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Quatro modelos de integração de técnicas ...

Briceño-León, R. (2003). Quatro modelos de integração de técnicas qualitativas e quantitativas de investigação nas
ciências sociais. in P. GOLDENBERG, R. MARSIGLIA & M. GOMES (orgs.) O Clássico e o Novo: tendências, objetos e

Quatro Modelos de Integração de Técnicas


10 Qualitativas e Quantitativas de
Investigação nas Ciências Sociais1

Roberto Briceño-León
abordagens em ciências sociais e saúde (p. 157-183). Rio de Janeiro: Editora

Introdução
Toda a ciência é qualitativa, no sentido que pretende estabelecer
uma qualidade a um objeto de estudo ao reproduzi-lo ou reconstruí-lo,
ao explicá-lo ou compreendê-lo. A quantidade em si mesma nada re-
presenta se não se relaciona com determinada qualidade; as cifras e
os dados não falam sozinhos, requerem uma interpretação que alude a
uma teoria, à afirmação ou à negação de uma idéia. Os métodos que
se utilizam na ciência são de dois tipos: observacional ou experimental.
Os observacionais são aqueles em que o investigador(a) faz as obser-
vações sobre uma realidade procurando intervir o menos possível nas
condições naturais nas quais se encontra o objeto investigado. Os ex-
perimentais são aqueles em que, de uma maneira intencional ou con-
trolada, se introduz uma condição artificial, a partir da intervenção do
investigador, que altera as condições naturais do objeto investigado,
com o objetivo de poder estabelecer seu efeito nas variáveis no estudo.
Estes métodos podem ser utilizados usando-se técnicas quali-
tativas ou quantitativas de coleta e análise de dados, portanto o que
FIOCRUZ

varia entre a quantidade e a qualidade da informação não são os mé-


todos, mas as técnicas utilizadas, visto que é possível fazer observa-
ções com técnicas quantitativas de levantamentos (surveys) que se-
rão processados estatisticamente ou com histórias de vida que serão
analisadas qualitativamente. Igualmente é possível – embora não tão
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As investigações nas quais se fundamenta o presente artigo foram financiadas pelo CDCh da
Universidade Central da Venezuela, Conicut e Programa Especial TDR da WHO/Undp/World Bank
(Tradução de Maria Cristina Iglesias).

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comum – realizar um experimento com técnicas qualitativas e sem medi-


ções, ou, ao contrário, e o que é mais comum, com técnicas quantitativas
para se estabelecer o plano de coleta de dados e fazer sua análise da
variância estatística a fim de tirar conclusões sobre a variável explicativa.
A idéia singular das ciências sociais talvez se apóie na tese de
Dilthey, que, no final do século XIX, afirmou que as ciências sociais
(que ele chamava de moral) deviam ter um método científico distinto,
pois não procuravam, como nas ciências da natureza, explicar o fenô-
meno, mas compreendê-lo (Dilthey, 1970). A compreensão, como
forma de aproximação ao objeto do estudo, é o que diferencia as ciên-
cias sociais. Assim, os fenômenos sociais não são dados objetivos,
mas sim repletos de significado, uma vez que o mundo social é
construído sobre significações que outorgam os indivíduos num con-
texto social e cultural, historicamente determinado. As ciências soci-
ais pretendem compreender essas significações, elaborar, como disse
Garfinkel (1967), uma significação a partir dos significados da gente.
Essa perspectiva compreensiva da vida social levou muitas pes-
soas a considerar que as ciências sociais devem adotar as técnicas qua-
litativas, que muitos chamam de métodos qualitativos, como próprios
dessas disciplinas. Parece-nos que não é necessariamente assim, pois
é possível pretender a compreensão de um processo social utilizando
um ou outro tipo de técnica de coleta ou análise da dados. A pergunta
importante que o investigador deve fazer é com qual das técnicas é
possível conseguir uma melhor compreensão, ou, melhor ainda, como
é possível integrar as técnicas das quais se dispõe para poder compre-
ender a realidade da forma mais completa, e também (dura realida-
de!) da maneira mais eficiente em termos de tempo e dinheiro.
Mas o fato de sustentarmos que as investigações qualitativa e
quantitativa podem se integrar não quer dizer que estas sejam iguais
ou intercambiáveis entre si. A investigação qualitativa e quantitativa
são bastante diferentes em termos de desenho, da relação com os da-
dos, da estratégia de investigação, da forma de organizar as equipes de
trabalho e da visão epistemológica do investigador. Esta diferença no-
tável é que nos permite considerar que devam estar integradas, e, por
conseguinte, explorar as potencialidades de cada uma. As diferenças,
ao invés de um obstáculo, são uma possibilidade que, adequadamente
utilizada, pode trazer produtos científicos da maior qualidade.

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As Diferenças entre os Desenhos da Investigação


Qualitativa e Quantitativa
Até a Segunda Guerra Mundial, as investigações sociais utiliza-
vam igualmente a investigação qualitativa e a quantitativa. Nos Esta-
dos Unidos, a presença da Escola de Chicago havia permitido o esta-
belecimento formal e acadêmico das técnicas qualitativas e os traba-
lhos de Park e Burgess tinham tido um grande impacto e utilidade para
as companhias que investiam nos serviços da cidade. O estudo de
Redfield, no México, sobre um pequeno povoado rural, deu-lhe prestí-
gio pela realização de investigação qualitativa muito próxima à antro-
pologia. Na Europa, a tradição filosófica da sociologia alemã ou fran-
cesa fazia pouco uso da quantificação, apesar de estudos notáveis como
O Suicídio, de Durkheim (1999), publicado em 1897, no qual a maioria
dos trabalhos eram propriamente qualitativos. Weber tinha coordenado
uma pesquisa, em 1931, sobre os desempregados do pequeno povo de
Marienthal, que permaneceu sem qualquer difusão ou tradução até os
anos 60, em inglês, e 80, em francês (Lazarfeld, Jahoda & Zeizel, 1981).
Mas foi a partir da Segunda Guerra Mundial, com os estudos
sobre a opinião pública do soldado americano, que se impôs uma ori-
entação quantitativa na sociologia e, posteriormente, com muito mais
força na psicologia, deixando de lado o equilíbrio que existia com as
técnicas qualitativas. Nessa época, Pitirim Sorokim qualificou esta
dominação como a ‘quantofrenia’, que dominava a sociologia desse
tempo (Sorokin, 1956).
Parte desse domínio da investigação quantitativa deve-se ao de-
senvolvimento de técnicas estatísticas e à difusão dos primeiros compu-
tadores depois do final da guerra. Mas, também, ao desejo de uma obje-
tividade na investigação e à crença de que, com a retirada da figura do
investigador como eixo central do processo de investigação e análise, se
poderia evitar o viés que a sua presença introduzia. As técnicas quantita-
tivas colocavam, na formalização do procedimento investigativo e na
divisão do trabalho, a confiança – um tanto ilusória, mas acreditável –
de um caráter mais científico das conclusões da investigação.
A investigação qualitativa representou então um retorno do
investigador ao centro do processo investigativo. Com os seus pre-
conceitos e valores, o investigador voltava a ser incorporado e tinha

