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REPÚBLICA DE ANGOLA

CONSIDERAÇÕES SOBRE AS OBSERVAÇÕES DO COMITÉ DOS DIREITOS


HUMANOS FEITAS PELO COMITÉ DO PIDCP A DEFESA DO RELATÓRIO DE
ANGOLA. (V.c31.3.13)

O Governo da República de Angola apresenta os seus melhores


cumprimentos ao Comité sobre os Direitos Humanos e tem a honra de
reiterar o reconhecimento do seu trabalhado levado a cabo na 107ª Sessão,
durante o qual, foram adoptadas as Observações Finais sobre a defesa do
Relatório Inicial de Angola.

O Governo tomou boa nota das preocupações, assim como das


recomendações do Comité contidas nas Observações Finais, sobre as quais,
manifesta o seu acordo em melhorar a implementação das relevantes
disposições do Pacto, bem como reforçar a sua cooperação com o Comité.

Entretanto, gostaria de manifestar igualmente, a sua preocupação sobre


determinadas questões contidas nas Observações Finais, cujas respostas
foram apresentadas pela delegação durante a defesa do relatório, e ao
mesmo tempo, aproveitar esta oportunidade para fornecer informações que
possam ajudar esclarecer algumas dúvidas sobre as mesmas que julga não
terem sido bem entendidas pelos membros do Comité:

1. Relativamente à observação (4), gostaria de informar que


Angola ratificou a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência, assim como o Protocolo Facultativo, em Dezembro
de 2012. Durante a defesa do relatório, a delegação prestou
informações sobre a adopção de diplomas legais que vigoram em
Angola, antes da ratificação desses Instrumentos Internacionais, e
que visam assegurar a protecção em igualdade de circunstâncias
entre pessoas com deficiência e outras sem deficiência,
nomeadamente; a Lei nº 21/12 de 30 de Junho; a Lei nº 6/98 de 7 de
Agosto; a Lei nº 07/04 de 15 de Outubro; o Decreto presidencial nº

1
105/12 de 1 de Junho; o Decreto nº 21/82 de 22 de Abril. A
implementação de todos esses instrumentos é reforçada pela
implementação da Política Estratégica Nacional sobre a Protecção da
Pessoa com Deficiência.

2. Sobre a recomendação (5) Acolhemos com muito agrado a


preocupação do Comité quanto a precedência do Pacto sobre as leis
nacionais e a citação de poucos casos em que o mesmo teria sido
invocado nos tribunais angolanos. Entretanto ainda sobre este
assunto apraz-nos, com o intuito de aclarar e fornecer ao Comité um
melhor entendimento, o seguinte:

A Constituição da República de Angola (CRA), enquanto lei


fundamental do Estado angolano consagrou a obrigatoriedade de os
tribunais angolanos, na apreciação de litígios relativos à matéria
sobre os direitos fundamentais, aplicarem directamente a Declaração
Universal dos Direitos do Homem, a carta Africana dos Direitos do
Homem e dos Povos, bem como todos os tratados internacionais
sobre a matéria ratificados pela República de Angola, ainda que não
sejam invocados pelas partes, com força jurídica que vincula todas as
entidades públicas e privadas nos termos do artigo 28º da CRA
referente a força jurídica dos preceitos constitucionais e a sua tutela
jurisdicional e efectiva nos termos do artigo 29º da CRA referente ao
acesso ao direito e à tutela jurisdicional efectiva.

Fica, assim, claro que, para além da ratificação pelo Estado de


Angola e sua aprovação pelo parlamento, não há condicionalismo
algum para que os tratados internacionais sejam aplicados
directamente, até porque uma vez aprovado, reconhece-se a sua
conformidade com o ordenamento jurídico angolano, passando a sua
aplicação a ser directa e imediata.

O facto de se ter citado apenas alguns acórdãos em que o pacto ou as


convenções internacionais em geral de que Angola é parte, não é, de
per si, motivo para logo se inferir da falta de aplicação destes
instrumentos internacionais. As citações feitas foram meramente
exemplificativas, pois não se pretendia ser exaustivo a ponto de citar

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todos os casos em que ocorreu o uso de tal instrumento jurídico
internacional.

Por outro lado, as leis nacionais aplicadas aos casos concretos têm
inseridas no seu conteúdo as disposições dos pactos e convenções
internacionais, são, na verdade e em muitos casos, uma transcrição
ou tradução quase fiel das normas destes instrumentos
internacionais, o que não só mostra uma conformação das leis
nacionais com estes instrumentos, como leva a que o juíz os veja
representados na norma nacional.

Tomamos, pois, boa nota da recomendação feita neste ponto para


que os juízes, advogados e procuradores tomem maior consciência
da existência do Pacto e, embora já conste do plano curricular de
formação dos mesmos a disciplina de direitos humanos, aonde o
conteúdo do Pacto e seu uso é estudado por eles, ao que se seguem
seminários após a sua colocação no mercado de trabalho com o
mesmo objectivo, reforçaremos as acções formativas a respeito.

3. Sobre a observação (7), a delegação informou que o Provedor de


Justiça de Angola é uma entidade pública, independente que tem
como objectivo a defesa dos Direitos Liberdades e Garantias dos
cidadãos ou seja dos Direitos Humanos positivados na Constituição,
assegurando através dos meios informais, a Justiça e a legalidade da
Administração Pública. È o defensor dos cidadãos contra as
injustiças e ilegalidades da Administração Pública.

