com relação ao ponto x = [x1; x2; x3]
x1 = x0(1); x2 = x0(2); x3 = x0(3);
disp(’iteração’)
iteracao
f 1 = 4 ∗ x1( 2) − 4.2 ∗ x1 ∗ cos(x2 − x3) + 8.4 ∗ x1 ∗ sin(x2 − x3) + 10 ∗ x1 ∗
sin(x2) + 0.5;
f 2 = 18 ∗ x1( 2) − 4.2 ∗ x1 ∗ sin(x2 − x3) − 8.4 ∗ x1 ∗ cos(x2 − x3) − 10 ∗ x1 ∗
cos(x2) + 0.3;
f 3 = −4.2 ∗ x1 ∗ cos(x3 − x2) + 8.4 ∗ x1 ∗ sin(x3 − x2) + 4.21;
f = [ f 1; f 2; f 3] % vetor f, que guarda os valores da função
%——– calcular a matriz Jacobiana J
disp(’Matriz Jacobiana da iteração’)
J11 = 8 ∗ x1 − 4.2 ∗ cos(x2 − x3) + 8.4 ∗ sin(x2 − x3) + 10 ∗ sin(x2);
J12 = 4.2 ∗ x1 ∗ sin(x2 − x3) + 8.4 ∗ x1 ∗ cos(x2 − x3) + 10 ∗ x1 ∗ cos(x2);
J13 = −4.2 ∗ x1 ∗ sin(x2 − x3) − 8.4 ∗ x1 ∗ cos(x2 − x3);
J21 = 36 ∗ x1 − 4.2 ∗ sin(x2 − x3) − 8.4 ∗ cos(x2 − x3) − 10 ∗ cos(x2);
J22 = −4.2 ∗ x1 ∗ cos(x2 − x3) + 8.4 ∗ x1 ∗ sin(x2 − x3) + 10 ∗ x1 ∗ sin(x2);
J23 = 4.2 ∗ x1 ∗ cos(x2 − x3) − 8.4 ∗ x1 ∗ sin(x2 − x3);
4.4. O MÉTODO DE NEWTON-RAPHSON 67

J31 = −4.2 ∗ cos(x3 − x2) + 8.4 ∗ sin(x3 − x2);


J32 = −4.2 ∗ x1 ∗ sin(x3 − x2) − 8.4 ∗ x1 ∗ cos(x3 − x2);
J33 = 4.2 ∗ x1 ∗ sin(x3 − x2) + 8.4 ∗ x1 ∗ cos(x3 − x2);
J = [J11 J12 J13; J21 J22 J23; J31 J32 J33]
pause
%———- cálculo do incremento do valor de x fixado na iteração
Dx = −inv(J) ∗ f
%———- atualização do valor de x
disp(’Valor atualizado de x devido ao cálculo de Deltax’)
x = x0 + Dx
%———- armazena os valores de x em x0 para efetuar nova iteração
delta = norm(Dx); % calcula a norma do vetor diferença x − x0
x0 = x;
disp(’delta - controle de convergência e de iterações’)
delta
iteracao=iteracao+1
pause
if iteracao > maxiteracoes
disp(’Não houve convergência para o numero de iterações fixado’)
break
end
end % fim do loop while

A seguir é apresentado o resultado obtido pelo programa. Foi estabelecido tolerân-


cia de convergência ε = 10−4 para a norma dos desvios de x. A Figura 4.4 mostra uma
síntese dos resultados ao final do processo de convergência.
Houve convergência do processo iterativo já na segunda iteração, não sendo necessária
a terceira.
Observa-se ao final que a convergência para a tolerância estabelecida ocorre com
apenas três iterações.
68 4. FLUXO DE CARGA EM REDES CA

Figura 4.4 Resultados ao final da iteração 2


4.5. MATRIZ JACOBIANA NO PROBLEMA DE FLUXO DE CARGA 69

4.5 MATRIZ JACOBIANA NO PROBLEMA DE FLUXO DE


CARGA

No problema de fluxo de carga, o objetivo inicial é calcular os estados do sistema - mag-


nitude das tensões de barra Vi e fase θi , resolvendo o sistema não-linear de equações
definido a seguir.

Pk (V,θ )
z }| {
NB
0 = −Pk−esp + Vk ∑ Vm(Gkm cos(θkm) + Bkm sen(θkm)) = ∆Pk (V, θ ) (4.19)
m=1
NB
0 = −Qk−esp +Vk ∑ Vm(Gkmsen(θkm) − Bkmcos(θkm)) = ∆Qk (V, θ ) (4.20)
m=1
| {z }
Qk (V,θ )

Observe-se que em (4.19) e (4.20) ∆Pk (V, θ ) e ∆Qk (V, θ ) correspondem aos resí-
duos da solução, a cada iteração, das equações não-lineares. As duas equações (4.19) e
(4.20) estão presentes em barras de carga (tipo PQ). Contudo, nas barras de geração (tipo
PV) são necessárias apenas equações na forma indicada por (4.19).
Note-se que ∆Pk (V, θ ) e ∆Qk (V, θ ) são calculados como:

∆Pk (V, θ ) = −Pk−esp + Pk (V, θ ) (4.21)


∆Qk (V, θ ) = −Qk−esp + Qk (V, θ ) (4.22)

onde Pk−esp e Qk−esp são a potência ativa e reativa injetada na barra, respectivamente.
Pk−esp e Qk−esp são termos constantes, pois são valores especificados. Para res-
olução do sistema de equações (4.19) e (4.20), fazemos uso da matriz jacobiana, que será
inserida no problema adiante.
Para compreensão do processo de resolução do problema de equações não-lineares,
considere que se queira calcular as raízes associadas às equações não-lineares, a partir de
uma solução inicial desconhecida, obtida por meio de uma estimativa; e por meio de uma
aproximação linear, na iteração (i). Desta forma, é possível escrever o novo sistema de
equações da seguinte forma:
70 4. FLUXO DE CARGA EM REDES CA

∂ Pk (V, θ )
NB NB
∂ Pk (V, θ )
∆Pk (V , θ ) =
(i) (i)
∑ ∂ θm
∆θ m + ∑ ∂θj
∆V j (4.23)
m=1,m6=swing j=1, j∈barra PQ

∂ Qk (V, θ )
NB NB
∂ Qk (V, θ )
∆Qk (V , θ ) =
(i)

(i)
∂ θm
∆θ m + ∑ ∂θj
∆V j (4.24)
m=1,m6=swing j=1, j∈barra PQ

Os mismatches (desvios) do valor exato em relação ao valor aproximado na iter-


ação (i) são definidos de acordo com as expressões (4.21) e (4.22) para as potências ativa
e reativa, respectivamente. Quando o número de iteração é incrementado, havendo con-
vergência, os valores absolutos dos mismatches tendem a zero. Como buscam-se raízes
(i) (i)
numéricas, aceita-se que em uma determinada iteração, quando máximo(|∆Pk |, |∆Qk |) <
ε , sendo ε > 0 e suficientemente pequeno, por exemplo, 10−3 , as raízes (V (i) , θ (i) ) satis-
façam a solução do problema.
Portanto, para cada iteração (i), e um ponto de operação (V (i) , θ (i) ), deve-se calcular
os desvios ∆V (i) e ∆θ (i) como segue.