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um papel importante a partir do centro do processo de investigação


(Minayo, 1994). Óbvio que naquele tempo muita discussão filosófica
ocorreu sobre a epistemologia das ciências sociais e as posturas sobre,
por exemplo, o papel dos preconceitos na ciência variaram notavelmente.
Autores como Gadamer, que haviam sustentado desde o co-
meço dos anos 60, que os preconceitos eram importantes e cumpriam
uma função positiva, por assim dizer, na construção do saber, come-
çaram a ter relevância. Gadamer (1997) sustenta que, a busca da
verdade pura não ocorre nunca e que a compreensão pode dar-se
exclusivamente entre os horizontes prévios e as finalidades práticas
que derivam do saber. Bachelard (1972), por sua vez, estabeleceu a
importância da vigilância epistemológica como uma disciplina em
que o investigador tem de se impor, permanentemente, para conse-
guir a objetividade, e não como algo que se possa conseguir com a
aplicação de uma técnica.
A primeira diferença que podemos estabelecer entre o desenho
da investigação qualitativa e quantitativa reside no lugar do investiga-
dor: na primeira, o ele está presente e perto, na segunda, ele deve estar
distante; na primeira, ele atua dentro da própria investigação, na se-
gunda, atua de fora, construindo hipóteses e os instrumentos, sem se
envolver diretamente.
A segunda diferença corresponde ao modo de como se aproxi-
mar da realidade na qual a investigação se realiza. A investigação qua-
litativa se aproxima da realidade do estudo de uma maneira natural,
isto é, procurando não alterar o que ocorre, nem impor moldes para
encerrar a realidade em um padrão de observação, uma pergunta ou
uma teoria previamente desenvolvida. A investigação qualitativa pro-
cura não gerar reações que possam alterar o curso natural dos fatos;
isto nem sempre é conseguido, mas o princípio que orienta a investi-
gação implica que se deva minimizar este risco. A investigação quanti-
tativa demanda uma relação artificial com a realidade da investigação;
isto não implica algo negativo, é simplesmente uma característica, pois
uma investigação com objetivos precisos, com perguntas ou observa-
ções que devam ser realizadas de uma mesma forma, sem permitir
que o entrevistador modifique a pergunta ou o modo de fazê-la, ou que
ofereça qualquer explicação, pois, se isto ocorresse, seria impossível
considerar as respostas visto que, cada qual teria respondido a uma

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pergunta diferente e, portanto, não seria possível construir os agrega-


dos numéricos que este tipo de investigação exige. A artificialidade da
investigação quantitativa é a camisa de força que se coloca no estudo
para que se torne factível e sustentável, uma vez que a força de suas
conclusões derivam da correção da coleta da informação, posto que
não é possível, como na investigação qualitativa, fazê-la depender da
capacidade ou idoneidade do investigador envolvido.
Através dessa forma de aproximação à realidade, as estratégias
das investigações são completamente diferentes, a maneira natural de
aproximação da investigação qualitativa permite e obriga o desenho
de uma investigação não estruturada, aberta, que permite fazer trocas
e reformular continuamente as suposições ou hipóteses – se é que
existem hipóteses formais. Os instrumentos de coleta de informação
podem ser totalmente abertos, como o diário de campo, ou relativa-
mente elaborados, como a lista de temas para uma entrevista. No caso
de uma aproximação natural ao objeto de estudo, não se pode elaborar
muito a estratégia da investigação, pois esta perderia a flexibilidade e a
abertura que são a sua força. Contrariamente, a investigação quantita-
tiva deve ser estruturada; precisa de uma elaboração detalhada, e quanto
mais detalhada melhor, de cada um dos aspectos que se deseja inves-
tigar: como se quer conseguir a informação, com quais informantes
sim e com quais não, onde serão entrevistados, por quanto tempo, em
qual contexto a informação é aceitável e em qual não deve ser aceita
como válida. Em uma investigação quantitativa, deve se ter claro o
tempo estimado da coleta da informação, bem como o momento do
início e o fim da mesma. Cada palavra, cada gesto do entrevistador
deveria estar padronizado para que um survey possa ser comparado na
sua expressão máxima.
Pelos traços previamente descritos, a investigação qualitativa
tende a ser mais usada nos estudos exploratórios. Devido ao fato de
ser uma investigação com uma aproximação ‘natural’ à realidade es-
tudada e de ter um caráter não estruturado, a investigação qualitativa
permite com mais facilidade, e sem grandes filtros, captar uma massa
muito ampla de dados e informações que servirão de base ao tema
que está sendo explorando. Esta multiplicidade de informação dá opor-
tunidade a diferentes prenoções que tenham de competir, de encon-
trar asilo e sustento, ou serem desprezadas por serem infundadas.

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A investigação quantitativa, por sua vez, tende a ser mais usada


em estudos confirmatórios. O fato de ser uma investigação estruturada
permite estabelecer com muita precisão a hipótese que se quer verifi-
car e o modo como se vai realizar o processo de aceitação ou rejeição
da mesma. Óbvio que, quando um estudo se encontra no nível
confirmatório, muito trabalho prévio foi necessário, o que permitiu
estruturar a afirmação de verdade que se quer submeter à prova, por-
tanto, não se faz necessário incluir mais aspectos do que aqueles estri-
tamente necessários para o fim proposto. Em contrapartida, uma con-
firmação implica algo além da apreciação qualitativa de um processo
ou uma circunstância; requer uma verificação que tenha uma medição
estrita, que proporcione igual oportunidade à hipótese de ser aceita ou
rejeitada na observação a ser realizada, ou, no caso de uma exigência
de maior rigor e sustentação, no experimento que irá se realizar.
Temos dito que estes estudos tendem a ser usados por um ou-
tro tipo de investigação porque não estão completamente restritos a
estes caracteres exploratórios ou confirmatórios. Hoje em dia, é possí-
vel fazer estudos quantitativos de caráter exploratório; nestes, faz-se
uma pesquisa sem hipóteses e com uma grande quantidade de variáveis
que, com as facilidades da computação e das técnicas de análise de dados
– tal como a análise de correspondência múltipla ou de clusters –,
possibilita uma exploração e passa-se então a construir as hipóteses
que não existiam no início.
Alguns autores, pelas circunstâncias previamente descritas, tratam
de assimilar a classificação dos estudos científicos em nomotéticos
e idiográficos com as investigações quantitativa e qualitativa, res-
pectivamente. Os nomotéticos seriam quantitativos por serem
generalizáveis, no sentido de tratarem com noções, categorias, de po-
derem ser aplicados a situações distintas e de terem um caráter univer-
sal. Os ideográficos seriam qualitativos no sentido de corresponderem
a uma determinada realidade histórica e, portanto, sem pretenderem
estabelecer generalizações, mas, sim, esclarecer um aspecto sobre um
problema ou sobre uma determinada comunidade humana. A idéia
deve ter alguma sustentação, apesar de que, para muitas pessoas, toda
a investigação das ciências sociais é ideográfica e, talvez por isso, esses
estudiosos sustentam que a metodologia das ciências sociais sempre
deve ser qualitativa.

