Você está na página 1de 30

ESTADO DE SANTA CATARINA

DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM - DER/SC


PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO TÉCNICA - DER/FAPEU

CURSO DE PLANEJAMENTO E GESTÃO RODOVIÁRIA

ANÁLISE DE FLUXOS DE CAIXA


PARA ESTUDOS DE CONCESSÕES

PARTE 1
MATEMÁTICA FINANCEIRA E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS

Instrutor: SHU HAN LEE, M.Sc.


Eng. Civil, Prof. Adjunto UFSC

Florianópolis, outubro de 1997.


SUMÁRIO

1 PROGRESSÕES............................................................................................. 01
1.1 FÓRMULAS BÁSICAS.................................................................................. 01
1.1.1 Progressões aritméticas............................................................................. 01
1.1.2 Progressões geométricas........................................................................... 02
1.2 EXERCÍCIOS SUGERIDOS.......................................................................... 02
2 CONCEITOS DE MATEMÁTICA FINANCEIRA............................................... 03
2.1 CONCEITOS REFERENTES A JUROS........................................................ 03
2.2 EXERCÍCIOS SUGERIDOS........................................................................... 06
3 O CONCEITO DE EQUIVALÊNCIA................................................................. 07
4 FLUXOS DE CAIXA......................................................................................... 08
5 CÁLCULO DE VALORES EQUIVALENTES................................................... 10
5.1 VALORES EQUIVALENTES A UM VALOR ÚNICO....................................... 10
5.2 VALORES EQUIVALENTES A UMA SÉRIE DE VALORES.......................... 10
5.3 VALORES EQUIVALENTES A UMA SÉRIE UNIFORME DE VALORES...... 10
5.4 VALORES EQUIVALENTES A UMA SÉRIE GRADIENTE DE VALORES.... 11
5.5 EXERCÍCIOS SUGERIDOS.......................................................................... 13
6 FÓRMULAS, TABELAS E PLANILHAS.......................................................... 14
7 AVALIAÇÃO DE INVESTIMENTOS................................................................ 15
7.1 O CONCEITO DE CUSTO DE OPORTUNIDADE......................................... 15
7.2 A RELAÇÃO BENEFÍCIO/CUSTO................................................................ 16
7.3 O VALOR ATUAL......................................................................................... 17
7.4 A TAXA INTERNA DE RETORNO................................................................ 18
7.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS CRITÉRIOS DE RENTABILIDADE............ 18
7.6 COMPARAÇÕES ENTRE DUAS ALTERNATIVAS....................................... 20
7.7 ESCOLHAS DENTRE PACOTES DE ALTERNATIVAS................................ 21
8 FUNÇÕES DO EXCEL COMUMENTE EMPREGADAS EM MATEMÁTICA
FINANCEIRA................................................................................................... 24
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 27

LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - FLUXO DE CAIXA DE RECEITAS E DISPÊNDIOS.......................... 08
TABELA 2 - FATORES E RESPECTIVAS FÓRMULAS....................................... 14
TABELA 3 - DADOS P/ ANÁLISE DE ALTERNATIVAS DE INVESTIMENTOS... 23
TABELA 4 - PACOTES DE ALTERNATIVAS ...................................................... 23

i
1

1 PROGRESSÕES

Em Matemática Financeira, trabalha-se usualmente com séries de valores.


Em diversos casos, essas séries de valores assumem configurações de
séries regulares, com características de progressões aritméticas ou, mais
comumente, de progressões geométricas.
Assim, para as determinações quantitativas freqüentemente necessárias a
partir das séries de valores oriundas de estudos referentes à Matemática Financeira,
é útil relembrar conceitos básicos das progressões mais comuns.
As progressões são séries de valores relacionados entre si, usualmente
representadas na forma:
a1 : a2 : a3 : ...... : aN
onde:
an = termo de uma progressão, n ∈ {1, 2, ... N};
N = número de termos da progressão;
q = razão da progressão, que define a relação entre os termos.

Dependendo das relações entre os termos, pode-se definir as diferentes


progressões:
- progressões aritméticas: q = an - an-1 ∀ 2 ≤ n ≤ N;
- progressões geométricas: q = an / an-1 ∀ 2 ≤ n ≤ N.

1.1 FÓRMULAS BÁSICAS


As operações mais elementares com séries de números em progressões
aritméticas ou em progressões geométricas, nas quais são conhecidos o tipo de
progressão, o valor do primeiro termo, o número de termos e a razão da progressão,
envolvem a determinação do termo geral da série, do seu termo intermediário, e da
soma dos termos.

1.1.1 Progressões aritméticas


Nas progressões aritméticas, podem ser definidas as seguintes relações
fundamentais:
Termo geral:
a n = a 1 + (n − 1) ⋅ q [1]
Termo intermediário:
2

a1 + aN
a N +1 = [2]
2 2
Soma dos termos:
a1 + aN
SN = ⋅N [3]
2
1.1.2 Progressões geométricas
Nas progressões geométricas podem ser também definidas as mesmas
relações fundamentais:
Termo geral:
a n = a 1 ⋅ q n −1 [4]
Termo intermediário:
a N +1 = a 1 ⋅ a N [5]
2

Soma dos termos:


SN = a1 + a2 + ............. + aN
SN = a1 + a1.q + a1.q2 + ............. + a1.qN-1
SN = a1 ( 1 + q + q2 + ............. + qN-1)
multiplicando essa expressão por q, resulta:
SN . q = a1 ( q + q2 + ............. + qN)
subtraindo dessa expressão a anterior, resulta:
SN (q-1) = a1 (qN - 1)
ou:
a 1 ⋅ ( q N − 1)
SN = [6]
q−1

1.2 EXERCÍCIOS SUGERIDOS


a) O tráfego médio diário (TMD) duma rodovia, atualmente de 600 vpd
(veículos por dia), cresce linearmente à taxa de 4% ao ano. Qual será o TMD
estimado nessa rodovia para o ano 2007?
b) Se o TMD estimado para o ano 2007, no caso acima, fosse de 800 vpd,
qual seria a taxa média anual de crescimento (linear) do tráfego?
c) Em ambos os casos, qual seria o número total estimado de veículos
que passaria pela rodovia no período de 1998 a 2007 (inclusive)?
c) Responda às questões acima supondo agora que o crescimento do
tráfego se dê não de forma linear, mas geométrica.
3

2 CONCEITOS DE MATEMÁTICA FINANCEIRA

Em estudos referentes ao planejamento rodoviário, seja para fins de


avaliações econômicas ou avaliações financeiras de empreendimentos, seja para a
análise de resultados ou indicadores históricos de investimentos, é comum se lidar
com valores financeiros relacionados a épocas ou períodos diferentes.
Para que esses valores, que ocorrem em tempos diferentes, possam ser
corretamente operados e/ou comparados, é necessário aplicar adequadas técnicas
de Matemática Financeira.
Para tanto, é útil uma rápida recapitulação dos conceitos básicos dessa
disciplina.