" #−1 
  ∂ P(V,θ ) ∂ P(V,θ )   −1  
∆θ (i) ∂θ ∂V ∆P(i) H N ∆P(i)
=− ∂ Q(V,θ ) ∂ Q(V,θ ) =−
∆V (i) ∆Q(i) M L ∆Q(i)
∂θ ∂V

onde H, N, M e L são submatrizes da matriz Jacobiana; o vetor θ (i) (deve-se excluir a


barra swing) é
h i
(i) (i) (i) T
∆θ (i) = ∆θ1 ∆θ2 . . . ∆θNB
o vetor de tensões (somente barras PQ) é
h i
(i) (i) (i) T
∆V = ∆V1 ∆V2 . . . ∆VNB
(i)

(i)
∆P(i) é o vetor dos mismatches em cada barra de carga e de geração; e ∆Qk é o vetor dos
mismatches em cada barra de geração.
As submatrizes H, N, M e L dependem das derivadas de Pk (V, θ ) e Qk (V, θ ) com
relação às variáveis de estado.
Por fim, para a iteração (i + 1) as raízes são atualizadas da seguinte forma:

θ (i+1) = θ (i) + ∆θ (i)


V (i+1) = V (i) + ∆V (i)

O cálculo das matrizes H, N, M e L deve ser considerado para a iteração (i).


4.5. MATRIZ JACOBIANA NO PROBLEMA DE FLUXO DE CARGA 71

4.5.1 Obtenção da Matriz H

A matriz H é obtida a partir de derivadas de Pk (Vk , θk com relação a θm . A derivada


indica a sensibilidade das potências ativa nas barras de carga e de geração em relação às
variações dos ângulos das tensões de barra.
As derivadas devem ser calculadas, a cada iteração i, para barras PQ e PV . Assim,
se um sistema tiver 10 barras, sendo que em cinco delas há geração, a dimensão da matriz
H será nH × nH , onde nH = nPQ + nPV = 5 + (5 − 1) = 9. Note-se que uma das barras
onde há geração deve ser considerada como swing.
As derivadas de Pk com relação a θm devem ser consideradas a partir da expressão
(4.19) levando-se em conta as situações quando m = k e quando m 6= k de formas distin-
tas. Isto facilita o entendimento, porque as fases aparecem nas expressões na forma de
abertura angular entre barras. No entanto, as derivadas são calculadas em relação a um
determinado ângulo de fase, a cada vez.

Situação em que m = k
A potência Pk , nesta situação, pode ser desmembrada da seguinte forma:

NB
Pk (V, θ ) = Vk2 Gkk +Vk ∑ Vm (Gkm cos(θk − θm ) + Bkm sen(θk − θm )) (4.25)
m=1,m6=k

Observe-se que dentro do somatório que aparece na expressão (4.25), não é incluído
o termo no qual m = k. A expressão nessa forma é mais apropriada para se determinar as
derivadas ∂∂ θPk e ∂∂ VPk .
k k

A derivada de Pk com relação à fase θk é:

∂ Pk (V, θ ) NB
= Vk ∑ Vm (−Gkm sen(θk − θm ) + Bkm cos(θk − θm )) =
∂ θk m=1,m6=k

NB
= −Vk ∑ Vm (Gkm sen(θkm ) − Bkm cos(θkm )) =
m=1,m6=k

 
= − Vk2 Bkk + Qk (V, θ ) (4.26)

Portanto Hkk = −Vk2 Bkk − Qk (V, θ ) .


72 4. FLUXO DE CARGA EM REDES CA

Situação em que m 6= k
Nessa situação, pode ser mostrado que:

∂ Pk (V, θ )
= VkVm (Gkm sen(θkm ) − Bkm cos(θkm )) (4.27)
∂ θm

Portanto, Hkm = VkVm [Gkm sen(θkm ) − Bkm cos(θkm )] .

4.5.2 Matrizes N, M e L

As demais submatrizes da Jacobiana são obtidas de modo semelhante ao procedimento


adotado para se calcular H.
Elementos da matriz N

∂ Pk (V, θ )
Nkm = = Vk [Gkm cos(θkm ) + Bkm sen(θkm )] (4.28)
∂ Vm
∂ Pk (V, θ ) Pk (V, θ )
Nkk = = Vk Gkk + (4.29)
∂ Vk Vk

A matriz N tem o mesmo número de linhas da matriz H. Mas, o seu número de


colunas é igual ao número de barras PQ. Isto se deve ao fato dessa matriz descrever a
sensibilidade das potências ativas em relação às variações das magnitudes das tensões de
barra, que naturalmente só variam nas barras de carga.
Elementos da matriz M

∂ Qk (V, θ )
Mkm = = −VkVm [Gkm cos(θkm ) + Bkm sen(θkm )] (4.30)
∂ θm
∂ Qk (V, θ )
Mkk = = −Vk2 Gkk + Pk (V, θ ) (4.31)
∂ θk

A matriz M descreve a sensibilidade das potências reativas nas barras de carga em


relação aos ângulos das tensões de barra.
Elementos da matriz L
4.5. MATRIZ JACOBIANA NO PROBLEMA DE FLUXO DE CARGA 73

∂ Qk (V, θ )
Lkm = = Vk [Gkm sen(θkm ) − Bkm cos(θkm )] (4.32)
∂ Vm
∂ Qk (V, θ ) Qk (V, θ )
Lkk = = −Vk Bkk + (4.33)
∂ Vk Vk

A matriz L descreve a sensibilidade das potências reativas nas barras de carga em


relação às magnitudes das tensões nas barras de carga.

EXEMPLO 4.5.1
Apresente a estrutura das submatrizes H, N, M e L que formam a matriz Jacobiana
do sistema caracterizado pelo diagrama unifilar da Figura 4.5. Indique por X o provável
elemento não-nulo em cada matriz; e por 0 o elemento que for nulo. Considere que a
barra 1 seja a swing.

Figura 4.5 Sistema com quatro barras

SOLUÇÃO
Matriz H
74 4. FLUXO DE CARGA EM REDES CA

A matriz H será calculada considerando a sensibilidade das potências ativas nas


barras 2, 3 e 4 em relação a θ2 (coluna 1), θ3 (coluna 2) e θ4 (coluna 4). Dessa forma
 
X X X
H= X X 0 
X 0 X

Matriz N
A matriz N será calculada considerando a sensibilidade das potências ativas nas
barras 2, 3 e 4 em relação a V 2 (coluna 1) e V4 (coluna 2). Assim
 
X X
N = X 0 
X X

Matriz M
A matriz M será calculada considerando a sensibilidade das potências reativas nas
barras de carga (barras 2 e 4) em relação a θ2 , θ3 e θ4 . Dessa forma
 
X X X
M=
X 0 X

Matriz L
A matriz L será calculada considerando a sensibilidade das potências reativas nas
barras 2 e 4 em relação a V2 e V4 . Assim
 
X X
L=
X X

No total, a matriz Jacobiana do problema de fluxo de carga é uma matriz quadrada,


apresentando N = 2NPQ + NPV linhas e colunas. A matriz Jacobiana é não-singular,
porque precisa ser invertida durante o processo iterativo para resolução do problema de
fluxo de carga pelo método de Newton-Raphson.
Portanto, calculada a matriz Jacobiana J, é possível calcular os incrementos ∆θ (i) e
∆V (i) . Esses incrementos são então utilizados para atualização dos valores V (i) e θ (i) no
método de Newton-Raphson, conforme algoritmo descrito a seguir.

