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A Imensa Minoria - Arte, Mercado & Filosofia N1 PDF
A Imensa Minoria - Arte, Mercado & Filosofia N1 PDF
10
Marcilio Rosa
Conversamos com o cantor e
instrumentista sobre o desafio de
lançar uma carreira solo;
02
Que Morram os Artistas
Entrevista com Ione Medeiros,
diretora do grupo Oficcina Multi-
media, sobre a relação entre arte
e sociedade;
08
Rômulo Avelar
O principal multiplicador da Gestão
Cultural de Belo Horizonte dará alguns
conselhos para aqueles que querem ex-
perimentar a aventura de viver de arte.
17
N.1
O CÃO
por Altamides Jardim
Altamides Jardim (1903-1995) nasceu em 24 de dezembro, próximo ao povoado de “Cabellos”, hoje “Baltasar Brum”
(Artigas- Uruguai). Foi escritor, poeta e professor de literatura. Morou em Salto, Uruguai, em 1934. Sempre partici-
pou ativamente dos movimentos culturais, sendo encarregado da filial da AIAPE (Agrupação de Intelectuais, Artistas,
Profissionais e Escritores, em tradução livre), que depois se tornou a Associação Cultural Horacio Quiroga.
Contra Capa
N.2
Editorial
“É possível viver de Arte”
por Germán Milich Escanellas te - é necessário empobrecer as sociedades, querer trabalhar para os poderosos?
torná-las alcoólatras e, principalmente, en- Todos vão perceber que merecem
tretê-las.
O
algo melhor, um melhor trabalho, um
i. Tudo bem? Se você está lendo esta melhor salário, uma vida com mais
revista é altamente provável que seja qualidade.
artista ou que goste de arte e intua que seja O grande problema dos poderosos é que de-
algo que represente muito mais do que mero pendem dos trabalhadores para se enrique-
entretenimento. Mas, ao mesmo tempo, cerem. Por isso essa raiva toda. No fundo, Portanto, os empresários vão tentar nos ti-
aceita a tese oficial de que é impossível vi- detestam depender dos trabalhadores. rar os meios que nos ajudam a perceber que
ver de arte. Sabe por quê? Porque esse é o podemos aspirar a mais. Vão nos doutrinar
plano. dizendo que trabalhar 10 horas por dia ga-
Dependem porque não gostam de executar
nhando um salário mínimo num ambiente
determinadas tarefas. Daí a importância da
opressor e machista é ser um vencedor.
Eu também tenho a minha teoria da cons- mão de obra sem pensamento crítico: para
piração. Eu acho que o projeto de poder que ela conte seu dinheiro, cuide de seus fi-
tem como prioridade que pensemos lhos, lave suas privadas, para que ela prepare Por esses motivos o projeto é que a ARTE
que não é possível viver de arte. Que e sirva suas refeições, para que produza sua não seja democratizada. Por isso se
sermos fadados a ter uma economia pre- riqueza e faça prosperar seus negócios. Para premia com fama e dinheiro a quem é fun-
cária, num entorno social que não percebe que ela seja o suporte de sua qualidade de cional. Por essa razão se reafirma constan-
nossa utilidade é o castigo reservado aos vida. temente o paradigma de que não é possível
artistas por querer, obstinadamente, sermos viver de arte e, do mesmo modo, para que
livres. os jovens que estão pensando em se torna-
É mentira que a gente não quer trabalhar.
rem artistas profissionais desistam ou, caso
Nós queremos trabalhos qualificados.
continuem, pelo menos que se insiram no
A arte é por natureza contrária ao pa- Queremos ser muito mais do que apenas
aparelho oficial de comunicação e abando-
triarcado. A arte aperfeiçoa nosso pensa- empregados dos poderosos. E a ARTE nos
nem as suas ideias.
mento, qualifica nossa índole, amplia nos- permite interpretar o mundo no qual esta-
sos horizontes e, também, (isso é o que não mos inseridos e tomar decisões melhores
querem que percebamos) aumenta nosso sobre nosso destino. Mas nós continuamos. Seguimos escreven-
valor de mercado. do nossos poemas, tocando violão e en-
saiando peças de teatro. Você está lendo essa
O glamuroso establishment - para se
revista, porque nós não queremos trabalhar
Para que o patriarca possa te oprimir é pre- manter - necessita de trabalhadores que:
para eles - de jeito nenhum - e temos a cer-
ciso que você seja pobre. A América Latina é teza de que SIM! É POSSÍVEL VIVER DE
famosa por suas riquezas e por sua tragédia.
• aceitem sua posição como se fosse ARTE!
São elas que sustentam as ínfulas europeias
a ordem natural das coisas;
há vários séculos. Ouro, prata, pedras pre-
• não tenham uma vida própria.
ciosas, ÁGUA, oxigênio, lítio, clima tropi- A Imensa Minoria
cal para a agricultura extensiva, MÃO DE
OBRA e mercados populosos. Por isso eles não querem que a ARTE che- Editor responsável:
gue a todos. Para eles, quanto menos arte Germán Milich Escanellas
melhor. A arte é um privilégio de classe. Jornalista revisor:
Para que todo esse vasto território continue
exportando matéria prima e importando Cirdes Lopes
valor agregado - ou seja, para que o padrão Se os artistas começarem a prospe- Designer:
colonial de comportamento continue vigen- rar e a produzir mais arte, quem vai Thiago Moreira Faria.