O Provedor é designado pela Assembleia Nacional e eleito por


maioria de 2/3 dos Deputados. O Provedor de Justiça pode em caso
de flagrantes violações dos Direitos Humanos, investigar e ou fazer
recomendações por iniciativa própria para reposição da legalidade e
a reparação de eventuais prejuízos ou danos.

O Estatuto do Provedor de Justiça de Angola esta de acordo com os


Princípios de Paris relativos as competências, responsabilidades e
previsão Constitucional. Sobre a independência e pluralismo, o
mesmo possui infra- estruturas próprias e a sua nomeação é feita
obdecendo aos princípios da idoneidade cívica, competência técnica

3
do candidato. Sobre os métodos de operação da Provedoria de
Justiça pode dirigir-se a opinião pública, fazer investigações por
solicitação ou por iniciativa própria.

Apesar da sua natureza informal nos processos em instrução, o


Provedor de Justiça pode convidar qualquer pessoa ou agentes de
entidades públicas a depor ou prestar informações, esclarecimentos
relacionados com eventuais casos em apreciação.

4. Na observação (8) sobre discriminação das pessoas com Deficiência


e limitação do exercício do Direito ao voto. Primeiro gostaria de
ressaltar que não se trata do artigo 12º mas do artigo 9º da Lei
Orgânica sobre as Eleições Gerais em Angola Lei 36/11 de 21 de
Dezembro, a norma em questão apenas limita o exercício do direito
ao voto aos dementes internados em estabelecimentos hospitalar ou
declarados por atestado médico ou seja a um grupo específico de
pessoas portadoras de Deficiência e não todas.

Quanto a sugestão de elaboração de uma lei geral de igualdade e não


discriminação é de louvar e nada há contra ela. Com o devido tempo
e quando as condições estiverem reunidas a elaboraremos.
Não obstante, gostaríamos de salientar que o artigo 23º da CRA,
citado na recomendação, relativo a igualdade e a não discriminação é
um princípio transversal a toda a legislação angolana, a elaboração e,
sobretudo, a aplicação de qualquer lei em Angola respeita observa e
deve garantir este princípio.

De facto o artigo 12º da Lei nº 6/05, de 10 de Agosto, sob epígrafe


“incapacidade eleitoral activa” prevê que não gozam de capacidade
eleitoral activa: a)  os interditos por sentença transitada em julgado;
b)  os notoriamente reconhecidos como dementes ainda que não
estejam interditos por sentença, quando internados em
estabelecimento hospitalar ou como tais declarados por atestado
médico.
O artigo 54º da Constituição da República de Angola assegura o
direito de voto a todos os cidadãos que reúnam determinados
requisitos.

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Sucede que considerando a necessária capacidade jurídica dos
cidadãos para exercer determinados direitos, a legislação em causa
(Lei Eleitoral) tem em consideração que em Angola nem sempre os
dementes são internados e existem poucos casos de interdição ou
inabilitação por via judicial.

Por outro lado, está em causa a segurança do processo eleitoral e dos


cidadãos votantes, que pode ser perigado pela incapacidade do
cidadão.

A redacção “notoriamente reconhecidos como dementes e internados


em estabelecimento hospitalar”, embora aparentemente equivoca,
vem na verdade assegurar que não se coarcte o direito ao voto a
qualquer demente ou ao aparentemente demente.

Daí que apesar de a demência referida na frase em análise ser


notória, é ainda necessário que o demente se encontre internado em
estabelecimento hospitalar vocacionado para o tratamento da sua
patologia ou que um atestado médico certifique a sua condição de
demente.

A prova de que os deficientes não foram postos à margem do direito


ao voto e que sobre eles não recai qualquer tipo de discriminação é
que a mesma Lei eleitoral, desta feita no seu artigo 127º, dedica uma
disposição especial e exclusivamente para a inclusão de deficientes,
prevendo que “os eleitores portadores de deficiência notória que a
mesa verifique estarem impedidos de efectuar por si próprio as
diferentes operações de voto previstas na presente lei, podem votar
acompanhados de um cidadão eleitor por si escolhido, ficando o
acompanhante obrigado a sigilo absoluto”.

A norma do artigo 12º da Lei Eleitoral angolana não choca com o


artigo 16º do Pacto “Toda e qualquer pessoa tem direito ao
reconhecimento, em qualquer lugar, da sua personalidade jurídica”,
porquanto a personalidade jurídica das pessoas incapacitadas é
reconhecida por aquela disposição e por todo o Estado angolano a
partir do nascimento completo e com vida de qualquer pessoa (artigo

5
66º do Código Civil angolano), a restrição daquela disposição recai
sobre a capacidade jurídica ou de exercício de direitos.

Tão pouco choca aquela norma da Lei Eleitoral com o artigo 25º do
Pacto referente a participação na vida pública, mormente a questão
do direito ao voto e as eleições, pois este artigo estabelece:
“Todo o cidadão tem o direito e a possibilidade, sem nenhuma das
discriminações referidas no artigo 2º e sem restrições excessivas:
b)de votar e ser eleito...”

Não se coloca qualquer tipo de discriminação prevista no artigo 2º do


Pacto, pelo que a questão fica circunscrita a 2ª parte do artigo 25º do
mesmo, isto é “sem restrições excessivas”.

Desde logo, esta parte do artigo proíbe restrições excessivas e não


restrições em geral, ou seja, qualquer tipo de restrições, o que, por
outro lado, significa que admite limitações.