ALGORITMO 1

i) Definir um ponto de operação inicial V (0) , θ (0) e fazer i = 0;


4.5. MATRIZ JACOBIANA NO PROBLEMA DE FLUXO DE CARGA 75

ii) calcular os desvios ∆P(V (i) , θ (i) ) e ∆Q(V (i) , θ (i) );

iii) verificar se os desvios absolutos calculados em ii) são inferiores a uma


tolerância ε > 0. Caso afirmativo, parar: a convergência foi alcançada; caso
contrário, prosseguir para o passo iv);

iv) montar a matriz Jacobiana J a partir do cálculo das submatrizes H, N, M


e L;

v) calcular os incrementos ∆V (i) e ∆θ (i) ) por meio de


   −1    
∆θ (i) H N ∆P(i) −1 ∆P(i)
=− = −J
∆V (i) M L ∆Q(i) ∆Q(i)

vi) atualizar as tensões e fases por meio de

V (i+1) = V (i) + ∆V (i)

θ (i+1) = θ (i) + ∆θ (i)


incrementar o contador i e retornar ao passo ii).

EXEMPLO 4.5.2
Considere um sistema de duas barras, no qual na barra 1, está conectado um gerador.
Esta barra é a swing do sistema, apresentando magnitude de tensão igual a 1 pu e fase
zero. À barra 2 é conectado um motor que absorve 0,3 pu de potência ativa. Essa barra é
controlada (tipo PV), sendo a tensão controlada em 1,0 pu. A interligação entre as duas
barras é realizada por meio de uma linha de transmissão cujos parâmetros são: R = 0, 1 pu,
X = 0, 8 pu e carregamento igual a 0,05 pu. Determine o ângulo da tensão na barra 2,
considerando uma tolerância de 0,001 para o desvio máximo do erro de potência após a
convergência do problema de fluxo de carga. Após isso, calcule a potência injetada na
barra swing, a potência reativa injetada na barra 2, e as perdas no sistema.

SOLUÇÃO
Inicialmente é necessário montar a matriz de admitância de barra (matriz YBUS ). A
partir das informações fornecidas, a impedância série da linha é Z̄12 = 0, 1 + j0, 8 pu.
Portanto, a admitância do ramo 1-2 é ȳ12 = Z̄1 = 0,1+1 j0,8 = 0, 1538 − j1, 2308 pu.
12
76 4. FLUXO DE CARGA EM REDES CA

Ao circuito equivalente da linha, no seu modelo em π , deve-se acrescentar as ad-


mitâncias ȳsh = j b2sh = j0, 025 pu às duas extremidades da linha, devido ao carregamento.
Com as informações anteriores, a matriz de admitância de barra do sistema é
 
0,1538 - j1,2058 -0,1538 + j1,2308
YBUS =
-0,1538 + j1,2308 0,1538 - j1,2058

Desta forma, desmembrando YBUS na forma de matriz de condutância G e de sus-


ceptância B, tem-se:
 
0,1538 -0,1538
G=
-0,1538 0,1538
 
-1,2058 1,2308
B=
1,2308 - 1,2058

O sistema apresenta apenas uma incógnita a ser determinada, que é o ângulo da


barra 2, porque no global há apenas uma barra swing (cujo módulo da tensão e fase já são
conhecidos) e uma barra PV, onde se tem apenas a magnitude da tensão conhecida.
(0)
Para aplicar o Algoritmo 1, considere que P2−esp = −0, 3 e suponha θ2 = 0 radi-
anos. Faça i = 0 e realize o processo iterativo para determinar o ângulo final. Lembre-se
que V1 = 1 pu, θ1 = 0 radianos e V2 = 1 pu.
iteração 0 - primeira iteração
(0)
Calcular inicialmente o mismatch ∆P2 . Para isto, torna-se necessário calcular
P2 (V , θ (0) ).
(0)

Para qualquer iteração tem-se:

P2 (V, θ ) = V2V1 [G(21) cosθ21 + B(21) senθ21 ] +V22 G(22) =

= −0, 1538cosθ2 + 1, 2308senθ2 + 0, 1538


(0)
Assim, com θ2 = 0, tem-se:
(0) (0)
P2 (V (0) , θ (0) ) = −0, 1538cosθ2 + 1, 2308senθ2 + 0, 1538 = 0

Desta forma, obtém-se o mismatch:

∆P2 (V (0) , θ (0) ) = −(−0, 3) − 0 = 0, 3 pu ⇒ |∆P2 (V (0) , θ (0) )| > ε

Assim, a iteração deve prosseguir.


4.5. MATRIZ JACOBIANA NO PROBLEMA DE FLUXO DE CARGA 77

Deve-se calcular somente a matriz H para este problema, pois a a única incógnita
é a fase. Uma outra observação é que basta calcular o termo em que m = k de H, já que
pretende-se calcular o próprio ângulo da barra 2. Neste caso, deve-se utilizar a expressão
(4.26). Antes, deve ser calculada a potência reativa na barra. Ou seja

Q2 (V, θ ) = V2V1 [G(21) senθ21 − B(21) cosθ21 ] +V22 (−B(22) ) =


= −0, 1538senθ2 − 1, 2308cosθ2 + 1, 2058
(0)
na situação em que θ2 = 0, Q2 (V (0) , θ (0) ) = −0, 025 pu. Desta forma

(0)
H22 = −12 (−1, 2058) − (−0, 025) = 1, 2308

Então

(0) (0) (0)


∆θ2 = −(H22 )−1 × ∆P2 = −(0, 3)/1, 2308 = −0, 2437 rad

O ângulo atualizado na barra 2 será:


(1) (0) (0)
θ2 = θ2 + ∆θ2 = 0 + (−0, 2437) = −0, 2437 rad

Concluído o processo de cálculo na primeira iteração. Vamos avançar para a se-


gunda iteração e fazermos i = 1.
iteração 1 - segunda iteração
Como primeiro procedimento, deve ser verificado se o mismatch é atendido com a
(1)
variável previamente calculada. Com o valor de θ2 , tem-se:

(1) (1)
P2 (V (1) , θ (1) ) = −0, 1538cosθ2 + 1, 2308senθ2 + 0, 1538 = −0, 2925

Desta forma, obtém-se o mismatch:

∆P2(V, θ (1) ) = −(−0, 3) − 0, 2925 = 0, 0075 pu ⇒ |∆P2(V, θ (1) )| > ε

Novamente, a iteração deve prosseguir.


(1) (1)
Procedendo-se de modo semelhante para os cálculos de H22 e ∆θ2 , tem-se:

(1)
H22 = 1, 1573 ⇒ ∆θ (1) = −0, 0075/1, 1573 = −0, 0065 rad
78 4. FLUXO DE CARGA EM REDES CA

O ângulo será atualizado como segue.


(2) (1) (1)
θ2 = θ2 + ∆θ2 = −0, 2437 + (−0, 0065) = −0, 2502 rad

É concluída, assim, a segunda iteração e parte-se para a terceira.


iteração 2 - terceira iteração
Mais uma vez, como procedimento inicial da iteração, deve ser verificado se o ân-
gulo calculado na iteração anterior já atende à tolerância ε = 0, 001 estabelecida para o
mismatch.
Efetuando o cálculo, obtém-se:

P2 (V, θ (2) ) = −0, 30001

Desta forma, obtém-se o mismatch:

∆P2 (V, θ (2) ) = −(−0, 3) − 0, 30001 = 1 × 10−5 pu ⇒ |∆P2(V, θ (2) )| < ε

Portanto, a convergência foi alcançada na segunda iteração, encontrando-se o ân-


gulo θ2 de aproximadamente -0,2502 rad ou −0, 2502 × 180
π = −14, 33 .
o

Nesse ponto, é possível calcular as potências injetadas nas barras e as perdas na


linha.
As potências injetadas nas barras são: P1 , P2 , Q1 , Q2 . Para o caso da barra 2, falta
calcular Q2 , que é
Q2 (V, θ ) = 0, 0514 pu.

