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Neves Shida Saide Amisse

AS NACIONALIZAÇÕES
(Licenciatura em Direito)

UNIVERSIDADE ROVUMA
Nampula
2023
Neves Shida Saide Amisse

AS NACIONALIZAÇÕES

Trabalho dos elementos do 2° grupo para efeitos


avaliativos a ser apresentado na Faculdade de
Direito na cadeira de Direito Económico do 2° ano
II semestre, orientado pelo,

Prof. Doutor, Abú Mário Hussene

UNIVERSIDADE ROVUMA

Nampula

2023
2
Índice
Introdução ......................................................................................................................... 4
Metodologia ...................................................................................................................... 5
1. Conceito de nacionalização ........................................................................................... 7
1.1. Elementos de nacionalização ...................................................................................... 8
1.2. Regime jurídico das nacionalizações no contexto Moçambicano .............................. 9
1.2.1. Ponto de vista constitucional ................................................................................... 9
1.2.2. Evolução jurídico-constitucional do regime das nacionalizações ......................... 10
1.2.3. Os limites constitucionais à nacionalização .......................................................... 10
2.1.Processos de nacionalizações ................................................................................... 12
2.1.2. Regime das nacionalizações .................................................................................. 13
2.1.3. Natureza jurídica do acto de nacionalização ......................................................... 13
2.1.4. Objecto da nacionalização ..................................................................................... 13
Conclusão ....................................................................................................................... 15
Referências bibliográficas .............................................................................................. 16

3
Introdução

O presente trabalho que tem como tema “ Nacionalização” é de extrema importância para
os estudantes do Direito, Economia e outras sociedades académicas, visto que abordagem
deste é muito difícil na sociedade. Portanto, no concernente deste, iremos debruçar acerca
da noção das nacionalizações, elementos da nacionalização bem como Evolução jurídico-
constitucional do regime das nacionalizações.

Em seguida, iremos debruçar acerca dos limites das nacionalizações, e finalmente, vamos
trazer uma análise sobre os traços específicos no concernente ao enquadramento histórico
das nacionalizações no âmbito Moçambicano, especificando os marcos que caracterizam
as nacionalizações à luz da constituição.

As criações de sectores públicos empresariais com peso significativo nas economias


nacionais encontram-se historicamente ligada à experiência da nacionalização. Em
Moçambique, a figura da empresa estatal ganhou relevância política e económica com as
nacionalizações.

Objectivos

A realização deste estudo tem como objectivo geral, analisar as nacionalizações bem
como o Regime jurídico das nacionalizações no contexto Moçambicano, no âmbito da
obtenção do grau de Licenciatura em Direito.

Para alcançar objectivo geral, procura-se os seguintes objectivos específicos:

 Os objectivos específicos do presente estudo compreende a análise de qual modo


os Ponto de vista constitucional, responsabilizados, Evolução jurídico-
constitucional do regime das nacionalizações e a Natureza jurídica do acto de
nacionalização

Estrutura

Para melhor compreensão do conteúdo deste trabalho o mesmo está estruturado em:

 Introdução;
 Objectivos;
 Metodologia;
 Desenvolvimento;

4
 Conclusão; e
 Referência bibliográfica

Metodologia

A realização de uma pesquisa pressupõe a escolha de método e procedimentos


sistemáticos para a explicação do problema, sendo que, relativamente aos aspectos
metodológicos, que serão utilizados para o desenvolvimento do presente trabalho de
pesquisa oferece-nos dizer o seguinte:

Neste trabalho privilegiou-se a pesquisa qualitativa, porquanto, pretende discutir


problemas jurídico-administrativo. A pesquisa efectuada seguiu o método de abordagem
hermenêutica, dado que a questão fundamental que se suscita no tema de pesquisa
apresenta-se como uma questão de interpretação de textos legais.

Na elaboração do trabalho usou-se, fundamentalmente, o método de pesquisa


bibliográfica, porquanto, temas que versam sobre temáticas similares que já foram
abordados. Recorreu- se a pesquisa de manuais nacionais e estrangeiros, assim como,
dissertações, artigos publicados em revistas especializadas e científicos, em jornaislocais
e na internet. Visitas as bibliotecas e observação directa no campo.

Revisão Bibliográfica

Inicialmente fez-se o levantamento de dados a partir de várias fontes escritas. Os dados


obtidos fornecem conhecimentos de base sobre o tema estudado e também permitem
conhecer os factos já estudados.

