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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (UERN)

CAMPUS AVANÇADO DE PAU DOS FERROS (CAPF)


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO (PPGE)
CURSO DE MESTRADO ACADÊMICO EM ENSINO (CMAE)
INSTITUIÇÕES PARCEIRAS:
Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA)
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN)

NATHALIA MARIA DE SOUSA FEITOSA

A POESIA POPULAR COMO PATRIMÔNIO CULTURAL E RECURSO


PEDAGÓGICO DE INCENTIVO À LEITURA EM ESCOLA PÚBLICA NO
MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE PIRANHAS – PB

PAU DOS FERROS - RN


2022
NATHALIA MARIA DE SOUSA FEITOSA

A POESIA POPULAR COMO PATRIMÔNIO CULTURAL E RECURSO


PEDAGÓGICO DE INCENTIVO À LEITURA EM ESCOLA PÚBLICA NO
MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE PIRANHAS – PB

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ensino


(PPGE), da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), do
Campus Avançado de Pau dos Ferros (CAPF), ofertado em parceria com a
Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA) e Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), como
requisito para obtenção do título de Mestre em Ensino, área de
concentração: Educação Básica, linha de pesquisa: Ensino de Línguas.

Orientadora: Profa. Dra. Diana Maria Leite Lopes Saldanha.

PAU DOS FERROS – RN


2022
© Todos os direitos estão reservados a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. O conteúdo desta obra é de
inteira responsabilidade do(a) autor(a), sendo o mesmo, passível de sanções administrativas ou penais, caso sejam
infringidas as leis que regulamentam a Propriedade Intelectual, respectivamente, Patentes: Lei n° 9.279/1996 e Direitos
Autorais: Lei n° 9.610/1998. A mesma poderá servir de base literária para novas pesquisas, desde que a obra e seu(a)
respectivo(a) autor(a) sejam devidamente citados e mencionados os seus créditos bibliográficos.

Catalogação da Publicação na Fonte.


Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

F311p Feitosa, Nathalia Maria de Sousa


A poesia popular como patrimônio cultural e recurso
pedagógico de incentivo à leitura em escola pública no
município de São José de Piranhas-PB. / Nathalia Maria
de Sousa Feitosa. - Pau dos Ferros-RN, 2022.
137p.

Orientador(a): Profa. Dra. Diana Maria Leite Lopes


Saldanha.
Dissertação (Mestrado em Programa de Pós-
Graduação em Ensino). Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte.

1. Literatura popular. 2. Poesia popular. 3. Formação


de leitores. I. Saldanha, Diana Maria Leite Lopes. II.
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. III.
Título.

O serviço de Geração Automática de Ficha Catalográfica para Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC´s) foi desenvolvido
pela Diretoria de Informatização (DINF), sob orientação dos bibliotecários do SIB-UERN, para ser adaptado às
necessidades da comunidade acadêmica UERN.
A dissertação “A poesia popular como patrimônio cultural e recurso
pedagógico de incentivo à leitura em escola pública no município de
São José de Piranhas – PB”, de autoria de Nathalia Maria de Sousa
Feitosa, foi submetida à Banca Examinadora, constituída pelo
PPGE/UERN, como requisito parcial necessário à obtenção do grau de
Mestre em Ensino, outorgado pela Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte – UERN.

Dissertação defendida e aprovada em 26 de abril de 2022.

BANCA EXAMINADORA

Profa. Dra. Diana Maria Leite Lopes Saldanha


(Presidente/Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN)

Profa. Dra. Raimunda de Fátima Neves Coêlho


(1º Examinador/Universidade Federal de Campina Grande – UFCG)

Profa. Dra. Keutre Gláudia Soares Bezerra


(2º Examinador/ Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN)

Profa. Dra. Aparecida Carneiro Pires


(Suplente externa/ Universidade Federal de Campina Grande – UFCG)

Profa. Dra. Maria Lúcia Pessoa Sampaio


(Suplente interna/ Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN)

PAU DOS FERROS - RN


2022
Dedico este trabalho, fruto de um percurso repleto de
percalços, às mulheres que me ensinaram a perseverar na
fé e oração em busca dos meus objetivos: Maria e Josefa
(in memoriam).
AGRADECIMENTOS

Ao Senhor Deus Todo Poderoso, por realizar em mim maravilhas e por tão grande
generosidade em conceder-me a graça de realizar mais um sonho: a conclusão deste
mestrado.
Ao meu pai, Pedro, pelo amor, cuidado e todo esforço empreendido para me
oferecer uma educação repleta de valores e princípios morais e cristãos; e à minha mãe,
Maria (in memorian), por ser minha eterna intercessora no céu. Sua lembrança é consolo e
afago nos momentos de tribulação.
Ao meu esposo, João Paulo, por ser companheiro, apoio, segurança e refúgio diário
nesta longa caminhada da vida. Gratidão por todas as leituras cautelosas desta produção e
por todos os afazeres domésticos que assumira sozinho ao longo desses dois anos. Esse título
é nosso!
À minha eterna e amada sogra-mãe, Dona Zefinha (in memorian), pelo cuidado e
zelo para comigo ao longo desta jornada, por sempre me impulsionar a alcançar meus
objetivos, pelas vezes que esteve com sua “velinha” acesa e de joelhos a interceder por mim.
Agora, sem dúvidas, permaneces a fazer o mesmo na glória eterna.
Ao meu pai espiritual, José da Cruz (in memorian), por ter sido esse pai-amigo
presente em todos os momentos da minha vida. Por ter me ensinado que não há vitória sem
cruz, que não se alcança objetivos sem renúncias, por sempre orar pela minha família e pelos
meus sonhos, por acreditar que eu conseguiria a aprovação para este mestrado.
Aos meus amigos e amigas de mestrado (turma 2020), por serem sustento e apoio
durante todo o curso, por estarem presentes por meio de mensagens e orações em momentos
difíceis da minha vida ao longo desses dois anos. Em especial, à Aparecida Suiane, por ter
caminhado lado a lado comigo nesta trajetória acadêmica e me possibilitado, por inúmeras
vezes, compartilhar risos, sofrimentos e lutas; e à Géssica Galdino, pelo companheirismo e
amizade de longas datas, por dividir comigo as conquistas e contratempos da vida.
Às professoras e professores do PPGE, pelo acolhimento, compreensão e paciência.
Infinita gratidão pelo compromisso e responsabilidade com a nossa formação.
Ao BALE, em nome das professoras Lúcia Sampaio e Keutre Gláudia, por me
conceder a oportunidade de descobrir-me como contadora de histórias. O BALE despertou o
melhor de mim, fez nascer o desejo de transformar o mundo por meio da literatura.
Às professoras Raimunda Neves e Aparecida Carneiro, por acompanharem a minha
trajetória acadêmica desde a licenciatura em Pedagogia na Universidade Federal de Campina
Grande (UFCG), por terem sempre me incentivado a perseverar e a alçar novos voos.
Por fim, à minha querida e estimada orientadora, Diana Saldanha, por ter acreditado
em minhas potencialidades, por ter me ensinado a amar a literatura como instrumento de
prazer, pelo acolhimento como filha acadêmica, por ser esta professora humana e humilde.
Louvo a Deus por ter me concedido a oportunidade de trocar experiências e compartilhar as
adversidades da vida com uma mulher tão forte e destemida.
Nos versos rudimentares
Poeta humilde não falha
É semelhante à abelha
Que lá na selva trabalha
Faz mel e dá o ponto
Sem ter tacho e fornalha.
(Tico Amaro)
RESUMO

A literatura popular é uma criação artística, histórica e cultural de um povo. Partindo desse
pressuposto, a presente dissertação aborda a poesia de repente como um gênero textual desse universo,
objetivando analisá-la como patrimônio cultural e recurso pedagógico de incentivo à leitura em escola
pública no município de São José de Piranhas – PB. Delineamos, para tanto, o estudo como uma
pesquisa de campo e pesquisa-ação de abordagem qualitativa, seguida de intervenção pedagógica em
duas turmas do 5º ano dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental de uma escola pública do referido
município. À construção de dados empíricos foi aplicada entrevista semiestruturada a dois poetas
repentistas locais e duas professoras de turmas de 5º ano dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental
(público escolhido para o desenvolvimento da pesquisa). Enquanto que, para análise dos dados, foi
definido como instrumento metodológico a análise de conteúdo de Bardin (1977), pela técnica de
análise categorial. Os enunciados dos sujeitos participantes ressaltaram a relevância de se reconhecer a
poesia popular como patrimônio cultural do município e destacaram que a inserção da poesia na escola
é profícua forma de valorização da literatura popular. Ao passo que os resultados alcançados a partir
da intervenção pedagógica apontaram que as experiências de leitura com a poesia popular em sala de
aula podem fomentar o gosto e a prática da leitura. Concluímos que trazer a poesia popular para a sala
de aula constitui forma de valorizá-la enquanto patrimônio cultural e, ao mesmo tempo, de utilizá-la
como proficiente recurso de incentivo e formação leitora.

Palavras-chave: literatura popular; poesia popular; formação de leitores.


ABSTRACT

Popular literature is an artistic, historical and cultural creation of a people. From this assumption, this
thesis approaches a type of poetry called repente as a genre from its universe, and aims to analyze it as
cultural heritage and a pedagogical resource to promote reading practices in public schools in São José
de Piranhas, Paraíba. Therefore, we outlined this study as a field research and action research with a
qualitative approach, followed by a pedagogic intervention in two different classes of the fifth grade
(5º ano) in a Elementary Public School of the said town. To the construction of empirical data, we
applied semi-structured interviews to two local repente poets and two teachers of the fifth grade (5º
ano - audience chosen for the research development). Regarding the data analysis, as the
methodological instrument we used the content analysis of Bardin (1977), by categorical analysis
technique. The participants‟ statements showed the relevance of recognizing popular poetry as a local
cultural heritage, and also emphasized that its insertion in school is an advantageous way of
appreciating popular literature. Moreover, the results achieved through the pedagogic intervention
showed that the classroom reading practices with popular poetry can promote the liking and habit of
reading. Finally, we concluded that bringing popular poetry to the classroom is a way of valuing it as
cultural heritage and utilizing it as an effective resource to promote reading.

Keywords: popular literature; popular poetry; readers training.


LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Dissertações encontradas no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES........25


Quadro 2 – Teses encontradas no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES....................28
Quadro 3 – Dissertações encontradas no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES sobre
repente.......................................................................................................................................30
Quadro 4 – Dissertação encontrada no Banco de Dados do PPGE/CAPF/UERN..................31
Quadro 5 – Formação das professoras colaboradoras.............................................................34
Quadro 6 – Categorias de análise............................................................................................40
Quadro 7 – Versificação poética (classificação).....................................................................58
Quadro 8 – Classificação por estrofes.....................................................................................58
Quadro 9 – Indagações realizadas aos poetas pelas crianças...................................................89
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Faixa etária dos estudantes.................................................................................35


Gráfico 2 – Você gosta de ler?...............................................................................................36
Gráfico 3 – O que você costuma ler na escola?.....................................................................36
Gráfico 4 – Você costuma ler em casa?.................................................................................37
Gráfico 5 – O que você costuma ler em casa?.......................................................................37
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AC Análise de Conteúdo
BALE Biblioteca Ambulante e Literatura nas Escolas
BNCC Base Nacional Comum Curricular
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CAPF Campus Avançado de Pau dos Ferros
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
PPGE Programa de Pós-Graduação em Ensino
PUC-RIO Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
TEA Transtorno do Espectro Autista
UC Unidades de Contexto
UEFS Universidade Estadual de Feira de Santana
UEPB Universidade Estadual da Paraíba
UERN Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
UESPI Universidade Estadual do Piauí
UFAL Universidade Federal de Alagoas
UFBA Universidade Federal da Bahia
UFC Universidade Federal do Ceará
UFCG Universidade Federal de Campina Grande
UFJF Universidade Federal de Juiz de Fora
UFPB Universidade Federal da Paraíba
UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UFSE Universidade Federal de Sergipe
UFSM Universidade Federal de Santa Maria
UFU Universidade Federal de Uberlândia
UnB Universidade de Brasília
UNICAMP Universidade Estadual de Campinas
UNICAP Universidade Católica de Pernambuco
UNIFOR Universidade de Fortaleza
UNIGRANRIO Universidade do Grande Rio
UNIRIO Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
UR Unidades de Registro
USP Universidade de São Paulo
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 14
2 TRAÇANDO O CAMINHO METODOLÓGICO ........................................................... 19
2.1 Traçando a base epistemológica e a abordagem da pesquisa ....................................... 19
2.2 Pesquisa de campo e pesquisa-ação ................................................................................ 22
2.3 Lócus da pesquisa ............................................................................................................. 31
2.4 Sujeitos participantes ....................................................................................................... 33
2.4.1 Sobre os poetas ................................................................................................................ 33
2.4.2 Sobre as professoras ........................................................................................................ 34
2.4.3 Sobre os estudantes.......................................................................................................... 35
2.5 Instrumentos de pesquisa ................................................................................................. 38
2.6 Análise dos dados .............................................................................................................. 39
2.7 Etapas da intervenção pedagógica .................................................................................. 40
3 PERCORRENDO AS VEREDAS DA LITERATURA: A POESIA NASCE NO SEIO
POPULAR ............................................................................................................................... 46
3.1 Poema x poesia: discrepâncias e convergências conceituais ......................................... 51
3.1.1 A linguagem poética e sua composição estrutural ........................................................... 54
3.2 Poesia popular no Brasil .................................................................................................. 60
4 A POESIA POPULAR NA ESCOLA E A FORMAÇÃO DE LEITORES ................... 65
4.1 A formação de leitores ...................................................................................................... 65
4.2 O lugar da poesia popular na escola ............................................................................... 68
5 A POESIA POPULAR DE REPENTE: PATRIMÔNIO CULTURAL E RECURSO
PEDAGÓGICO DE INCENTIVOÀ LEITURA .................................................................. 75
5.1 A poesia popular pela ótica dos poetas: sensibilidade, memória e tradição ............... 75
5.2 Incentivo e reconhecimento: a poesia popular como patrimônio cultural .................. 78
5.3 Poesia popular na escola: o professor leitor, a formação de leitores e o incentivo à
cultura ...................................................................................................................................... 82
5.4 A poesia popular como identidade cultural e recurso de incentivo à leitura .............. 85
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 94
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 97
APÊNDICES ......................................................................................................................... 107
ANEXOS................................................................................................................................ 123
14

1 INTRODUÇÃO

A literatura popular é uma manifestação artística marcada pela oralidade, pelas


memórias e pela tradição como representação cultural e social de um povo, uma nação ou
uma comunidade. Por se tratar de criação nascida no seio popular, por muito tempo não foi
inserida no currículo formal, tendo em vista que o espaço escolar tem sido utilizado para a
reprodução de valores e ideologias da classe dominante, da cultura erudita. No período
colonial, a literatura contemplada como erudita e oficial nos espaços formativos educacionais
advinha da soberania portuguesa no Brasil. Assim, tudo girava em torno da classe detentora
do poder, quer fosse no período medieval, com a Igreja e os senhores feudais, ou na Idade
Moderna, com a ascensão da burguesia e expansão do capitalismo (RIBEIRO, 1986).
Entendemos que a literatura popular é a arte que traduz, espelha e reproduz em contos,
lendas e fábulas os valores culturais dos nossos antepassados, seja na modalidade oral ou
mesmo na escrita. Nessa perspectiva, trazemos a poesia popular como expressão artístico-
literária que supera as questões estéticas do poema, exprimindo tanto a ludicidade por meio do
jogo de palavras, como também apresentando questões políticas, sociais e culturais de um
determinado espaço-tempo.
Assim, a poesia popular exprime uma prática cultural característica do povo
nordestino, que traz enraizada memórias e tradições coletivas que podem ser apresentadas em
forma de cordel, repente, parlendas, romances, lendas, entre outras demonstrações literárias.
Adentrando ao campo escolar, temos a literatura popular presente nos espaços
escolares a partir dos contos de fadas adaptados, contados e recontados para crianças no
processo inicial de escolarização. Temos também a poesia popular presente na sala de aula
por meio das cantigas folclóricas e parlendas, que compõem não só as brincadeiras escolares,
mas também são contempladas pelo currículo formal.
Diante do exposto, consideramos que o contato com a poesia popular acontece
costumeiramente fora dos espaços escolares, em eventualidades que marcam a nossa história
enquanto seres humanos. A presente pesquisa nasce, pois, da nossa admiração pelo texto
poético, especificamente pela arte da poesia improvisada, e apesar de não dispor de tal
habilidade esse apreço surgiu desde a infância.
Quando criança, sempre que frequentávamos a budega1, o dono do estabelecimento

1
Um pequeno estabelecimento comercial que vendia produtos alimentícios e bebidas alcoólicas.
Geralmente, as budegas eram encontradas nas comunidades rurais ou em bairros afastados do centro
da cidade.
15

costumava declamar seus repentes para minha avó e eu. Para cada dia havia um mote
diferente: a avó que cuidava da sua netinha, a moça que cantava na igreja, a menina que
apresentava o programa na rádio da Igreja Católica (isso porque, quando criança, participava
de algumas atividades pastorais na Paróquia), aquela que era a escolhida para ser nora sua,
enfim, toda e qualquer visita reservava uma surpresa por parte do repentista dono do singelo
estabelecimento comercial.
Ainda quando criança, costumávamos (minhas irmãs e eu) ficar no comércio de nosso
pai quando não estávamos na escola. Lá fazíamos as tarefas escolares, estudávamos para as
provas e o ajudávamos passando trocos e entregando os produtos aos clientes. De vez em
quando aparecia também outro poeta, que muito orgulhosamente se intitulava menestrel. Não
recordamos seu nome, mas ficávamos estupefatas com a forma como ele brincava com as
palavras para debochar de nosso pai, para tratar de um assunto sério, ou mesmo para tecer
elogios a nós.
Ao ingressarmos em trabalhos pastorais da Igreja Católica local, passamos a conhecer
o tradicional Festival de Viola das festividades do Padroeiro São José. Reuniam-se,
anualmente, violeiros da região para participação em duelos. Eles se apresentavam em duplas
sob o comando de Chico Xavier (radialista e violeiro muito conhecido na região) e a todos
encantavam.
O festival era o dia mais esperado da quermesse, atraía grande número de pessoas
vindas da zona rural e mesmo de cidades circunvizinhas. Todos riam e se deleitavam com a
reunião de tantos poetas juntos produzindo arte, fazendo cantoria, declamando a vida e cultura
do nosso povo. Infelizmente, após longa tradição, devido à situação pandêmica provocada
pelo novo Coronavírus, entre 2019-2022, o popular Festival de Viola foi suspenso.
Conhecemos, com o tempo, outros nomes de destaque na arte do improviso. João
Beco, senhor bastante animado, que costumeiramente declamava seus versos em público, em
missas, procissões, cavalgadas e outros eventos. E também outro senhor, Tico Amaro, muito
sábio e ao mesmo tempo divertido, também conhecido pela publicação de dois livros que
compilam seus repentes.
No município lócus da pesquisa há outras pessoas que apreciam e possuem a
habilidade da declamação, quer seja em celebrações religiosas nos sítios, nas vaquejadas, nas
cavalgadas, ou mesmo em eventos familiares, o que claramente denota a peculiaridade da
poesia popular atrelada aos valores culturais e religiosos da cidade e região.
No tocante à nossa relação profissional com o texto literário, o gosto e apreciação pela
literatura, mais especificamente pela poesia, foi intensificado com o ingresso no Programa
16

Biblioteca Ambulante e Literatura nas Escolas – BALE2, através do qual percebemos o


quanto a poesia popular encanta as pessoas em espaços educacionais como a escola, a
exemplo dos cordéis da professora doutora Maria Eridan da Silva Santos, colaboradora do
Programa BALE.
Ainda, no primeiro semestre de 2021 acompanhamos os alunos da disciplina
“Literatura e Infância”, no curso de Pedagogia (CAPF/UERN), e chamou-nos também a
atenção a simpatia dos estudantes pela poesia. Tais observações nos levaram a indagações
sobre a utilização da poesia popular, fruto da memória e tradição sertaneja, no ambiente
escolar como ferramenta pedagógica.
Nesse contexto, para esta pesquisa, delineamos como questão norteadora: como
podemos trabalhar a poesia popular enquanto patrimônio cultural e recurso pedagógico de
incentivo à leitura nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental?
Considerando que, no curso da história, a valorização e reconhecimento cultural eram
normatizados de acordo com os padrões da classe prevalecente, percebemos o impasse entre
literatura erudito-clássica e literatura popular, levando em conta que esta por muito tempo
foi descaracterizada como instrumento literário e cultural, por se tratar de um produto social
advindo das camadas populares, de moradores de comunidades rurais, de trabalhadores do
campo, apresentando assim características próprias, opostas ao que a cultura letrada e
dominante tem pregado (CHARTIER, 2003).
Diante do exposto, consideramos que a poesia popular, como gênero característico do
povo nordestino, mais especificamente do campo, geralmente produzido por pessoas não
letradas ou de nível de escolarização baixo, não tem alcançado o espaço da sala de aula. Se
olharmos para os livros didáticos, via de regra, esses se restringem a conceituar poema e
poesia e ao trabalho com a análise e classificação estrutural do poema. Não bastasse,
geralmente trazem tão somente os chamados clássicos da literatura brasileira, como Manuel
Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles,
Vinícius de Moraes, Mário Quintana, entre outros.
Por isso, este estudo tem como objetivo geral analisar a poesia popular como
patrimônio cultural e recurso pedagógico de incentivo à leitura em uma escola pública no
município de São José de Piranhas – PB, promovendo a valorização da poesia popular como
patrimônio cultural local e como forma de incentivo pedagógico na escola, levando em conta

2
Programa de extensão que objetiva o acesso ao texto literário e o despertar do gosto pela leitura em
espaços escolares e não escolares dos municípios de Pau dos Ferros, Frutuoso Gomes, Portalegre, São
Miguel e Francisco Dantas, todos do estado do Rio Grande do Norte.
17

que o ambiente escolar é o lugar de interação cultural e social da comunidade. Nessa


perspectiva, entendemos que o processo de ensino precisa também estar direcionado ao
reconhecimento, valorização da cultura e crença da comunidade escolar, ao respeito à
liberdade de pensar, opinar, aprender, buscando uma ressignificação do que é aprendizado
formal a partir de uma relação entre a educação escolar e as práticas sociais dos sujeitos
(BRASIL, 1996).
Para tanto, visando alcançar a finalidade desta pesquisa, elencamos como objetivos
específicos: identificar perspectivas teóricas que fundamentam a poesia popular como
gênero literário e patrimônio cultural, conhecer a arte de improvisar poesia popular sob a
ótica dos poetas repentistas de São José de Piranhas-PB e investigar sobre a relevância da
poesia popular na escola como recurso pedagógico de incentivo à leitura.
Desse modo, enaltecemos a questão cultural como um fator preponderante para
(re)conhecer a identidade de um povo, considerando suas marcas sociais, culturais e políticas
reproduzidas pelos antepassados e que se perpetuam de geração em geração.
Particularmente, nesta pesquisa apresentamos a poesia popular na modalidade repente como
uma prática cultural e social comum entre pessoas que residem e/ou cresceram no campo do
município lócus da pesquisa, podendo, ademais, ser utilizada no ambiente escolar como
proveitoso instrumento pedagógico de incentivo à leitura literária.
Compreendemos, ademais, que este estudo é de relevância ímpar no tocante às
contribuições acadêmicas, pois, apesar da temática da literatura popular ser discutida em
várias perspectivas, a mediação da literatura popular, mais especificamente a poesia popular,
não é um recurso tão valorizado como instrumento de formação leitora. Por isso, também
proporcionamos aqui uma reflexão das práticas pedagógicas no ambiente escolar.
Entendemos a poesia popular na modalidade repente como um possível instrumento
pedagógico e de valorização cultural, porquanto estamos cientes da sua relevância enquanto
literatura popular oral, manifestação histórica e cultural que faz parte da história do povo
nordestino. Assim, além de apresentar como proposta a inclusão da poesia improvisada em
atividades pedagógicas voltadas ao desenvolvimento da leitura, propomos também a sua
valorização como patrimônio histórico e cultural local a ser preservado e perpetuado às
gerações vindouras.
Para além de tais considerações, esta dissertação está estruturada em 5 (cinco)
capítulos, acrescidos das considerações finais, favorecendo ao leitor uma compreensão de
todo o processo percorrido ao desenvolvimento da pesquisa.
Na introdução, apresentamos a justificativa do estudo, a motivação, a questão de
18

pesquisa que norteou nosso trabalho, os objetivos e sua relevância. No segundo capítulo,
apresentamos a metodologia, delineadora de todo percurso de investigação científica
trilhado. Sistematizamos nele o tipo de pesquisa e sua abordagem, as técnicas de construção
e análise dos dados, os instrumentos utilizados e justificativas das escolhas metodológicas.
No terceiro capítulo, voltamos o olhar para a história da literatura popular e para a
relevância da poesia à memória e cultura de uma sociedade. Apresentamos também as
discrepâncias e convergências conceituais entre poema e poesia e as suas características
estruturais.
No quarto capítulo, discutimos sobre a poesia popular na escola pública como um
componente necessário ao currículo escolar, e não só porque a Base Nacional Comum
Curricular normatiza sua inserção como gênero textual na Educação Básica, mas, sobretudo,
pela relevância histórico-cultural para a sociedade como instrumento mobilizador e de
incentivo à formação de novos leitores. Não queremos aqui reduzir o incentivo e o gosto
pela leitura ao trabalho com poesia, mas consideramos que a poética popular pode, sim, ser
um estratégico meio de promoção à leitura literária na escola.
No quinto capítulo, apresentamos as vozes dos nossos colaboradores e os resultados
do nosso trabalho de intervenção pedagógica nas turmas de 5º ano de uma escola pública do
município de São José de Piranhas-PB. Enquanto que, nas considerações finais, após
síntese da pesquisa, tencionamos promover pertinentes reflexões acerca dos resultados
obtidos.
19

2 TRAÇANDO O CAMINHO METODOLÓGICO

Inicialmente, entendemos que a pesquisa científica está envolta em uma complexidade


singular, porque compreende uma atividade de análise e investigação da realidade com vistas
à produção de conhecimento, que consiste no fazer ciência. Para que esse conhecimento seja
produzido se faz necessário traçar um caminho estabelecendo os objetivos que se quer
alcançar, quais métodos e recursos serão imprescindíveis à finalidade proposta.
Tratando-se de pesquisa científica, esta pode ser definida como o procedimento
racional que tem como finalidade responder a questões científicas que são propostas pelo
pesquisador, seja por uma dúvida ou curiosidade, seja pela consideração de respostas
insuficientes para um determinado fator (GIL, 2008).
Assim, o conceito de metodologia é mais abrangente que apenas um conjunto de
procedimentos e técnicas utilizado para investigar ou analisar um fenômeno da realidade.
Segundo Gonsalves (2001, p. 61), “a questão metodológica [...] indica um processo de
construção, um movimento que o pensamento humano realiza para compreender a realidade
social”. Desse modo, entendemos o método científico como um processo que precisa estar
amparado em uma epistemologia científica que respalde os caminhos a serem trilhados na
busca de atender aos objetivos propostos.
Diante do exposto, apresentamos a seguir o percurso metodológico que guiou as
etapas de organização da nossa pesquisa. A princípio, apresentamos o plano de investigação,
através do qual contextualizamos a epistemologia que buscamos para embasar esta pesquisa, a
abordagem que utilizamos, o tipo de pesquisa, o público participante, os critérios de inclusão
utilizados, bem como as estratégias para a construção dos dados.
Em seguida, apresentamos brevemente o cenário da investigação com a caracterização
do município lócus da pesquisa e discorremos sobre as etapas que realizamos para o trabalho
de campo e sobre as técnicas utilizadas na análise dos dados construídos.