Leia:
AIM - O que o levou a pensar que ser fingido. Se uma pessoa não é po-
cantar poderia ser uma profis- Como artista empreendedor eu tenho litizada e pega uma bandeira para au-
são? um pouco mais de controle sobre a mentar suas vendas, ou o contrário, é
geração do meu trabalho e ao mesmo muito politizada e tem que calar para
Marcílio - A primeira vez tempo vou aumentando minha rede não perder seu público, aí com certeza
que pensei em viver de arte foi como de trabalho. Precisamos equipes de se produz algo inorgânico.
músico, então eu resolvi estudar o má- trabalho além da parte criativa, venda,
ximo possível para aumentar as chan- produção, marketing, divulgação, cap- O artista também tem que ter cuida-
ces. Coloquei na equação econômica tação de sponsors, etc. do se for se posicionar, pois é uma
o fator da vocação, trabalhar naquilo pessoa pública. Pesquisar antes de se
que você ama faz mais prazerosa a jor- Mas, além disso, o ponto mais impor- posicionar. Hoje existem muitas “fake
nada e aumenta as chances de sucesso. tante, é a missão do artista de levar news”. Acho que aí a responsabilidade
arte para as pessoas, independente de e a sabedoria são fundamentais para
Quando comecei a ser contratado ser eu sozinho, ou com uma banda me contornar esses obstáculos.
para tocar com bandas já consegui en- acompanhando, ou até com outros ar-
xergar uma forma de trabalhar como tistas. Na carreira solo consigo exercer A verdade é o caminho. A minha mis-
músico. E agora depois de um tempo minha missão independente de qual- são é inspirar pessoas, sensibilizar. Eu
trabalhando como freelancer que toca quer coisa ou pessoa. sou cristão e Cristo tem um olhar po-
com outros músicos, resolvi lançar lítico e muito sensível.
minha carreira solo. AIM - O que você acha mais im-
portante em um artista: posicio- AIM - Qual é sua estratégia, seu
Isso tem vantagens e desvantagens. namento ou qualidade? modelo de negócio para ter uma
Como “músico freelancer”, por exem- renda e poder viver da arte?
plo, você tem o cachê garantido, mas Marcílio - O artista sempre
se você é “músico empreendedor” tan- se posiciona e sempre procura a quali- Marcílio - Como já disse
to pode ganhar como perder dinheiro. dade. Essa diferenciação entre posição antes, minha principal estratégia foi
Isso é um risco maior, mas também e qualidade existe só entre quem não estudar o máximo possível, ser bom
uma chance de crescer economica- trabalha com arte. É mais uma de- no que eu faço, se poderia dizer que
mente. manda do espectador. Talvez quando é algo assim como ser a solução de
se fala de posicionamento na verda- quem precisa de um músico. É impor-
Eu dependia de outros para poder to- de é uma pressão para que um artista tante dedicar muito tempo ao estudo e
car, dependia que outros aprovassem tome a posição que o público quer. a qualificação. A segunda foi estudar
projetos, que vendessem, ou seja, que gestão cultural para aprender a gerir
tivessem a condição de me contratar. A conjunção de posicionamento e minha carreira.
Isso não era bom, pois ficava sem tra- qualidade chama-se VERDADE. O
balho em algumas épocas do ano e artista tem que ser verdadeiro e se Sobre minha estratégia na carreira
sem ter o que fazer. comportar como ele é. Só não pode solo, seriam 3 pilares: o primeiro é
Marcílio Rosa. Foto de Felipe Fantoni.
a sustentabilidade. Eu preciso tra- e vende o ingresso. Não podemos só ra, aproveitar as oportunidades e criar
balhar com um nível de investimento divulgar que vai ter o show, temos que harmonia entre a técnica e as nossas
coerente com a minha realidade e re- vender os ingressos. Eu acho que isso necessidades.
ceber algum cachê nos shows que eu pode ser o ponto mais diferencial para
fizer para que possa tentar equilibrar uma carreira sustentável, uma “atitude A própria realidade cria um contex-
ao máximo. de venda”. to filosófico, pois a filosofia é a ferra-
menta para interpretar a realidade e os
Sempre vi muitos artistas fazendo AIM - Você acha que influencia artistas participam disso muitas vezes
shows em que só pagavam os músicos na sua composição a necessida- de forma inconsciente, eles sentem
e não recebiam nada. E logo, logo, eles de de agradar ao público? as reverberações daquele contexto. O
paravam de fazer shows e arrumavam mercado também vai influenciar. Sin-
outro trabalho, desvinculado a sua Marcílio - Eu acho que o ar- to que se fala mais de mercado e de
carreira. É claro que em momentos tista tem que ser verdadeiro, fazer o arte, mas que a filosofia tem um papel
estratégicos é importante fazer shows que ele gosta e o que ele acredita. Ao determinante, inclusive para desen-
de investimento, shows com real po- mesmo tempo, tem que ser inteligen- volver melhor as vendas.
tencial de visibilidade e de alavancar te. Testar os momentos do show, testar
sua carreira. Fazer shows com a ban- os vários elementos da sua arte e ver o Seja o que for, a medida que mais vive-
da reduzida, de forma que eu receba que seu público gosta mais. Tudo que mos da arte mais necessário torna-se
algum cachê, ou até fazer shows sozi- eu faço eu gosto, mas nem tudo que eu o aprofundamento nestes temas para
nho, também é sustentabilidade. Ter faço o público gosta tanto. Então vou enriquecer nosso ciclo produtivo.
um show que seja fácil de vender e direcionar e filtrar tudo que eu gosto
gerar renda. de fazer, de tocar, e selecionar aquelas AIM - E o que vem depois do lan-
que o público respondeu melhor. Mas çamento?