Método comparativo

O método comparativo tem um papel importante para o Direito Económico, consiste


basicamente na identificação das semelhanças e diferenças ao nível do Direito Publico.

Pesquisa qualitativa

Quanto à abordagem do problema, a pesquisa é qualitativa, tendo como objectivo, a partir


da compreensão das situações complexas abordadas em profundidade como os princípios
éticos e o instituto das nacionalizações, compreender seus aspectos multidimensionais e
analisar a interacção de suas variáveis no âmbito económico e judicial.

5
Nesse sentido, OLIVEIRA (2011, p.82) assenta:

Investigações tratadas com uma análise qualitativa têm como objectivo


situações complexas ou estritamente particulares que serão abordadas em
profundidade, em seus aspectos multidimensionais. Estudos com metodologia
qualitativa podem descrever a complexidade de determinado problema,
analisar a interacção de suas variáveis entre sie como todo.

Nesse mesmo sentido, RICHARDSON (1999, p. 79) observa: “A abordagem qualitativa


de um problema, além de ser uma opção do investigador, justifica-se, por ser uma forma
adequada para entender a natureza de um fenómeno social”.

6
1. Conceito de nacionalização

A nacionalização consiste num acto em regra, contido num diploma legislativo,


implicando a transferência das empresas para a propriedade pública, em regra do Estado
em sentido estrido1.

A nacionalização é a sequência de actos que transfere a mercadoria de economia


estrangeira para a economia nacional, por meio da Declaração de Importação (D.I).
Documento formalizado e emitido pelo importador. Conforme dito anteriormente, a
excepção dos casos de importações dispensadas do regime de licença, a nacionalização
somente é autorizada por meio de deferimento, pelo órgão anuente, da Licença de
Importação.

Há que se considerar que na ausência da Licença de Importação, quando esse documento


for exigível, o importador, para suprir a falta e a ter a nacionalizaçãoautorizada, ficara
sujeito ao pagamento de multa de 30%, calculada sobre o valoraduaneiro acrescido o frete
e seguro internacional da importação.

O acto de nacionalização tem por objectivo unidades económicas explorações ou


empresas agrícolas, comerciais, industriais, etc. com motivos específicos de intervenção
na estrutura do poder económico, na condução da economia ou na transformação do
sistema económica2.

Distingue-se da exploração, porquanto esta consiste numa restrição ao direito de


propriedade em geral, em quanto a nacionalização afecta simultaneamente o direito de
propriedade e o direito de iniciativa privada, já que se consiste numa apropriação dos
meios de produção.

Distingue-se ainda da exploração, na medida em que esta prevê o pagamento de uma justa
indemnização, enquanto a nacionalização não obrigava a uma indemnização em tal
medida até 1982.

A criação dos sectores públicos empresariais com peso significativo nas economias
nacionais encontra-se historicamente ligado a experiencia de nacionalização. Também
em Portugal, embora como se viu, as figuras da empresa pública, tinham surgido mais

1
SANTOS, Antonio Carlos. Direito Economico. Coimbra, Almedina 5ªed, parte II. 2004
2
CORDEIRO, Antonio Meneses. Da nacionalização do BPN, Revista de sociedades Comerciais, Ano, I
numero I. coimbra, Almedine, 2009

7
cedo, ela ganhou relevância política e económica com as nacionalizações ocorridas no
seguimento do 11de Março de 19753.

Juridicamente, a nacionalização constitui uma espécie de expropriação, traduzindo-se na


transferência forçada, por acto de autoridade, de uma unidade económica (exploração,
estabelecimento, empresa) da propriedade privada para a propriedade pública (do Estado
ou de outras pessoas colectivas publicas)4.

Em sentido amplo entende-se por nacionalização, a transferência de uma empresa, bens


ou actividades económicas pertencente as agentes económicos privados para o Estado ou
para o sector empresarial publico.

Num sentido restrito, as nacionalizações constituem um acto político legislativo que tem
por efeito a transferência doa propriedade de bens económicos da propriedade privada
para a propriedade pública5.