2.1 Traçando a base epistemológica e a abordagem da pesquisa

A priori, para compreendermos a base epistemológica desta pesquisa consideramos


importante destacar os três fundamentos epistemológicos mais utilizados na pesquisa em
Ciências Sociais: o positivismo, a fenomenologia e o materialismo histórico-dialético.
O positivismo foi, por muito tempo, o enfoque utilizado na realização de pesquisas em
diversas áreas, mais especificamente nas Ciências da Natureza, sendo por muito tempo
20

considerado a única fonte de conhecimento de ciência e método científico. A epistemologia


positivista está voltada à compreensão de um fato isolado de maneira objetiva, utilizando
métodos quantitativos. Assim, não importam as condições históricas e sociais que envolvem o
objeto estudado, mas apenas a realidade como fato, único objeto a ser observado.
Diferentemente dos outros enfoques, o positivismo não busca resolver os problemas,
tampouco conhecer as consequências dos seus achados, admitindo apenas dois tipos de
conhecimento: o lógico (constituído pela lógica e matemática), e o empírico (representado
pelos achados das ciências) (TRIVIÑOS, 1987).
A epistemologia fenomenológica, por seu turno, ascende contrapondo alguns pontos
do positivismo, considerando que neste enfoque o sujeito tem colaboração preponderante na
produção de conhecimento, tendo em vista que não há objeto sem sujeito. Desse modo, na
fenomenologia a produção de conhecimento é um ato intencional da consciência do
pesquisador buscando interpretar o mundo, compreender o problema a partir de uma descrição
da realidade, isto é, descreve o fenômeno tal como ele é, mas não interessa explicar ou
analisar a realidade, pois, assim como o positivismo, apresenta uma dimensão a-histórica
(TRIVIÑOS, 1987).
O materialismo histórico, divergindo das correntes positivista e fenomenológica, busca
compreender a essência dos fenômenos a partir da compreensão histórica e social do objeto
estudado. Nesta concepção epistemológica o homem é tratado como um ser social e, por isso,
só pode ser compreendido acerca de suas condições históricas e sociais. Assim, o
materialismo histórico tenta responder a várias questões que problematizam o objeto da
pesquisa.
Feitas tais reflexões, considerando que nossa pesquisa tem como base epistemológica
o materialismo histórico, buscamos compreender a poesia popular a partir de várias
perspectivas: quem a produz, qual o seu contexto, se há políticas de valorização cultural de tal
patrimônio e se é utilizada como recurso pedagógico na sala de aula nos processos de
mediação de leitura. Isso se dá devido ao fato de que o materialismo quer compreender o
máximo de elementos possíveis que envolvem o objeto de pesquisa. Por isso definimos como
questão norteadora de pesquisa: como podemos trabalhar a poesia popular enquanto
patrimônio cultural e recurso pedagógico de incentivo à leitura nos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental?
Pautada nos rumos das Ciências Sociais e tendo em vista que esta não pode ser
quantificada, adotamos a natureza da pesquisa de abordagem qualitativa. Isto por sabermos
que a pesquisa qualitativa busca compreender uma dada realidade a partir do contexto no qual
21

ela está inserida com seus valores, crenças e atitudes. Analogamente, Minayo (2009, p. 21)
afirma:

[...] ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das
aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de
fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o
ser humano se distingue não por agir, mas por pensar sobre o que faz e por
interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida partilhada com
seus semelhantes.

Desta feita, a abordagem qualitativa não tem a finalidade de quantificar os dados a


serem coletados, mas de compreender os significados de um fenômeno em uma dada
realidade. Vale salientar que a quantificação dos dados na abordagem quantitativa não precisa
caminhar necessariamente na direção dos fundamentos epistemológicos do positivismo, assim
como não é suficiente generalizar a qualitativa como pesquisa de caráter etnográfico. O que
caracteriza uma pesquisa quantitativa e qualitativa é exatamente a forma de tratamento dos
dados construídos a partir do problema pesquisado (GONSALVES, 2001).
Partindo dessa perspectiva, consideramos que a pesquisa qualitativa, abordagem
utilizada nesta produção, não busca uma representação generalizada dos diferentes contextos,
pelo contrário, sabe que estes representam possíveis respostas a um problema de pesquisa do
fenômeno investigado.
A pesquisa de abordagem qualitativa favorece também o contato mais próximo do
pesquisador com a situação que está sendo investigada, por isso tal abordagem contesta a
neutralidade científica na pesquisa, considerando que o objeto estudado não está situado de
maneira isolada em uma realidade, mas apresenta vinculação com as questões políticas, éticas,
sociais, culturais, entre outras (CHIZZOTTI, 2008).
Desse modo, neste estudo, a nossa proximidade com o objeto e universo investigado
nos deu condições de melhor compreendermos o contexto que foi analisado, os sujeitos e as
suas especificidades. Com a pesquisa qualitativa foi possível analisarmos de maneira mais
detalhada os dados construídos acerca da poesia popular, voltando um olhar mais criterioso
para a compreensão do contexto onde esse gênero literário pode ser encontrado, sobre quem o
produz, proporcionando uma reflexão sobre a valorização cultural da poesia e como o estilo
poético pode incentivar a formação de leitores no seio escolar. Isso porque, reiteramos, o tipo
de pesquisa desenvolvida busca elencar o máximo de elementos presentes na realidade
pesquisada (PRODANOV; FREITAS, 2013).
22

Com base nos objetivos, a pesquisa qualitativa pode ser classificada em três tipos:
pesquisa exploratória, que é caracterizada pelo esclarecimento de conceitos, com a finalidade
de investigar e apresentar mais referências sobre o que está sendo analisado, além de permitir
um enfoque mais ampliado do tema estudado, tendo em vista que este tipo de pesquisa
permite a aproximação de um objeto pouco estudado; pesquisa descritiva, que consiste em
pormenorizar as características do fenômeno estudado sem se ocupar com o porquê dos fatos;
e a pesquisa explicativa, que visa explicar de maneira mais aprofundada as causas e
consequências do fenômeno estudado, ocupando-se de buscar explicar a razão das coisas
serem e acontecerem como são e acontecem (GONSALVES, 2001).
À luz desses conceitos, entendemos, então, que toda pesquisa explicativa é também
descritiva, mas nem toda pesquisa descritiva é explicativa, isso porque para explicar as causas
e consequências de um fenômeno precisamos primeiro conhecê-lo, e assim descrever o
contexto investigado. Assim, caracterizamos esta pesquisa como explicativa, considerando
que nosso objetivo foi analisar a poesia popular como patrimônio cultural e recurso
pedagógico de incentivo à leitura em escola pública no município de São José de Piranhas -
PB.
Para tanto, visando alcançar a finalidade deste estudo, elencamos como objetivos
específicos: identificar perspectivas teóricas que fundamentam a poesia popular como gênero
literário e patrimônio cultural, conhecer a arte de improvisar poesia popular sob a ótica de
poetas repentistas de São José de Piranhas-PB e investigar a relevância da poesia popular na
escola como recurso pedagógico de incentivo à leitura.
Definida a base epistemológica e a abordagem da pesquisa, na subseção seguinte
abordamos os tipos de pesquisa que lançamos mão para o estudo da poesia popular no
município de São José de Piranhas – PB como patrimônio cultural e ferramenta pedagógica de
ensino.

2.2 Pesquisa de campo e pesquisa-ação

Nesta subseção, com base nas fontes e procedimentos que utilizamos para a coleta de
dados, apresentamos os dois tipos de pesquisa que embasaram esta produção. Levando em
consideração que a pesquisa qualitativa possibilita a aproximação do pesquisador com o
objeto investigado, se fez necessário delinearmos o estudo considerando a questão de
pesquisa, o objeto investigado, e como foram construídos os dados.
23

Os dados de uma investigação podem ser oriundos de fontes escritas, que é o caso da
pesquisa documental e bibliográfica; bem como de fontes orais, como estudo de caso,
pesquisa participante, pesquisa de campo, pesquisa-ação, pesquisa experimental, entre outras
(PRODANOV; FREITAS, 2013).
Caracterizamos, então, este estudo como pesquisa de campo, posto que possibilita ao
pesquisador aproximação direta com o fenômeno estudado. Para Prodanov e Freitas (2013, p.
59):

Pesquisa de campo é aquela utilizada com o objetivo de conseguir


informações e/ou conhecimentos acerca de um problema para o qual
procuramos uma resposta, ou de uma hipótese, que queiramos comprovar,
ou, ainda, descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles. Consiste na
observação de fatos e fenômenos tal como ocorrem espontaneamente, na
coleta de dados a eles referentes e no registro de variáveis que presumimos
relevantes, para analisá-los.

Esse tipo de pesquisa nos permitiu uma maior aproximação com o contexto no qual
está inserida a poesia popular oral no município de São José de Piranhas-PB, assim como o
contato com a escola na qual investigamos de que forma ela é trabalhada como gênero
literário.
Considerando, porém, que a pesquisa de campo pode valer-se de outros tipos de
pesquisa à consecução dos seus objetivos, a exemplo da pesquisa-ação, recorremos também a
esta como instrumento de investigação-ação da poesia popular de repente enquanto
patrimônio cultural e recurso pedagógico de incentivo à leitura em sala de aula da rede
pública municipal de ensino.
Para Severo (2007, p. 120), a pesquisa-ação “além de compreender, visa intervir na
situação com vistas a modificá-la. O conhecimento visado articula-se a uma finalidade
intencional de alteração da situação pesquisada”. Nesse sentido, este tipo de pesquisa envolve
o pesquisador na situação e/ou contexto a ser observado de forma que ele identifique o
problema, comprove sua hipótese e também intervenha na realidade observada. Como
esclarecem Prodanov e Freitas (2013, p. 66), “com a pesquisa-ação, os pesquisadores
pretendem desempenhar um papel ativo na própria realidade”.
Em face disso, neste estudo nos aproximamos da poesia popular de repente local como
fenômeno estudado, ao mesmo tempo em que, por meio de intervenção pedagógica,
desenvolvemos uma ação voltada à sua utilização enquanto recurso pedagógico de incentivo à
leitura e à reafirmação da escola como espaço propício ao reconhecimento e propagação da
24

cultura popular local. Tal feito foi, ademais, registrado em diário de campo como instrumento
à compilação do material não recolhido nos procedimentos técnicos da construção dos dados.
Para o delineamento da pesquisa de campo se fez necessário um levantamento
utilizando os repositórios digitais acerca do tema e objeto de estudo em questão. Segundo
Prodanov e Freitas (2013, p. 54), esse tipo de pesquisa acontece:

[...] quando elaborada a partir de material já publicado, constituído


principalmente de: livros, revistas, publicações em periódicos e artigos
científicos, jornais, boletins, monografias, dissertações, teses, material
cartográfico, internet, com o objetivo de colocar o pesquisador em contato
direto com todo material já escrito sobre o assunto da pesquisa.

Desse modo, realizamos um levantamento bibliográfico para compreendermos as


perspectivas teóricas acerca da literatura popular e poesia popular e ainda uma revisão de
literatura nos bancos de dados do Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES, Periódicos
CAPES e Scielo, a fim de identificarmos as pesquisas publicadas relacionadas ao nosso objeto
de estudo, que é a poesia popular.
Ao realizarmos a pesquisa no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES, aplicamos
ao campo de busca apenas o descritor “poesia popular”3. Dessa forma, a pesquisa resultou em
54 (cinquenta e quatro) dissertações e 16 (dezesseis) teses. Após uma análise criteriosa acerca
dos resultados alcançados, identificamos apenas 31 (trinta e uma) dissertações e 7 (sete) teses
que tratavam da poesia popular propriamente dita.
Destacamos que à seleção de tais produções não delimitamos um espaço temporal,
haja vista que nosso objetivo foi identificar o maior número possível de trabalhos voltados ao
estudo da poesia popular publicados até julho de 2021 (data da última busca realizada na
plataforma).

3
A plataforma do Catálogo de Teses e Dissertações CAPES oferece somente um campo de busca para
a pesquisa com descritores. Ao inserirmos “poesia popular” and “escola” no campo de busca, a
plataforma apresentou todos os trabalhos que tratam sobre os descritores, independentemente de
estarem ou não associados. Por essa razão, aplicamos “poesia popular” e realizamos um filtro manual
por meio da leitura dos resumos (e quando necessário dos trabalhos completos), selecionando os
resultados associados ao ambiente escolar.
25

Quadro 1 – Dissertações encontradas no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES


AUTOR/ANO:
TÍTULO DISCUSSÃO
INSTITUIÇÃO
Apresenta o calango como manifestação
O calango no vale do popular cultural muito comum no estado
Paraíba – estudos Fernandes (2012) de Minas Gerais, mas também
etnográficos em Duas recorrente em São Paulo. Tem como
UNIRIO
Barras e Vassouras (RJ) característica a poesia cantada por
improvisação com o acompanhamento
da sanfona.
A poesia de repente volta A poesia popular manifestada pela
para casa: Itapetim no Souza, K. (2006)
cantoria de viola apresentadas em
discurso de congresso de UFPB eventos, congressos, feiras. A tradição
violeiros rural influenciada pela tradição urbana.
De pés-de-parede a Trata do repente de viola, manifestado
Lopes (2001)
festivais: um estudo de caso em três formas de apresentação (áreas
sobre o repente nordestino UNICAMP de atuação): cantorias de pé-de-paredes,
na grande São Paulo competições ou repentes de rua.
A criação poética no sertão
do Pajeú: uma análise a A pesquisa objetiva identificar o
Grisi (2021)
partir das relações entre classicismo na poesia popular
UNICAMP
identidade nacional nordestina, mais especificamente nas
brasileira, representação e obras poéticas do Pajeú.
estética
Busca analisar as estratégias editoriais
A Estrella da Poesia: utilizadas no editorial “A Estrella Da
Sousa, M. (2009)
impressões de uma Poesia”, bem como analisar as o
UFBA
trajetória mercado editorial de publicação de
cordel no século XX.
A pesquisa busca discutir, com base nas
produções de Silvio Romero, o lugar da
cultura popular nacional devido
convergência das diversas manifestações
literárias entre campo e cidade. Destas
A história e a cultura
Nascimento, J. manifestações cita: narrativas históricas,
festiva do brasileiro nas
(2017) etnográficas e literárias, na recolha e
narrativas de Sílvio
UFSE transmissão de cantos (cantigas), contos
Romero (1883-1888)
(causos populares), costumes, tradições,
festas profanas e religiosas, devoções,
cultos, orações, parlendas, tipos
populares e folguedos, todos oriundos
da diversidade popular brasileira.
O estudo apresenta as relações da
cantoria com o slam, considerando que
A performance na cantoria Souza, T. (2011) ambos são formas de literatura oral. A
nordestina e no slam UFC distinção entre ambas está no fato de
não necessitar de escolaridade para
produzir poesia de cantoria.
A poética social de Patativa Nogueira (2017) A pesquisa volta-se a uma análise do
26

do Assaré USP conteúdo social na escrita poética de


Patativa do Assaré.
As ressonâncias da
literatura popular do
Consiste em um estudo da poesia oral de
nordeste no romance D’a Nunes (2010)
Ariano Suassuna nas perspectivas de
Pedra do Reino e o UFSM
Bakhtin sobre o gênero romanesco.
Príncipe do Sangue do Vai-
e-Volta
Canelinha – o poeta Ribeiro Neta O estudo trata de uma análise da
popular logogrífico – seus (2014) produção do poeta popular paraibano
versos, cantos e encantos UFU Manoel Pereira de Oliveira (Canelinha).
Cante lá que eu canto cá: A pesquisa buscou analisar o estilo
uma abordagem dialógica Mello (2015) poético de Patativa do Assaré no livro
do estilo da poesia popular UFPB “Cante lá que eu canto cá: filosofia de
de Patativa do Assaré um trovador nordestino” (1978).
Dimensões do sofrimento
Uma pesquisa sobre características
cearense a partir da poesia
Rocha, H. (2006) comuns na cultura popular cearense que
popular: territorialidade e
UNIFOR se encontram nas manifestações
identificação na obra de
literárias populares.
Patativa do Assaré
Juvenal Galeno:
Estudo histórico sobre as produções de
romantismo e poesia Aguiar, A. (2013)
Juvenal Galeno e ressalta a sua
popular em Lendas e PUC-RIO
relevância para a cultura popular.
Canções Populares (1865)
Louro do Pajeú: uma A pesquisa tratou da construção de uma
Nascimento, A.
plataforma digital de plataforma digital chamada “Louro do
(2020)
memória e Pajeú” para organização do acervo
UNICAP
contemporaneidade poética digital de Lourival Batista.
O bonde de Juiz de Fora A pesquisa busca apresentar o funk,
entra em cena: um estudo Carvalho (2015) manifestação cultural, com a relação
poético sobre compositores UFJF estrutural poética, mais especificamente
funkeiros da cidade mineira com a poesia popular.
Patativa do Assaré: voz Aguiar, R. (2013) A produção trata de situar Patativa do
habitante da identidade Universidade Assaré como poeta sertanejo e a sua
sertaneja Feevale poesia de origem popular.
Compreende a representação linguística
Patativa do Assaré: poesia, Rebouças (2017)
e estética da poesia popular de Patativa
canção e consciência UnB
do Assaré.
Trata de uma abordagem linguística
Poesia popular nordestina:
acerca do cordel (gênero escrito) e do
uma abordagem para o Santana (2009)
repente, representado na cantoria de
tratamento da relação fala- UNICAP
viola (gênero oral), e destaca a peleja
escrita
virtual, gênero virtual emergente.
Quanto mais regional, mais
universal eu sou – o cordel
Sales (2018) Apresenta uma análise histórica do
de Antônio Francisco como
UFRN poeta cordelista Antônio Francisco.
matriz criativa para a
construção da cena
Representação da Gaudêncio (2014) A pesquisa tratou em analisar os
informação de cibercórdeis UFPB cibercórdeis em blogs.
27

em blogs: uma análise sob a


luz da semântica discursiva
O estudo abordou a vida e a obra de
Ser sertão na obra de Chico Alves (2020) Chico Pedrosa, poeta popular paraibano,
Pedrosa UEFS dando ênfase à sua formação poética
com base na sua história de vida.
O trabalho buscou compreender a
relação entre as manifestações culturais
Vida, voz e versos: a
Fonsêca (2011) e identidade daqueles que produzem, a
história de vida do poeta
UERN partir de uma análise dos poemas de
popular Xeba
Francisco de Assis, conhecido em sua
comunidade por Xeba.
Analisa as relações entre a poesia de
Poesia infantil e literatura
Lima, J. (2014) cordel voltada ao público infantil e a
de cordel: forma,
UEPI poesia infantil no tocante a sonoridade,
sonoridade e temas
temas e aspectos formais.
O letramento literário e a
A utilização do cordel como recurso
poesia popular: leitura
Rocha, W. (2016) lúdico e didático que possibilita a
crítica de Patativa do
UFCG aproximação dos alunos com os textos
Assaré para o 9º ano do
literários.
ensino fundamental
Como eu te preciso, meu
Pesquisa realizada nos Anos Finais do
bairro!: experiências
Cordeiro (2016) Ensino Fundamental, buscando utilizar a
literárias no ensino
UFAL poesia popular para aperfeiçoar as
fundamental da rede
práticas de letramento literário.
pública estadual em Maceió
A pesquisa apresenta o aboio como uma
Aboio, o canto que encanta: composição poética improvisada
uma experiência com a Maurício (2006) utilizada pelos vaqueiros para chamar o
poesia popular cantada na UFPB gado e como possibilidade de trabalho
escola educativo na escola pelo ensino de
literatura.
Propõe a utilização da poesia popular
Poesia popular em sala de
Melo (2011) nos Anos Iniciais do Ensino
aula: o letramento sob uma
UnB Fundamental para as práticas de
perspectiva interdisciplinar
letramento.
A natureza em poemas de
A pesquisa se propõe a um trabalho
Patativa do Assaré: voos de Silva, L. (2021)
pedagógico de leitura literária com
leituras de pouso na UFCG
poemas de Patativa do Assaré.
recepção em sala de aula
A literatura popular na
sala de aula: uma proposta Santos, C. (2016) A proposta da pesquisa é instigar a
para o ensino de leitura UFRN leitura literária por meio da poesia.
literária
A literatura de cordel na A utilização da literatura de cordel como
sala de aula: contribuições Ramos (2016) recurso pedagógico para o letramento
ao processo de letramento UEPB literário na EJA, por meio da sequência
literário na EJA didática de Cosson.
A rima na escola, o verso Ferreira (2010) Trata-se de uma pesquisa realizada em
na história: um estudo USP escola pública de periferia, sendo o
28

sobre a criação poética e a público estudantil e comunidade escolar


afirmação étnico-social descendentes de famílias afro-brasileiras
entre jovens de uma escola e indígenas. A pesquisa propõe um
pública de São Paulo trabalho pedagógico para dar relevância
às questões histórico-culturais da
comunidade, com a poesia de cordel,
rap e repente – tratados aqui como
estilos poéticos oriundos do popular.
Fonte: elaborado pelas autoras (2021).

Quadro 2 – Teses encontradas no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES


AUTOR/ANO:
TÍTULO DISCUSSÃO
INSTITUIÇÃO
Por “Trilhas, roteiros e
A pesquisa buscou investigar
legendas de uma cidade
como Francisco Barbosa
chamada Duque de
Almeida (2017) representa as manifestações
Caxias”:
UNIGRANRIO culturais do município de
memórias e representações
Duque de Caxias em suas
de Francisco Barboza Leite
produções poéticas.
(1950-1990)
Tratou de uma análise das
produções de Moreira de
Pluriuniversos: poesia
Cobra (2016) Acopiara e Ditão Virgílio,
popular, movência e
PUC-SP buscado compreender as
distinção
formas de criação e recriação
poética.
Uma obra que consiste na
A poesia popular na
Matos (1994) história de vida do folclorista
república das letras: Sílvio
UFRJ Silvio Romero e suas
Romero folclorista
produções acadêmicas.
Vozes da literatura luso-
Esta pesquisa abordou se é
brasileira: uma história do
Aguiar, R. (2018) possível a continuidade de
improviso poético – dos
UFRS uma produção de poética
trovadores medievais aos
improvisada.
poetas do Brasil colônia
Culturas tradicionais no
Analisa as concepções de
Ceará: nas dobras de Sousa, J. (2009)
sertão à luz de vozes
narrativas e contendas PUC-SP
folcloristas.
sertanejas.
A poética de Manoel O estudo possibilitou a
Camilo dos Santos: um relação entre a utilização da
Nunes (2014)
diálogo entre a poesia literatura culta, com a de
UFSM
popular do nordeste e a origem popular do poeta
literatura culta. Manoel Camilo.
A tese estuda os cantos de
Cantos de capoeira:
Reis (2009) origem popular que são
fonogramas e etnografias
PUC-RIO tradicionais no universo da
no diálogo da tradição
capoeira.
Fonte: elaborado pelas autoras (2021).
29

Com base nos resultados da revisão de literatura no Catálogo de Teses e Dissertações


da CAPES, identificamos que as pesquisas voltadas para a poesia popular são caracterizadas
em diferentes modalidades: a literatura de cordel, o repente, a cantoria, o calango, o aboio, o
funk e o slam.
Nas pesquisas encontradas, a literatura de cordel é caracterizada como poesia popular
descendente da cultura medieval, de origem campesina e nordestina que pode ser
materializada por meio da escrita. O repente também tem sua descendência medieval,
diferenciado como manifestação poética de improviso, e, por isso, chamada de repente: poesia
produzida “de repente”.
Derivadas do repente, encontramos as demais expressões de poesia popular que foram
descritas acima, sendo distintas na forma como são apresentadas. A cantoria, ou repente de
viola como denominado por Lopes (2011), descrita como gênero poético oral que envolve a
prática de dois poetas que, acompanhados de suas violas, fazem poesia cantada improvisada
(SOUZA, T., 2011).
Em relação ao calango, segundo Fernandes (2012), assim como a cantoria de viola,
também se trata de uma manifestação poética de improviso, porém caracterizada pela
articulação entre dois ou mais cantadores, acompanhados de um acordeon e pandeiro, que se
alternam nas cantigas de versos improvisados como forma de desafios. Essa modalidade é,
inclusive, encontrada em alguns estados da região Sudeste.
Identificamos também o aboio como estilo poético de improviso, que, segundo
Maurício (2016), é um canto melancólico, triste e monótono, cantado pelos vaqueiros. Eles
sentem sua conexão com a natureza e o gado quando estão no ambiente campesino, por isso o
aboio é um canto melancólico que surge da tristeza na alma do vaqueiro que conduz o gado de
volta ao curral ao fim da tarde (MAURÍCIO, 2016).
A partir da revisão feita, observamos que o slam e o funk são modalidades poéticas
modernas, mas igualmente caracterizadas como poesia popular. O slam tem sua origem na
França, e possui algumas identificações com a cantoria de viola, a exemplo do jogo rítmico
das palavras, interação com o público, performance do poeta, entre outras semelhanças. Suas
diferenças estão no público que o produz. O slam é uma modalidade poética
predominantemente urbana e escrita (SOUZA, T., 2011). Já o funk é uma expressão cultural
entre os jovens, mas que também segue a estrutura poética em sua composição
(CARVALHO, 2015).
30

O canto de capoeira, por sua vez, aparece na tese de Reis (2009) como um canto
poético popular que tem origem africana. O canto acompanhava os rituais da dança de
capoeira executada pelos escravos que trabalhavam nos engenhos de cana-de-açúcar.
Após a sintetização, a partir da bibliografia já exposta, identificamos que apenas 9
(nove) dissertações (e nenhuma das teses) tratavam da poesia como gênero textual no espaço
escolar. Percebemos ainda que, das 31 (trinta e uma) dissertações, 17 (dezessete) são oriundas
da Região Nordeste.
Em continuidade, como nossa pesquisa está voltada para a poesia popular na
modalidade oral do repente, realizamos também uma busca no mesmo banco de dados
utilizando o descritor “repente”. Em relação a tal busca, a investigação resultou em 21 (vinte e
uma) dissertações e 4 (quatro) teses, sendo que após análise dos resumos, identificamos
apenas 2 (duas) dissertações que apresentaram o repente como recurso pedagógico na escola.

Quadro 3 – Dissertações encontradas no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES sobre


repente
AUTOR/ANO:
TÍTULO DISCUSSÃO
INSTITUIÇÃO
Esta pesquisa tratou de uma
A cultura local em sala de
intervenção pedagógica em escola
aula: o repente como Carneiro (2016)
pública nos Anos Finais do Ensino
elemento motivacional e UEFS
Fundamental buscando trabalhar o
identitário para as práticas
repente como literatura oral, visando
de letramento
a promoção de letramento.
Trata-se de uma pesquisa realizada
em escola pública de periferia,
sendo o público estudantil e
A rima na escola, o verso comunidade escolar descendentes
na história: um estudo de famílias afro-brasileiras e
Ferreira (2010)
sobre a criação poética e a indígenas. A pesquisa propõe um
USP
afirmação étnico-social em trabalho pedagógico para dar
jovens de uma escola relevância às questões histórico-
pública de São Paulo culturais da comunidade, com a
poesia de cordel, rap e repente –
tratados aqui como estilos poéticos
oriundos do popular.
Fonte: elaborado pelas autoras (2021).