A potência reativa injetada na barra 1 é calculada como:

Q1 (V, θ ) = V1V2 [G(12) senθ12 − B(12) cosθ12 ] +V12 (−B(11) ) =

= −0, 1538sen(−θ2) − 1, 2308cos(−θ2) + 1, 2058 = −0, 025 pu.

O cálculo da potência ativa injetada na barra 1 leva ao seguinte resultado:

P1 (V, θ ) = −0, 1538cos(−θ2) + 1, 2308sen(−θ2) + 0, 1538 = 0, 3096 pu

.
Tendo em vista as potências injetadas na barra 1, que é a swing, e que não ex-
iste carga naquela barra, então a potência gerada pelo gerador é igual a SG1 = 0, 3096 −
j0, 025 pu. Essa é também a potência enviada para a linha a partir do terminal do gerador
na barra 1. Por outro lado, na barra 2, a potência injetada é SG2 = −0, 3000 + j0, 0514 pu.
4.5. MATRIZ JACOBIANA NO PROBLEMA DE FLUXO DE CARGA 79

Como também não há carga nesta barra, SG2 é também a potência complexa enviada para
a linha, a partir do terminal da linha localizado na barra 2.
Somando-se as potências complexas que são enviadas em cada terminal da linha,
obedecendo aos sinais adotados, obtêm-se as perdas na linha. Procedendo dessa forma,
as perdas são:

Sperdas(12) = SG1 +SG2 = (0, 3096−0, 3000)+ j(−0, 025+0, 0514) = 0, 0096+ j0, 0264 pu

Assim, as perdas ativa e reativa na linha são 0,0096 pu e 0,0264 pu, respectivamente.

EXEMPLO 4.5.3
Considere que no exemplo 4.5.2 a barra onde está conectada a carga não seja mais
controlada. A potência reativa absorvida pela carga é igual a 0,05 pu. Calcular a tensão
na barra 2, bem como a potência gerada pela swing.

SOLUÇÃO
Neste exemplo, não há alteração na matriz YBUS em relação ao exemplo anterior.
portanto, É possível iniciar o processo iterativo para calcular os estados do sistema.
(0) (0)
Inicialmente, supõe-se que V2 = 1 pu, θ2 = 0 rad. Lembre-se que V1 = 1 pu e
θ1 = 0 rad.
iteração 0 - primeira iteração
(0) (0)
Calcular inicialmente os mismatches ∆P2 e ∆Q2 . Entretanto, é preciso calcular
antes P2 (V (0) , θ (0) ) e Q2 (V (0) , θ (0) ).
Para qualquer iteração, tem-se:

P2 (V, θ ) = V2V1 [G(21) cosθ21 + B(21) senθ21 ] +V22 G(22) =

= −0, 1538V2cosθ2 + 1, 2308V2 senθ2 + 0, 1538V22

Q2 (V, θ ) = V2V1 [G(2,1) senθ21 − B(2,1) cosθ21 ] +V22 (−B(2,2) ) =


= −0, 1538V2senθ2 − 1, 2308V2 cosθ2 + 1, 2058V22
(0)
Para θ2 = 0, tem-se:
P2 (V (0) , θ (0) ) = 0
80 4. FLUXO DE CARGA EM REDES CA

Desta forma, obtém-se o mismatch:

∆P2 (V (0) , θ (0) ) = −(−0, 3) + 0 = 0, 03 pu ⇒ |∆P2 (V (0) , θ (0) )| > ε

Q2 (V (0) , θ (0) ) = −0, 025 pu

∆Q2 (V (0) , θ (0) ) = −(−0, 05) + (−0, 025) = 0, 025 pu ⇒ |∆Q2 (V (0) , θ (0) )| > ε

Assim, a iteração deve prosseguir.


Aqui é necessário calcular as matrizes H, N, M e L na situação em que m = k
somente.
Logo

(0) 2(0) (0)


H22 = −V2 B(22) − Q2 = 1, 2308 pu
(0)
(0) P2
N22 = −V2 G(22) + (0)
= 0, 1538 pu
V2
(0) 2(0) (0)
M22 = −V2 G(2,2) + P2 = −0, 1538 pu
(0)
(0) Q2
L22 = −V2 B(22) + (0)
= 1, 1808 pu
V2

A matriz jacobiana J será:


 
(0) 1,2308 0,1538
J =
-0,1538 1,1808

Os incrementos serão:
" #    
(0)
∆θ 2  −1 0, 30 −0, 2372
(0) =− J (0) =
∆V2 0, 025 −0, 0521

A atualização das variáveis de estado será:


(1) (0) (0)
θ2 = θ2 + ∆θ2 = 0 + (−0, 2372) = −0, 2372 rad
4.5. MATRIZ JACOBIANA NO PROBLEMA DE FLUXO DE CARGA 81

(1) (0) (0)


V2 = V2 + ∆V2 = 1 − 0, 0521 = 0, 9479 pu

iteração 1 - segunda iteração


Para os valores das variáveis de estado determinados anteriormente, chega-se aos
(1) (1)
seguintes desvios de potência: ∆P2 = 0, 0223 pu e ∆Q2 = 0, 0337 pu. Claramente,
esses valores não atendem ao mismatch fixado. Prosseguindo a iteração, são calculados
os seguintes valores na iteração para os desvios da magnitude e fase da tensão na barra
(1) (1)
2: ∆θ2 = −0, 0255 rad e ∆V2 = −0, 0394 pu. Assim, as variáveis são atualizadas da
seguinte forma:

(2) (1) (1)


θ2 = θ2 + ∆θ2 = −0, 2628 rad
(2) (1) (1)
V2 = V2 + ∆V2 = 0, 9085 pu.

iteração 2 - terceira iteração


(2) (2)
Na terceira iteração os desvios são: ∆P2 = −0, 0019 pu e ∆Q2 = −0, 0025 pu.
Assim, a convergência não foi alcançada.
Na iteração seguinte a convergência é obtida, alcançando-se os seguintes mismatches:
(3) (3)
∆P2 = 7, 2 ×10−6 pu e ∆Q2 = 7, 1 ×10−6 pu. Portanto, o valor da magnitude da tensão
V2 e do ângulo foram 0,906 pu e -0,2647 rad, respectivamente.
As potências injetadas nas barras são: P1 , P2 , Q1 , Q2 . Para o caso da barra 2, são:

P2 (V, θ ) = −0, 3000 pu

.
Q2 (V, θ ) = −0, 0500 pu.

A potência reativa injetada na barra 1 é calculada como:

Q1 (V, θ ) = 0, 093 pu.

O cálculo da potência ativa injetada na barra 1 leva ao seguinte resultado:

P1 (V, θ ) = 0, 3111 pu

.
A potência injetada na barra 1, que é a swing, será SG1 = 0, 3111 + j0, 093 pu. Na
barra 2, será SG2 = −0, 3000 − j0, 0500 pu.
As perdas na linha são:
82 4. FLUXO DE CARGA EM REDES CA

Sperdas(1,2) = SG1 +SG2 = (0, 3111−0, 3000)+ j(0, 093−0, 050) = 0, 0111+ j0, 0430 pu

Assim, as perdas ativa e reativa na linha são 0,0111 pu e 0,0430 pu, respectivamente.