1.1. Elementos de nacionalização

Deste conceito resultam três elementos

 O primeiro elemento é relativo ao fim da nacionalização. A nacionalização tem


um componente político-ideológico, em que se verifica a subordinação do poder
económico ao poder político, visando-se que os bens atingidos fiquem ao serviço
do interesse geral.
 O segundo elemento é respeitante ao objecto da nacionalização: consiste em
bens económicos no sentido restrito. Por isso, a nacionalização não produz
alterações quanto à finalidade ou utilidade dos bens atingidos, que continuam a
desempenhar o mesmo papel no processo produtivo, mas integrado no sector
empresarial publico.
 O terceiro elemento é relativo a titularidade e posse de bens económicos
nacionalizados. Os bens nacionalizados são transferidos do sector privado para
público.

3
K. KATZAROV, Théorie de la Nationalisation, Neuchatel, 1960. Entre nós, N. SÁ GOMES, “Nacionalizações
e Privatizações” Caderno de Ciência e Técnica Fiscal, n.°155, Lisboa: DGCI, 1988; A. SIMÕES Patrício,
4
DOS SANTOS, António Carlos, Direito Económico, 7ª Edição, ALMEDINA, 2014, p.149;
5
MIAMBO, Preciosa, Intervenção do Estado na Economia: A Intervenção Directa, 1ª Edição, ISM, Maputo,
2010, p.12;

8
Sobre este último elemento, parte da doutrina considera ainda que a nacionalização
pode ocorrer sem a transferência de posse dos bens nacionalizados da propriedade privada
para a propriedade pública ou sector publico. Por exemplo, os bens nacionalizados podem
ser afectados à uma cooperativa.

Assim não obstante o facto de a nacionalização ser um acto estatal, a posse e a gestão útil
dos bens económicos nacionalizados poderá ser assegurada por outras entidades distintas
do Estado. No exemplo que estamos a citar, a posse e gestão podem atribuídasà uma
cooperativa.

1.2. Regime jurídico das nacionalizações no contexto Moçambicano

Análise de aspectos jurídico de qualquer que seja o instituto jurídico é mais proveitosa
partindo se da lei fundamental para passar se depois aos afloramentos que se tenha a nível
infla-constitucional.

1.2.1. Ponto de vista constitucional

As constituições formais da República de Moçambique, tanto de 1975 como a de 1990 e


actual, não prevêem expressamente a nacionalização.

Tanto somente o art. 8º da CPRM confere ao Estado a propriedade da terra, dos recursos
naturais situados no solo e no subsolo, nas águas territoriais e na plataforma continental,
o que não é irrelevante, a despeito as implicações directas e imediatas da proclamação da
independência, uma vez que transfere clara e distintamente a titularidade da terra para o
Estado Moçambicano.

Preceitos análogos constatam das constituições de 1990 (art. 35º, 46º e 47º) e de 2004
(art. 98º, 109º, 110º e 111º) mas, embora desenvolvidos na letra e até no espírito não tem
a mesma relevância que na constituição do Tofo dado os contextos históricos da vigência
de cada uma. Ao nosso ver, as duas últimas têm neste aspecto, um conteúdo meramente
reafirmativo e esclarecedor6.

Pese embora, já na CPRM, se fizesse referência a sector económico do Estado na 1ª, parte
do art. 10º, não resulta claro que a Assembleia Constituinte do Tofo o teria feito impelido
por uma estratégia oficial de nacionalizações com vista a objectivo. É certo,em todo o
caso, que não se poderia, e nem se pode, reputar as nacionalizações

6
WATY, Teodoro Andrade, Direito Económico, WW Editora, limitada, Maputo-Moçambique, 2009;

9
efectuadas de inconstitucionais, uma vez não se pode extrair das constituições preceito
proibitivo.

Ao invés, é tolerável uma interpretação que vá no sentido de fazer residir a cobertura


constitucional das nacionalizações nos dispositivos que consagram a existência do sector
estatal ou público.

Do enquadramento constitucional e interpretação integrada daqueles preceitos resultam


importantes limitantes às nacionalizações.

Com efeito, o reconhecimento e garantia da propriedade privada ou sector privado, ora


em complementaridade, ora em coexistência dos outros sectores incluindo o estatal7 ou
públicos, impõe que as nacionalizações não ocorreram com contornos tais que afectem a
pujança do sector privado a ponto de obstar a sua relevância para efeitos de
complementaridade. São limitantes implícitas, igualmente os direitos à livre iniciativa e
à propriedade privada.

Trata-se de limitantes que, como é óbvio, incidem directamente sobre os preceitos


infraconstitucionais que tratam da questão das nacionalizações.

1.2.2. Evolução jurídico-constitucional do regime das nacionalizações

A Constituição da República de Moçambique de 1975 (CRM) veio consagrar


juridicamente as opções político-ideológicas do legislador constituinte herdadas da
revolução de 1974.