Considerando, ademais, a relevância acadêmica da pesquisa para o nosso Programa de


Pós-graduação em Ensino – PPGE/CAPF/UERN, realizamos também uma busca no banco de
dados de dissertações do PPGE. A pesquisa resultou no achado de apenas uma dissertação
sobre a poesia popular na modalidade de cordel.
31

Quadro 4 – Dissertação encontrada no Banco de Dados do PPGE/CAPF/UERN


TÍTULO AUTOR/ANO: DISCUSSÃO
INSTITUIÇÃO
O uso da literatura de cordel
nas aulas de ensino religioso: A pesquisa trata da utilização
uma investigação em uma ARAÚJO (2019) da literatura de cordel como
escola pública no município UERN recurso pedagógico nas aulas
de Belém de Brejo do de ensino religioso.
Cruz/PB
Fonte: elaborado pelas autoras (2021).

Em pesquisa no banco de dados da Scielo, utilizando o mesmo descritor “poesia


popular”, foram encontrados dois artigos, porém nenhum deles acerca da poesia no espaço
escolar. Ao passo que, no Periódico CAPES, selecionando como critérios de inclusão apenas
artigos de periódicos revisados por pares, utilizando os termos “poesia popular” e “escola”
como descritores, tivemos por resultado 26 (vinte seis) publicações. Contudo, ao realizarmos
leitura criteriosa dos resumos dos artigos verificamos que nenhum deles tratava da poesia
popular na escola.
Retornando às contribuições de Prodanov e Freitas (2013), a realização do
levantamento bibliográfico dá o suporte teórico inicial para auxiliar na elaboração do plano de
pesquisa e, com efeito, o próximo passo da pesquisa de campo e pesquisa-ação consiste em
definir os procedimentos utilizados no decorrer da pesquisa para a coleta de informações e,
por fim, estabelecer as técnicas para analisar esses dados.
Desse modo, discorremos o percurso metodológico seguido na pesquisa apresentando-
o da seguinte forma: na subseção 2.3 tratamos do lócus da pesquisa; na 2.4, dos sujeitos
participantes; na 2.5, dos instrumentos de pesquisa; na 2.6, da análise dos dados; e na 2.7, das
etapas da intervenção pedagógica.

2.3 Lócus da pesquisa

Para melhor situar o leitor, passamos a apresentar o município e escola onde foi
realizada a pesquisa. Emancipado em 24 de setembro de 1885, São José de Piranhas é um
município localizado no Alto Sertão Paraibano, a 503 Km de distância da capital do estado,
João Pessoa. Segundo o censo do IBGE 2018, conta com um total de 20 053 habitantes. O
município tem uma história marcada pela tradição religiosa e cultural, que inclusive exerce
importante papel na história regional e nacional (LIMA M., 2010).
32

Dentre os filhos ilustres da Princesa dos Montes, como costuma ser chamada a cidade,
São José de Piranhas-PB leva também o título de terra do poeta Manuel Galdino Bandeira4,
um dos grandes nomes da poesia popular nordestina. Inclusive, na praça pública do
município, há um monumento em sua homenagem (MOREIRA, 2006).

Imagem 1 – Vista aérea parcial da cidade de São José de Piranhas-PB

Fonte: Marconi Cruz (2018).

A escolha do município se deu pela percepção que tivemos acerca da familiaridade de


pessoas do campo e da cidade, de todas as idades, com a habilidade de declamar poesia
popular improvisada e que apreciam tal gênero literário. Todavia, em que pese ser uma prática
comum, principalmente entre pessoas do campo, partimos da hipótese de que as escolas
municipais não desenvolviam ações pedagógicas com o uso do gênero poético que estamos
discutindo. Considerando, assim, a poesia popular como gênero literário comumente ouvido e
apreciado no município, compreendemos que ela pode contribuir para o incentivo à leitura no
processo de formação de leitores.
Por isso, delineamos a realização da pesquisa em uma escola da rede municipal de
ensino, a qual se situa em um bairro periférico da zona urbana. A escolha da unidade escolar
se deu por ser a única na cidade voltada apenas aos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e
por atender um público de classe social popular.

4
Manuel Galdino Bandeira, embora nascido na Fazenda Santa Gertrudes, em Patos-PB (1882), ainda
em 1907 passou a residir em São José de Piranhas-PB, após contrair matrimônio com Francisca
Erundina. Na cidade ele passou a declamar suas poesias até o fim de sua vida (1955). Tamanha era
habilidade poética com o repente que o poeta chegou a cantar para o então presidente Getúlio Vargas
(MOREIRA, 2006).
33

2.4 Sujeitos participantes

No tocante à escolha dos sujeitos, que trazem voz e vida para esse processo,
selecionamos: 2 (dois) repentistas do município de São José de Piranhas – PB, 2 (duas)
professoras do 5º ano da escola onde realizamos a pesquisa e os 16 (dezesseis) estudantes
integrantes das duas turmas do 5º ano. Para a escolha dos poetas utilizamos como critérios a
existência de produções escrita e/ou oral: um deles possui dois livros publicados com seus
repentes; o outro possui um CD gravado com poesias de repente. E no que diz respeito aos
estudantes participantes da pesquisa, realizamos a intervenção com aqueles que frequentavam
as aulas na modalidade do ensino presencial5.

2.4.1 Sobre os poetas

Para esta investigação, contamos com os poetas repentistas: João Antônio de Sousa e
Francisco Leite Bezerra. Conforme apresentado no roteiro de entrevista (Apêndice G),
colhemos algumas informações biográficas. João Antônio Sousa, conhecido por João Beco,
nasceu em 18 de agosto de 1948. Filho de Antônio Manoel de Sousa e de Ana Pedroso de
Sousa, residiu toda a sua vida na zona rural, morando atualmente no sítio Triângulo,
município de São José de Piranhas – PB. Na infância e juventude ele não frequentou a escola,
dedicando seu tempo ao roçado com o pai e a ajudar sua mãe no cuidado e subsistência dos
demais irmãos. Pai de quatro filhos, o poeta é um amante da vida do campo e das cavalgadas,
sente satisfação e orgulho em ter “nascido e se criado” na roça.
Enquanto Francisco Leite Bezerra, conhecido por Tico Amaro, nasceu em 28 de
agosto de 1948, filho de Amaro Leite de Figueiredo (seu Amaro Leite) e Rita Bezerra de
Figueiredo (Dona Ritinha). O poeta cresceu no sítio Trasmonte, também zona rural do
município de São José de Piranhas – PB, embora hoje resida na zona urbana. Frequentou a
escola apenas na alfabetização, quando criança, mas a falta de escolaridade nunca foi
impeditivo para que se tornasse um grande amante e disseminador da poesia popular local.

5
Em face da pandemia da covid-19 enfrentada, ao final do ano de 2021, as escolas adotaram o ensino
híbrido como mecanismo de retorno às aulas. De tal modo, a pesquisa foi realizada com aqueles
estudantes que frequentavam o ensino presencial.
34

Imagem 2 – Poetas “Tico Amaro” e “João Beco”.

Fonte: arquivo das pesquisadoras (2021).

2.4.2 Sobre as professoras

À construção dos dados contamos também com a colaboração de 2 (duas) professoras


das turmas de 5º ano, turno vespertino, da escola onde foi desenvolvida a pesquisa. Conforme
apresentado no roteiro de entrevista (Apêndice H), buscamos mapear a formação acadêmica
das nossas colaboradoras. Para preservar a identidade das docentes utilizamos os seguintes
pseudônimos: Ana e Sandra. Desta forma, apresentamos no quadro abaixo as informações
coletadas no início da entrevista.

Quadro 5 – Formação das professoras colaboradoras


IDENTIFICAÇÃO GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO
Práticas Assertivas
História; Integradas à EJA;
Ana
Pedagogia Atendimento Educacional
Especializado – AEE
História;
Sandra Psicopedagogia
Pedagogia
Fonte: elaborado pelas autoras (2021).

Ana e Sandra são do quadro efetivo de professores do município e possuem também


vínculo empregatício com escola da rede privada de ensino, Ana atuando nesta como
professora de História nos Anos Finais e Sandra como docente dos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental.
35

2.4.3 Sobre os estudantes

A escolha da turma do 5º ano do Ensino Fundamental encontra assento no documento


normativo da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que prevê, no Campo de Atuação
Artístico Literário do componente curricular Língua Portuguesa, o trabalho com a declamação
de poemas, postura, desempenho, entonação e interpretação nas turmas de 3º a 5º ano.
Escolhemos, pois, as turmas de 5º ano da referida escola considerando que as crianças entre 9
(nove) e 10 (dez) anos de idade, com frequência escolar, supostamente possuem maior
desenvolvimento fonológico e habilidades de leitura e escrita.
No período de aplicação da pesquisa, diante do cenário pandêmico que se enfrentava,
a escola encontrava-se em retorno às aulas presenciais. Realizamos a atividade de
intervenção, então, com um total de 16 (dezesseis) estudantes integrantes das duas turmas,
entre 10 e 13 anos (gráfico 1). Ressaltando, dentre eles, uma estudante diagnosticada com
Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Gráfico 1 – Faixa etária dos estudantes

4
Masculino
2
Feminino
0
10 anos 11 anos 13 anos

Fonte: elaborado pelas autoras (2021).

Conforme apresentado no roteiro diagnóstico (Apêndice I), aplicamos um questionário


no primeiro contato com as turmas, oportunidade na qual sondamos a respeito da prática e
gosto pela leitura dos sujeitos da pesquisa.
Nesse quesito, referente à questão “Você gosta de ler?” (gráfico 2), 13 (treze)
estudantes responderam que “sim”, 2 (dois) que “não” e 1 (um) estudante respondeu “às
vezes”.
36

Gráfico 2 – Você gosta de ler?

Sim
Não
Às vezes

Fonte: elaborado pelas autoras (2021).

Apesar de 81,25% dos sujeitos colaboradores terem afirmado que gostam de ler,
precisamos levar em consideração o tipo de leitura que eles desenvolvem para entendermos o
gosto que eles têm por ela. Quanto aos 12,5% que responderam “não” e aos 6,25% que
responderam “às vezes”, no decorrer da intervenção percebemos que correspondia aos
estudantes que não possuíam o domínio da leitura e escrita.
Enquanto que, quando questionados sobre os gêneros textuais que costumavam ler na
escola (gráfico 3), 14 (catorze) deles afirmaram que liam contos; 12 (doze), poesias; 15
(quinze), lendas; e 12 (doze), ficção. Para uma melhor visualização trazemos o gráfico abaixo.

Gráfico 3 – O que você costuma ler na escola?

15

10

0
Contos Poesia Fábula Lendas Ficção

Fonte: elaborado pelas autoras (2021).


No questionário, também consideramos importante indagar os sujeitos participantes a
respeito da leitura em casa (gráfico 4) e sobre os gêneros textuais lidos (gráfico 5). Quanto a
isso, 13 (treze) afirmaram possuir o hábito de ler em casa, enquanto que os 3 (três) outros
responderam que não desenvolviam tal leitura.
37

Gráfico 4 – Você costuma ler em casa?

Sim
Não

Fonte: elaborado pelas autoras (2021).

Fazendo um comparativo, verificamos que os mesmos 81,25% que afirmaram gostar


de ler (gráfico 1) responderam que costumavam realizar leitura em casa (gráfico 4), enquanto
que o percentual de 18,75%, referente aos que não liam em casa correspondeu exatamente
àqueles que apresentaram dificuldades de leitura e escrita. Tal correlação leva-nos a supor que
o desinteresse pela leitura em muito se deve às dificuldades de aprendizagem.
Questionados quanto aos tipos de leitura que costumavam realizar em casa (gráfico 5),
14 (catorze) dos estudantes responderam que liam o livro didático; 5 (cinco), que liam a
bíblia; 4 (quatro), que faziam leitura de literatura infantil; 2 (dois), que liam obras poéticas; 1
(um), que gostava de ler história em quadrinhos; e 1 (um), que realizava a leitura de mangás.

Gráfico 5 – O que você costuma ler em casa?

14
12
10
8
6
4
2
0
Gibi Livro Poesia Literatura Bíblia Mangá
Didático infantil

Fonte: elaborado pelas autoras (2021).

Em relação a tal quesito, a sondagem realizada demonstrou que grande parte dos
estudantes participantes da pesquisa afirmou ter gosto e prática da leitura fora do espaço
escolar, utilizando-se ainda de diferentes gêneros textuais e literários. Cotejando, além disso,
os gráficos 3 (três) e 5 (cinco), observamos que há uma preferência pela leitura poética no
âmbito escolar, posto que apenas 2 (dois) afirmaram ler poesias em casa.
38

De um modo geral, no momento da intervenção, percebemos que 4 (quatro) dos 16


(dezesseis) estudantes apresentavam dificuldades de aprendizagem: 2 (dois) deles não tinham
o domínio da leitura e escrita, encontrando-se ainda no nível silábico; enquanto que 2 (dois)
outros, embora tivessem o domínio do código escrito, não conseguiam desenvolver a leitura.
Além disso, dentre os citados 4 (quatro) estudantes, 1 (um) deles, no questionário
diagnóstico respondeu que gostava e desenvolvia a leitura em casa. Quanto a isso, a despeito
das dificuldades por ele apresentadas, não podemos descartar a possibilidade do seu exercício
da leitura multimodal, mesmo porque esta vai muito além da simples codificação da língua
escrita.
Feito tal diagnóstico por intermédio da aplicação de questionário, pudemos aplicar a
intervenção em sala de aula recorrendo à poesia popular como recurso de incentivo à leitura.

2.5 Instrumentos de pesquisa

Como instrumentos da pesquisa, para a construção de dados utilizamos a observação


direta extensiva, a qual, segundo Prodanov e Freitas (2013, p.102), “ocorre através do
questionário, do formulário, de medidas de opinião e de atitudes, história de vida, discussão
em grupo, análise de conteúdo, testes, sociometria, pesquisa de mercado.” Desse modo,
lançamos mão da entrevista semiestruturada, considerando que essa técnica de coleta permite
ao pesquisador a obtenção de informações acerca do objeto pesquisado e a organização de um
roteiro pré-estabelecido que norteie o diálogo com os entrevistados (PRODANOV;
FREITAS, 2013).
A entrevista se deu com os dois repentistas, visando conhecer suas histórias de vida e
sondar suas compreensões acerca da poesia popular de repente, e também com as duas
professoras das turmas do 5º ano, a fim de conhecer o trabalho pedagógico com a mediação
literária e a forma como utilizavam a poesia na sala de aula. Respeitando os protocolos
sanitários da Covid-19, a realização das entrevistas se deu de maneira individual, o que nos
permitiu também uma maior percepção acerca dos sentidos que os sujeitos atribuíam aos seus
discursos.
Com os poetas repentistas realizamos entrevistas gravadas em formato audiovisual,
considerando que este material futuramente poderá se converter em documentário para
domínio público, porquanto patrimônio cultural que merece ser conhecido e reconhecido por
todos. Enquanto que as entrevistas com as docentes foram compiladas em áudio.
39

2.6 Análise dos dados

Na análise dos dados buscamos compreender as informações colhidas a partir da


contribuição teórico-metodológica de Bardin (1977). Sabemos que a análise de conteúdo
(AC) é um intrumento metodológico (BARDIN, 1977) que exige do pesquisador um
exercício de reflexão sobre os significados, percepções, tendências e outras questões que
podem surgir no processo de comunicação.
Considerando, assim, que esta pesquisa fez uso da comunicação verbal e oral, a AC
permite um olhar atencioso, buscando superar a superficialidade dos resultados para
identificar os possíveis significados que podem passar despercebidos em uma rápida leitura.
Sem perder de vista que, na busca pela objetividade, o pesquisador não pode colocar suas
inferências nos dados, devendo evitar um olhar unilateral em sua interpretação.
À realização da análise e interpretação dos dados, a AC deve partir da pré-análise,
isto é, da organização dos dados (BARDIN, 1977). Desse modo, realizamos inicialmente as
transcrições das entrevistas e sistematizamo-las para posterior leitura flutuante dos dados
colhidos, a fim de “(...) estabelecer contacto [sic] com os documentos, analisar e conhecer o
texto deixando-se invadir por impressões e orientações.” (BARDIN, 1977, p. 96). Foi a partir
dessa leitura que conseguimos delinear as categorias de análise a serem interpretadas, embora
tais categorias tenham sido melhor adequadas com uma leitura mais aprofundada.
Finalizada a pré-análise, passamos à exploração das entrevistas transcritas, etapa que
nos permitiu estabelecer relações das falas dos sujeitos com as perspectivas teóricas as quais
recorremos, fazendo pontos e contrapontos. Essa sistematização, nas palavras de Bardin
(1977, p. 101), “consiste essencialmente de operações de codificação, desconto ou
enumeração, em função de regras previamente formuladas”. Foi, portanto, a partir da
exploração do material que sistematizamos as categorias de análise para que passássemos aos
ao tratamento dos dados.
A codificação, etapa de tratamento dos dados, é definida por Bardin (1977, p. 101-
102) como “[...] o processo pelo qual os dados brutos são transformados sistematicamente e
agregados em unidades, as quais permitem uma descrição exacta [sic] das características
pertinentes do conteúdo”. Desse modo, com a codificação sistematizamos os dados coletados
em unidades de registro (UR) e unidades de contexto (UC), aquelas compreendidas como
unidades que visam à categorização, podendo ser executadas em nível semântico (o tema) ou
em nível linguístico (a palavra, ou a frase), e estas como o que contextualiza e dá significado
às próprias UR‟s (BARDIN, 1977).
40

Após a codificação adentramos a etapa da categorização, definida por Bardin (1977, p.


117) como “uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por
diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o género (analogia), com os
critérios previamente definidos”. Dessa maneira, agrupadas as UR‟s semelhantes, definimos
as categorias abaixo descritas.

Quadro 6 – Categorias de análise


CATEGORIAS DA ANÁLISE
EMPÍRICA
Memórias e tradição
Sensibilidade do poeta
Identidade cultural
Reconhecimento e patrimônio cultural
Professor leitor e a formação de leitores
Incentivo à cultura
Fonte: das pesquisadoras (2021).

Realizamos, por fim, a interpretação dos dados por meio da técnica de análise temática
ou categorial, que segundo Bardin (1977, p. 153) “funciona por operações de
desmembramento do texto em unidades, em categorias segundo reagrupamentos analógicos”.
A análise temática é definida pela busca dos núcleos de sentidos a partir do desmembramento
já realizado por meio da categorização e os núcleos de sentido correspondem a uma
interpretação da ideia central daquele dado escolhido na categorização. Por isso, à discussão
das categorias, elencamos e intitulamos os seguintes núcleos de sentido: 1) A poesia popular
pela ótica dos poetas: sensibilidade, memória e tradição; 2) Incentivo e reconhecimento: a
poesia popular como patrimônio cultural; 3) Poesia popular na escola: o professor leitor, a
formação de leitores e o incentivo à cultura.

2.7 Etapas da intervenção pedagógica

Após o processo de construção dos dados com as entrevistas, desenvolvemos a


intervenção pedagógica com os estudantes do 5º ano do Ensino Fundamental com o objetivo
de promover experiências de leitura através da poesia popular como possível recurso
pedagógico de incentivo à leitura. Para tanto, em quatro momentos distintos, trabalhamos a
composição estrutural do poema, proporcionamos vivências com os dois poetas locais
41

colaboradores da pesquisa e fomentamos a criação e habilidade poética por parte dos alunos a
partir de um Festival de Poesia.

 1º momento:
No primeiro contato com a escola fomos notificadas que dispúnhamos de 3 (três)
semanas ao desenvolvimento do projeto, coincidindo com o fim do ano letivo escolar (início
da segunda quinzena de dezembro de 2021). Por ordem da Secretaria Municipal de Educação,
contudo, foi reduzido o número de dias letivos à finalização das atividades escolares, o que
também afetou nosso tempo de pesquisa. Por isso, para fins de otimização da intervenção e
por recomendação das professoras colaboradoras, o primeiro momento se deu de forma
remota e assíncrona. Valemo-nos de registro audiovisual encaminhado por aplicativo
Whatsapp ao grupo de pais e responsáveis para proceder a apresentação da pesquisa e
esclarecimentos da voluntariedade na participação dos estudantes (imagem 3).

Imagem 3 – Apresentação da pesquisa para pais e responsáveis

Fonte: arquivo das pesquisadoras (2021).

Consideramos ainda pertinente, também por meio de vídeo remetido ao citado


aplicativo de mensagens instantâneas, motivar os próprios estudantes a participarem da
pesquisa a ser desenvolvida no ambiente escolar. Para tanto, recorremos à utilização do
fantoche como recurso lúdico à atenção dos sujeitos (imagem 4).
42

Imagem 4 – Motivação aos estudantes para a participação na intervenção

Fonte: arquivo das pesquisadoras (2021).

 2º momento:
O segundo momento de intervenção aconteceu de forma presencial, no qual
trabalhamos a composição estrutural do poema. Iniciamos com a degustação literária da
poesia “As borboletas”, de Vinícius de Morais, utilizando palitoches como recurso visual
(imagem 5).

Imagem 5 – Palitoches

Fonte: arquivo das pesquisadoras (2021).

Em seguida, conversamos um pouco sobre a poesia com os estudantes: questionamo-


los se já tinham ouvido falar sobre, se gostavam de ler e se ouviam obras poéticas. A maioria
respondeu que não. Contudo, ao apontarmos algumas características estruturais do poema
mostraram-se familiarizados com o gênero.
Partindo dessa sondagem inicial, passamos a apresentar o que é a poesia, como
reconhecer uma e suas características estruturais básicas (estrofes, versos e rima). Convém
ressaltar que, embora no planejamento inicial objetivássemos trabalhar com eles a divisão
43

silábica e a metrificação, ao percebermos as limitações de leitura e escrita, optamos por


restringir a atividade aos aspectos mais elementares da estrutura do poema.
Desenvolvemos, em seguida, uma atividade a partir do recurso pedagógico “Caixa
Surpresa” (imagem 6).

Imagem 6 – Caixa Surpresa

Fonte: arquivo das pesquisadoras (2021).

Colocamos, nessa caixa, fichas com determinadas palavras e suas respectivas


ilustrações (exemplo: cadeira, sofá, janela, nariz, ouro, mão, entre outras palavras) e, ao puxar
uma dessas fichas, cada aluno era motivado a dizer outra palavra que sonorizasse em rima.
Após a construção de rimas por todos os estudantes, colocamos na mesma “Caixa
Surpresa” cartões com sextilhas de poesias dos repentistas colaboradores, extraídas dos livros
“Fragmentos do Sertão” e “Memórias, versos e contos” do poeta Tico Amaro e também da
entrevista com o poeta João Beco. Nesse segundo momento da dinâmica, ao retirar um cartão
da caixa, cada criança realizava a leitura da sextilha em voz alta e procurava identificar as
rimas nela presentes. Para tanto, valemo-nos novamente do uso do recurso dos fantoches à
participação de todos os envolvidos, mesmo aqueles que apresentavam dificuldades na
execução da atividade proposta (imagem 7).
44

Imagem 7 – Fantoches utilizados

Fonte: arquivo das pesquisadoras (2021).

Ainda com os fragmentos poéticos retirados pelos alunos da caixa, trabalhamos a


classificação das estrofes pela quantidade de versos, explicamos as diferenças entre poesia
clássica e popular e fizemos uma breve apresentação dos poetas que estariam com eles no
próximo encontro. Culminando este 2º momento, solicitamos que cada estudante ilustrasse a
poesia por ele retirada da “Caixa Surpresa”.

 3º momento:
Para o terceiro momento proporcionamos uma roda de conversa entre os estudantes
participantes da pesquisa, os poetas Tico Amaro e João Beco e as professoras colaboradoras.
Conduzimos os poetas ao ambiente escolar para que contassem aos estudantes as suas
histórias de vida, suas experiências e também para que declamassem a poesia de repente.

Imagem 8 – Roda de conversa com os poetas repentistas

Fonte: arquivo das pesquisadoras (2021).

Após a fala dos poetas, os estudantes puderam fazer-lhes perguntas, sanando dúvidas e
curiosidades. Na oportunidade, com o uso de fantoches, de forma coletiva recitamos ainda o
cordel “Criança responde”, de Isaura de Melo Souza. A cada estrofe desse cordel são
45

apresentadas características de algum animal, de modo que, ao final, à construção da rima, o


leitor/ouvinte é levado a adivinhar a quem se refere. Os alunos, então, eram motivados a
adivinharem os animais a que se referiam as estrofes e a completarem as rimas.
Ainda neste 3º momento, estimulamos cada estudante a construir pequenas estrofes a
serem apresentadas no Festival de Poesia que aconteceu na semana seguinte.

 4º momento:
O Festival de Poesia, quarto e último momento da intervenção, teve o escopo de
despertar nos estudantes um maior apreço e familiaridade com a poesia popular, reunindo
suas produções poéticas de modo a serem apreciadas pelos poetas, professoras, direção da
escola e colegas.

Imagem 9 – Festival de Poesia

Fonte: arquivo das pesquisadoras (2021).

O festival foi um trabalho colaborativo. Estudantes e professoras ajudaram-nos na


organização do espaço. Foi construído um mural com as ilustrações realizadas no segundo
momento da intervenção e ainda um varal com cordéis que disponibilizamos.
Iniciamos o momento com canções populares e folclóricas que também fazem uso da
rima, a exemplo de “Caranguejo não é peixe”, “Peixe vivo”, “A casa”, “A canoa virou”. Após
isso, cada participante declamou a poesia construída a todos os presentes. Por fim, premiamos
todos que desenvolveram a poesia e participaram da intervenção pedagógica.
46

3 PERCORRENDO AS VEREDAS DA LITERATURA: A POESIA NASCE NO SEIO


POPULAR

A arte da literatura tem relevância ímpar no processo de formação dos sujeitos por se
tratar de uma manifestação histórica, política e cultural da humanidade em todos os tempos.
Assim, ela passa a ser presente na vida humana devido à necessidade de fruição, deleite,
fabulação a que todos estão propensos. Com o surgimento da Teoria da Literatura,
pesquisadores elencaram alguns critérios de modo a auxiliarem a classificação do que seria,
de fato, tratado como literário. Tudo que fosse impresso, os livros que fossem considerados
como grandes clássicos (pela questão estética e intelectual) eram tratados como literatura
(WELLEK; WARREN, 2003).
Outra questão que justifica a classificação do texto literário como texto impresso se dá
pelo próprio sentido etimológico da palavra literatura. Esta provém do latim littera que
significa letra e assim a relaciona com a escrita, afastando assim o critério da literatura oral ou
imaginativa do conceito de literário. Todavia, hoje entendemos que nem toda manifestação
verbal que se relaciona com a literatura apresenta necessariamente registros escritos
(ZILBERMAN, 2009).
Por esse ângulo, Wellek e Warren (2003, p. 13) destacam,

[...] a limitação aos grandes livros torna incompreensível a continuidade da


tradição literária, o desenvolvimento dos gêneros literários e, na verdade, a
própria natureza do processo literário, além de obscurecer o pano de fundo
das circunstâncias condicionantes sociais, lingüísticas [sic], ideológicas e de
outros tipos.