Outro pilar é o marketing digi- sempre dentro da minha arte e da for-
tal. Estou estudando e investindo no ma que eu acredito. Marcílio - Depois do lan-
marketing digital e acredito que hoje çamento vem a agenda, começar a
seja a forma mais acessível de desco- AIM - Arte, mercado e filosofia programar toques e paralelamente
brir quem é seu público, de se intera- têm alguma relação determinan- cultivar o hábito de encontros com
gir com o público, criar o relaciona- te ou são coisas diferentes que compositores e artistas para ter pre-
mento e concretizar a venda. não se misturam? sença. Estou pensando também em
incursionar nos conteúdos digitais,
E o terceiro é uma real atuação É uma pergunta difícil, mas faz sen- enfim tenho muitas ideias. Mas agora
nas vendas, venda do show, ou, se tido. A Arte é a técnica, a qualidade. o foco é o show, um passo de cada vez.
você promove o show, a venda dos in- O Mercado é a subsistência material,
gressos. Eu acho que não pode só di- é onde trocamos nosso serviço pelas
vulgar, tem que vender, vender o show coisas que necessitamos e a Filosofia é
ou se não, inventa o show (promove) a sabedoria a forma de levar a carrei-
N.3
SINDMUSI MG
Queremos mais que
Sobrevivência!
por Gilberto Mauro e Antônio Viola.
N.4
Decálogo do Perfeito Contista
por Horacio Quiroga
I VII
Segue um mestre para aprender a falar Não adjetives sem necessidade. Inúteis
com Deus. serão quantos enfeites coloridos aderi-
res a um substantivo fraco. Se encon-
II trares o perfeito, somente ele terá uma
Crê que tua arte é um cume inacessível, cor incomparável. Mas é preciso en-
nem sonhes com dominá-la. Isso será contrá-lo.
algo que conseguirás sem sequer per-
ceber. VIII
Toma teus personagens pela mão e le-
III va-os firmemente até o fim, sem ver
Resiste o quanto puderes à imitação, nada além do caminho que traçastes
mas se a tentação for demasiado forte para eles. Não te distraias vendo o que
imita sem remorso. O desenvolvimento a eles não importa ver. Não abuses do
da personalidade, mais que nenhuma leitor. Um conto é um romance sem
outra coisa, requer muita paciência. roupa nem maquiagem. Tenha isso
como uma verdade absoluta, ainda que
IV não o seja.
Não deves ter fé cega na tua capacidade
para o triunfo, mas na força com que IX
o desejas. Ama tua arte com todo o teu Nunca escrevas sob o império da emo-
coração. ção. Deixa ela te consumir primeiro e,
depois, tenta recuperá-la. Se fores ca-
V paz de revivê-la, terás alcançado a me-
Não comeces a escrever sem saber des- tade do caminho.
de a primeira palavra aonde queres
chegar. Num conto bem-feito, as três X
primeiras linhas têm a mesma impor- Não lembres de teus amigos ao escrever,
tância das três últimas. nem imagines a impressão que causará
tua história. Escreve como se teu rela-
VI to não interessasse a mais ninguém se-
Se quiseres expressar com exatidão não ao pequeno mundo de teus perso-
esta circunstância: “desde o rio sopra- nagens, dos quais tu poderias ter sido
va um vento frio”, não há na língua hu- um. Não há outro modo de dar vida ao
mana mais palavras que as apontadas conto.
para expressá-la. Uma vez dono de tuas
palavras, não te preocupes em observar
se apresentam consonância ou disso-
nância entre si.
Horacio Quiroga (1878 – 1937) nasceu em Salto, Uruguai. Foi poeta, romancista, diplomata e dramaturgo. Conviveu em
Paris com Rúben Darío. Trabalhou como fotógrafo em uma expedição às ruínas jesuíticas de Misiones, onde morou.
Algumas de suas obras: Os recifes de coral - 1901; Contos de amor, de loucura e de morte - 1917; Contos da selva - 1918;
Os desterrados - 1926; e Além 1935, última obra do autor.
