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O serviço de Geração Automática de Ficha Catalográfica para Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC´s) foi desenvolvido
pela Diretoria de Informatização (DINF), sob orientação dos bibliotecários do SIB-UERN, para ser adaptado às
necessidades da comunidade acadêmica UERN.
A dissertação “A poesia popular como patrimônio cultural e recurso
pedagógico de incentivo à leitura em escola pública no município de
São José de Piranhas – PB”, de autoria de Nathalia Maria de Sousa
Feitosa, foi submetida à Banca Examinadora, constituída pelo
PPGE/UERN, como requisito parcial necessário à obtenção do grau de
Mestre em Ensino, outorgado pela Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte – UERN.
BANCA EXAMINADORA
Ao Senhor Deus Todo Poderoso, por realizar em mim maravilhas e por tão grande
generosidade em conceder-me a graça de realizar mais um sonho: a conclusão deste
mestrado.
Ao meu pai, Pedro, pelo amor, cuidado e todo esforço empreendido para me
oferecer uma educação repleta de valores e princípios morais e cristãos; e à minha mãe,
Maria (in memorian), por ser minha eterna intercessora no céu. Sua lembrança é consolo e
afago nos momentos de tribulação.
Ao meu esposo, João Paulo, por ser companheiro, apoio, segurança e refúgio diário
nesta longa caminhada da vida. Gratidão por todas as leituras cautelosas desta produção e
por todos os afazeres domésticos que assumira sozinho ao longo desses dois anos. Esse título
é nosso!
À minha eterna e amada sogra-mãe, Dona Zefinha (in memorian), pelo cuidado e
zelo para comigo ao longo desta jornada, por sempre me impulsionar a alcançar meus
objetivos, pelas vezes que esteve com sua “velinha” acesa e de joelhos a interceder por mim.
Agora, sem dúvidas, permaneces a fazer o mesmo na glória eterna.
Ao meu pai espiritual, José da Cruz (in memorian), por ter sido esse pai-amigo
presente em todos os momentos da minha vida. Por ter me ensinado que não há vitória sem
cruz, que não se alcança objetivos sem renúncias, por sempre orar pela minha família e pelos
meus sonhos, por acreditar que eu conseguiria a aprovação para este mestrado.
Aos meus amigos e amigas de mestrado (turma 2020), por serem sustento e apoio
durante todo o curso, por estarem presentes por meio de mensagens e orações em momentos
difíceis da minha vida ao longo desses dois anos. Em especial, à Aparecida Suiane, por ter
caminhado lado a lado comigo nesta trajetória acadêmica e me possibilitado, por inúmeras
vezes, compartilhar risos, sofrimentos e lutas; e à Géssica Galdino, pelo companheirismo e
amizade de longas datas, por dividir comigo as conquistas e contratempos da vida.
Às professoras e professores do PPGE, pelo acolhimento, compreensão e paciência.
Infinita gratidão pelo compromisso e responsabilidade com a nossa formação.
Ao BALE, em nome das professoras Lúcia Sampaio e Keutre Gláudia, por me
conceder a oportunidade de descobrir-me como contadora de histórias. O BALE despertou o
melhor de mim, fez nascer o desejo de transformar o mundo por meio da literatura.
Às professoras Raimunda Neves e Aparecida Carneiro, por acompanharem a minha
trajetória acadêmica desde a licenciatura em Pedagogia na Universidade Federal de Campina
Grande (UFCG), por terem sempre me incentivado a perseverar e a alçar novos voos.
Por fim, à minha querida e estimada orientadora, Diana Saldanha, por ter acreditado
em minhas potencialidades, por ter me ensinado a amar a literatura como instrumento de
prazer, pelo acolhimento como filha acadêmica, por ser esta professora humana e humilde.
Louvo a Deus por ter me concedido a oportunidade de trocar experiências e compartilhar as
adversidades da vida com uma mulher tão forte e destemida.
Nos versos rudimentares
Poeta humilde não falha
É semelhante à abelha
Que lá na selva trabalha
Faz mel e dá o ponto
Sem ter tacho e fornalha.
(Tico Amaro)
RESUMO
A literatura popular é uma criação artística, histórica e cultural de um povo. Partindo desse
pressuposto, a presente dissertação aborda a poesia de repente como um gênero textual desse universo,
objetivando analisá-la como patrimônio cultural e recurso pedagógico de incentivo à leitura em escola
pública no município de São José de Piranhas – PB. Delineamos, para tanto, o estudo como uma
pesquisa de campo e pesquisa-ação de abordagem qualitativa, seguida de intervenção pedagógica em
duas turmas do 5º ano dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental de uma escola pública do referido
município. À construção de dados empíricos foi aplicada entrevista semiestruturada a dois poetas
repentistas locais e duas professoras de turmas de 5º ano dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental
(público escolhido para o desenvolvimento da pesquisa). Enquanto que, para análise dos dados, foi
definido como instrumento metodológico a análise de conteúdo de Bardin (1977), pela técnica de
análise categorial. Os enunciados dos sujeitos participantes ressaltaram a relevância de se reconhecer a
poesia popular como patrimônio cultural do município e destacaram que a inserção da poesia na escola
é profícua forma de valorização da literatura popular. Ao passo que os resultados alcançados a partir
da intervenção pedagógica apontaram que as experiências de leitura com a poesia popular em sala de
aula podem fomentar o gosto e a prática da leitura. Concluímos que trazer a poesia popular para a sala
de aula constitui forma de valorizá-la enquanto patrimônio cultural e, ao mesmo tempo, de utilizá-la
como proficiente recurso de incentivo e formação leitora.
Popular literature is an artistic, historical and cultural creation of a people. From this assumption, this
thesis approaches a type of poetry called repente as a genre from its universe, and aims to analyze it as
cultural heritage and a pedagogical resource to promote reading practices in public schools in São José
de Piranhas, Paraíba. Therefore, we outlined this study as a field research and action research with a
qualitative approach, followed by a pedagogic intervention in two different classes of the fifth grade
(5º ano) in a Elementary Public School of the said town. To the construction of empirical data, we
applied semi-structured interviews to two local repente poets and two teachers of the fifth grade (5º
ano - audience chosen for the research development). Regarding the data analysis, as the
methodological instrument we used the content analysis of Bardin (1977), by categorical analysis
technique. The participants‟ statements showed the relevance of recognizing popular poetry as a local
cultural heritage, and also emphasized that its insertion in school is an advantageous way of
appreciating popular literature. Moreover, the results achieved through the pedagogic intervention
showed that the classroom reading practices with popular poetry can promote the liking and habit of
reading. Finally, we concluded that bringing popular poetry to the classroom is a way of valuing it as
cultural heritage and utilizing it as an effective resource to promote reading.
AC Análise de Conteúdo
BALE Biblioteca Ambulante e Literatura nas Escolas
BNCC Base Nacional Comum Curricular
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CAPF Campus Avançado de Pau dos Ferros
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
PPGE Programa de Pós-Graduação em Ensino
PUC-RIO Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
TEA Transtorno do Espectro Autista
UC Unidades de Contexto
UEFS Universidade Estadual de Feira de Santana
UEPB Universidade Estadual da Paraíba
UERN Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
UESPI Universidade Estadual do Piauí
UFAL Universidade Federal de Alagoas
UFBA Universidade Federal da Bahia
UFC Universidade Federal do Ceará
UFCG Universidade Federal de Campina Grande
UFJF Universidade Federal de Juiz de Fora
UFPB Universidade Federal da Paraíba
UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UFSE Universidade Federal de Sergipe
UFSM Universidade Federal de Santa Maria
UFU Universidade Federal de Uberlândia
UnB Universidade de Brasília
UNICAMP Universidade Estadual de Campinas
UNICAP Universidade Católica de Pernambuco
UNIFOR Universidade de Fortaleza
UNIGRANRIO Universidade do Grande Rio
UNIRIO Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
UR Unidades de Registro
USP Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 14
2 TRAÇANDO O CAMINHO METODOLÓGICO ........................................................... 19
2.1 Traçando a base epistemológica e a abordagem da pesquisa ....................................... 19
2.2 Pesquisa de campo e pesquisa-ação ................................................................................ 22
2.3 Lócus da pesquisa ............................................................................................................. 31
2.4 Sujeitos participantes ....................................................................................................... 33
2.4.1 Sobre os poetas ................................................................................................................ 33
2.4.2 Sobre as professoras ........................................................................................................ 34
2.4.3 Sobre os estudantes.......................................................................................................... 35
2.5 Instrumentos de pesquisa ................................................................................................. 38
2.6 Análise dos dados .............................................................................................................. 39
2.7 Etapas da intervenção pedagógica .................................................................................. 40
3 PERCORRENDO AS VEREDAS DA LITERATURA: A POESIA NASCE NO SEIO
POPULAR ............................................................................................................................... 46
3.1 Poema x poesia: discrepâncias e convergências conceituais ......................................... 51
3.1.1 A linguagem poética e sua composição estrutural ........................................................... 54
3.2 Poesia popular no Brasil .................................................................................................. 60
4 A POESIA POPULAR NA ESCOLA E A FORMAÇÃO DE LEITORES ................... 65
4.1 A formação de leitores ...................................................................................................... 65
4.2 O lugar da poesia popular na escola ............................................................................... 68
5 A POESIA POPULAR DE REPENTE: PATRIMÔNIO CULTURAL E RECURSO
PEDAGÓGICO DE INCENTIVOÀ LEITURA .................................................................. 75
5.1 A poesia popular pela ótica dos poetas: sensibilidade, memória e tradição ............... 75
5.2 Incentivo e reconhecimento: a poesia popular como patrimônio cultural .................. 78
5.3 Poesia popular na escola: o professor leitor, a formação de leitores e o incentivo à
cultura ...................................................................................................................................... 82
5.4 A poesia popular como identidade cultural e recurso de incentivo à leitura .............. 85
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 94
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 97
APÊNDICES ......................................................................................................................... 107
ANEXOS................................................................................................................................ 123
14
1 INTRODUÇÃO
1
Um pequeno estabelecimento comercial que vendia produtos alimentícios e bebidas alcoólicas.
Geralmente, as budegas eram encontradas nas comunidades rurais ou em bairros afastados do centro
da cidade.
15
costumava declamar seus repentes para minha avó e eu. Para cada dia havia um mote
diferente: a avó que cuidava da sua netinha, a moça que cantava na igreja, a menina que
apresentava o programa na rádio da Igreja Católica (isso porque, quando criança, participava
de algumas atividades pastorais na Paróquia), aquela que era a escolhida para ser nora sua,
enfim, toda e qualquer visita reservava uma surpresa por parte do repentista dono do singelo
estabelecimento comercial.
Ainda quando criança, costumávamos (minhas irmãs e eu) ficar no comércio de nosso
pai quando não estávamos na escola. Lá fazíamos as tarefas escolares, estudávamos para as
provas e o ajudávamos passando trocos e entregando os produtos aos clientes. De vez em
quando aparecia também outro poeta, que muito orgulhosamente se intitulava menestrel. Não
recordamos seu nome, mas ficávamos estupefatas com a forma como ele brincava com as
palavras para debochar de nosso pai, para tratar de um assunto sério, ou mesmo para tecer
elogios a nós.