Para compreender melhor o texto literário como produto de toda e qualquer


manifestação verbal basta olharmos para os primeiros textos literários do Ocidente, os poemas
épicos “Ilíada” e “Odisseia”. Apesar desses clássicos serem outorgados a Homero, tratam-se
de produções da tradição oral da Antiga Grécia (ZILBERMAN, 2009).
Na antiga sociedade grega, a literatura foi utilizada como instrumento de registro de
regras políticas, religiosas, legais, familiares, de modo que fossem essas transmitidas
continuamente às gerações futuras. Para que tais crenças e valores ficassem gravados na
memória dos gregos, faziam uso de uma linguagem regida pelo ritmo e métrica: a poesia
(HAVELOCK, 1996). Desde então já se concebia que a memorização de um texto poético é
mais acessível que a de um texto em prosa.
47

Desta feita, ao longo do tempo, a concepção de Literatura passou a ser ressignificada,


de modo a incluir nela toda manifestação poética ou criação artística expressa, seja na
oralidade, seja na escrita. A esse respeito, Candido (2011, p. 174) elucida:

Chamarei de literatura, da maneira mais ampla possível, todas as criações de


toque poético, ficcional ou dramático em todos os níveis de uma sociedade,
em todos os tipos de cultura, desde o que chamamos folclore, lenda, chiste,
até as formas mais complexas e difíceis da produção escrita das grandes
civilizações.

Assim, entendemos que literatura é a representação do mundo, é a expressão de uma


determinada linguagem, de modos específicos de enxergar a realidade. Por essa ótica, Coelho
(2000, p. 27, grifo da autora) também afirma:

Literatura é uma linguagem específica que, como toda linguagem, expressa


uma determinada experiência humana, e dificilmente poderá ser definida
com exatidão. Cada época compreendeu e produziu literatura a seu modo.
Conhecer esse "modo" é, sem dúvida, conhecer a singularidade de cada
momento da longa marcha da humanidade em sua constante evolução.
Conhecer a literatura que cada época destinou às suas crianças é conhecer os
ideais e valores ou desvalores sobre os quais cada sociedade se fundamentou
(e se fundamenta...).

De fato, o texto literário é um poderoso instrumento de formação, informação e


humanização do ser. A literatura nos possibilita conhecer novas realidades, formar novas
concepções acerca da leitura de mundo, compreender questões histórico-culturais de um
determinado espaço temporal e, assim, colabora à formação humana e produção de
conhecimento.
À luz da teoria, as primeiras manifestações literárias no Ocidente surgiram na Idade
Média por meio de duas fontes: a popular e a culta. Coelho (1985, p. 19, grifos da autora)
explica que:

A de fonte popular é a prosa narrativa exemplar, derivada das antiqüíssimas


(sic) fontes orientais ou grega. A de origem culta é a prosa aventuresca das
novelas de cavalaria, de inspiração ocidental. Nestas, é realçado um
idealismo extremo e um mundo de magia e de maravilhas completamente
estranhas à vida real e concreta do dia-a-dia. Naquela, afirmam-se os
problemas da vida cotidiana, os valores de comportamento ético social ou as
"lições” advindas da sabedoria prática.

Tal fenômeno literário é, com efeito, caracterizado pelas narrativas literárias, pela
oralidade. As histórias, lendas, contos e poesias circulavam na Europa já entre os séculos IX e
48

X, tratando-se de narrativas populares que atualmente são conhecidas por literatura folclórica
e infantil (COELHO, 1985).
Segundo Bernd e Migozzi (1995), o conceito de literatura popular consiste em uma
problemática ideológica, sociológica e estética no que tange a origem cultural. É literatura
popular por que fala do povo? Por que foi escrita para o povo? Oriunda das massas populares?
Das classes desfavorecidas? Trata-se de literatura popular por abranger a multiplicidade de
suas formas?
As indagações supracitadas nos conduzem a uma mais complexa busca de como
podemos conceituar a literatura popular, tendo em vista que essa parece ser uma definição
bem controversa devido às terminologias “povo” e “literatura”. Nas palavras de Migozzi
(1995), existem três formas de compreender tal modalidade cultural: considerá-la como
sinônimo da literatura oral que surge com os folcloristas do século XIX na França; identificá-
la como literatura de colportagem6, ocupando-se apenas da literatura popular escrita; ou
compreendê-la como toda manifestação literária reprimida pela literatura oficial.
Enquanto que, para Luyten (1983), no Ocidente a literatura popular surgiu
inicialmente como manifestação leiga emancipada das correntes eclesiásticas, por utilizar a
linguagem regional. Por ser o latim língua oficial da Europa e único viés de comunicação, as
produções literárias eram, predominantemente, traduzidas para a língua latina.
Neste estudo, compreendemos que a literatura popular apresenta um valor
incomensurável para a sociedade, porque apresenta elementos que lhes são inerentes. Ela é a
expressão de um povo, suas memórias, tradições, identidades, e nesse sentido o texto literário
expressa o contexto social de cada época de uma forma ressignificada.
Para Cascudo (2006), ambas as fontes da literatura (popular e culta) apresentam como
característica a oralidade, consistindo fonte popular os jogos infantis, cantigas de rodas,
parlendas, adivinhações, contos, canto popular, lendas, anedotas, músicas anônimas,
improvisação poética, dentre outros.
Podemos dizer que a literatura oral é uma expressão da tradição de um povo
transmitido pela memória cultural de diferentes gerações. Segundo Santos I. (1995, p. 39), “ao
contrário do texto escrito, o texto literário oral encontra-se raramente isolado, ou produzido
como texto, mas sempre inserido num discurso, como mensagem em situação”. Isso porque
esse texto é objeto de posse cultural de um determinado grupo, sendo ele uma única via de

6
Literatura de colportagem tratava-se de livretos que continham poesias, orações, novelas, autos, entre
outros textos de origem popular.
49

acesso à memória cultural. Santos I. (1995, p. 39) ainda afirma que a literatura oral configura-
se também no:

[...] conjunto de textos literários que não encontram mais, na vida cotidiana
ou no ambiente habitual, os apoios memoriais que lhes permitiram
permanecer vivos: é portanto através do discurso sobre o passado, voluntária
e livremente desenvolvido, que a memória cultural se funda e se estrutura.

Tendo em vista, portanto, que o popular e o folclórico são de fontes orais,


consideramos necessário destacar a distinção conceitual de ambos. A esse respeito, Cascudo
(2006, p. 22) afirma que “a literatura folclórica é totalmente popular, mas nem toda produção
popular é folclórica”. O fenômeno literário como folclórico é caracterizado por quatro
elementos: a antiguidade, a persistência, o anonimato e a oralidade.
Para tornar mais claro tomemos os seguintes exemplos: as cantigas de rodas, as lendas,
os contos. Tratam-se, em sua maioria, de histórias antigas, não havendo registros históricos
sobre quem as escreveu, muito menos precisão cronológica de quando as expressões
surgiram, pois têm sido transmitidas de forma oral de geração em geração.
Nesse contexto, os contos dos Irmãos Grimm são exemplos de literatura folclórica,
pois nasceram na tradição alemã. Jacob e Wilhelm Grimm, além de colecionadores de contos
populares, eram pesquisadores, editores e tradutores. Gutzat (1986, p. 26) considera-os
“fundadores da etimologia, da filologia da Idade Média, da história do direito, da história da
língua, da ocupação científica com a literatura popular”. Suas histórias transcreveram contos e
lendas peculiares à cultura popular da Alemanha com o objetivo de reafirmar a herança
cultural germânica e só em um segundo momento vieram a ser readaptadas para a instrução e
educação moral das crianças burguesas.
Por este viés, Cascudo (2006, p. 34) declara que a finalidade da literatura oral “não é
distrair ou provocar sono às crianças, mas doutrinar, pondo ao alcance da mentalidade infantil
e popular, por meio de apólogos, historietas rápidas, o corpo de ensinamentos religiosos e
sociais que preside a organização do grupo”. Desse modo, entendemos que o objetivo
principal das narrativas literárias não se voltava inicialmente à fruição e deleite humano, mas
à instrução e educação de valores e costumes marcados pela tradição e memória de um grupo
social específico. O objetivo era fazer perpetuar nas futuras gerações os valores morais que
permeavam a comunidade popular.
Considerando que a literatura popular advinda da tradição oral retrata as características
culturais de um povo, destacamos, a esta altura, a literatura oral brasileira, que segundo
Cascudo (2006), envolve as manifestações populares mantidas pela tradição, compostas por
50

elementos dos povos indígena, português e africano. Cada povo possuía sua cultura, valores,
músicas, danças, histórias, e com o passar dos anos, no processo de formação do povo
brasileiro, todas essas influências foram amalgamadas, constituindo assim uma cultura
popular peculiar. Convindo, entretanto, salientar que a literatura contemplada como culta,
oficial e erudita advinha da soberania portuguesa no Brasil, enquanto que as danças, cantos e
tradições de matrizes indígenas e africanas eram caracterizados como literatura popular,
informal.
Ressaltamos que a literatura popular é fruto da literatura oral, apesar de haver uma
confusão acerca da identificação do erudito e do popular. A oposição existente entre os
conceitos de erudito e popular perpassam costumes, pensamentos, classes sociais. Segundo
Zumthor (1993, p. 119, grifos do autor):

Oral não significa popular, tanto quanto escrito não significa erudito. Na
verdade, o que a palavra erudito designa é uma tendência, no seio de uma
cultura comum, à satisfação de necessidades isoladas da globalidade vivida,
a instauração de condutas antônomas, exprimíveis numa linguagem
consciente de seus fins e móvel em relação a elas; popular, a tendência a alto
grau de funcionalidade das formas, no interior de costumes ancorados na
experiência cotidiana, com desígnios coletivos e em linguagem
relativamente cristalizada.

Segundo o autor, não é suficiente classificar o popular apenas pela oralidade e a


literatura erudita pela cultura escrita, isso porque há registros de literatura popular escrita,
como o exemplo do colportagem já mencionado. Desse modo, também não podemos afirmar
que uma é menos importante ou tem menos valor que outra. Cascudo (2006) utilizou o termo
literatura oral para designar as manifestações literárias provindas do conhecimento popular.
Todavia, apesar das expressões literárias orais estarem ligadas ao saber popular, isso não
implica dizer que provém de um povo analfabeto ou sem escolaridade.
Nesse viés, Zumthor (1997, p. 10) diz:

Ninguém sonharia em negar a importância do papel que desempenharam na


história da humanidade as tradições orais. As civilizações arcaicas e muitas
culturas das margens ainda hoje se mantêm, graças a elas. E ainda é mais
difícil pensá-las em termos não-históricos, e especialmente nos convencer de
que nossa própria cultura delas se impregna, não podendo subsistir sem elas.

Assim, os saberes populares e as tradições orais falam muito sobre a sociedade que
constituímos hoje, os valores e crenças que defendemos, cultuamos e vão sendo moldadas no
decorrer do tempo com as mudanças sociais. Por isso, consideramos importante destacar a
51

literatura popular como um mecanismo que possibilita compreender a sociedade atual,


compreender a construção de sua identidade, a forma como viviam os antepassados e a
perpetuar a tradição e memória de um povo.
À vista disso, entendemos que todo fenômeno literário considerado erudito tem, com
efeito, origem popular e que a distinção entre popular e erudito está na forma da produção
artística. Geralmente a cultura erudita ora é produzida pela elite, ora é produzida para tal. Ao
passo que a literatura popular acompanha as mudanças sociais que ocorrem na humanidade e,
assim como toda manifestação literária, apresenta características peculiares tanto da prosa
como da poesia.
O que as distingue, segundo Paz (1982), é que a poesia é uma expressão espontânea do
ser humano, tendo em vista que corporifica o ritmo da própria linguagem. Já a prosa está na
racionalização do homem sobre a linguagem, considerando que linguagem é uma forma de
comunicação carregada de significados (POUND, 2006).
Dando continuidade a discussão, na subseção seguinte apresentamos concepções
teóricas que distinguem as terminologias poema e poesia, bem como suas condições
estruturais no âmbito da literatura formal.

3.1 Poema x poesia: discrepâncias e convergências conceituais

Em se tratando da poesia, consideramos relevante trazer para esta discussão a


distinção entre poesia e poema, pois, apesar de serem utilizadas para definir um único objeto,
não se confundem. Geralmente aprendemos que a diferença entre ambas está nas rimas ou na
sua estrutura, mas segundo Paz (1982, p. 17),

[...] o poema é criação, poesia que se ergue. Só no poema a poesia se recolhe


e se revela plenamente. É lícito perguntar ao poema pelo ser da poesia, se
deixamos de concebê-lo como uma forma capaz de se encher com qualquer
conteúdo. O poema não é uma forma literária, mas o lugar do encontro entre
a poesia e o homem. O poema é um organismo verbal que contém, suscita ou
emite poesia. Forma e substância são a mesma coisa.

Desse modo, podemos entender que a poesia pode ser encontrada na subjetividade do
poema. A poesia nos invade, nos toca, ela acontece no decorrer da leitura do poema. A poesia
aparece na forma de olhar o mundo, está marcada por uma experiência pessoal. A leitura oral
do poema possibilita ao leitor experienciar a poesia. À vista disso, Paz (1982) ainda destaca o
fato de haver muitos poemas sem poesia.
52

Considerando a poesia como um gênero da literatura, Havelock (1996, p. 189) trata-a


como “uma invenção de antigüidade [sic] imemorial, destinada ao propósito funcional de
prover um registro contínuo em culturas orais”, tendo em vista que a métrica e o ritmo que
caracterizam o texto poético facilitavam a memorização e assim promovia a perpetuação da
herança cultural.
Assim, poesia é um fenômeno literário no qual o poeta apresenta, de maneira
metrificada e ritmada, o seu conhecimento de mundo, sua maneira singular de olhar para a
realidade, de sonhar, de pensar. Conforme Chklovski (1976, p. 39, grifo do autor), “a poesia é
uma maneira particular de pensar, a saber, um pensamento por imagens; esta maneira traz
uma certa economia de energias mentais, uma „sensação de leveza relativa‟, e o sentimento
estético não passa de um reflexo desta economia”.
Por este viés, constatamos que a linguagem poética é uma maneira de representar o
mundo em um determinado espaço temporal por meio da imagem, ou seja, de uma linguagem
desautomatizada e estética, considerando que busca relações entre termos/palavras que não
são utilizados no cotidiano para fins específicos. Dessa forma, o rompimento com termos e
estruturas corriqueiras nos leva à função estética da linguagem poética.
Complementando o conceito de Chklovski, na mesma linha, Paz (1984, p. 19) afirma:

Na história da poesia do Ocidente, o culto ao novo, o amor pelas novidades,


surge com uma regularidade que não me atrevo a chamar cíclica, mas que
tampouco é casual. Há épocas em que o ideal estético consiste na imitação
dos antigos: há outras em que se exalta a novidade e o inesperado.

Desse modo, poesia é arte, movimento, conteúdo. É um estilo de linguagem que


envolve um conjunto de escolhas estéticas com o intuito de provocar sensações. A linguagem
poética é inesperada, criativa. Sobre isso, Tabares (2013, p. 5, grifos do autor) também
declara:

La poesía es posibilidad de encuentro entre el género y la idea ya que es allí


donde se manifiesta el pensamiento. La expresión dentro de la obra poética
tiene como propósito entablar un diálogo con el ámbito literario, en este
caso, el sapiencial, el lenguaje poético. La poesía es, pues, un ámbito
particularmente revelador de la creación literaria ya que cumple una función
muy concreta dentro de la existencia humana, y esto cuando el hombre la
adopta como uno de los modos de “reaccionar” de esta existencia frente a la
realidad que la circunda. 7

7
Tradução das autoras: A poesia é a possiblidade de encontro entre o gênero e a ideia, pois é aí que se
manifesta o pensamento. A expressão dentro da obra poética tem como propósito estabelecer um
diálogo com o campo literário, no caso, a sabedoria, a linguagem poética. A poesia é, portanto, um
53

Por isso mesmo, compreendemos que o conceito de poesia não está restrito à rima e
métrica estrutural, mas envolve a manifestação dos anseios humanos, a descrição de situações
distantes do convencional. A poesia é uma revelação da criação literária que cumpre uma
finalidade estritamente humana: a manifestação dos pensamentos, na relação entre o gênero e
o âmbito das ideias.
Corroborando esse pensamento, recorremos novamente às palavras de Paz (1982, p.
15) quando afirma que:

A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de


transformar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza;
exercício espiritual, é um método de libertação interior. A poesia revela este
mundo; cria outro. [...] Sublimação, compensação, condensação do
inconsciente. Expressão histórica de raças, nações, classes. Nega a história:
em seu seio resolvem-se todos os conflitos objetivos e o homem adquire,
afinal, consciência de ser algo mais que passagem. Experiência, sentimento,
emoção, intuição, pensamento não-dirigido. [...] Arte de falar em forma
superior; linguagem primitiva. Obediência às regras; criação de outras.
Imitação dos antigos, cópia do real, cópia de uma cópia da Idéia. Loucura,
êxtase, logos. Regresso à infância, coito, nostalgia do paraíso, do inferno, do
limbo. Jogo, trabalho, atividade ascética. Confissão. Experiência inata.

Assim, na linguagem poética, o sentido da palavra está além da sua literalidade. A


palavra representa forma e conteúdo na composição da arte estética poética. A poesia trata da
realidade, mas esta não é explícita puramente como tal. Faz-se uso de uma linguagem
subjetiva, utilizando recursos estilísticos, como as figuras de linguagem, expondo ideias e
pensamentos de forma expressiva. Em complemento a essa perspectiva, Candido (1996, p. 11)
declara:

O estudo da poesia apresenta certas dificuldades especiais, porque no


universo prosaico o meio de expressão nos parece mais próximo da
linguagem quotidiana, e nós nos familiarizamos mais rapidamente com ele.
A linguagem da poesia é mais convencional e impõe uma atenção maior,
sobretudo porque ela se manifesta geralmente, nos nossos dias, em peças
mais curtas e mais concentradas, que por isso mesmo são menos acessíveis
ao primeiro contato.

A poesia apresenta características peculiares que dificultam, na maioria das vezes, a


sua leitura e análise, por não se tratar de uma linguagem utilizada corriqueiramente. Como

campo particularmente revelador da criação literária, já que cumpre uma função muito concreta na
existência humana, e isto quando o homem a adota como uma das formas de "reagir" desta existência,
frente à realidade que a cerca.
54

supracitado, essas características estão no estilo linguístico e na forma estrutural do texto


poético, por isso exige uma leitura aprofundada.
Ressaltamos, mais uma vez, que na Grécia Antiga os gregos utilizavam a poesia para
repassar sua tradição oral porque a composição poética é de fácil memorização, devido o
ritmo e métrica que lhe são características. Candido (1996) ressalta que a linguagem poética,
apesar de ser mais convencional, possibilita ao leitor e ouvinte diferentes possibilidades de
interpretações, e ainda desperta emoções e sensações em quem se deleita nessa arte, a partir
da utilização de uma linguagem expressiva, gerando determinados efeitos no discurso.
No subtópico seguinte trazemos alguns apontamentos estruturais do poema, a fim de
melhor compreendermos conceitualmente a linguagem poética e sua estrutura.

3.1.1 A linguagem poética e sua composição estrutural

Em relação às figuras de linguagem, a metáfora é a mais característica em poesias.


Para Aristóteles (2011, p. 76), a metáfora é a alma da poesia, “é a aplicação de um nome que
pertence a uma outra coisa, quer transferência do género [sic] à espécie, da espécie para o
género [sic], de espécie à espécie, quer por analogia”. Essa transferência de palavras está
relacionada à semelhança dos significados, à aproximação do sentido entre elas.
O gênero literário poético também evidencia expressões peculiares por meio de
aliterações, onomatopeias, repetições de rimas, assonâncias, catacrese, paronomásia, antítese,
entre outros, que trataremos mais adiante. Acrescentando a essa ideia, Candido (1996, p. 12)
afirma então que o conceito de poesia:

[...] é tomada como a forma suprema de atividade criadora da palavra,


devida a intuições profundas e dando acesso a um mundo de excepcional
eficácia expressiva. Por isso a atividade poética é revestida de um caráter
superior dentro da literatura, e a poesia é como a pedra de toque para
avaliarmos a importância e a capacidade criadora desta.

Nessa perspectiva, retomamos a percepção de criações poéticas como construção de


linguagem. O poeta, à medida que faz poema é construtor de linguagem, a partir de sua leitura
de mundo, de suas vivências, de seus saberes, entre outros. Como esclarece Pignatari (2005,
p. 11-12, grifo do autor), o poeta trabalha,

[...] as raízes da linguagem. Com isso, o mundo da linguagem e a linguagem


do mundo ganham troncos, ramos, flores e frutos. É por isso que um poema
parece falar de tudo e de nada, ao mesmo tempo. É por isso que um (bom)
55

poema não se esgota: ele cria modelos de sensibilidade. É por isso que um
poema, sendo um ser concreto de linguagem, parece o mais abstrato dos
seres. É por isso que um poema é criação pura – por mais impura que seja. É
como uma pessoa, ou como a vida: por melhor que você a explique, a
explicação nunca pode substituí-la.

Considerando, assim, a expressão poética como a arte da criação e da linguagem, com


base na Teoria da Literatura, pesquisadores e teóricos buscaram definir a poesia como gênero
literário. Nesse quesito, Aristóteles é considerado o precursor de uma reflexão acerca das
modalidades que caracterizam o texto poético.
No início de sua obra “Poética”, Aristóteles (2011, p. 37) apresenta: “falaremos da arte
poética em si e das suas espécies, do efeito que cada uma dessas espécies tem; de como se
devem estruturar os enredos, se se pretender que a composição poética seja bela [...]”.
Partindo dessa ótica, o autor destaca formas de definir os diversos tipos de criações poéticas.
Nas palavras de Silva V. (1968), o estruturalismo tem buscado definir tais gêneros
levando em conta os elementos que constituem o texto poético: o conteúdo que apresenta e as
estruturas linguísticas. Assim, o autor buscou distinguir a poesia considerando os elementos
internos e externos nas modalidades lírica, narrativa e dramática, sendo estas analisadas a
partir do conteúdo que cada poema apresenta.
A poesia lírica não nasce da necessidade do homem em descrever ou narrar um fato ou
acontecimento real, proporciona ao leitor um encontro com o ponto de vista do poeta e suas
subjetividades, suas emoções e sentimentos. Lírico é derivado do grego “lira”, um
instrumento musical utilizado no acompanhamento dos cantos poéticos da antiga Grécia. Esta
modalidade poética não compreende as descrições de um romance, narrações de fatos
cotidianos e pessoais, porque tais elementos constituem na representação objetiva do mundo
(SILVA, V., 1968), mas trata de temas como amor, saudade, morte e solidão. Também, não
há uma história a ser contada e nem pretende despertar no leitor/ouvinte a curiosidade de um
desfecho do poema. Tomemos, por exemplo, um dos clássicos poemas de Luiz Vaz de
Camões (1997):

Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver;


É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;


É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
56

É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;


É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor


Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

No poema transcrito, Camões expressa seus sentimentos em relação à essência


contraditória do amor. Trata exatamente do poeta que externaliza de maneira escrita o seu
modo de lidar e expressar sentimentos. Em termos estruturais, está composto em 02 (duas)
estrofes de 04 (quatro) versos e 02 (duas) estrofes de 03 (três) versos, resultando naquilo a que
denominamos soneto (GOLDSTEIN, 1985). Em que pese o aspecto estrutural, notamos que o
enfoque do eu-lírico é na subjetividade, no aspecto paradoxal do amor.
Distintamente, as poesias narrativas e dramáticas ilustram o mundo objetivo. A
narrativa revela uma esfera da vida real, compilando fatos e acontecimentos que envolvem o
homem e o contexto histórico e social que o integra. Na narrativa, denominada por Aristóteles
épica, há uma história ou fato a ser contado, seja ela de eventos heroicos, históricos ou
cotidianos. Permitimo-nos trazer, então, como exemplo o clássico “Mar Português” de
Fernando Pessoa (2008):

Ó mar salgado, quanto do teu sal


São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena


Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Do ponto de vista da temática, o poema contempla a conjuntura histórica das grandes


navegações portuguesas, caracterizadas pela separação familiar de esposos, pais, filhos e
namorados em busca do desbravamento marítimo. Fernando Pessoa, então, se vale da
narrativa para expressar a dor e o sofrimento de marinheiros e familiares.
57

No tocante à poesia dramática, esta, por sua vez, embora faça uso da narrativa, tende a
retratar acontecimentos e/ou conflitos vivenciados pelo poeta. A distinção com o gênero
narrativo está na relação existente entre ela e público (SILVA V., 1968). A poesia dramática
subdivide-se em: tragédia (retrata ações humanas que provocam medo ou terror), comédia
(trata de críticas realizadas de maneira irônica levando o leitor ou público ao riso), farsa
(semelhante à comédia, mas com menos personagens) e auto (aborda conteúdo de cunho
religioso). Apresentamos, a seguir, como exemplo de poesia dramática fragmento do terceiro
tema “A falência do prazer” da obra poética “Primeiro Fausto” de Fernando Pessoa (2014).

[...] O amor causa-me horror; é abandono,


Intimidade...
...Não sei ser inconsciente
E tenho para tudo [...]
A consciência, o pensamento aberto
Tornando-o impossível.
E eu tenho do alto orgulho a timidez
E sinto horror a abrir o ser a alguém,
A confiar nalguém. Horror eu sinto
A que perscrute alguém, ou levemente
Ou não, quaisquer recantos do meu ser. [...]

A estrofe faz parte de um conjunto de poemas organizados em formas de cenas no


texto poético de Fernando Pessoa. Nessa obra, o poeta trabalha temas como amor, vida e
morte com uma escrita voltada à ótica teatral. Desse modo, concluímos a estreita relação entre
o público e o drama na poesia dramática e ainda, em relação às três modalidades apresentadas,
que a poesia constitui gênero literário que tem o poder de despertar diferentes emoções.
Ademais, quer ora ganhe mais visíveis contornos de gênero lírico, narrativo ou
dramático, a poesia, como já ressaltado, se caracteriza pela facilidade de assimilação e
memorização em face da forma estrutural e musicalizada comum que assume. A poesia, cuja
gênese remete à oralidade, tem como princípio ser falada, declamada, recitada; e nós,
enquanto leitores e ouvintes, durante a sua declamação somos envoltos na articulação das
palavras, conduzidos na sonoridade musical que tal articulação promove.
Para Goldstein (1985, p. 8), “o ouvinte capta o apelo do texto, graças à harmonização
de todos os elementos, um dos quais, o ritmo”. Ainda segundo a autora, o ritmo na
composição poética se dá pela alternância de palavras com sílabas fortes e fracas, pela
repetição de letras ou palavras ou pode ainda ser definido pela métrica do poema, ou seja, o
tipo de verso que se utiliza. Diferente não ocorre com a poesia popular, conquanto guarde ela
as suas singularidades morfológico-estruturais.
58

Utilizando a criatividade na produção, mesmo que não faça uso de uma métrica de
apoio tradicional, o poeta popular pode, sim, imprimir na sua poesia um ritmo próprio, mesmo
porque, no decorrer da história, o ritmo poético foi entendido de diferentes formas. Sem
esquecermos ainda que a ritmação poética guarda estreita relação com a época e contexto no
qual foi produzido o poema (GOLDSTEIN, 1985).
Feitas tais considerações sobre o ritmo na poesia, convém também observamos que o
próprio sistema de metrificação dos versos poéticos possibilita a contagem das sílabas
poéticas, sendo possível através dele categorizar os próprios versos. A partir dos versos
regulares de 1 (uma) a 12 (doze) sílabas, Goldstein (1985) traz a classificação abaixo exposta.