Em Moçambique, a Revolução inclui as nacionalizações entre as medidas emblemáticas


do processo de democratização da sociedade e do Estado e de modificação da estrutura
económica que servira de base ao ʺEstado Novo‶. As primeiras nacionalizações incidiram
sobre os três bancos emissores de moedas (Banco de Moçambique Millenium BIM
Barclays), em Setembro de 1990. Mas a maioria das nacionalizações veio a correr em
1975, na fase mais radical da revolução, tendo-se registado algumas ainda em 1975.

1.2.3. Os limites constitucionais à nacionalização

No Direito Moçambicano, a nacionalização é uma faculdade constitucional, sujeita


todavia a alguns limites materiais: por um lado, a nacionalização está sujeita ao princípio
da legalidade ao interesse público, por outro lado, as nacionalizações não pode
7
N° 1 do art. 82 e 107, ambos da CRM de 2004;

10
assumir uma preponderância tal que comprimam o sector privado da economia, à luz do
princípio constitucional da consistência de sectores de propriedade dos meios de
produção e dos direitos de iniciativa e propriedade privada.

De igual modo, está vedada a nacionalização daquelas empresas que sejam o suporte e
requisito essencial de liberdades fundamentais, como seja a liberdade de informação e
de imprensa, o que excluirá a nacionalização extensiva de empresas de comunicação
social.

No sistema jurídico Moçambicano, designadamente no âmbito da legislação sobre o


investimento privado (Lei nº 3/93, de 24 de Junho), a nacionalização aparece-nos como
uma “possibilidade” actual sujeita a alguns limites matérias (nº. 2 do art. 13).

Na verdade, conforme dispõe o nº. 1 do art. 13 do já citado diploma legal, o Estado


Moçambicano garante a segurança e protecção jurídica da propriedade industrial,
compreendidos no âmbito dos investimentos autorizados e realizados de conformidade
com as respectivas lei e regulamentação”.

Somente com o fundamento em ponderosas razões de interesse nacional, saúde e ordem


públicas se justificarias uma nacionalização de bens e direitos e relativos a investimento
autorizado nos termos da referida lei (nº.2 do artigo 13).

Pode daqui concluir-se que a nacionalização não pode ser arbitrária, mas deve ser
justificada à luz do “interesse público”. Para além desta limitação legal, há os limites
constitucionais implícitos já aludidos que vão no sentido de que as nacionalizações não
podem infringir tal extensão que ponham em causa a subsistência do sector privado ada
economia à luz d princípio constitucional da coexistência de sector de propriedade nos
meios de produção e dos direitos de iniciativa e propriedade privada8.

Se se reconhece e garante-se o direito da propriedade então limita-se, ainda que


indirectamente, a concretização daquele fenómeno apenas expressamente previsto a nível
infraconstitucional. A secundar o dispositivo constitucional vem a Lei de Investimentos
garantir, de modo mais claro, a segurança e protecção jurídica da propriedade sobre bens
e direitos adquiridos no âmbito dos investimentos.

8
Artigo 99, art. 107 e nº 1 do art. 82 da CRM.

11
De igual modo, esta vedada, por força do art. 48 da CRM e seus desenvolvimentos a nível
infraconstitucional, a nacionalização daquelas empresas que sejam o suporte e requisito
essencial de liberdades fundamentais, como sejam a liberdade de expressão e de imprensa
e o direito à informação, o que inclui a possibilidade legal de nacionalização de empresas
de comunicação social.

O regulamento da lei de investimentos (Decreto nº14/93, de 21 de Junho) estabelece, no


artigo 26, o prazo de 90 dias para eventuais reclamações por investidores ex- proprietários
de bens nacionalizados.

2.1. Processos de nacionalizações

Em 1975 teve lugar um processo massivo de nacionalizações de várias empresas. O


Estado Moçambicano, de um momento para o outro, nacionalizou 1300 empresas,
tornando-se deles proprietários. Nacionalizam-se, entre outras, empresas do sector
bancário e dos seguros, da indústria, do comércio, dos transportes, petrolíferos, da
comunicação social.

Nos processos de nacionalizações, destacamos três momentos caracterizadores da política


de nacionalizações.