Ao ingressarmos em trabalhos pastorais da Igreja Católica local, passamos a conhecer
o tradicional Festival de Viola das festividades do Padroeiro São José. Reuniam-se,
anualmente, violeiros da região para participação em duelos. Eles se apresentavam em duplas
sob o comando de Chico Xavier (radialista e violeiro muito conhecido na região) e a todos
encantavam.
O festival era o dia mais esperado da quermesse, atraía grande número de pessoas
vindas da zona rural e mesmo de cidades circunvizinhas. Todos riam e se deleitavam com a
reunião de tantos poetas juntos produzindo arte, fazendo cantoria, declamando a vida e cultura
do nosso povo. Infelizmente, após longa tradição, devido à situação pandêmica provocada
pelo novo Coronavírus, entre 2019-2022, o popular Festival de Viola foi suspenso.
Conhecemos, com o tempo, outros nomes de destaque na arte do improviso. João
Beco, senhor bastante animado, que costumeiramente declamava seus versos em público, em
missas, procissões, cavalgadas e outros eventos. E também outro senhor, Tico Amaro, muito
sábio e ao mesmo tempo divertido, também conhecido pela publicação de dois livros que
compilam seus repentes.
No município lócus da pesquisa há outras pessoas que apreciam e possuem a
habilidade da declamação, quer seja em celebrações religiosas nos sítios, nas vaquejadas, nas
cavalgadas, ou mesmo em eventos familiares, o que claramente denota a peculiaridade da
poesia popular atrelada aos valores culturais e religiosos da cidade e região.
No tocante à nossa relação profissional com o texto literário, o gosto e apreciação pela
literatura, mais especificamente pela poesia, foi intensificado com o ingresso no Programa
16
2
Programa de extensão que objetiva o acesso ao texto literário e o despertar do gosto pela leitura em
espaços escolares e não escolares dos municípios de Pau dos Ferros, Frutuoso Gomes, Portalegre, São
Miguel e Francisco Dantas, todos do estado do Rio Grande do Norte.
17
pesquisa que norteou nosso trabalho, os objetivos e sua relevância. No segundo capítulo,
apresentamos a metodologia, delineadora de todo percurso de investigação científica
trilhado. Sistematizamos nele o tipo de pesquisa e sua abordagem, as técnicas de construção
e análise dos dados, os instrumentos utilizados e justificativas das escolhas metodológicas.
No terceiro capítulo, voltamos o olhar para a história da literatura popular e para a
relevância da poesia à memória e cultura de uma sociedade. Apresentamos também as
discrepâncias e convergências conceituais entre poema e poesia e as suas características
estruturais.
No quarto capítulo, discutimos sobre a poesia popular na escola pública como um
componente necessário ao currículo escolar, e não só porque a Base Nacional Comum
Curricular normatiza sua inserção como gênero textual na Educação Básica, mas, sobretudo,
pela relevância histórico-cultural para a sociedade como instrumento mobilizador e de
incentivo à formação de novos leitores. Não queremos aqui reduzir o incentivo e o gosto
pela leitura ao trabalho com poesia, mas consideramos que a poética popular pode, sim, ser
um estratégico meio de promoção à leitura literária na escola.
No quinto capítulo, apresentamos as vozes dos nossos colaboradores e os resultados
do nosso trabalho de intervenção pedagógica nas turmas de 5º ano de uma escola pública do
município de São José de Piranhas-PB. Enquanto que, nas considerações finais, após
síntese da pesquisa, tencionamos promover pertinentes reflexões acerca dos resultados
obtidos.
19
ela está inserida com seus valores, crenças e atitudes. Analogamente, Minayo (2009, p. 21)
afirma:
[...] ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das
aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de
fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o
ser humano se distingue não por agir, mas por pensar sobre o que faz e por
interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida partilhada com
seus semelhantes.
Com base nos objetivos, a pesquisa qualitativa pode ser classificada em três tipos:
pesquisa exploratória, que é caracterizada pelo esclarecimento de conceitos, com a finalidade
de investigar e apresentar mais referências sobre o que está sendo analisado, além de permitir
um enfoque mais ampliado do tema estudado, tendo em vista que este tipo de pesquisa
permite a aproximação de um objeto pouco estudado; pesquisa descritiva, que consiste em
pormenorizar as características do fenômeno estudado sem se ocupar com o porquê dos fatos;
e a pesquisa explicativa, que visa explicar de maneira mais aprofundada as causas e
consequências do fenômeno estudado, ocupando-se de buscar explicar a razão das coisas
serem e acontecerem como são e acontecem (GONSALVES, 2001).
À luz desses conceitos, entendemos, então, que toda pesquisa explicativa é também
descritiva, mas nem toda pesquisa descritiva é explicativa, isso porque para explicar as causas
e consequências de um fenômeno precisamos primeiro conhecê-lo, e assim descrever o
contexto investigado. Assim, caracterizamos esta pesquisa como explicativa, considerando
que nosso objetivo foi analisar a poesia popular como patrimônio cultural e recurso
pedagógico de incentivo à leitura em escola pública no município de São José de Piranhas -
PB.
Para tanto, visando alcançar a finalidade deste estudo, elencamos como objetivos
específicos: identificar perspectivas teóricas que fundamentam a poesia popular como gênero
literário e patrimônio cultural, conhecer a arte de improvisar poesia popular sob a ótica de
poetas repentistas de São José de Piranhas-PB e investigar a relevância da poesia popular na
escola como recurso pedagógico de incentivo à leitura.
Definida a base epistemológica e a abordagem da pesquisa, na subseção seguinte
abordamos os tipos de pesquisa que lançamos mão para o estudo da poesia popular no
município de São José de Piranhas – PB como patrimônio cultural e ferramenta pedagógica de
ensino.
Nesta subseção, com base nas fontes e procedimentos que utilizamos para a coleta de
dados, apresentamos os dois tipos de pesquisa que embasaram esta produção. Levando em
consideração que a pesquisa qualitativa possibilita a aproximação do pesquisador com o
objeto investigado, se fez necessário delinearmos o estudo considerando a questão de
pesquisa, o objeto investigado, e como foram construídos os dados.
23
Os dados de uma investigação podem ser oriundos de fontes escritas, que é o caso da
pesquisa documental e bibliográfica; bem como de fontes orais, como estudo de caso,
pesquisa participante, pesquisa de campo, pesquisa-ação, pesquisa experimental, entre outras
(PRODANOV; FREITAS, 2013).
Caracterizamos, então, este estudo como pesquisa de campo, posto que possibilita ao
pesquisador aproximação direta com o fenômeno estudado. Para Prodanov e Freitas (2013, p.
59):
Esse tipo de pesquisa nos permitiu uma maior aproximação com o contexto no qual
está inserida a poesia popular oral no município de São José de Piranhas-PB, assim como o
contato com a escola na qual investigamos de que forma ela é trabalhada como gênero
literário.
Considerando, porém, que a pesquisa de campo pode valer-se de outros tipos de
pesquisa à consecução dos seus objetivos, a exemplo da pesquisa-ação, recorremos também a
esta como instrumento de investigação-ação da poesia popular de repente enquanto
patrimônio cultural e recurso pedagógico de incentivo à leitura em sala de aula da rede
pública municipal de ensino.
Para Severo (2007, p. 120), a pesquisa-ação “além de compreender, visa intervir na
situação com vistas a modificá-la. O conhecimento visado articula-se a uma finalidade
intencional de alteração da situação pesquisada”. Nesse sentido, este tipo de pesquisa envolve
o pesquisador na situação e/ou contexto a ser observado de forma que ele identifique o
problema, comprove sua hipótese e também intervenha na realidade observada. Como
esclarecem Prodanov e Freitas (2013, p. 66), “com a pesquisa-ação, os pesquisadores
pretendem desempenhar um papel ativo na própria realidade”.
Em face disso, neste estudo nos aproximamos da poesia popular de repente local como
fenômeno estudado, ao mesmo tempo em que, por meio de intervenção pedagógica,
desenvolvemos uma ação voltada à sua utilização enquanto recurso pedagógico de incentivo à
leitura e à reafirmação da escola como espaço propício ao reconhecimento e propagação da
24
cultura popular local. Tal feito foi, ademais, registrado em diário de campo como instrumento
à compilação do material não recolhido nos procedimentos técnicos da construção dos dados.
Para o delineamento da pesquisa de campo se fez necessário um levantamento
utilizando os repositórios digitais acerca do tema e objeto de estudo em questão. Segundo
Prodanov e Freitas (2013, p. 54), esse tipo de pesquisa acontece:
3
A plataforma do Catálogo de Teses e Dissertações CAPES oferece somente um campo de busca para
a pesquisa com descritores. Ao inserirmos “poesia popular” and “escola” no campo de busca, a
plataforma apresentou todos os trabalhos que tratam sobre os descritores, independentemente de
estarem ou não associados. Por essa razão, aplicamos “poesia popular” e realizamos um filtro manual
por meio da leitura dos resumos (e quando necessário dos trabalhos completos), selecionando os
resultados associados ao ambiente escolar.
25
O canto de capoeira, por sua vez, aparece na tese de Reis (2009) como um canto
poético popular que tem origem africana. O canto acompanhava os rituais da dança de
capoeira executada pelos escravos que trabalhavam nos engenhos de cana-de-açúcar.
Após a sintetização, a partir da bibliografia já exposta, identificamos que apenas 9
(nove) dissertações (e nenhuma das teses) tratavam da poesia como gênero textual no espaço
escolar. Percebemos ainda que, das 31 (trinta e uma) dissertações, 17 (dezessete) são oriundas
da Região Nordeste.
Em continuidade, como nossa pesquisa está voltada para a poesia popular na
modalidade oral do repente, realizamos também uma busca no mesmo banco de dados
utilizando o descritor “repente”. Em relação a tal busca, a investigação resultou em 21 (vinte e
uma) dissertações e 4 (quatro) teses, sendo que após análise dos resumos, identificamos
apenas 2 (duas) dissertações que apresentaram o repente como recurso pedagógico na escola.
Para melhor situar o leitor, passamos a apresentar o município e escola onde foi
realizada a pesquisa. Emancipado em 24 de setembro de 1885, São José de Piranhas é um
município localizado no Alto Sertão Paraibano, a 503 Km de distância da capital do estado,
João Pessoa. Segundo o censo do IBGE 2018, conta com um total de 20 053 habitantes. O
município tem uma história marcada pela tradição religiosa e cultural, que inclusive exerce
importante papel na história regional e nacional (LIMA M., 2010).
32
Dentre os filhos ilustres da Princesa dos Montes, como costuma ser chamada a cidade,
São José de Piranhas-PB leva também o título de terra do poeta Manuel Galdino Bandeira4,
um dos grandes nomes da poesia popular nordestina. Inclusive, na praça pública do
município, há um monumento em sua homenagem (MOREIRA, 2006).
4
Manuel Galdino Bandeira, embora nascido na Fazenda Santa Gertrudes, em Patos-PB (1882), ainda
em 1907 passou a residir em São José de Piranhas-PB, após contrair matrimônio com Francisca
Erundina. Na cidade ele passou a declamar suas poesias até o fim de sua vida (1955). Tamanha era
habilidade poética com o repente que o poeta chegou a cantar para o então presidente Getúlio Vargas
(MOREIRA, 2006).