A questão que se coloca é a de saber se restringir que pessoas


dementes que não possuem faculdades mentais para reger a sua
pessoa e os seus bens, para querer e entender razoavelmente o
sentido e alcance do que é votar, constitui uma restrição excessiva.
A resposta a esta questão só pode ser negativa ou, então, nem se
precisaria estabelecer a maioridade, enquanto símbolo de capacidade
para praticar tal acto.

As limitações a este direito do Pacto devem ser baseados em critérios


objectivos e razoáveis e o artigo 12º da Lei Eleitoral angolana
observou estes critérios.

5. Sobre a observação (9), relacionada com a alegada sub-


representação das mulheres na vida pública e política, em particular,
no governo e na magistratura Judiciária, gostariamos de reiterar que
o Ministro respondendo às perguntas da Sra. Zonke Zanekele
Majoddina, sobre o numero de magistrados de sexo feminino em
Angola disse que havia no Gabinete do Procurador-Geral, 99

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magistrados do sexo feminino, que representa 31% sobre um total de
303 magistrados que trabalham no Ministério Público.

Além disso, o Governo angolano também gostaria de relembrar os


distinctos membros do Comité que as observações finais feitas pelo
comité do CEDAW sobre o Sexto Relatório Periódico de Angola
apresentada em Fevereiro de 2013, contidas no documento
CEDAW/C/AGO/CO/6, emitiu as seguintes observações no
parágrafo 23 sobre a participação das mulheres na vida política e
pública, que passamos a citar: o Comité sauda a representação das
mulheres na Assembleia Nacional (34,1 por cento) e nos cargos
ministeriais (29 por cento) bem como a promulgação da Lei dos
Partidos políticos de 01 de Julho de 2005 que exige aos partidos
políticos a inclusão uma quota de 30 por cento de mulheres nas listas
eleitorais.

Recomendações (9 e 10) Além dos dados abaixo referidos e que já


foram objecto de apreciação por parte do Comité, o Estado Parte
conforme recomendação se compromete a apresentar no proximo
relatório periódico dados estatísticos sobre a representação das
mulheres no sector privado.

ANEXOS:

1. Análise dos dados estatísticos de violÊncia no ano DE 2012

Ano de 2012 Ano de 2012.


Tipo de Violência M F MF M% F%
Física 15 83 98 1,1% 6,0%
Psicológica 92 395 487 6,6% 28,4%
Económica 117 690 807 8,4% 49,5%
Laboral - 1 1 0,0% 0,1%
Sexual - - 0 0,0% 0,0%
Total 224 1169 1393 16,1% 83,9%
Fonte: Direcções provinciais de Benguela, Bengo, Bié, Cabinda,
Cunene, K. Norte, K. Sul, K. Kubango, Luanda, Lunda Norte,
Moxico, Zaire, Uíge, Namibe e Malanje.

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Com o objectivo de implementar o disposto na Lei 25/11 de 14 de
Julho, contra a violência Doméstica está em curso um Plano
Nacional de Combate a Violência Doméstica que pretende garantir o
seguinte:
a) Melhorar a condição de vida das famílias e das mulheres através de
políticas e programas que privilegiem o Combate à Violência
Doméstica e a moralização da família e da sociedade.
b) Prevenir a ocorrência de actos de violência doméstica;
c) Proteger as vítimas de violência doméstica;
d) Divulgar a Lei contra a violência doméstica;
e) Adoptar e Implementar acções multissectoriais para garantir um
atendimento integral, humanizado e de qualidade às vítimas em
situação de violência;
f) Aumentar a mobilização social e a consciência pública;
g) Combater a violência sexual contra as mulheres e meninas;
h) Contribuir para a harmonia, estabilidade e coesão das famílias;
i) Fazer cumprir a lei para reduzir o índice de violência doméstica;
j) Garantir o cumprimento dos instrumentos e acordos internacionais.

Neste momento em Angola existem duas Casas de Abrigo e pretende-se


construir mais 18, uma em cada província do território Angolano, ao
mesmo tempo que serão criadas as condições para a abertura de mais
gabinetes especializados nas esquadras e hospitais para o atendimento às
vítimas de violência doméstica e a criação de equipas multissectoriais.

A Direcção Nacional de Investigação Criminal tem pessoal capacitado


para o atendimento de queixas relacionadas com esta matéria, e foi
também criada a 9.ª Secção da Sala dos Crimes Comuns do Tribunal
Provincial de Luanda, vocacionada apenas para atender as questões de
violência doméstica. Neste fórum são resolvidas as compensações das
vítimas, pelo Juiz de Direito mediante uma sentença.

Conforme recomendação do Comité, o Estado Parte com a


implementação do plano de acção supra referido presseguirá com as
campanhas de conscientização da população, sobre a questão da
violência doméstica e seus efeitos negativos ás vítimas.

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6. Sobre a observação (12) 12Relativamente as medidas adoptados
pelo Estado angolano para a não proliferação de armas, somos a
esclarecer que além do disposto no artigo 363° do Código Penal, em
Angola existe uma lei especifica que regula o uso e porte de armas,
nomeadamente a Lei nº 19/92, de 31 de Junho, Lei sobre Uso e Porte
de Arma de Fogo. No que concerne a sensibilização para entrega
voluntária de armas e desarmamento da população civil, foi criada
uma Comissão Inter-ministerial que integra também autoridades
tradicionais, até ao presente ano foram já recolhidas mais de 80.000
armas ligeiras no âmbito do processo de desarmamento e entrega
voluntária de armas.
Por outro lado, o Estado angolano tem vindo a realizar de forma
continua acções de desminagem em todo território nacional, através
do Instituto Nacional de Desminagem, Polícia de Guarda Fronteira,
Forças Armadas e Organizações Não Governamentais, concentradas
principalmente nas estradas, caminhos de ferro, abertura de novas
vias para colocação de cabos de fibra óptica, zonas residenciais, para
desenvolvimento agrícola e construção de novos focos habitacionais.