EXERCÍCIOS PRPOSTOS
1) Repetir o exemplo 1, considerando injeção de potência na barra 2 de -0,5 pu e
tensão ajustada nessa barra em 1,03 pu.
2) Repetir o exemplo 2 para dois carregamentos distintos na barra 2:
a) a carga foi ajustada de modo a absorver 0,45 pu de potência ativa e 0,10 pu de
potência reativa;
b) a carga foi ajustada para absorver 0,5 pu de potência ativa e gerar 0,10 pu de
potência reativa.
EXEMPLO 3.4
Considere o sistema de três barras da (Figura 4.6) já apresentado em capítulo ante-
rior. Os dados do sistema são os seguintes: impedância das interligações - z1−2 = j0, 1
pu; z2−3 = 0, 05 + j0, 10 pu. Dados das cargas: carga 2, de 50 MW e 30 Mvar indutivo;
carga 3, de 60 MW e 30 MVar indutivo. Geração ativa fixada na barra 3 em 80 MW,
operando com 1,05 pu. A barra 1 é a swing e sua tensão é fixada em 1,0 pu e fase 0o .
Considere base 100 MVA de potência. Suponha uma tolerância para a convergência de
0,001. Calcule os estados do sistema.
Solução:
A matriz YBUS para esse sistema já foi calculada antes, sendo os seus elementos
não-nulos repetidos a seguir, por conveniência.

Y11 = − j10 pu; Y22 = − j10 + (4 − j8) = 4 − j18 pu; Y33 = 4 − j8 pu

Y12 = j10 pu; Y23 = −4 + j8 pu

Uma vez que a base do sistema é igual a 100 MVA, as potências injetadas nas barras
do sistema, que não seja a swing, serão: P2 = −0, 5 pu, Q2 = −0, 3 pu; P3 = 80−60100 =
0, 2 pu. Vamos supor que as variáveis de estado desconhecidas assumam os valores de
(0) (0) (0)
partida: V2 = 1 pu, θ2 = θ3 = 0 rad. Sabe-se ainda que V1 = 1 pu, θ1 = 0 rad e
V3 = 1, 05 pu. Desta forma, pode-se iniciar o processo iterativo do método de Newton-
Raphson.
4.5. MATRIZ JACOBIANA NO PROBLEMA DE FLUXO DE CARGA 83

Figura 4.6 Sistema exemplo com três barras

iteração 0 - primeira iteração


Vamos calcular inicialmente os mismatches associados às barras. Devem ser calcu-
(0) (0) (0)
lados ∆P2 , ∆Q2 e ∆P3 .
Para isto calculemos P2 (V (0) , θ (0) ), Q2 (V (0) , θ (0) ) e P3 (V (0) , θ (0) ).
Para qualquer iteração tem-se:
Barra 2
∆P2 (V, θ ) = −Pesp−2 +V2V2 (G2,2 )+V2V1 (G2,1 cosθ21 +B21 senθ21 )+V2V3 (G2,3 cosθ23 +B23 senθ23 )
∆Q2 (V, θ ) = −Qesp−2 +V2V2 (−B2,2 )+V2V1 (G2,1 senθ21 −B21 cosθ21 )+V2V3 (G2,3 senθ23 −B23 cosθ23 )

Barra 3
∆P3 (V, θ ) = −Pesp−3 +V3V3 (G3,3 ) +V3V2 (G3,2 cosθ32 + B32 senθ32 )

Com os dados do sistema, são obtidas as seguintes equações:


Barra 2
∆P2 (V, θ ) = −(−0, 5)+4V22 +V2 ×1, 05(−4cosθ23 +8senθ23 )+V2 ×1(0×cosθ2 +10senθ2 )
84 4. FLUXO DE CARGA EM REDES CA

∆Q2 (V, θ ) = −(−0, 3)+18V22 +V2 ×1, 05(−4senθ23 −8cosθ23 )+V2 ×1(0×senθ2 −10cosθ2 )

Barra 3

∆P3 (V, θ ) = −0, 2 + 4 × 1, 052 + 1, 05 ×V2 (−4cosθ32 + 8senθ32 )

Com os valores iniciais, encontram-se: P2 (V (0) , θ (0) ) = −0, 2 pu, P3 (V (0) , θ (0) ) =
0, 21 pu e Q2 (V (0) , θ (0) ) = −0, 4 pu. Conseqüentemente, ∆P2 (V (0) , θ (0) ) = 0, 3 pu, ∆P3 (V (0) , θ (0) ) =
0, 01 pu e ∆Q2 (V (0) , θ (0) ) = −0, 1 pu. Esses valores não atendem ao mismatch estabele-
cido.
Iteração 0
Deve-se calcular primeiramente a matriz Jacobiana J. As quatros matrizes compo-
nentes de J têm as estruturas apresentadas a seguir.
 
H2,2 H2,3
H=
H3,2 H3,3
 
N2,2
N=
N3,2
 
M = M2,2 M2,3
 
L = L2,2

A partir das matrizes apresentadas, fica evidente os casos em que m = k e m 6= k no


cálculo dos elementos das matrizes.
Matriz Jacobiana da primeira iteração
Aplicando-se as expressões para cálculo das matrizes H, N, M e L na primeira
iteração são encontrados os seguintes resultados:
 
18, 4 −8, 4
H=
−8, 4 8, 4
 
3, 8
N=
−4, 2
 
M = −4, 2 4, 2
 
L = 17, 6

Tem-se então a seguinte matriz Jacobiana:


4.5. MATRIZ JACOBIANA NO PROBLEMA DE FLUXO DE CARGA 85

 
18, 4 −8, 4 3, 8
J (0) =  −8, 4 8, 4 −4, 2 
−4, 2 4, 2 17, 6

Então agora são calculados os desvios das variáveis de estado da seguinte forma:
 (0)

∆θ 2
   
 −1 0, 30 −0, 0308
(0) 
 ∆θ3  = − J (0)
  0, 01  =  −0, 0293 
∆V2
(0) −0, 1 0, 0053

Com a atualização das variáveis, são encontrados os seguintes valores:


(1) (1) (1)
θ2 = −0, 0308 rad θ3 = −0, 0293 rad V2 = 1, 0053 pu

iteração 1
No início da segunda iteração, calculam-se os desvios de potência com os valores
das variáveis de estado calculadas na primeira iteração.
Com isto, encontram-se os seguintes desvios:
∆P2 (V (1) , θ (1) ) = −0, 0015 pu, ∆P3 (V (1) , θ (1) ) = 0, 0001 pu e ∆Q2 (V (1) , θ (1) ) =
0, 0053 pu. Novamente, esses valores não atendem ao mismatch estabelecido. Prosseguindo
então com os cálculos da iteração, determina-se a seguinte matriz Jacobiana:
 
18, 4871 −8, 4385 3, 5224
J (1) =  −8, 4510 8, 4510 −4, 1876 
−4, 5443 4, 2348 17, 8028

Isto leva ao seguinte cálculo para os desvios das variáveis de estado


 (1)

∆θ 2
   
−0, 0015 0, 13 × 10−3
(1) 
  −1
 ∆θ3  = − J (1)
  0, 0001  =  −0.10 × 10−3 
∆V2
(1) 0, 0053 −0.26 × 10−3

Com a atualização das variáveis, são encontrados os seguintes valores:


(2) (2) (2)
θ2 = −0, 0307 rad θ3 = −0, 0293 rad V2 = 1, 0051 pu

São encontrados os seguintes mismatches:


86 4. FLUXO DE CARGA EM REDES CA

∆P2 (V (2) , θ (2) ) = −0, 03×10−5 pu, ∆P3 (V (2) , θ (2) ) = 0, 03×10−5 pu e ∆Q2 (V (2) , θ (2) ) =
0, 16 × 10−5 pu.
Como se observa, a convergência foi alcançada em apenas duas iterações. Essa
convergência rápida ocorre porque o sistema está pouco carregado.
Observe-se também que a matriz Jacobiana não sofreu alterações significativas de
uma iteração para outra.
As características descritas serão utilizadas posteriormente para introduzir-se apro-
ximações no método de Newton-Raphson para resolução do problema de fluxo de carga.
EXERCÍCIO PROPOSTO
1) Resolva o mesmo problema de fluxo de carga variando a carga na barra 2 e o
despacho da geração na barra 3, como segue:

• caso 1 Pc2 = 70 MW ; Qc2 = 20 MVar capacitivo; PG3 = 100 MW .