33
No tocante à escolha dos sujeitos, que trazem voz e vida para esse processo,
selecionamos: 2 (dois) repentistas do município de São José de Piranhas – PB, 2 (duas)
professoras do 5º ano da escola onde realizamos a pesquisa e os 16 (dezesseis) estudantes
integrantes das duas turmas do 5º ano. Para a escolha dos poetas utilizamos como critérios a
existência de produções escrita e/ou oral: um deles possui dois livros publicados com seus
repentes; o outro possui um CD gravado com poesias de repente. E no que diz respeito aos
estudantes participantes da pesquisa, realizamos a intervenção com aqueles que frequentavam
as aulas na modalidade do ensino presencial5.
Para esta investigação, contamos com os poetas repentistas: João Antônio de Sousa e
Francisco Leite Bezerra. Conforme apresentado no roteiro de entrevista (Apêndice G),
colhemos algumas informações biográficas. João Antônio Sousa, conhecido por João Beco,
nasceu em 18 de agosto de 1948. Filho de Antônio Manoel de Sousa e de Ana Pedroso de
Sousa, residiu toda a sua vida na zona rural, morando atualmente no sítio Triângulo,
município de São José de Piranhas – PB. Na infância e juventude ele não frequentou a escola,
dedicando seu tempo ao roçado com o pai e a ajudar sua mãe no cuidado e subsistência dos
demais irmãos. Pai de quatro filhos, o poeta é um amante da vida do campo e das cavalgadas,
sente satisfação e orgulho em ter “nascido e se criado” na roça.
Enquanto Francisco Leite Bezerra, conhecido por Tico Amaro, nasceu em 28 de
agosto de 1948, filho de Amaro Leite de Figueiredo (seu Amaro Leite) e Rita Bezerra de
Figueiredo (Dona Ritinha). O poeta cresceu no sítio Trasmonte, também zona rural do
município de São José de Piranhas – PB, embora hoje resida na zona urbana. Frequentou a
escola apenas na alfabetização, quando criança, mas a falta de escolaridade nunca foi
impeditivo para que se tornasse um grande amante e disseminador da poesia popular local.
5
Em face da pandemia da covid-19 enfrentada, ao final do ano de 2021, as escolas adotaram o ensino
híbrido como mecanismo de retorno às aulas. De tal modo, a pesquisa foi realizada com aqueles
estudantes que frequentavam o ensino presencial.
34
4
Masculino
2
Feminino
0
10 anos 11 anos 13 anos
Sim
Não
Às vezes
Apesar de 81,25% dos sujeitos colaboradores terem afirmado que gostam de ler,
precisamos levar em consideração o tipo de leitura que eles desenvolvem para entendermos o
gosto que eles têm por ela. Quanto aos 12,5% que responderam “não” e aos 6,25% que
responderam “às vezes”, no decorrer da intervenção percebemos que correspondia aos
estudantes que não possuíam o domínio da leitura e escrita.
Enquanto que, quando questionados sobre os gêneros textuais que costumavam ler na
escola (gráfico 3), 14 (catorze) deles afirmaram que liam contos; 12 (doze), poesias; 15
(quinze), lendas; e 12 (doze), ficção. Para uma melhor visualização trazemos o gráfico abaixo.
15
10
0
Contos Poesia Fábula Lendas Ficção
Sim
Não
14
12
10
8
6
4
2
0
Gibi Livro Poesia Literatura Bíblia Mangá
Didático infantil
Em relação a tal quesito, a sondagem realizada demonstrou que grande parte dos
estudantes participantes da pesquisa afirmou ter gosto e prática da leitura fora do espaço
escolar, utilizando-se ainda de diferentes gêneros textuais e literários. Cotejando, além disso,
os gráficos 3 (três) e 5 (cinco), observamos que há uma preferência pela leitura poética no
âmbito escolar, posto que apenas 2 (dois) afirmaram ler poesias em casa.
38
Realizamos, por fim, a interpretação dos dados por meio da técnica de análise temática
ou categorial, que segundo Bardin (1977, p. 153) “funciona por operações de
desmembramento do texto em unidades, em categorias segundo reagrupamentos analógicos”.
A análise temática é definida pela busca dos núcleos de sentidos a partir do desmembramento
já realizado por meio da categorização e os núcleos de sentido correspondem a uma
interpretação da ideia central daquele dado escolhido na categorização. Por isso, à discussão
das categorias, elencamos e intitulamos os seguintes núcleos de sentido: 1) A poesia popular
pela ótica dos poetas: sensibilidade, memória e tradição; 2) Incentivo e reconhecimento: a
poesia popular como patrimônio cultural; 3) Poesia popular na escola: o professor leitor, a
formação de leitores e o incentivo à cultura.
colaboradores da pesquisa e fomentamos a criação e habilidade poética por parte dos alunos a
partir de um Festival de Poesia.
1º momento:
No primeiro contato com a escola fomos notificadas que dispúnhamos de 3 (três)
semanas ao desenvolvimento do projeto, coincidindo com o fim do ano letivo escolar (início
da segunda quinzena de dezembro de 2021). Por ordem da Secretaria Municipal de Educação,
contudo, foi reduzido o número de dias letivos à finalização das atividades escolares, o que
também afetou nosso tempo de pesquisa. Por isso, para fins de otimização da intervenção e
por recomendação das professoras colaboradoras, o primeiro momento se deu de forma
remota e assíncrona. Valemo-nos de registro audiovisual encaminhado por aplicativo
Whatsapp ao grupo de pais e responsáveis para proceder a apresentação da pesquisa e
esclarecimentos da voluntariedade na participação dos estudantes (imagem 3).
2º momento:
O segundo momento de intervenção aconteceu de forma presencial, no qual
trabalhamos a composição estrutural do poema. Iniciamos com a degustação literária da
poesia “As borboletas”, de Vinícius de Morais, utilizando palitoches como recurso visual
(imagem 5).
Imagem 5 – Palitoches
3º momento:
Para o terceiro momento proporcionamos uma roda de conversa entre os estudantes
participantes da pesquisa, os poetas Tico Amaro e João Beco e as professoras colaboradoras.
Conduzimos os poetas ao ambiente escolar para que contassem aos estudantes as suas
histórias de vida, suas experiências e também para que declamassem a poesia de repente.
Após a fala dos poetas, os estudantes puderam fazer-lhes perguntas, sanando dúvidas e
curiosidades. Na oportunidade, com o uso de fantoches, de forma coletiva recitamos ainda o
cordel “Criança responde”, de Isaura de Melo Souza. A cada estrofe desse cordel são
45
4º momento:
O Festival de Poesia, quarto e último momento da intervenção, teve o escopo de
despertar nos estudantes um maior apreço e familiaridade com a poesia popular, reunindo
suas produções poéticas de modo a serem apreciadas pelos poetas, professoras, direção da
escola e colegas.
A arte da literatura tem relevância ímpar no processo de formação dos sujeitos por se
tratar de uma manifestação histórica, política e cultural da humanidade em todos os tempos.
Assim, ela passa a ser presente na vida humana devido à necessidade de fruição, deleite,
fabulação a que todos estão propensos. Com o surgimento da Teoria da Literatura,
pesquisadores elencaram alguns critérios de modo a auxiliarem a classificação do que seria,
de fato, tratado como literário. Tudo que fosse impresso, os livros que fossem considerados
como grandes clássicos (pela questão estética e intelectual) eram tratados como literatura
(WELLEK; WARREN, 2003).
Outra questão que justifica a classificação do texto literário como texto impresso se dá
pelo próprio sentido etimológico da palavra literatura. Esta provém do latim littera que
significa letra e assim a relaciona com a escrita, afastando assim o critério da literatura oral ou
imaginativa do conceito de literário. Todavia, hoje entendemos que nem toda manifestação
verbal que se relaciona com a literatura apresenta necessariamente registros escritos
(ZILBERMAN, 2009).
Por esse ângulo, Wellek e Warren (2003, p. 13) destacam,
Tal fenômeno literário é, com efeito, caracterizado pelas narrativas literárias, pela
oralidade. As histórias, lendas, contos e poesias circulavam na Europa já entre os séculos IX e
48
X, tratando-se de narrativas populares que atualmente são conhecidas por literatura folclórica
e infantil (COELHO, 1985).
Segundo Bernd e Migozzi (1995), o conceito de literatura popular consiste em uma
problemática ideológica, sociológica e estética no que tange a origem cultural. É literatura
popular por que fala do povo? Por que foi escrita para o povo? Oriunda das massas populares?
Das classes desfavorecidas? Trata-se de literatura popular por abranger a multiplicidade de
suas formas?
As indagações supracitadas nos conduzem a uma mais complexa busca de como
podemos conceituar a literatura popular, tendo em vista que essa parece ser uma definição
bem controversa devido às terminologias “povo” e “literatura”. Nas palavras de Migozzi
(1995), existem três formas de compreender tal modalidade cultural: considerá-la como
sinônimo da literatura oral que surge com os folcloristas do século XIX na França; identificá-
la como literatura de colportagem6, ocupando-se apenas da literatura popular escrita; ou
compreendê-la como toda manifestação literária reprimida pela literatura oficial.
Enquanto que, para Luyten (1983), no Ocidente a literatura popular surgiu
inicialmente como manifestação leiga emancipada das correntes eclesiásticas, por utilizar a
linguagem regional. Por ser o latim língua oficial da Europa e único viés de comunicação, as
produções literárias eram, predominantemente, traduzidas para a língua latina.
Neste estudo, compreendemos que a literatura popular apresenta um valor
incomensurável para a sociedade, porque apresenta elementos que lhes são inerentes. Ela é a
expressão de um povo, suas memórias, tradições, identidades, e nesse sentido o texto literário
expressa o contexto social de cada época de uma forma ressignificada.
Para Cascudo (2006), ambas as fontes da literatura (popular e culta) apresentam como
característica a oralidade, consistindo fonte popular os jogos infantis, cantigas de rodas,
parlendas, adivinhações, contos, canto popular, lendas, anedotas, músicas anônimas,
improvisação poética, dentre outros.
Podemos dizer que a literatura oral é uma expressão da tradição de um povo
transmitido pela memória cultural de diferentes gerações. Segundo Santos I. (1995, p. 39), “ao
contrário do texto escrito, o texto literário oral encontra-se raramente isolado, ou produzido
como texto, mas sempre inserido num discurso, como mensagem em situação”. Isso porque
esse texto é objeto de posse cultural de um determinado grupo, sendo ele uma única via de
6
Literatura de colportagem tratava-se de livretos que continham poesias, orações, novelas, autos, entre
outros textos de origem popular.
49
acesso à memória cultural. Santos I. (1995, p. 39) ainda afirma que a literatura oral configura-
se também no:
[...] conjunto de textos literários que não encontram mais, na vida cotidiana
ou no ambiente habitual, os apoios memoriais que lhes permitiram
permanecer vivos: é portanto através do discurso sobre o passado, voluntária
e livremente desenvolvido, que a memória cultural se funda e se estrutura.
elementos dos povos indígena, português e africano. Cada povo possuía sua cultura, valores,
músicas, danças, histórias, e com o passar dos anos, no processo de formação do povo
brasileiro, todas essas influências foram amalgamadas, constituindo assim uma cultura
popular peculiar. Convindo, entretanto, salientar que a literatura contemplada como culta,
oficial e erudita advinha da soberania portuguesa no Brasil, enquanto que as danças, cantos e
tradições de matrizes indígenas e africanas eram caracterizados como literatura popular,
informal.