7. Sobre a recomendação (13) O aborto em Angola é crime previsto


no artigo 358º do Código Penal vigente, tendo como interesse
tutelado a vida intra-uterina (a vida do feto), a normalidade da
formação da vida e a normalidade do nascimento. Em síntese, esta
disposição surge como um verdadeiro pilar de defesa do direito à
vida desde a concepção desta última e como corolário do artigo 30º
da Constituição da República que estabelece o respeito, a protecção e
a inviolabilidade da vida da pessoa humana e do artigo 6º nº 1 do
Pacto.
Ele é punido com pena de 2-8 anos de prisão maior, salvo se for
cometido para ocultar a desonra da mulher quando esta decida
abortar em virtude de relações sexuais forçadas, por exemplo (aborto
sentimental ou privilegiado –artigo 358º§3º do Código Penal)) em
que, ainda assim é punido, mas a pena é atenuada para 3 dias-2 anos
de prisão.

Actualmente em Angola só o aborto terapêutico (que se dá quando


por diagnóstico médico se prevê a morte da mulher em caso de
continuação da gravidez) é lícito.
9
A licitude do aborto terapêutico resulta do facto de haver um conflito
de interesses entre a vida da mãe e a vida do feto e, embora a vida
humana seja igual, entende-se que a vida mãe por ser autónoma e ja
ter forma acabada da vida humana, deve ser privilegiada em
detrimento da vida do feto. De resto, o homicídio que é cometido
contra pessoas humanas com vida autónoma é punido mais
severamente que o aborto, demonstrando-se, assim, um mais-valor
da vida da pessoa humana autónoma (no caso, a da mãe).

Entretanto, acolhemos bem a recomendação do Comité para rever a


legislação sobre o aborto no sentido de permitir que ele seja feito por
razões terapêuticas e em caso de gravidez resultante de estupro ou
incesto e aproveitamos para informar que no âmbito da revisão
legislativa do Código Penal, cujo projecto já foi sujeito a discussão
pública e aguarda aprovação pelo parlamento há destacar o seguinte
relativamente ao aborto:

O artigo 144º do Projecto de Código Penal que tem como epígrafe


“Interrupção de Gravidez não Punível” prevê a possibilidade de
aborto consentido pela mulher grávida nas mais variadas situações:
nas primeiras 10 semanas de gravidez; em caso de risco de vida da
mulher nas primeiras 16 semanas; em caso de inviabilidade do feto e
de possibilidade de malformação ou doença do mesmo nas primeiras
24 semanas; caso a gravidez tenha resultado de uma relação forçada
derivada de actos criminosos contra a mulher.

Este artigo alarga o âmbito de situações em que o aborto é permitido,


estabelecendo prazos e exigindo sempre consentimento escrito da
mulher; exigindo que a interrupção da gravidez seja feita por um
médico e em estabelecimento hospitalar oficial que deverá prevenir a
mulher grávida das implicações do acto antes de fazer a interrupção.
Portanto, já existem passos dados no sentido de alterar a actual
legislação penal em geral, sendo o aborto uma das questões a rever-
se.

De resto, as campanhas de saúde reprodutiva e uso de preservativos


já é uma realidade no sector formal e informal, pelo que vamos
aproveitar a recomendação no sentido de reforçarmos e melhorarmos
os referidos programas.

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8. Recomendação (14) Quanto a impunidade de infractores, reiteramos
que não é prática do Estado angolano quer estes infractores estejam
afectos as Forças de Segurança Nacional em geral, quer sejam
simples cidadãos, razão pela qual, afirmamos que se das
investigações resultasse provado a implicação de algum agente das
forças de segurança ou não os órgãos de justiça angolanos agiriam
em conformidade para punir. Mantemos, assim, a nossa abertura e
disponibilidade para em colaboração com o Comité prevenir,
investigar e condenar os responsáveis e compensar as vítimas, caso
se venha a provar a existência de tais violações e a consequente
impunidade dos seus autores.

9. Recomendação (15) referente a Tortura, somos a esclarecer que o


actual código Penal, esta desactualizado em virtude de ser de
1886( salvo o erro) e tendo em conta este e outros aspectos esta ja
feito e pronto a ser discutido em publico o Anteprojecto do código
Penal que faz parte do leque de trabalhos da Comissão da Reforma
da Justiça e Judicial. Assim, não temos uma definição especifica de
Tortura, mas no Ante-projecto do Código Penal são várias as normas
que fazem referência a tortura. O anteprojecto será submetido a
consulta pública podendo algumas normas previstas serem alteradas
ou não em função do resultado final da consulta.

10.Relativamente à observação (16), gostaria de informar que durante a


defesa do relatório, a delegação informou aos ilustres membros do
Comité que as acusações contra o Governo angolano sobre as
alegadas violações sexuais a mulheres migrantes durante o processo
de repatriamento e publicadas no relatório das Nações Unidas,
basearam-se em informações obtidas apenas de uma parte (RDC).
Informou que não é política do Estado angolano de maltratar aqueles
que entram ilegalmente no nosso território, mas sim de tomar
medidas para evitar que as nossas fronteiras sejam sistematicamente
violadas.