• caso 2 Pc2 = 80 MW ; Qc2 = 50 MVar indutivo; PG3 = 100 MW .

• caso 3 Pc2 = 90 MW ; Qc2 = 20 MVar capacitivo; PG3 = 100 MW .

• caso 4 Pc2 = 110 MW ; Qc2 = 50 MVar indutivo; PG3 = 100 MW .

Para cada situação, determine as potências fornecidas pelo gerador swing e as per-
das nas duas interligações. Comente a respeito das magnitudes das tensões encontradas.
2) Considere no exercício 1 que a interligação 1-2 seja representada por um trans-
formador com tap ajustado em 1,04 pu. O tap fica do lado da barra 2. Nesta condição,
determine os novos estados do sistema e as potências geradas pelo gerador da barra swing.
Resolva o exercício apenas para o caso 4 descrito anteriormente. Comente as alterações
das tensões e dos fluxos de reativo em relação ao caso do exercício 1.
5

FLUXO DE CARGA DESACOPLADO

5.1 EQUAÇÕES DE BALANÇO DA POTÊNCIA ATIVA E


REATIVA

As equações de balanço da potência ativa e reativa do problema de fluxo de carga acoplado


são:

NB
Pesp−k = P(V, θ ) = Vk ∑ Vm [Gkm cos(θkm) + Bkmsen(θkm)] (5.1)
m=1
NB
Qesp−k = Q(V, θ ) = Vk ∑ Vm [Gkm sen(θkm) − Bkmcos(θkm)] (5.2)
m=1

Os mismatches de potências são calculados como:

∆Pk (V, θ ) = −Pesp−k + P(V, θ ) = 0, k = 1, . . ., (NB − 1) (5.3)


∆Qk (V, θ ) = −Qesp−k + Q(V, θ ) = 0, k = 1, . . ., NPQ (5.4)
onde NPQ é o número de barras PQ, NB é o número de barras, e finalmente Pesp−k e Qesp−k
são as potências ativa e reativa injetadas na barra k, respectivamente.
Nas equações (6.3) e (6.4), considera-se que tanto Pesp−k quanto Qesp−k serão
representados por valores constantes. Mas no caso de cargas, esses valores poderão ser
representados pelo modelo polinomial (modelo ZIP).

5.2 MÉTODO DE NEWTON - RAPHSON DESACOPLADO

No método desacoplado de Newton - Raphson, ocorre desacoplamento entre as malhas


em função das sensibilidades das potências e das variáveis de estado. No caso da potên-
cia ativa, prepondera o acoplamento na malha P − θ e no caso da potência reativa o

87
88 5. FLUXO DE CARGA DESACOPLADO

acoplamento Q −V . Então o problema de se determinar os estados pode ser solucionado


resolvendo-se iterativamente dois sub-problemas. O primeiro deles é o relacionado à
equação (6.3). Neste caso, calcula-se θ . No segundo caso, resolve-se a equação (6.4) e
determina-se V .
De forma iterativa, são resolvidos os seguintes sistemas:

(i)
∆Pk (V (i) , θ (i) ) = −Jθ ∆θ (i) , k = 1, . . . , (NB − 1) (5.5)

(i)
∆Qk (V (i) , θ (i) ) = −JV ∆V (i) , k = 1, . . ., NPQ (5.6)
(i) (i)
onde Jθ é a matriz Jacobiana associada ao problema P − θ e JV é a matriz Jacobiana
associada ao problema Q −V . Essas submatrizes são as mesmas calculadas no problema
de fluxo de carga acoplado.
(i) (i)
Portanto, as submatrizes Jacobianas Jθ e JV são, respectivamente, as submatrizes
H e L(i) .
(i)

As matrizes H e L, genericamente, foram calculadas como:

Hkm = VkVm [Gkm sen(θkm ) − Bkm cos(θkm )] , se k 6= m (5.7)


Hkk = −Qk (V, θ ) −Vk2 Bkk (5.8)
Lkm = Vk [Gkm sen(θkm ) − Bkm cos(θkm )] , se k 6= m (5.9)
Qk (V, θ )
Lkk = − −Vk Bkk (5.10)
Vk

A seguinte definição é feita para as matrizes H e L:



H = [Vk ]H (5.11)

L = [Vk ]L (5.12)
onde [Vk ] é uma matriz bloco-diagonal, apresentando na diagonal o módulo da tensão Vk
correspondente ao vetor ∆Pk , o qual precisa ser calculado.
Deste modo, definem-se equações modificadas relacionando os mismatches e os
desvios das variáveis de estados, como segue.

∆Pk ′
= −Hk ∆θk , k = 1, . . ., NB − 1 (5.13)
Vk
∆Qk ′
= −Lk ∆Vk , k = 1, . . . , NPQ (5.14)
Vk
5.3. MÉTODO DE NEWTON - RAPHSON DESACOPLADO RÁPIDO 89

′ ′ ′ ′
onde Hk é a k-ésima linha da matriz H e Lk é a k-ésima linha da matriz L .

5.3 MÉTODO DE NEWTON - RAPHSON DESACOPLADO


RÁPIDO

Este método é uma simplificação do método de Newton - Raphson desacoplado. Nesta


abordagem, as submatrizes Jacobianas são mantidas constantes durante o processo itera-
tivo. As equauções (5.13) e (5.14) são colocadas agora como:

∆Pk ′
= −Bk ∆θk , k = 1, . . ., NB − 1 (5.15)
Vk
∆Qk ′′
= −Bk ∆Vk , k = 1, . . . , NPQ (5.16)
Vk
′ ′ ′′ ′′
onde Bk é a k-ésima linha da matriz B e Bk é a k-ésima linha da matriz B , que serão
definidas adiante.
′ ′′
Para se chegar às matrizes B e B , algumas simplificações são efetuadas nas sub-
matrizes Jacobianas do método de Newton - Raphson desacaoplado. Essas aproximações
são válidas para sistemas de transmissão de extra-alta tensão, para os quais as resistên-
cias dos equipamentos e linhas de transmissão são desprezíveis frente às reatâncias. As
simplificações usuais são as seguintes:

1. cos(θkm ) ≈ 1;

2. |Bkm | >> |Gkm sen(θkm )|;

3. |BkkVk2 | >> |Qk |;

Diante das aproximações anteriores, chega-se às seguintes expressões:



Hkm ≈ −Vm Bkm , se k 6= m (5.17)

Hkk ≈ −Vk Bkk (5.18)

Lkm ≈ −Bkm , se k 6= m (5.19)

Lkk = −Bkk (5.20)
90 5. FLUXO DE CARGA DESACOPLADO

As tensões nas barras, em geral, são mantidas aproximadamente iguais a 1,0 pu.