2.1 CONCEITOS REFERENTES A JUROS


Embora bastante utilizado no dia-a-dia, nem sempre o conceito de Juro é
corretamente considerado nas aplicações ou estudos. Há certas particularidades
que devem ser conhecidas para que os princípios de Matemática Financeira
possam ser adequadamente validados.
Os principais conceitos associados aos Juros são a seguir detalhados.

a) Definição:
"Juros são a remuneração do capital empregado em atividades
produtivas".
A um capital (Principal) empregado durante um certo tempo (Período de
Capitalização), é acrescido (Capitalizado) o valor correspondente aos Juros,
formando o Montante.
Os Juros estão sempre associados a um período de referência: por
exemplo, juros de 10 % ao ano (10 %a.a.), juros de 0,5 % ao mês (0,5 % a.m.), juros
de 0,01 % ao dia (0,01 %a.d.).

b) Juros simples x juros compostos:


Dependendo dos valores sobre os quais incidem os juros, após um
determinado tempo ou período de capitalização, têm-se conceitos diferentes de
juros, que podem ser Juros Simples ou Juros Compostos.
Juros simples: quando somente o principal rende juros, após cada período
de capitalização, ao longo da vida do investimento.
Juros compostos: quando, após cada período de capitalização, os juros
são incorporados ao principal, passando o montante a render juros.
No caso dos juros simples, tem-se o caso de uma progressão aritmética, e
no caso dos juros compostos, trata-se do caso de uma progressão geométrica.
4

Representando por P o principal, por N o número de períodos de


capitalização, por i os juros e por S o montante ao final do período de capitalização,
tem-se:
No caso de juros simples: S = P (1+ n.i)
No caso de juros compostos: S = P (1 + i)n
Doravante, para fins de estudos, trataremos sempre de juros compostos,
exceto quando expressamente indicado em contrário.

c) Taxa efetiva x taxa nominal:


Quando o período a que o juro está referido coincide com o período de
capitalização, tem-se o caso de uma Taxa Efetiva de Juros.
Sendo, por exemplo, dados os seguintes parâmetros:
- valor do principal = $ 100,00
- taxa de juros = 12 % a.a.
- período de capitalização = 1 ano.
Nesse caso, ao final do período de 1 ano, o valor do montante será dado
por:
S = 100 (1 + 0,12)1 = 100 . 1,12 = $ 112,00
O valor dos juros nesse período é dado por:
J = 112,00 - 100,00 = $ 12,00. Observe-se que, ao longo de período, os
juros realizados foram de $ 12,00 sobre os $ 100,00 aplicados, correspondendo a
uma taxa efetiva de 12 % a.a..

Quando, no entanto, o período a que se refere o juro não coincide com o


período de capitalização, tem-se o caso de uma Taxa Nominal de Juros.
Tomem-se agora, por exemplo, os seguintes dados:
- valor do principal = $ 100,00
- taxa de juros = 12 % a.a.
- período de capitalização = 6 meses (período de capitalização semestral).
No presente caso, ao final do período de 1 ano, o valor do montante será
diferente do anterior, e dado por:
J = 12 / 2 = 6 % a.s., capitalizados semestralmente;
portanto, ao final de 2 semestres,
S = 100 (1+ 0,06)2 = 100 . 1,1236 = $ 112,36
O valor dos juros nesse período foi de:
J = 112,36 - 100,00 = $ 12,36.
5

Observe-se que, neste último caso, uma taxa de juros nominal de 12,00 %
a.a. foi equivalente a uma taxa efetiva de juros de 12,36 % a.a..
Chamando:
iN = taxa nominal de juros, referida ao período N;
im = taxa de juros referida ao período m, sendo
m = número de períodos de capitalização no tempo N
ief = taxa efetiva de juros,
podemos escrever:
i m = iN / m
e:
(1 + im)m = (1 + ief )
assim, a relação entre a taxa efetiva e a taxa nominal de juros pode ser expressa
por:
m

(1+ i ef ) =  1+ mN 


i
[7]

No exemplo anteriormente considerado, os cálculos pertinentes


resultariam:
2

(1+ i ef ) =  1+ 0,212  = 11236


,

logo,
ief = 0,1236 ≡ 12,36 % a.a.

d) Capitalização contínua:
Numa extensão do conceito de taxa efetiva de juros versus taxa nominal
de juros, podemos introduzir o conceito de Capitalização Contínua, que ocorre
quando os períodos de capitalização são muito pequenos.
Matematicamente, podemos representar essa situação a partir da equação
[7], onde agora admitimos que o período N é muito grande em relação ao período
de capitalização, resultando, portanto em valor de m muito grande (tendendo ao
infinito).
A equação [7] pode ser transformada em:
m
⋅iN
  iN
(1+ i con ) =  1+ m1 
 iN 

chamando:
m
=k
iN
6

temos:
k⋅iN

(1+ i con ) =  1+ k1


ou, explicitando:
i
 1 k  N
i con =  1+   − 1
 k  
no caso de capitalização contínua, temos que tanto m quanto k são muito grandes,
tendendo ao infinito, e portanto a equação acima resulta:
i
 1 k  N
i con = Lim  1+   − 1
k →∞  k  

como:
k
 1
Lim  1 +  = e
k →∞  k
resulta:
i con = e iN − 1 [8]

Por exemplo, a taxa efetiva de juros correspondente à taxa nominal de 12


%a.a., capitalizados continuamente, seria de:
icon = e0,12 - 1
icon ≈ 12,75 % a.a. efetivos.

2.2 EXERCÍCIOS SUGERIDOS

a) A caderneta de poupança paga juros reais de 6 % a.a., e efetua


mensalmente o depósito dos juros na conta. Desconsiderando a correção
monetária, qual seria o valor do saldo em caderneta de um depósito de $ 100,00
após 1 ano? A taxa de 6 % a.a. anunciada é uma taxa efetiva ou nominal?
b) Se uma entidade financeira, objetivando atrair investidores, anunciar
que remunerará investimentos pagando juros de 12 % a.a. sobre os valores
investidos, com juros capitalizados diariamente, qual será o valor de um
investimento de $ 100,00 ao cabo de 1 ano? E se a capitalização dos juros fosse
feita a cada hora?
7