Entretanto, na sequência destas acusações, Angola recebeu a visita


da senhora Margot Wollstrom, Representante Especial do Secretário
Geral da ONU sobre a Violência Sexual Pós Conflito que, efectuou

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uma visita de trabalho às zonas das supostas violações, onde nada foi
apurado.

A delegação informou igualmente que no quadro do Comunicado


Conjunto Angola-ONU sobre o combate a alegada violência sexual
durante o processo de repatriamento de cidadãos da RDC do
território nacional, o Governo comprometeu-se em levar a cabo,
entre outras, tarefas fundamentais: (a) Investigar as alegadas
violações com base em evidências credíveis para julgar e punir os
possíveis transgressores; (b) treinar convenientemente o efectivo da
polícia nacional e das forças armadas sobre as regras básicas de
respeito aos direitos humanos; (c) facilitar o acesso das Agencias da
ONU aos centros de detenção temporária e, (d) reforçar a mensagem
política para a necessidade do tratamento adequado dos imigrantes
ilegais.

Foi prestada a informação sobre a criação de uma Comissão


Intersectorial, por Decreto Presidencial que integra membros do
Governo, membros do ACNUR, da OIM e do CICV que têm
efectuado visitas regulares às zonas visadas para acompanhar o
processo de repatriamento.

Das investigações feitas foi informado igualmente que foi apurado


apenas um caso, e cujo processo corre os seus tramites jurídicos
junto da Procuradoria Geral da República.

A delegação prestou informação detalhada sobre o processo de


repatriamento que tem sido feito ao abrigo da Lei nº 2/07 – Lei do
Regime Jurídico de Estrangeiro e a Lei sobre o Branqueamento de
capitais e Financiamento ao Terrorismo.

Reiterou que a Comissão Intersectorial está em pleno funcionamento


e realizou a última visita no dia 30 de Novembro do ano 2012,
Chefiada pelo Ministro das Relações Exteriores, Dr. Georges
Chikoti.

Aproveita ainda esta oportunidade, para informar que durante os


meses de Novembro e Dezembro foram repatriados 1080 cidadãos
congoleses, para se ter a noção do quanto as nossas fronteiras são
deliberadamente violadas por cidadãos ávidos de exploração dos

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recursos minerais nacionais sem a prévia autorização das autoridades
competentes.

Dentre os resultados da última Missão à Provincia da Lunda Norte,


mais precisamente no Posto fronteiriço da Chissanda, a
Representante Residente das Nações Unidas em Angola, Sra. Maria
Vale Ribeiro, aproveitou a oportunidade para entrevistar alguns dos
migrantes expulsos para aferir as condições de detenção e tratamento
de que os mesmos haviam sido alvo, não tendo sido constatado, o
registo de quaisquer actos de violações ou maus tratos aos cidadãos
ilegais que acabavam de ser repatriados.

A delegação prestou informações sobre os cidadãos da RDC e de


nacionalidades diferentes que continuam a violar sistematicamente o
território angolano em busca de oportunidades de uma vida melhor,
ao invés de solicitarem o competente visto consular, encontrando-se
dentre eles, alguns reincidentes.

Que são infundadas as alegações de violações de direitos humanos,


pois o combate a imigração ilegal, constitui um direito soberano do
Estado Angolano na defesa das suas fronteiras nacionais. Que em
função das longas caminhadas percorridas pelos imigrantes, na sua
maioria apresentam-se, no acto da captura, em estado de saúde débil,
outros com enfermidades graves, fruto do exercício da actividade de
garimpo e são humanamente tratados pelas Autoridades Locais.

O conteúdo das alegações do Relatório das Nações Unidas não


condiz com a verdade porquanto, o processo de repatriamento é feito
em obediência ao estrito cumprimento das mais elementares normas
dos Direitos Humanos, tal como foi constatado na sessão de
repatriamentos dos 44 imigrantes ilegais durante a visita ao Posto
fronteiriço de Chissanda.

É um facto que a frequência das expulsões tem impressionado, mas


tal só se deve, em primeiro lugar ao elevadíssimo número de entradas
e permanências ilegais em Angola, e à política eficaz de controlo das
fronteiras, levada a cabo pelo nosso País. A essas medidas acresce-se
o reconhecimento da importância e da necessidade da cooperação

13
bilateral, em especial com a RDC, Estado vizinho, de onde provêm a
maioria dos imigrantes nas condições de ilegalidade.

O Governo angolano vai continuar a trabalhar para que as alegações


de maus tratos e actos de violência sexual tenham fim e reitera o seu
engajamento permanente no estrito respeito e cumprimento dos
Instrumentos internacionais sobre os Direitos Humanos, assim como
as Convenções contra todas as Formas de Discriminação da Mulher,
Direitos da Criança, entre outras.

Pelo exposto, não pode deixar de expressar uma posição de


ponderada discordância com a análise efectuada por várias
Organizações sobre os alegados actos de violação dos Direitos
Humanos, pois as medidas levadas a cabo pelo Governo Angolano
têm suporte legal. A actuação das Forças Militares e Paramilitares
angolanas tem sido dentro dos limites da Lei, enquadra-se ainda as
medidas que têm como objectivo, prevenir e combater a imigração
ilegal, à semelhança do que tantos outros Estados fazem,
criminalizando a prática de actos terroristas e demais actos de
financiamento ao terrorismo.

