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Nós já vimos que a perseguição causou o deslocamento do testemunho apostólico de

Jerusalém para a Judeia e Samaria, como Jesus havia ordenado. Quanto a isso, dois
acontecimentos importantes possibilitaram que o testemunho dos apóstolos se propagasse
geograficamente:
(1) A conversão de Paulo ao Cristianismo.
(2) O crescimento espiritual de Pedro (isto é, o seu entendimento de que os cristãos gentios
tinham tanto direito às promessas de Deus quanto os cristãos judeus).
Para melhor entendimento, dividimos esta parte III em seis seções: A. O testemunho se
propaga (8.1-40) – já vimos; B. A conversão de Paulo e o crescimento da igreja (9.1-31) – já
vimos; C. O testemunho continua a se propagar (9.32-43) – já vimos; D. O testemunho alcança
os gentios de Samaria (10.1-11.18) – começaremos a ver agora; E. A igreja em Antioquia da
Síria (11.19-30) – veremos agora; e, F Perseguição e julgamento em Jerusalém (12.1-25).
D. O testemunho alcança os gentios de Samaria (10.1-11.18).
Pedro foi o primeiro apóstolo a vencer a barreira entre judeus e gentios, algo que conseguiu por
ter obedecido às ordens de Deus.
Alguns gentios sempre foram contados como parte do povo de Deus (p. ex., Rute, em Rt 4.13-
22; os queneus, em 1Sm 15.6; Naamã, em 2Rs 5; Lc 4.27).
Todavia, durante o período do Novo Testamento, o reino de Deus foi aberto para receber
gentios em maior quantidade e o evangelho passou a conceder total igualdade entre judeus e
gentios.
Pedro foi o precursor desse processo, porém mais tarde Paulo lutou pela causa dos gentios.
O capítulo começa narrando a história de um homem chamado Cornélio que vivia na Cesareia.
A Cesareia marítima (isto é, a cidade que ficava no litoral) estava localizada na planície de
Sarona, aproximadamente 105 km a noroeste de Jerusalém. Era uma cidade portuária que foi
modernizada por Herodes, o Grande, que a reconstruiu.
Cornélio era um oficial do exército romano piedoso – vs. 2. Cornélio era um homem que
praticava uma vida de oração e boas obras aos necessitados. Ele era temente a Deus. Ele era
quase um prosélito do judaísmo, isto é, um gentio que adorava a Deus, mas que não queria ser
circuncidado (13.16,26).
Cornélio teve uma experiência singular com Deus envolvendo a visão nítida de um anjo de
Deus que lhe aparecera e que tinha dito a ele que aquilo que fazia pensando nos pobres tinha
subido a Deus de forma agradável, mas que era necessário ele chamar um homem conhecido
como Pedro.
Aquele anjo dá o endereço de Pedro e suas características e Cornélio foi obediente e logo
encarregou dois de seus soldados para irem procurarem por Pedro.
Por outro lado, quem estava orando por volta da hora sexta, isto é, perto do meio-dia, era
Pedro que também teve uma visão quando subiu ao eirado a fim de orar. Pedro provavelmente
orava três vezes por dia (cf. Dn 6.10). No antigo Oriente Médio, o telhado das casas era plano
e uma escada externa dava acesso a ele.
Pedro estava com fome e queria comer, mas enquanto aguardava a comida foi orar e nesse
momento é que teve sua experiência, um um êxtase – vs. 10. Do grego ekstasis. O termo se
refere a uma condição em que a consciência sobre o mundo exterior fica suspensa, fornecendo
a condição ideal para receber a visão e compreender a mensagem de Deus.
Em sua visão quadrúpedes, répteis e aves estavam todos envolvidos num grande lençol que
descia à terra, preso nas quatro pontas. Ali havia tanto animais limpos como imundos (Lv 11).
Uma voz dizia para ele se levantar, matar e comer – vs. 13. Pedro estava com fome; porém,
como bom judeu, não estava disposto a violar a lei do Antigo Testamento quanto aos animais
imundos (vs. 14).
A voz, no entanto, orientava-o que não era para ele considerar impuro o que Deus tinha
abençoado ou purificado. Parece que um dos propósitos principais das restrições alimentares
do Antigo Testamento era fazer distinção entre Israel e os gentios.
Porém, agora que Deus estava chamando gentios cerimonialmente impuros para serem salvos
em grande quantidade, essas regras que visavam distinguir judeus de gentios não eram mais
apropriadas.