3 O CONCEITO DE EQUIVALÊNCIA

Dada a existência dos juros, não se pode comparar diretamente valores


financeiros, quando estes não estão referidos à mesma época ou às mesmas datas
de referência.
Uma questão clássica a esse respeito consiste em responder à pergunta:
- o que vale mais: R$ 1.000,00 hoje, ou R$ 1.080,00 daqui a 1 ano?
As respostas a essa questão são variadas, dependendo, inclusive, do
regime inflacionário do ambiente em que se está situado.
Desconsiderando, por enquanto, a questão da inflação, que pode merecer,
como se comentará mais adiante, adequado tratamento, pode-se refazer a
pergunta, supondo agora uma moeda estável (ouro, ou dólar, por exemplo):
- o que vale mais: $ 1.000,00 hoje, ou $ 1.080,00 daqui a 1 ano?
Mesmo com moeda estável, não podemos comparar diretamente os
valores, sem antes referí-los à mesma data.
A técnica adequada para a comparação entre valores que ocorrem em
datas distintas, consiste em se estabelecer uma Data de Referência e em se
determinar, para cada valor correspondente a determinada época, o seu Valor
Equivalente na data de referência. E, para a determinação desse valor equivalente,
é necessário considerar a remuneração do capital ao longo do tempo.
Ou seja, para comparação entre valores ocorrente em épocas distintas,
tais valores devem ser referidos à mesma data de referência, considerando a
adequada taxa de juros.
No caso da questão anteriormente colocada, poderemos comparar os
valores se conhecermos a taxa de juros que remunera o capital, digamos, de 7,2 %
a.a., capitalizados mensalmente.
Nessas condições, o juro efetivo a considerar será de:
ief = (1 + 0,072 / 12)12 - 1 = 0,07442 (ou 7,442 % a.a., efetivo)
O valor equivalente aos $ 1.000,00 de hoje, daqui a 1 ano, será:
1.000,00 (1+0,07442) = $ 1.074,42 (menor que $ 1.080,00 daqui a 1 ano).
Alternativamente, poder-se-ia calcular o valor atual (hoje) equivalente aos
$ 1080,00 daqui a 1 ano:
1.080,00 / (1 + 0,07442) = $ 1.005,19 (maior que os atuais $ 1.000,00).
Financeiramente, nessas condições de juros, seria preferível contar com $
1080,00 daqui a 1 ano.
Mas conceitualmente, o que interessa é entender que, para a taxa de juros
considerada, o valor de $ 1.000,00 na data de hoje é equivalente ao valor de $
1.074,42 daqui a 1 ano; da mesma forma, o valor de $ 1.080,00 daqui a 1 ano é
equivalente a $ 1.005,19 na data de hoje.
8

4 FLUXOS DE CAIXA
A consideração de valores ocorrentes em épocas diferentes e, portanto, a
consideração de juros, de períodos e demais elementos que devem ser
considerados nas comparações e/ou para os cálculos de valores equivalentes, fica
facilitada se os representarmos em forma tabular ou em forma gráfica, constituindo
os denominados Fluxos de Caixa.
Na representação dos fluxos de caixa em forma gráfica, são empregados
diagramas, tais como o da figura abaixo, que consideram:
- em escala horizontal: os tempos, assinalando-se os períodos (inteiros) de
capitalização;
-em escala vertical: os valores financeiros, simbolizados por setas, com a
convenção:
. para cima (+) : entradas de dinheiro, ou recebimentos;
. para baixo (-) : saídas de dinheiro, ou pagamentos.

100
15
10

0 1 2 3 n tempo
10
i = 6,00 % a.a.
100
Representação gráfica de um Fluxo de Caixa

A representação de fluxos de caixa na forma tabular é tecnicamente


equivalente, consistindo basicamente na apresentação (discriminada, se for o caso,
segundo vários itens) dos valores financeiros, em correspondência com as
respectivas datas de referência.
Por exemplo, na tabela 1 está apresentada parte de um fluxo de caixa,
onde se discriminam valores anuais de receitas e de dispêndios pertinentes a um
investimento.
TABELA 1 - FLUXO DE CAIXA DE RECEITAS E DISPÊNDIOS
Receita Custos Tributos Aquisição Contribuição Imposto
Ano Bruta Operacionais s/Receitas de Direitos Social de Renda
(US$) (US$) (US$) (US$) (US$) (US$)
1 10.053.000,00 10.707.735,00 769.054,50 50.265,00 11.773,09 22.075,86
2 20.985.000,00 11.388.651,84 1.605.352,50 104.925,00 596.086,29 1.838.880,30
3 21.904.000,00 12.696.140,84 1.675.656,00 109.520,00 587.398,80 1.811.730,30
4 22.864.000,00 16.329.328,72 1.749.096,00 499.320,00 496.967,33 1.529.115,17
5 23.953.000,00 17.601.411,12 1.832.404,50 504.765,00 574.158,58 1.770.352,13
6 30.792.000,00 26.976.616,52 2.355.588,00 538.960,00 538.546,91 1.659.059,07
7 32.111.000,00 32.878.065,92 2.456.491,50 545.555,00 - -
8 33.426.000,00 31.513.474,34 2.557.089,00 552.130,00 - -
9 34.882.000,00 33.735.900,74 2.668.473,00 559.410,00 133.631,06 283.935,46
10 36.336.000,00 33.102.554,01 2.779.704,00 566.680,00 303.367,88 924.080,93
11 37.782.000,00 30.859.520,01 2.890.323,00 573.910,00 436.707,58 1.340.792,26
12 39.214.000,00 30.810.076,01 2.999.871,00 581.070,00 612.050,23 1.888.770,59
FONTE DOS DADOS BRUTOS: LEE, Shu Han (1996).
9

Para o tratamento adequado dos fluxos de caixa, devem ser estabelecidos


previamente as convenções e critérios a serem considerados quanto aos elementos
que os constituem.
Assim, por exemplo, os valores que ocorrem dentro de um período de
referência – por exemplo, no ano 9 do fluxo de caixa da tabela 1 – pode estar, em
princípio, ocorrendo em qualquer dos dias do ano 9. Para validar os cálculos
pertinentes ao fluxo de caixa, deve ser então estabelecida uma convenção
adequada, considerando que todos os valores dentro de um período são
considerados como ocorrentes no início do período (valores antecipados) ou no final
do período (valores postecipados).
Da mesma forma, há que se estabelecer previamente os períodos de
capitalização a serem considerados – se diários, mensais, anuais, ou outros
períodos de interesse.
Nos casos em que é especificada uma taxa de juros, deve-se especificar a
que tipo e condições de capitalização se refere a taxa de juros a considerar no fluxo
de caixa.
Para maior facilidade e uniformidade de tratamento, será utilizada,
doravante, a seguinte notação e convenções, exceto quando expressamente
indicada em contrário:
i = taxa efetiva de juros;
iN = taxa nominal de juros;
m = período de capitalização dos juros;
n = número de períodos de capitalização;
P = principal ou valor atual do capital;
S = montante ou valor do capital ao final de n períodos;
R = série uniforme de pagamentos;
G = série de pagamentos em Gradiente [G, 2G, 3G, ....(n-1)G].
Serão assumidos sempre juros compostos e efetivos, e a consideração de
séries postecipadas, ou seja, com valores considerados como concentrados ao final
de cada período de referência.
10

5 CÁLCULO DE VALORES EQUIVALENTES

Partindo do conceito de equivalência de valores e admitida a existência


dos juros, pode-se desenvolver as expressões para cálculo dos valores
equivalentes.