 Um primeiro momento desde Setembro de 1974 até 11 de Março de 1975 em que


se opera a nacionalização dos três bancos emissores de moeda.
 Um segundo momento relacionado com os acontecimentos de 11 de Março de
1975 que levaram a uma exaltação do poder revolucionário, criaram-se condições
políticas para a prossecução de uma política de nacionalizações.
 Um terceiro momento posterior a Março de 1975, que na sequência do Decreto-
Lei n° 203/75, de 15 de Abril, que aprovou as bases gerais dos programas das
medidas económicas de emergências, efectuaram-se novas nacionalizações
afectando vários sectores da economia nacional.

Moçambique não era uma economia liberal, já que apesar da sua matriz
predominantemente privada, tinha um modelo fortemente condicionado pelo Estado na
posição de cliente, regulador e protector das pressões da concorrência externa. Embora as
nacionalizações tenham envolvido um número alargado de empresas, não foram
nacionalizadas empresas estrangeiras e empresas com participações estrangeiras, por
questões diplomáticas.

12
2.1.2. Regime das nacionalizações

Até a nacionalização do Millenium BIM, todas as nacionalizações foram efectuadas por


Decreto-Lei. Em alguns casos nacionalizou-se a totalidade da empresa, em outros
nacionalizaram-se as participações sociais, porquanto se quis ressalvar a participação
estrangeira ou porque o Estado já era detentor do restante capital social.

2.1.3. Natureza jurídica do acto de nacionalização

O art. 2, n° 1 do Anexo define que o acto de nacionalização é um acto legislativo, e de


revestir a forma de Decreto-Lei, esta solução permite o controlo do Presidente da
República, a quem cabe promulgar. Materialmente o acto de nacionalização pode ser
considerado um acto Administrativo9. Assim se compreende a necessidade de
fundamentação, expressa no art. 2, n° 2. O governo deve respeitar os princípios da
proporcionalidade, da igualdade e da coerência.

O Decreto-Lei que determine uma nacionalização é materialmente um acto administrativo


susceptível de ser submetido ao controlo dos Tribunais Administrativo. É um acto
jurídico, adoptado no exercício de uma actividade materialmente administrativa, que
produz efeitos decisórios relevantes a cada um dos titulares das participações sócias,
embora formalmente seja um acto legislativo.

2.1.4. Objecto da nacionalização

A nacionalização tem sempre por objecto unidades económicos (explorações, ou


empresas agrícolas, comerciais, industriais, ou de outra natureza) por específicos motivos
de intervenção na estrutura do poder económico ou na condução da economia.

A nacionalização é um acto político, implicando a entrada das empresas na propriedade


do Estado stricto sensu. A expropriação pode ser feita a favor de outras entidades públicas
territoriais ou não (regiões, municípios, universidades) ou até de entidades particulares
(empresas concessionadas de serviços públicos).

A figura da nacionalização afecta simultaneamente o direito de propriedade e o direito de


iniciativa privada e pressupõe a presença simultânea de seguintes componentes e
características essenciais: (a) uma componente ideológico-política, reveladora em si
mesmo da sua ordenação do poder económico ao poder político, juridicamente, se vem

9
SANCHES, José Luís Saldanha. A Lei da Nacionalizações e a Nacionalização da Lei: uma divida e cinco
ideias, disponível em http://www.saldanhasanches.pt/2-Edicao%20Direito%Prof.JLSS.pdf

13
formalizar num acto legislativo; (b) o objecto da nacionalização é um bem económico
stricto sensu. O que motiva a nacionalização não é o valor real do património do bem ou
bens, mas antes, e como aliás já fizemos notar, o facto de se tratar de uma unidade
produtiva (explorações ou empresas agrícolas comerciais, industriais, etc.) porespecíficos
motivos de intervenção na estrutura do poder económico ou da condução económica.
Daqui decorre que o acto de nacionalização implique uma alteração da utilidade e
finalidade económicas dos bens objecto de nacionalização; eles continuarão como
unidades produtivas, agora na posse da colectividade (Nação).10 (c) a titularidade e posse
útil dos bens transferidos para a Nação.

O sector publico empresarial foi entre nós, embora impropriamente, caracterizado por
empresas estatais e intervencionadas. Não nos referimos as empresas nacionalizadas, na
medida em que estas foram sempre transformadas em empresas estatais.