Quadro 7 – Versificação poética (classificação)


NÚMERO DE SÍLABAS POÉTICAS DEFINIÇÃO
Uma sílaba Monossílabo
Duas sílabas Dissílabo
Três sílabas Trissílabo
Quatro sílabas Tetrassílabo
Cinco sílabas Pentassílabo ou Redondilha menor
Seis sílabas Hexassílabo
Sete sílabas Heptassílabo ou Redondilha maior
Oito sílabas Octossílabo
Nove sílabas Eneassílabo
Dez sílabas Decassílabo
Onze sílabas Hendecassílabo
Doze sílabas Duodecassílabo
Treze sílabas ou mais Alexandrinos
Fonte: Goldstein (1985).

Ademais, em termos de classificação morfológica-estrutural, também os poemas


podem ser distinguidos em relação às estrofes que o compõem, consoante apresentado no
quadro seguinte.

Quadro 8 – Classificação por estrofes


NÚMERO DE ESTROFES NOME DA ESTROFE
Dois versos Dístico
Três versos Terceto
Quatro versos Quadra ou quarteto
Cinco versos Quinteto ou quintilha
Seis versos Sexteto ou sextilha
Sete versos Sétima ou septilha
Oito versos Oitava
Nove versos Novena ou nona
Dez versos Décima
Fonte: Goldstein (1985).
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Em suma, o entendimento que temos acerca da literatura consiste em tê-la como a arte
da palavra que expressa a história e as mudanças sociais e culturais da humanidade por meio
tradição oral. Independentemente da estruturação que assuma e de como esteja classificada,
indubitável é que o gênero literário poesia há muito conserva as culturas e tradições, a
memória dos povos.
Nessa esteira, no que tange à poesia popular de produção oral, temos o repente,
marcado pelo improviso. O repente, como a própria denominação leva a compreender, surge
“de repente”, ou seja, súbita e inesperadamente, é lançado para encantar os espectadores tanto
em forma de declamação quanto de cantoria (LUYTEN, 1983).
Em termos de análise estrutural, de um modo geral, os poetas repentistas não se
preocupam com a metrificação dos versos. O interesse maior é conquistar a atenção do
público ouvinte pela rima, não importando se os versos apresentam ou não a mesma contagem
de sílabas poéticas. Tomemos por análise o par de decassílabos de Tico Amaro, colaborador
da pesquisa, cujo fragmento foi retirado do livro “Memórias, versos e cantos” (2016).

Resolvi passar um dia


Na casa que nasci nela
Não encontrei mamãe bela
Pra me fazer companhia
Papai também eu não via
Veja o que o tempo faz
Onde moravam meus pais
Hoje não tem um parente
Está tudo diferente
De muitos anos atrás

Vi a antiga cabana
Parecendo algum deserto
E o terreiro coberto
De rama de gitirana
Aquele sítio de cana
Também não existe mais
No curral dos animais
Hoje tem mato somente
Está tudo diferente
De muitos anos atrás

As duas estrofes possuem 10 (dez) versos e por isso, sem maior dificuldade, podemos
classificá-las por décimas. Já em relação aos versos, quanto à escansão silábica, percebemos
que não seguem uma padronização, contendo eles 6 (seis), 7 (sete) e até 8 (oito) sílabas
poéticas. Quanto a isso, pela estrutura heterométrica apresentada, conforme classificação de
Goldstein (1985) podemos compreendê-los como de versos livres. Reafirmamos com isso o
60

fato de que o poeta popular não se cinge pela preocupação métrica, mesmo porque a poesia
popular é produto social que ressoa também a voz e anseio do povo.
Nesse sentido, Perdigão (2010, p. 25) ressalta:

A arte da cantoria e da poesia declamada é arte também de se apresentar, de


barganhar direitos e privilégios. Arte articulada no plano político e
econômico, devolvida às ações costumeiras, cotidianas. Tomando-a não
apenas como produção fortuita, mas como labor diário de criação. Arte da
vida. Arte da ação de homens simples e de criatividade tamanha.

Com efeito, os versos populares guardam questões e experiências individuais dos


poetas, mas também impressões, visões e aspirações coletivas da comunidade em que está
inserido. Na condição de artista do povo, muito além de reconhecimento individual da sua
poesia, o poeta popular busca a valorização daquilo que canta, declama e vive, isto é, das suas
origens. Tal postura não desmerece o caráter da produção intelectual da poesia popular, pelo
contrário, ressignifica a concepção de conhecimento formal.
Além disso, a poesia popular de repente exige técnica, conhecimento e manejo com as
palavras, independentemente do grau de escolaridade dos que a ela dão vida. Como esclarece
Perdigão (2010, p. 72):

A técnica central da poesia oral localiza-se, sobretudo, no poder de manejar


as palavras. Quando verbalizadas, as palavras têm de ser continuamente
repetidas para não se perderem. Tais palavras estão sempre conectadas com
o cotidiano, acervo fácil de memorização. A memória, nesse caso, exerce um
papel muito diferente, na cultura oral, daquele que é exercido na cultura
escrita.

Por este viés, a poesia popular de modalidade móvel carece de habilidade na


coordenação e o manejo das palavras. O poeta popular repentista se vale da memória, dos
significados armazenados a partir de sua leitura de mundo, estabelecendo conexões
instantâneas com valores, crenças e opiniões nos versos que declama.
Passamos agora a discorrer a respeito da poesia popular no Brasil.

3.2 Poesia popular no Brasil

A poesia popular no Brasil teve forte influência das poesias trovadorescas de Portugal
e estas cantigas poéticas, por sua vez, da cultura popular francesa e ibérica. Foi, pois, a partir
das trovas portuguesas, com as fortes temáticas de cunho religioso que se teve o prenúncio da
61

poesia popular brasileira. Moreira (2006) afirma que os imigrantes faziam poesia para
acalentar a saudade de suas terras.
Historicamente, as manifestações populares poéticas no Brasil surgiram na região
Nordeste, no período colonial, por influências do estilo de poesia dos trovadores provençais
(SANTANA, 2009). Moreira (2006) ressalta que foi no território paraibano que nasceu a
poesia popular brasileira, nas regiões de Teixeira, Patos, Pombal, Paulista e proximidades,
estendendo-se este “berço poético” ao Vale do Pajeú no Pernambuco e Vale do Seridó, no Rio
Grande do Norte. A união dos três estados constituiu, então, uma verdadeira “Tríade Poética”
(MOREIRA, 2006).
No estado da Paraíba não foram poucos os nomes que se destacaram na história da
poesia popular: Agostinho Nunes da Costa (1797-1858) e Nicandro Nunes da Costa (1829-
1918), pioneiros da cantoria na região; Manuel Galdino Bandeira (1882-1955), conhecido
nacionalmente por declamar para o presidente Getúlio Vargas; Francisco das Chagas Batista
(1882-1930), renomado cordelista (MOREIRA, 2006) e Leandro Gomes de Barros (1865-
1918), poeta e repentista consagrado como “pai da Literatura de Cordel brasileira”, entre
outros. Francisco das Chagas e Leandro de Barros, por exemplo, escreveram juntos “algumas
das mais belas páginas da história da cultura brasileira” (HAURÉLIO, 2019).
Confirmando que a poesia popular brasileira é de origem nordestina, Diegues (1973, p.
14) evidencia que:

As condições sociais de formação do Nordeste como que predispuseram para


que pudesse surgir, desenvolver-se, e tomar características próprias este tipo
de manifestação cultural [...] deram oportunidade para que se verificasse o
surgimento de grupos de cantadores como instrumentos do pensamento
coletivo das manifestações da memória popular.

Assim, os poetas foram aprimorando essa arte, incutindo na poesia características que
lhe são próprias, consagrando a tradição que era repassada de geração em geração e,
paulatinamente, extrapolando os limites da região Nordeste. Santos I. (1995, p. 35) declara
que “a literatura popular brasileira, oral e escrita, em particular no Nordeste, não é composta
de relíquias, vestígios pacientemente recolhidos antes de desaparecer para sempre: é uma
poesia viva e atual”.
Nesse sentido, o processo de migração do povo nordestino para as Regiões Centro-
Oeste e Sudeste em busca de trabalho e oportunidades possibilitou também que a poesia
popular fosse conhecida nos outros estados (ÂNGELO, 1996). Contudo, tratou-se de um
processo cheio de estigmas devido à marca discriminatória que até hoje existe sobre os
62

nordestinos. Para Ângelo (1996), os poetas populares tachados como “paraíbas”, “cabeças
chatas” e “baianos” foram ganhando espaço na medida em que as cantorias, os repentes e os
cordéis atraíam o interesse do público sudestino. O preconceito com o Nordeste nunca foi,
para o poeta nordestino, causa de constrangimento.
Como manifestação de saberes, conhecimentos e reafirmação de uma identidade, a
poesia popular assume os contornos de poesia fixa e móvel. Sobre tal classificação da poesia
popular, Luyten (1983, p. 23-24) distingue:

[...] a fixa seria o cordel, que pode ser decorado e passado pelas pessoas ao
longo dos tempos e espaços; a móvel é representada pelos repentes,
improvisações, ritmos e rimas com determinados temas, as emboladas,
dentre outros. Geralmente esses versos não se repetem e muitos se perdem,
mas não causam prejuízo, porque há uma gama de criatividade neles e o
povo sempre os reproduz e atualiza a partir da memória.

Desse modo, considerando a classificação da poesia popular quanto aos modos de


produção, temos o cordel, a cantoria e o repente. O primeiro compreendido como a produção
escrita em folhetos contendo xilogravuras e tradicionalmente vendidos nas feiras e eventos
religiosos, e os dois últimos caracterizados pela produção oral, pela habilidade da
improvisação na declamação de versos, acompanhados ou não da viola.
A gênese da literatura de cordel remete a Portugal, quando já estava associada à
comercialização das produções em folhetins suspensos em barbantes para melhor visibilidade
e atração do público que manifestasse interesse. Conforme diz Borges (apud CAVALCANTI,
2007), foi por influência portuguesa que as primeiras manifestações do cordel, no Brasil,
surgiram no solo paraibano, no final do século XIX e início do século XX.
Distinguindo-se do cordel, o repente é uma modalidade poética caracterizada pelo
improviso. Luyten (1983) afirma que os repentes são poesias improvisadas por poetas
cantadores de viola (sós ou em duplas) que buscam encantar seu público por meio da
agilidade na formação dos versos. O poeta cantador está aberto a declamar poesias referentes
a diferentes temáticas, ele parte do interesse do seu público. Basta que lhe seja dado um mote
para que o desafio seja iniciado.
Devemos considerar, porém, que além da cantoria de viola há o repente, que surge
principalmente daquilo que inspira o poeta, seja a natureza, sua história, sua família, suas
conquistas. Diferentemente da cantoria, em que o violeiro é desafiado ao improviso, no
repente as palavras surgem de uma lembrança, de uma inspiração ou anseio. Marcados pela
oralidade, muitos dos versos do repente se esvaem com a declamação, outros são fielmente
63

guardados na memória dos repentistas e, mesmo que raramente, poucos deles são compilados
em registros escritos.
Como exemplo de repente não escrito, trazemos, a seguir, a nona declamada pelo
poeta João Beco por oportunidade da entrevista realizada. O poeta enunciara a poesia pela
primeira vez quando do início da construção de barragem da transposição do Rio São
Francisco na região, desde então, ele a guarda em sua memória.

Guardado na minha “mimória”


Riacho da Boa Vista
eu conheço a sua história
Onde tinha uma vaqueirama,
de “pernera” e de espora
Família Antônio Guiné
Por causa de uma mulher
Se essa água não vier,
a “curpada” é a senhora.

Retratando o anseio pela conclusão da tão sonhada e necessária transposição, sem


abrir mão do tom humorístico que sempre imprime aos versos, o poeta reafirma e cobra a
responsabilidade na concretização de tal projeto por quem de direito. Este repente tornou-se
registro escrito porque o poeta o declamou no momento da entrevista desta pesquisa, do
contrário, muito provavelmente perder-se-ia no tempo.
Ainda em relação à nona acima transcrita, percebemos que a linearidade métrica,
tampouco a norma culta da Língua Portuguesa são seguidas, mas o objetivo da poesia é
alcançado. A falta de escolaridade do repentista não foi empecilho a sua construção, do
contrário, fora suprida pela sua habilidade oral, pela sua leitura de mundo. Bastaram-lhe
palavras, as lembranças do sítio “Riacho de Boa vista” e a consciência das responsabilidades
políticas por parte das autoridades públicas.
Reforçamos, em face disso, que o repente é autêntica expressão artística dos saberes
de uma sociedade. O poeta repentista, tenha ou não formação acadêmica, é um leitor do
mundo e, com efeito, aborda em suas poesias suas compreensões a respeito da religião,
esporte, política, economia, seca, morte, identidade e cultura do seu povo.
Para Rodrigues (2012, p. 4), constitui patrimônio cultural:

[...] o conjunto de bens, materiais e imateriais, que são considerados de


interesse coletivo, suficientemente relevantes para a perpetuação no tempo.
O patrimônio faz recordar o passado; é uma manifestação, um testemunho,
uma invocação, ou melhor, uma convocação do passado. Tem, portanto, a
função de (re)memorar acontecimentos mais importantes; daí a relação com
o conceito de memória social.
64

Nesse sentido, a poesia popular de repente é também um patrimônio cultural a ser


preservado, posto que revela valores, tradições e história de um povo. O repente traz os
saberes, fazeres e expressões da comunidade local, por isso, precisamos enxergar a poesia
popular de repente como um bem cultural imaterial de distinto valor.
Em relação a isso, convém destacar que, no transcorrer desta pesquisa, em 11 de
novembro de 2021, o repente foi reconhecido como Patrimônio Cultural Brasileiro por
ocasião da 98ª reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural. Decerto, elevado à
categoria de patrimônio cultural formalmente reconhecido, o repente demandará ações
públicas de valorização e fomento, mesmo porque o repente constitui também a memória do
nosso povo.
Além da memória individual do poeta, na medida em que, como já mencionado, revela
as tradições e valores comuns, a poesia de repente é memória coletiva manifestada nas
elocuções do repentista. Nesse sentido, no que tange à correlação memória e texto poético
popular, Zumthor (1993, p. 140) ressalva:

[...] a memória não é livro senão em figura: ei-la designada palavra viva, da
qual emana a coerência de uma escritura; a coerência de uma inscrição do
homem e de sua história, pessoal e coletiva, na realidade do destino. Esse
interesse pela memória, [...] deve-se ao imenso papel desempenhado nessa
cultura pelas transmissões orais – trazidas pela voz, da qual a poesia,
constitui o lugar eminente.

A memória não configura mero fenômeno individual, ela também deve ser entendida
como um episódio construído coletivamente, que envolve as constantes transformações
sociais provocadas no decurso da história (POLLAK, 1992).
A esta altura, após termos discutido sobre a poesia popular no Brasil e compreendido-a
como autêntico patrimônio cultural, passamos agora a discorrer sobre a poesia popular no
ambiente escolar.
65

4 A POESIA POPULAR NA ESCOLA E A FORMAÇÃO DE LEITORES

Embora seja contemplada na Base Nacional Comum Curricular (2018), a poesia


popular não tem ocupado o devido espaço no ambiente escolar. Partindo de tal premissa,
discutimos, nesta seção, sobre a formação do leitor no âmbito da escola, sobre a inserção da
poesia no currículo formal e a possibilidade do seu uso enquanto recurso pedagógico de
incentivo à leitura.

4.1 A formação de leitores

Quando falamos de formação de leitores, é imprescindível discutirmos sobre a leitura.


Por isso nos perguntamos: o que é ler? Quais habilidades ou conhecimentos são inerentes à
prática da leitura? Ler é um ato exclusivo do alfabetizado? Tais inquietações norteiam a
escrita desta seção.
Quando questionamos o que é a leitura obtemos por respostas uma série de
concepções que convergem quanto a ser ela uma ação perene, indissociável e constante à vida
humana. Primeiramente, de acordo com pesquisadores como Descardeci (2002), Freire
(1989), Cosson (2020), Benevides (2008) e Saldanha (2013), a concepção de leitura está além
da mera decodificação do código escrito, apesar de assim ter sido entendida por muitos anos.
O conceito de leitura voltado à decodificação e à interpretação da mensagem escrita
ultrapassa o senso comum, alcançando o espaço escolar. Contraditoriamente a essa ideia,
entendemos atualmente que a leitura não consiste em uma ação isolada, mas envolve a
necessidade de interpretação do que está sendo lido, ou seja, uma compreensão dos
significados em que consiste a língua escrita, sua associação com o mundo externo. Como
esclarece Descardeci (2002, p. 20):

O chão, o papel, o tecido, as pessoas, e, mais modernamente, as mídias


eletrônicas, como o computador, são os portadores das mensagens que essas
representações comunicam. Assim, antes da escolarização, não só lemos o
mundo, como escrevemos o mundo, ainda que não com a utilização do
código valorizado pela escola.

Sob essa ótica, compreendemos que o sujeito se torna leitor muito antes de ingressar
no espaço escolar através do modo de olhar para o mundo a sua volta. A leitura de mundo
consiste, assim, em ler o quotidiano, as coisas, os objetos, as ações, os animais, as
construções, os signos. E ler os signos importa compreender as coisas através de uma
representação ideológica. Para Bakhtin (2010, p. 8), “todo signo é ideológico; a ideologia é
66

um reflexo das estruturas sociais; assim, toda modificação da ideologia encadeia uma
modificação da língua”. Podemos entender que, própria da leitura dos signos, a linguagem
oral e a escrita são criações e representações sociais que podem ir mudando com o
desenvolvimento sociocultural da sociedade.
Nessa esteira, as dimensões da linguagem e da realidade estão intrinsecamente
envolvidas, tendo em vista que o conhecimento de mundo, a leitura do mundo exterior,
acontece naturalmente. Permitimo-nos, então, exemplificar: ainda que não tenha
conhecimento formal a respeito das propriedades terapêuticas do boldo enquanto planta
medicinal, uma pessoa que cresce aprendendo que o chá de boldo é eficaz remédio para
problemas gastrointestinais, ao sentir uma dor estomacal muito provavelmente recorrerá à
citada erva para restabelecer sua saúde. A esse respeito, afirma Freire (1989, p. 9) que “a
leitura do mundo precede a leitura da palavra”.
Experienciando o mundo a sua volta, a partir do seu modo de pensar e agir, o sujeito
poderá associar o código escrito à sua realidade, compreendendo não só os signos como
também os significados. Vygotsky (1991), nesse sentido, entende que os signos constituem
um sistema de comunicação (a linguagem, a escrita e o sistema numérico), instrumentos de
mediação na interação “homem-ambiente”. O sistema de signos é internalizado por uma
produção cultural e provoca no sujeito mudanças comportamentais em consonância com as
manifestações culturais da atualidade.
Entendendo, assim, o signo como um meio de contato social entre o mundo e o sujeito,
concebemos a leitura do signo como prática social (BENEVIDES, 2008), prática essa que
permite ao leitor inferir suas impressões culturais e sociais no desenvolver da leitura.
Passando-se da compreensão da leitura de mundo à leitura da palavra, compreendemos que
não há neutralidade no ato de ler. Leitura é uma atividade social, política e cultural que é
construída e compartilhada pelos sujeitos; é também por meio dela que nos reconhecemos
como integrantes de uma coletividade (BENEVIDES, 2008).
Analogamente, Cosson (2020, p. 40) destaca:

A leitura é o resultado de uma série de convenções que uma comunidade


estabelece para a comunicação entre seus membros e fora dela. Aprender a
ler é mais do que adquirir uma habilidade, e ser leitor vai além de possuir um
hábito ou atividade regular. Aprender a ler e ser leitor são práticas sociais
que medeiam e transformam as relações humanas.

Assim, o leitor é concebido como um ser que interage no mundo e com o mundo, que
conhece sua realidade e a infere no andamento da leitura. Por isso consideramos relevante,
67

nesse estudo, tratar da formação de leitores no espaço formal da escola. Como espaço da
mediação do saber sistematizado da formação para a cidadania (BRASIL, 1996), a escola
precisa acompanhar os avanços culturais e sociais da modernidade. A formação de leitores há
de ultrapassar, a esta altura, a concepção do ato de ler como prática isolada de um contexto.
Como ratificado por Benevides (2008, p. 91):

A formação da leitura e dos leitores também repousa sobre aspectos que


ultrapassam os culturais. Existem aspectos políticos, históricos e sociais que
determinam o modo como a leitura é produzida e os modos de acesso a ela,
que precisam ser melhor analisados e compreendidos, principalmente pelos
educadores. Esses aspectos, durante um tempo muito longo, foram isolados e
a leitura manteve-se como atividade desvinculada de projetos políticos
maiores, essencialmente dos de caráter crítico e emancipatório.

De acordo com a autora, a prática da leitura tem, por muito tempo, sido desvinculada
da sua função social, o que inicialmente se deu por a leitura de livros ter sido restrita a
determinadas e seletas classes. Na Antiguidade, quando a Igreja Católica detinha o poder, o
acesso aos livros e ao conhecimento era limitado ao Clero, quando em muito atendendo aos
intelectuais da classe social favorecida. Os que não eram sacerdotes, não tinham propriedades
ou títulos eram indignos ao conhecimento (ECO, 2011). Ademais, mesmo com as mudanças
trazidas pela Revolução Francesa e os ideais iluministas, em um primeiro momento o acesso à
escola ainda se manteve exclusivo à burguesia.
No contexto brasileiro em específico, somente a partir do reconhecimento da educação
como direito de todos constitucionalmente assegurado (BRASIL, 1988) foi que escolas e
bibliotecas públicas passaram a abrir as suas portas para trabalhadores e filhos da classe
proletária, que se passou a ofertar um ensino público e gratuito sem distinção de classe ou
raça. Apesar disso, o ensino da leitura por muito tempo continuou a ser visto como atividade
mecanizada, limitado à decodificação da língua escrita e só mais recentemente passou-se a
repensar as formas de ensino a partir da própria ressignificação do ato de ler.
O leitor pode realizar sua leitura por hábito ou gosto e a forma como se desenvolve o
ensino da leitura no ambiente formal da escola pode contribuir ou não ao desenvolvimento
destes. Villardi (1999) destaca que apesar de gosto e hábito serem terminologias com
significados semelhantes, são distintas na ação prática.
O ato de ler é uma atividade constantemente realizada em sala de aula e que configura
os processos de ensino e aprendizagem. Por vezes, os saberes e informações são veiculados
por meio dos livros didáticos, apostilas, quadros, entre outros. Nesse caso, a leitura é
concebida como um hábito. O estudante lê porque precisa exercer essa prática para
68

desenvolver as atividades escolares, para assimilar os conteúdos das avaliações, para


responder questões, mas nem sempre porque é atraído pela leitura, porque gosta de ler. Nesse
sistema, quando não há uma proposta obrigatória de leitura, dificilmente esta é realizada.
Por isso, urge formar leitores para toda a vida (VILLARDI, 1999). É inconteste que,
enquanto detentores de liberdade, todos os indivíduos têm autonomia de escolha, o que não
poderia ser diferente em relação ao ato de ler. Não defendemos, assim, a imposição de que
todos gostem de ler, mas enfatizamos a necessidade de incentivar o gosto pela leitura, quer
seja para potencializar o aprendizado formal escolar, quer seja para o próprio
engrandecimento e desenvolvimento crítico do sujeito.
E uma das ferramentas que podemos utilizar para atrair o gosto dos estudantes pela
leitura é o texto literário. Como já enfatizamos no capítulo antecedente, a literatura é a arte da
palavra. A leitura de literatura possibilita o contar, encantar, formar e informar sujeitos. O
texto literário, para tanto, nos possibilita conhecer outras realidades, novas palavras,
diferentes culturas e crenças, diferentes pontos de vista; estimula a criatividade e imaginário
na tentativa de desvendar os segredos do enredo literário; estimula o senso-crítico quando
possibilita o confronto entre suas concepções e as ideologias apresentadas pelo autor da obra.
Nessa perspectiva, apresentamos a poesia popular como gênero literário e recurso de
incentivo à leitura a ser utilizado em sala de aula, compreendendo que pode auxiliar no
desenvolvimento não só do hábito, mas também do gosto pelo ato de ler.

4.2 O lugar da poesia popular na escola

Com base nas ideias de Candido (2011), toda manifestação literária é relevante à
formação do sujeito e precisa, assim, ter assegurado espaço em sala de aula.
Compreendemos, porém, que na formação de leitores, a poesia carece de ocupar lugar de
destaque nos trabalhos pedagógicos a serem desenvolvidos, já que é a arte que possibilita ao
leitor despertar a um novo mundo, a novas formas de encarar a realidade em que está inserido
(VILLARDI, 2008).
Não há dúvidas que a poesia fomenta a criatividade, imaginação e sensibilidade aos
sujeitos. Entretanto, apesar de tal potencial, ela ainda não tem alcançado o espaço adequado
na escola, “[...] de todos os gêneros literários, provavelmente é a poesia o menos prestigiado
no fazer pedagógico da sala de aula” (PINHEIRO, 2018, p. 11).
69

Como elucida Pinheiro (2018), tal impasse se deve em muito à forma pragmática que
o texto poético é trabalhado e às finalidades de sua utilização, ora apenas para ocupação com
a ortografia, ora para responder simples perguntas de exploração textual. E, no mesmo
sentido, complementa Amarilha (1997) que a falta de estímulo à poesia também decorre do
reducionismo do gênero que, na maioria das vezes, é utilizado em eventos festivos do
calendário escolar.
Assim, a poesia como a arte que nos sensibiliza, move, toca e impressiona não tem
chegado às escolas, considerando que, por vezes, na sala de aula tem sido trabalhado apenas o
conteúdo e estrutura poética. Nesse segmento, Sousa P. (2013, p. 36) aduz:

Quando a poesia se faz presente na escola é cercada pelo seguimento de


metodologias que, muitas vezes, têm como causa o desespero de professores
e, por conseguinte, o trabalho inadequado com o texto poético acaba por
distanciar ainda mais os alunos desta vivencia poética ao invés de aproximá-
los.

Em certa medida, o trabalho escolar tem desvirtuado o texto poético, limitando-o a um


instrumento de análise textual, apreensão de conceitos de metrificação, ritmo, rima,
composição, entre outros. Mas a poesia é também gênero textual que deve ser apresentado nas
escolas de uma forma prazerosa, e também como ferramenta ao desenvolvimento cognitivo e
cultural.
Nesse sentido, Amarilha (1997, p. 26) atribui “[...] essa situação pouco estimulante da
poesia, na escola, à precária atenção que temos dado ao gênero poético enquanto provedor de
estímulo intelectual, formação cognitiva e estética ao aprendiz mirim, consequentemente,
como provedor de prazer”. Analogamente, em relação à forma como a poesia é mediada na
escola, através de atividades pedagógicas que não potencializam a leitura e interpretação do
poema, tampouco estimulam o leitor a descobrir as entrelinhas do texto poético e por ele
despertar interesse, Lajolo (2011, p. 33) afirma:

[...] o compromisso das atividades sugeridas é com elementos exteriores e


secundários ao poema: não trabalham com estruturas internas e transformam
a leitura numa atividade reprodutora e repetitiva, em tudo homóloga às
funções que a escola, como instituição social, tende a cumprir.