5.1 VALORES EQUIVALENTES A UM VALOR ÚNICO


Chamando o valor V0 , referido à data presente ou data zero, de Valor
Presente ou Valor Atual, e denominando por Vn o valor referido ao final dos n
períodos, pode-se determinar:

0 1 2 k n-1 n

i % a.p.
Vk Vk
V0 (= P) =
(1+ i) k

Vn (= S) = Vk ⋅ (1+ i) n − k

5.2 VALORES EQUIVALENTES A UMA SÉRIE DE VALORES


i % a.p.

0 1 2 k n-1 n

V1 V2 Vk Vn-1 Vn

V1 V2 Vk Vn−1 Vn
V0 ( = P) = + 2 + .........+ k + .........+ n− 1 +
(1 + i) (1+ i) (1 + i) (1 + i) (1 + i) n

Vn ( = S) = V1 ⋅ (1+ i) n − 1 + V2 ⋅ (1+ i) n − 2 + .......+ Vk ⋅ (1+ i) n − k + .......+ Vn −1 ⋅ (1+ i) + Vn

5.3 VALORES EQUIVALENTES A UMA SÉRIE UNIFORME DE VALORES


i % a.p.

0 1 2 k n-1 n

R R R R R
11

Calculando primeiramente o Montante S:

Vn ( = S) = R ⋅ (1+ i) n −1 + R ⋅ (1 + i) n − 2 +.......+ R ⋅ (1+ i) n − k +.......+ R ⋅ (1+ i) + R

[
Vn ( = S) = R ⋅ (1 + i) n −1 + 1+ i) n − 2 +.......+(1 + i) n − k +.......+(1 + i) + 1 ]
e, aplicando a fórmula [6]:
(1+ i) n − 1
S = R⋅
i
O valor presente (valor atual) equivalente à série uniforme, na data zero,
pode ser calculado simplesmente por:
S
P=
(1+ i) n
ou:
 (1 + i) n − 1 1 
P = R⋅ ⋅ 
 i (1 + i) n 

5.4 VALORES EQUIVALENTES A UMA SÉRIE GRADIENTE DE VALORES


i % a.p.

0 1 2 3 n-1 n

G
2G

(n-2)G

(n-1)G

A série gradiente equivale à soma de (n-1) séries uniformes, com


pagamentos de valor G, a primeira série começando no período 2, a segunda no
período 3 e assim por diante.
Essas (n-1) séries e os respectivos montantes resultam:
1ª série: série uniforme de (n-1) pagamentos G
i % a.p.

0 1 2 3 n-1 n

G G G G

(1+ i) n − 1 − 1
S1 = G ⋅
i
12

2ª série: série uniforme de (n-2) pagamentos G


i % a.p.

0 1 2 3 n-1 n

(1 + i) n − 2 − 1 G G G
S2 = G⋅
i

(n-1)ª série: série uniforme de 1 pagamento G


i % a.p.

0 1 2 3 n-1 n

(1 + i) 1 − 1 G
S n−1 = G ⋅
i
A soma dessas (n-1) séries será dada por:
n− 1
S = ∑ Sk
k= 1

 (1 + i) n −1 − 1 (1 + i) n − 2 − 1 (1+ i) 1 − 1
S = G⋅ + + ......+ 
 i i i 
G
S= ⋅ [ (1+ i) n − 1 + (1+ i) n− 2 + ..........+ (1+ i) − (n − 1)]
i

S=
G
i
{[ ] }
⋅ (1+ i) n − 1 + (1 + i) n − 2 +..........+1 − n

observando que a expressão entre colchetes é dada por:


(1 + i) n − 1
[
(1+ i) n −1 + (1 + i) n − 2 +..........+1 = ] i
resulta:
G  (1+ i) n − 1 
S = ⋅ − n
i  i 
ou:
 (1 + i) n − 1 n 
S = G⋅ 2 − 
 i i
13

O valor presente ou valor atual da série gradiente, na data zero, será dado
por:
S
P=
(1+ i) n
ou:
 (1+ i) n − 1 n   1 
P = G⋅ − ⋅
 i
2
i   (1 + i) n 

5.5 EXERCÍCIOS SUGERIDOS


a) Qual o valor da série uniforme equivalente à série gradiente ?
(sugestão: faça SU = SG).
b) Um equipamento pode ser adquirido à vista por $ 1.000.000,00 ou em
5 parcelas de $ 250.000,00 cada, sendo a primeira à vista e 4 parcelas mensais,
totalizando $ 1.500.000,00. Considerando uma taxa de juros de 10% a.m. como
representativa do valor do dinheiro no mercado, incluindo a inflação, qual seria a
melhor opção de pagamento?
c) Uma entidade financeira empresta dinheiro nas seguintes condições de
rosto:
- valor do empréstimo: $ 12 milhões;
- juros de 6 % sobre o valor do empréstimo, cobrados antecipadamente;
- pagamento do empréstimo em 6 parcelas semestrais, de $ 2 milhões
cada, totalizando $ 12 milhões.
Quais os valores de juros semestrais e de juros mensais efetivos cobrados
pelo empréstimo?
14

6 FÓRMULAS, TABELAS E PLANILHAS

As fórmulas anteriormente vistas permitem que se proceda ao cálculo de


quaisquer equivalências, permitindo, assim, transformar os mais diferentes fluxos de
caixa em fluxos padronizados ou em fluxos mais simples, para fins de comparações
ou avaliações.
Essas fórmulas podem, também ser empregadas para o cálculo de fatores
multiplicadores, que podem ser tabelados, para fins de transformações e cálculos
de equivalências em séries de valores com características regulares.
Atribuindo nomes apropriados para esses fatores1, pode-se resumí-los,
juntamente com as devidas fórmulas, conforme exposto na tabela 2 adiante.