Esta aproximação sugere que cada elemento da matriz H pode ser aproximado como
′ ′
Hkm ≈ −Bkm e Hkk ≈ −Bkk . Como os elementos Bkm e Bkk são as partes imaginárias dos
′ ′
elementos da matriz Ybus, H = −B e L = −B, sendo B a parte imaginária da matriz
′ ′′
Ybus. Portanto, B = −B e B = −B podem ser obtidas diretamente da matriz Y bus =

G + jB. Por exemplo, B é formada, pegando-se as linhas e colunas de B, exceto a linha e
′′
coluna correspondente à barra swing. Por outro lado, B é formada, pegando-se as linhas
e colunas de B correspondentes a apenas as barras de carga.

Para o caso da matriz B , ainda é possível a seguinte aproximação: rkm ≈ 0, onde
rkm é uma resitência na interligação k − m da rede elétrica. Desta forma, considerando-se
que zkm = rkm + jxkm é a impedância da interconexão, então a admitância correspondente
−xkm
1
será ykm = zkm = gkm + jbkm . Neste caso, gkm = r2 r+x
km
2 e bkm = r 2 +x2 .
km km km km
−1
Então, fazendo-se rkm = 0, tem-se: gkm = 0 e bkm = xkm .
Assim, o elemento da
matriz Y bus correspondente à ligação k − m, sem considerar a resistência na interligação,

será Y buskm = −( x−kmj ). Logo Bkm ≈ xkm
1
e Bkk ≈ ∑NB −1
m=1 xkm . Conseqüentemente, Bkm =

1
− xkm e Bkk = ∑NB 1
m=1 xkm .
′′
As aproximações com relação a rkm = 0 não são usadas para cálculo de B . Ou seja,
′′ ′′
Bkm = −Bkm e Bkk = −Bkk são obtidas diretamente da matriz Y bus.

EXEMPLO 5.1
Considere que um gerador conectado à barra 1 alimenta uma carga conectada na
barra 2, por meio de uma linha de transmissão cujos parâmetros são: rkm = 0, 2 pu, xkm =
1, 0 pu, e bshkm = 0, 04 pu. Suponha que bsh seja o carregamento total da linha, que a
barra 1 seja a swing, com tensão igual a 1 pu e fase zero. A carga na barra 2 é composta
de uma parte ativa de 0,3 pu e -0,07 pu de reativo. Utilize o método de Newton - Raphson
desacoplado rápido para calcular V2 e θ2 . Considere tolerância para convergência igual
a 0,003 aplicada aos mismatches de potência. Considere, como partida inicial, tensão na
barra 2 igual a 1 pu e fase zero.
SOLUÇÃO
Os elementos de interesse da matriz Y bus são G(2,1) = −0, 1923, B(2,1) = 0, 9615,

G(2,2) = 0, 1923, B(2,2) = −0, 9415. Outros dados de interese são: B(2,2) = x 1 = 11 = 1
(1,2)
′′
e B(2,2) = −B(2,2) = 0, 9415.
ITERAÇÃO 0 - P − θ
As potências injetadas na barra são Pesp−2 = −0, 3 e Qesp−2 = 0, 07.
5.3. MÉTODO DE NEWTON - RAPHSON DESACOPLADO RÁPIDO 91

A potência ativa calculada na barra 2 será:



P2 (V, θ ) = V2 V1 [G2,1 cos(θ21 ) + B2,1 sen(θ21 )] +V2 G2,2

Substiutindo-se os valores de tensão e de fase dados, encontra-se P2(V, θ ) = 0.


Logo, o mismatch de potência é ∆P2 = −(−0, 3) + 0 = 0, 3. Devemos calcular o desvio
do ângulo da tensão na barra 2. Assim,

∆P2 ′ 0, 3
= −B2,2 ∆θ2 ⇒ ∆θ2 = − = −0, 3 rad
V2 1×1
A atualização do ângulo na barra 2 terá o seguinte resultado:

(1) (0)
θ2 = θ2 + ∆θ2 = 0 + (−0, 3) = −0, 3 rad.

ITERAÇÃO 0 - Q −V
Nesta iteração, utiliza-se o valor atualizado do ângulo θ2 calculado na iteração an-
terior.
A potência reativa calculada na barra será:

Q2 (V, θ ) = V2 V1 [G2,1 sen(θ21 ) − B2,1 cos(θ21 )] −V2 B2,2

Q2 (V, θ ) = 1×{1 × [−0, 1923sen(−0, 3) − 0, 9615cos(−0, 3)]− 1 × 0, 9415} = 0, 0798 pu

Então ∆Q2 = −(0, 07) + 0, 0798 = 0, 0098. Este valor é maior que a tolerância ε
para o mismatch. Logo deve-se calcular a tensão V2 atualizada.

∆Q2 ′′ 0, 0098
= −B2,2 ∆V2 ⇒ ∆V2 = − = −0, 0104 pu
V2 1 × 0, 9415
A atualização da tensão na barra 2 terá o seguinte resultado:

(1) (0)
V2 = V2 + ∆V2 = 1, 0 + (−0, 0104) = 0, 9896 pu.

ITERAÇÃO 1 - P − θ
Utiliza-se agora a tensão V2 calculada anteriormente.
A potência ativa calculada na barra 2 será:

P2 (V, θ ) = 0, 9896× 1 × [G2,1 cos(−0, 3) + B2,1sen(−0, 3)] + 0, 9896G2,2 = −0, 2747 pu
92 5. FLUXO DE CARGA DESACOPLADO

Logo, o mismatch de potência é ∆P2 = −(−0, 3) + (−0, 2747) = 0, 0253 pu. Nova-
mente é calculado o desvio do ângulo da tensão na barra 2. Assim,

−0, 0253
∆θ 2 = − = −0, 0256 rad
0, 9896 × 1
A atualização do ângulo na barra 2 terá o seguinte resultado:

(2) (1)
θ2 = θ2 + ∆θ2 = −0, 30 + (−0, 0256) = −0, 3256 rad.

ITERAÇÃO 1 - Q −V
Nesta iteração, novamente utiliza-se o valor atualizado do ângulo θ2 calculado na
iteração anterior.
Seguindo procedimento semelhante ao já feito anteriormente, calcula-se:

Q2 (V, θ ) = 0, 0814 pu

e ∆Q2 = 0, 0114. Este valor continua superior à tolerância ε para o mismatch. Logo
atualiza-se V2 , resultando em

∆V2 = −0, 01122 pu

A atualização da tensão na barra 2 terá o seguinte resultado:

(2) (1)
V2 = V2 + ∆V2 = 0, 9896 + (−0, 0122) = 0, 9774 pu.

ITERAÇÃO 2 - P − θ
Utiliza-se agora a tensão V2 calculada anteriormente.
A potência ativa calculada na barra 2 será:

P2 (V, θ ) = −0, 295 pu

Logo, o mismatch de potência é ∆P2 = −(−0, 3) + (−0, 295) = 0, 005 pu. Esse
valor ainda é superior à tolerância. Por isso, devemos prosseguir com outra iteração. Para
essa condição,

∆θ2 = −0, 0051 rad

A atualização do ângulo na barra 2 terá o seguinte resultado:


5.3. MÉTODO DE NEWTON - RAPHSON DESACOPLADO RÁPIDO 93

(3) (2)
θ2 = θ2 + ∆θ2 = −0, 3256 + (−0, 0051) = −0, 3307 rad.