Ressaltamos que a literatura popular é fruto da literatura oral, apesar de haver uma
confusão acerca da identificação do erudito e do popular. A oposição existente entre os
conceitos de erudito e popular perpassam costumes, pensamentos, classes sociais. Segundo
Zumthor (1993, p. 119, grifos do autor):
Oral não significa popular, tanto quanto escrito não significa erudito. Na
verdade, o que a palavra erudito designa é uma tendência, no seio de uma
cultura comum, à satisfação de necessidades isoladas da globalidade vivida,
a instauração de condutas antônomas, exprimíveis numa linguagem
consciente de seus fins e móvel em relação a elas; popular, a tendência a alto
grau de funcionalidade das formas, no interior de costumes ancorados na
experiência cotidiana, com desígnios coletivos e em linguagem
relativamente cristalizada.
Assim, os saberes populares e as tradições orais falam muito sobre a sociedade que
constituímos hoje, os valores e crenças que defendemos, cultuamos e vão sendo moldadas no
decorrer do tempo com as mudanças sociais. Por isso, consideramos importante destacar a
51
Desse modo, podemos entender que a poesia pode ser encontrada na subjetividade do
poema. A poesia nos invade, nos toca, ela acontece no decorrer da leitura do poema. A poesia
aparece na forma de olhar o mundo, está marcada por uma experiência pessoal. A leitura oral
do poema possibilita ao leitor experienciar a poesia. À vista disso, Paz (1982) ainda destaca o
fato de haver muitos poemas sem poesia.
52
7
Tradução das autoras: A poesia é a possiblidade de encontro entre o gênero e a ideia, pois é aí que se
manifesta o pensamento. A expressão dentro da obra poética tem como propósito estabelecer um
diálogo com o campo literário, no caso, a sabedoria, a linguagem poética. A poesia é, portanto, um
53
Por isso mesmo, compreendemos que o conceito de poesia não está restrito à rima e
métrica estrutural, mas envolve a manifestação dos anseios humanos, a descrição de situações
distantes do convencional. A poesia é uma revelação da criação literária que cumpre uma
finalidade estritamente humana: a manifestação dos pensamentos, na relação entre o gênero e
o âmbito das ideias.
Corroborando esse pensamento, recorremos novamente às palavras de Paz (1982, p.
15) quando afirma que:
campo particularmente revelador da criação literária, já que cumpre uma função muito concreta na
existência humana, e isto quando o homem a adota como uma das formas de "reagir" desta existência,
frente à realidade que a cerca.
54
poema não se esgota: ele cria modelos de sensibilidade. É por isso que um
poema, sendo um ser concreto de linguagem, parece o mais abstrato dos
seres. É por isso que um poema é criação pura – por mais impura que seja. É
como uma pessoa, ou como a vida: por melhor que você a explique, a
explicação nunca pode substituí-la.
No tocante à poesia dramática, esta, por sua vez, embora faça uso da narrativa, tende a
retratar acontecimentos e/ou conflitos vivenciados pelo poeta. A distinção com o gênero
narrativo está na relação existente entre ela e público (SILVA V., 1968). A poesia dramática
subdivide-se em: tragédia (retrata ações humanas que provocam medo ou terror), comédia
(trata de críticas realizadas de maneira irônica levando o leitor ou público ao riso), farsa
(semelhante à comédia, mas com menos personagens) e auto (aborda conteúdo de cunho
religioso). Apresentamos, a seguir, como exemplo de poesia dramática fragmento do terceiro
tema “A falência do prazer” da obra poética “Primeiro Fausto” de Fernando Pessoa (2014).
Utilizando a criatividade na produção, mesmo que não faça uso de uma métrica de
apoio tradicional, o poeta popular pode, sim, imprimir na sua poesia um ritmo próprio, mesmo
porque, no decorrer da história, o ritmo poético foi entendido de diferentes formas. Sem
esquecermos ainda que a ritmação poética guarda estreita relação com a época e contexto no
qual foi produzido o poema (GOLDSTEIN, 1985).
Feitas tais considerações sobre o ritmo na poesia, convém também observamos que o
próprio sistema de metrificação dos versos poéticos possibilita a contagem das sílabas
poéticas, sendo possível através dele categorizar os próprios versos. A partir dos versos
regulares de 1 (uma) a 12 (doze) sílabas, Goldstein (1985) traz a classificação abaixo exposta.
Em suma, o entendimento que temos acerca da literatura consiste em tê-la como a arte
da palavra que expressa a história e as mudanças sociais e culturais da humanidade por meio
tradição oral. Independentemente da estruturação que assuma e de como esteja classificada,
indubitável é que o gênero literário poesia há muito conserva as culturas e tradições, a
memória dos povos.
Nessa esteira, no que tange à poesia popular de produção oral, temos o repente,
marcado pelo improviso. O repente, como a própria denominação leva a compreender, surge
“de repente”, ou seja, súbita e inesperadamente, é lançado para encantar os espectadores tanto
em forma de declamação quanto de cantoria (LUYTEN, 1983).
Em termos de análise estrutural, de um modo geral, os poetas repentistas não se
preocupam com a metrificação dos versos. O interesse maior é conquistar a atenção do
público ouvinte pela rima, não importando se os versos apresentam ou não a mesma contagem
de sílabas poéticas. Tomemos por análise o par de decassílabos de Tico Amaro, colaborador
da pesquisa, cujo fragmento foi retirado do livro “Memórias, versos e cantos” (2016).
Vi a antiga cabana
Parecendo algum deserto
E o terreiro coberto
De rama de gitirana
Aquele sítio de cana
Também não existe mais
No curral dos animais
Hoje tem mato somente
Está tudo diferente
De muitos anos atrás
As duas estrofes possuem 10 (dez) versos e por isso, sem maior dificuldade, podemos
classificá-las por décimas. Já em relação aos versos, quanto à escansão silábica, percebemos
que não seguem uma padronização, contendo eles 6 (seis), 7 (sete) e até 8 (oito) sílabas
poéticas. Quanto a isso, pela estrutura heterométrica apresentada, conforme classificação de
Goldstein (1985) podemos compreendê-los como de versos livres. Reafirmamos com isso o
60
fato de que o poeta popular não se cinge pela preocupação métrica, mesmo porque a poesia
popular é produto social que ressoa também a voz e anseio do povo.
Nesse sentido, Perdigão (2010, p. 25) ressalta:
A poesia popular no Brasil teve forte influência das poesias trovadorescas de Portugal
e estas cantigas poéticas, por sua vez, da cultura popular francesa e ibérica. Foi, pois, a partir
das trovas portuguesas, com as fortes temáticas de cunho religioso que se teve o prenúncio da
61
poesia popular brasileira. Moreira (2006) afirma que os imigrantes faziam poesia para
acalentar a saudade de suas terras.
Historicamente, as manifestações populares poéticas no Brasil surgiram na região
Nordeste, no período colonial, por influências do estilo de poesia dos trovadores provençais
(SANTANA, 2009). Moreira (2006) ressalta que foi no território paraibano que nasceu a
poesia popular brasileira, nas regiões de Teixeira, Patos, Pombal, Paulista e proximidades,
estendendo-se este “berço poético” ao Vale do Pajeú no Pernambuco e Vale do Seridó, no Rio
Grande do Norte. A união dos três estados constituiu, então, uma verdadeira “Tríade Poética”
(MOREIRA, 2006).
No estado da Paraíba não foram poucos os nomes que se destacaram na história da
poesia popular: Agostinho Nunes da Costa (1797-1858) e Nicandro Nunes da Costa (1829-
1918), pioneiros da cantoria na região; Manuel Galdino Bandeira (1882-1955), conhecido
nacionalmente por declamar para o presidente Getúlio Vargas; Francisco das Chagas Batista
(1882-1930), renomado cordelista (MOREIRA, 2006) e Leandro Gomes de Barros (1865-
1918), poeta e repentista consagrado como “pai da Literatura de Cordel brasileira”, entre
outros. Francisco das Chagas e Leandro de Barros, por exemplo, escreveram juntos “algumas
das mais belas páginas da história da cultura brasileira” (HAURÉLIO, 2019).
Confirmando que a poesia popular brasileira é de origem nordestina, Diegues (1973, p.
14) evidencia que:
Assim, os poetas foram aprimorando essa arte, incutindo na poesia características que
lhe são próprias, consagrando a tradição que era repassada de geração em geração e,
paulatinamente, extrapolando os limites da região Nordeste. Santos I. (1995, p. 35) declara
que “a literatura popular brasileira, oral e escrita, em particular no Nordeste, não é composta
de relíquias, vestígios pacientemente recolhidos antes de desaparecer para sempre: é uma
poesia viva e atual”.
Nesse sentido, o processo de migração do povo nordestino para as Regiões Centro-
Oeste e Sudeste em busca de trabalho e oportunidades possibilitou também que a poesia
popular fosse conhecida nos outros estados (ÂNGELO, 1996). Contudo, tratou-se de um
processo cheio de estigmas devido à marca discriminatória que até hoje existe sobre os
62
nordestinos. Para Ângelo (1996), os poetas populares tachados como “paraíbas”, “cabeças
chatas” e “baianos” foram ganhando espaço na medida em que as cantorias, os repentes e os
cordéis atraíam o interesse do público sudestino. O preconceito com o Nordeste nunca foi,
para o poeta nordestino, causa de constrangimento.
Como manifestação de saberes, conhecimentos e reafirmação de uma identidade, a
poesia popular assume os contornos de poesia fixa e móvel. Sobre tal classificação da poesia
popular, Luyten (1983, p. 23-24) distingue:
[...] a fixa seria o cordel, que pode ser decorado e passado pelas pessoas ao
longo dos tempos e espaços; a móvel é representada pelos repentes,
improvisações, ritmos e rimas com determinados temas, as emboladas,
dentre outros. Geralmente esses versos não se repetem e muitos se perdem,
mas não causam prejuízo, porque há uma gama de criatividade neles e o
povo sempre os reproduz e atualiza a partir da memória.
guardados na memória dos repentistas e, mesmo que raramente, poucos deles são compilados
em registros escritos.
Como exemplo de repente não escrito, trazemos, a seguir, a nona declamada pelo
poeta João Beco por oportunidade da entrevista realizada. O poeta enunciara a poesia pela
primeira vez quando do início da construção de barragem da transposição do Rio São
Francisco na região, desde então, ele a guarda em sua memória.
[...] a memória não é livro senão em figura: ei-la designada palavra viva, da
qual emana a coerência de uma escritura; a coerência de uma inscrição do
homem e de sua história, pessoal e coletiva, na realidade do destino. Esse
interesse pela memória, [...] deve-se ao imenso papel desempenhado nessa
cultura pelas transmissões orais – trazidas pela voz, da qual a poesia,
constitui o lugar eminente.