TABELA 2 – FATORES E RESPECTIVAS FÓRMULAS

PROBLEMA FÓRMULA FÓRMULA DE CÁLCULO DO FATOR

FPS(i, n) = (1+ i)
n
Dado P achar S S = P . FPS(i,n)

Dado S achar P P = S . FSP(i,n) 1


FSP(i, n) =
(1+ i) n
Dado S achar R R = S . FSR(i,n) i
FSR(i, n) =
(1+ i) n − 1
i ⋅ (1+ i)
n
Dado P achar R R = P . FPR(i,n)
FPR(i, n) =
(1 + i) n − 1
Dado R achar S S = R . FRS(i,n) (1+ i) n − 1
FRS(i, n) =
i
Dado R achar P P = R . FRP(i,n) (1+ i) n − 1
FRP(i, n) =
i ⋅ (1+ i)
n

Dado G achar R R = G . FGR(i,n) 1 n 


FGR(i, n) =  − 
 i (1+ i) − 1
n

Dado G achar P P = G . FGP(i,n)  (1 + i) n − 1 n   1 


FGP(i,n) =  − ⋅
 i
2
i   (1 + i) n 

1 Foi adotada, para fins de referência, a notação utilizada por PUCCINI (1973); essa notação não é padronizada, havendo outras, igualmente práticas, tais
como a sugerida por FLEISHER (1973). Independentemente da notação, tais fatores são absolutamente equivalentes.
15

7 AVALIAÇÃO DE INVESTIMENTOS

Em planejamento de rodovias, são freqüentes os casos em que há


necessidade de se proceder à avaliação de diferentes alternativas de investimentos,
seja para se proceder à escolha daquela ou daquelas julgadas mais interessantes,
ou para se definir se é ou não justificável investir recursos financeiros na
implementação de determinados projetos.
Também freqüentes, são os problemas associados com a análise de
condições de financiamentos, ou de alternativas de financiamentos, para tomada de
decisões quanto aos custos de aporte de recursos, ou quanto aos impactos sobre
os custos de empreendimentos, sob diferentes hipóteses de financiamento.
São exemplos desses tipos de problemas as avaliações de viabilidade
econômica comumente procedidas como exigências prévias das entidades de
desenvolvimento para o financiamento de obras rodoviárias, e os estudos para fins
de análise e/ou dimensionamento de processos de concessões de rodovias.
Em todos os casos, observadas as respectivas peculiaridades2, e
considerados à parte os aspectos políticos e subjetivos, a avaliação de
investimentos pode ser feita matematicamente, uma vez que sejam definidos ou
conhecidos os fluxos de caixa dos valores resultantes desses investimentos.
Se nos fluxos de caixa estiverem definidos os custos (despesas ou saídas
de recursos) e os recebimentos (receitas ou entradas de recursos), relacionados às
respectivas épocas de ocorrência, é possível julgar se vale a pena efetuar os
investimentos (ou, dependendo do caso, se vale a pena tomar os recursos) através
de diferentes processos ou da obtenção de diferentes indicadores.
Os processos quantitativos, ou Critérios de Avaliação, e respectivos
indicadores mais utilizados, são:
- a Relação Benefício/Custo (B/C);
- o Valor Atual (VA);
- a Taxa Interna de Retorno (TIR).
Embora absolutamente equivalentes e produzindo necessariamente os
mesmos resultados, esses processos, chamados de Critérios de Rentabilidade, têm
peculiaridades, vantagens e desvantagens inerentes a cada caso em particular.

7.1 O CONCEITO DE CUSTO DE OPORTUNIDADE


Em qualquer dos critérios de rentabilidade acima relacionados, a idéia
básica é avaliar um investimento ou empreendimento através do seu fluxo de caixa,
onde estejam discriminados os valores de ingressos e egressos, adequadamente
relacionados às respectivas épocas de ocorrência.

2 São exemplos de cuidados peculiares à natureza de cada estudo, a consideração de preços e valores econômicos (excluídos os impostos) nos casos de
avaliações econômicas de investimentos em obras rodoviárias a cargo do poder público, e a consideração de preços e valores financeiros (incluídos os
impostos) nos casos de estudos de análise e dimensionamento de concessões de rodovias ou de empreendimentos executados pela iniciativa privada.
16

Mas, para que se possa trabalhar com os valores desse fluxo de caixa,
calculando os valores equivalentes para fins de comparações, é necessário
conhecer qual a taxa de juros a ser considerada nos cálculos.
Essa taxa de juros, quando se procede a avaliações por critérios de
rentabilidade, é o que se denomina de Custo de Oportunidade do Capital (COC), e
o entendimento do seu significado é fundamental para a compreensão da
inteligência que existe por trás desses processos de avaliação, e que valida a
aplicação dos respectivos indicadores resultantes.
Talvez a forma mais simples e abrangente de definir o custo de
oportunidade do capital seja dizer que ele representa o rendimento que se obteria
no melhor investimento alternativo.
Considerando o caso de se estar analisando o interesse em se investir
num determinado empreendimento, o fluxo de caixa correspondente deverá
considerar, como custo de oportunidade do capital, uma taxa de juros equivalente à
do rendimento que esse capital teria se não fosse aplicado no empreendimento sob
análise, caso em que deveria ser logicamente aplicado num investimento
alternativo, onde propiciasse o melhor resultado financeiro.
Essa é a idéia sempre embutida nos processos de avaliação: um
empreendimento ou investimento nunca é considerado de forma isolada, mas
sempre de forma comparativa, seja com outros empreendimentos ou com
investimentos hipotéticos representados pela consideração do custo de
oportunidade do capital.

7.2 A RELAÇÃO BENEFÍCIO/CUSTO

Por definição, a Relação Benefício/Custo (ou relação B/C) consiste no


quociente entre o valor dos benefícios resultantes de um empreendimento e o valor
dos respectivos custos.
É um índice ou indicador adimensional, cujo valor é interpretado da
seguinte forma:
• B/C < 1 : inviável (benefícios menores que os custos);
• B/C = 1 : indiferente (benefícios iguais aos custos);
• B/C > 1 : viável (benefícios maiores que os custos).

É claro que o valor dos benefícios (B) a ser considerado deve ser o valor
equivalente de todos os benefícios que figuram no fluxo de caixa, referido a uma
certa data (data ou período de referência), em geral a data 0 (zero), ao qual deve
ser também referido o valor dos custos (C), que deve ser, por sua vez, equivalente
às diversas parcelas de custos que figuram no fluxo de caixa.
17

B0
b1
b3 bn
b2

0 1 2 3 n ≡ 0 1 n
c3 cn i = COC
c2 i = COC
c1
C0

No fluxo de caixa representado na figura, se fixarmos a data zero como


data de referência, os valores de bi e de ci são "trazidos" para a data de referência
0, isto é, calcula-se a soma dos valores atuais dos benefícios na data 0 (B0), e a
soma dos valores atuais dos custos na data 0 (C0).
Com os valores de benefícios e de custos ( B0 e C0 ) referidos à mesma
data, pode ser feita a comparação desejada, ou seja, pode-se calcular a relação
B0/C0:
i = COC
1 1 1
C0 = c 0 + c 1 ⋅ + c2 ⋅ 2 + ........+ c n ⋅
(1+ i) (1+ i) (1+ i) n
1 1 1
B0 = b 0 + b1 ⋅ + b2 ⋅ 2 +........+ b n ⋅
(1 + i) (1+ i) (1 + i) n
Relação B/C = B0 / C0

7.3 O VALOR ATUAL

Outra forma de estudar a viabilidade (ou não) de um investimento ou


empreendimento é, ao invés de analisar o quociente entre o benefício total referido
a uma certa data e o custo total referido à mesma data, analisar simplesmente a
diferença entre esses valores.
Comumente, se escolhe a data zero como data de referência, sendo os
valores de benefícios totais e de custos totais referidos a essa data os respectivos
valores atuais de benefícios e de custos, e a diferença entre esses valores
denominada simplesmente de Valor Atual (VA).
No caso genérico representado na figura e equações do item 7.2 anterior,
o Valor Atual seria dado por: VA = B0 - C0 , onde o custo de oportunidade do
capital está considerado no cálculo dos valores atuais de benefícios (B0) e de
custos (C0).
18

O Valor Atual, expresso em unidades monetárias, é interpretado da


seguinte forma:
• VA < 0 : inviável (benefícios menores que os custos);
• VA = 0 : indiferente (benefícios iguais aos custos);
• VA > 0 : viável (benefícios maiores que os custos).