ITERAÇÃO 2 - Q −V
Nesta iteração, novamente utiliza-se o valor atualizado do ângulo θ2 calculado na
iteração anterior.
De acordo com procedimento semelhante ao já feito anteriormente, calcula-se:

Q2 (V, θ ) = 0, 0716 pu

e ∆Q2 = 0, 0016. Este valor atende ao mismatch. Portanto, aceita-se que a con-
vergência foi atingida para a malha Q-V. Deve-se verificar se a solução atende também ao
mismatch para o caso da malha P − θ .
ITERAÇÃO 3 - P − θ
Para esta situação,
P2 (V, θ ) = −0, 299 pu

Logo, o mismatch de potência é ∆P2 = −(−0, 3) + (−0, 299) = 0, 001 pu. A con-
vergência também foi atingida. Logo o resultado final será:

θ2 = −0, 3307 rad e V2 = 0, 9774 pu.


6

FLUXO DE CARGA LINEARIZADO

O fluxo de carga linearizado é baseado no acoplamento das variáveis P − θ . Esta abor-


dagem não é aplicável a sistemas de distribuição, pois nesses sistemas as resistências das
interligações têm valores comparáveis às reatâncias. Isto decorre do fato que na abor-
dagem do fluxo linearizado, em termos de parâmetros da interligação, é levado em conta
somente a reatância série. Outras hipóteses são: considerar as magnitudes das tensões
nodais iguais a 1,0 pu e não levar em conta as potências reativas de barra e os taps de
transformadores. Por tudo isso, este método serve para calcular os ângulos iniciais das
tensões de barra, apropriado como ponto de partida para os métodos de Newton - Raphson
e suas variantes.
Utiliza-se o fluxo linearizado para estimar perdas ativa nas interligações, mas sem-
pre tendo em mente que essa é uma aobordagem que apresenta limitações.
Para deduzir as equações do fluxo linearizado, considere uma interligação entre as
barras k e m composta por uma linha de transmissão com parâmetros rkm , xkm e bshkm
(susceptância total da linha) e com modelo em π .
O interese é calcular somente as perdas ativas. No entanto, para deduzir as equações
dos fluxos de potência saindo de cada barra para a linha, Skm , (fluxo de k para m) e Smk
(fluxo de m para k), consideram-se as seguintes equações:


Skm = Pkm + jQkm = V k I km (6.1)

Smk = Pmk + jQmk = V m I mk (6.2)

Por outro lado, as correntes das baras para a linha, em ambos os terminais, são:

jbshkm
I km = ykm (V k −V m ) + Vk (6.3)
2
jbshkm
I mk = ykm (V m −V k ) + Vm (6.4)
2
1
onde ykm = gkm + jxkm = rkm + jxkm .

95
96 6. FLUXO DE CARGA LINEARIZADO

Calculando-se a parte real em (6.1) e (6.2), são determinados os seguintes fluxos


ativos:
Pkm = Vk2 gkm −VkVm gkm cos(θkm ) −VkVm bkm sen(θkm ) (6.5)
Pmk = Vm2 gkm −VkVm gkm cos(θkm ) +VkVm bkm sen(θkm ) (6.6)

A partir das equações (6.5) e (6.6), deduz-se que a perda ativa na linha é:

Perda ativa = Pkm + Pmk = gkm (Vk2 +Vm2 ) − 2VkVm gkm cos(θkm ) (6.7)

Se a condutância gkm for desprezada na expressão (6.7), ou seja, as perdas ativas


são nulas, resultam as seguintes expressões de fluxo ativo:

Pkm = −Pmk = −VkVm bkm sen(θkm ) (6.8)

As seguintes simplificações são consideradas:

1. sen(θkm ) ≈ θkm ;

1
2. bkm = − xkm ;

3. Vk ≈ Vm ≈ 1 pu.

Diante das simplificações anteriores

θkm θk − θm
Pkm = −Pmk = = (6.9)
xkm xkm
A expressão (6.9) apresenta o fluxo em função apenas das fases das tensões nas
barras k e m e da reatância da linha. Evidentemente, esse resultado só é aceitável se θkm
(abertura angular da interligação) é um valor pequeno de modo que a função sen(θ ) ≈
θkm )
θ . Isto pode ser comprovado traçando-se as curvas de Pkm = sen(xkm e de Pkm = θxkm
km
.
Enquanto a última curva é uma reta, que apresenta valor ilimitado, a primeira é uma
função senoidal, que claramente tem um valor máximo. Obviamente, não existe valor
ilimitado de potência Pkm , o que comprova as limitações de se aplicar uma abordagem
linear para calcular os fluxos.
O modelo linearizado é também conhecido como modelo CC de fluxo de carga
devido às semelhanças envolvendo variáveis de circuitos elétricos contendo apenas resis-
tores e fontes CC. Por exemplo, os fluxos ativos são semelhantes às correntes de ramo; os
ângulos se assemelham às tensões nodais; xkm é análogo a um resistor.
6.1. FORMULAÇÃO MATRICIAL 97

6.1 FORMULAÇÃO MATRICIAL

A injeção de potência ativa Pk em cada barra k é dada por:


NB
Pk = ∑ x−1
km θkm , k = 1, . . . , NB (6.10)
m=1

O somatório pode ser desmembrado como:


!
NB NB NB
Pk = ∑ km θk −
x−1 ∑ km θm = BPkk θk +
x−1 ∑ BPkm θm, k = 1, . . . , NB (6.11)
m=1 m=1 m=1

A expressão (6.11) pode ser posta em uma forma matricial como segue. O so-
matório pode ser apresentado em uma forma compacta como:

Pk = BPk θ (6.12)

onde BPk é a k-ésima linha da matriz BP , cujos elementos são os seguintes:

−1
1. BPkk = ∑NB
m=1 xkm ;

2. BPkm = −x−1
km

e Pk é a injeção de potência ativa na barra k.


É necessário definir uma barra de referência, antes de se resolver a equação (6.12).
Esta barra corresponde à barra swing do problema de fluxo de carga. Nestas condições,
fixa-se a fase dessa barra, calculando-se as demais. Como conseqüência disso, deve-se
excluir uma linha e uma coluna correspondentes à barra swing na matriz BP . Também
não se utiliza a injeção da barra de referência nos cálculos.
EXEMPLO
Considere um sistema composto por três barras com as seguintes características:
reatncias das interligações x1,2 = 1/2 pu, x1,3 = 1/5 pu, x2,3 = 1/3 pu. As injeções de
potências nas barras 2 e 3 são 0,6 pu e -1,2 pu, respectivamente. Suponha que a referência
seja fixada na barra 1 e seja θ1 = 0o . Calcule as fases nas barras 2 e 3, bem como os fluxos
ativos nas interligações e a potência ativa injetada na barra 1. Considere que a reatância
xi, j é característica da interligação entre as barras i e j genéricas.
SOLUÇÃO
A matriz BP neste caso é de ordem 2 e seus elementos são:
98 6. FLUXO DE CARGA LINEARIZADO

 
5 −3
−3 8

O sistema resultante para o cálculo dos ângulos é:


    
5 −3 θ2 0, 6
=
−3 8 θ3 −1, 2

A resposta do problema permite se obter θ2 = 0, 0387 rad e θ3 = −0, 1355 rad. Os


1,2 θ1,2 = −0, 0774 pu, P1,3 = x1,3 θ1,3 = 0, 6774 pu, P2,3 =
fluxos na linha são: P1,2 = x−1 −1

2,3 θ2,3 = 0, 5226 pu.


x−1
O balanço de potência total é P1 + P2 + P3 = 0. Assim, na barra de referência,
P1 = −P2 − P3 = −(0, 6) − (−1, 2) = 0, 6 pu.

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