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Quadro 1 – Diferenças no desenho da investigação qualitativa e


quantitativa

Qualitativa Quantitativa
Lugar do investigador Interno Externo
Aproximação à realidade do estudo Natural Artificial
Estratégia da investigação Não estruturada Estruturada
Tipo de investigação dominante Exploratória Confirmatória
Tipo de conhecimento Ideográfico Nomotético

As Diferenças no Processo de Investigação


Quando Malisnowski foi às Ilhas Trobriand, em maio de 1915,
não sabia por quanto tempo deveria permanecer no arquipélago do
Pacífico Ocidental. Essa interrogação não se fundamentava somente
nas dúvidas que afloravam do desenvolvimento da Primeira Guerra Mun-
dial, da qual estava fugindo pelo temor de ser recrutado como súdito
austríaco, mas, sim, pela imprevisível tarefa na qual estava se envolvendo.
Seguindo os ensinos de Boas, Malisnowsli dedicou-se a convi-
ver com os nativos, aprender a sua língua e registrar as observações
sobre a vastidão da vida social no idioma local e sem traduções. Qual-
quer candidato ao doutorado em antropologia social nas universidades
tradicionais, como Oxford, deveria aprender a língua local e dedicar-se
a conviver durante um período de tempo prolongado na comunidade
que foi eleita para seu trabalho, sem saber quanto tempo levaria para
terminá-lo. Esta é uma das características própria da investigação qua-
litativa: o tempo da sua execução é bastante imprevisível.
Em compensação, a investigação quantitativa pode e deve esta-
belecer lapsos de tempo determinados para a realização do trabalho de
campo e a coleta de informação; é possível que o tempo para interpretar
os dados seja variável, mas não o tempo de coleta dos mesmos. Essa
característica que dá muita flexibilidade à investigação qualitativa tam-
bém pode colocar o pesquisador em grandes apertos, pois os períodos
de financiamento são limitados e as informações devem ser apresenta-
das em espaços de tempo que não necessariamente coincidem com a
flexibilidade e a paciência que se exige de um estudo qualitativo.

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De modo contrário, a investigação quantitativa permite estabe-


lecer lapsos de tempo bem óbvios, pois é possível prever os meses
necessários para a execução de cada uma das atividades. É viável prog-
nosticar razoavelmente quanto tempo vai durar a investigação e pro-
meter conseqüentemente os resultados para uma data determinada.
Mas o papel do tempo não somente diferencia os tipos de
investigação pela sua previsibilidade nos períodos de sua execução,
mas também pelo que se considera o tempo legítimo de investigação.
Na investigação quantitativa, o tempo da investigação é aquele no
qual se realizam as perguntas e se obtêm as respostas. No caso de estar-
mos na porta da casa agradecendo à cooperação e o recém-entrevistado
começar a dar outras opiniões adicionais ou até contrárias ao que dis-
se anteriormente, nós não podemos incorporá-las à pesquisa e estas
nem chegarão à tabulação. O que nós podemos realmente fazer, e nós
solicitamos aos nossos pesquisadores que o façam, é registrar em uma
folha de observações tais comentários, que poderão ser considerados
na interpretação ou na avaliação da qualidade da entrevista, embora o
que podemos legitimamente utilizar para produzir os agregados nu-
méricos é o que foi dito no momento apropriado para esse fim.
Na investigação qualitativa não é assim. O tempo é aberto e
todo o tempo é tempo de coleta de informações. Na nossa experiên-
cia, o momento da despedida tem sido particularmente valioso, pois
ali se concentra a tensão de algo que o entrevistado veio pensando
durante todo o tempo do diálogo, mas que omitiu por temor, vergonha
ou timidez, ou porque, no ritmo do diálogo, o entrevistador foi de-
masiado ativo e não deu ao entrevistado tempo suficiente para uma
digressão ou algo que este último quisesse acrescentar, e, na hora do
adeus, aparece a frase final: “certamente, tem alguma coisa que não
lhe disse ...”. Muitas vezes, esse algo resulta ser mais importante que
as duas horas anteriores de conversação. Na investigação qualitativa,
isto pode ser incorporado, assim como seriam os fatos dos quais o
grupo de investigação toma conhecimento enquanto janta no bar da
esquina e alguém se aproxima e diz ao grupo: “Eu sei o que vocês me
perguntaram, mas gostaria de dizer-lhes que ...”.
Com essa variedade de fontes de informação e de momentos
para coletá-la, é muito difícil transferir as responsabilidades na inves-
tigação qualitativa. Como saber se as estórias que foram ouvidas na

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Quatro modelos de integração de técnicas ...

noite anterior no bar não são significativas? Como decidir se a última


opinião recebida com o pé na estrada não é relevante para o estudo?
Estas decisões só podem ser tomadas por aquele que está muito en-
volvido no processo de investigação e, talvez, somente o investigador
que elaborou o projeto e tem tão presente os objetivos que pode recu-
sar o material ou incorporá-lo, até o ponto de desviar as metas para
poder alcançar os objetivos.
Por esse motivo, muitas investigações qualitativas são trabalhos
solitários de alguns aficionados que se dedicam com paixão e dedicação
a coletar informação em lugares muito difíceis ou diferentes, alguns dos
quais onde talvez nunca tivesse desejado ir (Scheper-Hughes, 1992).
Goffman passou um ano trabalhando, disfarçado sob o papel
de assistente de diretor de ginástica, no hospital psiquiátrico de
St. Elizabeth em Washington, para poder realizar as observações que
o levaram a escrever o seu livro famoso sobre a situação social dos
doentes mentais (1970). Como Goffman poderia delegar a responsa-
bilidade das observações a outra pessoa? Quem, senão ele mesmo,
que estava elaborando seu estudo, poderia decidir quais aspectos dos
múltiplos encontrados no caminho pelas salas dos pacientes eram
relevantes para a investigação?
Em outra circunstância muito distinta, o investigador de um
estudo quantitativo pode transferir as responsabilidades. Nesse caso, o
investigador que está encarregado do desenho, das hipóteses, pode
delegar a responsabilidade. É evidente que o investigador não teria e
tampouco poderia assistir à realização de tantas entrevistas que uma
amostra nacional requer; mas, na verdade, também poderia delegar o
processo de elaborar o instrumento, desenhar a amostra, coletar a infor-
mação, preparar os dados, processar a informação e só voltar a retomar
as tarefas no momento de fazer a análise e elaborar as conclusões.
Essas limitações não implicam que o investigador não possa
transferir essas responsabilidades na investigação qualitativa. Apesar
da dificuldade, é possível delegar tarefas, mas isto requer um pessoal
altamente qualificado e consciente dos objetivos finais do projeto, e
não simplesmente da maneira adequada de fazer a tarefa específica
que lhe corresponde. Um projeto qualitativo pode ser feito com os
co-investigadores ou com os assistentes profissionais para quem o pro-
jeto significa algo mais que um salário mensal. Em troca, é possível

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O CLÁSSICO E O NOVO

delegar boa parte das tarefas de uma investigação quantitativa a pes-


soas bem treinadas, apesar da baixa qualificação, como seriam os
entrevistadores profissionais; ou à pessoas com alta qualificação não
envolvidas na essência do projeto, como seria um especialista em
amostragem ou um analista de dados. Em ambos os casos, estarem
envolvidos é muito melhor para os resultados da investigação, mas não
é uma condição indispensável como ocorre na investigação qualitativa.