N.5
L i t e r a t u r a
Solidão
A solidão é um quadro de Munch na parede É o ponto final da carta
Uma cadeira de balanço vazia É um jogo de xadrez interminável que
Um copo de vinho pela metade se arrasta por dias, meses, anos
Uma folha em branco É o labirinto de Borges
Um cão sem dono São portas que se abrem para infinitas portas
É o quarto de Van Gogh triste e pobre que não levam a lugar nenhum
É o mar sem ondas Solidão sou eu ou você escrevendo
NY sem as torres gêmeas Num dia de chuva
N.6
por Ricardo Luiz Almeida Pinto Ferreira
A máquina de escrever
Epitáfio Paredes morava num perfeito. Colocou a folha em No dia seguinte, o zelador inco-
apartamento em BH e estava branco e começou a escrever. modado com o cheiro forte que
muito mal de saúde. Por esse Ele escrevia devagar, quase vinha do apartamento do Sr.
motivo havia pedido ao seu como se estivesse saboreando Paredes resolveu investigar.
amigo editor de livros que as palavras. Não tinha pressa. Chamou o seu nome e tocou a
publicasse como último pedi- Perfeccionista, pensava em campainha do interfone várias
do um livro de contos. cada palavra, adjetivo e subs- vezes. Preocupado, utilizando
Como eram muito amigos, tantivo. Escrevia como se o de uma chave de fenda, abriu
Toledo, o editor, não pôde tempo não existisse lá fora. a porta e se aproximando do
negar esse desejo e tirando da Muitos dias se passaram e Epi- quarto se deparou com o velho
sua escrivaninha deu a ele o táfio continuava escrevendo morto sobre a cama.
contrato. seus contos. Não se cansava Respeitosamente, o zelador
Depois de assinado, os ami- o danado. Às vezes dava uma ajeitou o morto e cerrou os
gos apertaram as mãos e se pausa para almoçar e dormir seus olhos. Observou o quarto
despediram. um pouco, mas o seu entusias- e viu sobre a mesa a máquina
Epitáfio estava muito feliz e, mo era tamanho que quase de escrever várias folhas escri-
chegando em casa, a primei- não conseguia pegar no sono. tas e um bilhete que pedia para
ra providência que tomou foi Numa manhã de quarta-feira, que aquele livro fosse entregue
tirar da prateleira que ficava enquanto escrevia o capítulo na rua Barata Ribeiro Nº 127,
em seu quarto a velha máquina 25 do seu livro, sentiu uma Copacabana-RJ, aos cuidados
de escrever. pequena dor no peito. Parou de do Sr. Toledo de Alcântara
A máquina era antiga. Uma digitar e deitou em sua cama. Machado.
remington preta. Seria nes- Tremia, suava. Sabia que esta- No mesmo dia e às pressas, os
sa que o professor de latim e va morrendo e que era inevitá- poucos amigos e ex alunos de
filosofia aposentado iria come- vel o fim. Vivera bem seus 88 filosofia, depois de terem sido
çar a escrever seus contos. O anos. Só lamentava que iria avisados pelo zelador da mor-
editor ainda tentou convencê- desta para melhor sem con- te do professor, mais do que
-lo de levar emprestada uma cluir o seu livro de contos. rapidamente providenciaram
máquina de escrever elétrica No momento em que seu o seu enterro. No cemitério,
ou contratar alguém para digi- coração parou de bater, algo além de seus ex alunos, ami-
tar seus manuscritos usando o surpreendente aconteceu: a gos compareceram e o zelador
computador, mas Epitáfio era máquina de escrever começa- que emocionado segurava nas
avesso à tecnologia e sempre ra a escrever sozinha e de uma mãos o livro datilografado de
gostava de repetir que a tecno- forma mais rápida. Como se Epitáfio.
logia matava a poesia da vida. estivesse possuída pelo espec- Sr. Toledo reconheceu o livro
Frase essa que às vezes causa- tro de Epitáfio ou tivesse adqui- datilografado e se apresentou
va risadas entre seus amigos e rido poderes mágicos. ao zelador que, muito emotivo,
antigos alunos da federal. Dia e noite se ouvia o barulho entregou o livro. Nada se falou.
Naquele dia ele estava mui- da máquina de escrever que O silêncio se fez absoluto. Per-
to feliz e orgulhoso. Antes de trabalhava incessantemen- maneceram ali até o momento
começar a escrever, verificou te. Alguns vizinhos ficaram em que a última pétala de rosa
se a máquina funcionava e, impressionados com a vitali- fora jogada sobre ele.
com um pequeno pano, tirou dade e a força de vontade do
a poeira que se encontrava velho professor de latim. Esses
nela. Tudo estava organizado, mal suspeitavam do ocorrido.
Ricardo Luiz é graduado em marketing e relações públicas. Iniciou sua carreira como escritor ainda ado-
lescente e desde então já produziu vários contos e dois romances a serem editados além de peças de teatro
e roteiros humorísticos. Dono de uma escrita mais profunda e comprometida com a boa literatura, ele hoje
volta o seu olhar a questões políticas e sociais.
N.07
“Que morram
os artistas”
Entrevista com Ione Medeiros, Diretora do Grupo Oficcina Multimédia
AIM: Para começar, falemos do nos- Nosso compromisso é com a arte. Não problemáticas comuns a todos.
so antagonista: o público. O que opina com a expectativa do público. Nós
sobre o conceito de público-alvo? temos fé na arte, acreditamos que se AIM: Quais problemáticas?
a arte acontece a expectativa do públi-
Ione: Público-alvo é um conceito do co passa para segundo plano. Digamos Ione: Muitas. A questão da sobre-
mundo do mercado, não é inerente ao que um de nossos problemas de inser- vivência do planeta, a desigualdade
mundo da arte. A informação como ção laboral é que temos pouco público social, a própria evolução do homem, a
produto, a seleção de pessoas para com expectativa de arte e muito públi- criação de uma visão coletiva da socie-
serem atingidas e a geração de deman- co com uma expectativa de, apenas, dade, a necessidade de afeto, a angústia
da não são assuntos da arte. O assunto entretenimento. da vida, a esfera da morte, o sentido da
da arte é qualificar, ampliar, gerar ver- A função da arte não é dou- existência...
sões. Aí sim estamos falando de desa- trinar, nem passar mensagem, nem
fios inerentes à arte. Mas segmentar comunicar: a função da arte é algo AIM: Talvez ficar na superfície das
público é muito mais uma necessidade individual, uma negociação íntima de coisas seja uma forma de defesa do
que diz respeito à venda de um produto cada artista com a arte. ser humano, de poder suportar sua
que a um processo artístico. condição efêmera?