A memória não configura mero fenômeno individual, ela também deve ser entendida
como um episódio construído coletivamente, que envolve as constantes transformações
sociais provocadas no decurso da história (POLLAK, 1992).
A esta altura, após termos discutido sobre a poesia popular no Brasil e compreendido-a
como autêntico patrimônio cultural, passamos agora a discorrer sobre a poesia popular no
ambiente escolar.
65
Sob essa ótica, compreendemos que o sujeito se torna leitor muito antes de ingressar
no espaço escolar através do modo de olhar para o mundo a sua volta. A leitura de mundo
consiste, assim, em ler o quotidiano, as coisas, os objetos, as ações, os animais, as
construções, os signos. E ler os signos importa compreender as coisas através de uma
representação ideológica. Para Bakhtin (2010, p. 8), “todo signo é ideológico; a ideologia é
66
um reflexo das estruturas sociais; assim, toda modificação da ideologia encadeia uma
modificação da língua”. Podemos entender que, própria da leitura dos signos, a linguagem
oral e a escrita são criações e representações sociais que podem ir mudando com o
desenvolvimento sociocultural da sociedade.
Nessa esteira, as dimensões da linguagem e da realidade estão intrinsecamente
envolvidas, tendo em vista que o conhecimento de mundo, a leitura do mundo exterior,
acontece naturalmente. Permitimo-nos, então, exemplificar: ainda que não tenha
conhecimento formal a respeito das propriedades terapêuticas do boldo enquanto planta
medicinal, uma pessoa que cresce aprendendo que o chá de boldo é eficaz remédio para
problemas gastrointestinais, ao sentir uma dor estomacal muito provavelmente recorrerá à
citada erva para restabelecer sua saúde. A esse respeito, afirma Freire (1989, p. 9) que “a
leitura do mundo precede a leitura da palavra”.
Experienciando o mundo a sua volta, a partir do seu modo de pensar e agir, o sujeito
poderá associar o código escrito à sua realidade, compreendendo não só os signos como
também os significados. Vygotsky (1991), nesse sentido, entende que os signos constituem
um sistema de comunicação (a linguagem, a escrita e o sistema numérico), instrumentos de
mediação na interação “homem-ambiente”. O sistema de signos é internalizado por uma
produção cultural e provoca no sujeito mudanças comportamentais em consonância com as
manifestações culturais da atualidade.
Entendendo, assim, o signo como um meio de contato social entre o mundo e o sujeito,
concebemos a leitura do signo como prática social (BENEVIDES, 2008), prática essa que
permite ao leitor inferir suas impressões culturais e sociais no desenvolver da leitura.
Passando-se da compreensão da leitura de mundo à leitura da palavra, compreendemos que
não há neutralidade no ato de ler. Leitura é uma atividade social, política e cultural que é
construída e compartilhada pelos sujeitos; é também por meio dela que nos reconhecemos
como integrantes de uma coletividade (BENEVIDES, 2008).
Analogamente, Cosson (2020, p. 40) destaca:
Assim, o leitor é concebido como um ser que interage no mundo e com o mundo, que
conhece sua realidade e a infere no andamento da leitura. Por isso consideramos relevante,
67
nesse estudo, tratar da formação de leitores no espaço formal da escola. Como espaço da
mediação do saber sistematizado da formação para a cidadania (BRASIL, 1996), a escola
precisa acompanhar os avanços culturais e sociais da modernidade. A formação de leitores há
de ultrapassar, a esta altura, a concepção do ato de ler como prática isolada de um contexto.
Como ratificado por Benevides (2008, p. 91):
De acordo com a autora, a prática da leitura tem, por muito tempo, sido desvinculada
da sua função social, o que inicialmente se deu por a leitura de livros ter sido restrita a
determinadas e seletas classes. Na Antiguidade, quando a Igreja Católica detinha o poder, o
acesso aos livros e ao conhecimento era limitado ao Clero, quando em muito atendendo aos
intelectuais da classe social favorecida. Os que não eram sacerdotes, não tinham propriedades
ou títulos eram indignos ao conhecimento (ECO, 2011). Ademais, mesmo com as mudanças
trazidas pela Revolução Francesa e os ideais iluministas, em um primeiro momento o acesso à
escola ainda se manteve exclusivo à burguesia.
No contexto brasileiro em específico, somente a partir do reconhecimento da educação
como direito de todos constitucionalmente assegurado (BRASIL, 1988) foi que escolas e
bibliotecas públicas passaram a abrir as suas portas para trabalhadores e filhos da classe
proletária, que se passou a ofertar um ensino público e gratuito sem distinção de classe ou
raça. Apesar disso, o ensino da leitura por muito tempo continuou a ser visto como atividade
mecanizada, limitado à decodificação da língua escrita e só mais recentemente passou-se a
repensar as formas de ensino a partir da própria ressignificação do ato de ler.
O leitor pode realizar sua leitura por hábito ou gosto e a forma como se desenvolve o
ensino da leitura no ambiente formal da escola pode contribuir ou não ao desenvolvimento
destes. Villardi (1999) destaca que apesar de gosto e hábito serem terminologias com
significados semelhantes, são distintas na ação prática.
O ato de ler é uma atividade constantemente realizada em sala de aula e que configura
os processos de ensino e aprendizagem. Por vezes, os saberes e informações são veiculados
por meio dos livros didáticos, apostilas, quadros, entre outros. Nesse caso, a leitura é
concebida como um hábito. O estudante lê porque precisa exercer essa prática para
68
Com base nas ideias de Candido (2011), toda manifestação literária é relevante à
formação do sujeito e precisa, assim, ter assegurado espaço em sala de aula.
Compreendemos, porém, que na formação de leitores, a poesia carece de ocupar lugar de
destaque nos trabalhos pedagógicos a serem desenvolvidos, já que é a arte que possibilita ao
leitor despertar a um novo mundo, a novas formas de encarar a realidade em que está inserido
(VILLARDI, 2008).
Não há dúvidas que a poesia fomenta a criatividade, imaginação e sensibilidade aos
sujeitos. Entretanto, apesar de tal potencial, ela ainda não tem alcançado o espaço adequado
na escola, “[...] de todos os gêneros literários, provavelmente é a poesia o menos prestigiado
no fazer pedagógico da sala de aula” (PINHEIRO, 2018, p. 11).
69
Como elucida Pinheiro (2018), tal impasse se deve em muito à forma pragmática que
o texto poético é trabalhado e às finalidades de sua utilização, ora apenas para ocupação com
a ortografia, ora para responder simples perguntas de exploração textual. E, no mesmo
sentido, complementa Amarilha (1997) que a falta de estímulo à poesia também decorre do
reducionismo do gênero que, na maioria das vezes, é utilizado em eventos festivos do
calendário escolar.
Assim, a poesia como a arte que nos sensibiliza, move, toca e impressiona não tem
chegado às escolas, considerando que, por vezes, na sala de aula tem sido trabalhado apenas o
conteúdo e estrutura poética. Nesse segmento, Sousa P. (2013, p. 36) aduz:
que a leitura que realizarão muito provavelmente terá uma melhor receptividade pelos
estudantes.
No que diz respeito à poesia para crianças, no caso do Brasil, Abramovich (1997) aduz
que, em sua maioria, os renomados literatas nacionais não apresentam versões voltadas ao
público infantil, enquanto que os poetas menos prestigiados tendem a fazer uso de palavras
corriqueiras. A poesia voltada ao público infantil, entretanto, não precisa ser moralizante,
boba, pequena ou com excesso de sentimentalismo. Poesia para crianças precisa ser boa,
incentivar o gosto e prazer pela leitura literária.
A qualidade da linguagem poética para crianças está não só na articulação das
palavras, mas no potencial de favorecer vivência de diferentes emoções e realidades. Ainda
que utilizada como recurso interdisciplinar, tem de ser divertida, lúdica, prazerosa, podendo
também contemplar múltiplas facetas da vida humana: tristeza, raiva, surpresa, sofrimento.
Retomando a discussão da necessidade de ser também o professor um leitor de poesia,
Abramovich (1997, p. 95) pontua:
Se a professora for ler um poema para a classe – que o conheça bem, que o
tenha lido várias vezes antes, que tenha sentido, percebido, saboreado. Para
que passe a emoção verdadeira, o ritmo e a cadência pedidos, que sublinhe o
importante, que faça pausas para que cada ouvinte possa cobrir – por si
próprio – cada passagem, cada estrofe, cada mudança...
Nesta seção voltamos nosso olhar à concepção dos poetas repentistas colaboradores da
pesquisa a respeito do repente e das suas próprias produções, à percepção das duas
professoras participantes sobre a poesia popular e sua inserção em sala de aula e aos
resultados da intervenção pedagógica desenvolvida.
As reflexões aqui tecidas são resultantes das categorias de análise elencadas a partir
das entrevistas realizadas, conforme o já exposto no capítulo metodológico8. Para tanto,
ordenamos as categorias da seguinte forma: na subseção 5.1, A poesia popular pela ótica dos
poetas: sensibilidade, memória e tradição; na subseção 5.2, Incentivo e reconhecimento: a
poesia popular como patrimônio cultural; e na subseção 5.3, poesia popular na escola: o
professor leitor, a formação de leitores e o incentivo à cultura. Feito isso, na subseção 5.4
apresentamos, por fim, os resultados da culminância pedagógica desenvolvida por
oportunidade desta pesquisa no ambiente escolar.
5.1 A poesia popular pela ótica dos poetas: sensibilidade, memória e tradição
Nas entrevistas, os poetas Tico Amaro e João Beco retrataram suas relações com a
vida campesina desde a tenra idade. Ambos se posicionaram veementes em manifestar o
orgulho em serem do roçado, assumindo tal identidade cultural sem qualquer
constrangimento. Confirmamos, com isso, o que disse Moreira (2006) ao enfatizar as raízes
rústicas e ligadas à terra da maioria dos poetas repentistas.
Ao ser indagado sobre suas origens e de como despertou à habilidade da poesia de
improviso, Tico Amaro destacou:
Meu pai me levava muito pras cantorias... naquele tempo tinha muita
cantoria, meu pai me levava pras cantoria, e eu comecei a ver a métrica, ver
o jeito de cantar, e por ali eu fui descobrindo que eu levava jeito. Acabei do
jeito que, eu mesmo “moleque”, com uns 14 anos, eu ia pra uma cantoria, ali
tinha uma dupla cantando, e eu dizia: eu quero cantar com vocês. E eu
pegava a viola do colega e começava a cantar e agradava o povo... não sei
por que! Também, eu muito criança e o povo despertava com aquilo, né?! E
foi assim, né?! Ainda fiz cantoria... (TRECHO RECOLHIDO DA
ENTREVISTA DE TICO AMARO, 2021).
8
Quadro 6: Categorias de análise, página 40.
76
Em sua fala, o poeta pontua que desde cedo tinha afeições com a poesia de repente.
Por frequentar cantorias e ouvir seu pai, conhecido poeta da época, desde criança deixou-se
levar pela arte de improvisar. Entendemos, desse modo, que o improviso constitui habilidade
apreendida pelo sujeito, fruto de experiências em espaços que proporcionaram o contato com
a poesia popular. O poeta João Beco, na mesma linha, embora tenha somente desenvolvido a
habilidade do improviso na maturidade, também transparecera em sua fala que o repente
surgiu por influências familiares.