Atente-se que nesta abordagem deve ter-se sempre presentes a distinção entre as figuras
de nacionalização e expropriação. Sobre isto já ficou dito, essencialmente, que a
expropriação, que é limitativa do direito de propriedade, dá lugar, nos termos de n° 2 do
artigo 82 da CRM, a justa indemnização; já a nacionalização, como um acto de limitação
o direito de empresa, dá direito também a indemnização. Não deixa de ser curioso saber
onde vamos buscar o comando neste sentido.

10
A nacionalização implica, num primeiro momento, a transferência de um bem para a propriedade
pública. O termo da referência da nacionalização é a Nação, e não o Estado. Quer isto significar que o
interesse da colectividade, de Nação, pode exigir formas de detenção e gestão dos bens nacionalizados
não necessariamente estatais, antes se reconhecendo que a prossecução do interesse colectivo pode
aconselhar formas mais amplas e diversificadas de gestão de bens nacionalizados.

14
Conclusão

Após várias pesquisas e dilucidar no concernente ao tema “Nacionalizações” o grupo


chegou de constatar as seguintes conclusões do tema desenvolvido em virtude deste
trabalho:

A nacionalização consiste num acto político, em regra, contido num diploma legislativo,
que incide sobre meios de produção, implicando a transferências desses meios para a
propriedade pública, em regra do Estado em sentido estrito;

O conceito de nacionalizações pode ser entendido em vários sentidos nomeadamente: lato


sensu, onde entendemos que nacionalizações são transferências de empresas, bens ou
actividades económicas pertencentes aos agentes económicos privados para o Estado ou
para o sector empresarial público. Enquanto no strictu sensu, as nacionalizações
constituem um acto político-legislativo que tem por efeito a transferência da propriedade
de bens económicos da propriedade privada para propriedade pública;

No concernente ao confronto com figuras afins, notou-se que existem cincos conceitos
que podem ser confundidos com afiguras das nacionalizações. Pois, trata-se de conceitos
de Expropriação, confisco, reversão, resgate de concessão e intervenção do Estado na
gestão das empresas privadas;

No que tange ao regime jurídico das nacionalizações em Moçambique, concluímos que


o processo de nacionalizações foi procedido pela intervenção do estado na gestão das
empresas públicas, através de um decreto-lei nº 16/75, de 13 de Fevereiro, antes da
proclamação da independência nacional;

Por outro lado, notamos que após a independência, foram introduzidas medidas
legislativas com o objectivo de nacionalizar os bens, unidades económicas e serviços
inseridos nos sectores essenciais da sociedade.

15
Referências bibliográficas

Legislação

 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República, (2004) in


Boletim da República I série nº 20 de 24 de Dezembro;

Doutrina

 ALFREDO, Benjamim, Noções Gerais do Direito Económico, Exacta Editora


LDA, Maputo, 2012;
 ANTÓNIO, A et al.,O sector Empresarial do Estado em Portugal e nos Países da
CEE, Lisboa: Imprensa Nacional, 1983;
 CORDEIRO, ANTÔNIO MENEZES, “Da nacionalização do BPN”, Revista de
Sociedades Comerciais, Número I, Coimbra, Almedina, 2009;
 DOS SANTOS, António Carlos, Direito Económico, 7ª Edição, ALMEDINA,
2014;
 GOMES, N. SÁ, “Nacionalizações e Privatizações” Caderno de Ciência e Técnica
Fiscal, n.°155, Lisboa: DGCI, 1988;
 K. KATZAROV, Théorie de la Nationalisation, Neuchatel, 1960. Entre nós, N.
SÁ GOMES, “Nacionalizações e Privatizações” Caderno de Ciência e Técnica
Fiscal, n.°155, Lisboa: DGCI, 1988;
 MIAMBO, Preciosa, Intervenção do Estado na Economia: A Intervenção Directa,
1ª Edição, ISM, Maputo, 2010;
 OLIVEIRA, António Benedito Silva. Métodos da Pesquisa Contábil. São Paulo:
Atlas, 2011.
 PATRÍCIO, A. Simões, “nacionalizações e empresas nacionalizadas”, revista de
direito económico, VIII n.°2, 299;
 RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa Social: métodos e técnicas. 3. ed. São
Paulo: Atlas, 1999
 SANCHES, José Luís Saldanha. A Lei da Nacionalizações e a Nacionalização da
Lei: uma divida e cinco ideias, disponível em http://www.saldanhasanches.pt/2-
Edicao%20Direito%Prof. JLSS. pdf
 WATY, Teodoro Andrade, Direito Económico, WW Editora, limitada, Maputo-
Moçambique, 2009;

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