11.Observação (17) Relativamente aos esforços do Estado angolano, no


âmbito da prevenção e combate do trafico de seres humanos, em
particular a exploração sexual de raparigas e mulheres, a actual
Constituição na secção reservada aos direitos e liberdades
individuais e colectivas, artigo 30º e seguintes, consagra direitos
como o direito à vida, à integridade pessoal, à identidade, à
privacidade e à intimidade, à família, à liberdade física e à segurança
pessoal. Por outro lado, a pratica desse fenómeno está já
devidamente tipificado como crime no Projecto do Código Penal em
fase de conclusão. No que respeita a formação nessa matéria de
assistentes sociais, magistrados judiciais e do ministério publico, tem
sido pratica corrente do Estado angolano, através da inclusão desses
profissionais em simpósios, colóquios ou palestras destinadas a
agentes policiais e as Forças Armadas, tem havido cooperação com
países vizinhos fundamentalmente para coordenação de acções,
assim com organizações regionais e internacionais, a nível da SADC

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e da Interpol. A assistência das vitimas, assim como as medidas de
protecção e compensação como consequência do processo judicial,
também são um facto

12.Relativamente à observação (18) Acolhemos bem a recomendação


de seguir com as investigações e de tomar medidas preventivas para
afastar toda e qualquer tentativa de detenção arbitrária ou
incomunicável e responsabilizar os supostos ou eventuais autores
destas práticas.

Relativamente a falta de clareza do período de detenção preventiva


no ordenamento jurídico angolano e da sua eventual
desconformidade com os artigos 9º e 14º do Pacto apraz-nos dizer a
guisa de aclaração o seguinte:

Questão prévia: a lei de prisão preventiva consta do leque de leis a


serem revistas no âmbito da reforma da justiça em curso no país,
existindo já um ante-projecto de lei sobre as medidas de coação
processual aonde a prisão preventiva é vista como medida última a
ser aplicada e só em casos extremos e muito excepcionais, para além
da possibilidade de a todo tempo ela puder ser alterada e substituída
por outras medidas. Neste ante-projecto de lei prevê-se, ainda,
alternativamente outras medidas menos gravosas, como a prisão
domiciliar, só para citar um exemplo.

De qualquer forma importa salientar que a Lei nº18-A/92, de 17 de


Julho, actual lei de prisão preventiva não se afasta em absoluto do
conteúdo dos artigos 9º e 14º do Pacto.

De acordo com as disposições desta lei a prisão preventiva é sempre


uma medida excepcional, pois o normal é o cidadão manter a sua
liberdade, o que, de resto, sucede com cerca de 80% dos casos. Do
número de processos criminais que dão entrada na Polícia de
Investigação Criminal e nos Tribunais, a maior parte é de arguidos
soltos, ou seja, o processo segue estando as pessoas em liberdade
essa que é na maior parte das vezes determinada depois do primeiro
interrogatório na Polícia.

A prisão preventiva dá-se apenas nos casos em que as penas


aplicáveis aos crimes cometidos, pela sua gravidade, sejam, no
15
mínimo de 8 anos de prisão ou nos casos em que, além disso, se
verifique inconveniência de liberdade provisória porque a liberdade
do cidadão pode comprovadamente propiciar a fuga deste do país
(portanto, nos casos em que haja receio de fuga), ou porque a
liberdade do cidadão leva a que ele interfira no processo
influenciando negativamente a investigação, ou, finalmente, porque a
liberdade do cidadão levar-lhe-á a continuação da prática de
actividades criminosas. Em qualquer uma destas situações deve
haver um mandado de captura passado pelo Juiz ou pelo Magistrado
do Ministério Público ou entidade com competência para tal. Artigos
10º, 12º da Lei de Prisão preventiva.

As situações de flagrante delito também justificam a priori a


detenção preventiva do cidadão, sendo enquadrada depois nas regras
que acabamos de citar. Artigo 2º al. a) da Lei de Prisão Preventiva.

Só nas situações ora enunciadas se justificará a prisão preventiva do


cidadão, mas mesmo assim esta prisão obedece a prazos, ou seja, o
cidadão não pode ficar eternamente detido preventivamente.

A Lei nº 18-A/92, de 17 de Julho- lei de prisão preventiva, estabelece


prazos indicativos de 45 dias que podem ser prorrogados 2 vezes
pelo mesmo período.

Entretanto, estes prazos nem sempre se observam rigorosamente, o


cidadão tanto pode vir a ser solto antes dos primeiros 45 dias como
no final destes ou das prorrogações destes.

Se o juiz ou o procurador utilizar o prazo completo estabelecido pela


lei, isto é, com as prorrogações, inclusive, ao final de 135 sem que
haja uma acusação formalmente elaborada, o cidadão terá que ser
posto em liberdade. Artigos 25º e 26º da Lei de Prisão Preventiva.

A Lei nº 18-A/92, de 17 de Julho regula apenas a prisão preventiva


em instrução preparatória, isto é, na fase anterior a fase judicial que é
presidida por Magistrado do Ministério Público. Havendo detenção
preventiva na fase judicial presidida pelo juiz, antes do julgamento,
os prazos regem-se pelo artigo 308º§2º do Código de Processo Penal,
sendo este prazo de 4 meses.

16
Desde a sua detenção a apresentação do cidadão ao Magistrado deve
ser feita no mesmo dia ou no mais curto espaço de tempo, mais
tardar até 5 dias. Artigo 9º e 14º da Lei de Prisão.

Independentemente de qualquer um dos prazos ora citados o artigo


337º §2º do Código de Processo estabelece que desde a sua detenção
o julgamento do cidadão terá que ser feito em 1 ano nos processos
mais solenes e em 6meses nos menos solenes.