7.4 A TAXA INTERNA DE RETORNO

Uma terceira forma de avaliar a viabilidade (ou não) de um investimento ou


empreendimento, através de seu fluxo de caixa, é calcular a taxa de juros para a
qual os valores equivalentes de benefícios são iguais aos valores equivalentes dos
custos, e que é denominada de Taxa Interna de Retorno (TIR).
Em termos mais simples, o processo consistiria em se determinar a taxa de
juros para a qual o Valor Atual se anula ou para a qual a Relação B/C se torna
unitária (B0 - C0 = 0 ou B0/C0 = 1).
Como o cálculo dos valores atuais de benefícios e de custos, em função da
taxa de juros i, envolve polinômios em i de ordem n, há em tese n raízes3, ou seja, n
valores de taxa de juros i que satisfazem a condição B0 - C0 = 0 ou B0/C0 = 1.
Na prática, toma-se a primeira raiz positiva, ou seja, a mais próxima de
zero, como valor representativo da taxa interna de retorno, sendo o resultado
interpretado comparativamente com o custo de oportunidade de capital da seguinte
forma:
• TIR < COC : inviável (o investimento alternativo tem melhor rentabilidade);
• TIR = COC : indiferente (o investimento alternativo tem a mesma rentabilidade);
• TRI > COC : viável (o empreendimento tem rentabilidade superior à do melhor
investimento alternativo).

7.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS CRITÉRIOS DE RENTABILIDADE

Os 3 métodos de avaliação por critério de rentabilidade vistos — a relação


B/C, o VA e a TIR — são absolutamente equivalentes.
Caso um investimento resulte viável, inviável ou indiferente segundo um
dos métodos, os demais métodos deverão indicar necessariamente a mesma
condição.
Da mesma forma, se um conjunto (pacote) de alternativas de investimentos
resultar o mais vantajoso segundo um dos métodos, os demais métodos deverão
apontar idêntico resultado.

3 Esse é o motivo pelo qual, para o cálculo da TIR através de planilhas eletrônicas, os comandos demandam a indicação de um valor inicial ou "semente".
19

Para isso, no entanto, há cuidados especiais a serem observados para que


os métodos não resultem em distorções que possam conduzir a interpretações
errôneas dos resultados oferecidos.
Na análise de investimentos isolados, bastaria calcular um dos indicadores
de rentabilidade (B/C, VA ou TIR) para inferências a respeito do empreendimento;
na prática, pela facilidade de cálculo e pela maior riqueza de interpretação
possibilitada, costuma-se calcular os 3 indicadores.
Para ilustrar o procedimento, considere-se o caso hipotético e simplificado
de um investimento no melhoramento de uma estrada, com os seguintes dados e
condições, conforme fluxo de caixa ilustrado na figura a seguir:

$ 100 $ 100 $ 100 $ 100 $ 100

0 1 2 3 4 5

$ 10 $ 10 $ 10 $ 10 $ 10

COC = 12 % a.a.
$ 300

- custo dos investimentos no melhoramento igual a $ 300 na data 0;


- benefícios líquidos anuais decorrentes dos investimentos iguais a $ 100;
- custos anuais para manutenção do empreendimento iguais a $ 10;
- vida útil dos melhoramentos de 5 anos;
- custo de oportunidade do capital = 12 % a.a.

Os valores atuais de custos e de benefícios, referidos à data zero, serão:


B0 = $ 360,48 e C0 = $ 336,05 (verifique).
E os indicadores de rentabilidade resultam:
B0/C0 = 360,48 / 336,05 = 1,07
B0 - C0 = 360,48 - 336,05 = $ 24,43
TIR = 15,24 %
Observe-se que, como esperado, todos os indicadores apontaram para a
viabilidade do empreendimento.
É curioso, no entanto, observar que dependendo dos critérios que se
utilizem para considerar o que seja benefício ou custo, podem resultar valores
numericamente diferentes para a relação B/C.
Se, por exemplo, os custos de manutenção (de $ 10/ano) forem
considerados não propriamente como custos, mas como "benefícios negativos", isto
é, como parcelas que devem ser deduzidas dos benefícios anuais para que se
possa obter os benefícios líquidos a cada ano, o fluxo de caixa anteriormente
ilustrado passaria a ter a configuração mostrada na figura a seguir.
20

$ 90 $ 90 $ 90 $ 90 $ 90

0 1 2 3 4 5

COC = 12 % a.a.
$ 300

Nesta configuração, os valores atuais de custos e de benefícios, referidos à


data zero, serão agora:
B0 = $ 324,43 e C0 = $ 300,00 (verifique)
B0/C0 = 1,08
B0 - C0 = $ 324,43 - $ 300,00 = $ 24,43
TIR = 15,24 %.
Observe-se que o VA e a TIR não foram alterados, apesar da mudança no
valor da relação B/C; observe-se também que, apesar da mudança no valor da
relação B/C, o indicador continuou a apontar a viabilidade do empreendimento.
Este é, a rigor, o "defeito" deste índice de rentabilidade, em que pese o
fato de que não altera o julgamento quanto à viabilidade ou não do empreendimento.
Outros cuidados devem ser também observados quando da utilização
desses índices, conforme se tratará adiante.

7.6 COMPARAÇÕES ENTRE DUAS ALTERNATIVAS

As comparações entre alternativas de investimentos devem ser feitas com


certos cuidados, principalmente quando são utilizados, como elementos de decisão,
os indicadores resultantes da relação Benefício/Custo, ou a Taxa Interna de
Retorno, que é utilizada com muita freqüência, nos casos práticos.
Tomem-se, por exemplo, 2 investimentos hipotéticos, simplificados para
fins ilustrativos, com valores de investimentos e de retornos indicados na figura
abaixo, num ambiente em que o custo de oportunidade do capital seja de 6 % a.a..

Investimento A Investimento B
$ 1.120 $ 690

0 1 0 1

COC = 6 %a.a. COC = 6 %a.a.