Para mim, público é qualquer AIM: Mas você quer atingir o
indivíduo que se desloca para ir ao tea- público? Ione: Pode ser. Talvez muitas pes-
tro, sem discriminar ninguém, não soas acham inútil falar da morte ou
se deve afunilar nenhum espetáculo Ione: Bom, ninguém quer fazer de problemas tão profundos porque
com o pretexto de que isso não é para uma peça que seja para não assistir, em definitiva são problemas para os
esse público, porque se desvaloriza mas está fora de nosso âmbito de tra- quais o homem não tem solução, mas
a capacidade de percepção intuitiva balho calcular quantas pessoas ou a pelo menos falar daquilo que nos afli-
inconsciente. quem vamos atingir. A tendência na ge evita com que se manifeste de uma
Existem momentos que o hora de formatar projetos culturais é maneira mais nociva, como a violência
imaginário do ser humano vai por pensar na quantidade, inclusive é um e o preconceito.
caminhos impossíveis de se padroni- dos critérios principais na hora de
zar. Também é discutível o conceito escolher ou dar espaço para qualquer AIM: Você acha a classe artística
de público. Em definitiva, o que exis- manifestação. folgada?
te são pessoas que estão ali assistindo. Mas se você direciona a sua
Se você afunila essas pessoas dizendo proposta para qualquer tipo de resul- Ione: Sim. Para começar acho que
qual é o espetáculo para ela se encai- tado, neste caso quantitativo, você está não toma partido, não vejo um posicio-
xar, você está privando-as de entrar traindo uma das funções do artista, namento claro, não vejo uma inquie-
em contato com um material menos que é entrar com alguma coisa da qual tação. Qual é o compromisso que nós
deglutido. não tenha confirmação do resultado. temos? Parece que nenhum. O grande
Quando a lógica do mercado O artista propõe uma reflexão do seu sintoma é a falta de interesse. E falta
entra no processo criativo provoca tempo, com sua linguagem. um trabalho real, horas de trabalho.
uma forte necessidade de agradar. Eu Isso não significa que eu não Fazer uma coisa bem feita leva traba-
não concordo com isso, não acho que esteja preocupada com a comunica- lho, não é nenhum mistério.
nossa função se limite a agradar, nos- ção, significa que não estou preocu- Nós sentimos a falta de um
sa função também é uma descoberta pada com a tranquilidade do público. ponto de encontro onde falar coisas
criativa e não uma preocupação de Não considero que refletir sobre o ser além das leis de patrocínio e se a gente
“se o público agradou ou se o público humano e seu tempo se caracterize entrou, se a gente não entrou ou se a
entendeu”. como entretenimento. Considero isso gente captou. É um tema importante
O público sempre espera algo uma função antropológica e social mas não é o único. Sentimos a falta de
de nós, mas isso é um problema dele. cuja utilidade é colocar no debate debate sobre a inserção dos artistas na
N.08
“Que morram os artistas” é uma lendária
peça de teatro do dramaturgo e diretor polaco
Tadeusz Kantor. A peça surgiu de uma reclamação
que Tadeusz escutou de uma das moradoras do
condomínio onde ele ensaiava com sua trupe. Em
sua objeção, a moradora estava se queixando dos
barulhos provocados pelos ensaios. Na ocasião,
o porteiro tentou justificar: - É que são artistas.
Ao que a vizinha retrucou imediatamente: - Que
morram os artistas, eu quero é silêncio!
Tal experiência resultou nessa peça de teatro
na qual o diretor nos fala sobre como a sociedade
nos enxerga como artistas. Eles querem nossos
espetáculos, porém não gostam de financiar nos-
sos ensaios.
Tendo essa obra como referência, fomos à
casa de Ione Medeiros, uma das principais artis-
tas pesquisadoras do Brasil, para conversar sobre
essa relação entre arte e sociedade. Ione Medeiros. Foto de Leo Fontes.
nossa época. a ser as mesmas, estaremos reprodu- Eu tento fazer o melhor que
Nosso desejo é não direcionar zindo um teatro inútil, sem valor. Um posso. É muito provável que não con-
a discussão do ator só para a questão teatro morto. siga, mas tenho que tentar ter respon-
da verba. Falta discussão filosófica, sabilidade sobre o que eu faço. Em pri-
falta discussão de linguagem, existe Na história das artes, os grupos de meira instância porque estou fazendo
muita permissividade, por mais que vanguardas sempre são pequenos e uso de um gesto ancestral e em segun-
a época seja um pouco difusa com sustentam uma geração. Que obra da porque estou ocupando um espaço,
muita coisa aparecendo, deve existir deixou o dadaísmo? Um grupinho de então tenho que ocupar bem.