Quadro 2 – Diferenças na maneira de realizar a investigação entre


técnicas quantitativas e qualitativas

Qualitativa Quantitativa
Duração Imprevisível Previsível
Tempo de investigação Aberto Fechado
Possibilidade de transferir Difícil Fácil
responsabilidades
Tipo de pessoal requerido Muito qualificado Pouco qualificado
e envolvido e envolvido

Características Atribuíveis aos Dados


Os dados que resultam de uma pesquisa qualitativa têm carac-
terísticas particulares que os diferenciam dos dados resultantes de um
estudo quantitativo. As virtudes de um e de outro são igualmente lou-
váveis; a diferença reside na utilidade que se deseja atribuir a eles ou a
uma característica que o investigador deseja privilegiar em função de
seus princípios, ou ao momento da investigação, ou, ainda, ao estado
de desenvolvimento desse campo de conhecimento
Pode-se dizer que os dados, produto de uma investigação quan-
titativa são ‘duros’, fortes e confiáveis e que resultam de poucas per-
guntas repetidas feitas a mais de mil pessoas distintas em condições
de aleatoriedade. Sobre os dados derivados de uma investigação quali-
tativa, pode-se dizer que são ‘ricos’; a sua grande riqueza deriva de
mais de mil perguntas feitas a poucas pessoas, sem condições de ale-
atoriedade, mas representativas dos sujeitos em estudo, tanto na sua
normalidade como na excepcionalidade. Porém, é difícil pensar que as

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respostas às perguntas de um inquérito contenham dados ricos da re-


alidade ou que os resultados de algumas entrevistas em profundidade
ou de um diário de campo sejam ‘duros’. Já vimos as críticas que sur-
giram, com o passar dos anos, aos estudos de investigadores tão reco-
nhecidos como M. Mead, devido à sua percepção de classe média
norte-americana sobre os aborígenes ou pelas características de seus
informantes. Mas, sem dúvida, seu trabalho teve um grande valor
heurístico derivado da riqueza do aporte de informações que trazia.
Outro traço significativamente diferente nos estudos qualitati-
vos e quantitativos é a capacidade de incorporar as novidades que não
estavam previstas no desenho previamente preparado. Os estudos qua-
litativos são altamente permeáveis ao inesperado, recebem com relati-
va facilidade as surpresas que comportam o estudo no terreno. Talvez,
a dificuldade maior possa se encontrar na disposição e abertura que
tenha o investigador para captar o novo, para se deixar atemorizar pelo
que não lhe havia ocorrido ou, mais ainda, por aquela informação que
contradiz abertamente suas hipóteses prévias. Do ponto de vista do
desenho, todas as condições são oferecidas para que sejam dadas as
boas vindas ao inédito, porém, do ponto de vista dos indivíduos, esta
receptividade variará de caso a caso, e dependerá muito do treinamen-
to e sensibilidade do investigador.
A investigação quantitativa, ao contrário, é refratária ao inespe-
rado da investigação, não pela disposição dos investigadores, mas sim
pelas limitações do desenho, que são, por sua vez, sua fortaleza: todas
as dimensões do estudo são o mais possível planificadas e previstas.
Certamente, Merton (1964: 115) estabeleceu a importância do
serendipity na investigação, “o dado imprevisto, anômalo e estratégico
que exerce pressão sobre o investigador para dar um novo rumo à in-
vestigação que amplie a teoria”. Porém, muitos dos seus seguidores
não podem acatar tais conselhos, pois a maneira como elaboram as
investigações e buscam controlar todas as variáveis para poder outorgar
maior força ao estudo, assim como a escala e custos das mesmas não
permitem a incorporação da novidade.
Estas características dos dados estabelecem certas limitações
na sua análise; mas, é importante destacar que a cada dia as fronteiras
são mais difusas, pois é cada vez mais fácil fazer um tratamento quan-
titativo dos dados qualitativos. As facilidades que o desenvolvimento

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O CLÁSSICO E O NOVO

da computação oferece permitiram que os dados qualitativos fossem


codificados e traduzidos em números que podem ser trabalhados mate-
mática ou estatisticamente. Inclusive, existem programas já desenvolvidos
(como Anthropac), que permitem utilizar as técnicas antropológicas
de coleta sistemática de dados, tais como as tríadas, os pile-sorts ou a
hierarquização (Weller & Rommey, 1988), com o programa
computadorizado desde o início da investigação. Também se pode fa-
zer análises estatísticas dos dados textuais que derivam das entrevistas
abertas ou de discursos, usando uma análise de correspondência múl-
tipla para o estudo lexicográfico e utilizando um programa de análise
de dados numéricos adaptado para textos (Lebart & Salem, 1988).
Certamente, deve-se ter precauções com os tipos de dados construídos
e com as generalizações que se fazem sobre o universo populacional.
Isto faz com que a análise qualitativa dos dados, que é intrinsecamen-
te qualitativa, seja diferente da análise quantitativa dos dados qualita-
tivos, como nos casos antes assinalados.

Quadro 3 – Diferenças dos dados levantados pelas investigações


qualitativas e quantitativas

Qualitativa Quantitativa

Qualidade atribuível aos dados Ricos Duros


Resposta ao dado novo Permeável Impermeável

Os Quatro Modelos de Integração


Não existe razão alguma para considerar que um tipo de inves-
tigação – qualitativa ou quantitativa – seja intrinsecamente melhor ou
superior que a outra. O que é sim evidente é que são diferentes, mas
esta diferença não implica uma superioridade científica, técnica ou moral
de uma sobre a outra. Ambas trazem dimensões distintas e ênfases dife-
rentes e, com ambas, podem-se alcançar objetivos diferentes.
Essa mesma diferença é que confere valor à integração de ambas
as aproximações em um projeto de investigação, pois, se fossem iguais,
que interesse haveria em combiná-las? Caso um investigador esteja dis-
posto a realizar o esforço de um desenho de investigação combinado é

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Quatro modelos de integração de técnicas ...

porque considera que com um só dos procedimentos não poderá atingir


suas metas; ou porque estima que, ao misturar as duas técnicas, seu
trabalho será de maior qualidade, ou poderá ser realizado em melhores
condições de tempo ou custos e conseguir os mesmos resultados.
Não é obrigatória, nem se deve assumir como uma moda a ser
seguida, a integração das técnicas de investigação. Existem estudos
exclusivamente qualitativos de grande valor heurístico e há estudos
exclusivamente quantitativos de grande rigor, que não precisam da
muleta de outra técnica para poder alcançar com sucesso seus resultados;
uma exclusiva aproximação é suficiente. Mas há outras circunstâncias
que podem requerer a combinação de técnicas; são essas necessidades
que vão nutrir os quatro modelos de integração da investigação quali-
tativa e quantitativa que propomos a seguir.