Por três vezes Pedro teve a mesma visão. A visão foi repetida com o objetivo de subjugar as
objeções de Pedro. Também nos faz lembrar que ele por três vezes negou ao Senhor e que
por três vezes o Senhor lhe perguntou se ele o amava.
Pedro ainda estava refletindo na visão quando aqueles homens enviados por Cornélio
chegaram à sua casa. Eles estavam justamente procurando por Pedro.
Nisso, o Espírito Santo adverte Pedro dos homens que estavam à sua porta e fala para ele os
seguir, sem nada duvidar. Pedro os recebeu, os hospedou naquele dia e no dia imediato
partiram. O grupo levou dois dias para viajar quase 50 km entre Jope e Cesareia.
Pedro avançou muito em sua compreensão espiritual, tanto que entrou numa casa gentia (vs.
28). Ao entrar, correu Cornélio a se prostrar aos seus pés, para o adorar, mas Pedro mandou
que se levantasse e disse que era homem como ele.
Cornélio ficou muito emocionado diante da presença de Pedro, o apóstolo que Deus lhe havia
pedido para chamar.
Pedro lhes explica sua condição de judeu, sua visão e interpretação e como resolvera seguir
aqueles homens que Cornélio tinha enviado. Ele lhes fala de sua visão e que por meio da
imagem dos animais que eram baixados num lençol e pela voz de Deus dizendo "O que Deus
purificou não consideres comum" (vs. 15), Pedro percebeu que a visão ia além das restrições
alimentares.
Cornélio também explica sua visão e a origem do chamado de Pedro.
Ele havia reunido, em sua casa, muitas pessoas para ouvirem o que Pedro tinha para falar.
Feita as apresentações, saudações iniciais, explicações dos fatos e experiências vividas entre
eles, Pedro começa seu discurso falando que Deus não faz acepção de pessoas. O evangelho
é tanto para os judeus como para os gentios (1.8; Rm 1.16).
Para Deus o que importa é aquele que o teme e faz o que é justo. O temor do Senhor conduz à
fé e confiança em Deus, bem como a uma vida piedosa.
Pedro então lhes anuncia as boas novas do evangelho, do evangelho da paz, por meio de
Jesus Cristo. A paz da reconciliação com Deus, por meio do sangue de Jesus, que é a nossa
paz (Ef 2.13-14). Foi o Pai quem ungiu seu Filho e o fez Senhor de todos. Jesus é Senhor tanto
de judeus como de gentios.
Pedro diz que ele e os demais cristãos eram testemunhas dos fatos que envolveram a vida e a
obra de Jesus no qual Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder, e
como ele, Jesus, andou por toda parte fazendo o bem e curando todos os oprimidos pelo diabo,
porque Deus estava com ele.
Pedro declara que eles eram testemunhas de tudo o que ele fizera na terra dos judeus e em
Jerusalém, onde o mataram, suspendendo-o num madeiro. Ele continua a esclarecer a eles
que Deus, porém, o ressuscitou no terceiro dia e fez que ele fosse visto, não por todo o povo,
mas por testemunhas que designara de antemão, principalmente por aqueles que comiam e
bebiam com ele depois que ressuscitou dos mortos.
Pedro esclarece que foi Jesus quem mandou pregar ao povo e testemunhar que o Filho de
Deus é aquele a quem Deus constituiu juiz de vivos e de mortos. Todos os profetas dão
testemunho dele, de que todo aquele que nele crê, recebe o perdão dos pecados mediante o
seu nome – vs. 38-43
Pedro estava ainda falando quando caiu o Espírito Santo sobre todos – vs. 44. Todos foram
ungidos com o poder do Espírito, falaram em línguas e louvaram a Deus (v. 46).
Os judeus que acompanhavam a Pedro, os fiéis que eram da circuncisão, admiraram-se de que
o dom do Espírito Santo fosse derramado até sobre os gentios. Deve ter sido difícil para os
esses judeus que observavam a lei com rigor, e que não haviam tido a mesma visão de Pedro,
perceberem que Deus não mostra favoritismo em sua oferta.
Em seguida, foram todos batizados em nome de Jesus Cristo (a remissão de pecados ocorre
por meio do nome de Jesus - vs. 43), por iniciativa de Pedro e dos demais.
A genuína regeneração, o arrependimento, a fé e o testemunho, tudo isso conduz naturalmente
ao privilégio do batismo, que é o testemunho tangível da operação interior da salvação do
Espírito Santo.
Depois disso, eles pediram ainda que Pedro se demorasse mais algum tempo, certamente para
ajudá-los nessa fase inicial da igreja ali em Cesareia.

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