responsabilidade. pessoas que destruiu toda uma forma Eu tenho uma sensação de gra-
de pensar acadêmica e sobrevive até tidão quando entro num palco e tem
AIM: Você acha inevitável um con- hoje sem nenhuma obra. A sua obra tantas pessoas aí para trabalhar numa
fronto entre as gerações? é o próprio movimento que criaram. coisa que faz parte de um mundo que
não é pragmático. Porque a arte não é
Ione: Eu gosto da visão dos orientais O teatro é a arte mais direta. A pragmática, você não faz arte para ter
e o conceito de mestre que de alguma única onde está presente a fragilidade um resultado amanhã, aliás você nem
forma propõe uma alternativa à visão humana como componente fundamen- sabe qual vai ser o resultado.
ocidental do filho querendo superar o tal, porque você está aí podendo errar Existe um caminho real que
pai, porque, na realidade, seria muito em qualquer momento e essa fragili- é inadiável que é o autoconhecimen-
bom se a gente conseguisse aprender dade é o que emociona neste mundo to. Descobrir em você mesmo por que
com o outro. Temos uma falta de mes- facilitador e de carícias em troca de você faz arte. O inconsciente é um nível
tres e um excesso de patriarcas. consumo, onde você é agradado para profundo onde o ego fica menor e você
Se conseguíssemos enxergar consumir. não fica a serviço de uma ideia sua que
os outros como mestres e aprender e Como você lida com essa rea- é superficial.
ensinar com generosidade, evoluiría- lidade se o teatro é uma manifestação Esse chegar no inconsciente é
mos muito mais. que não tem como objetivo agradar? o período de caos, onde você não tem
Como você mantém a essência humana domínio, onde você está procurando
AIM: Em relação ao questionamen- em meio de tanta dispersão? A resposta signos e símbolos. Onde a coisa pre-
to “é possível viver de arte?”, você acha sobre “se é possível viver da arte” eu cisa ser organizada em termos de lin-
que nós artistas estamos errando em acho que é. Sim é possível se acredi- guagem, onde você não pode ter pressa
algo? tarmos na arte. nem deixar passar, porque o ritmo de
essa obra que quer existir faz com que
Ione: Sim. Um dos maiores erros é AIM: Qual é o caminho que você você dilua seus desejos em função do
quando o próprio teatro não acredita acha que um artista deve seguir para que é preciso fazer. Por isso eu sem-
em si mesmo. Nós artistas não pode- conseguir isso? pre falo que só acredito em revoluções
mos sucumbir. Se você se entrega, se individuais.
você deixa de acreditar, se começa a Ione: Uma coisa que eu acho impor- A sociedade toda é feita de fun-
fazer um teatro televisivo com uma tante é tomar posição. Quem lida com ções, então para você se inserir eco-
mensagem cuja única finalidade seja cultura tem uma responsabilidade. A nomicamente de uma forma orgânica,
acariciar, provocar descargas de adre- falta de posicionamento claro é extre- primeiro tem que se preparar para
nalinas, estamos destruindo nossa fun- mamente prejudicial. Tem critérios desempenhar da melhor forma pos-
ção principal que é a que nos justifica que a gente tem que seguir. Não signi- sível essa função. Criar é trabalhoso
economicamente. fica estabelecer o que academicamente e caro, demanda recursos, necessita
Se trairmos as funções do tea- é certo ou errado, mas sim estabelecer de tempo e ferramentas aguçadas: o
tro que são arcaicas e que continuam critérios e ter rigor para segui-los. corpo, a voz e a sensibilidade.
N.09
A Imensa Minoria
de Santa Tereza/BH
“L
a Grieta” é uma expressão usada na Amé- Eu não faço que as coisas aconteçam. Eu
rica hispânica para denominar o abismo não obrigo a ninguém agir de determinada
provocado pela polarização entre esquerda forma. Eu apenas coloco o cenário. Sou
e direita. Em apenas uns poucos meses, fomos tes- uma caixa de surpresas e nunca me veem
temunhas de como Bolívia, Chile, Colômbia, Equa- chegar.
dor, Haiti, Nicarágua, Peru e Venezuela entraram em
crises políticas, marcadas por protestos nas ruas, re-
pressão das forças armadas, violência e mortes. Robert De Niro no filme “O advogado do diabo”.
N.10
Bolsonaro cresceu perante os olhos da esquerda e da so- As narrativas
cialdemocracia sem que eles o enxergassem, até que fosse
tarde. Uma total falta de visão e timing político. Talvez
uma grande demonstração de desinteresse por parte da po- Temos a ótica bolivariana de “la Pátria Grande”, a neo-libe-
pulação. Ficamos presos numa novela mexicana entre polí- ral da meritocracia e a nacionalista da moral cívica, como
ticos, enquanto para os cidadãos virou um filme de terror. as três principais vertentes ideológicas do mapa político-
-narrativo. Acontece que governar massas é a arte da sim-
plificação. Portanto, no nosso relato, temos só três visões
predominantes que são estimuladas pelos meios de comu-
Democracia nicação:
Se temos algo para aprender é que a legislação está se tor- 1. a progressista trabalhadora que não quer
nando insuficiente para as novas sociedades. A América trabalhar para outros;
Latina já tem vários casos de ditaduras constitucionais, de 2. a empresarial capitalista que necessita de
esquerda, de direita e de centro. A verdade é que não sabe- pessoas que trabalhem para eles;
mos onde está o poder. 3. a nacionalista militarista que é o sustento da
moral patriarcal utilizando a força como verdade
última.