Modelo 1: a investigação qualitativa no início


Neste modelo, a investigação qualitativa se situa no início com o
propósito de poder se familiarizar com um tema de investigação que está
pouco desenvolvido ou de cujos saberes prévios alguém tem dúvidas, mas
não tem possibilidade de fazer uma proposta alternativa devido à falta de
proximidade com os dados primários ou com os informantes.
A investigação qualitativa começa a cumprir, aqui, o papel de
um estudo exploratório que permite ao investigador desenvolver ou
afinar suas hipóteses e construir os instrumentos para realizar um es-
tudo confirmatório (de verificação) ou, em qualquer caso, cobrindo
um universo populacional muito maior. Em resumo: a investigação
qualitativa permite, neste modelo, estabelecer as condições para a re-
alização de uma investigação quantitativa.
Para alcançar este propósito, o investigador solicita, para essa
primeira fase qualitativa, um processo de observação participante. Ele
ou o grupo central do projeto se transfere para a zona do estudo (ou
para uma similar, caso não deseje ‘contaminar’ a zona do estudo) e
permanece ali por algum tempo, conversando com as pessoas, obser-
vando a vida diária, assimilando a atmosfera social do meio. Também
é possível fazer um plano de entrevistas abertas, pelas quais se conse-
gue conversar de um modo amplo sobre o tema, com pessoas de dife-
rentes grupos sociais ou com características demográficas diferentes.
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O CLÁSSICO E O NOVO

Estas entrevistas devem ser gravadas para que outras pessoas do grupo
possam escutá-las. Em qualquer um dos casos é importante, no caso
de trabalho feito em grupo, que, ao final de cada dia, as informações
sejam transcritas e discutidas por todos os membros da equipe, como
em um trabalho de triangulação, porque assim se potencializam e se
decantam os resultados da observação ou das entrevistas. É possível e
também muito útil, caso já se tenha um questionário bastante desen-
volvido, aplicar o questionário a algumas pessoas, não em forma de
perguntas fechadas, mas como se fosse uma entrevista semi-
estruturada, ou seja, com perguntas abertas e ‘re-perguntando’ os por-
quês das respostas, buscando com isto uma explicação – se a pergunta
é de múltipla escolha, por exemplo –, tanto das opções selecionadas
como daquelas que não foram.
Com este material os postulados teóricos adotados, em princí-
pio, poderiam se converter em formulações mais elaboradas. Isto per-
mite que as prenoções e intuições do investigador possam prosperar e
se converterem em hipóteses, ou possam ser reprovadas, nesta pri-
meira prova, sendo retiradas do estudo quantitativo, evitando-se, as-
sim, um trabalho inútil e o desperdício de recursos materiais.
De posse desta informação, é possível desenhar, de maneira mais
apropriada, um inquérito populacional a ser realizado posteriormente.
As hipóteses poderão ser mais claras, os indicadores utilizados pode-
rão ser revisados ou as tipologias pretendidas serem desenvolvidas.
Este tipo de estudo qualitativo prévio não substitui totalmente o estudo
piloto que se faz de um questionário, mas permite chegar a este piloto
com muito menos problemas e, de qualquer modo, estar melhor prepa-
rado para apresentar solução às dificuldades que se apresentem.
Em certa oportunidade, realizamos um estudo sobre um grupo
de hospitais e ambulatórios (centros de atenção primária de saúde)
que tiveram uma gestão considerada um sucesso tanto pelos funcio-
nários como por muitos pacientes. Nesse trabalho deveríamos preci-
sar o grau e as razões de satisfação dos usuários com os centros
assistenciais. A situação era inusitada, pois o que se encontrou nos anos
anteriores era uma crítica sistemática dos políticos e dos meios de co-
municação às dificuldades de seu funcionamento. Que acontecera?
Para fazer este estudo, decidimos proceder, no início, de maneira
qualitativa. Tratava-se de realizar uma observação participante nos

170
Quatro modelos de integração de técnicas ...

centros e realizar entrevistas abertas com o pessoal da saúde e com os


pacientes que se encontravam nas dependências de consulta, hospitalização
etc., perguntando sobre os aspectos que consideravam positivos e negati-
vos relativos à organização e à gestão de tais instituições.
Os resultados da primeira fase permitiram estabelecer um
conjunto de dimensões sobre as quais deveria versar o estudo de satis-
fação. Como em algumas destas dimensões havia desacordo entre o
que opinavam os pacientes e a equipe de profissionais, foi elaborado
um questionário incluindo as diferentes modalidades de posicionamentos,
aplicado em um inquérito junto aos usuários – onde para cada possi-
bilidade de resposta havia a mesma probabilidade de ser selecionada –
permitindo saber quantos usuários concordavam com uma ou outra
idéia. A investigação qualitativa serviu para estabelecer a diversidade
de opiniões existentes e o inquérito para estabelecer as magnitude de
cada uma delas (Rodriguez, Avila & Briceño-León, 1997).

Quadro 4 – Modelo 1: a investigação qualitativa no início

Qualitativas Quantitativas
A investigação qualitativa permite
estabelecer as condições para a
realização de uma investigação quantitativa.
Realização de observação participante; Realizar um
entrevistas de profundidade ou grupos focais  levantamento
com o que se consegue: populacional
. converter a teoria ou pré-noções em
fórmulas mais elaboradas
. desenvolver hipóteses
. criar ou identificar indicadores
. construir tipologias

Modelo 2: a investigação quantitativa ao início


Existe outro modo de se proceder quando se tem um desenvol-
vimento teórico que seja adequado, mas o investigador não está sa-
tisfeito com as hipóteses, ou seja, tem dificuldades para interpretar
alguns resultados. Ou, quando o investigador está ainda no início de
um desenvolvimento teórico e quer realizar uma prova dos pressupostos