$ 1.000 $ 600
21

O investimento A resultaria viável, com os seguintes indicadores


(verifique):
- B0/C0 = 1,06;
- TIR = 12,0 % a.a.
Da mesma forma, o investimento B resultaria viável, com os seguintes
indicadores (verifique):
- B0/C0 = 1,08;
- TIR = 15,0 % a.a.
Qual a melhor alternativa de investimento?
Tanto a relação B/C como a taxa interna de retorno correspondentes à
alternativa B resultaram melhores do que os correspondentes à alternativa A, o que
poderia induzir o analista a decidir-se por investir na alternativa B.
Há, no entanto, uma importante consideração a ser feita: caso se decida
investir na alternativa B, aparentemente a melhor, o que se fará com o saldo
remanescente, de recursos, que montam a $ 1.000 - $ 600 = $ 400 ?
Esse saldo, que não é investido nos empreendimentos em análise, deverá
ser investido no melhor investimento alternativo, que rende o equivalente ao custo
de oportunidade do capital, no caso, 6 % a.a..
Assim, investir na alternativa B equivale a 2 investimentos:
- de $ 600, com rendimento (TIR) de 15,0 % a.a., e
- de $ 400, com rendimento (COC) de 6,0 % a.a..
Já o fluxo de caixa do investimento na alternativa A pode ser decomposto,
considerando-se a diferença dos fluxos de caixa das alternativas A e B, em:
Fluxo A = Fluxo [ B ] + Fluxo [ A - B ]
Representando o fluxo de caixa correspondente à diferença [ A - B ]:

Investimento A Investimento B Investimento A - B


$ 1.120 $ 690 $ 430

0 1 – 0
1 = 0
1

COC = 6 %a.a. COC = 6 %a.a. COC = 6 %a.a.


$ 1.000 $ 600 $ 400

O fluxo de caixa [ A - B ] é equivalente a um investimento de $ 400, com


TIR de 7,5 % a.a. (verifique).

Assim, investir na alternativa A equivale a 2 investimentos:


- de $ 600, com rendimento de 15 % a.a. (igual ao investimento B), e
- de $ 400, com rendimento de 7,5 % a.a. (igual ao fluxo A - B).
22

Percebe-se que a alternativa A é superior à alternativa B, devendo ser,


portanto, a escolhida, embora os indicadores da alternativa B tenham resultado,
isoladamente, melhores.
Chegar-se-ia à mesma conclusão caso o indicador de viabilidade escolhido
fosse a relação Benefício/Custo ao invés da Taxa Interna de Retorno; o
procedimento para se efetuar a comparação é praticamente o mesmo, deixando-se
como exercício ao leitor a verificação quantitativa pertinente.

7.7 ESCOLHAS DENTRE PACOTES DE ALTERNATIVAS

Quando ao invés de apenas 2 alternativas mutuamente exclusivas estão


envolvidas várias alternativas, que podem compor diferentes elencos de
investimentos, com recursos limitados e não suficientes para atendimento a todas
as alternativas simultaneamente, tem-se o clássico problema de definição do melhor
pacote de investimentos a executar com os escassos recursos disponíveis.
O problema pode ser resolvido, com resultados absolutamente
equivalentes, de formas diferentes, tais como:

I - estudando os diversos pacotes, ou combinações de alternativas, em


ordem crescente de valor total de investimento, através do processo de
comparação visto acima, e selecionando o mais vantajoso (o que é
razoavelmente complicado); ou,
II - relacionando os diversos pacotes e calculando os respectivos Valores
Atuais (VA), selecionando que corresponder ao maior Valor Atual.

Esta segunda forma é de aplicação bem mais simples, e resultará, como


anteriormente afirmado, em conclusões matematicamente equivalentes. No caso do
exemplo anteriormente visto, por exemplo, bastaria calcular e comparar os Valores
Atuais dos respectivos fluxos de caixa A e B, que resultariam:

- VAA = B0 - C0 = $ 56,60;
- VAB = B0 - C0 = $ 50,94;

Portanto, a alternativa de investimento A resultaria mais vantajosa do que


a alternativa de investimento B, como anteriormente demonstrado.

Um exemplo que evidencia a praticidade da análise de pacotes de


alternativas de investimento através da consideração do Valor Atual é o formulado
por Fleischer (1973), que sugere as 3 alternativas resumidas na tabela 3 adiante.
23

TABELA 3 – DADOS PARA ANÁLISE DE ALTERNATIVAS DE INVESTIMENTOS


ALTERNATIVA INVESTIMENTO BENEFÍCIOS TIR VA0(1) B/C(1)
DE NO ANO 0 ANUAIS (10a)
INVESTIMENTO ($) (%) ($) ($)
A 10.000 1.628 10 1.982 1,20
B 20.000 3.116 9 2.934 1,15
C 50.000 7.450 8 4.832 1,10
(1)
Considerou-se um Custo de Oportunidade do Capital de 6 % a.a..
FONTE: Fleischer, 1973, p. 66 - 69.

A partir desses dados, pode-se estudar qual seria o pacote de alternativas


de investimento mais interessante, caso houvesse disponibilidade de recursos de $
75.000 para investir, a um Custo de Oportunidade do Capital de 6 % a.a..
Relacionando diversos pacotes de alternativas de investimento que se
poderiam montar combinando as alternativas dadas, com os respectivos Valores
Atuais, chegar-se-ia aos valores da tabela 4 abaixo.

TABELA 4 – PACOTES DE ALTERNATIVAS


ALTERNATIVAS DE VALOR VALOR
PACOTE OBSERVAÇÕES
INVESTIMENTO INVESTIMENTO ATUAL
I Não fazer nada $ 0 $ 0
II Somente investimento A $ 10.000 $ 1.982
III Somente investimento B $ 20.000 $ 2.934
IV Somente investimento C $ 50.000 $ 4.832
V Investimentos A + B $ 30.000 $ 4.916
VI Investimentos A + C $ 60.000 $ 6.814
VII Investimentos B + C $ 70.000 $ 7.776
VIII Investimentos A + B + C $ 80.000 $ 9.748 Inviável

A partir desses valores, pode-se facilmente estudar as alternativas mais


vantajosas para diferentes considerações.
Assim, por exemplo, caso as alternativas fossem equivalentes e
mutuamente exclusivas sob o ponto de vista técnico, seria mais interessante investir
na alternativa C (pacote IV); caso as alternativas não fossem mutuamente
exclusivas, o pacote mais interessante seria o VII, ao qual corresponderia o maior
Valor Presente (o pacote VIII compreende investimentos que superam a capacidade
de investir, limitada a $ 75.000).
Pode-se verificar que se chegaria a essas mesmas conclusões adotando-
se o processo de comparar os pacotes através dos outros indicadores (TIR e/ou
B/C), mas a extensão dos cálculos pertinentes torna desaconselhável seu uso.
24

8 FUNÇÕES DO EXCEL COMUMENTE EMPREGADAS EM MATEMÁTICA FINANCEIRA

VP ( taxa ; núm_períodos ; pag_uniforme ; Valor_Futuro ; Tipo ) = Valor Presente equivalente


VF ( taxa ; núm_períodos ; pag_uniforme ; Valor_Presente ; Tipo ) = Valor Futuro equivalente
VPL ( taxa ; valores_1 ; valores_2 ; .......) = Valor Presente Líquido de fluxos de valores
TIR ( valores ; estimativa ) = Taxa Interna de Retorno
MTIR ( valores ; taxa_segurança ; taxa_de_risco ) = Taxa Interna de Retorno Modificada.