Portanto de uma forma geral o conteúdo do artigo 9º do Pacto se vê


aqui representado, de resto, a reforma já em curso poderá aperfeiçoar
a questão.

13.Observação (19) Relativamente as acções do Estado angolano para


reduzir e eliminar a superlotação nos estabelecimentos prisionais,
fazendo recurso a medidas alternativas a prisão, no ordenamento
jurídico angolano existem medidas de âmbito processual,
nomeadamente a liberdade por termo de residência e a caução, e a
pena suspensa como medida de âmbito judicial. No intuito do
alargamento desse instrumento, foi também incluído no Projecto do
Código Penal a prestação de trabalho a comunidade como medida
Alternativa a prisão, existindo ainda estudos avançados para a
introdução em legislação especifica de medidas alternativas a prisão
que incluem o uso de pulseiras electrónicas e a prisão de fim de
semana. Paralelamente a isso, o Estado angolano, tem vindo a
implementar um conjunto de acções com vista a modernizar e
desenvolver o sistema penitenciário, nomeadamente através de um
Plano de Imergência e de um Plano de Expansão das Infra estruturas
Prisionais, cuja primeira fase resultou na reabilitação dos
estabelecimentos prisionais e na construção de (6) seis novos
estabelecimentos de raiz e (1) um Hospital Prisão, a segunda fase
está bastante avançada e foram edificados (8) oito estabelecimentos
prisionais e (1) um Hospital Psiquiátrico Prisional, em fase de
apetrechamento, foram também de forma paralela instalados (4)
quatro pólos agro-pecuários e industrial em quatro estabelecimentos
prisionais, no âmbito da melhoria das condições de habitabilidade,
alimentação, assistência medica e medicamentosa, psicossocial,
ocupação da mão de obra e formação profissional dos reclusos.
Periodicamente e de forma sistemática, são implementadas acções de

17
formação e capacitação dos agentes, técnicos e responsáveis dos
estabelecimentos prisionais.
No que diz respeito a dificuldade de separação dos reclusos jovens
em relação aos reclusos adultos, referenciada na observação,
gostaríamos de esclarecer que conforme as normais internacionais,
nomeadamente as Regras Mínimas da ONU para Tratamento de
Presos, a Lei nº 8/08, de 29 de Agosto, Lei Penitenciária, no seu
artigo 22° estabelece e impõe de igual modo, entre outros critérios, a
necessidade de separação ente reclusos jovens e adultos, pelo que
tem havido um esforço do Estado angolano em respeitar este
preceito, a excepção do Estabelecimento Prisional de Luanda,
afectado pela superlotação, não tem havido grandes dificuldades no
seu cumprimento

Em relação a responsabilização dos agentes, técnicos e responsaveis


dos estabelecimentos prisionais implicados em suposta violação de
normas, incluindo actos que violem os direitos dos reclusos, somos a
esclarecer que, sempre haja comprovação os mesmos são sujeitos a
responsabilidade disciplinar e penal, dependendo da gravidade da
infracção.
14.Relativamente à observação (21) Muito nos congratula a
recomendação para tomar medidas para garantir o afastamento de
qualquer restrição ao direito à liberdade de expressão, incluindo a
liberdade de imprensa e para a protecção dos jornalistas. Aliás, tal
situação já é uma realidade em Angola, o que não nos impede de
melhor e seguir fazendo melhor.

O Estado angolano considera que a liberdade de expressão é um


direito constitucionalmente garantido no artigo 40º da CRA,
traduzido, ainda, na Lei nº 7/06 – Lei de Liberdade de Imprensa.

As limitações à liberdade de expressão em Angola decorrem, desde


logo, do artigo 19º nº 3 e alínea a) do Pacto conjugados com os
artigos 40º nº 3 e 4 da CRA e 407º e 410º do Código Penal.

Assim, sempre que o exercício da liberdade de expressão violar a


honra, a reputação ou o bom nome de um cidadão, o autor da ofensa

18
(jornalista ou não) fica sujeito a responder a um processo-crime por
difamação, injúrias ou calúnia, além de processos disciplinar e civil.

Na prática, as sentenças dos tribunais relativamente aos crimes de


imprensa se reconduzem em penas suspensas e indeminizações às
pessoas lesadas.

Os julgamentos ocorrem frequente e normalmente estando o


jornalista em liberdade, com o gozo completo dos seus direitos e
quando os Tribunais condenam em pena de prisão, em geral existe
imediata interposição de recurso que suspende o efeito da pena e
possibilita que o jornalista aguarde a decisão de recurso em
liberdade.

Com base no ora exposto, é comum haver acções em tribunal de


crimes de difamação e demais conexos a liberdade de expressão nos
tribunais angolanos e não só.

Acolhemos bem a recomendação de seguir com as investigações e


de tomar medidas preventivas para afastar toda e qualquer tentativa
de detenção arbitrária ou incomunicável e responsabilizar os
supostos ou eventuais autores destas práticas.

15.Relativamente à observação (22) Muito nos congratula a


recomendação para tomar medidas para garantir o afastamento de
qualquer restrição ao direito à liberdade de expressão, incluindo a
liberdade de imprensa e para a protecção dos jornalistas. Aliás, tal
situação já é uma realidade em Angola, o que não nos impede de
melhor e seguir fazendo melhor.

16.Observação (23) A luz do decreto 31/07 que estabelece o registo de


nascimento gratuito para crianças esta a ser implementado em áreas
urbanas e rurais um protocolo entre o ministério da Justiça e dos
Direitos Humanos e o Ministério da Saúde da criação do projecto
nascer com abertura do registo de crianças na maternidade, foram
também criados postos de registo junto das administrações

19
municipais e Comunais para sensibilizar os pais a registarem os seus
filhos.