A prática da leitura poética manifesta no leitor a subjetividade de um campo que


transcende a escola e a sua realidade. Assim, para Pinheiro (2018), poesia é sempre a
comunicação de uma experiência nova. Ela exterioriza a vivência do poeta e se relaciona com
a experiência do leitor. Sobre isso Fernandes (2020) complementa:
70

A poesia está conectada com o mundo exterior à escola e acreditamos que o


trabalho mais adequado é aquele que intermedeia o mundo conhecido pelo
aluno com o mundo que queremos apresentar-lhe durante o período escolar,
no intuito de que haja um entrecruzamento de valores, estruturas e prazeres
entre eles.

A poesia na escola é uma oportunidade de trabalhar o estímulo da subjetividade do


estudante, considerando que o texto poético se manifesta de diversas formas no dia a dia do
sujeito por meio da música, das redes sociais, das revistas, dos livros de literatura. Os gostos
dos estudantes precisam, então, ser utilizados como estratégias para fomentar o interesse pela
poesia, não se limitando, o docente, ao cumprimento de roteiros e sugestões trazidas nos
livros didáticos.
Muitas das vezes, os poemas em sala de aula são utilizados como base para a
transmissão de diferentes conteúdos curriculares, ou mesmo para a educação moral.
Observemos o conhecido poema “A rosa de Hiroshima” (1946), de Vinícius de Morais.

Pensem nas crianças


Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.

Comumente, o texto poético acima é utilizado em aulas de história que abordam a


temática da Segunda Guerra Mundial. Não há dúvidas que tal poema constitui formidável
recurso interdisciplinar para tratar do trágico e lamentável episódio às cidades de
Hiroshima e Nagasaki, todavia, em sala de aula é necessário que o docente permita ao
estudante o exercício pessoal da liberdade interpretativa sobre o poema.
Ao desenvolvermos o trabalho com a literatura nos atendo apenas aos aspectos formais
e às questões estruturais pré-estabelecidas corremos o risco de não viabilizar ao aluno uma
71

experiência literária prazerosa, consequentemente contribuindo para que não desenvolva o


gosto pela leitura.
Tomemos a seguinte sextilha, do poeta repentista Tico Amaro, retirada do livro
“Memórias, versos e cantos” (2016).

Nordeste tem a cultura


Mais bonita do planeta
Pequeno é o que confunde
Maria com Marieta
Quanto mais feia a lagarta
Mais bonita a borboleta.

À primeira vista, na medida em que trata da valorização da região Nordeste, o


fragmento pode ser trabalhado como contraponto a temática do preconceito regional entre
nordestinos e não nordestinos. Em sala de aula, entretanto, o mesmo fragmento pode despertar
a atenção dos estudantes para outras questões, a exemplo da concepção de beleza, de valores e
superações. Mesmo no ambiente formal de ensino, não podemos então tolher dos sujeitos as
diversas possibilidades da análise poética.
Pinheiro (2018, p. 17) esclarece que “como a formação da maioria dos nossos
professores, no âmbito da poesia, é ainda muito frágil, muitos deles se limitam a manter a
resposta que as coleções didáticas indicam, deixando de propiciar um espaço para a
discussão”. Os alunos podem, portanto, não ter um novo olhar acerca de “A rosa de
Hiroshima” ou de tantas outras produções por, o docente, não lhes ofertar tal possibilidade. Se
poesia é arte, esta precisa ser livre, livre ao olhar de quem a aprecia.
Precisamos compreender também que, para a experiência literária com o texto poético
ser exitosa, é preciso primeiro que o professor seja também leitor de poesia. Enquanto o
trabalho com a poesia acontecer restritamente de forma pragmática e conteudista, aquela
nunca possibilitará ao leitor uma vivência transcendente. E para que haja tal ruptura, é
necessário que primeiro o professor seja leitor de poemas (PINHEIRO, 2018).
Outra questão que não pode ser deixada de lado é que o poema tem o poder de ampliar
a nossa consciência, sublimar a nossa sensibilidade. Para que isso seja desenvolvido pelo
leitor, todavia, é preciso tempo, leitura e releitura. E, no caso da sala de aula, a prática
pedagógica também carece de ser estrategicamente intencionada a isso.
O professor precisa primeiro sondar as expectativas e interesses dos alunos. Quem são
nossos leitores? Quais os seus interesses e afeições? O que leem ou não fazem leitura? Tais
questões auxiliam o docente na promoção de uma experiência literária exitosa, tendo em vista
72

que a leitura que realizarão muito provavelmente terá uma melhor receptividade pelos
estudantes.
No que diz respeito à poesia para crianças, no caso do Brasil, Abramovich (1997) aduz
que, em sua maioria, os renomados literatas nacionais não apresentam versões voltadas ao
público infantil, enquanto que os poetas menos prestigiados tendem a fazer uso de palavras
corriqueiras. A poesia voltada ao público infantil, entretanto, não precisa ser moralizante,
boba, pequena ou com excesso de sentimentalismo. Poesia para crianças precisa ser boa,
incentivar o gosto e prazer pela leitura literária.
A qualidade da linguagem poética para crianças está não só na articulação das
palavras, mas no potencial de favorecer vivência de diferentes emoções e realidades. Ainda
que utilizada como recurso interdisciplinar, tem de ser divertida, lúdica, prazerosa, podendo
também contemplar múltiplas facetas da vida humana: tristeza, raiva, surpresa, sofrimento.
Retomando a discussão da necessidade de ser também o professor um leitor de poesia,
Abramovich (1997, p. 95) pontua:

Se a professora for ler um poema para a classe – que o conheça bem, que o
tenha lido várias vezes antes, que tenha sentido, percebido, saboreado. Para
que passe a emoção verdadeira, o ritmo e a cadência pedidos, que sublinhe o
importante, que faça pausas para que cada ouvinte possa cobrir – por si
próprio – cada passagem, cada estrofe, cada mudança...

Atentando-nos a isso, somos lembrados que a poesia possui uma característica


peculiar: a sua estrutura e composição musical pela rima e métrica. Por isso, a preparação do
professor para a mediação da poesia demanda a leitura, e mais que isso, o desenvolvimento da
entonação da voz, dos recursos faciais e corporais que potencializarão a experiência literária
em sala de aula.
A discussão sobre a formação leitora do professor tem sua pertinência por estar
intrinsecamente relacionada a uma formação de leitores para toda a vida. Para Saldanha
(2013), um professor leitor possui a capacidade de desenvolver uma prática emancipatória de
ensino que viabiliza a ação e a reflexão sobre a realidade que o cerca, porque a leitura literária
desenvolve no leitor habilidades cognitivas distintas.
Nessa esteira, Amarilha (1997) ratifica que um professor que não possui prazer pela
leitura não poderá formar leitores atraídos pela literatura. O trabalho com o texto poético na
sala de aula exige do professor um cuidado maior do que aquele desprendido para com a
prosa. Para isso, questão indispensável à mediação poética na sala de aula é que o professor
seja leitor de poesia, que conheça poemas clássicos e populares, que conheça as
73

peculiaridades do gênero trabalhado, entre outros, (PINHEIRO, 2018). A apropriação da


leitura literária pelo professor facilita a utilização de pausas e entonação de voz durante a
mediação literária.
O segundo critério (inclusive já citado) é conhecer os interesses dos estudantes com
vistas a intencionar as atividades que pretende realizar. Enquanto que o terceiro critério é
preparar o ambiente de mediação da poesia. O espaço precisa ser aconchegante e adequado,
de maneira que também favoreça o interesse e prazer pelo literário. Tais critérios contribuem
ao êxito no trabalho com a poesia na escola e devem também ser considerados no trabalho
com a poesia popular.
É sabido que a poesia popular, principalmente na modalidade de improviso, é
produzida a partir da leitura de mundo dos poetas. Apesar de, geralmente, não possuírem
escolaridade, não lhes falta leitura e habilidade poética para expressar o conhecimento, a
memória, a tradição, os valores e os costumes do seu povo. No caso da poesia popular de
repente, no improviso não faltam declamações sobre saberes sociais e culturais do poeta,
sobre a história individual e coletiva.
Assim, se a poesia considerada formal é contemplada nos livros didáticos e no dia a
dia da escola, por que a poesia popular é deixada de lado na sala de aula? No caso do repente,
ainda que costumeiramente provenha de pessoas campesinas e muitas das vezes não
alfabetizadas (MOREIRA, 2006), constitui autêntica manifestação histórica e cultural a ser
utilizada na prática pedagógica. Sua inserção na escola, além de profícuo recurso de incentivo
à leitura, favorece a preservação enquanto patrimônio imaterial do povo.
Apesar de ser um documento normativo sem boa aceitação entre a maioria dos
pesquisadores e parte dos professores de Educação Básica, a BNCC (2018) apresenta a poesia
popular como gênero textual a ser trabalhado nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. A
resistência ao documento, em muito se deve às mudanças na Educação Básica, destacamos: a
antecipação da meta de alfabetização do 3º ano para o 2º ano do Ensino Fundamental, a
inserção do ensino religioso, a retirada das temáticas relacionadas à identidade de gênero e
orientação sexual, entre outras.
Na BNCC (2018), a poesia popular é proposta para ser trabalhada, a princípio, com os
efeitos de sentido que são produzidos por diferentes meios, seja pela metrificação ou
versificação, seja pela dimensão imagética que o texto poético pode assumir. Nesse
documento, o trabalho com a poesia popular está previsto para os três últimos anos da
primeira fase do Ensino Fundamental.
74

A proposta contempla a apreciação, compreensão e interpretação de poemas, a


realização de leitura em voz alta e a compreensão estrutural do gênero. Por isso, o trabalho
com a poesia popular de improviso na escola pode, sim, ser um possível recurso a ser
utilizado ao desenvolvimento de tais habilidades, mesmo no caso da poesia oral.
75

5 A POESIA POPULAR DE REPENTE: PATRIMÔNIO CULTURAL E RECURSO


PEDAGÓGICO DE INCENTIVOÀ LEITURA

Nesta seção voltamos nosso olhar à concepção dos poetas repentistas colaboradores da
pesquisa a respeito do repente e das suas próprias produções, à percepção das duas
professoras participantes sobre a poesia popular e sua inserção em sala de aula e aos
resultados da intervenção pedagógica desenvolvida.
As reflexões aqui tecidas são resultantes das categorias de análise elencadas a partir
das entrevistas realizadas, conforme o já exposto no capítulo metodológico8. Para tanto,
ordenamos as categorias da seguinte forma: na subseção 5.1, A poesia popular pela ótica dos
poetas: sensibilidade, memória e tradição; na subseção 5.2, Incentivo e reconhecimento: a
poesia popular como patrimônio cultural; e na subseção 5.3, poesia popular na escola: o
professor leitor, a formação de leitores e o incentivo à cultura. Feito isso, na subseção 5.4
apresentamos, por fim, os resultados da culminância pedagógica desenvolvida por
oportunidade desta pesquisa no ambiente escolar.

5.1 A poesia popular pela ótica dos poetas: sensibilidade, memória e tradição

Nas entrevistas, os poetas Tico Amaro e João Beco retrataram suas relações com a
vida campesina desde a tenra idade. Ambos se posicionaram veementes em manifestar o
orgulho em serem do roçado, assumindo tal identidade cultural sem qualquer
constrangimento. Confirmamos, com isso, o que disse Moreira (2006) ao enfatizar as raízes
rústicas e ligadas à terra da maioria dos poetas repentistas.
Ao ser indagado sobre suas origens e de como despertou à habilidade da poesia de
improviso, Tico Amaro destacou:

Meu pai me levava muito pras cantorias... naquele tempo tinha muita
cantoria, meu pai me levava pras cantoria, e eu comecei a ver a métrica, ver
o jeito de cantar, e por ali eu fui descobrindo que eu levava jeito. Acabei do
jeito que, eu mesmo “moleque”, com uns 14 anos, eu ia pra uma cantoria, ali
tinha uma dupla cantando, e eu dizia: eu quero cantar com vocês. E eu
pegava a viola do colega e começava a cantar e agradava o povo... não sei
por que! Também, eu muito criança e o povo despertava com aquilo, né?! E
foi assim, né?! Ainda fiz cantoria... (TRECHO RECOLHIDO DA
ENTREVISTA DE TICO AMARO, 2021).

8
Quadro 6: Categorias de análise, página 40.
76

Em sua fala, o poeta pontua que desde cedo tinha afeições com a poesia de repente.
Por frequentar cantorias e ouvir seu pai, conhecido poeta da época, desde criança deixou-se
levar pela arte de improvisar. Entendemos, desse modo, que o improviso constitui habilidade
apreendida pelo sujeito, fruto de experiências em espaços que proporcionaram o contato com
a poesia popular. O poeta João Beco, na mesma linha, embora tenha somente desenvolvido a
habilidade do improviso na maturidade, também transparecera em sua fala que o repente
surgiu por influências familiares.

[...] Isso aí foi depois de velho... a mente despertou... que meu pai era muito
bom em poesia e eu não aprendi uma coisa que meu pai não fizesse, meu
irmão mais novo sabe e eu não sei... aí a mente despertou e eu faço umas
besteira, mas não como ele fazia. Até sábado, aqui, o caba tocando aí
gritava: “o poeta tá aqui, o poeta tá aqui...” Depois eu peguei e fiz uns
trabalhos9 aqui, e os caba acharam graça... (TRECHO RECOLHIDO DA
ENTREVISTA DE JOÃO BECO, 2021).

Nos enunciados transcritos, notamos que a habilidade de improvisar dos sujeitos está
ligada a uma herança familiar, o que justifica o fato de muitos dos versos da poesia de repente
contemplarem as lembranças e histórias vivenciadas pelos poetas (MOREIRA, 2006).
O fazer poético do repentista é um resgate de memórias. As memórias são relevantes
para compreendermos a vivacidade e coerência das palavras do poeta com sua história de
vida. Tais lembranças são impressões vivas do tempo remoto no contemporâneo. Em outras
palavras, a poesia popular é uma expressão viva que mantém o passado conectado ao
presente, que nos permite compreender as situações cotidianas do passado e como estas são
ressignificadas.
Sobre isso, Tico Amaro ressalva em sua fala: “[...] a poesia, ela toca na alma, ela toca
na lembrança... a poesia traz o passado para o presente, ela busca o futuro e traz para cá
também [...]” (TRECHO RECOLHIDO DA ENTREVISTA DE TICO AMARO, 2021).
Vemos, com isso, que a poesia popular é memória, mas não se restringe a vestígios passados,
alheios à modernidade. Como coloca Santos I. (1995), trata-se de uma expressão atual viva e
de reafirmação.
Como já discutido, os valores de comportamento ético social, situações diversas da
vida cotidiana e ensinamentos repassados por meio da literatura oral são provenientes da
sabedoria antiga popular (COELHO, 1985), mantendo assim viva a tradição do povo
nordestino. E a tradição foi, de fato, outra categoria que sobressaíra na fala dos poetas.

9
Termo utilizado pelo poeta para se referir à sua poesia.
77

Quando questionado sobre a importância da sua poesia e o sentido que representa para
sua vida, João Beco aduzira: “Ela é importante porque eu acho que isso é uma herança de meu
pai [...] é admirado por todo canto, porque não é pra todo mundo.” (TRECHO RECOLHIDO
DA ENTREVISTA DE JOÃO BECO, 2021). O sujeito compreende a poesia como um bem
deixado pelo pai. Os valores culturais são, para o nordestino, a riqueza que importa ser
herdada. Partindo desta fala, enxergamos a relevância da poesia para a vida do poeta popular,
tratada como um tesouro, um recurso peculiar à sua história, às suas raízes.
Ainda da transcrição, quando o poeta afirma que o repente “não é para todo mundo”,
converge também à concepção de que a aptidão para o improviso é um dom divino, o que
também foi apontado nas falas do poeta Tico Amaro. Ao perguntarmos a João Beco quem
teria ensinado-o a improvisar, incisivamente respondeu: “A poesia é um repente, um dom de
Deus. [...], num é todo mundo que nasce com esse dom. [...] Não é pra todo mundo não! Isso é
um negócio de Deus. Uma mente que Deus dá a pessoa fazer essas coisas, porque é
complicado.” (TRECHO RECOLHIDO DA ENTREVISTA DE JOÃO BECO, 2021).
O poeta repentista se permite mover pelas suas inspirações tratando suas habilidades
como dom concedido por um poder transcendental. Destacamos, frente a isso, a religiosidade
efusiva do nordestino. Para o sertanejo, tudo que é concedido por Deus é tratado como um
bem especial, e assim é o repente na vida do poeta, um tesouro precioso que não deriva das
suas próprias forças, mesmo porque que parte dos repentistas não possui alto grau de
instrução. A poesia do improviso é uma destreza divina e poucos são os afortunados em
possuí-la.
Enfatizamos, nas falas dos colaboradores, que a poesia é representação do mundo que
expressa uma realidade utilizando a sensibilidade das palavras. Assim, a linguagem poética é
singular na maneira de expressar a realidade, o pensamento, o conhecimento (TABARES,
2013). Questionado sobre o que seria a poesia, Tico Amaro, muito emotivo, declarou:

A poesia é o seguinte... ela é muito forte. É uma mensagem que só, como se
diz, quem tem sensibilidade reconhece o que é a poesia. [...] Até tem uma
estrofe que eu acho muito... assim, engraçada, porque ela foi construída
dizendo como é que o poeta vê as coisas... porque o poeta, ele tem um
mundo invisível. E você sabe que os gregos, eles endeusavam os poetas...
eles achavam que os poetas eram divinos. Os deuses, eles criavam deuses,
eles traziam aquelas mensagens que outras pessoas não sabiam trazer. E eles
achavam que os poetas eram divinizados... Como era que eles construíam
essas coisas? Como que eram mensagens de deuses que traziam pra eles?
Porque os poetas são desse jeito, eles têm um sentimento, eles veem o
mundo diferente. Às vezes, aonde você vê feio o poeta acha coisa bonita,
onde você vê coisa que talvez nem se restaure, o poeta sabe. Mas tem jeito,
se fizer assim, assado tem jeito... O poeta é desse jeito. Até tem uma
78

“estrofezinha” que eu achei engraçada, que diz assim: Um poeta tem uma
arte/De uma história faz cem/ Vai buscar não sei aonde/ Vai deixar não sei
aquém/ Como a figura do nada/ a procura de ninguém. (TRECHO
RECOLHIDO DA ENTREVISTA DE TICO AMARO, 2021 ).

Por este viés, a fala do poeta ratifica que a poesia é a arte de criar, de provocar e
expressar sensações, sentimentos, preocupações, incertezas, de manifestar os pensamentos e a
forma que o eu-lírico enxerga o mundo (PAZ, 1982), e com isso deparamo-nos com outro
portentoso aspecto da poesia popular: a sensibilidade do poeta. É ela quem permite enxergar
a realidade sob suas diversas formas e ordenar as ideias por meio da linguagem poética
adequando-as ao contexto. Tudo isso, claro, com um misto de sentimentos e razões.
Embora se distancie do cordel e de outras formas poéticas populares por não se
preocupar com a padronização métrica e rítmica em seus versos e estrofes, até mesmo porque
não é escrito, os versos de repente mantém como traço característico a sensibilidade daqueles
que o enunciam. Somando-se a isso, a criatividade, habilidade e zelo do poeta popular
contribuem para que se mantenha viva a tradição, em contraponto a ausência de registros
escritos (LUYTEN, 1983).
Ademais, concebendo o repente como memória e tradição, na fala dos nossos
colaboradores é notória a preocupação com a falta de incentivo e reconhecimento social para
com a preservação de tal manifestação. Em nosso diário de campo, registramos a inquietação
dos colaboradores quanto ao desinteresse da sociedade atual pela arte que produzem,
demonstrada segundo eles na falta de descendentes devotados à continuidade da herança
poética familiar, e mesmo na inexistência de ações de valorização por parte do Poder Público
local.
Com isso, passamos a tratar do reconhecimento e valorização do repente como cultura
popular local na subseção seguinte.

5.2 Incentivo e reconhecimento: a poesia popular como patrimônio cultural

A poesia de improviso é a voz do povo historicamente manifestada por meio da


linguagem poética. Ao ressaltar o valor da poesia de repente e quando questionado sobre o
possível fim desta, João Beco defende: “A poesia não pode acabar não... porque é a tradição
do sertão, pode acabar não” (TRECHO RECOLHIDO DA ENTREVISTA DE JOÃO BECO,
2021). O repente é um bem cultural e imaterial, não só do Nordeste, mas da história brasileira.
Analogamente, Santos C. (2016, p. 23) afirma: “A poesia popular se revela e se reveste do
dizer mais figurado e enfeitado da arte da linguagem, transportando-se pelo tempo de forma
79

livre, móvel e rica, embora ancorada na tradição”. Apesar de não ser uma linguagem fixa, o
repente é uma expressão artística fundamentada, a priori, na herança da trova portuguesa e, a
posteriori, na tradição moral, cultural e religiosa do povo nordestino.
Para os nossos colaboradores, ser nordestino e assumir a condição de poeta é uma
posição honrosa, por sentirem-se reconhecidos e valorizados. Ao expressarmos nossa gratidão
pela participação na pesquisa, os poetas fizeram a seguinte ressalva:

[...] também vou te agradecer. Sabe por quê? Por você se interessar por esse
assunto, apresentar o nosso trabalho, a poesia, a nossa cultura, que é uma
coisa que tá quase morrendo, né?! Faz até eu lembrar uma estrofe que certa
vez eu escrevi e eu achei ela engraçada e me chamou a atenção. Onde eu
declamava o povo gostava, entendeu?! E eu até escrevi ela em um dos meus
livros, não lembro qual, mas é uma poesia que fala assim: Quando ninguém
ouvir mais/ Zé Ramalho e nem Alceu/ Quando a viola virar objeto de museu/
Deus vem chorar no velório/ Da cultura que morreu. (TRECHO
RECOLHIDO DA ENTREVISTA DE TICO AMARO, 2021 ).

O que eu posso falar é o seguinte, que tô satisfeito porque vocês vieram


aqui... porque ninguém nunca veio na minha casa fazer essas coisa. [...]
Satisfeito ficou foi eu. (TRECHO RECOLHIDO DA ENTREVISTA DE
JOÃO BECO, 2021).

Reiteramos, com as falas supracitadas, a relevância de enaltecermos a poesia popular


como patrimônio cultural do município, colocando em evidência o trabalho poético dos
filhos da terra como símbolo de identidade cultural.
O repente é uma manifestação cultural que expressa a cultura, as crenças, os gostos e a
forma de pensar do sertanejo. Mais que isso, é uma expressão da identidade cultural
nordestina. Nas entrevistas notamos o desejo de valorização e reconhecimento da arte por
parte dos repentistas, bem como o anseio de não verem a cultura popular perecer.
Para um dos colaboradores, o esquecimento e a desvalorização da poesia popular local
pode ser resultado da falta de incentivo do estado e da educação:

[...] É que as pessoas não são trabalhadas, as pessoas precisam ser


trabalhadas, precisa de haver um incentivo... Teve o... governo que
antecedeu esses dois últimos que, ele incentivava, existia projeto. O
repentista, ele fazia um projeto e fazia isso, a cantoria na feira... [...] e você
fazia cantoria na feira, para o povo, para que a cultura continuasse! Mas isso
aí é uma coisa que nem todo mundo interessa, não é mesmo? Por isso que, às
vezes, a cultura até vai caindo... vai caindo no esquecimento. Isso porque
não tem incentivo. Então, é muito bonito uma pessoa como você ter
incentivo de... de colocar a cultura pra funcionar (TRECHO RECOLHIDO
DA ENTREVISTA DE TICO AMARO, 2021).
80

A esse respeito, indagamos o poeta sobre a que governo ele se referia, mas o mesmo
não conseguiu rememorar no momento da entrevista. Instigados, através da rede mundial de
computadores, realizamos buscas no site do Governo do Estado da Paraíba sobre projetos de
referida natureza, porém, não encontramos quaisquer vestígios de políticas públicas de
incentivo à cantoria popular.
A fala do poeta Tico Amaro é um clamor à necessidade de resgatar a cultura popular
no estado que deu origem a muitos dos nomes da poesia popular nacional como aqui já
citamos. Ao destacar que a entrevista foi com ele realizada justamente em um dia histórico,
dia da literatura de cordel (19 de novembro), o poeta ressalvou:

“Cê tá” vendo que coincidência ou “deuscidência”, não sei... porque o maior
poeta popular do Brasil se chamava... um paraibano com nome de Leandro
Gomes de Barros. Não sei se você conhecia. Ele nasceu na fazenda
Melancia, em Pombal, na Paraíba, no nosso estado. [...] depois ele foi
embora pra Recife/PE, ele se tornou... ele escreveu muitas obras, [...]. Foi o
maior poeta. Ele foi intitulado o maior poeta do Brasil [...] (TRECHO
RECOLHIDO DA ENTREVISTA DE TICO AMARO, 2021).

Chamou-nos atenção o amor e vasto conhecimento do entrevistado sobre a poesia e


sua história, não obstante a pouca escolaridade dele. O poeta relata a importância que tem,
para si, conhecer a história e a vida de outros poetas da região.
Corroborando o afirmado pelo entrevistado, sobre Leandro Gomes de Barros, Haurélio
(2019, p. 19-20) discorre:

Não é absurdo afirmar ser este autor o “pai da Literatura de Cordel


brasileira”, já que explorou e deu forma a todos os gêneros e temas,
preparando, assim, a estrada na qual os vates populares transitam ainda hoje.
[...] Na capital pernambucana, ao lado dos confrades Francisco das Chagas
Batista e Silvino Pirauá de Lima, Leandro ajudou a escrever algumas das
mais belas páginas da história da cultura brasileira.

Conhecer, assim, os poetas paraibanos que marcaram a história da poesia, a exemplo


de Leandro Gomes de Barros, é importante para resgatar e propagar a identidade cultural do
nordestino. Outrossim, para a propagação de tal identidade cultural, além de se assegurar a
inserção da poesia popular em sala de aula, é também necessário que esta seja tomada por
objeto de estudo. Nesse sentido, Tico Amaro enalteceu esta pesquisa ao afirmar:

A gente, você “tá” parecendo ser uma ativista da cultura... você cuidar da
cultura, você se preocupar com a cultura, isso é lindo! Isso é bonito. Você
“tá” de parabéns em fazer isso! [...] É uma pena sabe o quê? Eu já estar com
72 anos... não poder, daqui a 30 anos, a gente se encontrar na estrada da vida
81

e você dizer: deu certo. Mas você vai dizer, com certeza... (TRECHO
RECOLHIDO DA ENTREVISTA DE TICO AMARO, 2021).