VP ( t ; n ; R ; F ; Tipo )
Valor Presente (data 0) equivalente a um fluxo uniforme de n pagamentos de valor R,
considerando a taxa de desconto t;
Opcional: existência de um valor futuro F, na data n, equivalente a um pagamento ou a um saldo
remanescente;
Opcional: consideração de Tipo = 0 (défault) para fluxos postecipados; e
Tipo = 1 para fluxos antecipados.
VP

0 1 2 3 4 5 VP ( 12% ; 5 ; - 60 ) = 216,29

60 60 60 60 60
t = 12 %
a.p.

VP
100

0 1 2 3 4 5 VP ( 0,12 ; 5 ; - 60 ; 100 ) = 159,54

60 60 60 60 60
t = 12 %
a.p.

VF ( t ; n ; R ; P ; Tipo )
Valor Futuro (data n) equivalente a um fluxo uniforme de n pagamentos de valor R,
considerando a taxa de desconto t;
Opcional: existência de um valor presente P, na data 0, equivalente a um valor ou saldo inicial ou
a um pagamento inicial;
Opcional: consideração de Tipo = 0 (défault) para fluxos postecipados; e
Tipo = 1 para fluxos antecipados.
VF

0 1 2 3 4 5 VF ( 0,12 ; 5 ; - 60 ) = 381,17

60 60 60 60 60
t = 12 %
a.p.
25

VF

0 1 2 3 4 5 VF ( 12% ; 5 ; - 60 ; - 100 ) = 557,41

60 60 60 60 60
100 t = 12 %
a.p.

VPL ( t ; valores_1 ; valores_2 ; ....... )


Valor Presente Líquido (data 0) equivalente a séries ou fluxos de valores.

A B
VPL(12%;A2:A6) = - 280,26
2 - 60 0 1 2 3 4 5

3 - 70 VPL(0,12;A2:A3;-80;A5:A6)= - 280,26
60
4 - 80 70
80
5 - 90 90
100
6 - 100 t = 12 %
a.p.

TIR ( valores ; estimativa )


Taxa Interna de Retorno de um fluxo de valores;
valores: bloco com fluxo de valores a avaliar;
estimativa: valor estimado para semente (proporção ou % ).

50
B C D 40
30
20
TIR ( C5:C9 ; 10% ) = 12,826%
5 - 100 0 1 2 3 4

6 20 TIR ( C5:C9 ; 0,2 ) = 12,826%


t = 12 %
7 30 a.p.
8 40
9 50 100
26

MTIR ( valores ; taxa_segurança ; taxa_de_risco )

VA

80 80 80 80
A B C D
=(B + C)
0 1 2 3 4 5
11 0 - 100 0 - 100
C.O.C. = 10 %
12 1 - 100 0 - 100 a.p.
13 2 80 80 100 100
14 3 80 80
15 4 80 80 TIR (B11:C16 ; 10%) = 17,46 %
16 5 80 80 (VA ) = - 100 + VPL(0,1;D12:D16) = 39,63
FONTE: Casarotto Filho (1994)

Taxa Interna de Retorno Modificada: equivale a considerar um fluxo em que os dispêndios são
atualizados ao Custo de Oportunidade do Capital (taxa de segurança, no caso = 10 % a.p.), ao
passo que os recebimentos são aplicados a uma taxa de risco, por exemplo, de 12 % a.p..

Nesse caso, o fluxo de caixa da figura acima pode se representado pelos respectivos valores
equivalentes de dispêndios, atualizados para a data 0 mediante a aplicação da taxa de
segurança, e de recebimentos, capitalizados para a data 5 mediante a aplicação da taxa de
risco, resultando na configuração representada abaixo.

1,12^5*VPL(0,12;C12:C16) = 382,35

0 1 2 3 4 5

- 100 + VPL(0,1 ; B12) = - 190,91

Este fluxo equivale a um investimento com taxa interna de retorno ( i ) que pode ser calculada por:

190,91 . (1 + i)5 = 382,35


ou:
382,35
i= 5 −1 = 0,1490 ≡ 14,90% a. p.
190,91
O mesmo resultado pode ser obtido pela função MTIR:
MTIR(D11:D16;10%;12%) = 14,90 %.
27

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 CASAROTTO FILHO, Nelson et KOPITTKE, Bruno Hartmut. Análise de


investimentos. São Paulo : Editora Atlas S/A, 1994. 448 p.
2 FLEISCHER, Gerald A. Teoria da aplicação do capital : um estudo das
decisões de investimento. São Paulo : Ed. Edgar Blücher Ltda., 1973. Trad.
por SANTORO, Miguel Cezar. 272 p.
3 PUCCINI, Abelardo de Lima. Matemática financeira e análise de
investimentos. Rio de Janeiro : Forum Editora Ltda., 1973. 203 p.
4 MISHAN, E.J. Análise de custos-benefícios : uma introdução informal. Rio de
Janeiro : ZAHAR Editores, 1976. 488 p. Trad. por JUNGMANN, Ruy.
5 _____. Elementos de análise de custos-benefícios. Rio de Janeiro :
ZAHAR Editores, 1975. 203 p. Trad. por GARSCHAGEN, Donaldson M.
6 De FARO, Clóvis J. Daudt. Matemática financeira. Rio de Janeiro : APEC
Editôra [sic] S/A, 1970. 4. ed., 440 p.
7 LEE, Shu Han. Concessão de rodovias à iniciativa privada : critérios para
limitação de tarifas em processos de licitação. Florianópolis, 1996.
Dissertação (Mestrado em Infra-Estrutura e Gerência Viária) – Engenharia
Civil, Universidade Federal de Santa Catarina. 196 p.
8 MELLO, José Carlos. Planejamento dos transportes. São Paulo : McGraw-Hill
do Brasil, 1975. 192 p.
9 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR. Biblioteca Central. Normas
para apresentação de trabalhos. 5. ed. Curitiba : Ed. da UFPR, 1995. 8v.
: il.
ESTADO DE SANTA CATARINA
DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM – DER/SC
PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO TÉCNICA – DER/FAPEU

CURSO DE PLANEJAMENTO E GESTÃO RODOVIÁRIA

ANÁLISE DE FLUXOS DE CAIXA


PARA ESTUDOS DE CONCESSÕES

PARTE 1
MATEMÁTICA FINANCEIRA E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS

Instrutor: SHU HAN LEE, M.Sc.


Eng. Civil, Prof. Adjunto UFSC

Florianópolis, outubro de 1997.

Você também pode gostar