171
O CLÁSSICO E O NOVO

que sustenta um tema da investigação, dos quais não está totalmente


seguro para poder elaborar hipóteses que sejam submetidas à prova e,
nesses casos, realiza um inquérito analisando estatisticamente os da-
dos para poder avançar no conhecimento e elaborar hipóteses. Ou,
quando se obtêm alguns resultados estatísticos que constituem um
enigma para o investigador, pois são demasiado surpreendentes. Em
todos esses casos, a investigação qualitativa permite interpretar os dados
quantitativos obtidos de uma investigação ou de um trabalho de ar-
quivo e processamento de fontes secundárias.
Para realizar essa interpretação dos dados quantitativos, é pos-
sível utilizar diferentes procedimentos. Um deles, utilizado com
sucesso, foi selecionar uma subamostra da população, que fazia parte
do estudo de onde se originaram os dados estatísticos, e proceder à
realização de entrevistas de profundidade, tomando como base o ques-
tionário respondido, buscando justificativa e explicação das respostas.
Esta subamostra é possível de ser obtida por meio de um procedimen-
to de seleção aleatório sistemático, que pode incluir, por exemplo, 10%
da amostra total, ou pode ser feita com uma amostragem teórica em
que, de maneira opinativa e não aleatória, se selecionam alguns casos
por considerá-los representativos de uma determinada forma de res-
ponder ao questionário.
Outro procedimento muito útil é o de reunir pessoas, que fo-
ram pesquisadas numa sessão de discussão dos resultados obtidos,
num grupo focal em que se apresentam as porcentagens obtidas com
uma ou outra modalidade de resposta, perguntando ao grupo porque
eles acreditam que alguém opinou desta ou daquela forma. Neste
caso, a seleção pode ser feita por afinidade ou por contraste, ou seja,
colocar numa sessão todos aqueles que, por exemplo, responderam ‘sim’
a uma determinada pergunta e, na seguinte, aqueles que responde-
ram ‘não’; ou, ao contrário, misturá-los para permitir a confrontação
e aprofundar os argumentos lado a lado. Ambas as possibilidades
têm suas vantagens, ainda que nós tenhamos preferido a segunda
maneira de organizar o grupo, ou seja, privilegiamos a diferença e
não a semelhança.
Com estes resultados, o investigador poderá sentar-se para ana-
lisar os dados quantitativos da sua pesquisa e interpretá-los com a
ajuda de resultados qualitativos, que lhe servirão de suporte para as

172
Quatro modelos de integração de técnicas ...

explicações dos resultados obtidos e para a construção de conclusões


mais sólidas, não somente por ser o produto de sua confrontação in-
dividual com os dados, mas sim pelo diálogo com os próprios indivíduos,
que deixam de ser números e agregados e passam a ser atores.
Nós sabemos que os dados não falam por si só, sabemos que
requerem uma teoria para que façam sentido e para que possamos pô-
los a funcionar a favor ou contra uma conjectura qualquer. Mas, neste
processo de reconstrução do objeto de estudo, a incorporação de uma
dimensão qualitativa é de grande utilidade para que seja dado um sen-
tido aos dados estatísticos.
Em um estudo que fizemos sobre as classes sociais na Venezuela,
foi elaborado um conjunto de procedimentos matemáticos que per-
mitiram estabelecer, teoricamente, a distinção entre classes sociais;
em seguida, foram realizadas entrevistas indagando sobre os hábitos,
pertences, gostos, rendas e gastos, educação dos indivíduos e suas
famílias etc. Com estes dados foram elaborados os clusters, que repre-
sentavam estratos sociais com medidas simplificadas de modo de vida,
ou seja como ‘tipos ideais’ de uma segmentação social. Mas isto resul-
tava muito frio, e assim ficou decidido que, de cada um dos seis estra-
tos sociais identificados, nós deveríamos realizar histórias de vida que
mostrassem a singularidade dos indivíduos, que refletiam a sua classe
e estrato social, revelando, na sua biografia, que eram muito mais do
que o estrato social ao qual pertenciam (Briceño-León, 1992).
Em uma outra oportunidade, participávamos de um estudo
multicêntrico sobre as atitudes e normas com relação à violência em
sete cidades da América Latina, uma nos Estados Unidos e outra na
Espanha. O estudo deveria ser feito em contextos cultural e politica-
mente diferentes com três idiomas distintos. Foi grande o esforço para,
em primeiro lugar, unificar as perguntas, em seguida, fazer a tradução
entre os vários idiomas e a adaptação às particularidades das frases do
castelhano coloquial falado em cada país, de forma o mais fiel possí-
vel à idéia comum.
O inquérito foi feito com uma amostra de probabilidade
polietápica e os resultados deveriam ser trabalhados numa base de
dados comum. Após muito esforço, conseguiu-se concluir o estudo do
qual surgiram resultados muito interessantes sobre as magnitude da
violência entre os jovens, mas não sabíamos bem o que acontecia com

173
O CLÁSSICO E O NOVO

a subjetividade daqueles homens pobres que matavam e estavam


dispostos a morrer na violência cotidiana.
A partir daí, decidimos que deveríamos proceder à realização de
estudos qualitativos que permitissem captar tal subjetividade. Começa-
mos um estudo com entrevistas de profundidade com os jovens reclu-
sos em prisões destinadas aos menores de idade, que tinham cometido
assassinatos ou atos violentos. Tratava-se de fazer uma história de suas
curtas vidas para verificar como ingressavam no mundo da violência e
quais fatores desencadevam o comportamento violento. Alguns meses
depois, escutando estas entrevistas, os dados quantitativos começaram
a ter uma leitura diferente (Briceño-León et al., 1997; Briceño-León,
Camardiel & Ávila, 1999; Zubigalla & Briceño-León, 2001)

Quadro 5 – Modelo 2: a investigação quantitativa no início

Quantitativa Qualitativa
Estabelecida a teoria A investigação qualitativa é utilizada para poder
interpretar os dados obtidos numa pesquisa
Realiza-se um levantamento
populacional
Obtêm-se os dados  Seleciona-se uma subamostra para a realização
de entrevistas em profundidade, organizam-se
grupos focais para discutir ou aprofundar os
resultados

Modelo 3: execução paralela da investigação


quantitativa e qualitativa
O propósito deste modelo é captar dimensões diferentes da re-
alidade numa investigação em que se presume que se tenham claras a
teoria e as hipóteses, e que, portanto, se está apto a mensurar adequa-
damente as variáveis que se pretende estudar, e, igualmente, se deseja
ilustrar, de uma maneira descritiva e qualitativa o mesmo fenômeno
que está sendo avaliado. Neste modelo, diferentemente dos anteriores,
não se faz necessário um tipo de investigação para assinalar o outro;
ambos existem com força própria, ambos têm suas metas a alcançar

