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Rondonópolis perde um mestre

Rondonópolis chora o desaparecimento do músico Marinho de Oliveira Franco,


carinhosamente tratado por "mestre Marinho", falecido no último dia 25, aos 88 anos de
idade. Saxofonista, ele era dono de um conjunto musical formado basicamente pelos seus
filhos, conhecido além das divisas de Rondonópolis, porque animou muitos bailes pelo
Mato Grosso afora. O Marinho & seus Beat Boys.

Indiscutivelmente, o "tio Marinho", como muita gente também o tratava, era uma figura
querida e um patrimônio da cultura musical rondonopolitana. Durante os anos em que vivi
naquela cidade, onde residi por muito tempo, e mesmo depois que vim para Cuiabá, mas
sempre mantendo contato com pessoas de lá, nunca ouvi ninguém falar mal do tio Marinho
ou soube de alguém que não gostasse dele. Ele era, sem dúvida alguma, o embaixador dessa
cidade, que ele tanto dignificou em vida.

Quando viajava com o seu conjunto para animar festas em outras cidades, era o nome de
Rondonópolis que eles levavam junto na bagagem. Uma cidade e seu povo que essa família
jamais deslustrou com atos desabonadores, por menores que sejam. Ao contrário, pai e
filhos, através da música, profissão que os unia, espalhavam alegria por onde andavam.

Parece que foi ontem, mas lá se vão cerca de 22 anos, quando tive o privilégio de conhecer
e me tornar amigo do Marinho e de sua ilustre família. Enquanto bato no teclado do
computador, minha memória volta a um tempo bom das domingueiras na ABR - tradicional
clube de Rondonópolis -, matinês dançantes animados pelo Marinho & seus Beat Boys.
Domingos esperados com tanta ansiedade por muita gente, inclusive por este jornalista,
então solteiro e, obviamente, mais jovem e sacudido.

Nessa viagem ao passado, parece que ali vejo as figuras de Aguinaldo Lucena, então
presidente daquele clube, e o Habib Dib, seu diretor, ambos também já falecidos, os dois
como que fiscalizando se algum "penetra" sem dinheiro para comprar os ingressos não
estava furando o cerco montado pelos porteiros. Mas tanto o "major" Aguinaldo como o
Habib, também eram os primeiros a colocar para dentro do clube os "Durangos Kids" que,
com uma boa conversa, diziam que iriam entrar só para dar uma "espiadinha" no salão, mas
ali ficavam até a domingueira acabar, geralmente por volta das 11 horas da noite, se não me
falha a memória. Com eles, ninguém era barrado no baile.

Baiano de Lençóis, o músico Marinho de Oliveira Franco chegou ainda bem jovem em
Mato Grosso, se radicando primeiro na região de Guiratinga, no garimpo conhecido como
Cassununga. Ele e diversos outros músicos foram contratados, ainda na Bahia, por um rico
"capangueiro" (comprador de diamantes) e dono de garimpos naquelas bandas então
agitadas do Leste. O homem, muitíssimo rico, era chegado num som e contratou uma
orquestra, praticamente para satisfazer sua paixão musical.

Pelo jeito, esse "capangueiro", cujo nome não me recordo agora, era daquele tipo de gente
que acha que mais vale um gosto satisfeito do que milhões guardados. Ao que parece,
morreu pobre.
Aliás, esse personagem de uma época de desbravamento e conquistas, de exploração de
jazidas diamantíferas e cujo ciclo econômico foi o mais importante para a fixação de várias
comunidades em nosso Estado, por ter sido ele um dos protagonistas destacados de uma
saga em que fortunas se ganhavam e perdiam-se rapidamente, merece ter sua biografia
melhor estudada.

E a esse comprador de diamantes, mecenas sertanejo da cultura musical, pode-se dizer,


devemos a gratidão por ter possibilitado a vinda de Marinho Oliveira Franco para Mato
Grosso. De Guiratinga, com o início da decadência das lavras de diamante, Marinho veio
para Rondonópolis, em 1950. Cidade que chora a sua perda, e nós aqui também.

Certamente, agora nos céus da Eternidade, seu velho saxofone jamais ficará calado, porque
a música, como dom de Deus, há de sempre soprar na alma desse grande maestro e amigo.

O mestre Marinho agora sopra seu saxofone nos céus da Eternidade

MÁRIO MARQUES DE ALMEIDA é jornalista.

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