Diante da inexistência de projetos culturais e políticas públicas locais voltadas ao


reconhecimento e valorização da poesia popular, o poeta manifestou sua alegria em ser
reconhecido por meio deste trabalho e defendeu que a educação escolar é um meio propício
para incentivar novos poetas e manter viva a tradição popular da poesia oral.
Em relação ao incentivo do poder público à literatura popular, o Governo do Estado da
Paraíba sancionou, em 15 de junho de 2021, a Lei nº 11.975, que instituiu no calendário
oficial do estado a Semana Estadual das Culturas Populares e Tradicionais da Paraíba, a ser
também contemplada no calendário escolar anual da rede estadual de ensino.
Embora a edição da citada lei constitua um avanço no que diz respeito ao incentivo e
reconhecimento da cultura popular, compreendemos que muitas outras medidas e políticas do
poder público estadual e municipal se fazem necessárias à efetiva preservação do repente
enquanto patrimônio cultural.
Ao reconhecimento da poesia popular, ademais, é importante estarmos atentos às
novas manifestações poéticas que surgem com o tempo. A poesia popular, aí incluso o
repente, não se exaure em si mesma, mas se reconfigura, se molda aos gostos e interesses das
novas gerações. Sobre isso, Tico Amaro destaca:

O povo está com o ouvido diferente, com um jeito diferente! Aí se chama a


transformação da cultura. O povo vai se transformando pra aprender outras
coisas e gostando de outras coisas... entendeu? Por isso que a gente deve
cultivar... pra ver se não morre. Aquelas pessoas que gostam, que admiram...
vale a pena cultivar, pra que ela vá mais adiante, não é mesmo?! Porque a
poesia nunca vai morrer, pode, sabe o quê?, ela se transformar, ficar outra
maneira... dizer... Porque a poesia, por exemplo, às vezes você tem um jeito
de dizer cantando, num jeito de samba... outro diz numa canção, outro diz
num repente, outro diz, sabe em que? num embolado. Outro diz diferente.
Cada um diz de um jeito. Então ela vai se transformando. [...] Ela pode
migrar pra outro estilo diferente, outro jeito... porque, por exemplo, num... se
você vê, nas favelas tem poetas e o que que eles cantam? Eles cantam o funk,
não é? Eles são poetas, porque se não fossem poetas eles não criavam
aquilo... aquilo é o estilo da favela. Então os nordestinos cantam o jeito do
Nordeste, cantam a cultura do Nordeste, cantam a linguagem do nordeste e
assim por diante... aí vem o cara lá do Rio Grande do Sul .... ele canta o
quê? Aquela cultura que ele trouxe pra... de outros países, aqui, aí misturou o
índio, misturou o branco, misturou o africano... e fez essa mistura e deu essa
cultura. É isso... então, cada povo tem o seu jeito, de expressar o seu
conhecimento, né mesmo?! (TRECHO RECOLHIDO DA ENTREVISTA
DE TICO AMARO, 2021).
82

Na fala transcrita, novamente nos chamou a atenção o vasto conhecimento do poeta


sobre a literatura popular, apesar da não escolaridade. A concepção do entrevistado a respeito
da existência de variações da literatura popular vai ao encontro dos trabalhos de Souza T.
(2011), Carvalho (2015) e Ferreira (2010), ao destacarem, em suas pesquisas, as
remodelações da poesia improvisada: o slam, como manifestação poética realizada por
pessoas com instrução escolar; o funk, como composição poética espontânea característica das
comunidades e favelas; e o rap, como estilo poético oriundo do popular.
Em continuidade, a partir dos dados construídos, com base nas falas das professoras
colaboradoras, na subseção seguinte tratamos da poesia popular na escola.

5.3 Poesia popular na escola: o professor leitor, a formação de leitores e o incentivo à


cultura

Como apresentamos, a BNCC inseriu a poesia popular de cordel e repente como


gênero textual a ser trabalhado nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Entretanto, a
literatura popular tem ocupado o cotidiano dos espaços escolares de forma tímida e ainda
mais inexpressiva no que se refere à poesia popular de improviso, ao repente. Nessa linha, as
entrevistas com as docentes promoveram reflexões acerca da constituição do professor leitor,
da formação de estudantes leitores e do incentivo à cultura por meio da inserção da poesia
popular como recurso pedagógico.
Questionada sobre o gosto pela leitura, a professora Ana, uma das nossas
colaboradoras, respondeu:

Gosto. Assim, [...] minha paixão maior sempre foi mais matemática, [...]
mas isso não quer dizer que eu não tenha afinidade também com a leitura...
mas, assim, parar pra ler livros, eu nunca tive essa habilidade. Não sei se isso
foi por falta de incentivo desde pequena... que eu acredito muito ser, né!?
Conheço é... adolescentes que foram motivados desde pequenos, e isso leva
eles até hoje a terem essa afinidade. Comigo não. Eu nunca tive essa
motivação por parte de casa. Né?! Então, talvez por isso eu não tenha
desenvolvido esse gosto tão sucinto pela leitura (TRECHO RECOLHIDO
DA ENTREVISTA DE ANA, 2021).

Na transcrição acima, a docente, ao mesmo tempo em que afirma sua falta de


afinidade com a leitura, procura identificar quais as razões que a conduzem ao desinteresse
pela leitura literária. Em continuidade, ao indagarmos se a entrevistada compreendia a
literatura como instrumento relevante à formação dos sujeitos, respondera:
83

A literatura, ela traz, né... esse ambiente crítico, construtivo ao educando.


Então, como é que a gente vai construir, como é que a gente vai trazer à tona
esses princípios críticos aos alunos se a gente não tiver, como eu já falei, o
gosto pela leitura e tanto pela literatura? (TRECHO RECOLHIDO DA
ENTREVISTA DE ANA, 2021).

A fala da professora revela a literatura como instrumento de formação crítica dos


sujeitos, apontando a premência da sua inserção nas salas de aula. Ainda da transcrição acima,
identificamos outro ponto relevante para o sucesso da mediação literária nos espaços
escolares e que também fora citado pela professora Sandra: o professor leitor. A formação de
estudantes leitores na escola é também resultado da prática da leitura por parte do docente.
Quanto a isso, esclarecera Ana:

[...] eu acho que a gente, como professor, a gente sempre transmite aos
alunos muito daquilo que a gente gosta, né?! Então, como é que eu vou
incentivar o meu aluno hoje pela leitura se eu não me identifico tanto com a
leitura, né?! Então, eu acho que, nessa medida, de trazer o gosto ao aluno, a
gente precisa, sim, se dispor à leitura, precisa, sim, ter essa afinidade com a
leitura (TRECHO RECOLHIDO DA ENTREVISTA DE ANA, 2021).

De fato, a leitura é uma prática inerente à constituição do ser professor. A respeito


disso, Saldanha (2013, p. 60) enfatiza que “o docente tem que ter uma íntima relação com a
leitura, além de gostar de ler, o texto deve ter significado para ele para que esse possa
apresentar o texto ao discente e a leitura também tenha significado para o aluno”. Dessa
maneira, a formação do professor leitor está inerentemente relacionada à prática pedagógica
utilizada em sala de aula, à forma como o professor enxerga o mundo e suas distintas
realidades.
A prática da leitura é consequência de um conjunto de relações estabelecidas entre
uma comunidade, da comunicação entre seus integrantes e da união de informações que
circulam no meio social. O leitor é um ser que interage no mundo e com o mundo, que
conhece e infere na realidade de modo a mediar e transformar relações humanas (COSSON,
2020).
O trabalho com a leitura na escola e o seu fomento potencializa a formação crítica dos
sujeitos para além da educação formal. E tal compreensão também restara presente nas falas
das professoras entrevistadas, sobretudo no que concerne à necessidade de formar leitores
para toda a vida (VILLARDI, 1999).
Ao perguntarmos em específico sobre a relevância da poesia popular à formação de
estudantes leitores, Ana e Sandra nos responderam que, apesar de não agregarem a poesia
84

improvisada no dia a dia da escola, tinham ciência que o trabalho com o gênero poético é
relevante à motivação da leitura, e também para o incentivo à cultura.
Outrossim, considerando a poesia popular como expressão peculiar da cultura
nordestina, Sandra enfatizou a necessidade da implementação de projetos escolares de
fomento. Afirmou ela:

Eu acho que a gente era pra ter um... um trabalho, tipo um projeto focado em
poemas, em poesias, eu acho que a gente precisava ter um olhar maior pra
poesia, não trabalhar como um gênero que se trabalha durante o ano. Acho
que ainda é insuficiente, precisava ter um trabalho mais focado com a poesia
e principalmente com a poesia popular (TRECHO RECOLHIDO DA
ENTREVISTA DE SANDRA, 2021).

Ao longo da entrevista, a docente reconheceu ainda que o trabalho pedagógico com a


literatura, em especial com a poesia de repente, é oportunidade de ir além do mero
cumprimento do currículo formal, de trabalhar outros gêneros e possibilitar outras vivências
aos estudantes. E, com efeito, assiste razão tal entendimento da entrevistada na medida em
que concebemos a mediação pedagógica com a poesia popular como oportunidade de
expressão de sentimentos, gostos e emoções e não apenas de utilizá-la no ensino da gramática,
da ortografia ou interpretação textual (PINHEIRO, 2018).
Em relação ao trabalho com a poesia em geral, as professoras afirmaram que não
encontravam dificuldades na utilização em sala de aula, mesmo por ser um gênero atrativo,
divertido e prazeroso para se trabalhar com os estudantes em um momento de degustação
literária. Como depreendemos do que afirmou Sandra:

No início da aula, no momento da leitura deleite... eu costumo dizer a eles


que não é uma leitura para refletir, é uma leitura para gente relaxar, pra ouvir
o texto, pra sentir vontade de ouvir outra vez. Então, a poesia é muito
utilizada na leitura deleite. A aula se torna mais gostosa, inclusive, é um dos
gêneros que eu mais gosto de trabalhar, porque eu sinto que eles se
envolvem muito... que vira brincadeira na sala de aula. Acho que pelo fato
de dizer que é livre expressão, que eles podem ficar a vontade... então, acaba
sendo um gênero muito gostoso de ser trabalhado (TRECHO RECOLHIDO
DA ENTREVISTA DE SANDRA, 2021).

Percebemos, então, que de certo modo a fala da docente não encontra amparo teórico
quando diz que a leitura deleite não é um momento de reflexão. Concebemos que toda leitura
poética conduz o leitor/ouvinte a uma reflexão. Afinal, esta é uma das finalidades da
literatura. A esse respeito, Amarilha (1977) esclarece que a utilização da poesia na sala de
85

aula possibilita aos estudantes uma propícia formação linguística, humana e social por meio
da ludicidade.
Ainda a respeito do que fora respondido pelas professoras no momento da entrevista e
dentro da categoria temática de incentivo à cultura, destacamos, as respostas dadas quando
foram indagadas se seria importante a inclusão da poesia popular nos Anos Iniciais. Sobre
isso, aduziram:

Certeza. Porque a gente tá valorizando a cultura né?! Então, se o despertar


pra escrita ele precisa ser desde os anos iniciais... então, por que não a
cultura popular? Valorizar a nossa cultura, e ainda de forma com essa
expressão de arte que é a poesia, então é unir o útil ao agradável (TRECHO
RECOLHIDO DA ENTREVISTA DE SANDRA, 2021).

Sim, porque traz, de certa forma, a nossa cultura, a cultura do povo pra
dentro da escola. [...] Eu acho que, com relação a poesia popular, a gente
ainda tem muito, muito, muito o que se aproveitar dela. Porque, talvez, dizer
assim, apresente pras crianças ou traga pras crianças ouvirem... muitos deles
vão dizer que nunca ouviram, pode ter certeza. Porque eu me lembro que eu
tive contato com essa poesia de repente já bem grandinha, às vezes quando
ia pra feira, quando eles vinham, mas agora, para dizer assim, trazer a poesia
popular pra dentro da sala de aula... eu acredito que poucos deles vão dizer
que conhecem (TRECHO RECOLHIDO DA ENTREVISTA DE ANA,
2021).

Realmente, com vistas ao desenvolvimento pleno do educando, a inserção e promoção


da cultura popular no processo de formação escolar do estudante permite-o conhecer as raízes
e valores da comunidade. A esse respeito, destacamos ainda o enfatizado por Ana sobre o
lugar da cultura popular no espaço escolar: “[...] é muito importante essa questão do popular ir
para a sala de aula... eles perceberem pessoas, que muitas das vezes são analfabetas e que
conseguem construir cultura, né?! Através da literatura, através da poesia [...]” (TRECHO
RECOLHIDO DA ENTREVISTA DE ANA, 2021).
De fato, concebemos que é relevante apresentar a poesia popular como cultura, e
possibilitar aos estudantes conhecerem os poetas locais e suas histórias de vida, de modo a
romper com o paradigma que reluta em defender a cultura como resultado de produção
intelectual exclusiva de uma massa dominante letrada.
Feitas tais transcrições e considerações a respeito das entrevistas com as docentes,
passamos aos resultados da intervenção pedagógica.

5.4 A poesia popular como identidade cultural e recurso de incentivo à leitura

Nesta subseção, trazemos os resultados dos quatro momentos da intervenção


86

pedagógica realizada em duas turmas de 5º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública
do município de São José de Piranhas-PB. Os dados mencionados são resultantes do diário de
campo compilado e atividades desenvolvidas.
Apesar de nosso primeiro momento ter acontecido de forma remota com vistas a
motivar os estudantes a participarem das atividades, percebemos o quanto a proposta
despertou o interesse deles, já que todos (mesmo os que não cumpriam frequência escolar)
compareceram ao segundo momento da intervenção realizado presencialmente.
No segundo momento os estudantes demonstraram-se muito entusiasmados com a
degustação literária proporcionada pela poesia “As borboletas” de Vinícius de Morais,
principalmente em relação ao uso dos palitoches como recurso visual, sendo que, em uma
sondagem oral inicialmente realizada, apenas 1 (um) dentre os 16 (dezesseis) participantes
afirmou conhecer o gênero poético.
A dinâmica desenvolvida com a “Caixa Surpresa” (imagem 10), que objetivou
identificar o desenvolvimento linguístico e fonológico dos sujeitos, possibilitou-nos perceber
que apesar de se tratar de estudantes do 5º ano, boa parte da turma tinha dificuldades na
formação de rimas. De tal maneira, conforme iam retirando as fichas da caixa, se fez
necessário que ajudássemos na associação das palavras. Mesmo com as dificuldades
apresentadas a atividade foi desenvolvida.

Imagem 10 – Dinâmica com rimas

Fonte: arquivo das pesquisadoras (2021).

Em diálogo com as docentes, relacionamos as dificuldades apresentadas pelos


estudantes com a defasagem do ensino remoto adotado frente à pandemia do novo
coronavírus, durante os anos de 2020 e 2021. Elas nos relataram terem sido muitos os
empecilhos às aulas online. Os alunos não possuíam dispositivo móvel a ser utilizado, e
embora o município tivesse disponibilizado a todos os estudantes da rede pública municipal
87

tablets como suporte para aprendizagem10, muitas vezes eles não dispunham de uma conexão
de internet adequada.
Após a dinâmica de formação de rimas, no sorteio das sextilhas dos poetas repentistas
do município colocadas também na “Caixa Surpresa”, os participantes demonstraram
satisfação no desenvolvimento da leitura em voz alta, muito embora alguns deles
apresentassem visíveis limitações de leitura (imagem 11). Frente a isso, prestamos apoio na
leitura conjunta utilizando novamente o recurso do fantoche.

Imagem 11 – Leitura em voz alta

Fonte: arquivo das pesquisadoras (2021).

A utilização do fantoche em muito contribuiu para desinibir os participantes e para


evitar constrangimentos por parte daqueles que não tinham domínio da leitura para a
realização da atividade. Trabalhando, em seguida, com a composição de estrofes e contagem
de versos, sem maiores dificuldades, os estudantes conseguiram identificar que as poesias
retiradas da caixa eram sextilhas.
Ao tratarmos sobre a poesia popular, as crianças ficaram surpresas ao “descobrirem”
que moravam em terra de poetas. Ao serem informadas que as poesias lidas por eles eram de
autoria dos poetas locais, manifestaram: “Nossa, Tico Amaro mora aqui!”, “João Beco é
poeta de São José, que legal!”, “Aqui tem poetas, que incrível!” (TRECHOS RECOLHIDOS
DO DIÁRIO DE CAMPO, 2021).
Com a reação de admiração, notamos que a realidade da poesia popular era algo alheio
à vida cotidiana dos estudantes. E o entusiasmo das crianças só aumentou quando informamos
que, no dia seguinte, conheceriam os poetas dos quais falávamos.

10
Mais informações em: https://www.radarsertanejo.com/2021/06/14/prefeito-chico-mendes-anuncia-
aquisicao-de-1-000-tablets-para-estudantes-da-rede-publica-municipal/.
88

Concluindo as atividades do segundo momento de intervenção, os participantes se


mostraram muito empenhados na confecção dos desenhos em ilustração às sextilhas por eles
sorteadas. Ali utilizaram a criatividade para expressar pela arte visual11 a mensagem
transmitida nos versos dos poetas (imagens 12 e 13).

Imagem 12 – Desenhos dos estudantes

Fonte: arquivo das pesquisadoras (2021).

Imagem 13 – Desenhos dos estudantes

Fonte: arquivo das pesquisadoras (2021).

Ainda por ocasião do início da atividade, alguns partilhavam suas construções


imagéticas: “tia, vou desenhar uma criança e um velhinho!”, “pensei em desenhar ele
dormindo e sonhando” (TRECHOS RECOLHIDOS DO DIÁRIO DE CAMPO, 2021).
Outros, ao nos entregarem os desenhos prontos nos explicavam a relação da sua produção
artística com a sextilha retirada: “Olha tia, eu desenhei um rio com as montanhas, e uma
latinha aberta, porque a sardinha que veio do rio conseguiu fugir da latinha, só que ela
deixou a cabeça dela dentro da lata!, “Tia, eu desenhei João Beco bem velhinho”
(TRECHOS RECOLHIDOS DO DIÁRIO DE CAMPO, 2021).

11
Demais ilustrações podem ser encontradas nos anexos, página 123.
89

No terceiro momento, realizado no dia seguinte, a roda de conversa entre estudantes,


professoras e poetas proporcionou uma prazerosa experiência com as partilhas de Tico Amaro
e João Beco sobre suas histórias de vida e a declamação de algumas de suas poesias para os
presentes (imagem 14). As crianças mantiveram-se atentas às palavras dos poetas. Aberto o
espaço pelos repentistas para indagações, elas levantaram questões pertinentes, as quais
listamos no quadro abaixo.

Quadro 9 – Indagações realizadas aos poetas pelas crianças


Em qual cidade você fez sua primeira poesia?
Qual foi a sua primeira poesia?
Qual a sua inspiração para fazer poesia?
Quem ensinou você a fazer poesia?
Você é feliz sendo poeta?
Você sempre morou aqui?
Você foi à escola?
Fonte: diário de campo (2021).

Conforme as crianças perguntavam Tico Amaro e João Beco respondiam, embora


algumas das dúvidas não tenham sido sanadas por os poetas não conseguirem lembrar tantos
fatos. Estudantes, professoras e direção da escola ficaram encantados com os ilustres
convidados, estas últimas ainda mais pelo entusiasmo dos alunos naquele momento dialógico.

Imagem 14 – Roda de conversa com os poetas repentistas

Fonte: arquivo das pesquisadoras (2021).

Ao final do terceiro momento, na declamação do cordel “Criança Responde” de Isaura


de Melo Souza (imagem 15), percebemos que, apesar das dificuldades inicialmente
apresentadas, os estudantes se apresentaram mais afeiçoados com a formação de rimas.
90

Imagem 15 – Cordel infantil “Criança responde”

Fonte: Acervo Antonio Nóbrega (2022).

O cordel de Isaura é bastante dinâmico, já que em cada estrofe são apresentadas as


características dos animais e, ao final, o leitor/ouvinte procura adivinhar a quem se refere,
formando, com isso, uma rima. As crianças iam, então, adivinhando os animais pelas
características ou mesmo por meio da rima. O momento possibilitou ainda a interação entre
poetas e estudantes (imagem 16).
Uma das estrofes do cordel diz:

Se você souber, responda


Quem é ele e quem já foi
Tem quatro patas, dois chifres
Se não souber não caçoe
Usa chocalho e faz mon
Que bicho é esse? É o boi.

No momento da declamação desse trecho, quando fizemos a pausa após a indagação


para que as crianças respondessem, após alguns deles terem arriscado o palpite afirmando se
tratar de uma vaca, o poeta Tico Amaro pediu a palavra e lecionou: “Prestem atenção no final
das palavras. A rima não é solta, ela precisa ser amarrada. Precisa rimar com „foi‟. Qual o
animal que rima com foi?” E, então, rapidamente eles responderam: “É o boi!” (TRECHOS
RECOLHIDOS DO DIÁRIO DE CAMPO, 2021).
Ao final do terceiro momento de intervenção, a atividade de declamação do cordel
com ajuda dos poetas permitiu o exercício da consciência fonológica dos estudantes por meio
da formação das rimas.
91

Imagem 16 – Declamação do cordel infantil “Criança responde”

Fonte: arquivo das pesquisadoras (2021).

Passamos aos resultados da culminância da intervenção pedagógica: o Festival de


Poesia. No quarto e último momento realizado na semana seguinte também com a presença
dos poetas, após embalarmos cantos populares folclóricos, os estudantes declamaram as
poesias por eles construídas em casa (imagem 17).
A princípio, chamou nossa atenção o fato de, em meio à dinâmica de musicalização
inicial, uma das participantes, criança com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista
(TEA), muito empolgada, ter pedido para cantar a música “Superfantástico” de Balão Mágico
(imagem 18).
Em relação às declamações pelos estudantes, mesmo nervosos, mas entusiasmados,
cada um foi à frente para apresentar aos colegas e aos poetas sua produção. Poucos
efetivamente conseguiram construir um poema. Alguns fizeram cópia da internet e outros não
lograram êxito na feitura das rimas, contudo chamou nossa atenção o esforço despendido por
eles à realização da atividade.

Imagem 17 – Poesias das crianças

Fonte: arquivo das pesquisadoras (2021).


92

Imagem 18 – Cantando cantigas populares

Fonte: arquivo das pesquisadoras (2021).

Outro fato registrado foi que, na realização da atividade da declamação das produções,
uma criança que já havia apresentado dificuldade de leitura ainda no segundo momento da
intervenção, timidamente nos pediu ajuda por não saber ler. Para não gerar constrangimento,
recorrendo mais uma vez aos fantoches, juntamente com ela realizamos a leitura (imagem 18).

Imagem 19 – Declamando poesia

Fonte: arquivo das pesquisadoras (2021).

Dos 16 (dezesseis) colaboradores mirins que iniciaram a intervenção, apenas 12 (doze)


se fizeram presentes em todas as atividades e, dessa fração, apenas 10 (dez) apresentaram
produções no Festival, já que os outros 2 (dois) não trouxeram produções à sala de aula por
não terem o mínimo domínio da leitura e escrita e não terem sido (segundo eles) auxiliados
pelos pais ou responsáveis.
Apesar da dificuldade enfrentada no desenvolvimento da intervenção pelo exíguo
tempo que tivemos, consideramos os resultados da pesquisa muito satisfatórios, especialmente
por termos notado a superação de algumas crianças em relação à timidez, percepção de leitura
e dificuldades de aprendizagem. Professoras e gestão da escola manifestaram gratidão pela
93

realização da intervenção pedagógica, e os poetas expressaram alegria em estarem


incentivando a cultura popular na vida daquelas crianças no espaço escolar.
94

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A literatura favorece aos sujeitos uma formação humana, crítica e reflexiva,


proporciona ao leitor desenvolver perspectivas e saberes acerca da realidade que está envolto.
Por isso mesmo, a leitura literária precisa ser inserida na vida dos sujeitos desde cedo e
através de estratégias que, de maneira lúdica e prazerosa, estimulem o gosto pelo literário.
No âmbito da escola como espaço formal da aprendizagem, para além das tradicionais
proposições de trabalho geralmente previstas nos livros didáticos e programas curriculares,
precisamos enxergar que as experiências literárias trazem ao trabalho docente uma infinidade
de valorosas possibilidades pedagógicas a serem desenvolvidas em sala de aula,
principalmente quando se trata da literatura popular.
Fruto da literatura das pessoas mais simples, a poesia popular permite aos sujeitos o
contato com novos saberes, com as histórias de vida das pessoas que a fazem e com
identidade da própria comunidade, conduz às raízes culturais do povo. Nesse sentido é que
neste trabalho voltamos o olhar à literatura popular como importante instrumento cultural e
histórico que propicia estímulo intelectual aos sujeitos que ouvem e produzem a linguagem
poética, tomando por objeto de estudo a poesia popular de repente sob a ótica do
reconhecimento cultural e possível uso como recurso pedagógico de incentivo à leitura nas
escolas.
Os objetivos da pesquisa foram atingidos, na medida em que identificamos
perspectivas teóricas que fundamentam a poesia popular como gênero literário e patrimônio
cultural, em que conhecemos a arte de improvisar a poesia popular à luz dos poetas
repentistas de São José de Piranhas – PB e investigamos a relevância da poesia popular na
escola como recurso pedagógico de incentivo à leitura sob a ótica das professoras
colaboradoras e com base na intervenção pedagógica desenvolvida em duas turmas de 5º ano
de escola pública da rede municipal de ensino.
Através dos pressupostos teóricos, observamos a literatura popular como um
instrumento de incomensurável valor social e, correspondentemente, a poesia popular como
autêntica expressão humana de um povo, de suas memórias, identidades e tradições.
Concluímos, ainda nesse aspecto, que a poesia de improviso é expressão literária
característica do povo nordestino que revela a memória e identidade cultural de gerações.
A partir das buscas realizadas nos bancos de dados de teses, dissertações e periódicos,
identificamos a pertinência em desenvolver um trabalho mais afinco para a inserção da prática
cultural da poesia popular na escola. Ainda que, devido aos critérios utilizados na busca junto
95

às plataformas não tenhamos, muito provavelmente, contemplado todo o acervo de pesquisas


realizadas no país sobre o objeto de estudo, consideramos que os resultados obtidos foram
suficientes para que identificássemos a carência de estímulo e valorização da cultura popular
nos espaços escolares.
As falas dos poetas colaboradores enalteceram a importância da poesia popular como
objeto de identidade cultural do município, mas também apontaram a não valorização da
cultura local, quer pela ausência de políticas públicas de incentivo ou mesmo pela falta de
iniciativas escolares no desenvolvimento de projetos pedagógicos específicos. Em relação a
isso, os repentistas relataram nunca terem participado de eventos que trouxessem a poesia de
repente para a sala de aula na cidade de São José de Piranhas-PB ou mesmo na região.
No tocante às professoras entrevistadas, elas demonstraram compreensão da relevância
da literatura à formação dos sujeitos, do repente como poesia literária popular e da pertinência
de trabalhá-lo em sala de aula como forma de valorização da cultura local e incentivo à
leitura. As entrevistas corroboraram, porém, o fato de que nenhum dos projetos pedagógicos
de formação de leitores desenvolvidos pela comunidade escolar ou mesmo propostos pela
Secretaria de Educação do município contemplava a literatura popular local, a poesia de
repente.
Apesar do curto tempo para ao desenvolvimento da pesquisa, a intervenção
demonstrou inúmeros benefícios da realização de experiências pedagógicas com a poesia
popular em sala de aula: o fomento à frequência escolar, o despertar dos estudantes à
literatura e a utilização da poesia de repente como recurso de incentivo à leitura e de
valorização cultural e identitária. A descoberta da existência de poetas na comunidade e a
promoção do contato com eles deixou os estudantes maravilhados e motivados.
Com isso encontramos resposta à nossa questão de pesquisa. Verificamos que a
inserção da literatura popular no espaço escolar é uma das formas potenciais de reconhecer e
valorizar as memórias e tradições que norteiam a identidade cultural de um povo e de utilizá-
la como ferramenta pedagógica de incentivo à leitura nos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental.
Sabemos que trazer a realidade social para a escola é otimizar os processos de ensino e
aprendizagem dos estudantes. A incorporação da poesia popular na sala de aula como recurso
pedagógico estratégico favorece o desenvolvimento e incentivo à vida leitora dos estudantes,
conduzindo-os ao conhecimento da cultura local e à percepção de que também podem ser
protagonistas da cultura popular da comunidade em que vivem.
96

Não podemos afirmar que o trabalho com a poesia popular necessariamente resolve o
problema da falta de interesse dos educandos pela leitura, principalmente considerando que
cada sujeito tem gostos e interesses próprios e que lhes são ofertadas diversas outras
possibilidades em meio a tantas tecnologias, internet e outros. Vemos na poesia popular,
entretanto, um maior potencial de instigação à leitura dado o caráter dialógico que tem com a
realidade mais aproximada da vida dos sujeitos.
Reafirmamos ainda que dar a poesia popular local o lugar que lhe é devido no espaço
escolar é contribuir à sua valorização e reconhecimento como bem imaterial do povo. Embora
o repente recentemente tenha sido reconhecido como patrimônio cultural brasileiro, e no
estado da Paraíba tenha sido instituída a Semana Estadual das Culturas Populares e
Tradicionais, compreendemos que tais conquistas constituem apenas o início de um longo,
árduo e valoroso caminho a ser trilhado à preservação das raízes históricas e culturais, da
identidade do povo nordestino.
97

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ZUMTHOR, Paul. Introdução à Poesia Oral. São Paulo: Hucitec, 1997.