[...] Isso aí foi depois de velho... a mente despertou... que meu pai era muito
bom em poesia e eu não aprendi uma coisa que meu pai não fizesse, meu
irmão mais novo sabe e eu não sei... aí a mente despertou e eu faço umas
besteira, mas não como ele fazia. Até sábado, aqui, o caba tocando aí
gritava: “o poeta tá aqui, o poeta tá aqui...” Depois eu peguei e fiz uns
trabalhos9 aqui, e os caba acharam graça... (TRECHO RECOLHIDO DA
ENTREVISTA DE JOÃO BECO, 2021).
Nos enunciados transcritos, notamos que a habilidade de improvisar dos sujeitos está
ligada a uma herança familiar, o que justifica o fato de muitos dos versos da poesia de repente
contemplarem as lembranças e histórias vivenciadas pelos poetas (MOREIRA, 2006).
O fazer poético do repentista é um resgate de memórias. As memórias são relevantes
para compreendermos a vivacidade e coerência das palavras do poeta com sua história de
vida. Tais lembranças são impressões vivas do tempo remoto no contemporâneo. Em outras
palavras, a poesia popular é uma expressão viva que mantém o passado conectado ao
presente, que nos permite compreender as situações cotidianas do passado e como estas são
ressignificadas.
Sobre isso, Tico Amaro ressalva em sua fala: “[...] a poesia, ela toca na alma, ela toca
na lembrança... a poesia traz o passado para o presente, ela busca o futuro e traz para cá
também [...]” (TRECHO RECOLHIDO DA ENTREVISTA DE TICO AMARO, 2021).
Vemos, com isso, que a poesia popular é memória, mas não se restringe a vestígios passados,
alheios à modernidade. Como coloca Santos I. (1995), trata-se de uma expressão atual viva e
de reafirmação.
Como já discutido, os valores de comportamento ético social, situações diversas da
vida cotidiana e ensinamentos repassados por meio da literatura oral são provenientes da
sabedoria antiga popular (COELHO, 1985), mantendo assim viva a tradição do povo
nordestino. E a tradição foi, de fato, outra categoria que sobressaíra na fala dos poetas.
9
Termo utilizado pelo poeta para se referir à sua poesia.
77
Quando questionado sobre a importância da sua poesia e o sentido que representa para
sua vida, João Beco aduzira: “Ela é importante porque eu acho que isso é uma herança de meu
pai [...] é admirado por todo canto, porque não é pra todo mundo.” (TRECHO RECOLHIDO
DA ENTREVISTA DE JOÃO BECO, 2021). O sujeito compreende a poesia como um bem
deixado pelo pai. Os valores culturais são, para o nordestino, a riqueza que importa ser
herdada. Partindo desta fala, enxergamos a relevância da poesia para a vida do poeta popular,
tratada como um tesouro, um recurso peculiar à sua história, às suas raízes.
Ainda da transcrição, quando o poeta afirma que o repente “não é para todo mundo”,
converge também à concepção de que a aptidão para o improviso é um dom divino, o que
também foi apontado nas falas do poeta Tico Amaro. Ao perguntarmos a João Beco quem
teria ensinado-o a improvisar, incisivamente respondeu: “A poesia é um repente, um dom de
Deus. [...], num é todo mundo que nasce com esse dom. [...] Não é pra todo mundo não! Isso é
um negócio de Deus. Uma mente que Deus dá a pessoa fazer essas coisas, porque é
complicado.” (TRECHO RECOLHIDO DA ENTREVISTA DE JOÃO BECO, 2021).
O poeta repentista se permite mover pelas suas inspirações tratando suas habilidades
como dom concedido por um poder transcendental. Destacamos, frente a isso, a religiosidade
efusiva do nordestino. Para o sertanejo, tudo que é concedido por Deus é tratado como um
bem especial, e assim é o repente na vida do poeta, um tesouro precioso que não deriva das
suas próprias forças, mesmo porque que parte dos repentistas não possui alto grau de
instrução. A poesia do improviso é uma destreza divina e poucos são os afortunados em
possuí-la.
Enfatizamos, nas falas dos colaboradores, que a poesia é representação do mundo que
expressa uma realidade utilizando a sensibilidade das palavras. Assim, a linguagem poética é
singular na maneira de expressar a realidade, o pensamento, o conhecimento (TABARES,
2013). Questionado sobre o que seria a poesia, Tico Amaro, muito emotivo, declarou:
A poesia é o seguinte... ela é muito forte. É uma mensagem que só, como se
diz, quem tem sensibilidade reconhece o que é a poesia. [...] Até tem uma
estrofe que eu acho muito... assim, engraçada, porque ela foi construída
dizendo como é que o poeta vê as coisas... porque o poeta, ele tem um
mundo invisível. E você sabe que os gregos, eles endeusavam os poetas...
eles achavam que os poetas eram divinos. Os deuses, eles criavam deuses,
eles traziam aquelas mensagens que outras pessoas não sabiam trazer. E eles
achavam que os poetas eram divinizados... Como era que eles construíam
essas coisas? Como que eram mensagens de deuses que traziam pra eles?
Porque os poetas são desse jeito, eles têm um sentimento, eles veem o
mundo diferente. Às vezes, aonde você vê feio o poeta acha coisa bonita,
onde você vê coisa que talvez nem se restaure, o poeta sabe. Mas tem jeito,
se fizer assim, assado tem jeito... O poeta é desse jeito. Até tem uma
78
“estrofezinha” que eu achei engraçada, que diz assim: Um poeta tem uma
arte/De uma história faz cem/ Vai buscar não sei aonde/ Vai deixar não sei
aquém/ Como a figura do nada/ a procura de ninguém. (TRECHO
RECOLHIDO DA ENTREVISTA DE TICO AMARO, 2021 ).
Por este viés, a fala do poeta ratifica que a poesia é a arte de criar, de provocar e
expressar sensações, sentimentos, preocupações, incertezas, de manifestar os pensamentos e a
forma que o eu-lírico enxerga o mundo (PAZ, 1982), e com isso deparamo-nos com outro
portentoso aspecto da poesia popular: a sensibilidade do poeta. É ela quem permite enxergar
a realidade sob suas diversas formas e ordenar as ideias por meio da linguagem poética
adequando-as ao contexto. Tudo isso, claro, com um misto de sentimentos e razões.
Embora se distancie do cordel e de outras formas poéticas populares por não se
preocupar com a padronização métrica e rítmica em seus versos e estrofes, até mesmo porque
não é escrito, os versos de repente mantém como traço característico a sensibilidade daqueles
que o enunciam. Somando-se a isso, a criatividade, habilidade e zelo do poeta popular
contribuem para que se mantenha viva a tradição, em contraponto a ausência de registros
escritos (LUYTEN, 1983).
Ademais, concebendo o repente como memória e tradição, na fala dos nossos
colaboradores é notória a preocupação com a falta de incentivo e reconhecimento social para
com a preservação de tal manifestação. Em nosso diário de campo, registramos a inquietação
dos colaboradores quanto ao desinteresse da sociedade atual pela arte que produzem,
demonstrada segundo eles na falta de descendentes devotados à continuidade da herança
poética familiar, e mesmo na inexistência de ações de valorização por parte do Poder Público
local.
Com isso, passamos a tratar do reconhecimento e valorização do repente como cultura
popular local na subseção seguinte.
livre, móvel e rica, embora ancorada na tradição”. Apesar de não ser uma linguagem fixa, o
repente é uma expressão artística fundamentada, a priori, na herança da trova portuguesa e, a
posteriori, na tradição moral, cultural e religiosa do povo nordestino.
Para os nossos colaboradores, ser nordestino e assumir a condição de poeta é uma
posição honrosa, por sentirem-se reconhecidos e valorizados. Ao expressarmos nossa gratidão
pela participação na pesquisa, os poetas fizeram a seguinte ressalva:
[...] também vou te agradecer. Sabe por quê? Por você se interessar por esse
assunto, apresentar o nosso trabalho, a poesia, a nossa cultura, que é uma
coisa que tá quase morrendo, né?! Faz até eu lembrar uma estrofe que certa
vez eu escrevi e eu achei ela engraçada e me chamou a atenção. Onde eu
declamava o povo gostava, entendeu?! E eu até escrevi ela em um dos meus
livros, não lembro qual, mas é uma poesia que fala assim: Quando ninguém
ouvir mais/ Zé Ramalho e nem Alceu/ Quando a viola virar objeto de museu/
Deus vem chorar no velório/ Da cultura que morreu. (TRECHO
RECOLHIDO DA ENTREVISTA DE TICO AMARO, 2021 ).
A esse respeito, indagamos o poeta sobre a que governo ele se referia, mas o mesmo
não conseguiu rememorar no momento da entrevista. Instigados, através da rede mundial de
computadores, realizamos buscas no site do Governo do Estado da Paraíba sobre projetos de
referida natureza, porém, não encontramos quaisquer vestígios de políticas públicas de
incentivo à cantoria popular.
A fala do poeta Tico Amaro é um clamor à necessidade de resgatar a cultura popular
no estado que deu origem a muitos dos nomes da poesia popular nacional como aqui já
citamos. Ao destacar que a entrevista foi com ele realizada justamente em um dia histórico,
dia da literatura de cordel (19 de novembro), o poeta ressalvou:
“Cê tá” vendo que coincidência ou “deuscidência”, não sei... porque o maior
poeta popular do Brasil se chamava... um paraibano com nome de Leandro
Gomes de Barros. Não sei se você conhecia. Ele nasceu na fazenda
Melancia, em Pombal, na Paraíba, no nosso estado. [...] depois ele foi
embora pra Recife/PE, ele se tornou... ele escreveu muitas obras, [...]. Foi o
maior poeta. Ele foi intitulado o maior poeta do Brasil [...] (TRECHO
RECOLHIDO DA ENTREVISTA DE TICO AMARO, 2021).
A gente, você “tá” parecendo ser uma ativista da cultura... você cuidar da
cultura, você se preocupar com a cultura, isso é lindo! Isso é bonito. Você
“tá” de parabéns em fazer isso! [...] É uma pena sabe o quê? Eu já estar com
72 anos... não poder, daqui a 30 anos, a gente se encontrar na estrada da vida
81
e você dizer: deu certo. Mas você vai dizer, com certeza... (TRECHO
RECOLHIDO DA ENTREVISTA DE TICO AMARO, 2021).
Gosto. Assim, [...] minha paixão maior sempre foi mais matemática, [...]
mas isso não quer dizer que eu não tenha afinidade também com a leitura...
mas, assim, parar pra ler livros, eu nunca tive essa habilidade. Não sei se isso
foi por falta de incentivo desde pequena... que eu acredito muito ser, né!?
Conheço é... adolescentes que foram motivados desde pequenos, e isso leva
eles até hoje a terem essa afinidade. Comigo não. Eu nunca tive essa
motivação por parte de casa. Né?! Então, talvez por isso eu não tenha
desenvolvido esse gosto tão sucinto pela leitura (TRECHO RECOLHIDO
DA ENTREVISTA DE ANA, 2021).