A implementação do Decreto 31/07, tal como estabelece, permitiu: A


criação, junto das maternidades, centros materno-infantis e hospitais,
de condições que asseguram aos recém nascidos o registos de
nascimento e a obtenção da cédula, primeiro documento que atesta a
identidade do novo cidadão, medida que se tornou efectiva no quadro
do Protocolo estabelecido com o Ministério da Saúde. Criaram-se
postos de registos junto das Administrações Municipais e Comunais
para aproximar esse serviço às comunidades, bem como foram
reforçadas as capacidades de resposta das Conservatórias de Registo
Civil.

A extensão do horário de atendimento nos postos de registo e nas


Conservatória, cujo período vai das 8:00 horas às 19:00 horas, tem
contribuído na diminuição da aglomeração de muita gente junto
desses serviços e na maior abrangência no que diz respeito ao
número de atendidos diários.

A par disto, foram incrementadas as actividades de informação e


sensibilização, face aos constrangimentos decorrentes de situações
culturais em determinadas regiões. Nalgumas regiões, não se pode
atribuir nome à uma criança enquanto a família, no sentido mais
alargado da linhagem materna e paterna, não reunir para escolher o
nome de consenso e, enquanto isso, a criança vai atingindo idades
acima dos cinco anos, noutras regiões, a crença cultural é tão
acentuada, de modos que a criança não pode ser registada antes de
atingir os cinco anos, faixa etária abrangida pelo Decreto 31/07. Esta
e outras situações similares, são a base de campanhas de informação
e sensibilização, que incluem a elaboração de cartilhas informativas
em permanente distribuição aos pais nas maternidades, como forma
de os preparar para aderirem ao registo.

Adicionalmente a estes propósitos, foi concebido o Projecto “Nascer


Cidadão”, um sistema informatizado para gerir o Banco de Dados.

Todavia, todos este factores de constrangimentos, não isentam o


Estado da sua responsabilidade de dar assistência necessária quando
as crianças sem registo de nascimento dela necessitem, nem tão
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pouco constitui obstáculo para a entrada no sistema de educação e
ensino, quer elas se encontrem em zonas urbanas, peri-urbanas ou
rurais.

b - Sobre este assunto, devemos afirmar que em qualquer parte do


país, seja área urbana ou rural, as dificuldades inerentes ao registo
das populações, sobretudo das crianças não tem sido um factor que
impeça o acesso a educação nem e aos cuidados primários de saúde.
A Municipalização dos Serviços de Saúde visa a oferta de serviços
de saúde com qualidade, para a prevenção e tratamento das doenças
que mais afectam as nossas populações, visando desenvolver uma
gestão local dinâmica e moderna. O processo conhece progressos
notáveis, através do reforço da rede de atenção primária, com a
construção de 15 novos hospitais municipais e o reforço de 1.776
postos e centros de saúde em todas as Provinciais e Municípios do
Pais.

c- No que toca ao acesso à Educação, mesmo sem normativos legais


que acautelem especificamente esta questão, as soluções têm sido
encontradas ao nível das localidades, uma vez que é orientação do
Executivo Central (MED) que a falta de registo de nascimento não
impeça o ingresso de crianças à escola, ou seja, a uma criança sem
registo de nascimento por motivos dos serviços de registo não se
encontrarem disponíveis na sua região não pode ser impedido o acto
de matrícula, devendo a posteriori a escola com os pais e/ou
encarregados de educação, encontrar os meios para resolver o
problema da/s criança/s. Esta é a prática, é o que acontecido, embora
na operacionalização desta prática existam sempre alguns
constrangimentos que se cingem normalmente ao nível da qualidade
dos Recursos Humanos do processo.

Considerações Finais

O Executivo da República de Angola expressa mais uma vez o seu


reconhecimento pelo trabalho efectuado pelo Comité durante a 107ª

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Sessão, na apresentação e defesa do seu 1º Relatório sobre a
implementação do Pacto dos Direitos Políticos e Civis.

O Executivo Angolano pretendeu fornecer informações adicionais que


possibilitem melhor entendimento e esclareçam as dúvidas ainda existentes
sobre os compromissos assumidos no Pacto, não obstante entender que
durante a Sessão tenha sido suficientemente eloquente. Todavia, reitera o
seu comprometimento com o Pacto e Protocolos adicionais que o tornam
“Estado Parte” e reafirma o seu engajamento na implementação das suas
disposições e das Recomendações do Comité expressas nas Observações
Finais ao Relatório.

Como podem observar, existem uma serie de questões que já mereceram


tratamento e ou resposta durante a defesa, demonstrando o engajamento
efectivo e responsável do Executivo de Angola e não tidas ainda em
consideração pelo Comité, o que forçou ao Executivo considerar oportuno
manifestar preocupação e, solicitar observância dos ilustres membros do
comité no seu tratamento, permitindo ao Estado Parte Angola, melhorar a
sua prestação, particularmente as questões, 4, 5, 7, 8, 13, 14,16, 18 e 21,
das observações do Comité a defesa do 1º Relatório de Angola.

Por fim, o Executivo de Angola espera do Comité uma reacção positiva e


mais uma vez solicita o apoio e a assistência, na resolução das questões
ainda pendentes inerentes ao Pacto e Protocolos adicionais, para que possa
a medida do possível, estar em conformidade com os compromissos
assumidos.

Luanda, 1 de Abril de 2013.

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