174
Quatro modelos de integração de técnicas ...

com suas estratégias singulares metodológicas, portanto, não existe


uma prioridade temporal ou conceptual entre um e outro componen-
te; ambos podem ser feitos ao mesmo tempo.
Este modelo permite ter duas visões sobre um fenômeno, pro-
piciando um estudo mais ameno ao leitor e mais consistente nos seus
resultados. Nós o utilizamos de diversas maneiras. Por exemplo, em
um estudo sobre os valores do trabalho e riqueza, realizamos, parale-
lamente, um inquérito populacional com uma amostra aleatória
estratificada multifásica e com uma amostra seletiva para a realização
dos histórias de vida. O trabalho foi realizado em quatro cidades da
Venezuela onde tínhamos montado duas equipes de campo e um gru-
po coordenador. A equipe encarregada da pesquisa era integrada por
estudantes de sociologia ou sociólogos e antropólogos recém-formados.
A equipe encarregada das histórias de vida era integrada por estudantes
do doutorado em ciências sociais, que eram os meu alunos. O grupo
coordenador recebia, a cada dia, as pesquisas feitas e lia o conteúdo
tanto para efeito de validação como para proceder à seleção dos can-
didatos para a realização das histórias de vida.
Como a equipe de investigação qualitativa chegava no terreno
uma semana após o grupo da investigação quantitativa, havia tempo
suficiente para a equipe coordenadora escolher as pessoas cujas res-
postas permitissem vislumbrar uma história de vida interessante e com
valor heurístico. Antes de tomar a decisão, chamava-se um assistente
que tinha feito a pesquisa, o qual era indagado sobre a pessoa a ser
entrevistada, sua fluidez na ocasião da apresentação. Uma vez toma-
da a decisão, selecionava-se um entrevistador que procedia à solici-
tação do primeiro encontro, ao qual deveriam ir tanto o primeiro
pesquisador como o entrevistador que ia realizar a história de vida pos-
teriormente. A partir desse momento, o trabalho tornava-se indepen-
dente. Cada equipe mantinha sua própria dinâmica até o momento
da apresentação das primeiras saídas estatísticas quando, novamente,
as equipes voltavam a se reunir para confrontar tanto as freqüências
e os clusters que estavam sendo construídos como os resultados das
histórias de cada um daqueles indivíduos que, num resultado eram
um número, uma medida estatística e, no outro, diante da análise
qualitativa, se transformava numa pessoa singular com a sua história
(Briceno-León, 1996).

175
O CLÁSSICO E O NOVO

Quadro 6 – Modelo 3: ambas as investigações realizadas


paralelamente para dar visão de conjunto

Quantitativa Qualitativa
Estabelecidas teoria e hipóteses, Selecionadas as subamostras, são
realiza-se o levantamento da realizadas entrevistas de profun-
magnitude do problema da didade ou histórias de vida para se
investigação obter uma visão profunda e rica
dos detalhes do fenômeno

Modelo 4: ambas as técnicas se alternam para avançar


no conhecimento
Finalmente, o quarto modelo que propomos trata de um pro-
cesso complexo de interação entre as diversas técnicas de investiga-
ção, que trazem elementos e perspectivas distintas em cada passo,
retomadas pelo processo seguinte, para acrescentar uma nova dimen-
são e um novo grau de refinamento no conhecimento e na consistên-
cia dos resultados.
Este tipo de modelo requer muito mais tempo de investigação
e de recursos superiores, pois implica um volume de trabalho muito
maior. O que o torna singular, porém, é o grau de complexidade cres-
cente que se tem na metodologia e não o seu tamanho ou custos, pois
existem outros desenhos que utilizam um só instrumento de coleta de
informação, como uma investigação com vários domínios amostrais
que pode ser igual ou mais cara, mesmo sendo muito mais simples.
Neste caso, trata-se de recuperar as virtudes que cada uma das
técnicas de investigação quantitativa ou qualitativa possui e
pontencializá-las para dar lugar a outra, num avanço contínuo em espi-
ral de complexidade do processo de investigação e de conhecimento.
Neste modelo, pode-se começar com um estudo qualitativo do
tipo exploratório utilizando observação participante ou entrevistas
abertas para poder conhecer mais o tema de investigação, implementar
aspectos que derivam da teoria, detalhar processos que se conhecem
muito imprecisamente. Com esta informação é possível desenvolver
hipóteses e preparar um questionário para poder conhecer como as

176
Quatro modelos de integração de técnicas ...

falhas que foram encontradas numa pequena mostra seletiva se


expressam no nível de toda a população.
Desse modo, são dadas as condições para que uma entrevista
ou pesquisa seja aplicada sobre o universo da população, selecionando
uma amostra probabilística e coletando informação quantitativa. Uma
vez concluído o inquérito ou entrevista e processados os dados, é pos-
sível obter informação sobre quais variáveis ou quais associações são
estatisticamente significativas, tornando, portanto, factível iniciar um
processo para aprofundar estas características, restringindo ou elimi-
nado aquelas não significativas e concentrando-se no que foi importante.
Nesse momento, é possível utilizar entrevistas em profundida-
de que permitam indagar sobre cada um dos aspectos ou realizar um
processo de ‘investigação-ação’ no qual se pode intervir em algumas
das variáveis e ver como se comportam quando as modificamos. Daí
se tem uma experiência em que será possível observar em detalhe a
inter-relação das variáveis, sem que exista um controle completo, pois
se trata de um quase experimento. Esta informação poderia ser suficiente
para desenhar, agora sim, uma investigação de caráter experimental,
na qual se põem à prova as hipóteses que vinham sendo incubadas
desde as primeiras observações. O experimento constitui o ponto
máximo da verificação de uma hipótese. Porém, os experimentos não
são fáceis de serem realizados nas ciências sociais, ao menos os cien-
tificamente controlados, já que na atividade dos governos e na ação
política se realizam muitos experimentos lamentáveis, sem qualquer
rigor na avaliação.
Este quarto modelo foi por nós utilizado durante a investigação
sobre os condicionamentos sociais de convívio que permitem a trans-
missão da doença de Chagas. Como se sabe, esta terrível doença, que
não tem cura, é transmitida por um inseto que se aloja nas casas e que
se alimenta do sangue dos seus moradores.
Quando começamos a trabalhar no tema, não tínhamos muito
claros alguns aspectos que a bibliografia reportava, tampouco era cla-
ro como poderíamos trabalhar algumas dimensões que derivavam das
formulações teóricas nas quais nos apoiávamos. Decidimos iniciar o
trabalho com um plano de observação participante; começamos a
visitar famílias da área endêmica e a conversar extensamente com as
pessoas sobre as suas vidas e sobre as suas casas. Estes diálogos eram

177
O CLÁSSICO E O NOVO

registrados em fichas de campo que eram discutidas diariamente, toda


noite, com os grupos de trabalho e, semanalmente, com toda a equipe.
De posse de alguns critérios sobre que aspectos deveríamos pro-
por indagações, elaborou-se uma lista de temas que deveriam ser fo-
calizados em algumas entrevistas abertas, mais ou menos formais,
dependendo das circunstâncias. As entrevistas eram igualmente
registradas nos diários de campo e discutidas pelo grupo.
Uma vez estabelecido um processo de saturação da informação,
ou seja, em que as mesmas informações estavam se repetindo, o pro-
cesso foi detido, passando-se à elaboração das hipóteses, à construção
dos indicadores para cada uma delas e à elaboração dos instrumentos
de coleta de informação. Elaborou-se um questionário e foram adaptados
alguns testes psicossociais para a população campestre, com o que se
iniciou um censo das casas das zonas rurais de um município, incluin-
do uma entrevista para o chefe da família e um plano de observação
da vivenda.
Durante um ano levantaram-se informações e foram processa-
dos os dados. Realizada a análise estatística, resultou significativa a
possibilidade de predizer a existência de uma moradia que permitiria
colonização do vetor da doença de Chagas, as variáveis de renda-ocu-
pação e das expectativas gerais de controle futuro dos indivíduos. As
outras variáveis, como propriedade da terra, valor da moradia ou esta-
belecimento, destacadas pela bibliografia não foram significativas.
Mas este era um resultado com base no passado. Agora, como se
comportariam essas variáveis em relação ao futuro? Se as pessoas ti-
nham casas que não impediam a presença do inseto, porque não tinham
renda suficiente nem bastante confiança em si mesmas, isso significava
que se lhe déssemos o dinheiro para que comprassem materiais de cons-
trução e incrementássemos a confiança no controle do seu futuro, elas
melhorariam suas casas, que era a nossa variável dependente?
Foi então que empreendemos uma ‘investigação-ação’ em um
pequeno povoado, onde, junto ao governo do estado, iniciamos um projeto
de melhoramento das casas com a participação comunitária. Tratava-
se de intervir sobre as variáveis significativas, outorgando-lhes um crédi-
to para que pudessem adquirir os materiais necessários para modificar
suas moradias, materiais que não podiam ser obtidos diretamente da na-
tureza, e desenhando-se um programa sensível de reforço da autoconfiança.