107

APÊNDICES
108

APÊNDICE A
CARTA DE ANUÊNCIA

Eu, Fabiana Alves Inácio Ferreira, CPF nº _______________________________,


representante legal da Secretaria Municipal de Educação do município de São José de
Piranhas-PB, localizada à Rua Malaquias Gomes Barbosa, SN - Centro - São José de Piranhas
– Paraíba, CEP: 58940-000, venho, através deste documento, conceder a anuência para a
realização da pesquisa intitulada: A POESIA POPULAR COMO PATRIMÔNIO
CULTURAL E RECURSO PEDAGÓGICO DE INCENTIVO À LEITURA EM ESCOLA
PÚBLICA NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE PIRANHAS – PB, sob a orientação da Profa.
Dra. Diana Maria Leite Lopes Saldanha, vinculada a Universidade Estadual do Rio Grande,
Campus Avançado de Pau dos Ferros/RN, a ser realizada na E.M.E.F. Umbelina Cavalcanti
Sobral.

Declaro conhecer e cumprir as resoluções Éticas Brasileiras, em especial a resolução


466/12 e suas complementares.

Esta instituição está ciente de suas responsabilidades como instituição coparticipante


do presente projeto de pesquisa e de seu cumprimento no resguardo da segurança e bem estar
dos participantes de pesquisa nela recrutados, dispondo da infraestrutura necessária para a
garantia de tal segurança e bem estar.

Ciente dos objetivos, métodos e técnicas que serão usados nesta pesquisa, concordo
em fornecer todos os subsídios para seu desenvolvimento, desde que seja assegurado o que
segue abaixo:

1) O cumprimento das determinações éticas da Resolução 466/12 CNS/MS;

2) A garantia do participante em solicitar e receber esclarecimentos antes, durante e


depois do desenvolvimento da pesquisa;

3) Liberdade do participante de retirar a anuência a qualquer momento da pesquisa


sem penalidade ou prejuízos.

São José de Piranhas/PB, _____ de novembro de 2021.

_______________________________________________
109

APÊNDICE B

Governo do Estado do Rio Grande do Norte


Secretaria de Estado da Educação e da Cultura - SEEC
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – UERN
Campus Avançado de Pau dos Ferros – CAPF
Programa de Pós Graduação em Ensino – PPGE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE


(Docentes e Poetas)

Esclarecimentos
Este é um convite para você participar do projeto de dissertação provisoriamente
intitulado “A POESIA POPULAR COMO PATRIMÔNIO CULTURAL E RECURSO
PEDAGÓGICO DE INCENTIVO À LEITURA EM ESCOLA PÚBLICA NO
MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE PIRANHAS – PB”, orientado pela Profa. Dra. Diana
Maria Leite Lopes Saldanha.
Sua participação é voluntária, o que significa que você poderá desistir a qualquer
momento, retirando seu consentimento sem que isso lhe traga nenhum prejuízo ou penalidade.
Caso decida aceitar, você será submetido (a) ao seguinte procedimento: entrevistas
semiestruturada, cuja responsabilidade de aplicação é da mestranda Nathalia Maria de Sousa
Feitosa, aluna do Programa de Pós Graduação em Ensino (PPGE), vinculado ao
Departamento de Educação do Campus Avançado de Pau dos Ferros, da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte (UERN), seguindo as recomendações das resoluções 466/12 e
510/16 do Conselho Nacional de Saúde e suas complementares.
As informações coletadas serão organizadas em banco de dados em programa e
exploradas a partir da análise de conteúdo, tendo como técnica a análise temática.
Essa pesquisa tem como objetivo geral: “analisar a poesia popular como patrimônio
cultural e recurso pedagógico de incentivo à leitura em escola pública no município de São
José de Piranhas/PB”. E como objetivos específicos: “1) identificar perspectivas teóricas que
fundamentam a literatura popular; 2) conhecer a arte de improvisar poesia popular sob a ótica
de poetas repentistas de São José de Piranhas/PB; 3) investigar a relevância da poesia popular
na escola como recurso pedagógico de incentivo à leitura”.
O benefício desta pesquisa é a possibilidade promover a valorização da poesia popular
como patrimônio cultural do município de São José de Piranhas-PB e como recurso
pedagógico de incentivo à leitura e ainda de contribuir para as pesquisas e estudos na área da
educação e do ensino.
Os riscos mínimos que o participante da pesquisa estará exposto são de
constrangimento e/ou mudança de comportamento em virtude dos questionamentos feitos na
presença da pesquisadora. Esses riscos serão minimizados mediante: Garantia do
anonimato/privacidade do participante na pesquisa, onde não será preciso colocar o nome do
mesmo; Para manter o sigilo e o respeito ao participante da pesquisa, apenas a pesquisadora
realizará a entrevista semiestruturada e desenvolverá a intervenção pedagógica, sendo que
somente a discente e a pesquisadora responsável poderão manusear e guardar os dados
coletados; Sigilo das informações por ocasião da publicação dos resultados, visto que não será
divulgado dado que identifique o participante; Garantia que o participante se sinta a vontade
110

para responder aos questionários e Anuência das Instituições de ensino para a realização da
pesquisa.
Os dados coletados serão, ao final da pesquisa, armazenados em CD-ROM e caixa
arquivo, guardada por no mínimo cinco anos sob a responsabilidade da pesquisadora Nathalia
Maria de Sousa Feitosa, a fim de garantir a confidencialidade, a privacidade e a segurança das
informações coletadas, e a divulgação dos resultados será feita de forma a não identificar os
participantes e o responsável.
Você ficará com uma via original deste TCLE e toda a dúvida que você tiver a
respeito desta pesquisa, poderá perguntar diretamente para a pesquisadora no endereço R.
Luiz Pereira, 476, Centro, CEP 58940-000, São José de Piranhas/PB, tel. (83) 99420-3524,
endereço eletrônico: nathaliafeitosasjp@gmail.com.
Se para o participante houver gasto de qualquer natureza, em virtude da sua
participação nesse estudo, é garantido o direito a indenização (Res. 466/12 II.7) – cobertura
material para reparar dano – e/ou ressarcimento (Res. 466/12 II.21) – compensação material,
exclusivamente de despesas do participante e seus acompanhantes, quando necessário, tais
como transporte e alimentação sob a responsabilidade da pesquisadora.
Não será efetuada nenhuma forma de gratificação por sua participação. Os dados
coletados farão parte do nosso trabalho, podendo ser divulgados em eventos científicos e
publicados em revistas nacionais ou internacionais. O pesquisador estará à disposição para
qualquer esclarecimento durante todo o processo de desenvolvimento deste estudo. Após
todas essas informações, agradeço antecipadamente sua atenção e colaboração.

Consentimento Livre
Concordo em participar desta pesquisa “A POESIA POPULAR COMO PATRIMÔNIO
CULTURAL E RECURSO PEDAGÓGICO DE INCENTIVO À LEITURA EM
ESCOLA PÚBLICA NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE PIRANHAS – PB”.
Declarando, para os devidos fins, que fui devidamente esclarecido quanto aos objetivos da pesquisa,
aos procedimentos aos quais serei submetido (a) e dos possíveis riscos que possam advir de tal
participação. Foram garantidos a mim esclarecimentos que venham a solicitar durante a pesquisa e o
direito de desistir da participação em qualquer momento, sem que minha desistência implique em
qualquer prejuízo a minha pessoa ou a minha família. Autorizo assim, a publicação dos dados da
pesquisa, a qual me garante o anonimato e o sigilo dos dados referentes à minha identificação.

São José de Piranhas/PB, ______/_______/_______.

__________________________________________.
Nathalia Maria de Sousa Feitosa - Pesquisadora

___________________________________________
Participante
111
APÊNDICE C

Governo do Estado do Rio Grande do Norte


Secretaria de Estado da Educação e da Cultura - SEEC
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – UERN
Campus Avançado de Pau dos Ferros – CAPF
Programa de Pós Graduação em Ensino – PPGE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE


(Pais ou responsáveis dos menores de idade)

Esclarecimentos
Este é um convite para você participar do projeto de dissertação provisoriamente
intitulado “A POESIA POPULAR COMO PATRIMÔNIO CULTURAL E RECURSO
PEDAGÓGICO DE INCENTIVO À LEITURA EM ESCOLA PÚBLICA NO
MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE PIRANHAS – PB”, orientado pela Profa. Dra. Diana
Maria Leite Lopes Saldanha.
Sua participação é voluntária, o que significa que você poderá desistir a qualquer
momento, retirando seu consentimento sem que isso lhe traga nenhum prejuízo ou penalidade.
Caso decida aceitar o convite, seu/ sua filho (a) será submetido (a) ao seguinte
procedimento: intervenção pedagógica em sala de aula, cuja responsabilidade de aplicação é
da mestranda Nathalia Maria de Sousa Feitosa, aluna do Programa de Pós Graduação em
Ensino (PPGE), vinculado ao Departamento de Educação do Campus Avançado de Pau dos
Ferros, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), seguindo as
recomendações das resoluções 466/12 e 510/16 do Conselho Nacional de Saúde e suas
complementares.
As informações coletadas serão organizadas em banco de dados em programa e
exploradas a partir da análise de conteúdo, tendo como técnica a análise temática.
Essa pesquisa tem como objetivo geral: “analisar a poesia popular como patrimônio
cultural e recurso pedagógico de incentivo à leitura em escola pública no município de São
José de Piranhas/PB”. E como objetivos específicos: “1) identificar algumas perspectivas
teóricas que fundamentam a literatura popular; 2) conhecer a arte de improvisar poesia
popular sob a ótica de poetas repentistas de São José de Piranhas/PB; 3) investigar a
relevância da poesia popular na escola como recurso pedagógico de incentivo à leitura”.
O benefício desta pesquisa é a possibilidade promover a valorização da poesia popular
como patrimônio cultural do município de São José de Piranhas-PB e como recurso
pedagógico de incentivo à leitura e ainda de contribuir para as pesquisas e estudos na área da
educação e do ensino.
Os riscos mínimos que o participante da pesquisa estará exposto são de
constrangimento e/ou mudança de comportamento em virtude dos questionamentos feitos na
presença da pesquisadora. Esses riscos serão minimizados mediante: Garantia do
anonimato/privacidade do participante na pesquisa, onde não será preciso colocar o nome do
mesmo; Para manter o sigilo e o respeito ao participante da pesquisa, apenas a pesquisadora
aplicará o questionário e desenvolverá a intervenção pedagógica, sendo que somente a
discente e a pesquisadora responsável poderão manusear e guardar os dados coletados; Sigilo
das informações por ocasião da publicação dos resultados, visto que não será divulgado dado
que identifique o participante; Garantia que o participante se sinta a vontade para responder
aos questionários e Anuência das Instituições de ensino para a realização da pesquisa.
112

Os dados coletados serão, ao final da pesquisa, armazenados em CD-ROM e caixa


arquivo, guardada por no mínimo cinco anos sob a responsabilidade da pesquisadora Nathalia
Maria de Sousa Feitosa, a fim de garantir a confidencialidade, a privacidade e a segurança das
informações coletadas, e a divulgação dos resultados será feita de forma a não identificar os
participantes e o responsável.
Você ficará com uma via original deste TCLE e toda a dúvida que você tiver a
respeito desta pesquisa, poderá perguntar diretamente para a pesquisadora no endereço R.
Luiz Pereira, 476, Centro, CEP 58940-000, São José de Piranhas/PB, tel. (83) 99420-3524,
endereço eletrônico: nathaliafeitosasjp@gmail.com.
Se para o participante houver gasto de qualquer natureza, em virtude da sua
participação nesse estudo, é garantido o direito a indenização (Res. 466/12 II.7) – cobertura
material para reparar dano – e/ou ressarcimento (Res. 466/12 II.21) – compensação material,
exclusivamente de despesas do participante e seus acompanhantes, quando necessário, tais
como transporte e alimentação sob a responsabilidade da pesquisadora.
Não será efetuada nenhuma forma de gratificação por sua participação. Os dados
coletados farão parte do nosso trabalho, podendo ser divulgados em eventos científicos e
publicados em revistas nacionais ou internacionais. O pesquisador estará à disposição para
qualquer esclarecimento durante todo o processo de desenvolvimento deste estudo. Após
todas essas informações, agradeço antecipadamente sua atenção e colaboração.

Consentimento Livre

Concordo em participar desta pesquisa “A POESIA POPULAR COMO PATRIMÔNIO


CULTURAL E RECURSO PEDAGÓGICO DE INCENTIVO À LEITURA EM
ESCOLA PÚBLICA NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE PIRANHAS – PB”.
Declarando, para os devidos fins, que fui devidamente esclarecido quanto aos objetivos da pesquisa,
aos procedimentos aos quais meu/ minha filho (a) será submetido (a) e dos possíveis riscos que
possam advir de tal participação. Foram garantidos a mim esclarecimentos que venham a solicitar
durante a pesquisa e o direito de desistir da participação em qualquer momento, sem que minha
desistência implique em qualquer prejuízo a minha pessoa ou a minha família. Autorizo assim, a
publicação dos dados da pesquisa, a qual me garante o anonimato e o sigilo dos dados referentes à
minha identificação.

São José de Piranhas/PB, ______/_______/_______.

__________________________________________
Nathalia Maria de Sousa Feitosa - Pesquisadora

___________________________________________
Participante
113

Nathalia Maria de Sousa Feitosa - Aluna do Curso de Pós Graduação em Ensino, da Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, Campus Avançado de Pau dos Ferros, no endereço BR
405, KM 3, Arizona 59900-000 – Pau dos Ferros-RN. Tel. (84) 3351-2560, email: pferros@uern.br

Profa. Dra. Diana Maria Leite Lopes Saldanha (Orientadora da Pesquisa) - Curso de Pós
Graduação em Ensino, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, Campus
Avançado de Pau dos Ferros, no endereço BR 405, KM 3, Arizona 59900-000 – Pau dos
Ferros-RN. Tel. (84) 3351-2560, email: pferros@uern.br
APÊNDICE D
114
Governo do Estado do Rio Grande do Norte
Secretaria de Estado da Educação e da Cultura - SEEC
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – UERN
Campus Avançado de Pau dos Ferros - CAPF
Curso de Pós Graduação em Ensino - PPGE

TERMO ASSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO


Declaro que estou ciente e concordo em participar do projeto de dissertação
provisoriamente intitulado “A POESIA POPULAR COMO PATRIMÔNIO CULTURAL
E RECURSO PEDAGÓGICO DE INCENTIVO À LEITURA EM ESCOLA PÚBLICA
NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE PIRANHAS – PB”, orientado pela Profa. Dra. Diana
Maria Leite Lopes Saldanha.
Declaro que fui devidamente esclarecido quanto ao objetivo geral: “analisar a poesia
popular como patrimônio cultural e recurso pedagógico de incentivo à leitura em escola
pública no município de São José de Piranhas/PB” e quanto aos objetivos específicos: “1)
identificar algumas perspectivas teóricas que fundamentam a literatura popular; 2) conhecer a
arte de improvisar poesia popular sob a ótica de poetas repentistas de São José de
Piranhas/PB; 3) investigar a relevância da poesia popular na escola como recurso pedagógico
de incentivo à leitura”.
Quanto aos procedimentos aos quais serei submetido: intervenção pedagógica em
sala de aula, cuja responsabilidade de aplicação é da mestranda Nathalia Maria de Sousa
Feitosa, aluna do Programa de Pós Graduação em Ensino (PPGE), vinculado ao
Departamento de Educação do Campus Avançado de Pau dos Ferros, da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte (UERN), seguindo as recomendações das resoluções 466/12 e
510/16 do Conselho Nacional de Saúde e suas complementares.
Declaro ciência dos possíveis riscos de ordem emocional constrangimento e/ou
mudança de comportamento em virtude dos questionamentos feitos na presença da
pesquisadora e que serão minimizados mediante: Garantia do anonimato/privacidade do
participante na pesquisa, onde não será preciso colocar o nome do mesmo; Para manter o
sigilo e o respeito aos participantes da pesquisa, apenas a discente Nathalia Maria de Sousa
Feitosa aplicará o questionário e somente ela e a pesquisadora responsável poderão manusear
e guardar os questionários; Sigilo das informações por ocasião da publicação dos resultados,
visto que não será divulgado dado que identifique o participante; Garantia que o participante
se sinta a vontade para responder aos questionários e Anuência das diretoras das Instituições
de ensino para a realização da pesquisa.
Dessa forma, concordo em participar voluntariamente da pesquisa e autorizo sua
publicação.

___________________________________________
Assinatura do Aluno

São José de Piranhas/PB, ____/____/2021.


115

Nathalia Maria de Sousa Feitosa - Aluna do Curso de Pós Graduação em Ensino, da Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, Campus Avançado de Pau dos Ferros, no endereço BR
405, KM 3, Arizona 59900-000 – Pau dos Ferros-RN. Tel. (84) 3351-2560, email: pferros@uern.br

Profa. Dra. Diana Maria Leite Lopes Saldanha (Orientadora da Pesquisa) - Curso de Pós
Graduação em Ensino, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, Campus
Avançado de Pau dos Ferros, no endereço BR 405, KM 3, Arizona 59900-000 – Pau dos
Ferros-RN. Tel. (84) 3351-2560, email: pferros@uern.br
116

APÊNDICE E

TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA USO DE ÁUDIO

Eu ____________________________________________________________,
depois de conhecer e entender os objetivos, procedimentos metodológicos, riscos e benefícios
da pesquisa, bem como de estar ciente da necessidade da gravação de áudio produzido por
mim, especificados no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), AUTORIZO,
através do presente termo, as pesquisadoras Nathalia Maria de Sousa Feitosa e Diana Maria
Leite Lopes Saldanha, responsáveis pelo projeto de pesquisa intitulado “A POESIA
POPULAR COMO PATRIMÔNIO CULTURAL E RECURSO PEDAGÓGICO DE
INCENTIVO À LEITURA EM ESCOLA PÚBLICA NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ
DE PIRANHAS – PB”, a realizar captação de áudios que se façam necessários sem
quaisquer ônus financeiros a nenhuma das partes.

Ao mesmo tempo, libero a utilização destes áudios (suas respectivas cópias) para fins
científicos e de estudos (livros, artigos, monografias, TCC‟s, dissertações ou teses, além de
slides e transparências), em favor dos pesquisadores da pesquisa, acima especificados,
obedecendo ao que está previsto nas Leis que resguardam os direitos das crianças e
adolescentes (ECA, Lei N.º 8.069/ 1990), dos idosos (Lei N.° 10.741/2003) e das pessoas com
deficiência (Decreto Nº 3.298/1999, alterado pelo Decreto Nº 5.296/2004).

São José de Piranhas/PB, ____ de __________ de 2021

_________________________________________________

Participante da pesquisa

_________________________________________________ IMPRESSÃ
O DATILOSCÓPICA

Pesquisadora responsável
117

APÊNDICE F

TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA USO DE IMAGEM

Eu ____________________________________________________________,
depois de conhecer e entender os objetivos, procedimentos metodológicos, riscos e benefícios
da pesquisa, bem como de estar ciente da necessidade do uso de minha imagem, especificados
no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), AUTORIZO, através do presente
termo, as pesquisadoras Nathalia Maria de Sousa Feitosa e Diana Maria Leite Lopes
Saldanha, responsáveis pelo projeto de pesquisa intitulado “A POESIA POPULAR COMO
PATRIMÔNIO CULTURAL E RECURSO PEDAGÓGICO DE INCENTIVO À
LEITURA EM ESCOLA PÚBLICA NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE PIRANHAS –
PB”, a realizar captação de áudios que se façam necessários sem quaisquer ônus financeiros a
nenhuma das partes.

Ao mesmo tempo, libero a utilização destas imagens (suas respectivas cópias) para
fins científicos e de estudos (livros, artigos, monografias, TCC‟s, dissertações ou teses, além
de slides e transparências), em favor dos pesquisadores da pesquisa, acima especificados,
obedecendo ao que está previsto nas Leis que resguardam os direitos das crianças e
adolescentes (ECA, Lei N.º 8.069/ 1990), dos idosos (Lei N.° 10.741/2003) e das pessoas com
deficiência (Decreto Nº 3.298/1999, alterado pelo Decreto Nº 5.296/2004).

São José de Piranhas/PB, ____ de __________ de 2021

_________________________________________________

Participante da pesquisa

_________________________________________________ IMPRESSÃ
O DATILOSCÓPICA
APÊNDICE G 118

Pesquisadora responsável

FORMULÁRIO PARA ENTREVISTAS COM OS POETAS REPENTISTAS

Dados pessoais:
Nome completo: _________________________________________________________
Pseudônimo: ____________________________________________________________
Filiação:________________________________________________________________
Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino Idade: _______________
Você se considera: ( ) branco ( ) pardo ( ) negro ( ) indígena
Mora: ( ) no sítio ( ) na cidade
Escolaridade: ____________________________________________________________

QUESTÕES

1- Fale um pouco sobre sua história: onde nasceu? Como foi sua infância?
2- Você frequentou a escola? Sabe ler e/ou escrever? Qual grau de escolaridade?
3- Como despertou para a habilidade com a poesia de improviso? Alguém o ensinou?
Como aprendeu?
4- Em sua família mais alguém teve ou tem envolvimento com a poesia improvisada?
5- Já foi convidado para participar de alguma pesquisa científica a respeito da poesia de
improviso?
6- Já foi convidado para declamar poesia em algum evento? Em caso, afirmativo, fale um
pouco de como foi/foram a/as experiência/s.
7- Já foi convidado para declamar poesia em escolas? Se sim, como foi a experiência?
8- Chegou a publicar alguma obra (livro, CD‟s...)?
9- O que é a poesia para o senhor? Qual o sentido que ela tem para sua vida?
10- Considera a poesia uma arte? Por quê?
11- Qual a finalidade da sua poesia? faz por trabalho ou por prazer?
12- Considera que a sua poesia é importante na história e cultura do município de São José
de Piranhas/PB?
119

13- Considera que a poesia improvisada é valorizada nos dias de hoje? As pessoas
demonstram interesse em ouvi-lo?
14- O que acha da relação das novas gerações com a poesia de repente? Demonstram
interesse?
15- Acha que a poesia de repente pode acabar? Em sua opinião, é possível fazer alguma
coisa para não ficar esquecida no tempo?
APÊNDICE H
120

FORMULÁRIO PARA ENTREVISTA COM PROFESSORAS DAS TURMAS DE 5º ANO DO


ENSINO FUNDAMENTAL

Dados pessoais:
Nome completo: _________________________________________________________
Pseudônimo:____________________________________________________________
Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino Data de nascimento: _____/_____/______
Formação inicial: ______________________________________________
Pós-graduação lato-sensu: _______________________________________
Pós-graduação stricto-sensu:_____________________________________

QUESTÕES

BLOCO I – A RELAÇÃO DA LITERATURA E A FORMAÇÃO DE LEITORES NO ESPAÇO


DA SALA DE AULA

1- O que você entende por literatura?


2- Gosta ler? Que tipo de leitura faz?
3- Você se considera leitor (a) de literatura? Qual gênero literário prefere?
4- Considera que a leitura literária influencia na sua vida? De que forma?
5- Considera que a literatura é relevante à formação de sujeitos leitores no ambiente
escolar? Por quê?
6- Existem projetos pedagógicos que promovem o incentivo à formação de leitores na
sua escola? Em caso afirmativo, quais? Como eles funcionam? Qual a periodicidade
desses projetos? Quais gêneros literários são priorizados pelo projeto?
7- Na sua sala de aula, como acontece a interação das crianças com a leitura literária?
8- Quais os critérios utilizados para a escolha das obras literárias mediadas em sala de
aula?
9- As metodologias utilizadas para mediação de leitura tem instigado as crianças ao gosto
pela leitura?
121

BLOCO II – O LUGAR DA POESIA NA SALA DE AULA E A POESIA DE IMPROVISO

1. O que você entende por poesia?


2. Considera a poesia uma arte? Por quê? No caso da poesia de improviso, mais
especificamente do repente, acha que pode assim também ser considerada?
3. Qual o lugar que a poesia ocupa na sua sala de aula nos momentos de mediação de
leitura?
4. Para atender as demandas do currículo formal, como acontece o ensino da poesia?
Quais as metodologias utilizadas para essa mediação?
5. Encontra dificuldades para o trabalho com a poesia? Quais os desafios?
6. Na sua sala de aula, as crianças apreciam poesias? Como você identifica isso?
7. Considera importante o trabalho com a poesia popular nos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental? Por quê?
8. Considera que a poesia improvisada é valorizada nos dias de hoje? Justifique.
9. Considera que a poesia de improviso é importante na construção da identidade
histórico cultural do município de São José de Piranhas/PB? Justifique.
122
APÊNDICE I

APÊNDICE I

QUESTIONÁRIO DIAGNÓSTICO

Dados pessoais:
Nome completo: _________________________________________________
Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino Idade: _______________
Você se considera: ( ) branco ( ) pardo ( ) negro ( ) indígena
Mora: ( ) no sítio ( ) na cidade

1- Você gosta de ler?


( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes

2- O que você costuma ler na escola?


( ) Contos ( ) Poesia ( ) Fábula ( ) Lendas ( ) Romances
( ) Ficção ( ) Outros:_________________________________

3- Você costuma ler em casa? ( ) Sim ( ) Não

4- O que você costuma ler em casa?


( ) Gibi ( ) Jornal ( ) Revista ( ) Livro didático ( ) Poesia
( ) Literatura infantil ( ) Outros: _____________________________
123

ANEXOS
124

DESENHOS DOS COLABORADORES MIRINS


125
126
127
128
129
130
131

PRODUÇÕES POÉTICAS PARA O FESTIVAL


132
133
134
135

OUTROS REGISTROS REFERENTES À RODA DE CONVERSA E AO FESTIVAL


DE POESIA
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