[...] eu acho que a gente, como professor, a gente sempre transmite aos
alunos muito daquilo que a gente gosta, né?! Então, como é que eu vou
incentivar o meu aluno hoje pela leitura se eu não me identifico tanto com a
leitura, né?! Então, eu acho que, nessa medida, de trazer o gosto ao aluno, a
gente precisa, sim, se dispor à leitura, precisa, sim, ter essa afinidade com a
leitura (TRECHO RECOLHIDO DA ENTREVISTA DE ANA, 2021).
improvisada no dia a dia da escola, tinham ciência que o trabalho com o gênero poético é
relevante à motivação da leitura, e também para o incentivo à cultura.
Outrossim, considerando a poesia popular como expressão peculiar da cultura
nordestina, Sandra enfatizou a necessidade da implementação de projetos escolares de
fomento. Afirmou ela:
Eu acho que a gente era pra ter um... um trabalho, tipo um projeto focado em
poemas, em poesias, eu acho que a gente precisava ter um olhar maior pra
poesia, não trabalhar como um gênero que se trabalha durante o ano. Acho
que ainda é insuficiente, precisava ter um trabalho mais focado com a poesia
e principalmente com a poesia popular (TRECHO RECOLHIDO DA
ENTREVISTA DE SANDRA, 2021).
Percebemos, então, que de certo modo a fala da docente não encontra amparo teórico
quando diz que a leitura deleite não é um momento de reflexão. Concebemos que toda leitura
poética conduz o leitor/ouvinte a uma reflexão. Afinal, esta é uma das finalidades da
literatura. A esse respeito, Amarilha (1977) esclarece que a utilização da poesia na sala de
85
aula possibilita aos estudantes uma propícia formação linguística, humana e social por meio
da ludicidade.
Ainda a respeito do que fora respondido pelas professoras no momento da entrevista e
dentro da categoria temática de incentivo à cultura, destacamos, as respostas dadas quando
foram indagadas se seria importante a inclusão da poesia popular nos Anos Iniciais. Sobre
isso, aduziram:
Sim, porque traz, de certa forma, a nossa cultura, a cultura do povo pra
dentro da escola. [...] Eu acho que, com relação a poesia popular, a gente
ainda tem muito, muito, muito o que se aproveitar dela. Porque, talvez, dizer
assim, apresente pras crianças ou traga pras crianças ouvirem... muitos deles
vão dizer que nunca ouviram, pode ter certeza. Porque eu me lembro que eu
tive contato com essa poesia de repente já bem grandinha, às vezes quando
ia pra feira, quando eles vinham, mas agora, para dizer assim, trazer a poesia
popular pra dentro da sala de aula... eu acredito que poucos deles vão dizer
que conhecem (TRECHO RECOLHIDO DA ENTREVISTA DE ANA,
2021).
pedagógica realizada em duas turmas de 5º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública
do município de São José de Piranhas-PB. Os dados mencionados são resultantes do diário de
campo compilado e atividades desenvolvidas.
Apesar de nosso primeiro momento ter acontecido de forma remota com vistas a
motivar os estudantes a participarem das atividades, percebemos o quanto a proposta
despertou o interesse deles, já que todos (mesmo os que não cumpriam frequência escolar)
compareceram ao segundo momento da intervenção realizado presencialmente.
No segundo momento os estudantes demonstraram-se muito entusiasmados com a
degustação literária proporcionada pela poesia “As borboletas” de Vinícius de Morais,
principalmente em relação ao uso dos palitoches como recurso visual, sendo que, em uma
sondagem oral inicialmente realizada, apenas 1 (um) dentre os 16 (dezesseis) participantes
afirmou conhecer o gênero poético.
A dinâmica desenvolvida com a “Caixa Surpresa” (imagem 10), que objetivou
identificar o desenvolvimento linguístico e fonológico dos sujeitos, possibilitou-nos perceber
que apesar de se tratar de estudantes do 5º ano, boa parte da turma tinha dificuldades na
formação de rimas. De tal maneira, conforme iam retirando as fichas da caixa, se fez
necessário que ajudássemos na associação das palavras. Mesmo com as dificuldades
apresentadas a atividade foi desenvolvida.
tablets como suporte para aprendizagem10, muitas vezes eles não dispunham de uma conexão
de internet adequada.
Após a dinâmica de formação de rimas, no sorteio das sextilhas dos poetas repentistas
do município colocadas também na “Caixa Surpresa”, os participantes demonstraram
satisfação no desenvolvimento da leitura em voz alta, muito embora alguns deles
apresentassem visíveis limitações de leitura (imagem 11). Frente a isso, prestamos apoio na
leitura conjunta utilizando novamente o recurso do fantoche.
10
Mais informações em: https://www.radarsertanejo.com/2021/06/14/prefeito-chico-mendes-anuncia-
aquisicao-de-1-000-tablets-para-estudantes-da-rede-publica-municipal/.
88
11
Demais ilustrações podem ser encontradas nos anexos, página 123.
89
Outro fato registrado foi que, na realização da atividade da declamação das produções,
uma criança que já havia apresentado dificuldade de leitura ainda no segundo momento da
intervenção, timidamente nos pediu ajuda por não saber ler. Para não gerar constrangimento,
recorrendo mais uma vez aos fantoches, juntamente com ela realizamos a leitura (imagem 18).
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não podemos afirmar que o trabalho com a poesia popular necessariamente resolve o
problema da falta de interesse dos educandos pela leitura, principalmente considerando que
cada sujeito tem gostos e interesses próprios e que lhes são ofertadas diversas outras
possibilidades em meio a tantas tecnologias, internet e outros. Vemos na poesia popular,
entretanto, um maior potencial de instigação à leitura dado o caráter dialógico que tem com a
realidade mais aproximada da vida dos sujeitos.
Reafirmamos ainda que dar a poesia popular local o lugar que lhe é devido no espaço
escolar é contribuir à sua valorização e reconhecimento como bem imaterial do povo. Embora
o repente recentemente tenha sido reconhecido como patrimônio cultural brasileiro, e no
estado da Paraíba tenha sido instituída a Semana Estadual das Culturas Populares e
Tradicionais, compreendemos que tais conquistas constituem apenas o início de um longo,
árduo e valoroso caminho a ser trilhado à preservação das raízes históricas e culturais, da
identidade do povo nordestino.
97
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SOUZA, Isaura de Melo e. Criança Responde: cordel infantil. 2020. Disponível em:
https://pt.scribd.com/document/496528437/CRIANCA-RESPONDE-CORDEL-INFANTIL
Acesso em: 19 nov. 2021.
VILLARDI, Raquel. Ensinando a gostar de ler e formando leitores para a vida inteira.
Rio de Janeiro: Qualitymark/Dunya Ed,1999.
ZUMTHOR, Paul. A letra e a voz. São Paulo: Cia das Letras, 1993.
106
APÊNDICES
108
APÊNDICE A
CARTA DE ANUÊNCIA
Ciente dos objetivos, métodos e técnicas que serão usados nesta pesquisa, concordo
em fornecer todos os subsídios para seu desenvolvimento, desde que seja assegurado o que
segue abaixo:
_______________________________________________
109
APÊNDICE B
Esclarecimentos
Este é um convite para você participar do projeto de dissertação provisoriamente
intitulado “A POESIA POPULAR COMO PATRIMÔNIO CULTURAL E RECURSO
PEDAGÓGICO DE INCENTIVO À LEITURA EM ESCOLA PÚBLICA NO
MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE PIRANHAS – PB”, orientado pela Profa. Dra. Diana
Maria Leite Lopes Saldanha.
Sua participação é voluntária, o que significa que você poderá desistir a qualquer
momento, retirando seu consentimento sem que isso lhe traga nenhum prejuízo ou penalidade.
Caso decida aceitar, você será submetido (a) ao seguinte procedimento: entrevistas
semiestruturada, cuja responsabilidade de aplicação é da mestranda Nathalia Maria de Sousa
Feitosa, aluna do Programa de Pós Graduação em Ensino (PPGE), vinculado ao
Departamento de Educação do Campus Avançado de Pau dos Ferros, da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte (UERN), seguindo as recomendações das resoluções 466/12 e
510/16 do Conselho Nacional de Saúde e suas complementares.
As informações coletadas serão organizadas em banco de dados em programa e
exploradas a partir da análise de conteúdo, tendo como técnica a análise temática.
Essa pesquisa tem como objetivo geral: “analisar a poesia popular como patrimônio
cultural e recurso pedagógico de incentivo à leitura em escola pública no município de São
José de Piranhas/PB”. E como objetivos específicos: “1) identificar perspectivas teóricas que
fundamentam a literatura popular; 2) conhecer a arte de improvisar poesia popular sob a ótica
de poetas repentistas de São José de Piranhas/PB; 3) investigar a relevância da poesia popular
na escola como recurso pedagógico de incentivo à leitura”.
O benefício desta pesquisa é a possibilidade promover a valorização da poesia popular
como patrimônio cultural do município de São José de Piranhas-PB e como recurso
pedagógico de incentivo à leitura e ainda de contribuir para as pesquisas e estudos na área da
educação e do ensino.
Os riscos mínimos que o participante da pesquisa estará exposto são de
constrangimento e/ou mudança de comportamento em virtude dos questionamentos feitos na
presença da pesquisadora. Esses riscos serão minimizados mediante: Garantia do
anonimato/privacidade do participante na pesquisa, onde não será preciso colocar o nome do
mesmo; Para manter o sigilo e o respeito ao participante da pesquisa, apenas a pesquisadora
realizará a entrevista semiestruturada e desenvolverá a intervenção pedagógica, sendo que
somente a discente e a pesquisadora responsável poderão manusear e guardar os dados
coletados; Sigilo das informações por ocasião da publicação dos resultados, visto que não será
divulgado dado que identifique o participante; Garantia que o participante se sinta a vontade
110
para responder aos questionários e Anuência das Instituições de ensino para a realização da
pesquisa.
Os dados coletados serão, ao final da pesquisa, armazenados em CD-ROM e caixa
arquivo, guardada por no mínimo cinco anos sob a responsabilidade da pesquisadora Nathalia
Maria de Sousa Feitosa, a fim de garantir a confidencialidade, a privacidade e a segurança das
informações coletadas, e a divulgação dos resultados será feita de forma a não identificar os
participantes e o responsável.
Você ficará com uma via original deste TCLE e toda a dúvida que você tiver a
respeito desta pesquisa, poderá perguntar diretamente para a pesquisadora no endereço R.
Luiz Pereira, 476, Centro, CEP 58940-000, São José de Piranhas/PB, tel. (83) 99420-3524,
endereço eletrônico: nathaliafeitosasjp@gmail.com.
Se para o participante houver gasto de qualquer natureza, em virtude da sua
participação nesse estudo, é garantido o direito a indenização (Res. 466/12 II.7) – cobertura
material para reparar dano – e/ou ressarcimento (Res. 466/12 II.21) – compensação material,
exclusivamente de despesas do participante e seus acompanhantes, quando necessário, tais
como transporte e alimentação sob a responsabilidade da pesquisadora.
Não será efetuada nenhuma forma de gratificação por sua participação. Os dados
coletados farão parte do nosso trabalho, podendo ser divulgados em eventos científicos e
publicados em revistas nacionais ou internacionais. O pesquisador estará à disposição para
qualquer esclarecimento durante todo o processo de desenvolvimento deste estudo. Após
todas essas informações, agradeço antecipadamente sua atenção e colaboração.