178
Quatro modelos de integração de técnicas ...

Como muitos dos camponeses não conheciam a técnica da cons-


trução que seus familiares haviam utilizado por séculos, contratamos
um mestre construtor para ensinar a tecnologia apropriada que estáva-
mos promovendo, para que se impedisse a permanência do inseto na
casa. Os investigadores mantinham um diário de campo detalhado de
cada visita às casas, registrando as mudanças de moradia e das pessoas.
Após quase um ano de iniciado o processo, aplicou-se um questioná-
rio aos residentes. Os resultados foram surpreendentes – as casas, que
ficaram mais de dez anos sem modificação, foram melhoradas em
poucos meses pelos mesmos habitantes.
Porém, não sabíamos o que havia influído mais na notável
melhoria das casas, se o crédito ou as mensagens de reforço de confi-
ança dos indivíduos, pois não era possível diferenciar um efeito do
outro. Foi então que decidimos passar para um nível de verificação
mais contundente e nos baseamos no desenho de um experimento no
qual pudéssemos discriminar os efeitos de cada uma das variáveis.
Então, desenhamos um estudo com o esquema clássico de
dois por dois, de modo a ter quatro grupos de estudo: no primeiro,
dava-se um crédito, mas não educação nem mensagens de confiança;
no segundo, fazia-se educação, mas não se dava o crédito; no terceiro,
estudaríamos a interação entre ambos os efeitos: se lhes dava educa-
ção e crédito; e, finalmente, o quarto grupo era o controle, para o qual
não se dava nem educação nem crédito. O desenho permitia tornar
aleatórias umas variáveis e controlar as outras e a atribuição a cada um
dos tratamentos foi estabelecida pelo azar.
A cada uma das famílias pediu-se um consentimento infor-
mado de sua participação no projeto. No início dos três anos que
durou o projeto, aplicou-se um pré-teste seguido de vários testes in-
termediários e outro mais no final do projeto. Os resultados foram
estudados com a análise da variância e encontrou-se que o crédito
era a variável significativa para a modificação da vivenda, mas que o
valor mais importante de tal variável era obtida quando se combinava
com a educação, pois permitia continuar as modificações da vivenda
no tempo, quando o crédito se havia esgotado (Briceño-León, 1990,
1993, 2001).
O período completo de trabalho neste modelo levou seis anos
de atividade, mas durante esse tempo, foram sendo refinados os saberes,

179
O CLÁSSICO E O NOVO

o que foi possível ao se combinarem as distintas metodologias quali-


tativas e quantitativas, em forma seqüencial ou paralela.

Quadro 7 – Modelo 4: ambas as investigações se alternam no tempo


buscando precisão

Qualitativa Quantitativa
1. Observação participante e entrevistas
não estruturadas para identificar aspectos
adicionais relevantes à teoria  2. Levantamento da população
geral para verificar a presença e
magnitude dos aspectos
considerados 
3. Investigação-ação para observar como
se comportavam as variáveis de uma
maneira ativa  4. Desenho experimental para
poder estabelecer diferenças entre
as diferentes variáveis que intervêm
no processo

Conclusão
Existem investigadores que são ‘fundamentalistas’ no momen-
to de escolher as metodologias e técnicas de investigação. Para eles só
há uma verdade, e os demais, que não compartilham com ela, estariam
errados; para estes novos talibans, há que manter a pureza da
metodologia a qual se filia sua orientação. No nosso parecer, tal
posicionamento não tem um sentido maior; muito pelo contrário, sus-
tentamos que a multiplicidade de aproximações metodológicas e a
visão pluriparadigmática das teorias é muito útil. Foi isso que tenta-
mos esboçar e resumir nas páginas anteriores.
Talvez, a grande diferença entre uma e outra postura esteja no
tipo de pergunta que o investigador faz. Conforme a pergunta que se
faça seja como ser fiel a um método ou a uma determinada teoria, ou,
então, seja como ser fiel à realidade, respostas completamente dife-
rentes serão obtidas. Caso se queira ser fiel ao método, não é possível
realizar as combinações que estamos propondo. Mas, se o importante
não é a pureza do método, mas sim a capacidade de dar respostas aos

180
Quatro modelos de integração de técnicas ...

objetivos da investigação, a capacidade para compreender um proces-


so social ou o comportamento dos indivíduos, a integração dos méto-
dos quase se converte em uma necessidade.
Se somos alheios aos fundamentalismos e aceitamos que o
ecleticismo é uma virtude na investigação, nem por isso o uso de uma
só metodologia tem de significar que a investigação deva ser mais sim-
ples ou mais pobre, ou que tenha limitações para compreender uma
determinada realidade. Tampouco é verdade que pelo simples fato de
combinar os métodos se tenha uma investigação melhor. O que afir-
mamos é que seriam melhores as possibilidades de compreender uma
realidade. Aqui existe uma situação similar descrita por Popper (1972),
referente às virtudes da clareza e coerência na investigação: a clareza
de uns resultados não nos permite afirmar que estes sejam verdadeiros,
mas a confusão, sim, pode indicar um erro. A coerência não assegura
que as propostas sejam verdadeiras, mas a incoerência pode assinalar
uma falsidade. Igualmente, o estudo de um fenômeno social integrando
diversas metodologias não permite concluir que os resultados sejam mais
poderosos, mas a oposição, ao ver o mesmo feito sob diferentes pers-
pectivas metodológicas, pode ser um sinal de fragilidade.
Os quatro modelos de integração que propusemos são o produto
de nosso trabalho e experiência. Não acreditamos que sejam as únicas
maneiras de integrar as metodologias e as técnicas. É possível que tal-
vez se encontrem muitas mais. Nós preferimos falar e escrever somente
sobre a metodologia que usamos, pois sabemos bem que ela é factível e
que poderá ser repetida por outra pessoa. Mas, talvez, possam derivar-se
muitas novas combinações e modos de integração; no fim, nossos co-
nhecimentos são sempre limitados e a nossa ignorância infinita.

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