Talvez seja a hora de começarmos a estudar mais sobre de-
mocracia. Tudo demonstra que o clamor popular pode ser Esses três fatores se equilibram e são interdependentes: os
um ditador que se impõe sobre a verdade e a Constituição. que têm a força de trabalho, os que têm o capital e os que
Os analistas estão desorientados porque não estão conse- têm a força bruta.
guindo prever mais nada.
a. Segundo os progressistas, os militaristas os
querem obrigar a trabalhar para os capitalistas.
O que os analistas deveriam saber é que se trata disso mes- b. Segundo os capitalistas, os progressistas não
mo: de que ninguém os veja chegar. Essa é a premissa de querem trabalhar nem se esforçam por ascender
estrategistas e assessores. Tudo o que chame atenção, tudo socialmente.
o que seja espetacular é distração ou consequência, nun- c. Segundo os militaristas, tudo é uma vergonha,
ca causa. Enquanto corremos para apagar um incêndio, o país é uma bagunça e precisa de ordem.
alguém está detonando outra bomba onde menos imagi-
namos. A Culpa
É aí onde entra a CULPA. Para que todo esse coquetel
Nesse jogo, o verdadeiro perigo é quem está escondido e não exploda. A culpa é a ferramenta para que o pro-
em silêncio, na calada da noite, assistindo por strea- gressista trabalhe para um capitalista. A culpa é a que
ming o circo pegar fogo. permite que a força bruta fique escondida e não seja
necessária para manter o status quo. O capitalista
investe muito dinheiro em publicitar a superstição de que
Hamlet latino. o trabalho é sagrado.
Ser ou não ser golpe? Quem trabalha deve pensar que a oportunidade de tra-
balhar é o pagamento. O trabalhador deve receber pouco
A nova onda começou em Honduras em 2009. Depois foi para reduzir os custos laborais. Deve trabalhar muito para
a vez do Paraguai, depois do Brasil e finalmente a Bolívia. aumentar a capacidade produtiva e, principalmente, deve
Todos vivem o mesmo dilema: é golpe ou não? Sem men- ser grato com o capitalista que lhe dá a oportunidade de ter
cionar o famoso caso da Venezuela que vivencia seu dilema um emprego medíocre e salvar a sua alma.
pessoal e único: é ditadura ou não é?
E caso não seja suficiente com isso, temos o futebol para
Existem ditaduras democráticas ou democracias ditato- reforçar a catarse e sublimar a insatisfação.
riais? Existem golpes parlamentares ou golpes judiciários?
A democracia é a ditadura da maioria ou o governo da
Constituição? #SQN
Só Que Não! O entretenimento não está sendo suficiente,
São tantas perguntas que a única resposta clara é que a de- nem o futebol e nem a religião. A força de trabalho não está
mocracia é um modelo muito complexo e está tendo di- aceitando mais trabalhar por culpa, nem por diversão, nem
ficuldades para se consolidar. O principal desafio do mo- por catarse.
mento é controlar a narrativa. É por isso que os meios de
comunicação são uma peça chave para instalar uma dra-
maturgia funcional aos seus interesses. Isso significa que será necessário distribuir riqueza ou ati-
var a força bruta. E dessa forma girará a roda da história:
golpe a golpe, verso a verso.
N.11
BRAXIT?
Enquanto nossa atenção está captada pelos acontecimentos
dos protestos na América Latina, no Brasil, sem muita pu-
blicidade, aconteceu o BRICS e, nesse encontro silencioso,
os EUA e a China pactuaram, indiretamente, uma trégua
pontual e estratégica intermediada por Bolsonaro.
N.13
linguístico porque a desigualdade entre a mulher e o ho- precoce e a dificuldade em manter a ereção.
mem é um universal humano.
Camacho, o ejaculador precoce Um evangélico não pode admitir a violência, não pode ad-
mitir que sua religião seja usada para fins políticos. A polí-
tica é a administração do mundano. E é aí, precisamente, o
Se existe uma figura nefasta nessa história, essa figura se
momento em que é possível diferenciar um evangélico de
chama “Macho” Camacho, um apelido que se não fosse
um falso profeta.
trágico seria cômico. Ele representa a volta do regime pa-
triarcal, de uma base evangélica, que governa com o antigo
testamento.
O evangélico vai falar de Jesus, o falso profeta vai falar do
antigo testamento. A era do antigo testamento foi a era do
patriarcado. Líderes que através da força tinham o poder
Porém o patriarcado tem grandes problemas: a ejaculação
N.14
político, religioso e militar. E foi, precisamente, a era que saiu às ruas. O presidente declarou “estamos em guerra” e
Jesus veio corrigir. Qualquer tipo de golpe de estado pre- colocou os militares para reprimir. Dessa forma tudo seria
cisará de uma narrativa moral, porém não a encontrará no controlado.
novo testamento.