Consentimento Livre
Concordo em participar desta pesquisa “A POESIA POPULAR COMO PATRIMÔNIO
CULTURAL E RECURSO PEDAGÓGICO DE INCENTIVO À LEITURA EM
ESCOLA PÚBLICA NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE PIRANHAS – PB”.
Declarando, para os devidos fins, que fui devidamente esclarecido quanto aos objetivos da pesquisa,
aos procedimentos aos quais serei submetido (a) e dos possíveis riscos que possam advir de tal
participação. Foram garantidos a mim esclarecimentos que venham a solicitar durante a pesquisa e o
direito de desistir da participação em qualquer momento, sem que minha desistência implique em
qualquer prejuízo a minha pessoa ou a minha família. Autorizo assim, a publicação dos dados da
pesquisa, a qual me garante o anonimato e o sigilo dos dados referentes à minha identificação.
__________________________________________.
Nathalia Maria de Sousa Feitosa - Pesquisadora
___________________________________________
Participante
111
APÊNDICE C
Esclarecimentos
Este é um convite para você participar do projeto de dissertação provisoriamente
intitulado “A POESIA POPULAR COMO PATRIMÔNIO CULTURAL E RECURSO
PEDAGÓGICO DE INCENTIVO À LEITURA EM ESCOLA PÚBLICA NO
MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE PIRANHAS – PB”, orientado pela Profa. Dra. Diana
Maria Leite Lopes Saldanha.
Sua participação é voluntária, o que significa que você poderá desistir a qualquer
momento, retirando seu consentimento sem que isso lhe traga nenhum prejuízo ou penalidade.
Caso decida aceitar o convite, seu/ sua filho (a) será submetido (a) ao seguinte
procedimento: intervenção pedagógica em sala de aula, cuja responsabilidade de aplicação é
da mestranda Nathalia Maria de Sousa Feitosa, aluna do Programa de Pós Graduação em
Ensino (PPGE), vinculado ao Departamento de Educação do Campus Avançado de Pau dos
Ferros, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), seguindo as
recomendações das resoluções 466/12 e 510/16 do Conselho Nacional de Saúde e suas
complementares.
As informações coletadas serão organizadas em banco de dados em programa e
exploradas a partir da análise de conteúdo, tendo como técnica a análise temática.
Essa pesquisa tem como objetivo geral: “analisar a poesia popular como patrimônio
cultural e recurso pedagógico de incentivo à leitura em escola pública no município de São
José de Piranhas/PB”. E como objetivos específicos: “1) identificar algumas perspectivas
teóricas que fundamentam a literatura popular; 2) conhecer a arte de improvisar poesia
popular sob a ótica de poetas repentistas de São José de Piranhas/PB; 3) investigar a
relevância da poesia popular na escola como recurso pedagógico de incentivo à leitura”.
O benefício desta pesquisa é a possibilidade promover a valorização da poesia popular
como patrimônio cultural do município de São José de Piranhas-PB e como recurso
pedagógico de incentivo à leitura e ainda de contribuir para as pesquisas e estudos na área da
educação e do ensino.
Os riscos mínimos que o participante da pesquisa estará exposto são de
constrangimento e/ou mudança de comportamento em virtude dos questionamentos feitos na
presença da pesquisadora. Esses riscos serão minimizados mediante: Garantia do
anonimato/privacidade do participante na pesquisa, onde não será preciso colocar o nome do
mesmo; Para manter o sigilo e o respeito ao participante da pesquisa, apenas a pesquisadora
aplicará o questionário e desenvolverá a intervenção pedagógica, sendo que somente a
discente e a pesquisadora responsável poderão manusear e guardar os dados coletados; Sigilo
das informações por ocasião da publicação dos resultados, visto que não será divulgado dado
que identifique o participante; Garantia que o participante se sinta a vontade para responder
aos questionários e Anuência das Instituições de ensino para a realização da pesquisa.
112
Consentimento Livre
__________________________________________
Nathalia Maria de Sousa Feitosa - Pesquisadora
___________________________________________
Participante
113
Nathalia Maria de Sousa Feitosa - Aluna do Curso de Pós Graduação em Ensino, da Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, Campus Avançado de Pau dos Ferros, no endereço BR
405, KM 3, Arizona 59900-000 – Pau dos Ferros-RN. Tel. (84) 3351-2560, email: pferros@uern.br
Profa. Dra. Diana Maria Leite Lopes Saldanha (Orientadora da Pesquisa) - Curso de Pós
Graduação em Ensino, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, Campus
Avançado de Pau dos Ferros, no endereço BR 405, KM 3, Arizona 59900-000 – Pau dos
Ferros-RN. Tel. (84) 3351-2560, email: pferros@uern.br
APÊNDICE D
114
Governo do Estado do Rio Grande do Norte
Secretaria de Estado da Educação e da Cultura - SEEC
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – UERN
Campus Avançado de Pau dos Ferros - CAPF
Curso de Pós Graduação em Ensino - PPGE
___________________________________________
Assinatura do Aluno
Nathalia Maria de Sousa Feitosa - Aluna do Curso de Pós Graduação em Ensino, da Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, Campus Avançado de Pau dos Ferros, no endereço BR
405, KM 3, Arizona 59900-000 – Pau dos Ferros-RN. Tel. (84) 3351-2560, email: pferros@uern.br
Profa. Dra. Diana Maria Leite Lopes Saldanha (Orientadora da Pesquisa) - Curso de Pós
Graduação em Ensino, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, Campus
Avançado de Pau dos Ferros, no endereço BR 405, KM 3, Arizona 59900-000 – Pau dos
Ferros-RN. Tel. (84) 3351-2560, email: pferros@uern.br
116
APÊNDICE E
Eu ____________________________________________________________,
depois de conhecer e entender os objetivos, procedimentos metodológicos, riscos e benefícios
da pesquisa, bem como de estar ciente da necessidade da gravação de áudio produzido por
mim, especificados no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), AUTORIZO,
através do presente termo, as pesquisadoras Nathalia Maria de Sousa Feitosa e Diana Maria
Leite Lopes Saldanha, responsáveis pelo projeto de pesquisa intitulado “A POESIA
POPULAR COMO PATRIMÔNIO CULTURAL E RECURSO PEDAGÓGICO DE
INCENTIVO À LEITURA EM ESCOLA PÚBLICA NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ
DE PIRANHAS – PB”, a realizar captação de áudios que se façam necessários sem
quaisquer ônus financeiros a nenhuma das partes.
Ao mesmo tempo, libero a utilização destes áudios (suas respectivas cópias) para fins
científicos e de estudos (livros, artigos, monografias, TCC‟s, dissertações ou teses, além de
slides e transparências), em favor dos pesquisadores da pesquisa, acima especificados,
obedecendo ao que está previsto nas Leis que resguardam os direitos das crianças e
adolescentes (ECA, Lei N.º 8.069/ 1990), dos idosos (Lei N.° 10.741/2003) e das pessoas com
deficiência (Decreto Nº 3.298/1999, alterado pelo Decreto Nº 5.296/2004).
_________________________________________________
Participante da pesquisa
_________________________________________________ IMPRESSÃ
O DATILOSCÓPICA
Pesquisadora responsável
117
APÊNDICE F
Eu ____________________________________________________________,
depois de conhecer e entender os objetivos, procedimentos metodológicos, riscos e benefícios
da pesquisa, bem como de estar ciente da necessidade do uso de minha imagem, especificados
no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), AUTORIZO, através do presente
termo, as pesquisadoras Nathalia Maria de Sousa Feitosa e Diana Maria Leite Lopes
Saldanha, responsáveis pelo projeto de pesquisa intitulado “A POESIA POPULAR COMO
PATRIMÔNIO CULTURAL E RECURSO PEDAGÓGICO DE INCENTIVO À
LEITURA EM ESCOLA PÚBLICA NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE PIRANHAS –
PB”, a realizar captação de áudios que se façam necessários sem quaisquer ônus financeiros a
nenhuma das partes.
Ao mesmo tempo, libero a utilização destas imagens (suas respectivas cópias) para
fins científicos e de estudos (livros, artigos, monografias, TCC‟s, dissertações ou teses, além
de slides e transparências), em favor dos pesquisadores da pesquisa, acima especificados,
obedecendo ao que está previsto nas Leis que resguardam os direitos das crianças e
adolescentes (ECA, Lei N.º 8.069/ 1990), dos idosos (Lei N.° 10.741/2003) e das pessoas com
deficiência (Decreto Nº 3.298/1999, alterado pelo Decreto Nº 5.296/2004).
_________________________________________________
Participante da pesquisa
_________________________________________________ IMPRESSÃ
O DATILOSCÓPICA
APÊNDICE G 118
Pesquisadora responsável
Dados pessoais:
Nome completo: _________________________________________________________
Pseudônimo: ____________________________________________________________
Filiação:________________________________________________________________
Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino Idade: _______________
Você se considera: ( ) branco ( ) pardo ( ) negro ( ) indígena
Mora: ( ) no sítio ( ) na cidade
Escolaridade: ____________________________________________________________
QUESTÕES
1- Fale um pouco sobre sua história: onde nasceu? Como foi sua infância?
2- Você frequentou a escola? Sabe ler e/ou escrever? Qual grau de escolaridade?
3- Como despertou para a habilidade com a poesia de improviso? Alguém o ensinou?
Como aprendeu?
4- Em sua família mais alguém teve ou tem envolvimento com a poesia improvisada?
5- Já foi convidado para participar de alguma pesquisa científica a respeito da poesia de
improviso?
6- Já foi convidado para declamar poesia em algum evento? Em caso, afirmativo, fale um
pouco de como foi/foram a/as experiência/s.
7- Já foi convidado para declamar poesia em escolas? Se sim, como foi a experiência?
8- Chegou a publicar alguma obra (livro, CD‟s...)?
9- O que é a poesia para o senhor? Qual o sentido que ela tem para sua vida?
10- Considera a poesia uma arte? Por quê?
11- Qual a finalidade da sua poesia? faz por trabalho ou por prazer?
12- Considera que a sua poesia é importante na história e cultura do município de São José
de Piranhas/PB?
119
13- Considera que a poesia improvisada é valorizada nos dias de hoje? As pessoas
demonstram interesse em ouvi-lo?
14- O que acha da relação das novas gerações com a poesia de repente? Demonstram
interesse?
15- Acha que a poesia de repente pode acabar? Em sua opinião, é possível fazer alguma
coisa para não ficar esquecida no tempo?
APÊNDICE H
120
Dados pessoais:
Nome completo: _________________________________________________________
Pseudônimo:____________________________________________________________
Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino Data de nascimento: _____/_____/______
Formação inicial: ______________________________________________
Pós-graduação lato-sensu: _______________________________________
Pós-graduação stricto-sensu:_____________________________________
QUESTÕES
APÊNDICE I
QUESTIONÁRIO DIAGNÓSTICO
Dados pessoais:
Nome completo: _________________________________________________
Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino Idade: _______________
Você se considera: ( ) branco ( ) pardo ( ) negro ( ) indígena
Mora: ( ) no sítio ( ) na cidade
ANEXOS
124