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JK: Líder Inspirador, Lições Perenes

Antonio Carlos A. Telles


actelles@actelles.com.br
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RJ, 27/11/2018

“Deus poupou-me o sentimento do medo...


Eu tive sempre um lema: não tenho compromisso com o erro.
Se errei, tenho que voltar atrás” - JK

A vocação do Brasil é ser uma grande nação. Ao iniciar-se um novo ciclo da vida nacional, é
mais que oportuno buscar inspiração em quem soube sonhar grande e realizar. Em quem
soube construir pontes entre “extremos”: superar com sabedoria as divergências naturais da
democracia e criar convergências em torno de propósitos maiores, em benefício do
desenvolvimento do país e satisfação do povo. Quem?

Juscelino Kubitscheck de Oliveira (1902-1976), médico mineiro e 21º presidente do Brasil


(1956-1961). Ele foi a liderança mais notável destacada na obra Para Entender o Brasil (Alegro,
2000): um painel eclético que reuniu 38 personalidades, como o poeta Affonso Romano de
Santana, o médico Helion Póvoa, o psicanalista Joel Birman, o empresário José Mindlin.

“JK representa o período mais importante da história política e econômica do Brasil. Foi o
maior presidente de todos os tempos” afirma Salim Mattar, presidente do Conselho de
Administração da Localiza, na apresentação de JK -50 Anos de Progresso em 5 Anos de Governo 1,
um trabalho monumental de dois volumes lançado em 2014, com 58 depoimentos. Um deles
é o do administrador de empresas Cledorvino Belini, presidente do Grupo Fiat:

“JK foi um estadista na melhor dimensão do termo, ao conceber um projeto de


longo prazo para o país e ao ser capaz de mobilizar sua geração para implementá-lo.
Ele vislumbrava um país moderno, industrializado, culturalmente relevante ... A
socióloga e cientista política Lourdes Sola, em seu livro Ideias Econômicas, Decisões
Políticas, diz que a estratégia de gestão política de JK é um nítido exemplo do seu estilo
conciliador e solucionador de problemas. O Estado, sob seu comando, assumiu um
papel de articulador de incentivos e não de monopolizador de decisões ... Acrescente-
se a coragem. Em momento crucial de sua vida política, em que era preciso ser firme
diante do embate que se aproximava, ele disse: ‘Deus poupou-me o sentimento do
medo’. A frase mobilizou aliados e bastaria para assegurar-lhe um lugar na história ”.

O espírito empreendedor de JK era temperado com uma postura humana singular. Uma
espiritualidade genuína, que se harmoniza com os valores cristãos de tolerância apreciados
pela tradição brasileira. Ele dizia: “Um governo forte se faz perdoando.”
O líder inspirador constrói sua grandeza, quando é sábio, ao se fazer “pequeno”. Uma
pesquisa que durou cinco anos e 15.000 horas de trabalho, conduzida por um professor de
Stanford, identificou a virtude-chave dos líderes das “empresas feitas para vencer” 2 : modestos e
determinados, humildes e destemidos. Essa dualidade é poderosa. Ser humilde não é uma fraqueza: é
uma força. Sobre isso, JK – O Artista do Impossível, obra do jornalista Claudio Bojunga, é
reveladora:

“Era quatro da tarde, de 31 de março de 1964. O presidente João Goulart pediu que
Juscelino Kubitschek comparecesse ao seu gabinete. Juscelino abriu o jogo,
aconselhando-o a agir com moderação e fazer dois manifestos à nação. Jango relutou:
‘Eu não posso fazer isso. Se fizer isso dou uma demonstração de medo. E um homem que tem medo não
pode governar o país.’ JK cortou: ‘Não é mostrar medo. Eu tive sempre um lema: não tenho
compromisso com o erro. Se errei tenho que voltar atrás. Porque se você erra, todo o rebanho vai para o
caminho errado.’” (pg. 807)

O dicionarista Antonio Houaiss, que foi assessor de documentação de JK, descreve seu jeito
de atuar :

“ JK era uma homem aberto, auditivo, receptivo, fino sistematizador.


Recebia informações novas e as incorporava de forma permanente, redisciplinando seu
espírito. Não tinha preconceitos ideológicos: ouvia adversários e opiniões discordantes, e
não se importava com a orientação filosófica ou doutrinária do interlocutor. Aceitava a
palavra dos estigmatizados de esquerda ou direita. Ele era infenso a preconceitos,
manobras invejosas, baixezas, delações e policialismos. Nunca externou o elitismo dos
que se arrogam o direito de pensar melhor só porque estão no poder. O diálogo deveria
ser elemento de progresso, não instrumento de afirmação. Tratava com os assessores
diretos um diálogo democrático e solto: ficava ouvindo em silêncio posições divergentes
dos auxiliares, confiando mais nas objeções do que no louvor direto.” (pg. 359)

JK não era perfeito, como não foram perfeitos nenhum dos grandes líderes da história. Mas
foi um líder inspirador. Legou-nos lições perenes e práticas. Úteis não só para o futuro
Presidente do Brasil. São úteis para quaisquer líderes da esfera pública ou privada.

Vivemos um momento delicado no País: mescla entusiasmo e esperança com desconfiança e


pessimismo. Isto é compreensível. E desafiador. Diante desse quadro, JK é bem atual. Além
das lições de coragem e humildade, ele nos legou um jeito singular de liderar, bem brasileiro e
informal: era o presidente bossa-nova. O brilhante dramaturgo Nelson Rodrigues decifrou-o:
“Os outros presidentes tem sempre a rigidez de quem ouve o Hino Nacional. Não Juscelino.
Ele trouxe a gargalhada para a presidência.” Com seu bom humor, ajudou-nos também a
vencer o complexo de vira-lata. Os brasileiros, onde estiverem, na escola, na sociedade, nas
organizações, precisam ter autoconfiança e autoestima. Sem isso, não se ergue uma grande
nação. Para isso, precisamos de muitos líderes que os inspirem. E JK é um exemplo de líder
que inspira líderes.

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(1) Carlos A. T. Oliveira, Presidente do IBEF Nacional / Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças

(2) Good to Great” (Jim Collins, 2001) - Vinte anos depois, um guia clássico do Management. Foi um dos
destaques na pesquisa com CEOs da Fortune 500 de 2018 que perguntou : “Qual o melhor livro que você leu ano
passado?” http://fortune.com/2018/05/25/best-books-2018-business/

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