N.15
comédia europeia da democracia. A eterna luta entre es- O poder patriarcal provêm de quem tem a posse da terra.
querda e direita, ambas superstições inventadas na Europa. Patriarca e patrimônio tem a mesma raiz. Daí a ideia de
Ganhou a centro direita que contou com o apoio da ultra- que a melhor forma de marginalizar um grupo determina-
direita na coalizão de governo. Mas, no fundo, ganhe quem do é impedi-lo de ter patrimônio.
ganhe, os indígenas sempre perdem.
Venezuela
Venezuela vinha sendo o anti-exemplo, o que não
deveria ser feito. Se criou uma narrativa que qua-
se justificou a interferência na soberania desse país
ao melhor estilo Netflix. Uma história épica na qual
um jovem deputado nativo (é imprescindível o tom
local para tomar o poder) se autoproclamou presi-
dente interino.
Guaidó iria entrar na sua Caracas assim como Fidel
em Havana. A multidão seria seu passaporte, o povo
que o reconheceria, iriam ao palácio do governo e
pegariam essa versão latina de Sadam Husseim e
tudo voltaria ao normal. Restabeleceriam os víncu-
los com os outros países e até apoiariam a indicação
do filho de Bolsonaro para embaixador. Ia ser lindo.
#SQN
O extermínio Não rolou, não vingou. Meio que choveu no dia. Sacou?
Todo mundo confirmou no Facebook e depois ninguém
O fato de um presidente enganar as tribos Charruas, cha- apareceu. Sacanagem. O tempo passou e Maduro ainda
má-las para um acordo, quando na verdade iria exterminá- não caiu.
-las, mostra a notável índole deste extraordinário país, in- No plano, Venezuela iria roubar a atenção dos meios de
ventado pela Inglaterra. Seu principal herói, José Gervasio comunicação e se instalaria como um paradigma do medo,
Artigas, nunca reconheceu como país. como uma grande bomba de fumaça. A derrota de Maduro
iria ser o fim do Foro de São Paulo, o golpe de graça. #SQN
Uruguai ainda se enxerga como se o país fosse só a capital, No lugar disso, a Venezuela fortaleceu-se ao ponto de
Montevidéu. Continuam desenvolvendo essa falsa história Diosdado Cabello, número 2 da Venezuela, se permitir a
de que é um país de imigrantes e desconhecendo, dessa seguinte frase sobre o golpe de Estado na Bolívia: “a Bolívia
forma, o aporte fundamental das culturas originárias. será a faísca que acenderá os prados da brisa bolivariana. O
furacão bolivariano”.
O estilo Netflix pegou. É narrativa bolivariana
Bella Unión contra narrativa neoliberal. Esperemos que na
nossa maturidade tenhamos conseguido evoluir e
Tríplice fronteira conformada por Argentina, Brasil e Uru- contornar a força bruta. Estamos no momento de
guai é a única cidade fundada por Guaranis e fica no extre- maior tensão do ciclo. Nos próximos 3 anos, se de-
mo norte do Uruguai. Cumpriu 190 anos e ainda não tem finirão os próximos 20.
orçamento autônomo.
*imagem da página retirada de parte de trabalho apre-
sentado por Adolfo Cifuentes na “Maison de l’Amérique
latine” e elaborado por Thiago Amoreira.
N.16
É POSSÍVEL
VIVER DE ARTE
Entrevista com ROMULO AVELAR
A nossa teoria editorial parte da base de que a sociedade não
tem como prioridade a produção de arte porque não compreende a
sua utilidade. Por isso é tão difícil criar um universo de em-
prego pleno e estável. Para conversar sobre esse tema convida-
mos Romulo Avelar, um dos principais multiplicadores da Gestão
Cultural no Brasil.
N.18
Romulo Avelar. Foto de Germán Milich Escanellas.
Nossa área se caracteriza pela imprevisibilidade, caminho profissional interessante para os jovens.
pela falta de rotinas, pois alterna momentos de
trabalho intenso, com processos extremamente
desgastantes que se estendem por 16 horas em AIM – Você acha que essa pessoa
um único dia, com períodos de grande calmaria. conseguiria trabalhar ou deveria
Não existe linearidade e nosso ciclo de trabalho ter outro trabalho para sustentar
é muito irregular. Muitas pessoas não conseguem sua profissão?
entender isso.
N.20
N.21
Placa Marielle Franco para recortar e
espalhar pelos lugares, que faça PRESENTE.
É uma revista de artes integradas De Santa Tereza/BH
que tem como objetivo promover para toda América Latina
Um de nossos principais inte-
e discutir a economia artístico- resses é abrir canais com toda
-cultural para articular ações América Latina e oferecer um
de geração de empregos de espaço de comunicação para
qualidade para artistas. a comunidade hispânica que
reside em Belo Horizonte.
Financiamento coletivo
É financiada por crowdfunding na plataforma Evoê.
Essa é a melhor forma de estimular um vínculo independente,
sem intermediações, que liga diretamente o produto artístico com a sociedade.
Seja um patrocinador
evoe.cc/aimensaminoria
Para esse número colaboraram
FAMÍLIA CNPJ
aimensaminoria@gmail.com
A IMENSA MINORIA HÁ MAIS DE 10 ANOS
N.22